sexta-feira, 29 de abril de 2011

The Buggles


Sempre quando entramos na história do grupo britânico Yes, nos deparamos com a saída do vocalista Jon Anderson e do tecladista Rick Wakeman no ano de 1979. Ambos os músicos foram substituídos pela dupla Trevor Horn (vocais) e Geoff Downes (teclados), os quais eram membros do grupo pop The Buggles. Mas afinal, por que eles foram convidados para entrar no Yes?

Isso é uma pergunta que infelizmente eu não sei responder, mas essa matéria irá narrar um pouco sobre a história desse importante grupo New Wave, que foi um dos pioneiros na arte do videoclip e também na utilização de sintetizadores e vozes computadorizadas, ainda no final da década de 70, além de ter sido o primeiro grupo a ser apresentado no canal MTv, no dia 01 de agosto de 1981, exatamente a 00:01.

Trevor Horn e Geoff Downes
O grupo consistia apenas de Trevor (voz, baixo, guitarra e violão) e Downes (teclados, sintetizadores, bateria e percussão). A dupla encontrou-se pela primeira vez ainda na metade da década de 70, quando ambos integraram o conjunto vocal que acompanhava a cantora disco Tina Charles, apesar de ambos nunca terem participado de algum lançamento da mesma.

Após esse primeiro encontro, Trevor virou baixista do grupo Tracks, ao lado do baterista Roger Odell, que depois faria sucesso no grupo Shakatak, bem como Bill Sharpe (teclados) e Keith Winter (guitarra). Esse grupo realizou entre 50 e 100 shows, além de ter gravado um raríssimo álbum com produção caseira, que era vendido durante o horário de almoço dos domingos. O som do grupo era um jazz fusion na linha do que Herbie Hancock e Chick Corea estavam fazendo na época.

Apresentação do Tracks (Trevor no baixo, a esquerda)
 
Em uma apresentação do Tracks no Hammersmith Odeon, Trevor conheceu o cantor Bruce Woolley, que lhe ensinou técnicas de produção e de voz. Trevor começou a trabalhar em busca de novas sonoridades, ouvindo principalmente krautrock e a onda disco que surgia pela europa, mas estava cada vez mais frustrado por não encontrar ninguém que colabora-se da forma como ele pensava.

A solução para o problema da busca pela nova sonoridade foi sugerida por Bruce, que incentivou Trevor a encontrar algum músico que estivesse sobrando no mercado, e transformá-lo em uma espécie de suporte para o que estava fervilhando no cérebro de Trevor. O primeiro nome que veio a cabeça do vocalista foi exatamente o de Downes, que estava encostado trabalhando como músico de estúdio.


Surgia assim o trio The Bugs, com Trevor, Bruce e Downes, que começou a compor na mesma linha de bandas como Kraftwerk e também inspirados pela fase New Wave de David Bowie. Nesse período, o destaque foi para o desenvolvimento do aparato de sintetizadores que Downes começou a usar, que classifica a sonoridade do The Bugs como sendo única para a época.

Início da carreira do The Buggles (1979)
A medida que as composições surgiam, o nome foi mudado, e assim, adotam "The Buggles", segundo Horn por ser o nome mais nojento que ele podia pensar para uma banda, segundo Downes, como uma superstição, para ser uma sequência do nome e do sucesso dos The Beatles. Os Bugs (erros em português) eram insetos imaginários que viviam na cabeça e nos estúdios de gravação do trio, surgindo sempre quando algo não dava certo - "a culpa é dos bugs" - e um determinado dia, alguém passou pelo lugar e falou que os The Bugs nunca seriam maior que os The Beatles, surgindo assim a fusão The Buggles.

O maior sucesso comercial do The Buggles
O trio começou a fazer suas gravações, e o primeiro registro se tornou um marco na história da música. No verão de 1979, uma fita demo foi enviada para a Island Records, apresentando apenas uma canção, a clássica "Video Killed the Radio Star". Bastou chegar o refrão dessa canção para a Islands entrar em desespero, e vendo a capacidade de dinheiro que aquele som poderia atingir, assinou com os The Buggles no dia seguinte.


Dessa demo, participaram Tina Charles (vocais), Trevor (baixo, vocais, guitarra), Bruce (vocais, teclados) e Downes (bateria, teclados). Embora seja uma composição de Bruce, o vocalista acabou largando o The Buggles para seguir carreira com o grupo The Camera Club. Ficava nas mãos de Downes e Trevor a tarefa de levar o contrato com a Islands adiante. A possibilidade de colocar um substituto no lugar de Bruce logo foi descartada, e dessa forma, a dupla lançava em  sete de setembro de 1979, o single de "Video Killed the Radio Star", poucas semanas depois de Bruce ter lançado a canção no álbum English Garden do grupo The Camera Club.


Como previsto pelos diretores da Island, a canção estourou entre os jovens, sendo curiosamente o single de número 444 a alcançar a posição número 1 das paradas britânicas, onde permaneceu a frente de diversos outros artistas como The Who, Talking Heads, Led Zeppelin, Yes, Pink Floyd e David Bowie por mais de uma semana, levando o nome The Buggles a meteórica exposição dentro da Grã-Bretanha.

Com o sucesso na terra da Rainha, a Island expandiu o lançamento de "Video Killed the Radio Star" para o resto do mundo, e o sucesso novamente foi obtido, chegando ao primeiro lugar em mais 16 países. Para completar o sucesso da canção, um vídeo-clip foi produzido e dirigido pelo australiano Russell Mulcahy, que também dirigiu vídeos para Duran Duran, Elton John, The Tubes, Bonnie Taylor, Queen entre outros.

O primeiro álbum do The Buggles
Ao mesmo tempo que "Video Killed the Radio Star" aumentava a popularidade do The Buggles, a pressão para o grupo não se tornar mais um one-hit band era grande. Em poucas semanas, Downes e Trevor escreveram mais canções, que foram registradas e lançadas no primeiro álbum da dupla. The Age of Plastic foi lançado em 4 de fevereiro de 1980, durante a excursão europeia do The Buggles, e foi carregado pelo sucesso de "Video Killed the Radio Star".


