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quinta-feira, 6 de outubro de 2011

Maravilhas do Mundo Prog: Steve Howe - Beginnings [1975]




Em 1975, o Yes estava no auge de sua carreira. Terminada a turnê do fantástico Relayer, o quinteto formado por Jon Anderson (voz), Steve Howe (guitarras, voz), Chris Squire (baixo, voz), Patrick Moraz (teclados) e Alan White (bateria) estava exausto. A grande quantidade de shows, contendo mais de duas horas e meia de canções extremamente complicadas, levou o quinteto ao cansaço, e então, todos se deram férias merecidas. Como a maior diversão de um jogador de futebol durante as férias é aquela tradicional partida beneficente, a melhor férias para um músico é gravar um disco solo. E foi isso que cada integrante do Yes fez.

Mas, seria possível que os integrantes do Yes, isolados e sem seus colegas, conseguissem elaborar canções tão belas, intrincadas, complexas e dignas do que faziam quando unidos, portanto, merecedoras de receber o nome de Maravilha do Mundo Prog? Nesse mês de outubro, vamos trazer para você, leitor do Consultoria do Rock, algumas maravilhas feitas pelos músicos do Yes no período de férias (1975 / 1977), e discutiremos essa questão do ponto de vista tanto das canções quanto da personalidade de cada membro.

Yes em 1975: Steve Howe, Alan White, Jon Anderson, Chris Squire,  e Patrick Moraz
E começaremos justamente com a canção que abre o Lado B do primeiro álbum solo gravado nesse período, e que carrega o nome do mesmo, "Beginnings". Gravada pelo guitarrista Steve Howe, "Beginnings" é uma aula de harmonia, composição, técnica e sentimento. A canção é uma parceria entre Howe e Moraz, responsável pelos arranjos da mesma. 

Contando com a colaboração de uma pequena orquestra, formada por Patrick Halling (violinos), William Reid (violino), John Meek (viola), Peter Halling (violocelo), Chris Laurence (baixo), James Gregory (flauta, pícolo), Sidney Sutcliffe (oboé) e Gwyd Brook (fagote), a canção começa com o lindo tema das cordas, acompanhado pelo dedilhado do violão. As cordas vão se sobrepondo, violinos, violoncelo e viola, tendo ao fundo um saltitante pícolo, bem como o dedilhado do violão de Howe.

A velocidade das cordas aumenta, deixando Howe sozinho, para fazer um belíssimo dedilhado, na linha de "Mood for a Day" (clássico gravado em Fragile, 1972, do próprio Yes). Após o solo de Howe, a flauta dá lugar para o oboé fazer seu tema, acompanhado pelo fagote. A flauta faz uma pequena ponte, e o oboé repete seu solo, acompanhado agora pelas cordas, pelo fagote e pela flauta. As cordas misturam-se ao tema do oboé, e a canção fica sombria, com cordas e flautas fazendo arpejos, trazendo então Howe, dessa vez na guitarra, utilizando o pedal de variação de volume, para repetir o tema do oboé.

andante dessa parte da canção é composto por uma cama de cordas, fagote e flauta que apresentam Howe, construindo uma bonita escala com o pedal de volume, acompanhado pelas cordas, flauta e oboé, e então, Moraz surge fazendo um leve dedilhado no piano, enquanto Howe sola no slide guitar. Cordas, flautas e oboé fazem a ponte, para então o slide guitar repetir o tema do oboé, com uma triste melodia das cordas e dos metais. A beleza do violoncelo e da viola, mesclada com as notas dos violinos e das intervenções do fagote, é muito emocionante, e essa construção vai aumentando a cadência, com slide guitar, oboé e violino tentando achar espaço um dentro da escala do outro. Fantástico é pouco para a intrincada peça construída.

Finalmente, um sintetizador é reponsável por que todos os instrumentos repitam o tema do oboé, em uma velocidade mais cadenciada, deixando as cordas nos apresentarem o tema final, o qual é feito por Howe, novamente dedilhando seu violão, com acordes quebrados e intrincados, entre intervenções das cordas, fechando essa belíssima canção com um sensacional crescendo das cordas e do fagote, repetindo o tema introdutório, em um allegro encantador, onde flautas, oboé e cordas misturam-se, concluindo com um simples acorde em E. Genial!

