sexta-feira, 29 de junho de 2012

Cattarse - Certezas [2011]




Conheci o Cattarse durante a apresentação de Mark Farner no Bar Opinião em Porto Alegre. O trio formado por Igor Van der Laan (guitarra, vocais), Yuri Van der Laan (baixo, vocais) e Diogo Stolfo (bateria) chamou a atenção por executar um hard setentista de ótima qualidade com destaque para a performance mais do que assombrosa de Stolfo, um verdadeiro monstro! 

Na mesma noite, chegou em minhas mãos o EP de estreia do trio. Com apenas quatro canções, Certezas foi lançado de forma independente, e gravado com a ajuda de André Brasil no Estúdio Marquise 51 (Porto Alegre).  O power trio mostra que mesmo em estúdio consegue trazer a surpreendente energia que exala pelos palcos país afora e, inclusive, já andou se apresentando na Argentina.


O EP abre com a faixa-título, destacando o ótimo riff feito por baixo e guitarra, além da melodia vocal sendo guiada pela guitarra com uma distorção que nos remete direto aos álbuns do saudoso grupo Mountain. Outro ponto que chama a atenção é o belo solo de Igor, enquanto Yuri despeja distorção em seu baixo e Diogo comanda a quebradeira ao fundo. 


O hard da abertura é trocado pelo clima flower-power de "Consigo Te Escutar", uma balada que por vezes nos lembra Led Zeppelin, levado pelos violões e com mais outro belo solo de guitarra, mantendo o bom nível de Certezas. As comparações com as grandes bandas das décadas de 60 e 70 é inevitável, já que o trio não nega suas raízes, mas "Garota, Você Sabe o que Eu Quero de Você" foge dessas comparações, em um rock original criado pelo trio, mostrando pique e uma simples letra, que não precisa dizer mais do que o seu próprio nome. Porém, a voz ainda jovem de Igor dá umas pequenas amostras de que precisa ser melhor trabalhada, apesar do cara tocar muito a guitarra.


O EP encerra-se com "Ilusão Confusa", carregada de peso como a faixa de abertura, em mais um riff para botar os pescoços a balançar, concluindo Certezas deixando um gosto de quero mais, saciado apenas se voltarmos a ouvir as quatro canções novamente.

Yuri Van der Laan, Igor Van der Laan e  Diogo Stolfo
O instrumental do Cattarse é muito bom, e um pequeno trabalho na parte vocal poderá fazer da mesma mais uma grande banda a surgir nos pagos do Rio Grande. Mas apesar da ótima energia da guitarra e do baixo, é uma pena que em estúdio não pude comprovar a ferocidade de Diogo, que ao vivo, parece uma mistura de Ginger Baker (Cream) com John Bonham (Led Zeppelin). 


Tomara que isso possa ser transmitido para as novas canções do Cattarse, e esperamos que os empresários e gravadoras invistam para manter a chama do bom e velho rock 'n' roll acesa. 


Parabéns aos guris pelas ótimas inspirações e, principalmente, por transformá-las em canções excelentes ao invés de perderem-se em um sertanejo universitário de fácil acesso ou vender-se para uma gravadora com canções de gosto duvidoso. Sucesso ao Cattarse e tomara que daqui uns anos possamos ouvir falar muito bem do primeiro CD do grupo.


Os interessados podem baixar o EP nesse link.

Track List

1. Certezas
2. Consigo Te Escutar
3. Garota, Você Sabe o que Eu Quero de Você
4. Ilusão Confusa

quinta-feira, 28 de junho de 2012

Maravilhas do Mundo Prog: Orgia Pravednikov - Начало века [2001]




Recentemente, nosso colega Marco Gaspari trouxe uma excelente matéria sobre o grupo Pesniary, da Bielorússia. Nela, Marco defende com unhas e dentes o fato de as bandas de rock progressivo da Cortina de Ferro terem uma característica própria daquela região adicionando elementos de sua cultura que em nada se assemelham aos grandes grupos do estilo, sejam eles britânicos, italianos ou de outros países ocidentais.

Da matéria, com louvor repito a seguinte frase de Marco: "Algumas pessoas parecem necessitar de pontos de referência confortáveis para compreender qualquer coisa estranha ou inexplicável. Como se cortar em tiras a foto de um boi ajudasse a explicar melhor a sensação de comer um bom bife."

Orgia Pravednikov: Alexei Burkov, Alexander Vetkhov, Yuri Ruslanov, Sergey Kalugin e Artemiy Bondarenko
Concordo plenamente com meu colega Consultor e o que mais me surpreendeu é que enquanto estava preparando o Maravilhas do Mundo Prog de hoje, a matéria sobre o Pesniary foi ao ar. Não que o Orgia Pravednikov seja uma banda formada por ex-membros do Pesniary, mas a origem do grupo (a Rússia pós-comunismo) é a mesma. As influências que o Orgia Pravedkinov empregam em seu som são únicas.

Mas seriam esses russos capazes de criar uma Maravilha do Mundo Prog? Para responder essa questão voltamos um pouco no tempo, na fundação do Orgia Pravednikov.

O grupo nasceu em 1999, na capital Moscou, a partir da união dos músicos da banda Artel com o guitarrista Sergey Kalugin. O Artel era um grupo de folk rock russo formado por Yuri Ruslanov (flauta, vocais), Andrew Novgorodov (bateria, percussão) e Artemiy Bondarenko (baixo, violões). O projeto folk ganhou espaço com a entrada de Alex Orochko (violões), um ás no violão clássico, e Alex Burkov, outro genial instrumentista, porém na guitarra.


Alex Burkov


Artel passou a participar de festivais chamando a atenção pela mistura de sons e pela potencialidade das canções. Nesses festivais, começaram a surgir comparações com os britânicos do Jethro Tull que se em parte agradavam por ser um dos grandes nomes do rock mundial, por outro desagradava, já que a ideia era realmente criar algo novo. Algo novo tinha que acontecer.

A primeira mudança foi a saída de Novgorodov. O Artel seguiu sem percussão, apenas com instrumentos de corda, flauta e vocais, criando o que chamaram de Vogais Átonas. O projeto deu certo, mas a ausência da percussão era sentida nas canções e Alexander Vethkov acabou sendo contratado para a bateria.


Alexander Vethkov

A entrada de Vethkov muda o som do Artel, tornando-o pesado em um som próximo ao Prog Metal. Desgostoso com o novo caminho iniciado pelo Artel, Orochko abandona o grupo, que permanece como um quarteto. 

O Artel continua sua saga envolvendo música pesada e folk rock até que, em 1999, o guitarrista Sergey Kalugin resolve mostrar um projeto que unia as habilidades musicais do Artel com suas habilidades na guitarra. Sergey vinha de uma excelente formação musical tendo estudado no Music College de Moscou. Desde a década de 80 destacava-se pelo suas composições intimistas.

