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sábado, 5 de abril de 2014

Burn: Incendiando o Califórnia Jam (A Noite Que Ritchie Blackmore Nunca Esqueceu) - Parte II


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Na semana passada, apresentamos o início da Mark III do Deep Purple, com o lançamento do álbum Burn e a aclamação para uma das principais formações na história do rock. O sucesso do LP levou o grupo para uma gigantesca turnê, que teve como ponto máximo a apresentação no festival California Jam, na data de 06 de abril de 1974, e que portanto, amanhã completará quarenta anos. O texto de hoje concentra-se especificamente no evento, que Ritchie Blackmore anos depois definiu como a única noite que ele nunca conseguiu esquecer.

A história do California Jam tem suas origens com o fracasso financeiro de Woodstock. Os promotores Sandy Feldman e Lenny Stogen viram na organização de um festival de rock ao ar livre uma forma de se ganhar dinheiro com a música, mas diferente de Woodstock, quando os hippies acabaram invadindo a fazenda e dando prejuízo para todo mundo, levaram a ideia para a rede de TV ABC, que bancou o projeto de transmitir o festival ao vivo para todo os Estados Unidos.

A ABC conseguiu um patrocínio da Goodyear para a realização do evento, e então, com o contrato na mão, os promotores saíram atrás de grandes nomes da música e que não tocavam nos Estados Unidos há algum tempo. Black Oak Arkansas, Black Sabbath, Deep Purple, Eagles, Earth Wind & Fire, Emerson Lake & Palmer, Seals & Croft e Rare Earth foram as bandas que acabaram acertando com o festival, que foi realizado na pista de carros de Ontario, California.

Ingresso do evento *

Dois palcos móveis foram montados no Ontario Motor Speedway, tendo como decoração um gigantesco arco-íris de madeira, que veio a ser inspiração para o nome de uma grande banda ligada ao Deep Purple, o Rainbow. Entre duzentas e duzentas e cincoenta mil pessoas apareceram no local, que contou com uma excelente infra-estrutura e um belo dia de sol (diferente do que ocorrera em Woodstock, com a maioria dos dias abaixo de muita chuva), e os lucros beirando os 2 milhões de dólares.

Uma das expectativas para o evento realmente era a apresentação da nova formação do Deep Purple, que já vinha sendo bastante comentada nos veículos musicais, principalmente pelo fato de Blackmore vir costumeiramente quebrando sua guitarra, com um dos agentes da emissora, Josh Wishe, exigindo que, quando fizesse tal atitude, Blackmore viesse a favorecer as imagens das câmeras.

As apresentações começaram ainda pela manhã, com os detroitianos do Rare Earth. O grupo havia acabado de lançar seu sexto álbum, Ma, e a mistura do groove de Detroit com pitadas de funk e soul foi uma escolha perfeita para esquentar os fãs que lentamente começaram a preencher o local. Os grandes destaques na apresentação do grupo foram as clássicas "I Just Want to Celebrate" e "Time Is On Your Side", que são facilmente encontradas em sites como o youtube.

Earth, Wind & Fire *

Na sequência, um dos maiores sucessos da Motown, os também americanos do Earth Wind & Fire. Mais funk rolando pela pista de Ontario, carregados pelo sucesso dos álbuns Head to the Sky (1973) e do então recém lançado Open Your Eyes, que chegou às lojas em março de 1974 e que rapidamente atingiu a primeira posição na parada Rhythm 'n' Blues da Billboard (décimo quinto na parada geral), carregado pelo sucesso de faixas como "Mighty Mighty" e "Devotion".

Eagles *

O primeiro grupo ligado ao rock foram os americanos do Eagles. Desperado (1973), segundo álbum do grupo esteva vendendo como água, e o recém lançado On the Border seguia o mesmo caminho. Muitos fãs foram levados para Ontario por conta dessa apresentação, que para muitos, foi uma das melhores da carreira do então quarteto. A mistura de country, folk e rock foi bem recebida, também por conta do Eagles ser da região (Los Angeles), destacando as clássicas canções de On the Border: "Already Gone", "James Dean" e "Midnight Flyer", as duas últimas com a participação de Jackson Browne no violão.