Steve Howe

Todo o álbum Beginnings é composto de ótimas composições e canções, sendo um dos melhores álbuns já gravados por um artista solo na opinião deste que vos escreve. Longe de ser um disco somente de guitarras, esse álbum é voltado para a divisão entre temas suaves e outros muitos próximos a linha do Yes. Howe aparece com destaque cantando em "Australia", na harmoniosa "Lost Symphony" e na encantadora "Will o' the Wisp", que parece sair de algum álbum do Traffic. Desse álbum, a canção que mais se destacou foi "Ram",  uma peça instrumental somente ao violão, similar a outro clássico do Yes, "The Clap" (gravada em Yes Album, de 1971) e executada nos shows do Yes durante a turnê de Union. Outro destaque instrumental vai para "Nature of the Sea", com Howe desfilando suas escalas, além de "Pleasure Stole the Night", e "Break Away From It All", as quais contam com a participação de Bill Bruford

Howe ainda lançaria outro fantástico disco solo na década de 70, Album, de 1979, apresentando outras bonitas peças instrumentais, e que podem facilmente aparecer por aqui um dia, além de ter feito parte do grupo Asia (um dos mais importantes nomes do AOR) e também do projeto GTR, ao lado do guitarrista Steve Hackett (ex-Genesis), bem como em paralelo a essas bandas, e também ao Yes, mantém uma bem-sucedida carreira solo, assim como vários projetos paralelos (como a participação no primeiro álbum do Explore's Club,  Age of Impact, de 1998, sendo que o grupo conta com diversos nomes de destaque, como o baterista Terry Bozzio e os membros do Dream Theter John Petrucci, James LaBrie  e Derek Sherinian), também com belas composições, mas sem dúvida, nenhuma equiparada à beleza e profundidade de "Beginnings".

sexta-feira, 8 de abril de 2011

Notícias Fictícias que Gostaríamos que Fossem Reais: Asia faz valer ingresso em mais de cinco horas de apresentação


 
Por Mairon Machado (Publicado originalmente no blog Consultoria do Rock)


Notícias Fictícias que Gostaríamos que Fossem Reais é uma sessão da Consultoria do Rock onde apresentamos notícias fictícias, mas que poderiam se tornar reais em algum momento de nossas estadas aqui na Terra. A intenção não é gerar polêmicas ou controvérsias sobre determinados fatos, mas apenas incitar a discussão sobre o que ocorreria se o mesmo fato chegasse a acontecer.

O grupo Asia voltou à ativa em 2011 para uma série de shows em comemoração aos 30 anos de carreira do grupo. Na atual turnê, intitulada "Official Reunion", que passará pelo mês de maio aqui no Brasil, exatamente no dia 22 no HSBC Brasil, em São Paulo, estão os membros que fundaram o grupo no longíquo ano de 1981: Steve Howe (guitarras), Geoff Downes (teclados), John Wetton (baixo, vocais) e Carl Palmer (bateria).

O grupo esteve fazendo shows pelos Estados Unidos, mas, na última terça-feira, um show surpresa foi anunciado para o pomposo Royal Albert Hall de Londres a ser realizado em 7 de abril, um dia antes de Steve Howe completar 64 anos de vida, como uma forma de homenagear esse que é um dos principais músicos da Inglaterra.

Fãs diante do Royal Albert Hall na manhã do show


Diversos fãs, eu entre eles, formaram uma gigantesca fila em frente ao teatro, inclusive com ônibus de excursão trazendo pessoas apenas para conseguir os poucos ingressos disponibilizados. Logo na compra, os fãs se depararam com duas surpresas: o show, marcado para as 20 horas, contaria com convidados especiais. A segunda: a data no ingresso mostrava o dia 8 de abril e não 7. Os próximos dias foram de expectativa para este que vos escreve e para os que conseguiram pegar um ingresso. A ensolarada manhã de ontem (7 de abril) já dava sinais de que o dia seria repleto de bons momentos.

