Mostrando postagens com marcador The Who. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador The Who. Mostrar todas as postagens

sexta-feira, 19 de maio de 2023

Pete Townshend - A Autobiografia [2012]



Lançado em 2012, A Autobiografia de Pete Townshend é uma das grandes obras referentes ao músico do The Who, um dos mais brilhantes e geniais de seu tempo, e que está completando 78 anos nesse 19 de maio. Temos uma aula de como contar sua vida sem remorsos ou escondendo algo. Ao longo de três atos, compostos no total de 32 capítulos, Pete nos conta sobre diversas curiosidades, novidades, e não foge das polêmicas, e principalmente, mostra sem ressentimentos qual a sua postura e posição sobre o The Who, afirmando que ele era a alma criativa da banda, mas quem mandava mesmo era Roger Daltrey.

No primeiro ato, chamado Música de Guerra, Pete conta as memórias de sua infância, como aprendeu a tocar, a formação do The Detours, mundo para The Who, até chegar na explosão de Tommy (1969), reconhecidamente o álbum mais importante dos ingleses. Do ponto de vista pessoal, ele narra sobre o difícil relacionamento entre seus pais (o pai músico, a mãe uma bêbada inverterada), os complicados dias ao lado da avó materna, uma pessoa com problemas diversos, as primeiras experiências com música, inicialmente tocando gaita, até chegar a guitarra e montar sua primeira banda aos 12 anos, conhecendo John Entwistle pouco tempo depois. Pete revela que detestava Elvis, mas amava Pink Floyd, conta com detalhes sua entrada no The Detours, ganhando a vaga por saber tocar "Man of Mistery" do The Shadows, e claro, suas primeiras relações sexuais também são narradas, já entrando para a Escola de arte, um momento importante na formação de Pete. O The Who vem em 1964, e na dificuldade de encontrar um baterista (até Mitch Mitchell fez teste para a banda), eis que surge Keith Moon. A admiração de Pete pelo estilo de tocar de Entwistle aparece ao mesmo tempo que surgem as primeiras composições emblemáticas da banda, no caso "I Can't Explain", "My Generation", "Substitute" e "I'm a Boy". É o Who fazendo sucesso na Europa, apresentando-se pela Escandinávia, e chegando aos Estados Unidos. 

Vem então a apresentação do Monterey de 1967, com o famoso duelo entre ele e Hendrix, com ele confessando que sempre se achou abaixo de Hendrix, o famoso incidente no Holliday Inn, onde Keith Moon jogou uma limousine na piscina do hotel durante o seu aniversário de 21 anos, o momento em que se torna um seguidor de Meher Baba, e claro, muitos detalhes da criação de Tommy, chegando então ao show de Woodstock, que Pete acha não ser tão sido tão bom quanto se fala, e as gravações que levaram a Live at Leeds, com Pete lamentando ter pedido a queima de diversas gravações feitas naquela turnê simplesmente por não ter gostado das mesmas, algo que no livro ele reconhece como sendo uma atitude infantil e egoísta.

Este ato 1 do livro é muito interessante, e o mais longo dos atos, com 160 páginas. Ele nos mostra como a formação pessoal de uma criança e um adolescente acaba refletindo e muito na sua vida. Pete não era uma criança das mais felizes e em uma família estável, e sofreu alguns problemas com outros meninos de sua idade, principalmente na escola, mas nada disso se comparara a dramática vida do pequeno Pete ao ir morar com a avó Denny aos seis anos, principalmente por sofrer assédio moral e sexual, o que impactou no seu tardio relacionamento com meninas, e que é o único momento em que Pete trata com bastante cuidado, sem se aprofundar em detalhes. Outro fato que me chamou muita atenção é como o pessoal do Who, Stones, Kinks, Hendrix e Yardbirds eram próximos e amigos, e como a relação com os Beatles era bastante distante.

O ato 2, intitulado "Um Homem Muito Desesperado", cobre o período dos anos 70 e 80. Ele traz o artista envolvido em drogas, bebidas, casos amorosos, problemas em casa e muito afim de largar o The Who, além das criações de obras atemporais como Who's Next e Quadrophenia (ele passou um dia na beira do mar gravando os sons que estão no álbum), bem como o fracasso de Lifehouse (projeto que acabou abortado pela banda). Dos shows, Pete traz detalhes de sua prisão nos Estados Unidos, por ter agredido um policial durante um show no Fillmore East, compartilha as dificuldades que Keith Moon passou a ter em tocar nas apresentações, e também nos estúdios, como ficou surdo do ouvido esquerdo durante uma apresentação em Nova Iorque em 1976, e narra com emoção a apresentação de Tommy no Berkeley Community de 1969. A ajuda para Clapton livrar-se das drogas também é narrada sem deixar nada escondido, assim como os complexos momentos junto a um doente Ronnie Lane, com quem gravou o álbum Rough Mix (1976). 

Pessoalmente, Pete conta sua longa batalha contra o álcool, e mostra um grande arrependimento por demorar muito tempo a parar com a bebida, e como isso influenciou muito no seu relacionamento com a esposa e filhas e conta que para ele a perda de Moon não foi tão impactante, mas isso abalou Daltrey de uma forma que o Who não conseguiria mais seguir, mesmo com Kenney Jones na bateria. As brigas só aumentaram, levando então a Pete desistir de seguir com a banda, já em 1982. Por fim, Pete encontra-se como editor da Faber, um papel que foi muito importante inclusive para a conclusão da obra aqui apresentada. É um ato bem mais pessoal, que revela ao fã como fama e sucesso não são conquistados sem muitas coisas que são perdidas. 