Na década de 90, Sergey montou o grupo de heavy metal Wild Hunt. Durou três anos, até que ele encontrou o pessoal do Artel. Da proposta, firma-se um novo projeto batizado de Orgia Pravednikov (Оргия Праведников; em tradução livre, Orgia dos Justos), um dos principais expoentes da cena progressiva na Rússia atual e um dos melhores grupos a nascer ao mundo nesse novo século XXI.

A ideia era fazer um som próximo ao renascentista, mas trazendo elementos modernos como teclados, sintetizadores e guitarras. Essa mistura gerou um grupo extremamente diferente preservando com glórias o lado renascentista, através das flautas e das melodias do violão, mas acrescentando o lado moderno das guitarras distorcidas e efeitos de sintetizadores de igual para igual.

Artemiy Bondarenko
Logo na estreia do quinteto, o Orgia Pravednikov surpreendeu o lado leste da Europa e conquistou uma geração de fãs que se espalhou pela Europa Ocidental, pelo Japão e pelo mundo, graças à internet e a divulgação boca-a-boca de diversos seguidores do Orgia. Batizado de Oglashennye Izydite (Оглашенные, изыдите!; em tradução livre, Catecúmenos, Sai!), o álbum foi lançado em 2001 e abre com a beleza dos violões da faixa-título uma curta peça de pouco menos de um minuto que nos leva para nossa Maravilha Prog da semana.

"Начало века" ("Nachvalo Veka", ou "O Começo do Século") é uma canção simples e muito complicada ao mesmo tempo. Construída em cima de apenas um único tema feito pela flauta, repete-se por quatro vezes. Ela surge nas caixas de som com o peso da guitarra e do baixo fazendo o riff inicial, enquanto violão e bateria fazem a quebradeira ao fundo. Um longo acorde de guitarra traz um belo dedilhado de violão e guitarra, acompanhados por um leve andamento da bateria enquanto Ruslanov executa pela vez primeira o tema da flauta em um estilo bem clássico. 

A melodia é repetida e Kalugin executa um complicadíssimo trêmolo enquanto a flauta sola o mesmo tema clássico, deixando apenas baixo, bateria e flauta, que entoa uma longa nota. A flauta sola aleatoriamente com Vethkov quebrando tudo. Voltamos para o tema clássico, novamente entoado pela flauta, repetindo o trêmolo e tendo Kethkov como comandante das viradas e quebradas dessa parte da canção.

O peso retorna para mais um solo aleatório da flauta e chegamos no momento tenso de "Nachvalo Veka". O riff da guitarra torna-se ainda mais pesado, repetido pelo baixo - que irá agradar aos headbangers mais fanáticos - com a flauta executando um novo e breve tema em cima da melodia do tema clássico. A melodia clássica surge após uma sequencia impressionante de viradas de Vethkov. A guitarra adiciona mais distorção ao acompanhamento, trazendo novamente o trêmolo. A forma como a canção entra na mente do ouvinte nesse momento é algo absurdamente hipnotizante tamanho o peso das guitarras, aglomerado com a suavidade do violão e da flauta durante seu terceiro solo aleatório. Na verdade, nada mais é do que uma repetição das mesmas notas executadas nos solos anteriores.

O violão fica sozinho, reproduzindo o tema clássico da flauta. No fundo; guitarra, baixo e bateria surgem com um peso absurdo, para colocar os headbangers de joelhos aprovando essa maravilhosa mistura de heavy metal, música clássica e progressivo. O violão segue solando enquanto a sujeira das distorções e as pancadas da bateria comem soltas ao fundo englobando as melodiosas linhas do violão. Segurar a cabeça para não bater na parede com a confusão sonora que o Orgia Pravednikov está criando é muito difícil, mas antes que isso aconteça, a guitarra passa a soltar gritos agonizantes. Com um rápido solo de flauta e guitarra temos o encerramento dessa maravilhosa peça musical!

Yuri Ruslanov e Sergey Kalugin


Oglashennye Izydite contém outras belíssimas faixas, seguindo pelo clima oriental da introdução de "Ночь защиты" ("Noite da Proteção") transformando-se em uma bonita balada, apesar da estranheza dos vocais cantados em russo; o peso acústico/elétrico de "Восхождение чёрной луны" ("Nascimento da Lua Negra"),  sendo essa mistura de violões e guitarras pesadas também apresentada na modernidade de "Убить свою мать" ("Mate Sua Mãe") que, por vezes, nos remete a passagens de "Echoes" (Pink Floyd).

A beleza instrumental de "Покой и свобода" ("Paz e Liberdade") com seu lindo arranjo de violões e a ótima divisão entre guitarras distorcidas e flautas. Bem como a emocionante "Ступени" ("Passos"), outra na qual o arranjo de violões chega a nos levar as lágrimas, contrastando com as cordas abafadas da guitarra e os harmônicos suaves do baixo fretless enquanto Kalugin declama um emotivo poema mantém Oglashennye Izydite totalmente satisfatório de se ouvir.

A inteligente "Весна" ("Primavera") encerra o álbum, cujo único deslize é o funk pesado e repleto de slaps de "Туркестанский экспресс" (Expresso do Turquistão), assim como a vinheta "Вариации на тему военного марша Г.Свиридова" ("Variações em uma Marcha Militar por G. Sviridov), que como o nome já diz, são variações em uma marcha militar feitas apenas pela bateria.

Orgia Pravednikov nos dias de hoje: Alexander Vethkov, Alexei Burkov e Sergei Kalugin (acima),
Artemiy Bondarenko e Yuri Ruslanov (abaixo)

O grupo permanece na ativa contabilizando mais quatro álbuns de estúdio (o mais recente, Шитрок, ou "Rock de Merda", lançado esse ano) e quatro álbuns ao vivo. É um dos grupos que mais vende em seu país e vem conquistando espaço ano após ano sempre compondo canções excelentes, harmoniosas e ricas em melodias como a maravilhosa " Начало века".

Quero agradecer ao site Progshine que me apresentou a banda e cedeu algumas das fotos aqui presentes. Você pode acompanhar  um pouco mais da história do grupo nessa bela entrevista feita pelo colega Diego Camargo.

segunda-feira, 25 de junho de 2012

War Room: Queensrÿche - Promised Land [1994]



Por Eduardo Luppe (EL)
Convidados: Daniel Sicchierolli (DS), Mairon Machado (MM) e Micael Machado (Mica)


É com grande satisfação que apresentamos mais uma edição da coluna War Room, hoje vamos revisitar um dos álbuns mais complexos e elogiados pela crítica e público em geral, estamos falando do Promised Land, sexto álbum de estúdio da tão competente e controversa banda americana, Queensrÿche. 