Seals & Crofts *

A dupla James "Jim" Seals e Darrel "Dash" Crofts, conhecidos como Seals & Crofts veio ao palco sobre o sucesso da balada "Summer Breeze", presente no álbum de mesmo nome, e que havia sido lançado em 1972. Além disso, o álbum seguinte, Diamond Girl, atingiu a quarta posição na parada geral da Billboard, e obviamente, os americanos não iam perder a oportunidade de venerar um de seus maiores triunfos. "Ruby Jean & Billy Lee", "Hummingbird" e "Standin' on a Mountain Top" foram alguns dos sucessos que a dupla apresentou aos fãs no início da tarde do dia 06.

Black Oak Arkansas *

Por fim, o  último grupo americano a pisar no palco do arco-íris foi o Black Oak Arkansas. Liderados por Jim "Dandy" Mangrum, pelo excelente baixista Pat Daugherty, e apoiados no seu maior sucesso comercial, o álbum High on the Hog (1973), o sexteto apresentou seu Southern Rock para uma Ontario Speedway praticamente lotada, recebendo a maior ovação do festival até então, destacando a arrepiante "Mutants of the Monter" e a agitada "When Electricty Came to Arkansas", com a plateia acompanhando toda a abertura da canção com palmas, e Mangrum detonando suas unhas em um instrumento percussivo, deixando o palco para os três grandes britânicos pudessem desfilar sobre o mesmo.

Veio o Black Sabbath, o primeiro representante de peso do evento, e com um passado-recente de fazer inveja. O grupo havia acabado de lançar seu quinto álbum Sabbath Bloody Sabbath, cuja turnê havia iniciado em dezembro de 1973, devendo durar apenas dois meses, já que o grupo vinha de uma série de cinco grande turnês em menos de quatro anos. Após a turnê, um período de férias estava programado, mas o empresário Patrick Meehan acabou violando o acordo que fez com o grupo, e assinou o contrato para os ingleses participarem do festival.

Black Sabbath *

Tony Iommi, Geezer Butler, Ozzy Osbourne e Bill Ward interromperam suas férias e partiram para a Califórnia, e colocaram o Ontario Speedway abaixo, ensurdecendo com distorções barulhentas que o público local não estava preparado (por isso que tantas críticas acabaram sendo feitas para a banda posteriormente). "War Pigs", "Paranoid", "Children of the Grave", "Iron Man" e a arrebatadora versão de "Supernaut", com um longo solo de Ward, são alguns dos grandes momentos da apresentação do Black Sabbath.

Tudo corria muito bem no festival, até que às 18:30, os promotores perceberam que o evento iria acabar mais cedo. O sol raiava forte sobre Ontario quando os bastidores começaram a pegar fogo. Sendo uma das atrações principais, o Deep Purple estava programado para entrar no palco às 19:30, já sem nenhuma luz natural, para finalmente o Emerson Lake & Palmer encerrar o festival por volta das 22:00. Porém, como as apresentações anteriores acabaram mais cedo, os promotores tentaram obrigar o grupo a se apresentar antes, ameaçando de diversas formas, inclusive de não pagar o fabuloso cachê de setenta e cinco mil dólares e mais parte de bilheteria, com o total sendo de duzentas mil doletas.

Blackmore, espancando a câmera da ABC com sua Fender

Blackmore recusou na hora, alegando que iria tocar apenas às 19:30. Indignado, o promotor começou a contar até trinta, enquanto Blackmore calmamente afinava sua guitarra. Vendo que não adiantava nada, correu atrás dos demais integrantes, convencendo Lord a tentar falar com Blackmore. Segundo o próprio Blackmore, "Lord veio até a mim e disse para eu ir tocar pelo resto do grupo, e eu prontamente disse que não, e que estava pronto para sair da banda naquele momento".

