segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

Melhores de 2010

Carlos Santana e sua banda fizeram o melhor disco de 2010

O ano de 2010 foi de bons lançamentos no geral, principalmente de veteranos. Confira aqueles que julguei serem os melhores.

Santana - Guitar Heaven

Ao ouvir esse CD pela primeira vez, passei um fim de tarde em Roma apreciando cada segundo do álbum junto de um bom Capuccino e alguns suplis. Para não ir visitar diversos pontos turísticos e ficar ouvindo um CD, realmente ele tem que ser muito bom. Santana e sua guitarra, com aquele timbre mágico, manda ver em clássicos como "Sunshine of Your Love", "Under The Bridge", "Dance The Night Away" ente outros. O melhor CD do ano disparado.


Robert Plant - Band Of Joy

Fantástico! Somente isso pode explicar a ressureição da banda original de Plant. Um disco seminal, que mostra aos fãs de Led como Plant é muito mais do que um sex symbol de calças apertadas gritando "yeahs" diante da banda mais importante dos anos 70. Cada segundo é um momento nostálgico e sem igual. Segundo melhor lançamento do ano.


Ozzy Osbourne - Scream

O velho Ozzy, os velhos riffs, o velho pique e o velho som que me encanta a 20 anos!

Scorpions - Sting In The Tail

Anunciado como o último disco da banda, é a volta aos grandes riffs e melodias dos anos oitenta. Muito abaixo de clássicos como Animal Magnetism ou Lovedrive, e bem longe da fase auréa com Uli Roth nas guitarras, porém com uma pegada que não se ouvia desde o longínquo Crazy World. Músicas como "Rock Zone" e "Sly" tem tudo para entrar na galeria dos clássicos da banda.

Eli Degibri - Israeli Song

Talvez o melhor disco de jazz lançado esse ano (com exceção aos reviews como Bitches Brew).  Ao lado do pianista Brad Mehldau, do baxista Ron Carter e de Al Foster, baterista de Miles Davis nos anos 70, Eli llançou um CD de pouco mais de 40 minutos com uma sonoridade única, onde os destaques vão para canções como "Israeli Song" e Jealous Eyes", mesclando elementos de Thelonious Monk, Coltrane e Duke Ellington.  


Iron Maiden - The Final Frontier

Desde Brave New World que os lançamentos do Iron Maiden para mim viraram decepções. AMOLAD, DOD e o próprio Brave New World balançaram poucas vezes a minha perna. Mas em The Final Frontier foi diferente. O Iron resgatou a paixão por se ouvir um disco do início ao fim. O lançamento de "El Dorado" foi chocante, uma sonoridade muito buscada por fãs que nem eu (que gostam da banda, mas não a veneram como a melhor do mundo) e que ficou bem clara em faixas como "The Alchemist" e as longas "The Talisman" e  "When The Wild Wind Blown". Depois de muito tempo, valeu a pena ter gastado os meus cruzeiros com um cd de inéditas do Iron.

Vitor Ramil - Délibáb

Poemas fortes, milongas belíssimas, construções típicas do Rio Grande do Sul feitas por um dos maiores compositores gaúchos. Isso é o que você encontra em Délibáb. Nada parecido com Tango ou Estrela, Estrela, mas canções como "Deixando o Pago", "Milonga para los orientales" e "Pé de espora" mostram a genialide de Vitor, em um trabalho que surpreendeu positivamente.

Eric Clapton - Clapton

Ok, ele não canta mais como antigamente, mas cada nota da guitarra de Clapton ainda faz a gente suspirar. Disco simples, mas gostoso de ouvir, com canções inéditas e alguns covers. Com certeza, vai rodar várias vezes no seu cd.


Premiata Forneria Marconi - A. D. 2010 - La Buona Novella

Depois de quatro anos, a PFM volta em grande estilo. Um álbum conceitual, recheado de harmonias não tão progressivas, mas com destaque para as letras de Fabrizio De Andre, mentor e criador da maioria das canções pertencentes ao CD/LP. Em termos gerais, um bom álbum, que entra na lista por ser o único de progressivo lançado em 2010 que eu ouvi completo.

Ponto negativo

Slash - Slash

Parece que a sina de ser um ex-Guns N' Roses ainda assola o guitarrista. Apesar de faixas dançantes e bem construídas, para mim foi a maior decepção do ano. Tem gente que gosta, mas eu ainda prefiro o Slash de "Estranged" e "November Rain".


Fica a expectativa para os lançamentos de Rush, U2, Van Halen e Yes no ano que vem

Bow Street Runners

De um selo praticamente desconhecido surgiu um dos grandes álbuns do psicodelismo feito na década de setenta. Trabalhando para a BT Puppy, o Bow Street Runners lançou um cobiçado e mágico LP em meados de 1970, e se escondeu nas profundezas com inúmeros outros desconhecidos que ainda estão por serem descobertos.