Howe, o homenageado da noite


Depois de uma tarde sensacional e com temperatura amena (algo raro em Londres nessa época do ano), fui para o teatro, que já estava decorado. Às 18 horas, as portas se abriram, e não demorou muito para que todos os lugares fossem ocupados. Faltando cinco minutos para as 20 horas, "Presto", terceiro movimento de "L'Estate", uma das quatro peças que compõem a suíte "As Quatro Estações", de Vivaldi, começou a ser ouvida no teatro, enquanto uma gigantesca cortina com o logotipo do grupo descia em frente às belas cortinas vermelhas que fechavam o palco.

Carl Palmer durante seu solo


Quando a cortina com o logotipo caiu, encerrou-se "Presto" e uma gigantesca ovação foi ouvida. As cortinas vermelhas se abriram e mostraram Downes à direita do palco, Wetton ao centro, Howe na esquerda e Palmer ao fundo, com um kit não tão grandioso quanto o de antigamente. Para delírio geral, Downes puxou o riff de "Karn Evil 9 - First Impression", e assim, nada mais nada menos que Greg Lake subiu ao palco, gordíssimo, sem nenhum instrumento, apenas com sua voz para cantar a pérola do álbum Brain Salad Surgery, lançado em 1973 pelo grupo Emerson, Lake & Palmer. 

Greg Lake e seu solo de harmônica

Downes fez mágica para conseguir recriar os solos de Emerson, tendo a ajuda de Howe, que fez diversas partes da canção na sua guitarra. As três "impressões" de "Karn Evil 9" foram tocadas na íntegra, inclusive com o solo de Palmer (o primeiro de dois que ele fez na noite) sendo feito durante a metade da primeira impressão.

Ingresso
O público não acreditava. Lake e Wetton se abraçaram sorridentes, e após o "Boa noite Londres, estamos aqui hoje para dar uma festa especial para Howe, e principalmente para vocês!", Lake pegou uma gaita de boca e fez um curto solo, seguido por mais uma grande surpresa, a sensacional "Pictures of a City", lançada pelo King Crimson no segundo álbum da banda, In the Wake of Poseidon (1970). Confesso que quase infartei. Meu coração parecia sair da boca, e o Royal Albert Hall vibrava com as perfeitas notas de Howe e Downes recriando os grandes e geniais momentos de outro clássico do rock progressivo, com um show à parte de Palmer.

Depois de quase cinquenta minutos só com essas duas canções, Lake, que substituiu Wetton no próprio Asia durante a turnê de 1983, e que pode ser conferido no sensacional VHS Asia in Asia, deu espaço para o quarteto original começar a desfilar seus clássicos, e assim, Wetton agradeceu ao público e iniciou "Wildest Dreams", do primeiro álbum do grupo, lançado em 1982. Seguiram-se ainda "Eye to Eye", "Don't Cry" e "Midnight Sun", com o teatro em pé cantando todos esses clássicos pertecentes aos dois primeiros álbuns do grupo. Às 21:25, o grupo deu um breve tchau, anunciando uma pausa de 15 minutos. 

Wetton e Downes interpretando "Don't Cry"


A cortina vermelha novamente fechou o palco. Todos ainda estavam se recuperando da primeira parte do show quando "Excerpts from Firebird Suite" foi ouvida nas caixas de som. O silêncio tomou conta do lugar, junto com a expectativa do que mais o Asia poderia aprontar. Quando as cortinas se abriram, dois conjuntos de bateria estavam montados, sendo um repleto de peças eletrônicas.

Bill Bruford, sorridente após a apresentação


Era 21:45 quando Howe, Downes, Wetton e Palmer subiram ao palco acompanhados de Bill Bruford. "Close to the Edge" foi tocada na íntegra, com perfeição, nos mínimos detalhes, a lamentar somente a ausência da voz cristalina de Jon Anderson. Mas Wetton cumpriu bem seu papel, e logo após "Close to the Edge", com meu rosto coberto de lágrimas, na sequência, sem intervalos, Bruford comandou o início de "Larks' Tongues in Aspic Part I", fazendo o papel que Jamie Muir fazia nos aúreos tempos de King Crimson.