Parte do que sobrou da guitarra de Blackmore, destruída na câmera da ABC *

No começo da noite outro empresário da ABC foi ao camarim de Blackmore e o convenceu finalmentea  entrar no palco. Com quase meia hora de intervalo, os primeiros acordes de "Burn" soaram nas caixas de som do California Jam, para a maior apresentação da carreira do Deep Purple, seguidos de "Might Just Take Your Life", "Lay Down Stay Down" e uma divina interpretação para "Mistreated". O que se viu no palco depois disso foi uma das mais eletrizantes, e com certeza, o mais incendiário show da carreira da banda.

A primeira explosão do amplificador de Blackmore

"Smoke on the Water" e "You Fool No One" rolaram com muita intensidade e solos individuais, com Hughes parecendo estar tocando no Deep Purple desde pequeno, totalmente seguro e magistral, e Coverdale esbanjando simpatia e voz. Porém, foi em "Space Truckin'" que o mundo veio abaixo. Blackmore, que ainda não havia esquecido o ocorrido minutos antes, pôde demonstrar a raiva que se acumulou contra a ABC durante o show, principalmente pelo fato de a emissora ter colocado um cinegrafista muito perto do local aonde o guitarrista estava, deixando-o praticamente sem condições de se movimentar pelo palco, e também bloqueando a visão do público.

A segunda (e mais forte) explosão do amplificador de Blackmore

Durante o êxtase final de "Space Truckin'", com Blackmore solando tudo o que podia, o momento esperado pelos agentes e público começou a ocorrer. A Fender negra de Blackmore começou a voar pelo palco, até cair no chão e ser golpeada pelo guitarrista diversas vezes. Lembrando-se das palavras do produtor de "favorecer as câmeras", Blackmore retirou a guitarra do chão e levou-a direto à câmera do cinegrafista que estava ao seu lado durante todo o evento, destruindo a guitarra e o equipamento da ABC.

Não satisfeito, Blackmore ainda fez mais. Ele já havia planejado uma grande explosão para encerrar o show, e pediu para que alguns litros de gasolina fossem colocados em um amplificador de 450 watts que estava no fundo do palco. Os roadies exageraram na dose e, com Hughes, Lord e Paice mandando ver na sonoridade de "Space Truckin'", e com os produtores da ABC de queixo caído vendo um equipamento completo ser destruído ao vivo e a cores, uma enorme explosão ocorreu, atingindo fortemente Paice e jogando Blackmore para a frente do palco, causando uma experiência visual chocante até os dias de hoje. Até mesmo Hughes, que estava do outro lado do palco, acabou sofrendo algumas lesões por causa da explosão. Novamente, Blackmore cita que "não queria ter feito nada daquilo, eu queria apenas matar o cidadão que ficou contando até 30 para mim. Se ele estivesse por perto, vocês não iriam ver apenas uma câmera quebrada, mas sim um cara morto".

Emerson, Lake & Palmer

Após a insana apresentação do Deep Purple, Keith Emerson (teclados), Greg Lake (baixo, vocais) e Carl Palmer (bateria) subiram ao palco do California Jam para encerrar o festival com um espetacular show, que conseguiu abafar (temporariamente) o que Blackmore e cia. haviam feito minutos antes. A turnê de Brain Salad Surgery (1973) estava sendo aclamada por todos os que o assistiam, não só pela parte musical, mas também pela parte visual, já que Lake utilizava uma guitarra de dois braços para interpretar a suíte "Karn Evil 9", Palmer estava com um kit monstruoso e Emerson tocava em um piano que rodava verticalmente 360°, algo inédito até então.