Saindo da pequena cidade de Fayetteville, na Carolina do Norte, tudo começou quando Steve Struthers (guitarras e voz) ouviu o álbum Surrealistic Pillow, do Jefferson Airplane, no ano de 1967. A psicodelia de Grace Slick e companhia afetaram o cérebro de Steve, que decidiu por tocar guitarra logo após a audição do LP. Steve tinha como vizinho Frank Hardwick (baixo, voz), um garoto que, assim como ele, gostava da onda flower power que surgia na Califórnia, porém sendo fã de Grateful Dead.

Ambos eram colegas de escola, e não demorou muito para trocarem figurinha, e com violões embaixo do braço montarem uma dupla que tocava covers de suas bandas favoritas, além de compor algumas canções que virariam pérolas anos depois. Em 1968, já amadurecidos em seus instrumentos, chegava em Fayetteville o baterista George Graham. O trio passou a ensaiar na garagem da casa de George nos sábados à tarde, enquanto de noite viravam atração em clubes como YMCA, Skating Rink e Teen Club, tendo sido batizados como Bow Street Runners.

Concluindo o segundo grau, o trio virou quarteto com a entrada do organista Mike Dees, excursionando por clubes de Jacksonville, Flórida e Washington, e participando do festival que foi batizado de Chitlin' Circuit (não o mesmo circuito de artistas negros, que teve a participação de nomes como Duke Ellington, Jimi Hendrix e Ike & Tina Turner), onde abriram para bandas como Strawberry Alarm Clock, Big Brother & The Holding Company, Blood Rock, Chubby Checker, Percy Sledge, entre outros.

Durante a turnê mais um guitarrista foi adicionado, Steve Darling, formando a encarnação poderosa do Bow Street Runners. O grupo voltou para Fayeteville e passou a tocar frequentemente nos clubes Roland's e Electric Coffeehouse, além de inovar fazendo concertos gratuitos todos os domingos à tarde no Rowan Street Park, dividindo as atenções com outra banda da cidade chamada Valley.


O som dos garotos era muito próximo ao do Jefferson Airplane, apesar de não terem uma vocalista na liderança dos vocais. Porém, o estilo de tocar de Struthers e as harmonias entre Dees, Darling e George eram marcas fortes de toda a influência inicial dada pelos grupos da primeira geração flower power.

Com a sequência de apresentações, o quinteto conseguiu um contrato com a pequena gravadora BT Puppy para a gravação de um disco nos estúdios do selo, durante uma semana. Após dois dias de gravação, Dees sofreu um grave problema de saúde e foi afastado dos trabalhos. Isso influenciou diretamente no resultado final do LP, e também na concepção do álbum, já que uma garota que era irmã da namorada de um dos músicos foi contratada para fazer vocalizações, deixando o álbum com duas sonoridades bem distintas: uma similar ao Jefferson Airplane e outra similar as canções menos criativas do Mothers of Invention, mas com muita psicodelia.

Lançado em 1970, Bow Street Runners apresenta uma atmosfera de misticismo hippie, muito talento demonstrado pelo quinteto, além de psicodelia e lisergia em lotes, a começar pela hipnotizante capa do vinil. O disco abre com o dedilhado das guitarras em "Electric Star", com os vocais femininos da garota - que infelizmente não descobri o nome - em uma bonita balada pop flower power, repleta de vocalizações e com destaque para o solo psicodélico de Struthers.

Mais psicodelia surge em "Watch", uma canção na linha de clássicos do Iron Butterfly, onde o órgão de Dees e os vocais de Hardwick são os principais destaques, além do arranjo das guitarras, com um solo muito legal tendo ao fundo o delirante órgão de Dees, em um som bem pesado para seguir a doce melodia vocal da faixa inicial.

"American Talking Blues" já começa com a psicodélica guitarra de Struthers na introdução de um blues sensacional e safado, com Struthers sendo o responsável pelos vocais principais, transformando-se em um estranho country na parte central da canção, voltando para o blues durante o solo de Struthers, com escalas repetidas de baixo e guitarra, encerrando a faixa com a repetição do country.

As próximas canções retomam a linha 'zappeana', com "Leaving Grit America", outra balada cantada pela menina da faixa de abertura, e com muitas vocalizações, que não empolga perto das anteriores, levando então para o encerramento do lado A com "Another Face", voltando ao órgão de Dees, que introduz com longos acordes uma viajante canção cantada por todos os integrantes da banda e também pela menina, enquanto dedilhados de guitarra e os acordes de órgão e baixo são acompanhados por batidas da bateria. A partir dos dois minutos a canção muda o rosto, virando um agitado rock comandado por um pandeiro, baixo e o elétrico solo de Struthers, voltando então para os viajantes acordes de Dees, que encerram a canção com a repetição da letra.