Single de "Living in the Plastic Age"
Moderno, e ao mesmo tempo experimental e bastante envolvente na primeira audição, o LP é um álbum conceitual, que explora temas de intensa nostalgia e a ansiedade do novo mundo com o avanço da tecnologia e dos aparatos eletrônicos, o que é bem retratado nas duas canções que abrem o LP. "Living in the Plastic Age" é a primeira, onde vozes e uma espécie de despertador apresentam os sintetizadores com o riff principal, seguido pela bateria eletrônica fazendo a marcação no bumbo, e com a adição de mais e mais sintetizadores, Trevor começa a cantar, com a letra fazendo alusão as cirurgias plásticas e também ao stress da vida moderna, embalando em uma interessante canção, que apesar do andamento quadrado, possui um bom arranjo, principalmente no refrão e no solo de Downes, que conta com muitos efeitos eletrônicos.

Single de "Video Killed the Radio Star"
A segunda faixa do LP é o clássico "Video Killed the Radio Star", uma crítica ao que o próprio The Buggles iria fazer, que era investir nos vídeos e acabar com a fama das canções que apenas tocavam em rádios. Acordes de piano, acompanhados pelo baixo, trazem a voz com efeitos de Trevor, tendo intervenções das famosas vocalizações femininas de Debi Doss e Linda Jardim, com seus "oua-oua". As vocalizações então entoam o nome da canção durante o grudento refrão, enquanto Trevor canta a sequência da letra, seguido de mais vocalizações. A sequência de estrofes é repetida após o refrão, e Downes faz um curto tema no piano elétrico, para os acordes de guitarra apresentarem o refrão, com as vocalizações femininas cantando o nome da canção e com um breve solo de guitarra ao fundo, encerrando apenas com o tema inicial feito pelo sintetizador. Clássico pop! Simples, direto e grudento, que facilmente conquistou a geração saúde da nova década.


"Kyd Dinamo" possui a melodia do piano elétrico seguida pelo baixo. A entrada da guitarra e bateria apresentam uma quadrada mas pesada canção (para o estilo), que lembra trilhas de heróis japoneses. A voz distorcida de Trevor está presente, tendo novamente as vocalizações femininas durante o refrão, onde as notas são uma imitação do "Fantasma da Ópera".
No auge do sucesso (1980)
Por fim, "I Love You (Miss Robot)" fecha o lado A com sleps no baixo e a bateria acompanhando as vozes computadorizadas de Downes cantando o refrão. Trevor então canta a primeira estrofe, seguido pelo refrão com as vozes computadorizadas. A sequência é repetida, com a canção sempre no mesmo andamento, encerrando o lado A sem muita empolgação.

Single de "Clean Clean"
O lado B abre com "Clean Clean", onde os bonitos acordes do órgão de igreja são seguidos por guitarras e sintetizadores, com a bateria fazendo o tradicional ritmo bumbo-caixa, que apresenta os vocais de Trevor. As vozes computadorizadas novamente estão presentes, levando ao grudento refrão que entoa o nome da canção, onde o tema dos teclados grudará por horas no seu cérebro. Destaque também para o solo em ritmo de marcha russa feito por Downes.




Single de "Elstree"
"Elstree" já apresenta acordes de piano em sua introdução, mas a entrada dos vocais com efeitos apresenta outra quadrada canção, que chama a atenção pelo trabalho de sintetizadores. "Astroboy (and the Prolen on Parade)" é uma viajante canção  pop, com baixo e marcação percussiva seguidos de sintetizadores que trazem a voz de Trevor sobre camadas de sintetizadores, com diversos momentos instrumentais interessantes que vão se alternando aleatoriamente.

The Age of Plastic encerra com "Johnny on the Monorail", onde o piano elétrico faz um rápido tema, e assim, o andameno bumbo-caixa leva os vocais de Trevor, com destaque novamente para o bom trabalho de Downes, além da dançante levada do baixo e da guitarra.

Downes tocou teclados, bateria e percussão, enquanto Trevor  cantou e tocou guitarra e baixo. Além disso, a dupla contou com a participação de Paul Robinson e Richard James Burgess na bateria, bem como Bruce tocando guitarra em "The Plastic Age" e "Video Killed the Radio Star". O nome do álbum é baseado na novela The Plastic Age, lançada no ano de 1924 como livro, e como um filme em 1925.
 
Três singles foram lançados do álbum (além de "Video Killed the Radio Star" / "Kid Dynamo"): "Living in the Plastic Age" / "Island" (02 de julho de 1980), "Clean Clean" / "Technopop" (04 de outubro de 1980) e "Elstree" / ""Johnny on the Monorail (A Very Different Version)" (27 de outubro de 1980). "Living in the Plastic Age" foi gravada ainda em 79, e alcançou a décima sexta posição nas paradas britânicas. Já "Clean Clean" alcançou a posição 38, e "Elstree", uma homenagem aos estúdios Elstree,  não obteve sucesso comercial.
Downes e Horn
A versão de "Video Killed the Radio Star" lançada pelo Camera Club foi sucesso apenas no Canadá. Em compensação, o The Buggles conquistou o mundo, sendo número 1 na Austrália, Suécia, Suíça e Reino Unido, além de ter chegado na segunda posição nas paradas da Nova Zelândia. Somente na Alemanha o desempenho não foi tão bom, atingindo a décima sexta posição, e nos Estados Unidos, onde estreiou em 10 de novembro de 79 e chegou na tímida quadragésima posição.

O grande destaque para esse período foi a produção dos vídeos de divulgação dos singles.
Para "Living in the Plastic Age", o The Buggles criou um vídeo futurista e repleto de ilusionismo, algo incomum até então, que apareceu ao grande público em janeiro de 1980, mas que não foi muito divulgado. Empregando cores brilhantes, vestimentas provocativas, jogo de imagens e de luzes muito fortes, o vídeo apresenta algum lugar do futuro com 3 jovens vestidos como demônios, usando capas pretas e saindo de uma sombria caverna. Com o passar do vídeo, mulheres de quatro são mostradas como teclados, bem como outra mulher esta com uma insinuante vestimenta de um telefone, e a maior atração para os saudosistas e a famosa cena onde o jogo de Atari, Space Invaders, é destacado.