O show, assim como do Deep Purple e do Black Sabbath, entrou para o hall dos melhores shows que o rock progressivo já viu. Apesar de Lake não levar ao palco sua guitarra de dois braços, o trio mandou ver em interpretações únicas para "Tocatta", "Tarkus" e "Hoedown". Durante o solo de piano de Emerson, o famoso spin vertical ocorreu, abrindo a boca de todos os presentes, e o espetáculo foi concluído com uma magistral apresentação na íntegra das três impressões de "Karn Evil 9", contando com um robô computador fazendo as vocalizações da terceira e última impressão. Ainda houve tempo para a plateia pedir bis, e o grupo, no improviso, apresentar uma versão simplificada de "Pictures at an Exhibition", encerrando mais um grande festival já organizado nos Estados Unidos.

Após o festival, os produtores da ABC receberam uma carta conciliatória dos empresários do Deep Purple, onde comprometiam-se a pagar todos os danos causados pela apresentação da banda, que no total foram de oito mil dólares. A apresentação do Purple foi lançada anos depois no CD e DVD California Jam. A sequência da destruição da guitarra foi registrada em diversas fotos que aparecem na capa interna da coletânea Anthology, sendo a capa da mesma o exato momento onde ocorre a explosão do amplificador.

Livro sobre a participação do Deep Purple no California Jam

Recentemente (2012), foi lançado o livro Deep Purple California Jam Photo Biography, em três diferentes formatos (completo + autografado , completo + vinil e completo), trazendo fotos exclusivas, bem como uma imitação de um pedaço da guitarra quebrada por Blackmore, livro este que já está fora de catálogo, mas que vale a citação para quem busca por raridades e produtos exclusivos.

Após a passagem explosiva do Deep Purple na América, o grupo retornou para a Inglaterra no dia 18 de abril, fazendo shows até o final de maio. Após um mês de descanso, onde alguns projetos solos foram realizados e inclusive uma operação de apendicite por parte de Lord, bem como o processo de divórcio de Blackmore, voltam para os ensaios no Clearwell Castle, e a gravação do segundo álbum com a já consolidada Mark III começam em agosto, ao mesmo tempo que algumas apresentações ocorrem na América tendo a banda ELF (de Ronnie James Dio) como abertura.

Como Blackmore estava emocionalmente abalado com sua separação, Hughes e Coverdale tiveram a oportunidade de colocar as mangas de fora na produção das canções, tornando o som da banda ainda mais dançante. Em novembro de 1974 chegava às lojas aquele que para mim é o melhor trabalho do Deep Purple. Stormbringer trazia uma sonoridade totalmente diferente do que já havia sido feito na história do grupo. Hughes e Coverdale mostraram que, em pouco tempo à frente de uma grande banda, tinham caráter e potencial para serem grandes estrelas.

Cartaz promocional do evento

Os demais participantes do California Jam seguiram suas carreiras, com exceção do trio Emerson Lake & Palmer, que entrou em um longo retiro de férias, voltando aos estúdios somente em 1977, com o álbum The Works.

Um ano depois ocorreu a segunda edição do California Jam, tendo como atrações Aerosmith, Bob Welch, Dave Mason, Foreigner, Frank Marino & Mahogany Rush, Heart, Rubicon, Santana e Ted Nugent. Desta feita, trezentas mil pessoas lotaram o mesmo local aonde, quatro anos antes, Ritchie Blackmore quase colocou tudo a perder, e até hoje, quando fecha os olhos, o guitarrista lembra da imagem do camera-men sendo espancado por sua guitarra, e do som das caixas de som explodindo atrás de seus ouvidos.

* As imagens com este símbolo foram retiradas da página oficial do California Jam Fan Club no facebook.

sábado, 29 de março de 2014

Burn: Incendiando o California Jam (A Noite que Ritchie Blackmore Nunca Esqueceu) - Parte I




É o ano de 1973, e Ritchie Blackmore finalmente tinha um vocalista gritando no palco tal qual Robert Plant fazia no Led Zeppelin (o que comprova a importância do Led até para as principais bandas do ramo). Ian Gillan era A VOZ dos sonhos para o geni(oso)al guitarrista britânico, e tudo parecia andar bem para o Deep Purple, com o LP Machine Head nas alturas e o estrondoso sucesso do álbum Made in Japan, gravado ao vivo no Japão.

