quinta-feira, 26 de março de 2009

Genesis sem Phil Collins

Quando estamos aprendendo a conhecer sobre o rock progressivo, assim como aprendemos o be-a-bá, ouvimos falar sempre de cinco bandas básicas: Pink Floyd, Yes, King Crimson, ELP e Genesis. Cada uma possuía características distintas entre si, mas, porém, a sonoridade levou-os a serem reconhecidos como os principais divulgadores deste estilo de som. Claro, Van Der Graaf Generator, Gentle Giant, Soft Machine, Gong, Tangerine Dream, entre outros, também foram importantes para o progressivo, mas o quinteto acima foi o que conseguiu conquistar mais fãs ao redor do mundo.

E tratando-se apenas do Genesis, é impossível negar que esse nome ficou claro à sociedade graças às fantasias de Peter Gabriel (voz, flautas), o estilo inconfundível de Steve Hackett (guitarras, violões de seis cordas), o talento de Tony Banks (teclados, violões de doze cordas) e a cozinha poderosa de Mike Rutherford (baixo, violões de doze cordas) e Phil Collins (bateria, voz), que lançaram os fabulosos álbuns Nursery Cryme (1971), Foxtrot (1972), Live (1973), Selling England by the Pound (1973) e The Lamb Lies Down on Broadway (1974). Com a saída de Gabriel em 1975, o Genesis teve sua fase quarteto, lançando os ótimos A Trick of the Tail (1976) e Wind & Wuthering (1977), bem como o ao vivo Seconds Out (também de 1977); e, sem Hackett, então eles eram três lotando estádios com hits como "Invisible Touch", "I Can't Dance", "Mama" e "Home by the Sea", sempre capitaneados pelos vocais de Phil Collins e acompanhados por Dayel Stuermer (guitarras) e Chester Thompson (bateria).

Porém, antes de Collins ser o mega-milionário de hoje e símbolo do auge comercial geneseniano, a banda era uma college band de destaque no cenário britânico, com uma sonoridade bem diferente daquela que os tornou conhecidos.

A gênese do Genesis começa na escola de Charterhouse. Lá, ainda no ano de 1963, Peter e Tony ingressaram para cursar o segundo grau (ensino médio). Em 1964 chegava à escola Mike, e em 1965, Anthony Philips (guitarras, violões de seis e doze cordas). Como toda gurizada adolescente, o som rolava direto nas casas e garagens da região e, assim, surgiu a Anon, formada por Anthony, Mike, Rob Tyrrel (bateria), Richard McPhail (voz) e Rivers Job (baixo), e a Garden Wall, com Gabriel, Tony e Chris Stewart (bateria). Em 1966, Job e McPhail saíram da escola, deixando a Anon somente como trio, o que culminou com o encerramento da banda. Anthony passou a integrar a Garden Wall, a qual já vinha fazendo algumas apresentações mais impactantes pela região, sendo que em uma delas, com Job tocando baixo, Gabriel atirou pétalas de rosas ao público.

Vale ressaltar que todos os garotos provinham de lares típicos da burguesia britânica, com hábitos bem diferentes dos demais, sendo que Tony estudou piano clássico desde pequeno. Com o fim da Anon, Mike e Anthony começaram a pensar em um novo projeto, com o qual contavam com a colaboração de Tony. Porém faltava vocalista, e daí Gabriel apareceu na jogada, graças à insistência de Tony. Muitos reviews que li falam sobre Gabriel ter entrado na banda como baterista, mas segundo o box Archive 1967-75 (1998), ele realmente foi convidado para ser o vocalista. 

Banda formada, hora de juntar grana e começar a gravar. Várias composições surgiram, entre elas as raras "Listen on 5", "Don't Wash Your Back", "Patricia" e "Try a Little Sadness". Assim, gravaram uma fita que chegou às mãos de Jonathan King, o qual era um conhecido dos tempos da Charterhouse e que trabalhava para o presidente da Decca Records (a mesma dos Stones). King ajudou os garotos no processo de desenvolvimento das canções, influenciando bastante, principalmente na inclusão de orquestrações e no trabalho das linhas vocais, já que King adorava o Bee Gees (da época, diga-se de passagem). 