Para o vídeo de "Clean Clean", Downes e Trevor comportam-se como astros em um show de rock, e nada mais. Já em "Elstree", Trevor aparece como um velho zelador da BBC limpando um cemitério que foi cenário de alguma gravação de um filme-B do Elstree Studio, fazendo uma espetacular mistura de imagens preto-e-branco com imagens coloridas.

Número 1 no Reino Unido (1979)
Já o clip para "Video Killed the Radio Star é nostálgico,  sendo este o que foi apresentado na MTv. Também envolvendo imagens em preto-e-branco com imagens coloridas, destaca uma criança, a qual vê a decadência do rádio (tratado no vídeo como uma espécie de máquina de lavar roupas quebrada) e que depara-se com os novos ídolos através do crescente sucesso da TV, tendo a participação de Hans Zimmer nos teclados e de Debi Doss na dança. 

Mas, é o vídeo da participação no programa DISCO que mais chama a atenção, com a dupla acompanhada de duas garotas fazendo os backing vocals, uma simulando o astro do rádio que foi assassinado, permanecendo triste e praticamente imóvel durante todo o vídeo, enquanto outra, loiraça e feliz, com um vestido insinuante, canta e dança saltitante, fazendo a estrela vídeo que assassinou a estrela do rádio. Outro fato curioso é que se o clip de "Video Killed the Radio Star" inaugurou a era de vídeos na MTv em 1980, em 2010 ele foi o último clip a ser apresentado pela MTv filipina, que fechou as portas em 15 de fevereiro daquele ano, as 23:49.

Dos clips do The Buggles, ficou a forte imagem de Trevor, com seus grandes óculos e praticamente a ausência de presença de palco, além do clip de "Video Killed the Radio Star" ser rotulado como o quadragésimo melhor vídeo dos anos 80. Durante o período em que os vídeos foram produzidos e estavam sendo divulgados, a dupla apareceu duas vezes no programa BBC Radio 1, interpretando "The Plastic Age" (02/07/1980) e "Clean Clean" (04/10/80).


Voltando para The Age of Plastic, o relançamento em 2000 contou com três bônus, que são exatamente os lados B dos singles lançados pós-"Video Killed the Radio Star": "Island", "Technopop" e "Johnny on the Monorail (A very different version)". Depois, em 24 de fevereiro de 2010, os japoneses lançaram uma versão remasterizada para o relançamento de 2000, contando ainda com mais 6 canções inéditas: "Video Killed the Radio Star" (Single version); "Kid Dynamo" (Single version); "Living in the Plastic Age" (Single version); "Elstree" (Single version); "Elstree" (Special DJ edit version) e "Clean Clean" (12-inch version).

O Lp alcançou melhor posição nos países escandinavos, ficando em vigésimo terceiro na Noruega e vigésimo quarto na Suécia, enquanto que no Reino Unido, foi vigésimo sétimo. Nos Estados Unidos, o The Buggles chegava a quadragésima posição com as vendas de The Age of Plastic.

A dupla começou a trabalhar no segundo álbum, enquanto que no estúdio ao lado, o Yes começava a planejar seu futuro sem Anderson e Wakeman. Tanto Downes quanto Trevor eram fãs assíduos do Yes, sendo que nos tempos vagos, a dupla brincava interpretando canções como "Long Distance Runaround", "Roundabout", "Sweet Dreams", "Survival" e outras. Com a sorte batendo ao lado, tomaram coragem e bateram nas portas do estúdio do Yes, onde foram recebidos por Chris Squire (baixo, vocais), Steve Howe (guitarra, vocais) e Alan White (bateria).

A aproximação entre Yes e The Buggles começou tímida, com a dupla oferecendo uma canção para o trio remanescente, chamada "We Can Fly from Here". A ideia era tentar ampliar o nome The Buggles através de um grande nome do rock progressivo. Porém, Brian Lane, que era o empresário de ambas as bandas na época, sugeriu a Squire que convidasse a dupla para ingressar no Yes. Surgia assim a formação mais temida pelos fãs do grupo, com Trevor Horn (vocais), Geoff Downes (teclados, efeitos), Steve Howe (guitarras, voz), Chris Squire (baixo, voz) e Alan White (bateria).


Drama, o LP do Yes/Buggles
O Yes entrou em estúdio com a nova formação, e a imprensa batizando a mesma de Yes/Buggles. De lá, em 22 de agosto de 1980, saíram com o álbum Drama. Os comentários sobre as canções desse álbum fogem do escopo pretendido nessa matéria, mas em breve tratarei do mesmo aqui no Baú do Mairon. Apenas resumindo a ópera, é um dos melhores trabalhos do Yes, destacando um trabalho forte dos teclados de Downes e da pesada distorção empregada por Howe na guitarra. Canções como "Machine Messiah" (e um dos riffs mais pesados da história do progressivo), "Into the Lens", "Does it Really Happen?" e "Tempus Fugit" são dignas de nota 10 em termos de composição, e mesmo sendo um álbum diferente dos clássicos Fragile (1971), Close to the Edge (1972), Tales from Topographic Oceans (1973) e Relayer (1974), está no mesmo nível dos mesmos.

Single de "Into the Lens"
Drama atingiu a segunda posição no Reino Unido, e a décima oitava nos Estados Unidos. O single de "Into the Lens", com seus mais de oito minutos, foi lançado em uma edição limitada em vinil de 12 polegadas. Posteriormente, uma versão editada com apenas quatro minutos chegou as lojas. Essa foi a segunda canção do The Buggles a ser apresentada para o Yes, originalmente com o nome de "I Am a Camera". Já "We Can Fly from Here" ficou de fora do vinil, mas foi apresentada na turnê do mesmo.