Porém, o mar de rosas começou a sugar o barco roxo do guitarrista durante as gravações de Who Do You Think We Are?. Blackmore e Gillan começaram a se desentender cada vez mais, ao ponto de Gillan compor uma música do disco especialmente para o guitarrista: "Smooth Dancer".

Ian Gillan e Ritchie Blackmore, inimigos inseparáveis

No primeiro semestre de 1973 o clima de stress entre os dois chegou ao auge, com Gillan exagerando na bebida e discutindo frequentemente com Blackmore nos mais variados lugares (hotéis, camarins, restaurantes, aviões, ...). No dia 29 de junho de 1973, caía a casa. Durante a segunda turnê do grupo no Japão, em um show na cidade de Osaka, O vocalista anuncia ao mundo que aquele era o último show do Deep Purple com ele, inclusive negando-se a cantar um dos principais versos de "Smoke on the Water", o que fala exatamente sobre que "não importa o que possamos tirar disso".

A saída de Ian Gillan chocou a todos, menos Blackmore, que ainda sugeriu a Roger Glover para que o mesmo saísse da banda. E foi o que o baixista fez, virando um produtore de renome na gravadora Purple Records, revelando nomes como Nazareth e Judas Priest, além de produzir seu próprio álbum, The Butterfly Ball, enquanto Gillan foi trabalhar no ramo da hotelaria e também desenvolvendo competição de motos. Blackmore ficava com o tecladista Jon Lord e o baterista Ian Paice para seguir a carreira do Deep Purple, responsáveis estes pela criação do que convencionou ser chamado Mark III.

Ritchie Blackmore: genioso e genial

Esse é o início de uma longa história que começo a narrar hoje, que culminará com a noite de 06 de abril de 1974, noite essa que o guitarrista Ritchie Blackmore nunca mais esqueceu. Para isso, irei passar brevemente por fatos importantes que ocorreram entre 1973 e 1974 tanto para o Deep Purple quanto para os outros três grandes nomes de um dos maiores festivais de música que o mundo já viu, no caso Black Sabbath, Eagles e Emerson Lake & Palmer. Em duas partes, dividirei as atenções de vossos olhos tendo como cerne o Deep Purple, agregando detalhes dos grupos citados até chegarmos à fatídica noite de 06 de abril.

A experiência progressiva de
Sabbath Bloody Sabbath
Por exemplo, é fundamental antes de mergulharmos mais nas profundezas roxas da Mark III, ressaltar que o Black Sabbath vivia o primeiro momento crucial de sua carreira.


Sabbath Bloody Sabbath havia chocado os fãs quando do seu lançamento em 1973, principalmente pela forte influência do rock progressivo em canções como "Spiral Architect", "Sabbra Cadabra" e "Who Are You".

Por outro lado, a imprensa rendia-se para Tony Iommi e cia, sendo aclamados por um trabalho competente, que colocou o grupo entre os mais vendidos no Reino Unido e Estados Unidos. Para muitos, esse foi o último grande disco que o grupo lançou, e de uma forma ou de outra, a partir daqui as brigas iriam começar e levar o grupo ao seu fim precoce em 1979.

A alavanca do Eagles
para os americanos
No mesmo ano, o Eagles era a maior sensação nos Estados Unidos.

Os californianos haviam lançado o seu segundo disco, o conceitual Desperado, baseado na história da Gangue de Dalton e no Velho Oeste, trazendo a fundamental faixa-título e fazendo com que o Eagles vendesse mais de dois milhões de cópias apenas nos Estados Unidos, com o single de "Outlaw Man" entrando entre os sessenta mais da Billboard.

Era o primeiro passo para a banda se tornar a mais vendida na América anos depois, com o aclamadíssimo Hotel California, e o último como quarteto.