Contando na formação da época com Geoff Tate (vocais, saxofone, teclados), Chris DeGarmo (guitarra, piano, violoncelo e cítara), Michael Wilton (guitarra), Eddie Jackson (baixo) e Scott Rockenfield (bateria), o sucessor do excelente Empire (1990) levou praticamente quatro anos para ficar pronto, devido ao sucesso de outrora, contas bancárias cada vez mais gordas e outros contratempos que levaram a banda a uma crise existencial, chegando a quase desistência por parte de alguns membros da banda. Enfim, para a alegria dos fãs a banda retomou o caminho e concebeu um dos trabalhos mais introspectivos e melancólicos de sua carreira. 

Dos quatro participantes desta edição, dois deles nunca ouviram o álbum (Micael e Mairon).

Bom, consultores preparem-se para aproximadamente 1 hora de pura viajem e precisão musical. 

1. 9.28 a. m. 

EL: Uma rápida introdução composta por Rockenfield e que trata de vida e morte... 

DS: Intro... Hummm... PULA! 

MM: Gostei desse início, parece promissor. 

Mica: Cria expectativa! 

EL: Promissor para um álbum prog... cria uma certa expectativa... 

2. I Am I 

Mica: Essa eu já ouvi antes! Diferente de outros sons da banda que eu conheço, aponta um caminho diferente do que eles faziam. Curto o refrão! Esse vocalista é muito bom, já largo dizendo isso! 

EL: Essa faixa entra dando um nó na cabeça do ouvinte. Com um instrumental completamente torto, bem quebrado com Geoff Tate cantando horrores. 

DS: Essa é a faixa que eu ouvi primeiramente, se não me engano tinha até videoclipe. É uma faixa que lembra um pouco do Empire, mas a voz do Tate soa muito agudo. Não é uma música ruim, mas não a incluiria em um album como o Empire ou o Operation Mindcrime

EL: Uma levada surpreendente que vai terminar na terceira faixa. 

MM: Cara, não é tão ruim quanto eu esperava. Esse vocalista imita direitinho o Bruce Dickinson, mas por enquanto está aguentavel. Interessante a proposta musical, vamos ver o que vem pela frente. Eu ainda não entendi uma coisa, o álbum é conceitual? 

3. Damaged 

MM: Ai (Parte 1)! Agora ficou brabo! Iinício legal, mas essa batida quadrada me irrita. 

EL: "Damaged" tem uma entrada furiosa e raivosa... Tate como sempre cantando e matando a pau. 

Mica: Bastante peso, ainda mais sendo do Queensrÿche, mas meio genérica! 

EL: Essa faixa ao vivo ganha um peso absurdo. 

Mica: Posso imaginar! 

EL: Incrível como Tate tem uma variação vocal de deixar os outros no chinelo... alternando de grave e agudo sem o menor esforço. 

Mica: Isso é para quem gosta de dizer que não tem nada de bom em Seattle! 

MM: Gostei das passagens de guitarra, e só. As duas primeiras eram interessantes, essa não bateu. 

EL: Chris DeGarmo e Michael Wilton alternam solos que deixam a música brilhantemente bonita. 

DS: O começo de "Damaged" parece melhor que a anterior, mas não é nada demais.... Legal isso de variar com vocais mais graves... Considerando-se Seattle, citado pelo Mica, isso é maravilhoso. Mas o Lethal é de lá, não é? Muito melhor que Queensrÿche. Solos? que solos?

Mica: Também estou procurando... Não curti "Damaged" tanto quanto a anterior, mas é interessante.

4. Out of Mind 

DS: Música com começo lento. Não é o momento. O disco já vem morno e agora isso. Sorte que não estamos fazendo a noite, senão era sono na certa! 

EL: "Out of Mind" é o primeiro momento realmente depressivo! uma boa harmonia com a voz suave de Tate completando o som de forma muito bonita. 

DS: Boa performance do Tate, interpretativa e com vocal bem dosado. 

Mica: Decaiu bastante, mas a banda tem de justificar a "aura prog" que tem, então, dê-lhe variações de estilos! Pior que a música é bonita, mas não se encaixou ao que vínhamos ouvindo! O Tate é um grande cantor! 

DS: Em estúdio sim, ele é. Ao vivo, deixa a desejar. TRETA TRETA TRETA! 

Mica: Aí já não posso opinar! 

EL: Com um solo bem introspectivo de Chris DeGarmo... simplesmente show!!! Daniel vc nunca assistiu a um show do Queensrÿche. TRETA!!!!

DS: Já ouviu falar de Youtube? É só acessar e conferir!

MM: O começo acústico foi muito bom, depois virou uma balada comum, mesmo assim, melhor do que tinha antes. Esse vocal é bem trabalhado, isso merece destaque, mas não é o meu estilo de música. Outra, esses teclados anos 80 enchem o saco. Gostei de novo só das guitarras, solo limpo, sem virtuosismo, e com bastante feeling, transparecendo a depressão da canção através das cordas. Fugiu totalmente do que eu esperava. A melhor do disco até agora. É assim mesmo, a música acaba do nada?

Mica: Só o Mairon para achar a balada a melhor até agora!

5. Bridge 

EL: Uma das melhores baladas do Queensrÿche.

Mica: Bem coisa de FM mesmo, né? Mas tô curtindo! Música comercial pode ser boa também! 

MM: Ai! parte 2. O Skid Row e o Bon Jovi (ui!) faziam isso bem melhor. 

EL: Essa trata da relação entre pai e filho do guitarrista Chris DeGarmo onde ele exorciza os demônios em relação a seu pai, que abandonou a família quando ele ainda era pequeno, mas reapareceu com o filho sob os holofotes, já famoso. 

MM: Gostei do guitarrista. 

DS: Lenta de novo? Isso explica porque eu não escutei o disco duas vezes. Novamente, lembra o Empire, mas é outra que se fosse da mesma época, não entraria no disco. 

EL: Uma canção bem construída e bem executada por uma banda talentosa. 

DS: HAHAHAHAHA.... Não não!!! 

Mica: Mas o Queensrÿche sempre fez essas baladas assim, não? E é diferente do que o Skid Row e o Bon Jovi faziam, tem menos açúcar! 

EL: Farofa não... deixa pra lá, kkkkkkkkkkk.

DS: Tem maracujá concentrado. Dá sono... vai ver é isso! 

6. Promised Land 

Mica: Faixa título TEM que ser boa! Essa é longa, o Mairon vai curtir só por isso! 

EL: Momento progressivo! com uma complexidade que para quem curte musica de três minutos não vai gostar... kkkk 

MM: Sinceramente, até agora estou achando o disco bem confuso. As músicas terminam do nada. São bem construídas e tal, mas parece que está faltando uma liga, uma sequência lógica para a audição. Essa faixa-título mesmo, caiu de para-quedas e não abriu até o momento. Que bomba de Hiroshima ... Tentaram imitar o Genesis oitentista e não funcionou! 