Apesar do sucesso comercial de Drama, o bicho começou a pegar nas apresentações da nova formação. A fraca presença de palco de Trevor, bem como a visível distinção de tonalidades de voz entre ele e Anderson, levaram os fãs a vaiar o grupo quando da apresentação de clássicos da era Anderson. Mesmo tendo o apoio da gravadora e dos próprios Howe, Squire e White, a pressão da mídia e dos fãs (principalmente na Inglaterra) foi tão grande que derrubou Trevor do posto de vocalista após o término da turnê de Drama, em 1981. O Yes encerrou suas atividades enquanto Downes e Trevor voltaram-se para a conclusão do segundo álbum, que ficou estacionado durante o período Yes/Buggles.


Yes/Buggles: Steve Howe, Alan White, Geoff Downes, Chris Squire e Trevor Horn
A dupla retomou canções que não foram aproveitadas pelo Yes ou que ainda estavam em processo de composição, e entrou nos estúdios novamente. Mas, Downes decidiu abandonar o projeto, alegando diferenças musicais com Trevor e indo fundar o Asia ao lado de Howe, John Wetton (baixo, vocais) e Carl Palmer (bateria). Trevor decidiu concluir o álbum, chamando diversos novos parceiros para ajudá-lo, entre eles, o tecladista John Sinclair.
O último LP do The Buggles

Em 11 de novembro de 1981, chegava as lojas o segundo álbum do The Buggles, Adventures in Modern Recording, através também de uma nova gravadora, a Carrere Records. Bem diferente do álbum de estreia, Trevor adotou ritmos e efeitos inovadores para as novas canções, e teve a ajuda de Squire para a produção e criação de várias partes instrumentais das canções do álbum.


Single de "Adventures in Modern Recording"
"Adventures in Modern Recording" abre o LP com o barulho de público, sintetizadores e bateria fazendo a introdução, para Trevor cantar com o acompanhamento da bateria eletrônica de Sinclair. O refrão conta com a participação dos backing vocals de Squire (Yes) e o solo central, com muitos sintetizadores e eletrônicos, tem como destaque Simon Darlow na guitarra, em uma canção dançante e muito próxima ao que o Asia faria meses depois.





Single de "Beatnik"
Depois, "Beatnik" surge com Trevor cantando a estrofe central a capela, para guitarra, sintetizadores e bateria comandarem o ritmo rock/reggae anos 80 (uma espécie de Oingo Boingo), com um grudento refrão entoando o nome da canção. Nessa canção, temos a participação de Downes, Sinclair (agora na guitarra), Anne Dudley (teclados) e Louis Jardim (percussão), e o momento principal é o solo de Downes.

A viajante "Vermilion Sands" tem a bateria eletrônica trazendo a voz de Trevor, com Downes comandando os sintetizadores enquanto Trevor toca guitarra. O refrão é bem característico para a época. A canção modifica-se na sua metade final, com Downes executando um bom solo sobre um andamento jazzístico dos sintetizadores, que depois de passos e uma porta fechando transforma-se em uma big-band de sintetizadores, além do baixo e bateria eletrônica, fazendo um jazz anos 30 para acompanhar o solo de clarinete-sintetizado.

Single de "I Am a Camera"
O lado A encerra com "I am a Camera", a versão original de "Into the Lens", onde o piano entra no conhecido tema central registrado pelo Yes, trazendo os vocais de Trevor na mesma melodia do que está registrado em Drama mas com pequenas diferenças na letra. É claro que não da para comparar uma com a outra, principalmente pela forte predominância dos eletrônicos na versão do The Buggles, mas não da para negar que a levada dançante é perfeita para uma festa anos 80, ou seja, temos uma boa canção feita pela dupla Horn/Downes, fechando o lado A sendo impossível não cantar a frase que dá nome a canção.

Single de "On TV"
"On TV" abre o lado B na mais pop das canções deste álbum, recheada de bateria eletrônica e vocalizações que cantam o nome da canção. Assustadora! Para passar longe e digna de apenas uma única audição. Para registro apenas, participam da mesma Simon Darlow (guitarra, teclados), Sinclair (programação, vocais) e Bruce Wooley (voz)

"Inner City" possui o mesmo time de "On TV", apenas sem Bruce, em mais uma canção repleta de eletrônicos, mas não assustadora quanto sua antecessora. O andamento desta é mais sombrio, saindo de alguma tumba aberta pelo New Order, e com uma das melhores melodias vocais dentro do pop que está sendo apresentado nessa sessão, além do bom arranjo de teclados feitos no refrão.

Single de "Lenny"
Downes volta a participar de "Lenny", ao lado de, Rod Thompson (teclados), Danny Schogger (teclados) e Trevor, em mais  uma gigantesca bomba, cujo único comentário é o interessante clima new age, e nada mais.

Por fim, "Rainbow Warrior" começa com vento e barulhos de flauta trazendo os teclados de Simon. Trevor canta suavemente, tendo o acompanhamento do teclado. A bateria eletrônica e os sintetizadores entram na canção, marcando o tempo para uma pop-balad com guitarras sintetizadas, que se fosse melhor trabalhada, poderia ser a melhor canção do álbum, principalmente pelo bom início da mesma. Destaque para o solo de guitarra e para Trevor mostrando seus dotes de baixista durante boa parte da canção.

Cinco singles foram extraídos do LP: "I Am a Camera" / "Fade Away", lançado em outubro de 81; "Adventures in Modern Recording" / "Blue Nylon"; "On TV" / "Fade Away"; "Lenny" / "Blue Nylon" e "Beatnik" / "Fade Away", todos de fraco desempenho nos charts britânicos. "Adventures in Modern Recording", lançado em janeiro de 82, ainda alcançou a posição 27 na Itália, e os demais, viraram suporte de poeira nas lojas.