No terceiro e último ato, Tocando Para os Deuses, ele já abre narrando um acidente de bicicleta que quase o impediu de tocar guitarra, já nos anos 90, e começa a investir bastante em sua carreira solo, principalmente na obra Iron Man e no projeto Psychoderelict, discos solo que são comparados a grandes discos do The Who. A separação da esposa Karen, e seu novo casamento com a musicista Rachel Fuller estão apresentados, deixando como curiosidade que Karen não está citada no final do texto. O momento tenso de "quase" prisão por pornografia infantil também é contado mostrando uma riqueza de detalhes, e sem se deixar intimidar por algo tão difícil e polêmico como este assunto. A perda de Entwistle choca a Pete, e também certamente é mais um momento de grande emoção para o leitor, e por fim, o retorno com o The Who ao lado de Daltrey só mostra o quanto essa dupla é fundamental para a história da música.

O livro ainda traz como apêndice uma carta enviada por uma fã para Pete em 1967, e que ele nunca havia aberto, Coda, Agradecimentos, Posfácio, Fotos e Índice Remissivo. Apesar das 488 páginas, o livro é de uma fácil leitura, com capítulos curtos, e bastante envolvente. Pete parece um vovô sentado na poltrona contando sua história para os netos e amiguinhos, e o leitor certamente sente-se muito confortável ao passar pelo livro. Claro, isso também é méritos de um artista que também é escritor em sua carreira, e que despede-se dizendo "não quero romantizar a mim mesmo ou minha vida, quero fazer exatamente o contrário ... Espero que vocês tenham gostado deste livro". Sim Pete, gostei muito. Recomendadíssimo, e mais, obrigatória a leitura desta Autobiografia para todos os fãs do The Who ou de música em geral. 

quarta-feira, 7 de setembro de 2022

Cinco Discos Para Conhecer: Nicky Hopkins



Poucos são os músicos que conseguiram, ao longo de sua carreira, ter registrado sua marca em álbuns de monstros como The Rolling Stones, The Who, Jeff Beck, John Lennon, George Harrison, Ringo Starr e Paul McCartney, só para citar alguns. Nascido no dia 24 de fevereiro de 1944, Nicholas Christian Hopkins, ou simplesmente Nicky Hopkins, foi um dos maiores nomes do piano em todo o cenário da música. Ao longo de uma vasta carreira, o rapaz acompanhou gigantes do porte de Art Garfunkel, Joe Cocker, Carly Simon, Rod Stewart e Cat Stevens, além de vários outros nomes que tiveram canções emblemáticas contando com os dedos ágeis de Hopkins. 

Falecido em 6 de setembro de 1994 (portanto há 28 anos), vítima de complicações por conta de uma cirurgia no intestino, advinda da Doença de Crohn, a qual ataca o aparelho digestivo, e com a qual Nicky lutou por muito tempo, o rapaz ainda continuava na ativa, gravando com Spinal Tap, Izzy Stradlin and Ju Ju Hounds, The Jayhawks, entre outros. Trago aqui Cinco Discos nos quais a contribuição de Nicky Hopkins é mais do que fundamental, sabendo que deixarei de fora inúmeras obras emblemáticas.

Nicky Hopkins - The Revolutionary Piano of Nicky Hopkins [1966]

Esse belíssimo álbum de estreia da carreia do pianista é recheado de versões para canções de relevância. Acompanhado da orquestra e coral de Mike Sammes, ele passeia desde Beatles e Stones, com reconstruções fantásticas para "Yesterday" e "Satisfaction", até pérolas do jazz de Duke Ellington ("Don't Get Around Much Anymore") e Bob Russell ("You Came a Long Way from St. Louis"), chegando a trilha de James Bond ("Goldfinger"), que certamente agradaram aos compositores originais, seja pela exuberância dos dedos de Nicky ou pela sua capacidade de reinventar as mesmas. E são nas suas composições onde percebemos as principais marcas do seu estilo de tocar, como por exemplo as marteladas e arpejos que ele apresenta em "Mr. Big" e "The Unlonely Bull", a alegria exuberante do rock de "The Ilejistry Pig" ou o dedilhado suave de "Jenni", um dos grandes sucessos de sua carreira. Todas as faixas revelam um talento desabrochando, e não à toa, pouco tempo depois Hopkins viria a acompanhar os gigantes citados acima. A semente está nessa belíssima obra, que creio que nosso querido leitor Igor Maxwell, amante de Richard Clayderma, se deleitará. Bastante distinta dos demais álbuns que irei apresentar aqui, mas não menos importante e sensacional de se ouvir. 

Nicky Hopkins (piano)

Acompanhamentos

The Mike Sammes Orchestra, Mike Sammes Singers, conduzidos por David Whitaker

1. Mr. Big

2. Yesterday

3. Goldfinger

4. Don't Get Around Much Anymore

5. Jenni

6. Acapulco 22

7. You Came a Long Way from St. Louis

8. Love Letters

9. The Unlonely Bull

10. Satisfaction

11. Paris Bells

12. The Ilejistry Pig

The Rolling Stones - Beggar's Banquet [1968]

Em um álbum voltado para o lado acústico, e que é totalmente oposto às experimentações de seu antecessor, o psicodélico Their Satanic Majesties Request, os Stones chamam Hopkins para acompanhá-los ao piano, e assim, temos a consagração de Hopkins para mundo. Em uma participação sensacional, o cara é o dono do disco ao lado de Mick Jagger, comandando o ritmo da clássica "Sympathy for the Devil", onde exibe-se com graciosidade em um vibrante solo, entre os "uh-uh" que consagraram a canção. Mas há mais Hopkins nas entranhas de Beggar's Banquet, seja fazendo o blues alegre de "Dear Doctor" junto dos violões de Richards e Jones, ou distribuindo suas marteladas e arpejos no sucesso "Street Fighting Man", na pancada "Stray Cat Blues" ou em "Jigsaw Puzzle", na mesma linha do que havia feito em "Sympathy for the Devil". A preguiçosa "No Expectations" traz Hopkins brincando com o órgão farfisa, enquanto na lindíssima "Salt of the Earth", Hopkins encanta não só no piano, mas também brilhando com o mellotron. Um dos melhores discos da carreira dos Stones, e por que não, de todos os tempos, e com a mão exclusiva de Hopkins por detrás da genialidade da dupla Jagger/Richards.

