Mostrando postagens com marcador Cream. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Cream. Mostrar todas as postagens

terça-feira, 21 de dezembro de 2021

Ouve Isso Aqui: Discos ao vivo de retorno lançados nos anos 2000


 Editado por André Kaminski

Tema escolhido por Mairon Machado

Com Daniel Benedetti, Davi Pascale, Fernando Bueno e Ronaldo Rodrigues


Os anos 2000 providenciaram o retorno, mesmo que por vezes apenas em um show, de grandes nomes do rock dos anos 60 e 70. Foram inúmeros grupos que trouxeram para uma geração do século XXI, ao vivo, aquele clímax que construíram quando eram bam-bam-bans na cena musical do auge de suas carreiras. Minha intenção aqui é discutir o retorno de cinco desses grupos, e pensar se realmente, o retorno aos palcos dos mesmos valeria a pena para uma série de shows e novos lançamentos, ou se esses retornos confirmavam que a nostalgia dos velhos bons tempos onde esses nomes eram tigrões, mas que a idade os fez se posicionar como tchuchucas, confirmavam que os nomes em questão não tinham motivos de seguir na ativa. Vamos as opiniões dos consultores para esses retornos de gigantes.

Led Zeppelin – Celebration Day [2007]

Mairon: O Led já havia feito alguns retornos depois da morte de John Bonham, mas foi somente o show no Ahmet Ertegun Tribute Concert em 10 de dezembro de 2007 que foi lançado para os fãs. Jimmy Page, Robert Plant e John Paul Jones, junto de Jason Bonham (filho de John), se uniram na O2 Arena de Londres lotada (os ingressos esgotaram rapidamente), e emocionaram aos presentes. Como grande fã de Led que sou, eu tinha grandes expectativas dessa apresentação, as quais foram frustradas. O repertório é excelente, cobrindo quase todos os discos da banda (apenas In Through The Outdoor ficou de fora) e em muitas faixas a coisa dá um tesão bom, como “No Quarter”, “Ramble On”, “Misty Mountain Hop”, “For Your Life”, “Trampled Underfoot” e a sempre demolidora “Kashmir”,onde Bonham dá um show a parte. Mas ouvir a diminuída de tom em faixas como “Good Times Bad Times”, “In My Time of Dying”, “Rock and Roll” ou “The Song Remains The Same” (coragem tentarem tocar essa) torna a coisa um pouco arrastada, tirando a energia que sempre foi o forte dos caras. Page está  totalmente fora de forma nos solos, principalmente “Since I’ve Been Loving You”, bastante decepcionante. “Dazed and Confused” chega a ser constrangedora. Plant é outro que há muito tempo não tem a mesma voz, o que fica provado em “Black Dog”, “Nobody’s Fault But Mine” e “Whole Lotta Love”, onde ele também apresenta estar perdidaço na letra. Até “Stairway To Heaven”, que apesar de continuar linda, mostra o desgaste da voz de Plant. Aliás, o solo de Page neste clássico eu prefiro não comentar … Por outro lado, Jones e Bonham estão perfeitos, em uma performance digna de suas histórias, e que sustenta bastante Celebration Day para fazê-lo passar por média. Led é Led e sempre será Led, é empolgante ouvir o disco de uma maneira nostálgica, mas entendo perfeitamente por que a banda não se reúne mais para tours. Celebration Day para mim serve como um comprovante para os fãs pararem de encher o saco dos caras em seguir tocando juntos.

André: Eu já ouvi gente dizendo há muitos anos que este show de retorno foi fraco e decepcionante. Sei lá, apenas inacreditável ouvir isso. Não acho que eu precise dizer do quanto, ao menos, a lendária banda junto ao filho do lendário falecido baterista é incrível mesmo após tantas décadas afastados. Mesmo que eles estivessem enferrujados ainda são melhores do que muitas bandas contemporâneas que nunca pararam. Pelo menos ficou um registro do que poderia ter sido a banda com o passar dos anos.

Daniel: Eu gosto deste disco. É claro que é possível de se questionar alguma mudança no repertório como a falta que sinto de “Heartbreaker” ou “Communication Breakdown”, mas o desfile de canções clássicas, em sequência, já são fiéis amostras do poderio do repertório do Led Zeppelin. Sem mais nada a provar, vejo este disco como um digno pertencente à discografia da banda, por mais que a ausência de John Bonham sempre seja sentida.

Davi: Ainda me lembro das conversas nas rodas de amigos durante minha juventude: “Por que os Beatles não voltam à ativa e colocam o Julian no lugar do John?”. “Se o The Who excursiona, de tempos em tempos, com outros bateristas, por que o Led Zeppelin não faz o mesmo”? As opiniões, claro, eram divididas. Havia quem defendesse, havia quem achasse uma heresia. No caso do Led, havia até a justificativa de “você viu o terror que foi o show do Live Aid“? Contudo, de tempos em tempos, a pergunta voltava à tona. Décadas se passaram, mas finalmente, teríamos a resposta de como um desses lendários grupos soaria em uma reunião, ainda que de maneira bem breve. E, graças à Deus, o resultado, dessa vez, foi muito bom. Sim, John Bonham é inimitável e é bem superior ao seu filho. Contudo, o garoto não fez feio. Segurou bem a bronca, conseguiu manter o espírito, digamos assim. (Inclusive, prefiro a performance dele aqui, do que a que realizou ao lado da Jason Bonham Band, no álbum In The Name Of My Father). Outra coisa que me deixava com a pulga atrás da orelha era o trabalho vocal de Robert Plant. Será que ele ainda daria conta do repertório do Led? Assisti ele e o Jimmy Page no Hollywood Rock e gostei bastante do resultado, mas já havia se passado uma década. E, sim, Plant mandou muito bem, obrigado. Claro, ele adaptou para sua nova realidade, cantou conforme sua idade permitia. Cantou mais na manha, fez algumas linhas vocais mais para baixo, recorreu ao falsete em alguns momentos, mas o resultado final ficou muito bom. O show é excelente. Pesado, muito bem tocado e com um repertório impecável, onde voltaram a tocar inclusive, “Stairway to Heaven”, depois de terem negado por décadas. É uma pena a reunião não ter ido adiante.

Fernando: De todos os da lista, acredito que esse tenha sido fruto do acontecimento mais esperado pela comunidade rocker por anos, por todas as circunstâncias e a importância que a banda tem na história. Também é o que teve maior caráter de celebração, homenagem, como o próprio nome do lançamento deixa claro. Até por tudo isso a execução acaba sendo apenas um detalhe que pouco importa. Acredito que fizeram o certo em fazer alguns shows apenas, lançar esse material e não retomarem as atividades. Fizeram uma aparição e se mantiveram como lendas sem desgastar essa imagem.

Ronaldo: Há muita dignidade do Led Zeppelin em ter se preservado de tantas ofertas para voltar aos palcos, sem seu baterista original. A inadequação de Robert Plant para o estilo vocal de sua juventude fica claro na opção da banda por ter baixado os tons das músicas, contudo, a adaptação soa honesta dentro de suas limitações. O disco já ganha pontos por incluir como abertura músicas fantásticas que praticamente não fizeram parte do repertório ao vivo da banda nos anos 60/70 – “Good Times Bad Times” e “Ramble On”; outro ponto positivo é Jimmy Page com sua Les Paul sem se render ao som dos guitarristas modernosos. Suas seções psicodélicas em “Dazed and Confused” e “Whole Lotta Love” são totalmente respeitáveis. De ponto negativo, triste reconhecer que os engenheiros de som atuais não sabem dosar o som do baixo e da bateria ao vivo, deixando o primeiro enterrado e sem agudos e o segundo entupido de graves embolados. O próprio John Paul Jones soa um tanto básico demais no baixo, não saindo nenhuma linha além do tradicional (e mesmo que saísse, seu esforço não apareceria no disco). Já nos teclados, sua elegância e técnica estão devidamente registradas. O repertório da banda dá uma passeada bem representativa por toda sua discografia (com exceção de In Through the Outdoor). “Whole Lotta Love”, “No Quarter” e “Misty Mountain Hop” tocadas nos tons original e com a banda afiada, são destaques.

Triumph – Live at Sweden Rock Festival [2008]

Mairon: Depois de muitas brigas e discussões, eis que o mundo foi surpreendido pelo retorno do Triumph de Rik Emmett, Gil Moore e Mike Levine. Lembro da expectativa deste retorno, a possibilidade de uma turnê mundial, um novo disco, mas a guerra de egos foi maior que a grande capacidade dos canadenses criarem obras primas, o que por si só já indica o que foi este registro. Aliás, ele que foi minha inspiração para esse Ouve Isso Aqui. Quando o ouvi pela primeira vez, foi com um mixto de alegria e frustação. Alegria por que o disco começa muito bem, com Gil mandando ver em “When The Lights Go Down”, pesada, como nos bons tempos do Triumph. Tu vê o repertório e é perfeito, não há o que tirar, ainda mais para um show em um festival. Mas basta os primeiros acordes de “Lay It On The Line” para o nariz começar a ser torcido. Alguns tons abaixo e principalmente, um Rik que não tem mais a mesma voz dos anos 70 não conseguindo alcançar agudos de outrora, e tão pouco agudos atuais. É muito triste ouvir a voz de Rik falhando por diversas vezes, principalmente em “Never Surrender” ou “Magic Power”. Algo só mais lamentável que ter presenciado Ian Gillan não conseguindo cantar “Child In Time”, ou Geddy Lee fracassar ao longo de todo o show do Rush no Rio em 2010. Instrumentalmente, Live at Sweden Rock Festival é impecável, e claro, Rik ainda é um baita guitarrista. Ouçam o que ele faz na própria “Lay It On The Line”, “Blinding Light Show / Moonchild” e “Rock ‘n’ Roll Machine” por exemplo. Gil ainda é um baterista vigoroso e capaz de cantar muito bem, como atestam “Allied Forces” e “Rocky Mountay Way”, e Mike possui uma capacidade ímpar de aturar o ego de gigante dos dois colegas tocando com uma sobriedade e precisão raras. Mas honestamente, por mais que o instrumental seja perfeito, eu só iria curtir ver esse show se as vozes do Rik fossem substituídas por um vocalista que ainda consiga cantar aqueles agudos tão fascinantes. A reunião naufragou rapidamente, o disco ficou para a história como o último registro do Triumph, e infelizmente, um registro não digno da grandeza dessa banda fantástica!