Mais uma grande surpresa, e o teatro dessa vez estava de boca aberta com o que via. As passagens de violino feitas originalmente por David Cross eram executadas pelos teclados de Downes, e Howe, sentado em seu banco, imitava Robert Fripp com perfeição. O grupo emendou "Larks' Tongues in Aspic Part II", e, em delírio, o público nem ouviu o começo de "In the Dead of Night", clássico do primeiro álbum do UK, com um show à parte de Bruford. 

Em êxtase, a plateia vibrou com mais uma hora de apresentação, mas ainda tinha mais. Wetton, Bruford e Palmer fizeram um riff que colocou o teatro abaixo, começando "Ritual", a quarta parte de Tales from Topographic Oceans (1973), o mais ousado projeto do Yes. Em mais de meia hora interpretaram essa maravilha com tudo que se tem direito e muito mais, inclusive com um sensacional duelo entre Palmer e Bruford, alternando momentos jazzísticos, rufadas, acompanhamentos funk e todos os efeitos de luz e fumaça que o Yes apresentava nos shows da turnê desse disco, em 1973.

Patrick Moraz, outro convidado feliz


Ali eu acho que morri. Não podia estar vendo aquilo. Era uma paulada atrás da outra, e o Asia finalmente justificando o nome de seus integrantes, fazendo jus com interpretações perfeitas para o que se tem de melhor no rock progressivo, além de estar vendo um duelo entre os dois maiores bateristas de rock progressivo que já pisaram na Terra. Mais uma pausa e a cortina se fechou com Bruford sendo ovacionado e eu banhado em lágrimas.

Às 23:12, Bruford voltou, como um mestre de cerimônias. Depois de contar uma rápida história de como conheceu Howe, chamou ao palco mais um convidado: Patrick Moraz. O tecladista que passou pelo Yes entre 74 e 76, também com alguns quilos a mais, sentou-se no banquinho de Downes, onde puxou os acordes de "Blue Brains", tocando com Bruford essa rara canção registrada no primeiro álbum do projeto Moraz - Bruford, intitulado Music for Piano & Drums (1983), que pareceu não ser conhecida pelo público. 

Momento acústico de Steve Howe


Moraz continuou no piano, comandando os acordes de "Beginnings" ao lado de Howe, interpretando essa belíssima faixa do primeiro álbum solo de Steve Howe. Também relembraram "To Be Over", do único álbum que Moraz gravou com o Yes, Relayer (1974). Howe permanceu sozinho no palco para seu show solo ao violão, onde arrancou lágrimas de todos com "Mood for a Day" (do álbum Fragile - 1971), "The Clap" (de Yes Album - 1971), "Masquerade" (de Union - 1991), "Ram"  (de Beginnings, 1975) e "Surface Tension" (de The Steve Howe Album - 1979), antes de encerrar sua apresentação com partes de "The Ancient" (do álbum Tales from Topographic Oceans).

Asia durante a terceira parte do show


Meia-noite e John Wetton convidou a todos para cantar parabéns em homenagem a um emocionado Howe. Ninguém queria ir embora, então Downes comandou "Video Killed the Radio Star", clássico da carreira de sua ex-banda, o The Buggles, repleto de sintetizadores e efeitos computadorizados, e reviveu a turnê de Drama (1980), interpretando "White Car" com toda a parafernália eletrônica utilizada em 1980. O Asia retornou com mais clássicos de sua carreira, começando com "The Heat Goes On", onde Palmer fez seu segundo solo, "Cutting It Fine", "Time Again" e "Only Time Will Tell", encerrando o show com "My Own Time (I'll do What I Want)", com a plateia dançando e cantando cada canção do início ao fim.