Assim, conseguiram um contrato com a Decca, lançando seu primeiro compacto, com "The Silent Sun" e "That's Me", no dia 22 de fevereiro de 1968. Um fato no mínimo curioso ocorreu no momento da assinatura dos papéis. Como eram menores, foi necessário a autorização dos pais para a realização de tal assinatura. Porém, o contrato proposto pela Decca era de quatro anos, o que levou os pais de Gabriel, Tony, Anthony e Mike à loucura, já que eles queriam ver seus filhos formados e não músicos. Mesmo assim, toparam assinar um contrato de um ano com direito a renovação para mais um. Stewart foi o batera da sessão de gravação deste compacto, comprovando que Gabriel realmente era só o vocal. O nome Genesis também foi obra de King, já que ele queria mostrar ao público que algo novo estava entrando no mercado.



Em 10 de maio de 1968 lançam seu segundo compacto, com "A Winter's Tale" e "One Eyed Hound", mas, com a fraca divulgação, ambos não venderam nada. A essas alturas, Tony estava cursando Física na Universidade de Essex e Gabriel estava estudando para passar no teste da Escola de Cinema de Londres. Porém, a gana por tocar de Mike e Anthony os convenceram a ficar mais um tempo, além do fato de King ter aberto as portas da Decca para a produção do primeiro LP, o qual começou a ser gravado em julho de 1968, já contando com o novo baterista, John Silver. Porém, durante a mixagem do álbum, descobriu-se que existia um outro Genesis nos Estados Unidos. Mike e Gabriel pensaram em Revelation, mas também já existia. Então, lançaram o álbum como From Genesis to Revelation, o qual trazia no encarte a justificativa: "agora somos um grupo sem nome, mas temos um disco e queremos distribuí-los a vocês, com ou sem nome". Bons tempos aqueles em que as bandas tentavam se comunicar com os fãs.



Temos um álbum muito diferente do que viríamos a conhecer nos posteriores, com uma temática religiosa fortemente empregada, contando com letras muito místicas, as quais falavam sobre a aurora do homem e de sua evolução, sempre através do ponto de vista bíblico. De cara, a faixa "Where the Sour Turns to Sweet" traz o piano e a voz de Gabriel acompanhados por estalos de dedos e violões. A canção segue com piano e violões construindo a base para o desenrolar da letra, contando ainda com participações de cordas, coral feito pela banda e intervenções de metais. 

"In the Beginning" começa com uma barulheira, seguida pelo baixo e bateria no melhor estilo Animals. Os violões acompanham o vocal de Gabriel em uma das canções mais agitadas e legais do álbum. Na sequência, os pianos introduzem a bela "Fireside Song", a qual segue com o acompanhamento de cordas e violões. "The Serpent" traz em sua introdução parte do tema que apareceria posteriormente em "Twilight Alehouse" (bônus do LP Nursery Cryme), e segue a linha das canções anteriores, contando com muitos violões, teclados, coral e intervenções de guitarra. "Am I Very Wrong?" e "In the Wilderness" encerram o lado A mantendo o clima leve do álbum, com a participação do piano, dos violões e orquestrações.

O lado B começa com "The Conqueror", na mesma linha do lado A. Destaque para as vocalizações e também para o mellotron. A curta "In Hiding", somente com violões, teclados e vocais, além de intervenções orquestrais, dá sequência ao álbum junto a "One Day", cheia de cordas, metais e violões. O piano introduzindo "Window" traz mais uma bela canção, com os metais e os violões acompanhando a letra, a qual já conta com as vocalizações que iriam aparecer nos futuros álbuns da banda. "In Limbo" mantém a linha de "The Conqueror", porém com um final bem diferente das demais canções do disco, com Anthony mandando ver na guitarra, enquanto "Silent Sun", a única contando com Chris Stewart na bateria, retoma as baladas com orquestras e violões. Finalmente, "A Place to Call My Own" encerra o álbum com os vocais sobre a linha de piano, terminando com passagens orquestrais esse bom álbum de estréia.