André: Conheço menos do Triumph do que eu deveria. Então tirando algumas poucas músicas, assisti ao show quase que como ouvindo uma banda antiga desconhecida. Achei uma performance bacana e segura de uma banda de hard rock setentista. Acho que no caso da musicalidade deles, os anos prejudicam um pouco a questão de desempenho (principalmente em relação as faixas mais velozes), mas para uma banda veterana e experiente, foi um disco muito agradável. Deu mais aquele incentivo a ir atrás de mais discos deles.

Daniel: Sempre penso no Triumph como um grupo “criminosamente” subestimado. Basta ouvir o repertório presente neste álbum, com canções cativantes e com execuções bem fiéis aos originais presentes nos discos. Nunca havia ouvido e certamente vou voltar a este álbum.

Davi: Depois de aproximadamente 15 anos afastados do palco, o Triumph voltava à ativa. E aí? Será que funcionaria? Será que os músicos ainda dariam liga? E, sim, embora não tivessem tido muito cuidado com o visual (algo que fica claro para quem já assistiu ao DVD dessa apresentação), musicalmente a banda ainda tinha lenha para queimar. O show não tinha grandes novidades. Mike Levine, Rik Emmett e Gil Moore subiram ao palco, acompanhado de Dave Dunlop e relembraram os números mais marcantes de seu período auge. O repertório focava o período de 1977 a 1982. Ou seja, de Rock & Roll Machine  à Never Surrender. Na minha opinião, o melhor momento deles. Rik e Gil estavam com a voz em dia e a banda estava até que redondinha. Claro, não dá para comparar essa performance com a de Stages, nem a do US Festival, mas é um show bem agradável de assistir.

Fernando: Esse foi o que mais curti reouvir. Curto muito o Triumph, sempre achei ótima esse balanço que eles fazem com o hard rock e o progressivo, seus músicos são ótimos, grandes vozes, mesmos dando para perceber o óbvio declínio do que eram nos anos 80, mas nada que interfira muito na qualidade da execução. Achei ótima a versão de “Rocky Mountain Way” de Joe Walsh. Não costumo ouvir muitos discos ao vivo, porém esse vai acabar voltando ao som daqui uns dias.

Ronaldo: Não sou um grande conhecedor do repertório do trio canadense Triumph. Mas a primeira levada de bateria do disco já transporta o ouvinte para a década de 1980 e se essa é a intenção do ouvinte, a diversão está garantida. Tudo é  tocado com muito gás, bem cantado e executado. “Magic Power” tem aquele vocal agudo característico do rock de arena dos anos 80 e há ótimos momentos em todo o disco, que inclui uma boa versão de “Rocky Mountain Way” de Joe Walsh.

Mutantes – Barbican Theatre [2006]

Mairon: Outro retorno surpreendente. Creio que nem o mais esperançoso fã dos Mutantes (e eu me incluo entre eles) acreditava que um dia Arnaldo Baptista e Sergio Dias iam voltar a dividir o mesmo palco, ainda mais com Dinho Leme na bateria. Ok, Serginho fez uma jogada de mestre, pegou os (exímios) músicos que o acompanhavam em carreira solo, trouxe a voz de Zélia Duncan para substituir Rita, e assim foi para Londres em 2006 fazer um show sensacional. O repertório é perfeito, calcado essencialmente na fase Rita, e se aproveitando dos arranjos de Tecnicolor, o álbum que era para ter sido lançado na Europa, acabou não saindo nos anos 70, mas chegou ao mundo no início do século atual. Deste, ouvimos “Le Premier Bonheur du Jour”, “El Justiciero”, com uma linda introdução do violão de Sergio, “I’m Sorry Baby (Desculpe Baby)”, “I Feel A Little Spaced Out (Ando Meio Desligado) e “A Minha Menina”, todas ótimas, como manda o figurino Mutante. Somos surpreendidos com inesperadas apresentações para “Ave Gengis Khan”, “Cantor De Mambo”, com a engraçada apresentação de Serginho, e Arnaldo mandando ver nos vocais, “Ave Lucifer” e “A Hora e a Vez Do Cabelo Nascer (Cabeludo Patriota)”. É arrepiante ouvir a entrada com “Don Quixote” e “Caminhante Noturno”, parece que somos jogados aos anos 60. E claro, quando Arnaldo canta “Dia 36”, lágrimas correm pelo recinto. Tive a oportunidade de ver essa turnê em 2007, acho que foi o show que mais chorei em minha vida, e pena que o retorno durou pouco, mas o suficiente para fazer um grande registro, e uma grande turnê. Em tempo, Zelia não decepciona em nenhum momento, principalmente em “Baby” e “Fuga N° 2”, e Serginho ainda era (e é) o mais talentoso guitarrista que o Brasil já pariu! Grande disco!

André: Por mais que se elogie o esforço dos irmãos Dias de se aguentarem e voltarem a tocar juntos, não tem como desconsiderar o clima ruim dos bastidores desse retorno que viria logo depois a culminar na saída de Arnaldo no meio da turnê. Aliás, é triste ver ele ali sentado no teclado meio deslocado do restante, mesmo ocupando o centro do palco. OK, tem a questão da saúde e mesmo seus vocais não estarem lá em grande forma, mas porra, é o Arnaldo Baptista. Sinceramente, não consigo ver esse show e escutar estas gravações sem aquela sensação de incômodo. Aliás, não condeno o Sergio por essa tentativa. Apenas que foi a constatação definitiva que ele tem que levar a banda sozinho mesmo.

Daniel: Outro álbum que eu curti a audição. Sérgio Dias e Arnaldo Baptista capricharam na escolha do repertório e, mesmo que algumas execuções fujam dos originais, o resultado final me agradou. Gostei da presença do coral e se Zélia Duncan não é a Rita Lee, não chega a fazer feio. É outro álbum da lista que voltarei a ouvir em breve.

Davi: Assim como a do Led Zeppelin, essa foi uma reunião que me surpreendeu positivamente. Quando anunciaram que estariam fazendo esses shows, não botei muita fé. Ao contrário de muitos dos meus amigos, sempre preferi a fase tropicalista à fase progressiva, portanto, a figura da Rita Lee, era uma figura importante, para mim. E embora goste do trabalho da Zélia Duncan, me questionava se seria a cantora adequada para o projeto. Quando adquiri o CD e o DVD, lembro que fiquei bem impressionado. A banda estava com uma qualidade técnica muito alta e Zélia soube se adaptar ao projeto. Sua voz casou bem às canções. Eu, particularmente, sempre fui muito fã do Sérgio Dias. Para mim, trata-se de um dos melhores guitarristas do nosso país. E sua performance aqui é irretocável. Já Arnaldo, não tem como deixar de notar que estava bem debilitado. Principalmente, na parte vocal. Independente disso, a performance, como um todo, é excelente. Trata-se de um trabalho muito bem desenvolvido, com um ótimo repertório, que vale a pena você ter em sua prateleira. Trabalho que considero superior ao Mutantes Ao Vivo (1976), inclusive.

Fernando: Vamos lá … (deixa eu me preparar para as pedradas). Eu não tenho interesse nos Mutantes. Já ouvi bastante, até para tentar me habituar e por insistência encontrar o motivo de tanta admiração que muitos dos meus amigos vêem na banda. Eu não sei o que exatamente me incomoda, mas creio que a mistura de MPB e toda aura bicho grilo que a banda passa seja o motivo. Entretanto acho demais que lá fora o interesse por eles também tenha sido grande e achei uma pena não terem seguido mesmo com a grande aceitação que essa reunião teve na época.

Ronaldo: Ajudou o fato desse disco ao vivo dos Mutantes ser apoiado por um conjunto de músicos jovens e bem talentosos apoiando os veteranos irmãos Batista. Penso que se a coisa dependesse apenas deles em seus respectivos  instrumentos e vozes, o resultado ficaria bem prejudicado. Além disso, a banda não economizou nos playbacks e efeitos externos; temos aqui o registro de um espetáculo bem planejado e executado. Sergio Dias, nos momentos em que os holofotes lhe estão voltados, não decepciona e mostra sua envergadura técnica. Já Arnaldo Baptista, por sua condição de saúde, tem mais papel de figuração (tanto é que depois de algum pouco tempo, a banda prosseguiu sem ele apresentando o mesmíssimo show). Algumas adaptações dos efeitos psicodélicos dos discos da época para o palco ficaram muito interessantes e é louvável o esforço da banda nesse sentido. Como crítica, apenas a velocidade excessiva em algumas músicas e as adaptações para o inglês, que ficaram bem esquisitas. A nata do repertório tropicalista dos Mutantes está toda contida no disco, que é um trabalho agradável de se ouvir no geral.

Cream – Royal Albert Hall London May 2-3-5-6 2005 [2005]

Mairon: Grande retorno aos palcos de Ginger Baker, Eric Clapton e Jack Bruce, para mim é o melhor retorno destes cinco aqui apresentados, muito por conta de que o trio está em ótima fase. Uma curta série de apenas quatro shows em maio de 2005, no Royal Albert Hall  de Londres, foram compilados nesse excelente álbum.  Repertório é fantástico, e é incrível como os anos passam, mas ainda assim, Bruce parece querer engolir Clapton, enquanto Baker quer engolir os dois, e Clapton, vendo que está sendo engolido pelos colegas, tenta herculeamente se desgarrar dos dentes afiados dos mesmos. De cara, “I’m So Glad” já mostra uma bela jam, o que vai sendo ampliado em “Born Under A Bad Sign”, “N.S.U.”, “Sweet Wine” e essencialmente, a clássica “Sunshine of Your Love”. Como não viajar em “Sleepy Time Time”, “Politician, “Spoonful” e “White Room”? Bruce é para mim o centro das atenções, cantando como nunca (ou como sempre) em “Deserted Cities Of The Heart”, “Pressed Rat & Warthog”, mandando ver na harmônica de “Rollin’ And Tumblin’ “, e arrancando lágrimas de estátuas e almas na arrepiante “We’re Going Wrong”, que música linda, PQP!!!!!. As faixas onde Clapton canta são as mais fraquinhas, com exceção de “Stormy Monday”, que só a introdução já faz o c* cair da bund@ com mais naturalidade que uma manga madura caindo da mangueira. Potências sonoras para lembrar como o Cream foi uma banda incrível e revolucionária em sua época. Posteriormente ainda houveram shows nos EUA, mas este foi o último registro oficial do grupo, e que registro!