Steve Howe puxando o riff de "Roundabout"


Era quase uma da manhã e ninguém queria sair do teatro, aplaudindo e vibrando por mais uma canção. Então Howe entrou com um mandolim, puxando e comandando sozinho o riff de "Roundabout", com Lake e Wetton dividindo os vocais de mais um clássico do Yes, além de Bruford novamente estar na bateria eletrônica. O clima de festa, alegria e emoção brotava das paredes  do lugar. Moraz se juntou ao grupo para fazer a última surpresa, "Red", outra do King Crimson, que fechou ilustremente mais de cinco horas de uma apresentação sensacional, fazendo valer cada centavo do ingresso.


Cansado mas feliz, o quarteto agradeceu ao público e aos convidados, que entregaram flores para Howe, além de um vinil de ouro com a forma de seu rosto. Em delírio, acabei indo a pé para casa, vagando pelas ruas de Londres e pensando: "será que isso é apenas ilusão da minha cabeça?", já que tinha acabado de ver um dos mais incríveis shows já feitos pelo Asia, que dificilmente se repetirá da maneira como foi.

quarta-feira, 1 de abril de 2009

Asia


 Hoje, primeiro dia abril, dia dos bobos em muitos lugares por aí afora. Dizem que a origem disso está na França, onde, a partir do século XVI, o ano novo era festejado na data de 25 de março e as festas duravam até o dia primeiro de abril. Com a adoção do calendário gregoriano, o rei francês Carlos IX resolveu seguir o critério que conhecemos hoje (com o ano novo sendo comemorado em primeiro de janeiro). Porém, muitos franceses negaram-se à tal mudança, comemorando a chegada de um novo ano em primeiro de abril, o que gerou diversas gozações por parte dos demais franceses, e assim, surgia o dia dos bobos. 

No Brasil, esse dia começou a ser difundido no nordeste, onde o jornal A Mentira lançou, nesta data em 1848, a notícia do falecimento de Dom Pedro, desmentida no dia seguinte. O jornal ainda armaria mas uma peripécia, convocando todos os credores para um acerto de contas no dia 1º de abril do ano seguinte, dando como referência um local inexistente. 

Ainda existe a versão da guerra entre pagões e católicos. Os pagões, também como os franceses, comemoravam o ano novo em primeiro de abril, gerando gozações do povo católico, que adotou o novo calendário. Quem acompanha o horóscopo percebe que o primeiro signo, Áries, justamente se refere ao mês de abril. Enfim, histórias que não sabemos qual é a correta, mas que serviram para construir toda uma temática sobre o dia de hoje, o "dia dos bobos".
E várias vezes me senti desta forma, como um bobo. Mas com certeza, a mais marcante foi quando ouvi uma super banda, a qual continha três dos meus quatro ídolos de um determinado instrumento em sua formação. O nome do grupo: Asia.A idéia de super banda é antiga no mundo do rock. Se não vejamos: quando Jimmy Page substituiu Jeff Beck nos Yardbirds, e depois Beck retornou, tivemos o primeiro super grupo conhecido do público, contando com dois ótimos guitarristas e que fazia muita sonzera ao nível do talento dos dois. A união de Eric Clapton e Duane Allman no Derek and The Dominos também pode ser interpretada como mais uma super banda, bem como a Blind Faith, que contava com metade do Cream (Clapton e Baker) e metade do Traffic (Steve Winwood e Rick Grech), essa sim, uma baita super banda. 

E no progressivo? Bom, no progressivo a maioria das bandas que existiam eram super grupos por natureza, mas sempre existia uma idéia de mesclar um fulano daqui com um fulano dali e montar outro baita grupo. Exemplo maior foi na dissolução do King Crimson pela primeira vez, em 1969, que, com a fusão de membros do Nice e do Atomic Rooster, acabou gerando o ELP, mas poderia ter gerado o HELP (isso mesmo, Hendrix, Emerson, Lake & Palmer) ou o ELM (Emerson, Lake & Mitchel), já que a dupla Emerson/Lake fez vários ensaios com a galera do Experience, mas o ego do deus negro da guitarra impediu de vermos algo inimaginável nos palcos.

Por fim, quando o King Crimson se separou pela segunda vez, em 1974, surgiu a idéia de montar um projeto entre os ex-King Crimson John Wetton e Bill Bruford com o recém saído do Yes Rick Wakeman. Assim tivemos o British Bulldog, que durou apenas alguns ensaios, mas foi o embrião de uma poderosíssima banda chamada U.K., a qual contava ainda com Allan Holdsworth e que merece uma resenha só para ela.