Mica: Espero que não sejam sete minutos assim... senão, vou ser obrigado a dizer que prefiro UFO!

EL: O baixo e a bateria aqui é evidenciado de forma a construir todo um cenário cinematográfico. Vocês estão loucos... kkkkkkkkk 

Mica: E o Tate continua mandando muito bem! 

EL: Depois do Bruce Dickinson ele é o melhor!

MM: Ai! parte 3, com essa frase do Luppe. Putz, esses efeitos estragaram o que podia ser um solo tri bonito. 

DS: Progressivo e climático esse começo! Pelo tempo que está, pelo jeito não é o começo, mas a música toda assim.... Boa interpretação do Tate, prefiro ele cantando assim do que muito agudo. Soa muito forçado. Parace que uma empresa finematográfica brasileira querendo fazer uma produção com efeitos especiais Hollywoodiana. Ou seja, é uma banda que não tem recursos ou as manhas de fazer isso. Soa forçado e chato demais. 

Mica: Tem vários entre eles,mas é só a minha opinião! 

MM: Concordo completamente com o Daniel. Não conheço Queensrÿche, mas essa tentativa de soar pomposo não deu certo para eles 

Mica: Achei que ia mudar, mas pelo jeito não vai não! Não curti, embora o refrão seja interessante! 

EL: Uma música densa e carregada de emoção! Maravilhosa! 

DS: Cara, como pode? você diz que gosta de musica com atitude e pegada e elogia essa BOMBA! Como pode? 

Mica: Esse saxofone também não ajudou em nada! 

EL: Essa faixa é fuderosa! 

MM: Bah, e vocês criticaram o UFO. Que bomba sonolenta e insossa. 

EL: Aprenda como se faz um prog de verdade! kkkkkkkkk 

Mica: Então vou ouvir Yes para aprender! 

MM: Mas que blasfêmia. Isso não é prog nem aqui nem no Japão. 

EL: kkkkkkkkkkkkk 

Mica: TRETA! TRETA! TRETA! 

7. Disconnected 

MM: Ufa, acabou. Graças a Deus, mudou de faixa, e já gostei dessa citação à Pink Floyd logo de início. 

Mica: Me soa Dream Theater do Metropolis-pt 2

MM: Dream Theater não é banda, e veio depois disso! 

Mica: Baixão! até que enfim ouvi ele! 

EL: "Disconnected", composição espetacular! Uma aula de bateria de Rockenfield junto a um baixo preciso marcando compaso! 

Mica: Curioso é que é difícil ouvir e entender a letra! É proposital isso? 

EL: Isso Mica! essa faixa tem uma complexidade absurda! 

Mica: Bem complexa mesmo! Me agradou mais que as outras, exceto as duas primeiras! 

MM: Não ouço nada de complexo nessa faixa. Só uma viagem musical mal feita, sem definição e soando como complemento do disco. Resumindo: Encheção de linguiça! Passo. 

EL: Blasfêmia Mairon! Essa faixa é show! 

MM: De novo esse saxofone ridiculo. 

DS: Belo baixo e muito boa levada, mas esses gemidos digitalizados estragam tudo. E novamente aparecem vocais digitalizados. Não gostei. Monte de barulho sem sentido. Faço melhor eu sozinho aqui em casa e olha que não sei tocar nenhum instrumento. PULA logo!! Ou é essa que ele coloca a arma na cabeça?? ATIRA LOGO VAI!!!!! 

Mica: Aqui eu gostei do saxofone. 

8. Lady Jane 

MM: Mais citação à Pink Floyd, interessante. 

Mica: Mais uma balada que não me agradou. PULA! 

MM: Ah não, assim não dá para ouvir isso. Vou cozinhar. Cordas????!!!! Quanta impáfia e soberba desse Queensryche ai. Os caras eram mesmo tão talentosos para fazer algo desse nível? O solo de guitarra salva, mas olha, desconhecia banda tão prepotente. 

EL: Mais uma linda balada onde Tate detona! grande performance e grande melodia! Uma musica introspectiva com um piano soando melancólico! poderia ser tranquilamente trilha sonora de filme! 

DS: Outra música lenta e climática? Pára com isso. Vou vender o disco. Tédio. Ou melhor, se vou vender, melhor começar a elogiar. TRETA! TRETA! TRETA! Vocais chorados e chatos. Cadê o Heavy Metal e as músicas com atitude Eduardo???

EL: O solo de DeGarmo dá um tom perfeito a música! 

Mica: zzzzzzzzzzzzzz! 

MM: Chato pacas, e não tem nada de progressivo. Se não fosse o solo melodioso, era totalmente passável 

EL: A orquestração no final da musica é coisa de cinema! Linda! 

DS: Não ofende o cinema Eduardo.

Mica: Não gostei! 

EL: Estou até emocionado! 

MM: Depois eu que sou louco 

9. My Global Mind 

Mica: Já melhorou esse peso no começo! 

MM: Opa, deixa eu sentar aqui. Estava cortando cebolas para ver se conseguia me emocionar. Ai! parte 4. 

Mica: Quadradona, bem comum, mas legalzinha! Ainda mais perto do que veio antes! Refrão interessante! 

EL: "My Global Mind" tem tudo que representa o Queensryche, boa melodia, feeling e precisão musical! tem um bom refrão e um instrumental bem elaborado! Rockenfield detonando a bateria! 

DS: Novamente falta peso, falta direção e algo que possa empolgar. Forçadamente tentando soar progressivo. Na verdade, essa é a proposta da banda e por isso eles não estão entre meus favoritos. Muita "pompa" e pouco resultado. E olha que essa música perto das outras não é tão chata. 

Mica: "Não é tão chata"... também não é assim, que deselegante, Daniel! 

MM: Se isso não é chato, o que deixam para depois. Só eu percebo que o vocalista chupinha o Dickinson em várias coisas??? Muito quebrada, muito interessante, mas muito desnecessária. 

DS: Isso aqui é WAR ROOM, não estou aqui para fazer amigos! kkkkkkkkkkkkkk 

MM: Mais uma música que acaba do nada. 

EL: Ótima música! 

MM: Se é que poso chamar de música. 

10. One More Time

Mica: Acho que essa parte das guitarras é a coisa mais prog até aqui no disco.. e nem é tão prog assim! 

MM: Affffffffffffff, vou no super e já volto. Que voz irritante!! 

DS: Essa é mais legal. O estranho é que tenho o disco e nunca reparei nela. Deve ser porque dormi antes dela chegar. Mas essa sim, eu gostei. Uma pelo menos. Somando-se com as duas primeiras, já não vou dar nota ZERO. 

EL: Outra boa música com uma interpretação maravilhosa de Tate! O baixo e a bateria novamente marcando compaso para que as guitarras façam a bela harmonia na música! Um belo refrão e bem encaixado! 