André: Esse show demonstra bem o que ocorre quando o coração dos caras não está ali naquela reunião. Eric e Jack não harmonizam direito as vozes, a bateria de Baker soa sem vida e o próprio Bruce não parecia estar nada bem neste dia, embora seu esforço seja visível. Como era de se esperar, a reunião foi para uns poucos shows e Baker e Bruce quebraram o pau novamente. Para ajudar, não sou lá grande fã de nenhum dos três. Embora tenham grandes músicas, sem um pouco que seja de consideração aos colegas com quem você toca, dificilmente essas reuniões funcionam. Caso desta aqui.

Daniel: De todos os álbuns da lista, este é o que eu mais ouvi – e aquele de qual mais gosto. As versões aqui apresentadas, por vezes estendidas, agradam-me muito. Bom, em resumo, um desfile de clássicos que fazem jus ao mito em torno da banda.

Davi: Quando foi anunciada essa reunião, lembro que fiquei bem empolgado. O Cream é uma banda que faz parte da minha formação musical e o Eric Clapton sempre tive como um ídolo. No entanto, quando o álbum foi lançado, lembro que fiquei bem decepcionado com o resultado final. Sim, Eric Clapton estava tocando como nunca e entregando um ótimo trabalho vocal. Jack Bruce estava bem no baixo, mas parava por aí. Infelizmente, a voz de Jack Bruce não era mais a mesma e o vigor dos músicos também não. Ainda que o repertório fosse excelente, e recheado de clássicos, as músicas soavam sem punch, sem vida. Toda aquela energia que tinham no passado, foi por água abaixo. (O Ginger Baker parecia que estava tocando bateria usando um par de cotonetes). É um trabalho que vale como item de coleção, apenas. É um show que valeu pela curiosidade.

Fernando: Foi curioso quando ouvi esse álbum pela primeira vez. Eu estava exatamente em uma fase de descobrir o Cream. Estava ouvindo muita coisa que eles tinham feito lá na época deles e quando surgiu essa reunião e o disco saiu foi como se para mim eles nunca tivessem se separado. Então, para mim, não teve o fator de grande espera e expectativa pela volta. Foi como se uma banda atual que eu gosto muito lançasse um álbum ao vivo. E é um grande álbum, repertório certeiro e execução sem críticas.

Ronaldo: Nem gosto de ouvir muito esse disco, porque minha decepção foi grande com esse material. Não julgo os caras por quererem voltar após tantos anos após o término da banda. Contudo, é nítido perceber que o trio perdeu o “timing” de fazer esse esforço. Tudo soa muito sem energia, cansado e desgastado, o que é particularmente frustrante para um repertório que em sua época soava tão fresco (e até hoje soa assim para meus ouvidos). A cozinha do Cream era uma explosão, química pura, e nesse disco soa como uma fagulha fraquejante. Eric Clapton, mesmo mais contido, ainda soa muito bem, mas o mesmo não se podia dizer dos já falecidos Ginger Baker e Jack Bruce.

Genesis – Live Over Europe 2007 [2007]


Mairon: A Turn It On Again: The Tour marcou o retorno do time trio do Genesis (Phil Collins, Tony Banks e Mike Rutherford) junto de Daryl Stuermer e Chester Thompson, aos palcos. A ideia era trazer o quinteto com Peter Gabriel e Steve Hackett, mas acabou sendo a formação da fase pop do grupo que perambulou pela América do Norte e pela Europa, onde foi registrado Live Over Europe 2007, e o DVD When in Rome. Assisti o DVD inúmeras vezes, então, ouvir Live Over Europe 2007 certamente remonta as imagens daquele show. O track list lembra bastante a sequência The Way We Walk, curiosamente os últimos ao vivos da banda antes desse, recolocando novamente o fã nas apresentações da banda na turnê de We Can’t Dance, mesclando os grandes sucessos dos anos 80 com alguns clássicos dos anos 70. Todos estão em excelente forma, e claro, os momentos das Longs são as que mais me chamam a atenção, com especial atenção para a trinca “In the Cage”/”The Cinema Show”/”Duke’s Travels”, a sensacional “Domino” e as duas partes de “Home by the Sea/Second Home by the Sea”. Gosto muito dos clássicos da fase pop, “No Son Of Mine”, “Turn It On Again”, “Land of Confusion” e “Mama”, e fiquei muito surpreso com a inserção de faixas mais obscuras, como a linda “Ripples” e a sensacional “Los Endos”, com a introdução “Conversations with 2 Stools” onde Collins e Thompson dão um show a parte solando apenas em duas banquetas. Incrível! Claro que as baladas melosas teriam que aparecer, foram grandes sucessos, mas confesso que não é o que mais admiro no grupo. Disco muito bom, para uma audição muito boa, que funciona como uma boa coletânea dos aos vivos da fase trio. Um detalhe, Live Over Europe 2007 acaba perdendo, em relação a When In Rome, toda a espontaneidade e diversão de ver Phil Collins falando em italiano durante as canções, assim como assistir o duelo nas banquetas é algo marcante. Mas isso é um mero detalhe. Pena que a banda não seguiu adiante com esse projeto. Teria sido muito bem vindo por aqui.

André: Mesmo eu também não sendo grande fã do Genesis, aqui eu tenho que tirar o chapéu para os caras. Apresentação incrível e divina, com Collins ainda cantando muito e a banda afiadíssima. Tony Banks eterno mestre dos teclados. Mesmo dando pouco valor ao prog do começo da carreira, acho que um fã da banda (principalmente da fase Collins) deve considerar muito em ouvir esta bela apresentação.

Daniel: O Genesis é bem provavelmente a minha banda favorita dentro do Progressivo, mas curto apenas a “fase Peter Gabriel”. Nunca havia escutado este álbum e ao pesquisar sobre o que se tratava vi que era uma reunião do conjunto, mas sem Peter Gabriel e Steve Hackett. Aí, de antemão, já não me empolguei muito para a tarefa. Resultado final: larguei na metade – não é pra mim.

Davi: O público do Genesis sempre foi dividido. Há quem prefira a fase prog de Peter Gabriel, há quem prefira a fase mais pop e radiofônica, com Phil Collins no microfone. Descobri o Genesis durante essa fase mais comercial. O primeiro álbum que ouvi deles foi o LP auto-intitulado, que tem “Mama” e “That´s All”. Vivi bastante essa fase. Portanto, nunca tive problemas com esses discos. Mais do que isso, realmente curto o trabalho que fizeram nesse período. E já que o cantor, nessa apresentação, era o Phil Collins, era justamente essa a fase que mais queria ouvir. Aqui, a banda deu uma mesclada no material trazendo músicas dos dois períodos, numa tentativa de querer agradar aos dois públicos. Tentativa frustrada. Acabou agradando mais o publico da segunda fase. Até porque não há nenhum momento de grandes ‘viagens’ por aqui. O resultado final é bom. O Genesis sempre teve uma qualidade técnica muito alta (mesmo no período mais pop) e Phil Collins ainda estava cantando muito bem. Sim, cantando de maneira mais suave, descendo um pouco o tom em alguns momentos, mas nada que prejudicasse ou frustrasse. Ainda que eu prefira os dois volumes do The Way We Walk, não tem como descer o cacete. É um trabalho muito bem feito. A única coisa é que, na mixagem, eu teria deixado o som do público com um pouco mais de evidência, mas isso é chatice minha, é claro.

Fernando: Tenho um sentimento dividido por esse disco. De um lado, seria um sonho poder assistir à esse show, ver esses caras que eu admiro tanto. Já vi em vídeo e fico me imaginado lá no local. Seria incrível!!! Porém, para um disco ao vivo de uma grande banda é ruim quando ela foca praticamente em apenas uma fase de sua história. Eu gosto de ouvir os discos dos anos 80, não sou fã purista que abandonou a banda por conta de uma mudança de direcionamento. Porém, gosto tanto dos discos progressivos que é uma pena que tenham abandonado aquele repertório. Aliás, nessa época o Genesis perdeu a chance de ter sido a única grande banda de prog dos anos 70 a se reunir com sua formação clássica. Eles eram os únicos a poder fazer isso e agora, com as limitações físicas de Phil Collins, isso já não é mais possível.

Ronaldo: O apuro técnico do Genesis manteve-se intacto mesmo durante suas incursões na música pop a partir do fim dos anos 70. Não é diferente neste registro de 2007; há muito que se admirar em termos técnicos de música. A audição é agradável e a qualidade de gravação é formidável. Os poréns residem no repertório, no qual os fãs do Genesis progressivo quebram a cara, já que o lado pop tem maior destaque (o disco é uma coletânea de diferentes shows na Europa) e, mesmo as músicas do repertório prog adquirem uma roupagem mais polida, particularmente pelos teclados e pela bateria mais econômica. Engraçado que se nas bases e na sonoridade a banda economiza, há um desperdício de notas no icônico solo de guitarra de “Firth of Fifth”, que soa sem alma quando comparado ao original. Se por um lado, é compreensível que a banda valorize mais o repertório com o qual passou a lotar estádios e tocava em FMs ao redor do mundo, por outro lado é duro perceber que o Genesis chegou onde chegou rodando a estrada de um outro estilo e isso não pode ser apagado de sua história.

quarta-feira, 10 de março de 2021

Crossroads - A Vida e a Música de Eric Clapton [1995]



Michael Schumacher é um renomado piloto alemão de Fórmula 1, heptacampeão, e que infelizmente sofreu um gravíssimo acidente que acabou com sua carreira, sendo que ainda hoje sabemos pouco sobre o seu estado de saúde. Porém, é o nome também de um brilhante escritor norte americano, que em 1995, escreveu a Biografia Crossroads - A Vida e a Música de Eric Clapton, uma das melhores biografias que já li sobre o guitarrista inglês. Com 390 páginas (mais oito páginas exclusivas para fotos em preto e branco), Crossroads mergulha na vida de Clapton até o ano de 1995, sem deixar passar nenhum detalhe, mas ao mesmo tempo, sem ser maçante ou demasiadamente exagerado em termos de informações.