Antes, Wetton ainda deu uma passada pelo Uriah Heep, onde dividiu os vocais com o mestre David Byron. A U. K. fez sucesso mesmo sem contar com Bruford em seus últimos álbuns, mas acabou durando pouco. Wetton passeou no Wishbone Ash e então, com uma carreira mais que consolidada, decidiu seguir montar um novo projeto, investindo pesado em seus companheiros, e aí entra o dia dos bobos na jogada. 

O ano era 1980, mesma data do fim do Yes. Um ano antes, a ELP aposentava-se prematuramente. Desta forma, o guitarrista Steve Howe e o baterista Carl Palmer, dois monstros em seus instrumentos, estavam disponíveis para trabalhar. Aproveitando-se disso, Wetton convidou Howe para a nova banda, sendo que Howe sugeriu o ex-Yes e ex-Buggles Geoff Downes para os teclados. Downes havia substituído muito bem Rick Wakeman no Yes, mostrando que mesmo sendo um garoto na época conseguia reproduzir os incríveis solos de Wakeman em clássicos como "And You and I" e "Roundabout", e também inovando com o uso de novos sintetizadores. A base do Asia começava a ser formado.

Palmer apareceu através do convite de Wetton, que também contatou Trevor Rabin para duelar com a guitarra de Howe (a idéia era uma super banda mesmo), o que ficou registrado em raríssimos ensaios. Porém Rabin preferiu seguir com Squire e White, substituindo Jimmy Page no projeto XYZ e criando o Yes-West, o qual virou o novo Yes com o retorno de Jon Anderson aos vocais.

Tínhamos então nada mais nada menos que o baixista e vocalista do King Crimson John Wetton, o baterista do ELP, Carl Palmer, mais o guitarrista e tecladista do Yes, Steve Howe, e Geoff Downes, em uma mesma banda. O que esperar desse grupo com esses montros do progressivo? Ora, somente uma coisa: muitas suítes, longos improvisos, letras viajantes, complicadas e intricadas peças sonoras, e todas as características que marcaram o rock progressivo.

Mas, infelizmente (para alguns), o que se viu foi uma banda voltada para um cenário que estava começando a surgir, o chamado AOR - Adult Oriented Rock, onde todas as características principais do progressivo caíam por terra, trabalhando mais em uma linha pop e comercial, onde destacaram-se bandas como Journey, Boston, Alan Parsons Project e Kansas (esse último outro pecado). No Asia, o talento de Palmer e Howe acabaram afundados como músicos de estúdio, os improvisos sumiram, as letras sobre montros, misticismo e guerras foram trocadas por histórias de amor, romances inesperados e brigas de casais, enquanto os teclados de Downes tomaram conta de um rock preguiçoso e sem vontade.


O primeiro álbum, Asia, foi lançado em 1982, contando com uma bela capa de Roger Dean (mais um ponto para esperar-se um grande trabalho progressivo), e acabou tendo um sucesso enorme, principalmente nos Estados Unidos, onde foi considerado o disco do ano pela revista Billboard. Com o apoio da MTV, o Asia lotou estádios e sua música foi sinônimo de participações em eventos esportivos. 

O disco abre com o hit "Heat of the Moment", com a guitarra de Howe introduzindo os vocais roucos de Wetton, enquanto Palmer marca o tempo no chimbal. Então, os vocais de todos os vocalistas trazem o refrão, cercado por teclados e uma marcação simples de bateria, diferente de tudo o que já haviam feito anteriormente em suas carreiras. Temos uma pequena sessão instrumental, mas sem muita complicação, retomando a letra e o refrão meloso, encerrando com um solo de Howe sem muita criatividade. 