O LP foi relançado no Japão em CD, no ano de 1993, pela Jimco Records. Em 97, mais um relançamento, agora pela gravadora Japanese Flavour of Sound, e tendo três bônus: "Fade Away"; "Blue Nylon" e a versão do single para "I Am a Camera". Em 15 de fevereiro de 2010, a Salvo Records lançou Adventures in Modern Recording em uma edição especial com mais 10 faixas bônus: as três do lançamento de 97 mais "We Can Fly From Here - Part1", "Dion", "Videotheque", "On TV", "Walking on Glass", "Riding a Tide" e "We Can Fly From Here - Part 2".

A performance também foi muito fraca no reino Unido, atingindo a posição 50 na Suíça e a baixíssima 161 nos Estados Unidos. Apesar do investimento em "I Am a Camera", que inclusive ganhou um vídeo-clipe com outra grande produção, de onde Trevor surge de dentro dos óculos que marcou sua carreira, minúsculo, e desenvolvendo o filme com muitos efeitos especiais, como espelhos móveis, muitas lentes e imagens de óculos aparecendo, imagens projetadas em câmera lenta e tendo Trevor como único personagem da canção, Trevor viu o fundo do poço, e decretou o fim do The Buggles.

Trevor em seu estúdio particular (1987)

Assim, partiu para uma carreira de produtor musical, onde inclusive veio a trabalhar novamente com o Yes, produzindo o aclamado 90125 (1983) e também Big Generator (1987). Trevor se tornou um dos mais conceituados produtores da música, trabalhando com nomes fortes como Paul McCartney, Tina Turner, Seal, Cher, Pet Shop Boys, Jeff Beck e Belle & Sebastian.


Downes fez carreira com o Asia, sendo o único a permanecer em todas as formações do grupo, que também conquistou primeiro lugar nas paradas de diversos países principalmente com seus dois primeiros álbuns: Asia (1982) e Alpha (1983). Além disso, teve participação especial no álbum GTR (1986), projeto entre Steve Howe, Steve Hackett e outros membros.


Downes e Trevor (1981)
Depois de 16 anos, em 3 de dezembro de 1998, a primeira apresentação oficial do The Buggles ocorreu, isso graças a uma breve reunião entre Downes e Trevor, sendo acompanhados por Tessa Nilesnos backing vocals e também pelo grupo The Marbles, formado por Jonathon McGlynn (baixo), Seamus Simon (bateria) e Justin Whelan (guitarra). A apresentação surpresa ocorreu exatamente durante um show do The Marbles, com Trevor e Downes subindo ao palco para interpretar "Video Killed the Radio Star".

Em 2004, o trio original reuniu-se pela primeira vez em 24 anos, durante um concerto beneficente para a Prince's Trust Charity, que homenageou a carreira de Trevor. O vocalista/baixista, ao lado de Downes, Bruce Woolley, Paul Robinson, Debi Doss e Linda Jardim, interpretou "Video Killed the Radio Star" e "Living in the Plastic Age".

Já em 2006, Trevor fundou o The Producers, ao lado de Lol Creme (guitarra, vocais), Steve Lipson (guitarra), Chris Braide (teclados, vocais) e Ash Soan (bateria), cujo primeiro álbum está programado para ser lançado em 2011. Em 2009, Trevor produziu o álbum Reality Killed the Video Star, do cantor Robbie Williams, que foi uma homenagem ao primeiro grande single do The Buggles, com os dois interpretando a canção no BBC Electric Proms, em 20 de outubro daquele ano.

Trevor em 2004

Em 28 de setembro de 2010, depois de 30 anos do sucesso de "Video Killed the Radio Star", o The Buggles se reuniu para realizar a primeira apresentação de longa duração da história do grupo, no Ladbroke Grove's Supperclub, em Notting Hill. O dinheiro arrecadado foi doado para o Royal Hospital for Neurodisability. No palco, Downes, Trevor e Wooley interpretaram The Age of Plastic na íntegra, e com convidados, canções como "Rubber Bullets" (com Lol Creme, do 10cc), "I'm Not in Love" (com Chirs Braide), "Slave to the Rhythm" (com Alison Moyet), "Hard to Handle" (Gary Barlow) e Richard O'Brien interpretando "Johnny on the Monorail". Este show, que teve a abertura de outro grupo seminal do pop britânico, o Orchestral Manoeuvres in the Dark, encerrou com um grande encore, com todos cantando "Video Killed the Radio Star" tendo o vídeo promocional projetado ao fundo.
 

quinta-feira, 28 de abril de 2011

Maravilhas do Mundo Prog: Socrates Drank the Conium - Wild Satisfaction [1975]



Se o Esperanto transformou uma pérola dos Beatles em uma maravilha prog, outro grupo obscuro da Europa conseguiu fazer o mesmo, mas agora com uma pérola dos Rolling Stones. A tarefa dessa vez coube aos gregos do Socrates Drank the Conium, que fizeram de "(I Can't Get No) Satisfaction" uma venenosa pedrada na cara, rebatizada com o auto-explicativo nome de "Wild Satisfaction".

O Socrates Drank the Conium foi formado em Atenas no ano de 1969. Faziam parte da formação inicial Αντώνης Τουρκογιώργης (Antonis Tourkogiorgis, baixo, voz) e Γιάννης Σπάθας (Yannis Spathas, guitarras). A dupla contou com diversos bateristas no começo, mas fixou-se posteriormente com Ηλίας Μπουκουβάλας (Elias Boukouvalas). Tendo nascido no auge da ditatura grega, o trio tocava um hard próximo ao Experience de Jimi Hendrix, mas sofria com a repressão do governo grego, que não permitia o lançamento de álbuns britânicos no país (fato que até hoje é satirizado nas lojas de discos da Grécia).

O grupo instalou-se como atração de diversos pubs de Atenas e arredores, fazendo constantes apresentações nos bares da Victoria Square e também nas convencionais casas noturnas do tradicional bairro de Plaka, onde consagraram-se na boate Kyttaro. Os rivais do Socrates eram os grupos Poll, Morka e Exidaktilos. Os dois primeiros apresentavam-se com força no Elaterion, enquanto o último dividia as atenções no Kyttaro.