From Genesis to Revelation foi lançado com uma capa preta com o título em letra tipografica gótica escrita em dourado. Desta forma, era catalogado em lojas de música nas seções religiosas, sendo muito difícil de ser encontrado, com as suas vendas iniciais alcançando somente 600 cópias. Aqui no Brasil o disco não foi lançado em sua versão original, mas existem no mínimo dois relançamentos, "In the Beginning" e "Where the Sour Turns to Sweet" que, além das treze faixas originais, trazem diversas outras composições da fase inicial da banda.
Mesmo com o fracasso comercial a banda já estava contagiada, e decidiram seguir carreira, com Tony largando os estudos para se dedicar exclusivamente à música. Silver partiu dessa para uma melhor, retornando aos estudos e sendo substituído pelo batera John Mayhew, o qual entrou na banda graças ao periódico Melody Maker. Além disso, McPhail reapareceu nas redondezas, e decidiu empresariar o grupo.

Em março de 1970 começava a surgir uma das grandes gravadoras do cenário inglês, a Charisma Records, a qual possuía como chefão o carismático Tony Stratton Smith. Através de amigos, o assistente pessoal de Smith, John Anthony, que foi responsável pela contratação do Van Der Graaf Generator pela gravadora, resolveu conferir o trabalho dos garotos e se encantou. A Decca tentou em vão negociar mais um contrato de renovação, mas já era tarde. Assim como os Beatles e o embrião do King Crimson, o Giles, Giles & Fripp, a Decca via uma potência de vendas ir por água abaixo.



Rapidamente a banda entrou em estúdio e em julho de 1970 era lançado o álbum Trespass, que já mostrava que o Genesis estava realmente preocupado com o que iria chegar ao público, trazendo um trabalho com faixas mais longas e arranjos bem mais elaborados. O disco abre com a bela "Looking for Someone", com Gabriel cantando muito. Cada instrumento é apresentado devagar, começando pelos teclados e baixo, culminando com a bateria quebrando tudo. O ritmo lento da canção, com Anthony fazendo suas intervenções, dá espaço para uma sessão instrumental bem viajante, onde a guitarra e o teclado duelam ferozmente, com a cozinha mandando ver. A flauta de Gabriel se faz presente, deixando a canção novamente lenta. A letra é retomada, porém dando uma nova cara para a música, que segue mostrando toda o aprendizado da banda, com vários duelos de teclado e bateria e a constante presença da flauta. 

O LP segue com "White Mountain", onde os teclados dão espaço para os violões dedilhados de doze e seis cordas entoarem uma linda melodia, que segue somente pelos violões, que fazem a base com a bateria acompanhando a canção, enquanto Peter Gabriel canta a emotiva letra. O refrão lembra as faixas do primeiro álbum, porém os teclados já apresentam uma sonoridade bem mais elaborada. Temos um pequeno tema instrumental, com a participação de Gabriel nas flautas. A letra é retomada, seguida de um acompanhamento mais lento para a mesma. Destaque aqui para os diversos instrumentos que surgem, como flautas e guitarras, que fazem pequenas intervenções. A canção termina com o teclado executando alguns acordes enquanto temos o assovio de um cidadão, com um coral cantando sobre camadas de teclados e violões. 

O lado A encerra com "Visions of Angels", outra linda canção que começa somente ao piano. O belo trabalho de baixo e guitarra, com o acompanhamento suave da bateria, traz os vocais de Gabriel, que segue uma linha bem parecida com as músicas de From Genesis to Revelation, porém contando com mais uma bela sessão instrumental, cheia de flautas e mellotrons. 