Mica: Como os gostos são diferente, não? Essa eu não curti muito, achei chata! 

MM: Eu acho que sou surdo, não ouço nada do que vocês estão citando ai. 

DS: Que disco você está ouvindo Mairon? kkkkkkkkkkkkkkk 

EL: kkkkkkkkkkk 

Mica: Ôpa, o solo é bem interessante, tenho de admitir! 

MM: Mais um solo legal, pelo menos isso. Mas o guitarrista não é nem um pouco virtuoso, ou foi nesse disco que ele se controlou? 

EL: Outro solo bem construído! uma marca do Queensrÿche! Mairon eles estão mais contido neste álbum! essa dupla de guitarristas é uma das melhores! 

MM: Ta ni nã, fiquei com esse tema na cabeça, que droga ... 

DS: É, ele tá ouvindo outro disco mesmo. 

11. Someone Else?

Mica: Outra balada? Tenha piedade! 

MM: Pianinho???? Ai! parte 5. Ah não cara, é muita imitação de Bruce Dickinson esse vocalista aí. Vou ouvir Frank Zappa a tarde inteira para me curar desse purgatório. O instrumental é bonito, mas o vocal estraga tudo. 

DS: Ah sim. Por isso que comprei o disco. O Eduardo sempre elogiou essa balada. Piano e voz. Nessas horas que tenho que admitir que ele canta bem, só acho que está na banda errada, ou precisaria ser contratado numa outra banda e com um produtor que desse um outro direcionamento para ele. Boa música. 

Mica: Ai meus ouvidos! 

EL: "Someone Else?", a faixa que encerra o disco, apenas feita para piano e voz. A interpretação de Tate é assustadoramente fascinante, e não necessariamente pelos aspectos técnicos da sua voz, mas o cara canta uma barbaridade aqui. 

MM: Putz, é só piano e voz essa bomba??? 

EL: Por isso é considerado como um dos melhores vocalistas de todos os tempos! 

Mica: Mas que adianta ele cantar tanto assim? A múscia não me passou empatia, não conseguiu ter o componente emocional necessário para me "pegar" de jeito, me fazer gostar dela de verdade! 

EL: A melodia da música é algo assustadoramente brilhante! 

MM: ACABOU!

Mica: E do nada, como citou o Mairon. 

Comentários finais 

MM: Para um disco que foi o mais vendido da carreira do Queensrÿche, achei bem fraquinho. Não entendi a ideia musical. Músicas curtas, acabando do nada, soando muito pomposo para o meu gosto. Salvo a guitarra, o resto é muito simples, e esse vocalista aí é uma cópia mal feita do Bruce Dickinson. Não tem como aturar. Não compraria, e se recebesse de graça, dava um jeito de passar adiante. 

Mica: Cara, a tortura não foi tão grande,mas não é o disco que vai me fazer virar fã da banda. Gostei de algumas coisas, mas os clássicos (Empire Operation: Mindcrime) são muito superiores. A única que eu conhecia, "I Am I", não foi superada. Valeu como conhecimento, mas não me satisfez musicalmente não! 

DS: Um disco morno, em alguns momentos tedioso e em raros trechos tem algo realmente bom. É notório que são bons músicos, mas eles não são feitos para essa onda progressiva. Parecem uma banda sem personalidade, principalmente quando se analisa a discografia interia. Cada hora influenciados por uma onda. Não gostei do disco e vou vender o meu. Quem quer? Pagam quanto? 

EL: Sou suspeito para dizer algo sobre este álbum, pois este está entre um dos meus favoritos do Queensrÿche e pra mim ele faz todo sentido do mundo. Um álbum grandioso e majestoso que trás boas canções e competência instrumental pelos músicos. 

MM: Mas como que você gosta desse disco Luppe, sinceramente não consigo entender 

Mica: Competência instrumental eu até percebi, mas a parte do "boas canções"... nem sempre, nem sempre! 

MM: Cansativo demais 

EL: Creio que seja um dos álbuns onde Tate mais mostra a sua técnica e sua proeminente voz! 

MM: Então passo longe dos demais, obrigado por me avisar. Não conheço os citados Mindcrime e Empire, mas olha, por essa amostragem aqui, nem quero conhecer. 

EL: Mairon, na minha opinião, melhor que aquele álbum cansativo do UFO! kkkkk 

DS: Tão ruim quanto, TRETA TRETA TRETA! 
Mica: Bom, isso não posso discordar! kkkkk! TRETA, TRETA, TRETA!

MM: Mas o UFO pelo menos os caras sabiam tocar o que eles queriam tocar. Não é o caso do Queensrÿche ... 

Mica: kkkkkkkkkkkkk! 

EL: kkkkkkkkkkkk Mairon, isso é uma piada? kkkkkkkkkkk. Melhor que os farofinhas que o Daniel escuta! 

MM: Claro que não, o Queensrÿche quer soar progressivo, mas não tem capacidade de tocar isso. Basta ouvir os solos da guitarra, não tem nada de prog ali. Até o DT consegue fazer algo melhor 

Mica: Ih, pegou pesado! 

MM: Estou sendo sincero. Para eu dizer que eles são bons músicos, teria que ouvir outros discos. Esse daí sinceramente não me passou essa ideia, pelo contrário, parece uma banda iniciante tentando soar grande 

EL: Não! o Queensrÿche é muito mais reconhecido que aquelas bandinhas prog que ninguém conhece! TRETA!!! 

DS: Justin Biber também. 

Mica: Pô, Daniel, mantém o nível ao menos!

MM: Depois dessa, me despeço. Luppe, valeu por nos apresentar esse álbum e dar sequência ao War Room

Mica: Abraço à todos! 

DS: Abraço! 

EL: Abraços! E valeu pessoal!

sábado, 23 de junho de 2012

História da Guitarra




Esse artigo é baseado em uma palestra que ministrei para o Projeto Memória em Foco, organizado pela Profa. Msc. Priscyla Cristine Hammerl no IF Farroupilha, Campus São Borja. A ideia principal é desmentir algumas ideias que temos sobre sua origem e mostrar que o local exato do surgimento, desse que é um dos principais instrumentos do rock, está na Mesopotâmia concentrando-se nos países árabes como Irã, Arábia Saudita, Iraque e Líbano.

O que é a guitarra? De onde ela veio? Quais são suas origens? Essa é uma pergunta que poucos roqueiros e headbangers fazem. Até por não se interessarem pela história, mas sim por curtir suas músicas e brincar de air guitar.

Os mais curiosos saem atrás de informações e acabam esbarrando em um grande muro que quase sempre nos mostra uma história muito mal contada. Basta ver que no nosso Brasil varonil, a Guitarra, como é reconhecida e tratada em quase todo o mundo (com exceção de Portugal, onde é conhecida como viola), é chamada de Violão. A foto que ilustra esse post mostra que Guitarra e Violão é o mesmo instrumento com algumas pequenas diferenças.