Mick Jagger (vocais, harmônica, maracas), Keith Richards (guitarra, violão, slide guitar, baixo, vocais), Brian Jones (slide guitar, violões, harmônica, mellotron, sitar, tambura, vocais de apoio), Bill Wyman (baixo, double bass, vocais de apoio, shekere, maracas), Charlie Watts (bateria, claves, tambourine, tabla)

Participações especiais

Nicky Hopkins - piano, mellotron, órgão

Rocky Dzidzornu – congas em 1, 8 e 9

Ric Grech – fiddle em 9

Dave Mason – shehnai em 6

Jimmy Miller – vocais de apoio em 1

Watts Street Gospel Choir – vocais de apoio em 10

Anita Pallenberg - vocais de apoio em 1

Marianne Faithfull – vocais de apoio em 1


1. Sympathy For The Devil

2. No Expectations

3. Dear Doctor

4. Parachute Woman

5. Jigsaw Puzzle

6. Street Fighting Man

7. Prodigal Son

8. Stray Cat Blues

9. Factory Girl

10. Salt of the Earth

Jeff Beck Group - Beck-Ola [1969]

Ao entrar na banda de Jeff Beck, Hopkins foi fundamental para apimentar a sonoridade da banda. Ele colabora na estreia da Jeff Beck Group, a aclamada Truth, nas faixas "Morning Dew", "You Shook Me", "Beck's Bolero" e "Blues Deluxe", mas aqui ele é elevado ao posto de membro oficial do grupo de Jeff Beck, e não decepciona. Compondo quatro das 7 faixas de Beck-Ola, sendo que das três restantes, duas são covers, o pianista mostra seu estilo ditando o ritmo da pancada  "All Shook Up", do blues de "The Hangman's Knee" ou da sensacional e pesadíssima versão de "Jailhouse Rock", além de fazer belos duelos com a guitarra de Beck em "Plynth (Water Down the Drain)" e "Spanish Boots". Na longa jam instrumental "Rice Pudding", o espancamento geral dá espaço para que o piano de Hopkins também brilhe com marteladas e arpejos contagiantes. Porém, entre tantas pauladas, é na baladaça "Girl From Mill Valley" que Hopkins dá seu espetáculo a parte, seja no Hammond, seja dedilhando o piano, em uma das composições mais marcantes de sua carreira, acompanhado apenas pelo gentil andamento do baixo de Ron Wood e a bateria de Tony Newman. Um disco subestimado por conta de seu irmão mais velho, mas de mesma qualidade e relevância para a música mundial, graças também a genial contribuição de Hopkins, e que como diz na contra-capa do álbum, sente, ouça e decida se você pode encontrar um pequeno lugar em sua cabeça para ele.

Jeff Beck (guitarras), Rod Stewart (vocais), Nicky Hopkins (piano, órgão), Ronnie Wood (baixo), Tony Newman (bateria)

1. All Shook Up

2. Spanish Boots

3. Girl from Mill Valley

4. Jailhouse Rock

5. Plynth (Water Down the Drain)

6. The Hangman's Knee

7. Rice Pudding


Quicksilver Messenger Service - Shady Grove [1969]

Na sua passagem pelos Estados Unidos, o inglês deixou contribuições fundamentais em discos de Jefferson Airplane, Steve Miller Band e The Jerry Garcia Band, mas foi na Quicksilver Messenger Service onde ele se estabeleceu como um nome a ser respeitado, ainda mais com a companhia dos gênios John Cipollina e David Freiberg. Hopkins já mostra seu lado virtuoso de cara, na excelente faixa-título, e também no country de "Words Can't Say". Ao mesmo tempo, mostra toda sua versatilidade, aclimando-se muito bem com o som da Califórnia  com belas contribuições em "Joseph's Coat",  "Holy Moly", "Too Far", no surpreendente boogie de "3 or 4 Feet From Home" ou na legítima representante psicodélica de "Flashing Lonesome". A delicadeza de seu solo em "Flute Song" faz até as paredes de sua sala se arrepiarem, e é aqui que Hopkins deixa para a eternidade talvez sua mais famosa criação, a Maravilha "Edward (The Mad Shirt Grinder)", uma das canções mais belas que já ouvi, e cuja técnica para solar de Hopkins, e os duelos com a guitarra de Cipollina, são sensacionais. Nove minutos de tirar o fôlego, e onde o pianista mostra por que foi chamado por gigantes da música não só no piano, mas também com o hammond. Uma pérola a ser descoberta por apreciadores do flower-power, e principalmente, para quem acha que na Califórnia dos anos 60 apenas The Doors e Big Brother & The Holding Company era quem existiam.

John Cipollina (guitarra e vocais), Nicky Hopkins (piano, órgão, celeste, harpsichord, cello), David Freiberg  (baixo, vocais, guitara, viola), Greg Elmore (bateria, percussão)

1. Shady Grove

2. Flute Song

3. 3 or 4 Feet from Home

4. Too Far

5. Holy Moly

6. Joseph's Coat

7. Flashing Lonesome

8. Words Can't Say

9. Edward, the Mad Shirt Grinder


The Who - By Numbers [1975]