A belíssima "Stagnation" abre o lado B. Novamente os violões trazem a letra da canção, que possui um acompanhamento suave do teclado. O piano marca presença, dando espaço para um solo de teclado bem viajante. Anthony e Mike estavam soberbos na execução dos violões e o tema instrumental mostra como o Genesis havia esquecido o período college e encarava realmente o trabalho como fonte de produção. O ritmo da canção ganha velocidade, abrindo espaço para o órgão solar, agora contando com o acompanhamento de baixo e bateria. Uma flauta interrompe a sessão, trazendo um novo clima, com mellotron e violão acompanhando a letra. Mais uma bela sessão de violão e voz dá sequência para o encerramento da faixa, que traz um belo tema de flauta, acompanhado pelo final da letra. Com certeza essa é uma das grandes canções da banda, e para quem gosta de "Musical Box", por exemplo, será uma ótima sobremesa. 

"Dusk" mantém a sessão acústica. Os violões dedilham para Gabriel cantar quase que agonizando. O refrão traz os vocais de Anthony, Tony e Mike, acompanhados por teclados. A segunda parte da letra começa agora com os teclados acompanhando os violões, seguida pelo refrão. Gabriel executa um pequeno solo de flauta, com a música ganhando uma cadência mais agitada. Mas o que chama a atenção mesmo é o belo trabalho de violões construído por Mike e Anthony, o que viria a influenciar bastante na escolha do substituto de Anthony. 

Por fim, os teclados introdutórios de "The Knife" dão espaço para uma canção bem pesada e diferente das demais músicas do álbum. As guitarras se fazem presente, com Gabriel cantando uma letra super difícil em uma melodia mais complicada ainda. A velocidade da canção aumenta, com a bateria de Mayhew a todo vapor, enquanto Philips executa riff em cima de riff. O ritmo cavalgar da canção segue durante quase quatro minutos, mudando completamente, agora com baixo e bateria marcando o tempo para teclado e guitarra viajarem, enquanto a flauta se faz presente com um pequeno solo. A guitarra sola novamente, terminando a faixa com uma sequência pesadíssima da banda, onde o teclado sola sobre uma camada de riffs iguais executados por baixo, bateria e guitarra, e Gabriel entoando as últimas palavras desta ótima faixa. Um último destaque para Trespass está na belíssima capa elaborada por Paul Whitehead, mostrando que o Genesis havia se modificado, e muito.



Mayhew foi despedido pela banda por causa de sua forte depêndencia musical, ou melhor, pouca técnica mesmo, enquanto que Philips pediu o boné por que estava desiludido com a vida de guitarrista, preferindo seguir seus estudos de música clássica e orquestra, que o levou anos depois a lançar os belos álbuns The Geese & the Ghost (1977) e Wise After the Event (1978). Então, os demais integrantes colocaram diversos anúncios atrás de um novo baterista e de um novo guitarrista. Aí apareceram Phil Collins e Mick Bernard, sendo que o último não durou muito e foi substituído por Steve Hackett, dando então origem a mais clássica formação da banda.


Ainda sem Phil Collins, o grupo lançou o bom álbum Calling All Stations no ano de 1997, contando com Ray Wilson (ex-Stiltskin, Guaranteed Pure) que trouxe novamente o nome do Genesis ao mercado, principalmente na Europa, onde o disco vendeu bastante, mas que foi malhado justamente por não ter aquele que é um dos personagens principais na carreira desta grande banda inglesa.


Recentemente, Collins voltou, ao lado de Mike, Tony, Daryel e Chester, fazendo uma turnê com direito até ao lançamento de DVD (When in Rome 2007). Porém, pouco se sabe sobre o que vai ser da banda e se ainda vai ser lançado material inédito ou promissor como o contido em seus dois primeiros álbuns.

quinta-feira, 19 de março de 2009

Viper

O que você pensa quando vê Yves Passarell fazendo pose de gostoso ao lado de Dinho Ouro Preto no Capital Inicial, ou Andre Matos tomando frango como a Musa Nissei Sanssei no Rock Gol da MTV? Pois é, mas um dia, esses dois personagens fizeram parte de uma das principais bandas do heavy metal nacional. Ao lado do Sepultura, Ratos de Porão e Korzus, o Viper foi uma das primeiras a conseguir conquistar o mercado europeu, tendo feito muito sucesso em países com Alemanha, Hungria e, principalmente, no Japão.