Brain Salad Surgery, o grande
álbum do ELP
Por fim, Keith Emerson (teclados), Greg Lake (baixo, guitarra, vocais) e Carl Palmer (bateria, percussão) conquistavam o mundo com seu melhor trabalho, Brain Salad Surgery. O álbum apresenta a épica suíte "Karn Evil 9", e foi tão bem sucedido entre imprensa e fãs que fez com que o grupo embarcasse para uma gigantesca turnê mundial, com um palco moderno, repleto de inovações, e que certamente, seria o encerramento de ouro para a turnê apresentações nos Estados Unidos, país sabiamente admirador de projetos bizarros.

Como vemos, temos quatro grandes bandas que estavam em um grande momento de suas carreiras, não necessariamente o máximo delas, mas o suficiente para serem protagonistas em um evento de renome.

Seguimos então pelo verão americano de 1973. As especulações em torno do novo vocalista do Deep Purple surgiam com nomes como Paul Rodgers e Phyl Lynott. Na verdade, o trio Lord/Blakmore/Paice já estava de olho em um jovem talento que surgia no power trio Trapeze, principalmente Paice, e assim, acompanham a turnê americana do grupo, e em Nova Iorque, oferecem a proposta para Glenn Hughes ser o novo baixista do Deep Purple. Hughes aceitou a proposta, apesar de um certo receio em não acreditar no convite, e deixar o Trapeze em seu melhor momento. Mas o fato de que o trio havia prometido Rodgers como vocalista oficial ajudou na decisão final.

Em busca do novo vocalista, um anúncio foi colocado nos jornais, de onde surgiram milhares de candidatos, entre eles um dos líderes da The Fabulosa Brothers, David Coverdale. O contato de Coverdale com o Purple ocorreu através de um management chamado Roger Baker, que conseguiu o telefone de contato da Purple Records e informou que naquela semana enviaria uma fita da The Fabulosa Brothers para ser conferida.

Ian Paice, uma locomotiva sonora

Três semanas após a audição da fita, que contava com uma foto de Coverdale ainda escoteiro, o cantor foi chamado para uma audição, e a confirmação do mesmo como novo vocalista do Deep Purple ocorreu em setembro de 1973, ao mesmo tempo que Hughes se despedia do Trapeze. No mesmo mês começam a compor para o novo álbum, e em novembro, com o estúdio móvel dos Rolling Stones, começam as gravações do primeiro álçbum da Mark III em Montreux, na Suíça. De lá, partem para Copenhagen, aonde apresentam-se pela primeira vez com a nova formação no dia 09 de dezembro de 1973, e também gravam uma faixa instrumental, "Coronarias Redig", que virou lado B de "Might Jut Take Your Life" (lançada anos depois na coletânea Anthology de 1985). Até 17 de dezembro, passam por Suécia, Bélgica, Áustria e Alemanha.


Ian Paice, Glenn Hughes, David Coverdale, Ritchie Blackmore e Jon Lord: a Mark III

Chega o ano de 1974, e os shows continuam pela França e Alemanha no mês de janeiro, com apresentações incendiárias de Paice, Blackmore, Hughes e Lord, e notabilizando que a entrada de Coverdale e Hughes tinha dado um gás novo para o quinteto, assim como a parada para a reestruturação do Purple aumentou o contato de Blackmore com a guitarra, aumentando sua técnica.

40 anos de um dos principais álbuns da história

No dia 15 de fevereiro daquele ano, Burn chegou às lojas inglesas, e na América no mês seguinte. Um álbum fantástico, que mesmo com o início elétrico, traz uma sonoridade muito diferente da Mark II. O LP começa com um dos principais riffs do rock mundial introduzindo a faixa-título. O potente vocal de David Coverdale surge para o mundo, com Glenn Hughes auxiliando em diferentes estrofes. Blackmore faz um de seus solos mais vibrantes, seguido pelo solo de Lord. O pique de "Burn" é incompreensível, com Hughes e Paice mantendo a cadência durante exatos seis minutos de muito agito.