A edição que tenho não possui orelhas (é a edição de 1995 da Editora Record), o que já chama a atenção por fugir dos padrões normais dos lançamentos de livros. São 13 capítulos, mais prólogo e epílogo, saindo da família e infância conturbada de Clapton nos anos 40 até a morte do filho Conor em 1991, e de como Clapton teve que ressurgir das cinzas por diversas vezes ao longo de sua vida. Com o final do texto, fica a sensação de que você realmente é apresentado para toda a vida e a obra de de Clapton, já que Schumacher não deixa passar nada, e também, de como Clapton sempre foi um arroz de festa participando de shows e discos de diversos artistas.

Os Bluesbreakers - John Mayall, Hughie Flint, Eric Clapton e John McVie - numa opção de foto para a capa de seu clássico disco de 1965, The Bluesbreakkers with Eric Clapton.


Fazendo um apanhado geral do conteúdo de Crossroads, há vários pontos a se destacar sobre a vida e a música de Clapton. Quando pequeno, Clapton sofreu um trauma por saber que foi criado pelos avós, e que aquela que ele julgava ser sua irmã na verdade era sua mãe. Esse ponto da infância de Clapton é tratado de forma bastante delicada por Schumacher, mas sem perder-se em detalhes desnecessários ou fazer qualquer sensacionalismo barato. São os fatos por si só, apresentados ao leitor. O que tira a introversão de Clapton e o choque familiar é a música, mais precisamente o rock de Elvis Presley, o que o levou a comprar um violão quando tinha 13 anos, mas que não teve sucesso imediato para aprender o mesmo.

O contato com o blues, aos 17 anos, vem junto ao afastamento de Clapton da escola. Em 1962, a cena do blues estava ascendente em Londres, e Clapton passou a frequentar pubs para assistir e, por que não, aprender a tocar - ao mesmo tempo que se apresentava - por alguns trocados. Logo ele monta seu primeiro grupo, os Roosters, banda na qual Clapton aprendeu a tocar Howlin' Wolf, Robert Johnson, Freddie King e Muddy Waters, construindo assim uma reputação que o leva aos Yardbirds. Ali, ele passou a ser O cara da banda, empregando ao grupo solos de blues pouco comuns para jovens brancos ingleses, e claro, fazendo com que o nome de Eric começasse a se ampliar entre os frequentadores dos pubs londrinos. É aqui que o guitarrista realiza o sonho de tocar ao lado de um de seus ídolos, Sonny Boy Williamson, e quando ele se depara com deficiências próprias para tocar blues que só seriam saradas anos mais tarde. Além disso, o guitarrista abandona os Yardbirds logo após a gravação de Five Live, por conta do apelo comercial que o grupo rumava.

Com 20 anos, Clapton sai dos Birds para ingressar na trupê de John Mayall. Como um dos Bluesbreakers, é aqui que Clapton finalmente alcança o status de God pelos fãs. Ao lado de Mayall, Clapton teve um amigo com quem podia compartilhar igualmente sua paixão pelo blues, e também onde ele conhece os futuros colegas Jack Bruce (baixo, vocais) e Ginge Baker (bateria). A formação do Cream é narrada de forma até hilária, já que a rivalidade entre Baker e Bruce nunca foi negada por nenhum dos dois, só que a vontade de Baker tocar com Clapton era tão grande que ele aceitou o desejo do guitarrista de só formar a banda se tivesse Bruce como baixista. No Cream, a química e vitalidade do trio principalmente nos palcos era fantástica, mas pessoalmente, a guerra de egos e o excesso de shows era enorme, e infelizmente, o mundo viu o grupo em ação por apenas três anos, parindo álbuns seminais e atemporais, obras que são estudadas e referenciadas por músicos e jornalistas até hoje. Vale citar aqui a influência que Hendrix teve para Clapton nesse período, inclusive com o inglês adotando um visual mais hippie (com cabelo Black Power e tudo) por conta do Deus Negro da guitarra. Outro ponto importante é quando Schumacher cita o momento que Clapton decide abandonar o Cream: "Eu fiz uma experiência certa noite ... parei de tocar na metade de um número e os outros dois nem notaram ... então pensei, fodam-se!".

Clapton e sua guitarra, na fase psicodélica do Cream


Saindo do Cream, surge o convite para gravar "While My Guitar Gentle Weeps" com os Beatles, a amizade com George Harrison, e a formação de outra banda gigante, a Blind Faith. Ao lado de Steve Winwood, Rick Grech e o também ex-Cream Baker, temos aqui uma super banda, que fez um álbum sensacional mas que também sofreu muito na sua breve existência, principalmente pelo excesso de violência que ocorria nos shows da banda nos Estados Unidos, chegando ao ponto de em uma apresentação no Madison Square Garden, em Nova Iorque, os fãs serem implacavelmente espancados pela polícia, que ainda agrediu Baker, considerado um hippie desordeiro pela polícia, e não um membro da atração principal. A Blind Faith durou pouco mais de um ano, e Clapton novamente pulou da barca. Na entre-safra, temos outra parceria com um beatle, agora John Lennon, no álbum Live Peace in Toronto 1969 (1969), a participação de Clapton junto com o grupo Delaney and Bonnie and Friends (na gravação de On Tour with Eric Clapton, de 1970), o primeiro álbum solo de Clapton, Eric Clapton (1970), a conturbada participação do guitarrista em um projeto com Howlin' Wolf, culminando no essencial The London Howlin' Wolf Sessions (1971), e o nascimento da Derek and the Dominos.

O período no Dominos é um dos mais tristes na vida do guitarrista. Apaixonado pela esposa do melhor amigo, Pattie Harrison, vivendo um casamento frustrado, além de consumir drogas como quem respira, Clapton compôs uma das melhores letras de amor de todos os tempos, registradas no essencial Layla and Other Assorted Love Songs (1970), além de músicas marcantes como "Layla", que contaram com a mão e o talento essencial do guitarrista Duane Allman. Esse ponto do livro é interessante por que desmascara o mito de que George deixou a esposa para o amigo. Isso não ocorreu! Pattie também estava frustrada com seu relacionamento com George, que vivia cada vez mais voltado para a religião e o trabalho, praticamente abandonando o relacionamento entre eles. Clapton tentou de todas as formas conquistar Pattie, mas só foi conseguir se relacionar com ela depois que finalmente ela decidiu-se a separar-se de George. Porém, até chegar esse ponto, a vida de Clapton entrou em uma espiral declinante. Entre 1971 e 1974, Clapton teve que fazer uma reclusão forçada, gastando quase 1000 libras por semana em heroína, e levando sua esposa, Alice Orsmby-Gore, para o fundo do poço junto com ele. Musicalmente, há a participação em All Things Must Pass (disco solo de Harrison, 1970) e no Concerto for Bangladesh (1971), além de um novo amigo surgir na vida do guitarrista, o colega Pete Townshend (The Who), que veio várias vezes a ajudar Eric nos anos seguintes.

Eric e Pattie, num dos tão prezados carros esportes de Clapton


Com a ajuda de George, Clapton apresenta-se no Rainbow Theatre, gerando o álbum Rainbow Concert (1973), e assim, começa uma nova fase na carreira do guitarrista, após um longo e intenso tratamento neuroelétrico que fez ele abandonar o consumo de heroína e outras drogas. Montando uma super banda, grava um de seus discos mais bem sucedidos em carreira solo, 461 Ocean Boulevard (1974). Muito disso também está ao fato de que finalmente agora Clapton estava com o amor de sua vida, Pattie Boyd, que agora já estava separa de George. Nesse trecho do livro ficamos sabendo que o casal tinha pretensão de passar uns dias no Brasil, onde Clapton estava afim de gravar sons como samba, mas com a nova amante, ficou poucos dias, fugindo do país por conta de uma epidemia de meningite no Rio de Janeiro. Também nesse período, é relatado o acidente que quase tirou a vida de Clapton, quando o musico resolveu dar uma volta com sua Ferrari Boxer cinza-prata e acabou preso nas ferragens da mesma após atingir uma carreta. Salvo da morte por milagre, Clapton acabou temporariamente surdo de um dos ouvidos pelos cacos de vidro que penetraram nele, e só foram retirados duas semanas após o acidente. Em termos musicais, sem muito se preocupar em gravar, e curtindo o amor, lança o fraco There's One in Every Crowd (1975), e dos shows dessa tour sai o ótimo ao vivo E. C. Was Here (1975). Outro bom disco que surge após muito trabalho, e mais uma "super banda" na carreira de Clapton, é No Reason To Cry (1976), que uniu o inglês aos canadenses da The Band adicionados de Ron Wood (timaço). Porém, uma apresentação em Birmingham quase colocou fim a fama de Clapton. Totalmente embriagado, ele acabou ofendendo elogiando Enoch Powell, um político conhecido por não gostar de minorias imigrantes e relações raciais, justamente quando Birmingham passava por grande tensão racial. Ali, seguida de uma série de gafes alcóolicas,  foi o estopim para a relação Clapton + álcool começar a ter seu fim, seguida por Slowhand (1977), que eternizou mais dois clássicos na carreira de Clapton, "Cocaine" e "Wonderful Tonight".