O início da banda tem suas origens no bairro paulistano de Santa Cecília. Lá, Felipe Machado (guitarras), Yves Passarell (guitarras) e seu irmão Pit Passarell (baixo, voz) eram vizinhos e amigos desde pequenos, tendo "trabalhado" como donos de jornal, fliperama e construtores de bicicletas. Como nenhum dos "empregos" anteriores deu certo, começaram a construir suas atividades musicais, mesmo sem ninguém ter um instrumento sequer. Daí surgiu a Dragon, com Pit na bateria. O nome acabou não durando muito, assim como os posteriores, Pruckles e Rock Migration.

Com o passar do tempo, conseguiram uma guitarra e uma caixa antiga de escola de samba. Com instrumentos, passam a surgir as primeiras composições, ganhando destaque "H. R. (Heavy Rock)", bem como os primeiros shows. O irmão de Felipe, Nando Machado, passou a integrar a Rock Migration tocando baixo. Com o dinheiro dos shows, cada integrante foi conseguindo um intrumento melhor. Sem grana, Pit passou a tocar o baixo de Nando, que havia desistido da carreira musical. A bateria foi assumida então por Markus Kleine, e assim, influenciados por Kiss, Black Sabbath, Deep Purple, Uriah Heep e Judas Priest, passaram a ver seu nome crescendo na região. Markus não durou muito no posto, sendo substituído por Cássio Audi.

Ao mesmo tempo, outras bandas surgiram entre os amigos e também entre os membros da Rock Migration, com destaque maior para a Nephtuno, que tinha como vocalista o ídolo das guriazinhas do bairro, Andre Matos. Foi com a mescla de diferentes bandas que acabou surgindo o Viper, sendo o nome adotado no melhor estilo de grupo iniciante: abra um dicionário em inglês, aponte e onde o dedo apontar será o nome escolhido.


No final de 1984, o Viper fez uma de suas primeiras aparições ao público, tocando em um festival de talentos. Na apresentação, interpretaram "H. R." e "Paranoid" (Black Sabath), conquistando o terceiro lugar do evento, ficando atrás de um grupo que ninguém lembra o nome, mas que interpretou "Bandolins" de Oswaldo Montenegro!! Sem grana, Pit e Yves arranjaram trampo como entregadores de pizza, de onde conseguiram dinheiro para comprar instrumentos ainda melhores. Nessa altura do campeonato, Felipe já possuía uma guitarra Giannini, que era considerada um petardo pelos garotos.

Em 1985, vendo o crescente sucesso de Andre Matos, convidam o mesmo para fazer parte da banda. Ele topa de cara, e, como por muita sorte, conseguem juntar uma grana para gravar a primeira demo, que posteriormente levou-os a assinar contrato com a gravadora da Rock Brigade. Vale a pena ressaltar que a idade média da gurizada era 15 e 17 anos na época.


Em 1987 então é lançado o álbum Soldiers of Sunrise, que trazia influências diretas de Judas Priest, Helloween e, principalmente, Iron Maiden. O disco é uma pauleira atrás da outra, começando com "Knights of Destruction", onde Andre mostra ao público por que viria a ser considerado o melhor vocalista do metal nacional durante anos. "Nightmares" possui na sua introdução a bateria e linhas de guitarra muito similares as do Iron , semelhança que fica ainda mais clara quando Andre entoa os "oooooo" tradicionais que Bruce Dickinson tanto nos privilegia. A medieval "The Whipper" começa com sons de vozes distorcidas, bem como um duo de guitarras executando os riffs principais, os quais são intercalados pelos vocais de Andre. Nesta, a pauleira come solta, principalmente no refrão, onde todos os integrantes gritam o nome da canção. O lado A encerra com duas faixas muito parecidas, "Wings of the Evil" e a já citada "H. R.", que mantém a linha dos primeiros álbuns do Maiden.