E assim fica o disco, sem criatividade e sem empolgação, com a faixa "Only Time Will Tell", que mesmo contando com os teclados introdutórios, cai em uma balada acompanhada de pianos elétricos e a famosa batida anos oitenta (bumbo-caixa, bumbo-caixa, acho que vocês conseguem entender o que escrevo). Outro refrão grudento surge, o que fez dessa canção mais um hit. Vale destacar o trabalho de Steve Howe executando os backing vocais nessa canção, cantando o nome da mesma bem como colocando pequenas intervenções de guitarra que tornam a faiza um pouco mais interessante. 

"Sole Survivor" já tem uma introdução mais pesada, com guitarras e teclados acompanhados pela cozinha de Wetton e com Palmer mostrando seus trabalhos, até que enfim. Quando Wetton assume os vocais, voltamos novamente ao popzão das faixas anteriores, com outro refrão para levantar estádios. Mesmo assim, os momentos instrumentais são interessantes, lembrando bastante o álbum Drama, lançado pelo Yes em 1980. "One Step Closer" é mais uma que começa com uma boa introdução, contando com o timbre tradicional da guitarra de Howe, mas que peca pela falta de criatividade e pela simplicidade de Palmer. 

O lado A encerra com uma música composta pelo quarteto, "Time Again", a qual começa com baixo e guitarra, acompanhados pelos teclados e bateria. Temos aqui a melhor faixa do álbum, bem rock'n'roll, com boa pitada de anos oitenta principalmente no refrão, mas que é disparada melhor que as demais. Essa canção é uma das poucas onde Palmer pode mostrar seu talento e que Howe sola com vontade.



O lado B abre com outra boa introdução, agora de "Wildest Dreams", mas dessa vez os tecladinhos oitentistas voltam à ativa. A canção ainda conta com algumas marcações um pouco mais trabalhadas e uma boa participação de Palmer, mas nada que empolgue. "Without You" também tem uma bela introdução, mantendo o AOR, assim como a faixa seguinte, "Cutting It Fine", a qual traz uma boa linha instrumental, mas peca bastante na parte vocal. O álbum encerra com "Here Comes the Felling", que mantém as linhas melosas das faixas anteriores, sem destaques maiores. Asia contou com a participação direta de Howe nas composições, o que se faz claro na presença da guitarra com destaque na maioria das faixas, porém o segundo álbum já foi diferente.



Alpha, lançado em 1983, manteve a linha AOR, com um domínio maior de Wetton, que compôs todas as músicas. O disco abre com o super hit "Don't Cry", seguindo a linha de boas introduções instrumentais com refrões melosos e batidas anos oitenta. O clip dessa canção rodou, e muito, nas telinhas brazucas, onde cada integrante interpreta um determinado personagem, com destaque para a hilária participação de Howe. Essa faixa atingiu o número um da Billboard naquele ano. 

"The Smile Has Left You Eyes" vem com os teclados de Downes e a voz de Wetton, deixando bateria e guitarra em total segundo plano. "Never in a Million Years" e "My Own Time (I'll Do What I Want)" são as mais melosas do álbum, com refrões que nem o Roupa Nova sonhou em fazer. O lado A encerra com "The Heat Goes On", que contém uma bonita introdução, mas nada além disso.



O lado B é mais lento, abrindo com "Eye to Eye", bem na linha do primeiro trabalho e contando com boas passagens de teclado. As badalas "The Last to Know" e "True Colors" lembram "Into the Lens" do álbum Drama, com a última tendo um refrão dos mais grudentos possíveis. "Midnight Sun" é uma das poucas que escapa, graças ao solo de Howe, na linha do disco Tormato, gravado pelo Yes em 1978. Por fim, "Open Your Eyes" encerra esse LP com os teclados trazendo os vocais de Wetton. A banda acompanha novamente no ritmo bumbo-caixa. Os teclados ficam viajando por algum tempo, enquanto o nome da canção é repetido dezenas de vezes (criatividade zero!), terminando com solos de Howe e Downes.

Alpha atingiu o sexto lugar na Billboard e ganhou disco de platina. Mesmo com as altas vendas, Wetton saiu da banda e foi substituído por nada mais nada menos que Greg Lake, o qual participou do famoso show Asia in Asia, sendo este filmado no Japão e o primeiro a ser transmitidio via-satélite para os EUA. Quem tiver a oportunidade de ver esse show, pela curiosidade ou por gostar da banda mesmo, vale a pena ir em uma loja especializada ou fuçar na internet para admirar o trabalho de Downes tocando vinte e seis teclados(!), que ocupavam toda a parte traseira do palco.