Começando pelas semelhanças. Ambos os instrumentos apresentam as seguintes características:

Características entre guitarras, com a acústica
 tendo a Boca como fonte ressonante


1. Mão 

2. Capotraste 

3. Tarrachas 

4. Trastes 

5. Alma 

6. Casas 

7. Braço 

8. Salto 

9. Corpo 

12. Ponte 





A Guitarra Elétrica apresenta mais três pequenas características não presentes na Guitarra Acústica (o Violão): 10. Captador; 11. Botões de volume e som; e 13. Palheteira. A Guitarra Acústica possui uma fonte ressonante (a Boca) que faz com que o som seja emitido de forma compacta, o que na Guitarra Elétrica é feito pelos captadores. Por isso, a diferença entre acústico e elétrico.

A definição geral de Guitarra é: Instrumento de seis cordas tendo um corpo que emite som através das cordas que estão presas a uma mão com afinadores (tarrachas) para afinar o som do instrumento. Essa é uma definição bem geral. Talvez não a ideal, mas que serve para distinguir esse instrumento de outros. Reparem que em nenhum momento há uma distinção se é elétrica ou não. Isso é fundamental para termos em mente que Guitarra e Violão são a mesma coisa!

Partindo desse ponto e desse consentimento, sigo para as origens da Guitarra. Existem duas teorias fortes espalhadas e divulgadas com o passar dos anos sobre qual é a origem do instrumento. A primeira delas sugere que a Guitarra é uma adaptação da Kithara, um instrumento grego utilizado naquela região aproximadamente 2000 a. C. e ainda comum no país nos dias de hoje.

Evolução da Khitara. Acima: a Khitara (esquerda) evolui para a Lira (direita);
Abaixo: a Lira evolui para a Harpa (esquerda) e para a Cítara (esquerda).
Nada de Guitarra saiu deste instrumento.
Essas teorias apoiam-se na similaridade entre as palavras e o fato de a Kithara possuir seis cordas. Porém, é difícil imaginar que esse pequeno instrumento de seis cordas tenha virado o instrumento de seis cordas idolatrado no rock. Na verdade, a Khitara era um instrumento de quatro cordas que evoluiu para as seis cordas e transformou-se na Lira. Posteriormente, a Lira virou o que hoje conhecemos como Harpa e também a Cítara (instrumento dos balcãs, que erroneamente é dito como sendo o instrumento indiano, chamado corretamente de Sitar).

Harpa-Bacia, instrumento praticamente pré-histórico.

Os verdadeiros ancestrais da Guitarra (talvez tataravôs do instrumento) foram a Harpa-Bacia e o Tanbur. A Harpa-Bacia é um instrumento praticamente pré-histórico com a caixa de ressonância feita ou de casco de tartaruga ou cabaças de árvores. Dentro dessa caixa de ressonância era embutida uma vara longa (geralmente feita de bambu) que era dobrada em sua ponta. Assim, esta ponta sustentava as cordas e, como havia a curvatura, essas cordas adquiriam sons (afinações) diferentes. Formava-se assim um conjunto de sons que poderiam ser ditos como sendo os primeiros "acordes". 

O som era ressonado através de furos feitos nas cascas de tartaruga. Vale ressaltar que as cordas inicialmente eram feitas ou de tripas de animais ou de seda. As cordas de seda duravam bem menos do que as cordas feitas de tripa (que também não duravam mais do que sete ou oito semanas).

Os primeiros achados datam este instrumento com aproximadamente em 4000 a. C. Foram encontrados, principalmente, nas regiões da Suméria (parte sul da Mesopotâmia envolvendo países como Iraque, Kuwait e Arábia Saudita) e Egito antigo.

Tanbur: de duas a quatro cordas com corpo em formato de pêra
O outro instrumento tataravô da Guitarra é o Tanbur, instrumento possível de ser encontrado nos países árabes ainda hoje! Esse possuí um corpo em formato de pêra com um longo braço sustentando duas ou quatro cordas, afinadas distintamente por tarrachas preparadas para isso. Pequenos furos no corpo do instrumento permitiam a ressonância do som. Pinturas e achados arqueológicos registram o Tanbur como um instrumento que era comum em países como Irã, Iraque, Arábia Saudita, Turquia, Síria e Líbano (Mesopotâmia) aproximadamente a 3000 a. C. É possível vê-lo em pinturas, gravuras e achados egípcios.

O Tanbur de Har-Mose

É exatamente no Egito que o Tanbur sofre uma pequena e importante transformação. O luthier (fabricador de instrumentos) egícpio Har-Mose adapta o Tanbur de forma que suas costas tornassem planas. Além disso, Har-Mose fixou a ideia de apenas três cordas, que ressoavam através de um corpo feito de cedro e com mais furos, que amplificavam o som. 

Era a primeira vez que uma madeira mais maleável era utilizada para fazer o instrumento. O Tanbur de Har-Mose pode ser visto em museus do Egito e seu som era muito cru e baixo (como se a guitarra fosse tocada com as cordas abafadas).

O Tanbur de Har-Mose espalhou-se como um instrumento popular nos países arábes, principalmente pela facilidade de se construir o mesmo, apesar das dificuldades em encontrar uma afinação correta para tocar canções.

Aqui podemos voltar no início das teorias sobre a evolução da Guitarra e falar sobre a segunda delas que afirma a Guitarra ser uma evolução do Alaúde. O instrumento é um primo próximo da Guitarra, mas não tem interferência nenhuma no percurso genealógico. 

O Oud (esquerda) e o Alaúde (direita).
A principal diferença é a inclusão de trastes no segundo
Na Arábia Saudita, o Tanbur evoluiu para um instrumento chamado Oud (cujo significado é "Feito de Madeira"). O Cedro foi substituído por outros tipos de madeira. Principalmente por árvores típicas da região como a Acácia e a Palmacea. Os árabes modificaram o corpo do Tanbur tornando-o menor e adicionando uma mão dobrada que esticava mais as cordas e auxiliava na afinação do instrumento. Finalmente, é utilizado dez cordas, ressonadas por uma boca em formato oval e pequenos furos que assemelham-se aos furos do Tanbur e da Harpa-Bacia. O mais importante é que o Oud não possui trastes.

Com a invasão dos mouros na região da Espanha (711 d. C.), o Oud entra na Europa e é aperfeiçoado pelos espanhóis. A principal diferença é o fato de ganhar trastes, gerando as casas do instrumento. Nove trastes criam oito casas e o Oud torna-se o Alaúde ("Feito de madeira e cordas"). Os furos ao redor da boca foram retirados tornando-a circular.