Nicky era para ter sido o quinto membro do The Who, antes mesmo de começar carreira solo. O problema é que a guerra de egos na banda não era algo que casava com o estilo mais introvertido do pianista. Mesmo assim, o rapaz colaborou em diversas faixas do grupo, tais como "I Don't Mind", "The Ox", "The Song Is Over" ou "Getting in Tune", até que em 1975, ele "fez parte" oficialmente do The Who nesse álbum divisor de águas na carreira da banda. Depois de anos de estrada e vários conflitos entre Pete Towshend e Roger Daltrey, Nicky serviu como um elo de ligação entre os dois, e colaborou decisivamente para Pete Townshend poder criar canções acessíveis sem ser parte de uma ópera-rock. Assim, nasceram pancadas do porte de "In A Hand of a Face", "Slip Kid" e "Squeeze Box", ou belíssimas canções mais leves, ao piano e violão, como "Imagine a Man" e "They Are All In Love". As marteladas e arpejos se sobressaem em faixas como "However Much I Booze", e nas sensacionais "Dreaming From The Waist" e "How Many Friends", onde Hopkins encaixou-se perfeitamente dentro das geniais e geniosas ideias de Townshend, e também com a cabeça de Entwistle, na excelente "Success Story". Um disco digno do The Who, e bastante subestimado perto da trilogia Tommy, Quadrophenia e Who's Next, mas do mesmo nível dos mesmos. 

Roger Daltrey (vocais),  Pete Townshend (guitarra, teclados, banjo, acordeão, ukulele, vocais), John Entwistle (baixo, trompete, vocais, trompas), Keith Moon (bateria)

Músico adicional

Nicky Hopkins (piano)

1. Slip Kid

2. However Much I Booze

3. Squeeze Box

4. Dreaming from the Waist

5. Imagine a Man

6. Success Story

7. They Are All in Love

8. Blue Red and Grey

9. How Many Friends  

10. In a Hand or a Face

                           

sábado, 5 de março de 2022

Capas Legais: The Who - Live at Leeds [1970]


O episódio de hoje do Capas Legais apresenta a linda versão de Live at Leeds, disco ao vivo do The Who em 1970. Ela possui um formato de pasta-arquivo, e no seu interior, uma série de documentos sobre a carreira dos britânicos. Confira, e não se esqueça de compartilhar e inscrever-se em nosso canal.



sexta-feira, 30 de julho de 2021

Capas Legais: The Who - Tommy [1969]



O episódio de hoje apresenta a precursora versão triple gatefold de Tommy, lançado originalmente pelo The Who em 1969, e que traz uma arte inspirada na obra do guru Meher Baba. Complementando essa revolucionária capa, ainda acompanha um inédito livreto com imagens e letras, algo raro para o ano de 1969. Confira! 



domingo, 30 de agosto de 2020

The Who - Live at the Isle of Wight Festival 1970 [2013]


As duas da manhã do dia 30 de agosto de 1970, um domingo como hoje, há exatos 50 anos, uma das maiores bandas britânicas da história da música realizou aquele que é considerado o maior show de sua carreira. Trata-se do The Who, e sua inesquecível apresentação no Festival da Ilha de Wight. Para os perdidos, o Isle of Wight Festival de 1970 foi realizado entre os dias 26 e 31 de agosto de 1970, sendo considerado por muitos como o Woodstock britânico. O festival apresentou nomes como Jimi Hendrix, The Doors (já em despedida), Jethro Tull, Taste, Chicago, Procol Harum, Miles Davis, os novatos Supertramp e Emerson Lake & Palmer, muitos outros e claro, o The Who. Esta incrível apresentação de Roger Daltrey (vocais, harmônica), John Entwistle (baixo, vocais), Pete Townshend (guitarra, vocais) e Keith Moon (bateria, vocais) chegou ao mercado pela primeira vez no mesmo pacote, com o show na íntegra  em CD, e as filmagens quase completas da apresentação em um DVD que acompanha o fantástico Live at the Isle of Wight Festival 1970, lançado pelo selo Salvo em 2013.


O selo tem sido notável em lançamentos desse tipo, tais como as apresentações de Van der Graaf Generator, Zombies e Caravan no Metropolis Studios de Londres, ou o Jethro Tull no mesmo Festival da Ilha de Wight de 1970, com as apresentações em vídeo e áudio sendo um deleite para os fãs e colecionadores de música em geral, e fez um serviço inquestionável para quem curte rock ao lançar esse pacote. A versão aqui apresentada foi lançada em um formato Digipack, com 4 painéis que armazenam os dois CDs, o DVD e um belo encarte de 12 páginas, com texto de Patrick Humphries lembrando sobre o show do The Who e muitas fotos daquela noite. 

Mas é musicalmente que os caras do The Who estraçalham. Seguindo o lançamento do aclamado Tommy, essa apresentação no Isle of Wight é poderosa do início ao fim, e marca o encerramento das grandiosas apresentações que os britânicos fizeram entre 1967, quando surgiram ao mundo no Monterey Pop Festival, e passa pela inesquecível apresentação no Woodstock de 1969. É um show incendiário, cuja abertura com "Heaven and Hell" já traz toda a energia que a banda exalava, seguida de uma impecável "I Can't Explain", clássico absoluto da banda, uma ótima revisitada para "Young Man Blues" e as audaciosas apresentações para as então inéditas "I don't Know Myself" e "Water", as duas últimas partes da ópera-rock abortada pós-Tommy, Lifehouse. O CD não segue a ordem original do show, mas traz também "Naked Eye", outra de Lifehouse, e que foi apresentada antes do grupo chegar na apresentação quase que na íntegra de Tommy.


A ópera-rock mais famosa do mundo já estava sendo apresentada ao vivo há mais de um ano, então, o grupo estava afiadinho, mesmo diante de 600 mil pessoas que aguardavam ansiosos para ver uma noite que ficou para a história. Ouvi-la quase que na totalidade, ainda com as inspirações de Townshend aflorando pelos poros, e um endiabrado Moon fazendo misérias em seu kit, além de Daltrey mostrando por que é uma das vozes mais potentes do rock, e toda a elegância de John Entwistle, empunhando seu baixo como se fosse uma guitarra, é um deleite.