O massacre sonoro de "Soldiers of Sunrise" abre o lado B primordialmente. A música possui diversas variações, alterando entre partes pesadas como as de "Knights of Destruction" e uma sessão instrumental mais pesada ainda. Com refrões grudentos, essa foi uma das primeiras canções do grupo a fazer realmente sucesso. "Signs of the Night" traz aqueles riffs abafados de guitarra acompanhados por um crescendo no vocal. É metal puro, com o baixo marcando presença no refrão. Finalmente, a ótima instrumental "Killera (Princess of Hell)" e "Law of the Sword" encerram o álbum como ele começou, destruindo o pescoço de qualquer moleque que ouça o som pela primeira vez. Um destaque também cabe para a mensagem anti-drogas da banda na contra-capa, a qual dizia as seguintes palavras: "As drogas não são diversão, apresentam perigo de vida para milhões. A loucura precisa parar. Existem coisas muito melhores na vida".

O álbum acabou vendendo bem, garantindo aos meninos um contrato com a gravadora Eldorado. Nessa época Andre começou a frequentar mais assiduamente as aulas de música, indo parar na Faculdade de Artes Santa Marcelina.

Lançado em 1989, Theatre of Fate, o qual já contava com o baterista Guilherme Martin no lugar de Cássio Audi, mostrou o Viper para o mundo, conquistando mercados principalmente na Europa e no Japão, sendo que no país do sol nascente venderam mais que bandas como Van Halen, Nirvana e Firehouse. O álbum é composto por diversas pérolas, e traz um Viper diferente do primeiro disco, mais influenciado pelas bases melódicas de Iron e Judas, bem como o peso do Black Sabbath e, principalmente, a participação da música erudita, seja através dos violinos, como por citações a Beethoven, Mozart e Vivaldi. Além disso, Andre tocou teclados e sintetizadores na maioria das canções, destoando bastante do peso e velocidade insanos de Soldiers of Sunrise.

O disco abre com a bela instrumental "Illusions", onde o violão faz a base para uma pequena sequência de solos de guitarra e teclados que imitam flautas. Segue com a paulada "At Least A Chance", o qual lembra o Helloween da fase Keeper of the Seven Keys, contando com muitos teclados e também com cordas. Duas pérolas encerram o lado A: "To Live Again", cujo riff inicial é daqueles ao estilo "Smoke on the Water" e "Stairway to Heaven", você nunca mais vai esquecer, além de ter um ótimo trabalho de guitarras; e a lindíssima "A Cry From the Edge", outra que é super trabalhada. Esta última começa com o violão dedilhando lentamente, fazendo a base para um solo de guitarra que traz o riff principal. A canção começa a aumentar a velocidade, tendo então um duo de guitarras. Daí então, a pauleira toma conta, com Felipe e Yves mandando ver nas palhetadas. Um belo tema instrumental traz as letras novamente, que são cantadas de forma mágica por Andre, o qual estava no ápice dos vocais.

O lado B abre com o primeiro hit (se é que posso dizer assim) da banda. Seguindo o trabalho de "A Cry From the Edge", "Living For the Night" passou a ser a música principal dos shows da banda. A introdução feita pelo cravo, juntamente com a letra, dá espaço para um pesado e longo tema instrumental, com muitos solos de guitarra. O baixo aparece com destaque, dando sequência para mais um solo de guitarra. A letra também muda de melodia, acompanhando o peso das guitarras. Finalmente, as guitarras passam a fazer a melodia e os acordes do cravo, com Andre repetindo a letra da introdução, terminando a faixa com barulhos de sirene e muitos sintetizadores. Pauleira total! 