O Alaúde estacionou sua evolução nesse ponto e tornou-se um dos instrumentos mais populares da era medieval. Logo surgiram as primeiras composições, especialmente para o Alaúde, feitas por nomes como Johann Sebastian Bach, Wolfgand Mozart e Sylvius Leopold Weiss. Uma bonita peça tradicional para Alaúde pode ser conferida aqui.

Primos próximos da Guitarra, evoluídos do Tanbur:
Acima: Saz e Panchtar. No centro: Tamburitza e Bouzoki. Abaixo, o Setar
Outros instrumentos foram criados a partir da evolução do Tanbur como o Saz (Turquia), Tamburitza (Albânia), Panchtar (Afeganistão), Bouzoki (Grécia) e o Setar (Irã). O Setar foi levado para a Índia, onde sofreu modificações influenciadas pela cultura daquele país. Mais cordas foram adicionadas, além de uma escala de afinação complexa e diferente dos demais instrumentos. Criaram um instrumento único, de timbre inigualável e que foi difundido mundo afora graças ao genial Ravi Shankar que mostrou o mesmo para o ocidente a partir da década de 60. O nome desse instrumento, uma pequena variação do Setar: Sitar.


A palavra "tar" em sânscrito (língua utilizada nos países árabes do lado leste da mesopotâmia) significa corda. Quando o Tanbur começa a ser transformado naquela região, os árabes passam a nomear os novos instrumentos a partir da quantidade de cordas do mesmo. Surgem então: o Dotar (duas cordas), usado principalmente na Arábia Saudita; o Setar (três cordas), utilizado no Irã; e o Chartar (quatro cordas, pronúncia correta Quiartar), que era bastante comum na Arábia Saudita, Iraque e Irã.
Chartar, o avô da Guitarra
O Chartar foi o principal instrumento para que chegássemos na guitarra. Com quatro cordas, foi o primeiro a trazer um corpo com curvas mais "femininas", além de uma escala maior em relação aos outros instrumentos. Rapidamente virou um instrumento popular por todo o Oriente Médio. Não tardou para que mercadores e viajantes que chegavam na região levassem o instrumento para o Norte da África (Egito, Líbia e Marrocos) e também para o leste da Europa (Grécia, Turquia, Albânia e Bulgária). 


São os mouros que levam o instrumento para a Espanha durante a invasão ibérica. Na Espanha, os europeus modificam o Chartar, retirando as quatro cordas individuais que faziam parte do conjunto árabe e adicionando quatro pares de cordas uníssonas (oito cordas). O som fica cada vez mais amplificado e ocorrem pequenas alterações no formato do corpo. Essas pequenas modificações criam um novo instrumento: a Chitarra.



Mapa da evolução dos instrumentos de corda até chegarem na Europa (ver texto)
Agora, uma espécie de mapa das origens da Guitarra até chegar na Europa. Na figura acima, temos escrito em preto as regiões onde nasceram os primeiros instrumentos com cordas em formato similar com o que viria a ser a Guitarra. No caso o Egito, a Mesopotâmia e a Turquia. Nesses países, o Tanbur se consolidou como um instrumento popular, mas sofreu algumas modificações com o passar dos anos, o que ocorre nos países em vermelho (Índia e países árabes). Lá, os novos instrumentos são designados através da quantidade de cordas sobressaindo o Chartar (quatro cordas) que é levado para a Espanha através dos mouros (azul) e para o leste europeu por mercadores e viajantes (Grécia). Os Europeus criam a Chitarra e um novo país surge nesse mapa, de importância vital para que a Chitarra vire a Guitarra: a Itália.


A Chitarra vira um instrumento extremamente popular na Europa, principalmente pela facilidade de sua construção e preço mais acessível à população em geral, em comparação ao Alaúde. Durante os séculos XV e XVI, surgem as primeiras composições únicas e exclusivas para Chitarra. O corpo do instrumento ganha formas cada vez mais esculturais e é adotado o padrão de oito casas - ainda com quatro cordas uníssonas, padrão este estabelecido na Espanha. É possível ver alusões ao instrumento em diversas pinturas e esculturas do período medieval, principalmente em igrejas da Espanha, França e Itália.


A Quitarra italiana, com cinco cordas
Na Itália, a Chitarra é modificada mais uma vez. Os italianos adicionam, além de ornamentações ao instrumento, uma quinta corda individual ao conjunto de quatro pares de cordas uníssonas, formando um instrumento de cinco cordas. Como uma quinta corda é adicionada, os italianos batizam o novo instrumento de Quitarra. Este é o primeiro instrumento a trazer a afinação hoje padrão, ou seja, A, D, G, B e E (Lá, Ré, Sol, Si e Mi), mas com uma pequena diferença no formato, já que as costas da Quitarra são abauladas. 


Porém, o instrumento de quatro cordas continua existindo e, para diferenciar, os italianos criam as nomeações Quitarra (quatro pares de cordas uníssonas) e a Quitarra Batente (quatro pares de cordas uníssonas e uma única corda individual). Outra importante diferença entre a Quitarra e a Quitarra Batente é que esta última amplia o número de casas de oito para dez ou doze, dependendo da região que o Luthier se localizava.


Um desses Luthieres, Antonio Stradivari (1644 - 1737) readaptou a Quitarra. Famoso por causa do violino Stradivarius, Stradivari modifica o corpo do violão, tornando as costas planas e alongando o braço do instrumento, fazendo-o capaz de suportar cinco pares de cordas. Complementando, mais casas são adicionadas, totalizando agora dezesseis.


A Quitarra de Stradivari (à esquerda), com as costas planas (centro)
e a Quitarra de Thielke (direita), com cordas individuais
Gradualmente, a Quitarra evoluiu para seis pares de cordas (doze cordas), pela exigência na amplificação do som, melhoria da técnica  e aperfeiçoamento de obras compostas para outros instrumentos. Porém, como o transporte da Quitarra tornava-se cada vez mais complicado por causa das suas dimensões e de seu peso, cria-se uma Quitarra somente com cordas individuais. O alemão Joakim Thielke (1641 - 1719) é um dos primeiros Luthieres a fazer esse tipo de instrumento. 

A guitarra de Antonio Torres
O próximo passo foi dado pelo espanhol Antonio Torres, que no início do século XIX, alterou as proporções do instrumento aumentando o número de casas, o formato da mão, estabelecendo seis cordas individuais e fazendo a emissão do som através de uma boca circular. Nascia assim a Guitarra. Graças à essas mudanças sutis, aumentou drasticamente a forma como o som se propagava, ampliando o som e permitindo que espaços maiores pudessem receber o instrumento. Era o início dos grandes bailes e a Guitarra surgia como a salvação da lavoura para fazer as bases que a Chitarra e o Alaúde não conseguiam mais fazer nos espetáculos.