"Overture", "Sparks", "Eyesight to the Blind (The Hawker)" são os grandes momentos na primeira parte de Tommy, a qual está presente no CD 1. O CD 2 começa com "Acid Queen", e perpassa por mais onze partes de Tommy, com as clássicas "Pinbal Wizard", "Smash The Mirror", "I'm Free" e destaque especial para o mágico encerramento com "We're Not Gonna Take It". Uma performance magistral, que por si só já vale a aquisição do CD, mas ainda há mais. O grupo resgata aqui "Summertime Blues", o Medley de clássicos do blues ("Shakin' All Over, Spoonful e Twist & Shout", e fecha com uma sequência de tirar o fôlego para qualquer fã do The Who, com "Substitute", "My Generation", essa com muitos improvisos, e "Magic Bus", além da já citada "Naked Eye". Ou seja, é uma coletânea perfeita, mas caught in the act, das melhores canções que os britânicos gravaram.


O DVD é uma atração a parte. A filmagem eterniza as roupas que praticamente fizeram a imagem do The Who, com a fantasia de esqueleto de John Entwistle, o macacão branco de Pete Townshend, as longas franjas e o cabelo comprido e encaracolado de Roger Daltrey, com seu peito aberto, encarnando Tommy, e as viradas inconfundíveis e únicas de um Keith Moon vestindo apenas uma camisa branca e jeans, mas sempre com um sorriso afável e debochado no rosto. O DVD está na ordem correta do show, e ainda traz como bônus as versões de "Substitute" e "Naked "Eye".

Para quem conhece e gosta de Live at Leeds, aquele repertório talvez seja melhor. Porém, ver o The Who ao vivo é o principal diferencial nesse lançamento de Isle of Wight. Difícil imaginar que 50 anos depois, um show ainda estaria sendo tão visto, aplaudido, curtido e celebrado quanto esse de um dos quartetos mais impressionantes e potentes que os palcos do mundo já ouviram e viram.


Track list CD

CD 1
1. Heaven and Hell
2. I Can't Explain
3. Young Man Blues
4. I Don't Even Know Myself
5. Water
6. Overture
7. It's A Boy
8. 1921
9. Amazing Journey
10. Sparks
11. Eyesight to the Blind (The Hawker)
12. Christmas

CD 2
1. The Acid Queen
2. Pinball Wizard
3. Do You Thing It's Alright?
4. Fiddle About
5. Tommy Can You Hear Me?
6. There's A Doctor
7. Go to the Mirror!
8. Smash the Mirror
9. Miracle Cure
10. I'm Free
11. Tommy's Holiday Camp
12. We're Not Gonna Take It
13. Summertime Blues
14. Shakin' All Over / Spoonful / Twist & Shout
15. Substitute
16. My Generation
17. Naked Eye
18. Magic Bus

DVD

1. Heaven and Hell
2. I Can't Explain
3. Young Man Blues
4. I Don't Even Know Myself
5. Water
6. Shakin' All Over / Spoonful / Twist & Shout
7. Summertime Blues
8. My Generation
9. Magic Bus
10. Overture
11. It's A Boy
12. Eyesight to the Blind (The Hawker)
13. Christmas
14. The Acid Queen
15. Pinball Wizard
16. Do You Thing It's Alright?
17. Fiddle About
18. Go to the Mirror!
19. Miracle Cure
20. I'm Free
21. We're Not Gonna Take It
22. See Me Feel Me / Listening To You
23. Tommy Can You Hear Me?

Bonus Tracks
24. Substitute
25. Naked Eye



quarta-feira, 27 de setembro de 2017

Rock in Rio - Sexto Dia (23/09/2017)




N. R. Este é um relato do sexto dia do festival Rock in Rio, apenas com as bandas presentes no Palco Mundo naquela data, 23 de setembro de 2017. Os posicionamentos são do autor do texto, refletindo apenas sua visão do espetáculo, a qual foi feita in loco. Todas as imagens foram feitas pelo autor do texto.

Ah o Rock in Rio. Desde 1991 que acompanho o festival. 2001, 2011, 2013 e 2015, praticamente vi pela TV todos os shows que passaram pelos mais diferentes locais onde o evento foi realizado, muitos marcantes (Slayer, System of a Down, Halford, Steve Vai) e que sempre me fizeram ter vontade de ir lá, presenciar o que a TV mostrava. Mas culpa essencialmente de uma única banda: Guns N' Roses. Foi a primeira banda que eu vi ao vivo pela TV, lá em 1991, ao lado do meu irmão Micael Machado, e que trouxe aquela sensação de "putz, como um show de rock é legal". Os solos de Matt Sorum (bateria) e Slash (guitarra) são memoráveis, assim como ainda hoje, posso ouvir aquelas versões de "Civil War", "November Rain" e "Paradise City", bem como o Pedro Bial falando sobre "a bundinha do Axl" ...

De 1991 para cá, adquiri muito conhecimento musical, e na vasta aprendizagem, conheci um grupo que era o "arroz de festa" dos grandes festivais na década de 60 e 70: The Who. Os caras tocaram simplesmente em Monterey, Woodstock, Isle of Wight, e ainda foram atrações no Concert for Kampuchea e Live Aid. Monstros sagrados dos palcos, guiados pelo espetáculo sonoro e visual principalmente de Roger Daltrey (vocais) e Pete Townshend (guitarra e vocais).

Tirando a virgindade do Rock in Rio, a uma pessoa da grade!!

Pois não é que os deuses do rock 'n' roll (tá, foi o Medina) uniu na mesma noite Guns e The Who? Oportunidade raríssima de presenciar dois gigantes do rock em um único evento e que não podia desperdiçar, e assim, parti rumo a cidade maravilhosa para perder a virgindade do Rock in Rio, e ter a oportunidade de contar para os netos os três dias de desventuras que me gerou mais momentos eternos e satisfatórios como fã de música.