O lado B abre com a deliciosa "Eating by a Plastic Hand", com uma introdução dançante onde a guitarra de Struthers sola fazendo o tema da canção, seguida por notas de flauta que surgem do nada, para então a canção se transformar em uma viajante faixa com a entrada dos vocais do grupo. O baixo comanda o tema posterior junto com a flauta e a guitarra, para entrarmos em um solo feito por dois saxofones, voltando para o embalo inicial da introdução e a sequência da letra. O segundo solo, feito por sax e trompete, é cheio de distorções, e então repete-se novamente o tema inicial, para encerrar a faixa com um longo acorde de guitarra. Infelizmente, também não consegui informações do nome do pessoal nos metais.

Após uma breve contagem começa o boogie de "Rock Fish Blues", um ótimo rock cantado por Hardwick e com vocalizações rockabilly perfeitas para uma festa anos cinquenta com Cadillacs e garotas com vestidos de bolinha, além de muita brilhantina.

"Push It Through" começa com um forte riff de guitarra acompanhado pela bateria vibrante de George, em uma linha similar a Big Brother & The Holding Company, com os vocais de Hardwick e tendo vocalizações grudentas de toda a banda.

O LP segue em bom nível com o funk de "Spunky Monkey", outro belo som, com o riff inicial saindo das fornalhas do Jefferson Airplane, mas com a adição de metais entre as estrofes vocais, que lembram bastante o que James Brown fazia nas suas canções.

O álbum encerra com a maravilhosa "Steve's Jam", uma embalada faixa instrumental onde os efeitos psicodélicos da guitarra de Struthers tomam conta das caixas de som enquanto o outro Steve faz a base de um funk swingado e ao mesmo tempo viajante, sempre com a presença marcante do baixo repetindo o ritmo e da bateria marcando o tempo de forma simples, além de vocalizações. A canção parece acabar, mas não - após alguns segundos de silêncio, a estridente guitarra de Struthers surge novamente, para encerrar a canção com a repetição de um mesmo tema entre as vocalizações. Essa faixa surgiu de um improviso para concluir o álbum, e acabou se tornando a música mais apreciada pelos admiradores da banda.


Como o selo era pequeno e o auge da psicodelia já havia passado, Bow Street Runners não vendeu mais de 100 cópias, e o grupo acabou meses depois, sendo despedidos da BT Puppy, com Struthers e George indo para a universidade, enquanto Dees se recuperou da saúde e virou professor de piano.

Já Hardwick seguiu no mundo da música. Em 1981, juntou-se ao tecladista David Guy, com quem formou uma banda de country rock, excursionando durante dez anos. Então, George e Struthers, depois de quase vinte anos, voltaram para Fayeteville, e no velho clima de lembranças a dupla convidou Hardwick para fazer alguns ensaios na casa de Struthers, descobrindo e trazendo das cinzas o Bow Street Runners.

Alguns shows então foram marcados, com Guy assumindo a posição de tecladista da banda e tendo Doyle Wood como segundo guitarrista, e assim o foi durante seis anos da década de noventa.


 
Em 1996 o selo Sundazed Music relançou Bow Street Runners em LP e em CD, e com o retorno do grupo, foi lançado pelo selo Daxwood, trinta anos depois, o novo álbum do Bow Street Runners, intitulado New Classic Rock (2000), com a banda tendo na formação Darling, Guy, George e William Sincks (baixo) no lugar de Hardwick, que se afastou devido a problemas de saúde, além de Struthers e Wood como convidados especiais nas guitarras. O som ainda traz a psicodelia dentro de onze faixas, com destaque para "Tattoo", "Only One Way to Know", "Look at the Moon" e "Steve's Jam #2", mas lembrando grupos como Poco e até mesmo o Jefferson Starship, e assim como o álbum de estreia, hoje é uma preciosa ostra a ser catada pelos colecionadores. Hardwick faleceu em 2002, e Darling dois anos depois, decretando o fim do Bow Street Runners novamente.


Em 2008 a P-Vine Records, do Japão, lançou uma versão de luxo, trazendo um pouco da história da banda em CD e LP, virando um item precioso para os que querem conhecer o Bow Street Runners, pois é a única edição do álbum que saiu em uma grande tiragem e é facil de ser encontrada nos sites de venda.

 
Porém, se você encontrar o original, atire-se de cabeça. Além de uma raridade, estará levando para casa a rapa do tacho da psicodelia norte-americana, dentro de um vinil único e fundamental para os apreciadores do estilo.
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