Depois de excursionar com Muddy Waters, registra o que Schumacher chama de nadir (ponto mais baixo que uma estrela atinge no céu visível) das gravações de Clapton nos anos setenta, passar pela primeira vez pela Europa Oriental (com muitos problemas) e países da Ásia, o que culminou no álbum Just One Night (1979), humilhar Jack Bruce em uma festa de família, e uma série de brigas com Pattie Boyd - inclusive com um relacionamento extra conjugal com a modelo Jenny McLean, Clapton grava seu primeito registro nos anos 80, Another Ticket (1981), e definitivamente afundou-se no álcool. O britânico acaba internando-se na Hazelden Foundation, nos Estados Unidos, uma clínica de reabilitação para alcóolicos, um período extremamente importante para mostrar o que é a vida real para o guitarrista. A partir de então, passa a frequentar o AA, e a livrar-se gradualmente de sua dependência de álcool. Com novo ânimo, registra Money and Cigarettes (1983), que o trouxe novamente para o blues, no mesmo ano que uniu-se a Jeff Beck e Jimmy Page para participar do concerto ARMS, Movimento de Pesquisa da Esclerose Múltipla, em benefício do amigo e guitarrista Ronnie Lane (Faces), e que ficou eternizado por colocar em um mesmo palco os três grandes guitarristas da Inglaterra que o Yarbirds produziu.

Jimmy Page, Eric Clapton e Jeff Beck - todos ex-discípulos de guitarra dos Yardbirds - reuniram seus prodigiosos talentos numa série de concertos para levantar fundos para pesquisa sobre esclerose múltipla


Com um novo parceiro, Phil Collins, nasce Behind the Sun (1985) um álbum bastante diferente na discografia do britânico, em um rompimento radical com seu passado, principalmente pela entrega aos sintetizadores. O álbum surge pouco depois de Clapton gravar e excursionar com Roger Waters, durante a turnê do ótimo The Pros and Cons of Hitchhiking (1984), primeiro disco solo de Waters pós-Pink Floyd. A experiência de Clapton com Waters não foi das melhores, apesar de desafiadoras, segundo o próprio, principalmente por considerar o show pretensioso e desanimado. Uma série de aparições em shows e eventos também marca esse período, principalmente o Live Aid (1985), com o guitarrista arrasando e conquistando o mundo ao som de uima versão arrebatadora para "White Room". 85 também é o ano do nascimento de Ruth Clapton, filha do guitarrista com Yvonne Kelly, mais um dos vários casos extra conjugais que ele teve. Porém, quando a modelo italiana Lory Del Santo também ficou grávida de Clapton (1986), Pattie pediu as contas. Solteiro, papai e com a parceria ainda de Collins, Clapton registra August (1986), disco bastante criticado pela imprensa.

A partir de 1987, Clapton começa uma nova tradição, com os shows no Royal Abert Hall. (foram seis de primeira, até atingir 24 apresentações em sequência em 1991, registrada no álbum 24 Nights, lançado naquele ano). Mais uma série de participações diversas, em discos de Jack Bruce, Rolling Stones, George Harrison, trilhas sonoras, entre outros, o lançamento do incrível box Crossroads (1988) e da gravação de Journeyman (1989), Clapton fez a primeira apresentação de um artista internacional em Moçambique, vêm as duas tragédias que marcaram Clapton nos anos 90, as mortes de Stevie Ray Vaughan e do filho Conor. A morte de Vaughan, minutos após os dois se apresentarem no dia 26 de agosto de 1990 em Alpine Valley, EUA, transformou a turnê de promoção de Journeyman uma catarse emocional, obscurecendo um ano radiante para Clapton, quando recebeu o prêmio Living Legend nos Elvis Awards e foi considerado Top Rock Album Artis na Billboard Music Awards, além de uma exaustiva turnê que o levou ´para Austrália, Extremo Oriente e, pela primeira vez com shows, aqui no Brasil. Já o acidente que vitimou o pequeno Conor serviu para Clapton perceber como a vida pode acabar de repente, sem aviso, e decidir viver em bênção a cada dia que acordava, e utilizando o talento que tinha em toda plenitude.

Tendo consolidado sua reputação como um dos maiores guitarristas da época, Clapton era frequentemente chamado para se apresentar em shows como convidado especial. Nesta foto, ele conversa com B. B. King durante um dos shows de King no Café Au Go Go de Nova York.


O livro encerra-se então com a inversão dos papeis, agora Clapton trazendo Harrison aos palcos, com treze apresentações no Japão que rendera, Live in Japan (1992), o estrondoso sucesso de Unplugged (1992), recebendo seis Grammys, a inserção do Cream no Rock 'n' Roll Hall of Fame (1993), quando o trio voltou a se apresentar juntos depois de muito tempo, e, através do Epílogo, situa o leitor sobre a atual (na época) condição de Clapton, promovendo o excelente From the Cradle (1994) e voltando definitivamente para o blues, algo que os anos posteriores mostraram que não seria bem assim.

Complementa o texto Crédito das Fontes, Discografia Selecionada entre 1964 - 1994,  com compactos e LPs de Clapton lançados oficialmente nos Estados Unidos e na Grã-Bretanha, bem como uma ampla seleção de compilações oficias, discos piratas e participações do guitarrista como convidado ou músico de estúdio, com as faixas que ele aparece, além da ficha técnica dos discos envolvidos. Mas acima de tudo, Essa belíssima obra, como tentei resumir acima, narra TUDO o que Clapton fez e deixou de fazer sem deixar nada de lado, mas também sem ser maçante ao ponto de aprofundar-se em detalhes por vezes desnecessários. É uma leitura obrigatória para quem quer conhecer a carreira de um dos maiores nomes da música em todos os tempos, um acervo fundamental para quem é fã de Clapton, e uma fonte riquíssima de conteúdo para quem quer pesquisar ou se aprofundar na, como diz o título, vida e música de Eric Clapton.


sábado, 21 de julho de 2018

Consultoria Recomenda - Álbuns de Estreia



Discos de estreia geralmente são álbuns que marcam a carreira de um artista. Hoje, um grupo de sete consultores recomenda sete álbuns de estreia que fazem parte de suas audições rotineiras, com um apanhado desde a década de 60 até os dias atuais.



Cream - Fresh Cream (1966)
Recomendado por Ronaldo Rodrigues

Talvez um dos primeiros casos da história do rock em que havia especulação da crítica musical sobre o que aconteceria com um disco. Se o compacto de estreia da banda tratava a questão com irreverência, o disco completo que traz a estreia do supergrupo Cream não deixa nada a desejar. O som da banda acendeu a fagulha que catalisou a conversão do blues britânico naquilo que viria a ser o rock pesado dos anos seguintes. Eric Clapton, Ginger Baker e Jack Bruce escreveram, a toque de caixa, parte importante da história do rock e Fresh Cream é seu prólogo.

Mairon: Os cientistas, através da teoria do Big-Bang, conhecem perfeitamente como o universo surgiu a partir de 10^{-34} segundos após a grande explosão que criou tudo o que há hoje em dia. Entre o tempo zero e o tempo 10^{-34}, nada se sabe. Felizmente, em termos do rock pesado, a coisa é diferente, já que temos aqui o Big-Bang da guitarra, bateria, baixo e vocalizações despejadas com potência sonora para quebrarmos pescoços. A voz de Jack Bruce (baixo) casa muito bem com a do chapadaço Eric Clapton (guitarra), recém saído das fraldas do Yardbirds, e doido para causar um rebuliço. Não à toa ele recebe o apelido God, pois é ele quem cria praticamente toda a rifferama e escalas de solos que Hendrix, Gibbons, Lee, Iommi e outros usariam a partir de então. Na bateria, uma locomotiva Ginger Baker que só não faz chover durante "Rollin' and Tumblin'", mas causa terremotos e tsunamis durante a espetacular "Toad", aula inicial para todas as outras bandas saberem como se faz um solo de bateria. É muita energia para ser emanada através das caixas de som, e clássico em cima de clássico, principalmente através de "I Feel Free" e "I'm So Glad", os maiores expoentes de Fresh Cream. As melhores para mim são o grandioso blues de "Sleepy Time Time", e "Sweet Mine", cuja versão posterior, lançada pela Ginger Baker's Airforce é a definitiva. Fecham o track list deste que talvez seja o principal disco de estreia de todos os tempos, a pancada "N. S. U." e a instrumental "Cat's Squirrel". Fresh Cream peca apenas na fraca versão de "Four Until Late" (original de Robert Johnston) e em "Dreaming", balada com clima anos 50 e totalmente injustificável perto de tantas canções fortes. Grandiosa e essencial recomendação.

Davi: Tiro certeiro. Banda clássica. Álbum emblemático. Isso aqui não tem erro, né? Power trio de primeiríssima. Três gênios. “I Feel Free”, “N.S.U.” e “Spoonful” são clássicos absolutos. Ginger Baker dava uma aula de bateria em “Toad”. Eric Clapton já roubava a cena em faixas como “Sleepy Time Time”, “Sweet Wine” e “Cat´s Squirrel”. Jack Bruce era outro louco. A única tristeza que bate em ouvir esse álbum é notar a qualidade das bandas e dos discos que se faziam nessa época e comparar ao que o pessoal tem feito hoje possuindo equipamentos melhores, técnicos com mais estudo, salas de gravação mais preparadas, recebendo instrumentos de ponta como patrocínio das melhores marcas. O que aconteceu?

Fernando: Já escrevi uma discografia comentada do Cream aqui para a Consultoria do Rock. A junção de três músicos fantásticos tinha que acertar logo de cara. Imagine um disco ruim de caras tão conhecidos. Acredito que isso fez com que várias versões de músicas de outros artistas fossem usadas e que não tenham dado tanta importância para as letras das canções próprias. São ótimas faixas no geral, mas considero esse disco apenas como um cartão de visita, já que eles acertaram a mão mesmo no seu sucessor.

Nilo: Introduzir o Cream e seus integrantes me parece desnecessário a esta altura. Tamanha a fama, chega a ser redundante afirmar que trata-se de uma estreia "jogo ganho": eram músicos de alto calibre, já com certa rodagem e com plena ciência do que estavam fazendo. Os moldes do blues rock não permitiam plena desenvoltura técnica de cada um, tampouco era necessário. O básico, executado de maneira competente e convincente. Mas convenhamos que, se Fresh Cream vive "na sombra" de Disraeli Gears, não é injustiça - a atmosfera lisérgica deste forneceu maior liberdade criativa ao trio. Na verve bluezeira, creio que a estreia do Bluesbreakers (com o Clapton, lançada meses antes no mesmo ano) é mais interessante.