Para não encher o saco dos leitores, vou dividir o texto em duas partes: a primeira, irá ser com comentários apenas sobre os shows. A segunda será com os destaques positivos e negativos que posso relatar sobre o Rock in Rio. Lembrando que estarei falando apenas do dia 23 de setembro, e que todas as opiniões são puramente pessoais.

Início do show dos Titãs


Titãs: Curiosamente, eu nunca tinha visto o Titãs ao vivo. Confesso que não sou fã da banda, mas fiquei curioso para saber como um grupo que se consagrou nacionalmente com oito integrantes, iria funcionar apenas com três membros originais e dois músicos adicionais. Exatamente às 19h00, horário de Brasília, surgiu nas caixas de som "O Guarani" de Carlos Gomes, uma citação, claro, a Voz do Brasil, e logo percebia-se que o Titãs ia fazer um show político.

Como toda a carreira do grupo, eles se especializaram em "se vender" para o momento, e que momento ideal do que o atual cenário político brasileiro para fazer um show, diante de 100 mil pessoas, cantando suas principais composições com temas políticos do que o Rock in Rio? E assim foi. Os paulistas largaram vários clássicos do passado oitentista, como "Lugar Nenhum", "Cabeça Dinossauro", "AA UU", "Polícia", "Bichos Escrotos", "Sonífera Ilha" misturado com novos sucessos, em especial a versão de "Aluga-se" (Raul Seixas) e hit-radiofônico "Epitáfio".

Encerramento do show dos Titãs

Achei audacioso que no meio do show, a banda apresentou três canções novas, que irão fazer parte da ópera-rock que será lançada ano que vem. Das três faixas, a que mais admirei em termos de letra foi "Me Estupre", uma boa paulada em defesa das mulheres. As outras canções achei muito amenas, mas é aquele caso, eu não tava com cabeça para prestar atenção como elas mereciam, então, não posso dar uma opinião real sobre "12 Flores Amarelas" e "A Festa".

O show foi encerrado com "Vossa Excelência", muito apropriada, e foi um bom esquenta para começar a noite. Porém, confesso que não fiquei com nenhuma vontade de ver a banda novamente.

Os americanos do Incubus começando seu set

Incubus: Apesar de ser uma banda da década de 90, o Incubus era total novidade para mim. Começando pelo esquema de palco, no qual a bateria foi montada "de lado" para o público, dava para sentir que seria um show bem interessante. Assim que o vocalista Brandon Boyd pisou no palco, milhares de calcinhas começaram a sentir o efeito da presença do cara. A gritaria tomou conta, e fiquei impressionado como a mulherada cantava praticamente todas as músicas. Quando o cara tirou a camisa então, meu Deus! Foi ensurdecedor ...

Passei vergonha alheia por não conhecer nada na apresentação da banda. Quer dizer, quase nada, pois quando eles tocaram uma canção própria, chamada "Wish You Were Here", e emendaram uma versão instrumental para a homônima do Pink Floyd, cantada em uníssono pela plateia presente na Cidade Olímpica, pude acompanhar com voz o que estava saindo das caixas de som.

Final do show do Incubus

Curti a banda, curti o som dos caras (apesar de alguns exageros em termos de samplers) e achei o Ben Kenney um baita de um baixista. O cara faz uma baita sonzeira com seu instrumento, e carrega o grupo nas costas. A performance vocal do Boyd também merece destaque, e ele tem carisma suficiente com a galera para encarar 100 mil pessoas de boa. Não pretendo ir atrás da discografia dos caras, mas assim como o Titãs, foi uma boa audição.

Anuncio da entrada do The Who


The Who: O show mais esperado da noite para mim. Apesar das horas e horas na fila, e também da espera durante os shows (foram mais de 12 horas entre chegar na fila e começar o show do The Who). Quando o anúncio da Johnny Walker iluminou o telão, dizendo que o The Who estava chegando, e Pete Towshend entrou correndo em direção ao público, a casa caiu. Eram eles, ali, diante dos meus olhos, para resgatar sucessos e mais sucessos de toda sua carreira cinquentenária.

Os britânicos não perdoaram ninguém. "I Can't Explain", "Substitute", "Who Are You", "The Kids Are Alright", "I Can See For Miles", "My Generation", puta que o pariu, isso só para começar. Minha voz se foi no meio de "I Can See For Miles", mas eu não tava nem aí. A hélice de braço do Pete, a dancinha tradicional de Roger, o microfone sendo jogado por ele, e pego pelo cabo, o filho  do Ringo, Zak Starkey, detonando na bateria, o baixista Pino Palladino usando um Precision idêntico ao do John Entwistle, bah, que coisa linda.

E os caras detonando. Sem piedade. Vieram duas do álbum Who's Next (1971), "Bargain", a qual Pete apresentou como a melhor canção que ele gravou naquele disco, e "Behind Blue Eyes", que a galera cantou bem a primeira parte, acredito eu que por conta da regravação que o Limp Bizkit fez. Fechando a primeira parte da apresentação, vieram "Join Together" e "You Better You Bet", e depois, aja coração.

Imagem clássica do The Who no telão, durante apresentação do grupo

Daí em diante, o show que já tava excelente ficou totalmente excelente. Pete foi aos microfones anunciar que iriam trazer algumas faixas do álbum Quadrophenia (1973), meu preferido do grupo. Com o violão em punhos, encantou ouvidos durante "I'm One". A pauleira seguiu forte na execução perfeita de "5:15", e a sequência de Quadrophenia foi encerrada com a canção que encerra aquele álbum, a sensacional "Love, Reign O'er Me". Cara, que música linda. Apesar do tempo ter tirado bastante da vitalidade vocal de Daltrey, ele segurou as pontas sem muito esforço. Lágrimas brotaram fácil dos meus olhos no encerramento da canção, e muita gente se surpreendeu com o que estava acontecendo no palco. Mas não havia terminado.