Rara compilação ao vivo com participação do Socrates Drank the Conium

Mas a rivalidade era sadia, e ambas assistiam uma a outra, com todas pagando geral para o Socrates, que era considerada a melhor banda da Grécia (batendo o famoso Aphrodite's Child, na época ainda instalado na França). As apresentações no Kyttaro tornavam-se cada vez mais atrativas, com o grupo interpretando covers e composições próprias, levando o dono do local a gravar vários shows, que foram compilados no raríssimo LP Η ποπ στην Αθήνα: Ζωντανοί στο Κύτταρο ("O Pop de Atenas: Ao Vivo no Kyttaro"), lançado em 1971.

Álbum de estreia do Socrates Drank the Conium

Logo após o lançamento de Η ποπ στην Αθήνα, o guitarrista Johnny Lambizzi entrou para ampliar a formação do Socrates, ficando até meados daquele ano. Lambizzi acabou saindo pouco antes da gravação do primeiro LP do grupo.

Lançado ainda em 1972, Socrates Drank the Conium é uma mistura inexata de elementos psicodélicos, hard setentista e incursões progressivas, que tem como destaque as pérolas "It's a Disgusting World", "Starvation" e "Blind Illusion". Com a mesma formação, fizeram uma série de shows, e então resolveram experimentar nos estúdios, adicionando principalmente efeitos na guitarra e no baixo, o que foi impresso nos sulcos do segundo álbum da banda, Taste of Conium.

O trio que gravou nossa maravilha: Tourkogiorgis, Spathas e Boukovalas

Esse segundo LP não é tão hard quanto o álbum de estreia, e às vezes nos faz pensar que não estamos ouvindo a mesma banda, o que podemos comprovar na faixa que abre o LP, exatamente a maravilha dessa semana. O grupo transformou o clássico dos Stones, adicionando solos ácidos, virtuosismo exacerbado e improvisações alucinantes que obrigatoriamente transformaram o nome da canção, que dos Stones tem apenas a letra e o riff original.

O grupo injetou o veneno de seu nome em treze minutos de insanidade instrumental, começando com o tradicional riff da guitarra, seguido pelo baixão estourando nas caixas e a bateria punk de Boukovalas. Tourkogiorgis começa a cantar a letra dos Stones, e os primeiros minutos são muito parecidos com a versão original, apenas mais pesada.

É com dois minutos que o bicho começa a pegar. Com Tourkogiorgis cantando "just a little satisfaction, can you give me satisfaction", a velocidade da canção aumenta, até diminuir o ritmo para o riff cavalgante de baixo e guitarra. A bateria passa a ser executada apenas nos tons, e Tourkogiorgis cria uma nova letra para a canção, com muitos gemidos e gritos, que levam para o solo de Spathas, com muitos bends, arpejos e a distorção que caracteriza o som do Socrates nessa época.

Estamos saindo de algum álbum psicodélico dos anos 60, com baixo e bateria sendo os cães de guarda para as viajantes escalas da guitarra, em um longo solo que culmina com o solo de baixo, sem muita criatividade, mas destacando a forte distorção aplicada no instrumento. Tourkogiorgis cria um ritmo próprio, solando sozinho, e depois deixando espaço para o belíssimo solo de Boukovalas. 

Depois da loucura feita por Boukovalas, a barulheira toma conta com Tourkogiorgis destruindo as cordas do baixo em uma brutal batalha com a bateria de Boukovalas enquanto um alucinado Spathas arranca as cordas de sua guitarra em alavancadas, bends, longas notas e o wah-wah rasgando notas apavorantes, no êxtase da música, que atinge seu orgasmo com um melodioso solo de guitarra em um ritmo suave de baixo e bateria, que vai ganhando ritmo com o passar do lindo solo de Spathas, encerrando essa maravilha em uma lisérgica retomada do riff principal e o entoamento do nome da canção por Torkogiorgis. 


Último LP como Socrates Drank the Conium

Elias deu lugar para Γιώργος Τρανταλίδης (Giorgos Tradalidis), e Κώστας Δουκάκης (Kostas "Gus" Doukakis) assumiu as seis cordas ao lado de Spathas.  o quarteto lançou mais um LP, On the Wings (1973), com uma sonoridade diferente dos anteriores, bastante pesado e influenciado pelo hard britânico da época, perdendo a veia progressiva existente principalmente no segundo álbum do grupo. 

Excelente álbum com Vangelis


Em 1976, mudaram novamente seu estilo e também o nome do grupo, agora batizado apenas como Socrates, no maravilhoso álbum Phos, talvez o melhor trabalho do grupo, que  com uma forte incursão pelo progressivo, contava com Spathas, Torkogiorgis, Tradalidis e também o renomeado Vangelis nos teclados. Ali, pérolas como "Every Dream Comes to an End" e a excepcional "Mountains" aguardam suas oportunidades de brilharem aqui na Consultoria do Rock. Mas eu não podia falar dessas maravilhas sem antes comentar a maravilhosa "Wild Satisfaction", principalmente pelo fato de o nome da banda já ser outro na época de Phos.

Socrates em 1980
Depois de quatro anos no retiro, voltaram em 1980 como um quinteto, tendo Spathas, Torkogiorgis, Yiorgos Zikoyiannis (baixo), Pavlos Alexiou (teclados) e Nikos Antypas (bateria), ainda no progressivo, mais próximo ao progressivo da cortina de ferro, lançado o LP Waiting for Something (1980). Zikoyiannis e Alexiou saíram, e o trio remanescente gravou Breaking Through (1981), além do ao vivo Plaza (1983), tendo também o guitarrista Louis Bertigmar. Uma rápida pesquisada em lojas on line pode ser feita para avaliar quão raro são os valores desses LPs, em média acima dos 60 dólares.