Wetton retornou ao Asia em seguida, justamente quando a banda trabalhava seu terceiro álbum, Astra (1985), impondo suas letras e suas melodias, o que levou Howe a pedir as contas, já que segundo o próprio ele estava cansado de ficar tocando historinhas de amor. Porém, Howe foi formar outra grupo que também poderia servir de exemplo para o dia de hoje, o GTR, ao lado de outro gênio das guitarras, Steve Hackett, e que, assim como o Asia, pouco produziu ao nível da qualidade sonora que se esperava.


O Asia continuou sua carreira com altos e baixos, tendo posteriormente a liderança do baixista John Payne. Palmer e Howe participaram de uma forma ou de outra do álbum Aqua, de 1992. 



Em 1999, Howe disse que existia uma forte possibilidade de o Asia reunir sua formação original. Porém, ele mesmo pulou fora, após uma coletiva de imprensa anunciando a volta do grupo. Wetton convidou então o guitarrista de sua banda, Dave Kilmister, para substituir Howe, mas aí Downes também seguiu outros rumos. Assim, o duo Wetton/Palmer mais Kilmister e o tecladista John Young (que também era da banda de Wetton) acabaram fazendo uma pequena turnê, com o nome de Qango, e que culminou com o lançamento do raro (já que foi vendido somente pelo sites de Palmer e Wetton) álbum Live in the Hood, onde interpretam obras como "Fanfare for the Common Man", "Hoedown", "Bitches Crystal" e "All Along the Watchower", além de canções do Asia. Em alguns shows, Keith Emerson participou, ressucitando a idéia da volta do ELP, e que não foi vista até hoje.


Downes e Wetton formaram a dupla Wetton Downes, lançando os CDs John Wetton / Geoff Downes (2001), Icon (2005), Icon II - Rubicon (2006), Icon Live (2006), Icon Acoustic (2006) e Icon 3 (2009) nos últimos anos. 


A formação original do Asia retornou para comemorar os vinte e cinco anos da banda em 2006, passsando por diversos países (inclusive o Brasil), tocando faixas dos dois primeiros discos, bem como "Fanfare for the Common Man" (ELP), "Video Killed the Radio Star" (Buggles), "Roundabout" (Yes) e "In the Court of Crimson King" (King Crimson), culminando em 2008 no lançamento do álbum Phoenix, que particularmente para mim é o melhor da banda, com uma boa colaboração das guitarras de Steve Howe. Destaque principalmente para as faixas "Sleeping Giant / No Way Back / Reprise", "Alibis" e ""Parallel Worlds / Vortex / Déyà". Para quem gosta dos dois primeiros álbuns, vale a pena conferir "Shadow of a Doubt" e "Wish I'd Known All Along". Mas como a seção é destinada para a fase vinílica, deixo a você leitor a curiosidade de ir atrás desse belo trabalho.

Bem, para aqueles que curtem o som dos anos oitenta com certeza o Asia não é uma banda tão ruim. Eu mesmo cheguei a essa conclusão depois de ter ouvido coisa muito pior e de muito mal gosto. O que quero apenas ressaltar é que com o timaço que o Asia tinha, todo fã de Yes, King Crimson e ELP esperava uma sonoridade bem diferente, sendo tri enganado ao ouvir coisas como "Don't Cry" e "Heat of the Moment". Algo como o famoso ataque (de risos) Romário-Sávio-Edmundo ou o Quarteto Mágico do Parreira na Copa do Mundo de 2006. Porém, o Asia se transformou em um marco para a geração AOR, sendo cultuado hoje por inúmeros fãs que lotaram as diversas cidades por onde a turnê de vinte e cinco anos passou, mesmo que muitos tenham ido para assitir aos solos de Palmer e Howe ou apenas pelo saudosismo de um tempo que infelizmente não podemos voltar.

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