Alisson: O time era inegavelmente lendário, apenas as três maiores referências em seus instrumentos. O problema da estreia é o grupo ainda estar engessado demais no blues rock da época e precisar mostrar serviço em conjunto. A técnica está acima de qualquer suspeita, as composições, porém, não vão muito além do que era produzido no período (muitas vezes de qualidade até inferior). Se hoje é visto como sombra do clássico Disraeli Gears, não é por falta de motivos.

Adrian: Baita disco de uma banda acima da média. “I Feel Free” vicia logo de primeira. O sempre excelente Eric Clapton em seu “debut” como protagonista de uma banda, mostrou para o que veio, sem claro deixar de mencionar Jack Bruce e Ginger Baker (o que é aquilo em “Toad”?). Ah, um disco com “I’m so Glad” sempre vai ser ótimo.



Moby Grape - Moby Grape (1967)
Recomendado por Mairon Machado

Várias poderiam ter sido as recomendações de álbuns de estreia que eu poderia fazer. Algumas até foram escolhidas aqui. Mas o nome que me veio à mente de cara foi essa obra-prima do rock flower-power norte-americano. Praticamente uma coletânea de sucessos de uma banda que teve tudo para ser a maior de todos os tempos (três guitarristas, um deles, um monstro chamado Jerry Miller, além de duelo de guitarras, inexistentes em 1967, trabalhos vocais e quatro vocalistas espetaculares, apoio de uma grande gravadora, a criatividade do gênio Skip Spence, entre outros), mas acabou pecando pelos excessos, isso em uma época onde se falar em excessos era apenas uma que outra aventura amorosa com a prima adolescente (Jerry Lee Lewis #Modeon). Mesmo os momentos amenos de "8:05", "Mr. Blues", "Someday", "Naked, If I Want To" mostram extremas qualidades para 1967. Moby Grape, o álbum, inspirou uma galera mundo a fora, com suas influências de country, blues, jazz e muita, mas muita psicodelia. Um deles, principalmente, foi um carinha loiro, chamado Robert Plant, que ao ouvir faixas espetaculares, velozes e destruidoras, como "Changes", "Fall On You", "Hey Grandma", "Lazy On Me", "Omaha" e a viajante "Sitting by the Window", simplesmente pirou. Tanto que gravou "8:05" e "Naked If I Want To" como singles, em 1993, e nunca cansa de citar o Grape como sua principal influência. Admire o country rock de "Ain't No Use", as vocalizações precisas de "Come in the Morning" e "Indifference", enfim, tudo o que há aqui. Os excessos já começam na polêmica capa, com o batera Don Stevenson estancando o dedo médio para o mundo, um pôster gigante promocional da banda que acompanhava a edição original, e a festa de lançamento do álbum, com prisões que abalaram o resto da carreira do grupo, através do boicote que o empresário Matthew Katz e a gravadora Columbia Records fizeram. É um disco para se ouvir com toda a curiosidade de quem quer conhecer algo novo, e se maravilhar com faixas fantásticas lançadas em um ano fundamental para a história da música. Mais sobre essa joia aqui.

Ronaldo: A estreia do Moby Grape é cheia de vitalidade e rebate para o clima árido da California o lado mais cru do som dos Beatles. Guitarras espertas, composições funcionais e ótimos vocais. Apesar da lisergia reinante a partir de 1967, o som do Moby Grape vai direto ao ponto, sem delongas. Acima de tudo, um delicioso disco de rock sessentista.

Davi: Banda bem interessante da cena de San Francisco. Esse trabalho foi lançado no ano de 1967, no meio da efervescência da cena flower power. Como não poderia deixar de ser, a sonoridade do álbum é repleta de psicodelia, o que já fica claro na faixa de abertura “Hey Grandma”. “Fall On You” e “Come In The Morning” trazem um belo trabalho de harmonia vocal nos backing vocals. Também gosto de quando fazem um som mais basicão como ocorre na ótima “Mr. Blues”. As baladas cruzavam elementos do folk com o country rock, conforme podemos notar em músicas como “Naked, If I Want To” e “Lazy Me”. Discaço! Gostei bastante.

Fernando: Já havia ouvido O Moby Grape quando estava descobrindo essas bandas do final da década de 60. Porém, por algum motivo que não sei dizer, acabei não ouvindo mais. Assim, foi quase como se tivesse conhecendo uma banda nova. O som é o esperado e o que nos acostumamos das bandas californianas do período. Muita melodia nas vozes, belos arranjos dos instrumentos e uma energia bastante positiva. Gostei de revisitar uma banda que há muito tempo não ouvia.

Nilo: Faz jus à capa. Outro disco sem grandes ambições além de juntar os amigos e fazer música, e tal proposta é bem cumprida. São 13 faixas de rock raiz, que olham tanto para o lado elétrico do blues como para a calmaria acústica do folk. É daqueles LPs pra se ouvir na vitrola do coroa, sentado numa cadeira de balanço no fim da tarde. Um acento psicodélico ronda os pouco mais de 30 minutos aqui, e pelo visto já servia como sinal para o que o estado metal do vocalista Alexander Spence....

Alisson: A ambição passa longe do objetivo do primeiro disco do Moby Grape (diferente do que skip Spence faria sozinho), mas como muitos discos de estreia, a ideia era mais se estabelecer com um disco coerente ou entregar um produto interessante para a gravadora. Nisso, esse disco cumpre os objetivos, mas não consegue ir além disso.

Adrian: Outra banda que não conhecia (não me julguem, ainda estou aprendendo rs). Mas é um rock’n’roll sessentista muito agradável de se ouvir. Como guitarrista (frustrado), algo que sempre presto mais atenção são os riffs e solos, e aqui tá recheado, portanto excelente, assim como os outros elementos da banda.



The Doors – The Doors (1967)
Recomendado por Davi Pascale

Quando foi jogado o tema, esse foi um dos primeiros álbuns que me veio à cabeça. Normalmente, procuro trazer para essa brincadeira álbuns não muito manjados, mas quando o tema foi disco de estreia, me pareceu obvio que seria interessante indicar alguém que conseguiu quebrar tudo já no primeiro disco. Tem muito artista que demora para criar uma identidade. O grupo de Jim Morrison foi o contrário. O primeiro disco já trazia um retrato de tudo que a banda representa. Textos elaborados, vocal hipnótico, teclados se sobressaindo, longas jams, flerte com outros gêneros. Inclusive, "Break On Through" foi inspirado na nossa bossa-nova (a levada de bateria, algo já reconhecido pelos músicos). Mais do que já ter uma identidade definida, diria que esse é seu trabalho definitivo. Embora goste dos demais álbuns produzidos na era Jim (em especial, Waiting For The Sun e Strange Days), se tivesse que indicar um álbum do grupo para quem nunca ouviu nada deles, entender o que significam, seria esse aqui. Como não bastasse, o repertório é repleto de clássicos como “Light My Fire”, “The End”, “Soul Kitchen”, “Back Door Man”, além da já citada “Break On Through”. Não tem nenhuma faixa ruim nesse disco. Trabalho perfeito. Clássico do The Doors, clássico do rock, clássico dos anos 60. Enfim, um álbum definitivo.

Ronaldo: Uma das estreias mais marcantes de toda a história do rock. O rock ficando cada vez mais ousado, ameaçador e misterioso. O som do órgão Vox, por influência de Ray Manzarek, seria a partir daí usado extensivamente no próximo par de anos, a delinquência e a afronta passariam a fazer parte cada vez mais do cardápio dos crooners e as escalas do blues continuariam sendo o passaporte para as viagens da psicodelia. Musicalmente há muitas inovações - harmônicas, rítmicas, em sonoridades e nas letras. Nem o próprio Doors conseguiria produzir algo tão importante depois dessa estreia.

Mairon: Aqui estão três grandes clássicos do rock, chamado "Break on Through (To The Other Side)", "Light My Fire" e "The End". Só por essas três faixas, o álbum já merece a recomendação. Mas há mais em The Doors. Canções como "I Looke at You", "Soul Kitchen" e "Twientieth Century Fox", marcaram o som dos teclados de Ray Manzarek como um dos mais relevantes para a comunidade flower-power, e as letras singelas, mas contagiantes, de Morrison. As baladas "End of the Night" e "The Crystal Ship" são feitas para arrancar lágrimas do busto roubado de Jim Morrison. "Alabama Song" e "Take it as it Comes" são para sair pulando pela casa, sem medo de bater em paredes ou derrubar as coisas. A versão de "Back Door Man" é pura chapação! Enfim, uma estreia fulminante, matadora, e que escrevi mais sobre essa obra-prima aqui. Belíssima recomendação!!!

Fernando: Aqui sim foi uma estreia de respeito. O Doors iniciou a carreira de forma arrasadora com clássicos atemporais como “Break On Through (To the Other Side)”, “Light My Fire” e “The End”. E não ficou só nisso, pois tem ainda músicas até esquecidas como a linda “Crystal Ship”. O nível ficou tão alto que fez a banda suar para manter o nível. E logo na capa o rosto em destaque de Jim Morrison mostrava quem era a figura central do grupo.

Alisson: A estreia do Doors sai do lugar comum em diversos sentidos. Ela vai na contramão ao entregador conteúdo completamente autoral, diferente dos vários covers de músicos blues que discos britânicos colocavam em seus discos. Segundo, que ele já deixa a marca registrada da banda de maneira definitiva, com seus longos ensaios improvisados, a sonoridade fortemente psicodelica e o lirismo acima da média de Jim Morrison. Até hoje não é meu favorito, mas sem esse, Strange Days (que ocupa esse posto) e os inúmeros seguidores do grupo, simplesmente não existiriam.