Após a quebradeira, o ouvinte não consegue respirar, pois "Prelude to Oblivion" vem com tudo, com os vocais imitando um coral e a guitarra igual ao violino, interpretando temas eruditos de forma rápida, trazendo inclusive citações a Beethoven, Mozart e Vivaldi. Vale destacar aqui a presença do quarteto de cordas The Kubala Quartet Strings, formado por Fábio Brucoli (violinos), Renata Kubala (violinos), Ricardo Kubala (viola) e Suzana Kato (cello). 

"Theatre of Fate" é a mais pesada do álbum, seguindo a linha de "To Live Again" e com um baita arranjo das guitarras. A clássica "Moonlight" encerra o álbum, trazendo a melodia de "Moonlight Sonata" de Beethoven ao piano, acompanhado pela letra construída por Andre. Toda a canção é em cima da melodia da obra de Beethoven , fechando a faixa com um belo solo de violino de Renata Kubala e com Andre fazendo os maiores agudos de sua vida. Essa canção viria aparecer anos depois no álbum solo do vocalista, Time to Be Free, porém com outra cara e com o nome de "A New Moonlight".

Os integrantes, com exceção de Andre, não curtiram muito a virada no som, e preferiam seguir um caminho mais pesado, ao estilo do primeiro álbum. Então, mesmo com o sucesso de "Theatre of Fate", Andre decide terminar sua faculdade de música ao invés de retomar os sons mais pesados e seguir carreira com o Viper, formando depois  o Angra e o Shamman, virando atração principal dos shows ao lado de Kiko Loureiro, Luis Mariutti, Ricardo Confessori, entre outros, e seguindo o sucesso do Viper no Japão, criando um problema para a banda, afinal quem seria o novo vocalista? Guilherme também pulou do barco, sendo então substituído por Renato Graccia.


A solução foi voltar as origens, com Pit assumindo novamente os vocais, e assim, abriram para o Black Sabbath quando os mesmos estiveram no Brasil pela primeira vez, em 1992. Graças a Theatre of Fate, partiram para a Alemanha, onde gravaram o terceiro álbum, Evolution, em 1992. Ali, abandonam as influências da música clássica e do metal melódico, partindo para rumos novos, como o hard rock de bandas como Guns N' Roses, e também o peso de noms como o Metallica. Com muito peso, temos um disco que contém no mínimo mais dois hinos da carreira do Viper. 

O lado A abre com "Coming From the Inside". Baixo e bateria trazem os vocais de Pit, o qual deu novo pique para a banda, fazendo as canções ficarem bem mais rápidas. Essa faixa em especial também tem um belo duo de guitarras. Seguem os clássicos "Evolution", onde novamente baixo e bateria trazem a voz de Pit. Essa lembra as canções da fase Andre, contando com uma boa letra. Pit mostra que servia bem para a nova empreitada, cantando com raiva o refrão "Is the future on my side". 

"Rebel Maniac" é o outro clássico que não preciso falar nada, afinal todo headbanger que se preze balançou a cabeça ao som de "everybody, everybody ...". Lembro até hoje quando ouvi essa música pela primeira vez no Programa Livre do Serginho Groisman, ainda nos tempos do SBT (Fala Garoto!!), contando com aquele bonequinho cabeludo que aparecia no canto da tela tocando guitarra. Muito massa! 

"Dead Light" traz uma mescla de violões e guitarras bem sujas, mostrando que o Viper buscava novos ares, inspirando-se em bandas da moda, como Skid Row e Pearl Jam. "Still the Same" contém uma introdução super pesada, com dois bumbos e muita palhetada. Essa é uma das faixas mais trabalhadas, alternando entre partes cadenciadas e outras com palhetadas a la Metallica. O cover de "We Will Rock You" na versão rock pesado que consta no Live Killers encerra o lado A, porém mais suja do que na proposta pelo Queen.