Socrates em 1999

O grupo se reuniu em 1999 como quinteto, tendo Spathas, Tourkoyorgis, Makis Gioulis (bateria), Asteris Papastamatakis (teclados) e Markela Panagiotou (vocais), gravando o ótimo ao vivo Live '99, e se mantém nos dias de hoje fazendo shows e excursionanando pelo sul da Grécia e também pela Macedônia, Bulgária e Romênia, aplicando uma sonoridade pesada ao mais denso e inovador progressivo da terra do filósofo Socrates.

segunda-feira, 25 de abril de 2011

Paice Ashton Lord




Depois do fim do Deep Purple Mark IV, em 1976, cada integrante partiu para um projeto diferente. Daquele time, formado por Glenn Hughes (baixo, voz), David Coverdale (voz), Tommy Bolin (guitarra, voz), Jon Lord (teclados) e Ian Paice (bateria), os três primeiros partiram para uma carreira solo de diferentes proporções, com Bolin sendo levado pelas drogas em 4 de dezembro de 76, Hughes lançando Play Me Out (1977) e ficando um bom tempo no ostracismo e Coverdale fundando o Whitesnake, onde posteriormente Lord e Paice trabalhariam.

Antes, os dois participaram de um projeto que durou apenas alguns meses, mas foi o suficiente para gravar um álbum, fazer uma turnê e deixar os fãs do Deep Purple alvoroçados com o estilo swingado e dançante deste novo grupo, batizado de Paice Ashton Lord.

Apesar do nome ser de um trio, com Ashton referindo-se ao tecladista/vocalista Tony Ashton, o Paice Ashton Lord na verdade era um quinteto, contando ainda com Bernie Marsden nas guitarras e vocais, e Paul Martinez no baixo. A sonoridade funkeada, puxada para o estilo Motown, agregava ao currículo de Paice e Lord estilos bem diferentes do que a dupla participou no Deep Purple, até mesmo do álbum Come Taste the Band, o que talvez seja um pouco mais próximo ao trabalho do quinteto.

O primeiro encontro de Lord com Ashton ocorreu em 1970, durante um show do Deep Purple em Londres. Naquela época, Ashton pertencia ao trio Ashton, Gardner and Dyke, com quem gravou dois álbuns: Ashton, Gardner and Dyke (1969) e The Worst of Ashton, Gardner and Dyke (1970). Do encontro com Lord, Ashton acabou sendo convidado para participar da trilha do filme The Last Rebel, a qual foi composta por Lord e teve na performance o trio Ashton, Gardner and Dyke, juntos de Lord e a Royal Liverpool Orchestra.

Álbum de Jon Lord e Tony Ashton
Ashton lançou o terceiro disco com o trio, What a Bloody Lona Day it's Been (1972), indo parar no Family, com quem registrou o álbum It's Only a Movie (1973). No ano seguinte, voltou a se encontrar com Lord, participando do projeto First of the Big Bands, que foi lançado em vinil no mesmo ano. Antes, ele já havia participado de dois álbuns solos de Lord: Gemini Suite (1971) e Windows (1974). Em março de 76, Lord reativou seu contato com Ashton, agora com a finalidade de montar um grupo na linha soul da fase de Jeff Beck.

Anúncio em busca de músicos para o novo grupo
Ashton concordou, desde que o baterista fosse Ian Paice, o que não foi difícil de convencer. O próximo passo era achar um guitarrista e um baixista. Através de um anúncio em jornais ingleses, o qual continha a seguinte mensagem: "Banda britânica procura baixista e guitarrista britânico para formar um novo grupo de rock junto de três músicos bem estabelecidos", surgem os nomes de Paul Martinez e Bernie Marsden. 

Martinez estava trabalhando no grupo Stretch, enquanto Marsden era o guitarrista principal do Babe Ruth,  onde gravou os álbuns Stealin' Home (1975) e Kid's Stuff (1976), e tendo sido protagonista da entrada de Michael Schenker no UFO, já que um problema com seu passaporte não permitiu a entrada do guitarrista na Alemanha, onde o UFO estava fazendo uma turnê, e assim, Schenker o substituiu para conquistar o mundo com o álbum Phenomenon (1974). Com o UFO, Marsden gravou o single "Give Her the Gun"  (1973) e depois,  ainda participou do Cozy Powell's Hammer, gravando o single "Na Na Na" (1974) e  também do Wild Turkey, onde registrou o álbum Don't Dare to Forget (1974).

O único registro de Paice Ashton Lord
Os ensaios logo começaram, bem como os shows, sendo a estreia oficial de Paice Ashton Lord no dia 21 de agosto de 76. Em 20 de setembro, já estavam no Musicland Studios de Munique, de onde saíram em 30 de outubro com o único álbum do grupo. Contando com a participação de Howie Casey (saxofone, ex-Wings), Dave Caswell (trompete, trombone, flugel horn), Reg Brooks (trombone), Gilbert Dall'enese (saxofone, clarinete), Sheila McKinley e Janette McKinley (vocais), Malice in Wonderland foi lançado em 04 de março de 1977, e é uma mistura perfeita dos timbres do órgão de Lord com os teclados de Ashton, sendo suportados pela excelente cozinha formada por Marsden, Paice e Martinez.

O álbum abre com "Ghost Story", onde o órgão de Lord e ventos são seguidos pela levada de baixo, guitarra e bateria. Ashton adiciona teclados, trazendo os vocais de Ashton. Os metais modificam a canção, fazendo um tema que nos leva ao baixo funkeado, enquanto a cadência de Paice também muda. Os metais então entoam o tema central, para o órgão voltar aos acordes iniciais e a sequência da letra.

A seguir, "Remember the Good Times" apresenta o riff Motown da guitarra de Marsden, acompanhado por Paice e Martinez, enquanto Lord e Ashton fazem os acordes nos teclados, trazendo os vocais de Ashton. Os vocais femininos aparecem no refrão,  bem como os metais, e os embalos funk seguem durante o resto da canção, destacando o solo de Marsden, acompanhado pelo bom arranjo de metais.

Bernie Marsden
A balada Motowniana "Arabella (Tell Me)"  possui piano elétrico, baixo e bateria acompanhando os vocais femininos em um clima suave, transformando-se com a entrada dos vocais e dos acordes com efeitos da guitarra de Marsden. O solo central é feito por Casey, com uma bela participação do baixo, fazendo um bom e swingado andamento.