A forma como Torres criou a Guitarra virou o padrão e toda a Europa começou a fabricar o instrumento no mesmo estilo. Alemães, franceses, italianos e espanhóis especializaram-se na construção estudando madeiras, anatomias e até mesmo novos estudos para substituir as cordas de tripa que desgastavam-se facilmente.


Os alemães foram os responsáveis por levar a Guitarra para os Estados Unidos. Surgem os primeiros grandes Luthieres da guitarra como Christian Friedrich Martin (1796 - 1873), o criador da Guitarra de Doze Cordas, na qual ele usa seis pares de cordas feitas de aço, uma novidade para a época. O aço, além de durar muito mais que as tripas, amplificava o som e tornava a Guitarra facilmente audível em casas de concerto para até mil pessoas. Mas as mudanças de Martin afetaram o tamanho da Guitarra que ficou mais pesada e maior. A Guitarra de Doze Cordas continua a ser usada ainda hoje, mas não é a preferida da maioria dos músicos.


Com o crescimento da Guitarra, aparecem os primeiros músicos que se especializam no instrumento. Vários são os grandes nomes da Guitarra entre os séculos XIX e início do século XX, destacando os espanhós Fernando Sór (Espanha, 1778 - 1839), um dos primeiros criadores de técnicas como o dedilhado, escalas para solos e harmonização de acordes); Andrés Segóvia (Espanha, 1893 - 1987), responsável por transcrever peças clássicas do Alaúde, Violino, Violoncelo e piano para a Guitarra, uma revolução na época; e Francisco Tárrega (1852 - 1909), para muitos, o maior virtuose da Guitarra em todos os tempos.


Grandes guitarristas da história: Fernando Sór, Andrés Segóvia e Heitor Villa-Lobos (acima);
Agustin Barrios e Fernando Tárrega (abaixo)
Na América do Sul, dois nomes surgiram com força: Agustín Barrios (Paraguai, 1885 - 1944) consagrou-se por ter saído do meio dos índios e se tornar um dos maiores compositores para a Guitarra em todos os tempos, destacando a linda "La Catedral" e também a excelente "La Ultima Canción - Una Limosna por el Amor de Dios". Outro grande nome da Guitarra na América do Sul foi o brasileiro Heitor Villa-Lobos. Apesar de não ser um exímio músico, suas composições são tratados no estudo da arte da Guitarra como primordiais, sendo o verdadeiro Be-a-Bá para o aprendizado de qualquer iniciante no instrumento.


Voltando aos Estados Unidos, no início do século XX o Luthier Orville Gibson (1856 - 1918) construiu a primeira guitarra com boca oval e o corpo mais próximo ao corpo do violoncelo, em dimensões menores. É por causa da semelhança com o violoncelo (muito parecido com a Viola clássica) que os portugueses passam a chamar a Guitarra de Viola e os brasileiros de Violão. Gibson é o primeiro também a criar formas diferentes ao instrumento, adicionando o que hoje conhecemos como guampas. Um funcionário de Gibson, Lloyd Loar (1886 - 1943) diminuiu as proporções da Guitarra de seu mestre, possibilitando o primeiro passo para a eletrificação do mesmo.


Na década de 20, o jazz surge com força nos bailes e teatros. A Guitarra, para sustentar o alto volume dos metais e da bateria, precisava ser ligada a um amplificador. A fábrica Gibson então constrói a primeira Guitarra Elétrica, na verdade uma Guitarra Semi-acústica modelo ES150, lançada em 1936 e usada posteriormente por nomes como Steve Howe (Yes).


Orville Gibson e o primeiro modelo com boca oval (acima);
Les Paul, Leo Fender e O. W. Appleton (abaixo)
A eletrificação da Guitarra tornou o instrumento um atrativo a mais nas casas de shows. Novos nomes surgem, aperfeiçoando a obra de Gibson e Loar. Les Paul, Leo Fender e O. W. Appleton (todos americanos) especializam-se na arte de construir Guitarras, cada um da sua maneira, empregando captadores elétricos de som e criando os famosos modelos Les Paul, Stratocaster e Telecaster. 


Com a chegada do rock 'n' roll na década de 50 e a expansão do estilo através da década de 60, nascem os primeiros heróis da Guitarra Elétrica. Jimi Hendrix trouxe os pedais que distorciam e davam peso ao instrumento. Eric Clapton adaptou as escalas de blues criando novas melodias. Jeff Beck mostra a virtuosidade com solos repletos de improvisos e a destruição do instrumento em pleno palco. Assim como Pete Townshed, outro criador de riffs imortais. Ainda no rock: Jimmy Page, Tony Iommi, Ritchie Blackmore, Vince Martell, Mick Box, Rory Gallagher, Jerry Miller, John Cippolina, Frank Zappa, Robbie Krieger, Carlos Santana... A lista é interminável de nomes que com a Guitarra na mão passaram a incentivar milhares de jovens mundo a fora e ajudar no momento do êxtase e alívio de uma geração que vivia no meio da incerteza do pós-Guerra, na Guerra Fria entre URSS e Estados Unidos e também no auge da Guerra do Vietnã.


No jazz e no blues: Wes Montgomery, Robert Johnson, B. B. King, Muddy Waters, John Mayall, Charlie Christian, Pat Metheny, Larry Coryell, Philip Catherine, John McLaughlin, Al di Meola, Paco de Lucia, John Abercombrie, Jim Hall e o mago Django Reinhardt são alguns exemplos que adaptaram a sonoridade elétrica a leveza de seus estilos também consagrando-se internacionalmente.


No final dos anos 70, início dos anos 80, aparecem os verdadeiros virtuoses. Capazes de tocar diversas notas por segundo, fazerem malabarismos com as escalas e inovar na forma de tocar, sendo não somente um Guitarrista, mas um artista em cima do palco: Eddie Van Halen, Steve Vai, Joe Satriani, Yngwie Malmsteen, Randy Rhoads, Jake E. Lee, Slash e muitos outros entram nesse balaio. Com eles, guitarras de dois, três e até cinco braços (como o caso do desconhecido Steve Puto) ajudam a mostrar o lado espalhafatoso do instrumento que havia começado apenas com quatro cordas e um único braço emitindo sons por uma caixa simples de madeira.


O jogo Guitar Hero, um dos maiores sucessos em games na atualidade

Hoje, a guitarra é o símbolo máximo do rock 'n' roll. Qualquer adolescente e criança que goste de rock, quer ser guitarrista. Basta ver o sucesso de vendas do game Guitar Hero, que encontra-se atualmente na sua décima sexta edição (tendo homenageado bandas como Aerosmith, Van Halen e Metallica), dando mais inspiração para uma nova geração de garotos e garotas que apreciam o instrumento para que, quem sabe um dia, possam se tornar um novo membro do ilustre hall de grandes Guitarristas da história!
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