"The Shelter" abre o lado B pesadona, com boa pegada de guitarra, no melhor estilo do heavy metal. Aqui temos uma ótima sessão instrumental, com muito wah-wah e dois bumbos. Seguem-se os hardzões "Wasted" (o qual vem "embrulhado" em uma balada com violões) e "Pictures of Hate", os quais dão sequência para o punk rock de "Dance of Madness". O disco encerra com a balada "The Spreading Soul", a qual conta até com uso de cordas no meio e no fim da canção, com Pit cantando a mesma somente sob luz de velas dentro do estúdio.


Aproveitando-se da gravação na Alemanha, a banda partiu para uma pequena turnê pelo país e também por Hungria, Croácia, Áustria, Suíça e Japão, onde foi registrado o ao vivo Maniacs in Japan, o qual tem como destaques maiores o acompanhamento tipo Rob Halford de Pit em "Evolution", o longo solo de bateria em "Still the Same", bem como a engraçada apresentação da banda em japonês, com os integrantes Felipe Son e Ives Passarell Son. Além disso, temos o ótimo público japonês participando, e bem, nas faixas "We Will Rock You" e "Living For the Night", mostrando como os nipônicos realmente são um povo de respeito.

Por lá também lançaram o EP Vipera Sapiens, com músicas inéditas que ficaram de fora do álbum Evolution, como "Acid Heart", "Killing World" e uma versão acústica para "The Spreading Soul". Em 1994 a banda foi uma das atrações principais no Monsters of Rock de São Paulo, e também abriu a turnê do Metallica por nossas terras.


Em 1995 a mesma formação de Evolution lançou Coma Rage. O álbum trazia um Viper ligado aos novos sons que estavam surgindo pelo mundo, abrindo com a paulada "Coma Rage", punkzão na mesma levada do álbum anterior, com direito até a paradinha de bateria a la Marky Ramone. Segue a melhor faixa do álbum "Straight Ahead", o qual é super pesada, e "Somebody Told Me You're Dead", outra faixa tri punk. "Makin Love" começa com uma garota chamando o namorado para casa para fazer algo "so good". Então, riffs pesados e grudentos, com variações e uso de cowbells, tomam conta da canção, a qual ainda contém uma citação aos Beatles, com a frase "all you need is love". "Blast!" já segue a linha hardcore que ficou consagrada em bandas como Green Day e Offspring, enquanto "God Machine" e "Far and Near" encerram o lado A de forma muito parecida, com levadas fortes e guitarras no estilo Kirk Hammet, carregadas de wah-wah.

O lado B abre com "The Last Song", com um baixão e guitarras no estilo Alice In Chains, além de um ótimo refrão no melhor estilo das grandes bandas de metal. "Die by Hate" é uma canção mais rápida e pesada do que as demais, alternando momentos com riffs dedilhados e outros com acordes. Seguem "Day Before", com a guitarra lembrando muito as canções do Iron na fase Paul Di´Anno, e a instrumental "405 South", onde a bateria marca o tempo para a guitarra viajar. A percussão acompanha um solo de guitara super distorcido, lembrando as canções do álbum Chaos A.D. do Sepultura. "Face in the Crowd" começa com guitarras pesadas, enquanto o vocal é cantado como se estivesse em um megafone. A voz fica limpa, alternando sessões mais melódicas e trabalhadas com outras mais pesadas, lembrando muito o Metallica. A cover de "I Fought the Law" de Sonny Curtis and the Crickets, em uma versão mais rápida que a original, e a balada "Keep the Words" encerram esse bom álbum que, infelizmente, não fez muito sucesso.


O Viper ainda lançaria o descartável Tem Pra Todo Mundo em 1996, onde as letras estão cantadas em português, com direito até a um samba.
 

Em 2007 a banda voltou a ativa com o disco All My Life, e atualmente segue fazendo shows, mostrando suas pérolas para os que conheceram ou querem conhecer o bom do metal nacional.
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