"Silas & Jerome" vem a seguir, com o riff marcado do órgão, guitarra e baixo, e com Paice acompanhando em batidas cadenciadas durante a introdução dessa que é a canção mais Deep Purple do álbum, bem similar as linhas da Mark IV. Os metais também estão presentes fazendo acordes entres as pontes das estrofes, e acompanhando o ótimo solo de Marsden.

Por fim, "Dance with my Baby" apresenta acordes de piano em um rock anos 50, que seguidos por um tema dos metais e um dançante boogie, encerra o lado A com o ânimo lá em cima, destacando as vocalizações de Marsden e o coral feminino.


Contra-capa de Malice in Wonderlan

"On the Road Again" abre o lado B com o swing de Paice apresentando o tema dos sintetizadores, e a guitarra é responsável pelos acordes funkeados que trazem os vocais de Ashton e Marsden, em uma canção similar as do Trapeze na era Hot Wire. A sessão instrumental possui um bom solo de Marsden, levado pelo andamento swingado de Paice e Martinez, voltando ao andamento original e ao encerramento da letra, fechando a canção com um bom solo de flugel horn.

Ashton e Lord abrem "Sneaky Private Lee" com seus teclados, e um crescendo da bateria leva para a entrada de baixo e guitarra, em uma levada cavalgante e swingada. Os metais introduzem a voz de Ashton, cantando suavemente, com as vocalizações femininas presentes no refrão, e com Paice sendo o centro das atenções, em um acompanhamento recheado de viradas. Marsden, solando com o slide, também chama a atenção do ouvinte, vivendo os gloriosos momentos que o lançariam posteriormente no Whitesnake.

Jon Lord, Paul Martinez e dupla de voz feminina
A bela "I'm Gonna Stop Drinkin'" começa com o dedilhado do piano apresentando essa linda balada bluesística, onde Ashton canta tristemente, acompanhado por baixo, bateria e os acordes de piano. Sintetizadores e guitarra são adicionados aos poucos, chegando ao belo refrão, com as vocalizações femininas e os vocais de Marsden dando mais sentimento aos tristes vocais de Ashton. O solo de hammond feito por Lord é o maior momento da canção.
A faixa-título "Malice in Wonderland" encerra o LP com sintetizadores e batidas no chimbal acompanhando a guitarra de Marsden, e o funk é liberado com a entrada do baixo e do órgão fazendo o tema central. Os vocais roucos de Ashton encaixam-se perfeitamente na proposta funk da canção, e a sessão central é muito bem construída, encerrando o LP com um show de Ashton no piano e de Lord no hammond.

O nome do álbum, Malice in Wonderland, surgiu quando o grupo estava hospedado no hotel Arabella, em Munique, e presenciou a um americano bêbado que tentava pronunciar o nome do filme Alice in Wonderland (Alice no País das Maravilhas). Ashton compôs grande parte das letras do LP, que teve a produção de Martin Birch, o qual já havia trabalhado nos principais álbuns do Deep Purple.

Depois de gravado Malice in Wonderland, começou a produção do palco para a turnê de divulgação do mesmo, bem como a gravação de um documentário sobre a banda. O grupo decidiu por excursionar apenas pela Inglaterra, fazendo a estreia no programa Sight & Sound In Concert, da BBC inglesa, no dia 19 de março de 77. Uma semana depois, já estavam nos palcos de Birmingham, tendo como banda de abertura o grupo Bandit. Dos shows, destacavam-se os duelos entre Lord, Ashton e Marsden, bem como a sensacional participação do naipe de metais. 

Ian Paice, Tony Ashton, Bernie Marsden, Jon Lord e Paul Martinez

Após a curta sequência de shows, voltam para a Alemanha, onde começam a gravar o segundo álbum. Com 75% do material finalizado, sem nenhum motivo aparente Lord e Ashton decidiram não tocar mais o projeto adiante. Marsden ingressou no Whitesnake enquanto Lord, Paice e Martinez acompanharam a vocalista Maggie Bell. Lord e Paice acabariam integrando o Whitesnake meses depois, enquanto Martinez seguiu carreira como músico de estúdio, tocando ao lado de Robert Plant, Peter Gabriel, Dave Edmunds e George Harrison, sendo o baixista do Led Zeppelin na reunião no Live Aid de 1985, ao lado de Jimmy Page, Robert Plant e John Paul Jones. Já Ashton seguiu carreira como produtor, vindo a trabalhar posteriormente com Lord no álbum solo Before I Forget (1982).

Jon Lord e Tony Ashton (1990)

Paice Ashton Lord foi um dos grandes projetos da música. Mesmo não sendo considerado um super-grupo como West Bruce & Laing ou Blind Faith, o registro de Malice in Wonderland é suficiente para fazer valer as doletas a serem investidas nesse fantástico álbum. Em 1992, foi lançado o álbum BBC Radio 1 Live in Concert, trazendo a apresentação do grupo no programa Sight & Sound, e em 2007, foi lançado o DVD de mesmo título, trazendo a apresentação na íntegra

Ian Paice

O relançamento em CD de Malice in Wonderland contou com uma remasterização da obra original e mais trinta minutos de material inédito, onde estão incluídas algumas faixas que pertenceriam ao segundo álbum da banda, como "Steamroller Blues", "Black and White", "Goodbye Hello LA", "Ballad of Mr. Giver", "Dance Coming", "Untitled Two", "Nasty Clavinet" e "Moonburn", essas quatro últimas sem a adição dos vocais. As novas faixas mostram que o novo álbum prometia, com uma sonoridade ainda mais funkeada do que o álbum de estreia.

Ashton faleceu em 28 de maio de 2001. Lord por sua vez curte sua aposentadoria, enquanto Paice ainda está na ativa com o Deep Purple. Martinez segue como músico de estúdio e Marsden dedica seu tempo para a carreira solo, unindo-se vez que outra com seus ex-companheiros de Whitesnake para eventos e shows promocionais.
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