A conclusão só poderia vir de forma épica, com um Medley das principais canções da ópera-rock Tommy (1969). Em pouco mais de doze minutos, os britânicos fizeram um apanhado geral no track list daquele disco, e trouxe aos presentes "Amazig Journey", "Sparks", "Pinball Wizard" e "See Me, Feel Me". Car@lho, que sensacional ouvir e ver os criadores de um disco atemporal interpretando faixas emblemáticas para a música mundial diante dos teus olhos.


Pete Townshend (acima) e Roger Daltrey (abaixo)

Ainda houve tempo para mais dois sucessos de Who's Next, "Baba O' Riley", com todos os teclados e "Teenage Wasteland"'s possíveis, e a sensacional "Won't Get Fooled Again", faixa maravilhosa que fechou um show maravilhoso e inesquecível. O repertório foi impecável, escolhido a dedo, e não tem do que se reclamar.

Claro, a voz de Daltrey com certeza já não é mais a mesma, Pete não pula tanto quanto nos anos 60 e 70, John Entwistle jamais será substituído tecnicamente por qualquer baixista (lembrando que ele foi eleito o melhor baixista de todos os tempos aqui na Consultoria), e ainda falta muito feijão com arroz para o Zak chegar perto da unha de Keith Moon, mas foi um baita show, de tirar o chapéu.

Final do show do The Who

Ficou a promessa de retornarem ao Brasil em breve (essa foi a primeira vez do grupo por aqui), e tomara que realmente aconteça.

Início da gigante apresentação do Guns

Guns N' Roses: A grande atração da noite entrou no palco pouco antes da uma da manhã. Eu estava exausto por conta da fila e do show do The Who, e mesmo já tendo visto o Guns outras duas vezes, essa era a oportunidade de ali, no gargarejo, conferir o talento de Slash, e claro, ver de pertinho uma das maiores bandas de todos os tempos.

Curti muito o show do ano passado em Porto Alegre, com o retorno de Duff e Slash ao lado do Axl, e tinha uma boa expectativa para a apresentação no Rock in Rio, e olha, confesso que a expectativa foi atingida. Não vou me deter no set list apresentado, até por que foram diversas canções, mas cara, vi e estou vendo comentários muito maldosos por aí.

Axl Rose e Slash. Ícones do rock mundial, voltando ao palco central do Rock in Rio

Ao vivo e presencialmente, dava para ver que a voz do Axl com certeza já não é mais a mesma, mas também não foi algo tão horrível assim. Ele segurou as pontas bem, controlou quando deu para controlar, falhou diversas vezes, mas cara, o tempo e uma estrada cheio de excessos uma hora pega, e no Axl isso veio cedo. Porém, isso não tira os méritos de que ele e os demais membros da banda tocaram por quase 4 horas no Palco Mundo (pelo meus cálculos, deu pouco mais de três horas e meia de show). Os caras tocaram tudo o que precisava ser tocado, e pronto.

Slash é um show a parte. Banhando suas guitarras com seu suor, usando e abusando de escalas bluesísticas e pentatônicas, o cara é um animal. Conferir sua batida de perna esquerda, o levantar da Les Paul, as pisoteadas no wah-wah, a cabeleira vasta sob a cartola negra, tudo ali, de pertinho, foi mais revigorante do que litros de Gatorade. O cara não é um virtuose, não é um gênio, mas como sabe marcar suas notas de guitarra na mente do vivente. Mesmo quando a corda arrebentou durante "Coma", ele não se intimidou. Segurou tranquilo a música, trocou de guitarra e dê-lhe baile. A sombra dele projetada na parede de um dos lados do palco me chamou muita atenção, me dizendo que mesmo o tempo passando e pegando para todo mundo, a imagem de um ícone do rock mundial, com sua cartola e vasta cabeleira, Muito bom.

Uma sombra diz muito

O grupo todo do Guns segurou bem as faixas. Achei que houveram muitos erros de entrada, principalmente do Duff e do Slash, mas isso acontece. Afinal, os caras vem excursionando direto, e provavelmente tem pouco tempo para ensaiar, se é que ensaiam. E pombas, quando estamos ouvindo "Welcome to the Jungle", "You Could Be Mine", "It's So Easy", "My Michelle", "Mr. Browstone", "Sweet Child O' Mine", fala sério, dá para prestar atenção nisso? Só os babacas de plantão que adoram ver pêlo em ovo, e que sabem que quando o nome Axl Rose está envolvido, vai gerar milhares e milhares de pessoas curiosas para saber o que está sendo escrito.

Voltando ao Axl, tchê, que que eu vou te dizer? Bom, tudo bem, ele desafinou diversas vezes. Mas repito, foram quase 4 horas de show. Só por isso o cara já merece respeito. Ele estava lá, se entregando como podia - ok, saiu do palco diversas vezes para carregar a bateria, mas isso não é demérito - e mandou ver quando precisava. Todo mundo na minha volta se emocionou com"Estranged" e "November Rain". Todo mundo cantou junto "Patience" e "Don't Cry". Todo mundo comentou que mesmo barrigudo, o cara não para de correr e agitar. Vão catar coquinhos os críticos, foda-se a voz, foda-se a ausência de agudos, o carisma e a pessoa Axl Rose estavam lá como um profissional. Diferente de 7 anos atrás, quando enchia a cara e não respeitava os fãs, dessa vez ele superou qualquer problema pessoal e foi profissional, e isso contou muito para mim.

Duff McKagan, Axl Rose e Slash. Precisa dizer mais??

Óbvio que o final de "Coma" ficou bem estranho sem a velocidade da gravação original, mas fala sério, o cara estava ali cantando "Coma", uma das melhores (e mais difíceis) canções do Guns sem nenhum teleprompter. Muita gente aplaude os erros vocais de Ozzy Osbourne, que não consegue nem cantar e aprender a letra de "Paranoid", achando isso uma virtude, mas descem a lenha no Axl. Se catar mesmo. O cara fez a parte dele, regularmente bem feita, e pronto. Pior seria ele cantando mal, sem vontade, com 5 horas de atraso, uma capa de chuva amarela por cima e pronto. Isso sim é errado. O que esteve no Palco Mundo na madrugada do dia 23 foi digno de aplauso, e fim de papo.