Nilo: Existe algo que ainda não tenha sido dito sobre este disco? Tenho preguiça da persona boêmio-messiânica do Morrison e, mesmo que os arranjos de Ray Manzarek amarrem os instrumentos (interessante notar que o teclado é tão etéreo quanto sustentação aqui) de forma eficiente, os timbres são magrinhos demais.Todavia, ninguém são vai negar que este é o início de uma das 3 bandas mais influentes do rock dos EUA. Outra delas também estreou em 1967, e até preferia que tivesse sido escolhida para tecer comentários mais elaborados aqui.

Adrian: Um digníssimo disco de estreia que bem parece uma coletânea de tão bom. Se “Break on Through” e “Light My Fire” que são as mais conhecidas pelo público já chamam a atenção, a excelente “Alabama Song”, a melancólica “Crystal Ship” e a épica “The End” também tem seu destaque, lançando ao mundo, o mito Jim Morrison.


Styx - Styx (1972)
Recomendado por Fernando Bueno



A primeira vez que ouvi o Styx foi um choque. O interesse pela banda foi pelo seu nome, já que a imagem de um rio do inferno é de algo tenebroso, misterioso, carrancudo e sisudo. Porém é exatamente o oposto da música do Styx e foi uma surpresa excelente. Conheci a banda pelo ótmo site Progarchives e também esperava algo mais sinfônico e o que ouvi foram excelentes músicas como muito apelo pop. A música da banda até chegou a ser um pouco mais pomposa ao longo do tempo, mas esse disco de estréia é um belo exemplo do que a banda fez, e muito bem, em sua carreira.

Ronaldo: Os primeiros minutos do disco de estreia do Styx podem passar a impressão de estarmos diante de um trabalho de hard rock tal como era a marca registrada do "early 70's" - guitarras fortes, riffs inteligentes e uma cozinha poderosa. Contudo, a faixa de abertura mostra-se como uma suíte com construção inusitada, cheia de recortes e com uma boa dose de pompa e circunstância. Seu final traz todos os temperos progressivos daquela mesma época e o protagonismo dos teclados. O restante do disco passa por toda a riqueza musical do período, mostrando uma banda repleta de talentos instrumentais e com um faro enorme por melodias assobiáveis.

Mairon: Banda fantástica, renegada por muitos por conta das baladas que marcaram sua carreira, vide "Babe", "Come Sail Away" e "Don't Let It End") ou de faixas mais pops, como "Blue Collar Man (Lonely Nights)" e "Too Much Time on My Hands". Aqui é o Styx raiz, hardão setentista de primeira, misturado com progressivo a partir de uma cozinha fabulosa montada pelos irmãos Chuck (baixo) e John Panozzo (bateria), e com as guitarras de John Curulewski e James Young fazendo estripulias mágicas junto aos teclados de Dennis DeYoung. Há um certo ar de Deep Purple e Uriah Heep nas canções, mas nada que não traga uma originalidade animadora para 1972. Pelo contrário, "Right Away" parece ter sido uma força influenciadora do Purple para algumas faixas de "Stormbringer", enquanto "Best Thing", e os seus acordes de violão misturados com órgão, guitarra e altas vocalizações, eram um prenúncio - ou um contraponto - ao gigantismo de Magician's Birthday. "After You Leave Me" poderia ser a balada do álbum, apesar de estar longe de ser algo se quer próximo disso - somente a melosa letra nos faz pensar assim - pois James Young e as vocalizações fazem brotar na cabeça aquela sensação de "coisa boa estar conhecendo algo novo". "What Has Come Between Us" nos surpreende pelas variações (um início pesado, uma balada ao violão, um refrão grudento cheio de vocalizações e belos solos de guitarra). Falando em peso, "Quick is the Beat of My Heart" despeja potência sonora pelas caixas de som, sendo impossível não fazer um air keyboard durante o solo de hammond por DeYoung. O grande destaque é a sensacional suíte "Movement for the Common Man", a qual ocupa quase todo o Lado A e é dividida em quatro partes, que já apresentam os vocais marcantes que consagrariam a banda anos depois, principalmente de DeYoung. Vocais estes que aliás, estão presentes em quase todo o álbum. Ótima indicação, e uma das minhas bandas favoritas.

Davi: Essa é uma banda que eu curto, mas nunca me aprofundei. Esse álbum mesmo, vergonhosamente, nunca havia escutado. A primeira faixa, “Movement For The Common Man” é espetacular. Gosto das mudanças de andamento, desde o início com uma sonoridade hard rock guiada pelas guitarras, passando por uma colagem de sons e chegando em uma passagem mais experimental na parte final. O solo de guitarra dessa canção é fantástico. “Right Away” também é muito boa, com uma pegada mais longe do progressivo e mais próxima do southern. Me remeteu um pouco às baladas do Lynyrd Skynyrd, mas é a única com essa atmosfera no álbum. A introdução de “What Has Come Between Us” me lembrou muito o Yes, a levada funky rock por trás de “Quick Is The Beat of My Heart” foi uma grata surpresa, assim como a versão de “After You Leave Me” do músico George Benson. Belo disco!

Nilo: Dentro do leque desta seleção, a maior qualidade da estreia do Styx é mostrar como uma banda pode evoluir. Embora não seja fã da mistura de AOR e progressivo que os consagrou nos discos seguintes, ao menos tal sonoridade exibe segurança; algo do tipo "É brega e pomposo? Sim, e azar o seu, vai ouvir na AM até enjoar!". Dá pra dar um desconto e dizer que neste álbum aqui, poucas canções têm a assinatura dos integrantes. Não chega a aliviar a má impressão que fica após aguentar a faixa de abertura, com 13 minutos e recheada de cacoetes do prog, e nem dos sons hard rock mais curtos que seguem - igualmente insípidos.

Alisson: Não sei quem eram os músicos envolvidos no Styx na época, mas começar com um primeiro disco onde a primeira música possui 13 minutos de duração é corajoso. Enquanto não sendo uma das referências do AOR, o Styx emulava os principais chavões do hard rock e do progressivo do período, já com um pé no pop, bem evidente no foco excessivo nas melodias. Tudo redondinho, inofensivo, e nada memorável.

Adrian: Rock’n’Roll com boas doses de Progressivo, de boa qualidade (logo de cara uma faixa de 13min em um disco de estréia!!). Nunca dei muita atenção ao Styx, mas fiquei curioso em saber mais da banda. O instrumental é ótimo, com boas melodias e o vocal também me agradou. Aprovado!


Sarcófago – INRI (1987)
Recomendado Nilo Vieira

Creio que o maior mérito de grandes álbuns de estreia é conseguir traduzir o frescor da energia original do artista, independente de imaturidade artística ou condições técnicas desfavoráveis. Nesse sentido, não há melhor exemplo que INRI. A produção é precária. As letras são blasfêmias juvenis traduzidas em inglês raso. O instrumental é tão bruto que fica difícil classificar. E mesmo assim, não há como contrariar quão inovador e legítimo é o resultado final: quatro pé rapados de BH, logo após o fim da ditadura militar, criaram na raça uma música híbrida, que caiu como uma bomba na época. Um trabalho com muito mais atitude que a maioria dos discos nacionais elogiados daquela década, seu legado ainda ecoa forte Brasil afora. Ouso dizer que é o LP mais influente feito aqui nos anos 80, dada a repercussão internacional - até o Dead (Mayhem) tinha camiseta!

Ronaldo: Uma das coisas mais mal gravadas que já ouvi em toda a minha vida (e não foram poucas). Qualquer outro característica, positiva ou negativa, que o disco tenha fica nublada frente a uma gravação tão tacanha. Se isso foi de alguma forma proposital, meu desprezo por esse som aumenta em progressão geométrica.

Mairon: Um brasileiro que causou impacto no mundo inteiro é raro, ainda mais na cena metálica. I. N. R. I. é o bisavô de quase todo o black metal, com fortes influências de Celtic Frost e Slayer ("Nightmare" e "Ready to Fuck"), ou Possessed e Sodom ("Christ's Death", "Desecration of Virgin", "The Last Slaughter" e a faixa-título) mas com o diferencial de não ter tanta técnica quanto os citados, Wagner "Antichrist" é o cara que consegue se destacar musicalmente, com um bom gutural. Acho a bateria muito mal tocada, e infelizmente, a produção abafou demais baixo e guitarra (pelo menos no link que peguei). De qualquer forma, é notável o estilo dos guris, principalmente "Deathrash", "Satanic Lust" e "Satanas". Não é algo que hoje eu aprecie, mas teve sua importância em 1987.

Davi: Essa é uma banda que a galera morre de amores e nunca consegui compreender a razão. Esse disco é o exemplo clássico de tudo o que havia de amadorismo na primeira cena de heavy do Brasil. Sem dúvida, existiam as exceções, mas eles não faziam parte desse território. Disco extremamente mal gravado, bateria martelada e sem a menor criatividade, trabalho vocal ruim, as letras são risíveis. Desde o texto tentando soar malvado, mas aparentando ter sido escrito por uma criança de 3 anos, até pela nítida falta de domínio da língua inglesa. É um marco dentro da cena (não sei como, mas conseguiu o feito), mas é um trabalho que vale conferir apenas pelo seu contexto histórico mesmo porque o trabalho musical, olha...

Fernando: Vou começar uma briga com os fãs do Sárcofago. Gosto muito do Laws of Scourage, já até escrevi sobre ele aqui na Consultoria do rock, mas os outros discos, mais diretos e sem o esmero que esse disco que citei tem, acho puro barulho. Sei que muita gente vai citar a já falada influencia que a banda teria sobre as bandas realmente importantes lá nos países nórdicos. Será que a importância foi tão grande assim?

Alisson: Antes de criticar a falta de esmero técnico e as letras simplórias (para não dizer amadoras) do primeiro disco do Sarcófago, é bom que se coloque em perspectiva o mundo em que esse disco saiu. Basicamente quatro adolescentes revoltados recém saídos de um duro regime militar com muita vontade de se fazerem ser notados. Essa vontade é sentida durante o disco todo. O que falta em técnica, sobra em brutalidade e chucrice, já que o som é tão básico e simples que soa enérgico e, por vezes, até sombrio. Se na época o disco era blasfemo desde a capa, servindo de influência até para a galera da Noruega, hoje ele soa mais como um grito de rebeldia e a vontade de uns garotos de fazer a diferença através da música.