Agora, uma coisa é fato. O Guns virou uma banda cover gigante. Não só de si mesma, mas de outros artistas também. Só que com uma capacidade incrível de colocar sua marca registrada nas músicas dos outros. Afinal, "Attittude", "Live and Let Die" e "Knocking On Heaven's Door" já são clássicos na discografia da banda. Só que desta feita, eles trouxeram ao menos mais duas novidades perante o repertório do ano passado, as quais foram a linda homenagem à Chris Cornell, com "Black Hole Sun", e "uma música de uma banda que eu toco de vez em quando, vocês devem saber qual é", segundo Axl Rose, antes de introduzir "Whole Lotta Rosie". Animação total, galera pulando geral. Showzaço. Ainda nas covers, versões para "The Seeker" e "Wish You Were Here" (instrumental), presentes no repertório do ano passado, apenas atestam que por mais grande que uma banda seja, poucas são aquelas que sabem reconhecer suas origens e influências como o Guns tem feito nos últimos tempos.



Resumo da ópera: não foi o melhor show do Guns que eu vi (o do ano passado foi bem melhor), mas foi muito divertido e gratificante poder conferir os ícones dos anos 80 de pertinho, e principalmente, ver que Slash está em plena forma, e que o respeito pelos fãs parece ter voltado.

Pontos positivos: Curti muito o ambiente do Rock in Rio. Muita paz, sem enrolação, e todo mundo numa vibe muito boa. Não deu para conhecer a Cidade Olímpica, andar de tirolesa ou fazer qualquer outra atração que não fossem os shows do Palco Mundo, mas deu para perceber que o local é enorme, e que a galera que vai para se divertir, com certeza não sai com muitas reclamações.

Destaco mesmo: 


  • Organização do festival: tudo certinho. Abriu na hora que tinha que abrir e não houve enrosco muito grande. As pulseiras-ingresso funcionaram, e é uma lembrança interessante do evento.
  • Transporte: Acho que foi o ponto máximo da organização do evento. BRT funcionando direto, sem parar, e metrô também. Fácil, rápido e seguro. Apesar da distância da Cidade Olímpica até as regiões mais acessíveis em termos de hotéis no Rio, foi tranquilão de pegar o transporte, e por um preço justo.
  • Salto de paraquedas da Red Bull: Enlouqueceu a plateia o salto dos cinco paraquedistas da Red Bull. Adrenalina comeu solta.
  • Copos de lembrança: O Itaú, um dos patrocinadores do evento, distribuiu gratuitamente copos para quem estava lá no gargarejo. Aproveitando os mesmos, os seguranças, nos intervalos dos shows, traziam água para encher os copos e saciar a sede da galera. A origem da água é desconhecida, mas bebi dela e estou vivo, além de ter salvado muitos do calorão que tomava conta do local. Atitude humanitária muito bem vinda.
  • Apresentação dos Drones: Baita ideia para entretenimento da plateia. Imagino a trabalheira para sincronizar os equipamentos. Foi muito bonito de ver. Mas ...
Drones formam uma guitarra no céu da Cidade Olímpica (imagem do telão do palco mundo)

Pontos negativos


  • Apresentação dos Drones: ... achei equivocado o local escolhido para a apresentação dos drones. Poderiam ter feito ao lado do palco, ou sobre ele, mas não atrás. Ok, foi transmitido pelo telão, mas acredito que a sensação de ver ao vivo e a cores teria sido bem mais legal do que já foi.
  • Celulares e máquinas fotográficas: Está cada vez mais xarope aguentar celulares e máquinas fotográficas nos shows. Só que agora, a coisa chegou em um nível que nunca tinha visto. Uma galera ao meu redor ficava tirando fotos mode infinite e olhando as mesmas, selecionando as melhores e publicando-as em instagrams e twitters no instante que as bandas estavam detonando no palco. Lembro principalmente na apresentação do The Who, durante "Who Are You", um casal "discutindo" e fazendo pose para tirar umas dezenas de selfies, e olhando qual tinha que fica melhor, conversando alto e incomodando uma audição prazerosa. Bem que podiam proibir isso de vez, mas entendo que uma recordação como uma foto é especial, ainda, para fãs de verdade.
  • Poucas palhetas: Tudo bem que a palheta não é o essencial, mas bah, nunca imaginei que os grupos não iam jogar praticamente nada de palhetas. Titãs e Incubus nem sei se jogaram algo. The Who teve apenas UMA palheta, do Pete, jogada para a plateia. Slash jogou cinco somente. Acho que a crise bateu inclusive nos gringos, ou eles quiseram evitar cenas de esmagamento por conta de um mimo, o que sempre é divertido depois que se passa pela situação.
  • Lojas fechadas após o encerramento do Palco Mundo: Terminado o show do Guns, resolvi então passear pela Cidade Olímpica, conhecer o local e arrebatar um mimo para a patroa. Porém, me surpreendi com as lojas fechadas. Até mesmo as que vendiam comida estavam já fechando. Não sei se esgotou o material de venda daquele noite - o que duvido muito - ou se eram ordens superiores, mas o baile seguia com Simoninha no Palco Sunset, portanto, o Rock in Rio não tinha acabado.
Lembranças físicas do festival


Enfim, são apenas algumas constatações de um festival muito massa. Dependendo dos próximos shows que vierem, talvez eu vá novamente, mas é uma aventura muito cansativa. Ainda hoje estou com dores nas pernas e nas costas, mas deu para curtir pacas. Que venha o U2 em outubro, e claro, um dia, Wacken!
Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...