Adrian: Nunca fui tão fã do Sarcófago, mas tenho que reconhecer o clássico e a importância da banda e desse disco para o Metal Brasileiro (e mineiro). Bruto, direto e sem frescura.


Demilich - Nespithe (1993)
Recomendado por Alisson Caetano

Um registro singular dentro da historia do Death metal, Nesphite permanece influenciando gerações, mesmo que nada se assemelhe em qualquer nível com o que está registrado neste que acabou sendo a única mostra de genialidade do grupo. Usando tempos estranhíssimos e dissonâncias de guitarra sem preocupações, Nesphite cria uma musicalidade abstrata, intensa e imersiva em níveis nunca vistos antes no estilo. Os vocais (que o encarte faz questão de ressaltar que foram feitos na raça, sem uso de efeitos digitais) aumentam o grau de estranheza enquanto as letras saem do lugar comum do gore tradicional para proferir histórias bizarras e surreais. Obra ímpar na história do estilo, continua irretocável, mesmo com anos de seu lançamento e tantas tentativas (muitas frustradas) de inovações de outras bandas.

Ronaldo: Do ponto de vista instrumental, o disco dos finlandeses do Demilich traz elementos bem interessantes e originais, aplicando atonalismos nos riffs, usando e abusando de muitas variações rítmicas de andamento e compasso. Mantém-se as características tétricas do heavy metal extremo, mas com um senso de urgência e uma matriz mais expandidas de climas e tensões nas músicas. Como de praxe nesse tipo de som, o disco é pessimamente gravado e todos os instrumentos parecem distantes do ouvinte. Mas nada se compara ao espanto causado pelo vocal, que realmente é horroroso e nos dá a impressão de que não deve ser nem levado em consideração.

Mairon: O bom de participar do Recomenda é que sempre aparece um disco que você dúvida que realmente foi lançado. Essa é daquelas bandas cujo logo você não consegue identificar o nome, e que faz um Death Metal bastante competente instrumentalmente. Realmente, as guitarras e a bateria são empolgantes. O problema é o vocal, o qual parece um lagarto falando, e não um ser humano cantando (talvez um ser humano arrotando seja uma boa descrição). Desculpe ao consultor, mas o nível mental para entender essa obra não foi alcançado por mim ainda ...

Davi: Cara… De vez em quando vocês desencantam cada coisa que vou te contar. Não vou nem ficar citando música porque, para mim, todas as faixas possuem os mesmos defeitos. Mudança de andamento além da conta. Parece que os músicos estavam mais preocupados em demonstrar que sabiam tocar do que escrever algo realmente cativante. Ou então não conseguiram definir sobre o que trabalhar e o que não trabalhar na canção. Tenho que reconhecer que o guitarrista e o baterista, embora pentelhos, são bons músicos. A qualidade de gravação é meia bomba. O bumbo da bateria tem som de peido. E esse vocal chega a ser cômico. O cara quis soar como o demônio, mas parecia que estava arrotando uma lata de coca-cola. Muito fraco no gutural. Uma das piores coisas que já ouvi na vida.

Fernando: Nunca fui um fã de death metal. Só mais recentemente comecei a ouvir algumas bandas de black ou de thrash mais extremo que beiram o death. Mas alguma coisa nas bandas mais tradicionais dos estilos não me agrada. Outra coisa que costuma atrapalhar minha audição é quando associado aos termos e classificações de metal tem as palavras technical, math, crust entre outras. Parece que cria uma mensagem em meu cérebro dizendo de antemão que não vai me agradar. Porém o instrumental não se aproxima do nível que eu costumo não gostar e o que atrapalha aqui é mesmo a voz. O gutural do vocalista Antti Boman é tão propositalmente cavernoso que chega a ser até cômico. Imagino que deve ter feito bastante sucesso entre os fãs do estilo, mas me estranha em ser o único álbum da banda.

Nilo: O primeiro e último disco dos finlandeses é uma peça rara no death metal. Guitarras em afinação absurdamente baixa (em Lá, pra ser exato), vocais cavernosos profundos, riffs dissonantes, letras sobre experiências bizarras (incluindo relato sobre sentir vontade de vomitar e perceber que seu sistema digestivo, de repente, criou vida própria)... sábio o comentário que diz que "se você imaginar que são os integrantes da banda na capa, tudo fará mais sentido". Permanece entre os trabalhos mais originais e copiados do estilo. Obrigatório para entusiastas do metal extremo!

Adrian: Não conhecia a banda, mas por esse álbum, gostei do que ouvi, apesar do vocal não me agradar muito, os riffs insanos e impossíveis de guitarra e instrumental bem tocado, compensam a audição. (Se os nomes gigantes das músicas foram feitos para dar aquelea descontraída, foi uma boa sacada! Haha) Porrada na orêia!


Akashic - Timeless Realm (2000)
Recomendado por Adrian Dragassakis



De longe, o álbum mais recente de todos da lista (e até meio fora da curva), mas trata-se de um álbum de estreia de uma banda gaúcha que infelizmente não vingou. O som remete bastante ao Prog Metal do Symphony X, mas com grande personalidade. “Heaven’s Call” abre o disco já mostrando esse lado, enquanto “Dove” é uma das mais belas baladas que já ouvi. “Veiled Secrets” conclui o álbum, quase que como uma ponte para o álbum sucessor (A Brand New Day, que abre com a faixa “Revealed Secrets”). Ah, o guitarrista é o Marcos de Ros, hoje, youtuber e professor de guitarra.

Ronaldo: Eu cultivo uma teoria de que discos de estreia são interessantes, em sua maioria, por retratar toda a trajetória do músico antes dele ser de fato músico. É possível imaginar que para a maioria dos casos, as composições de um disco de estreia foram gestadas ao longo de toda a adolescência, durante muitos anos, até encontraram os elementos humanos e a estrutura necessária para sairem do campo das ideias e chegarem até um disco. Esse frescor se perde quase que imediatamente após o primeiro disco, no qual muitos outros fatores entram em jogo. Ao ver que essa banda brasileira foi fundada em 1988 e lançou a estreia apenas em 2000 essa imaginação fica ainda mais forte. O trabalho tem seus trunfos e um brilho especial no cenário do prog metal, apesar da produção modesta e do som abafado. Musicalmente, é um disco muito trabalhado e o instrumental virtuoso se acopla muito bem nas composições - existe uma coerência entre intenção e execução.

Mairon: Prog Metal não é o tipo de Heavy Metal que eu gosto, com excessos de virtuosismo e variações no estilo "orquestrais" dos sintetizadores. O vocalista lembrou muito Tony Martin, e me surpreendeu saber que a banda é daqui do Rio Grande do Sul, mais precisamente de Caxias. Apesar de não ser algo que eu aprecio, vejo qualidade musical dentro do estilo, principalmente no guitarrista Marcos de Ros. Se não fossem os teclados, seria bem melhor. De qualquer forma, um disco surpreendente!

Davi: O Akashic lançou esse debut no início dos anos 2000 e, na época, era considerado uma das grandes promessas da cena heavy brasileira. A jogada do Akashic era prog-metal, estilo que estava em destaque na época. A grande diferença entre os demais grupos brasileiros é que, enquanto seus colegas sonhavam em ser a versão brazuca do Dream Theater, eles queriam ser a versão brazuca do Symphony X. Marcos de Ros é considerado um dos destaques da cena brasileira atualmente e, aqui, já demonstrava um enorme domínio nas seis cordas. O trabalho vocal de Rafael Gubert não tinha a mesma força do vocal do Russell Allen, mas era satisfatório. Além de De Ros, o grande destaque do álbum fica por conta do tecladista Eder Bergozza e o ponto baixo fica pelo baterista Maurício Meinert (bem fraquinho). Era um grupo ok, mas faltava um pouco de personalidade e canções mais fortes. Faixas de destaque: “For Freedom”, “Salvation” e “Gates of Firmament”.

Fernando: Não conhecia a banda, nem de nome. As surpresas ficaram por conta do tempo que isso foi lançado, que era uma banda brasileira e com o Marcos De Ros na guitarra. Gostei muito do som, apesar de ter ouvido apenas uma vez, e achei bem na linha do que o Symphony X faz. Na época do lançamento eu era muito ligado ao metal progressivo e melódico e mesmo assim não fiquei sabendo dessa banda. Talvez tenha faltado um pouco mais de divulgação e acredito que esse motivo é que fez com que a banda tenha acabado 10 anos atrás. Muito potencial com pouca exposição.

Nilo: Me parece um trabalho que, acima de tudo, buscava cavar espaço na crescente cena prog nacional (uma demo homônima foi gravada no ano anterior). E não o faz com a intenção de reinventar a roda, o que pode não ser ruim. Pra quem é fã do estilo e/ou acha que o principal componente para boa música é a veia melódica, cá está um prato cheio. Caso contrário, fuja: tudo aqui é tão limpo (mesmo a distorção da guitarra é comportada) e correto (exceto as letras, em inglês bem básico - algo muito criticado no outro integrante br desta seção) que enjoa. Vocais melodramáticos estilo Symphony X e teclados muito plásticos à la Stratovarius na mix são os principais entraves. Inegável que são rapazes estudados e composições trabalhadas, mas não saberia apontar diferenciais perante outros grupos famosos e contemporâneos do estilo.

Alisson: Coincidentemente liberado no auge de interesse pelo metal progressivo nos anos 2000, Timeless Realm é só um monte de cacoete burocraticamente executado sem grande inspiração. Vale ressaltar que, se você é conivente com as letras desse disco, você não possui argumentos suficientes para criticar o INRI, do Sarcófago. Enquanto aquele ainda entrega algo blasfemo em tentativas inocentes, esse aqui só entrega algumas letras bobas de temática mais que rasa. Não sei como anda a situação da banda, mas espero que o guitarrista Marcos De Ros esteja se saindo melhor como youtuber do que como músico.
Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...