O clima muda com "Might Just Take Your Life", uma prova de democracia purpleana. Mais um riff inesquecível no Hammond de Jon Lord introduz a voz de Coverdale na primeira parte da letra, aliás uma das melhores do Purple, seguido do refrão. A sequência de alternância vocais é fantástica, com Hughes dando um balanço e malemolência simplesmente fenomenais. A faixa encerra com um solo de Lord sob os vocais de Hughes e Coverdale. Perfeição pura!!!

Glenn Hughes, a diferença principal da Mark III

A pancadaria retorna em "Lay Down Stay Down", em um pique parecido com o de "Burn", com destaque para o piano de Lord e as viradas de Paice, bem como o riff executado por Blackmore e Hughes. Coverdale canta a primeira parte da letra e Hughes a segunda, com o mesmo ocorrendo no refrão, outra prova da incrível harmonia vocal construída pelos dois.

O lado A encerra com "Sail Away", uma canção dançante, onde novamente a divisão de vocais funciona, e bem. Para os fãs da Mark II talvez essa faixa não seja das melhores, mas para um apreciador de música em geral o ritmo dançante e as melodias de Blackmore e Lord são muito boas.

Contra-capa de Burn

O lado B inicia como o lado A. Muito pique e vibração fazem parte de "You Fool No One", tendo pouco a pouco os instrumentos acrescentados à canção. Ian Paice apresenta seu braço esquerdo, quase quebrando o prato, seguido de Blackmore, Hughes e finalmente Lord, que constróem um riff matador, com Coverdale e Hughes cantando juntos. Novamente Blackmore brilha em dois grandes solos, fazendo desta mais uma obra-prima.

A alternância de sonoridades já havia ficado marcada no álbum, e a faixa seguinte é a dançante "What's Goin' on Here", talvez a mais parecida com as músicas do Trapeze. Cheia de overdubs, a introdução na guitarra de Blackmore dá espaço para as harmonias vocais funcionarem. Coverdale e Hughes cantam cada um uma frase da letra, com ambos dividindo os vocais no refrão. O solo de Blackmore é simples e direto, com Lord delirando ao piano, o que é muito legal, principalmente por fugir do habitual uso de Hammond.

David Coverdale, a nova VOZ do Deep Purple

A seguir uma das baladas mais lindas da história do rock, "Mistreated". Composta ainda nos tempos em que o grupo estava procurando por um vocalista para substituir Ian Gillan, quando pronta se tornou uma pérola, iniciando com o magistral riff de Blackmore acompanhado pelo bumbo de Paice. Hughes e Lord precisam de apenas duas notas para desconstruir a música, e assim, Coverdale rasgar a garganta com o "I've been mistreated ...", acompanhado pelo blues arrastado e sôfrego que deixou muito cabeludo chorando pelos cantos.

Coverdale esbanja "baby, baby" e "oh, woman" para tudo que é lado, mas de forma totalmente emocionante, principalmente pelo arranjo feito por Blackmore. Esta é a única canção do disco que é cantada somente por Coverdale, e tem em seu encerramento o momento derradeiro, com Hughes e Coverdale dividindo as vocalizações no crescendo final, enquanto Blackmore sola como se fosse o último momento de sua vida. Coverdale encerra a canção sozinho e dizendo apenas que "I've been losing my mind". Divino!!

Jon Lord viajando nos teclados

O álbum encerra com a instrumental "A-200", onde Lord brinca no sintetizador acompanhado pela marcha de Paice e Hughes. Blackmore mostra suas armas sobre o mesmo acompanhamento, mas o destaque maior vai realmente para Lord, que parece um garoto executando o tema principal e viajando em longas notas no Moog e no sintetizador. Detalhe importante: o nome da faixa se deu em homenagem a uma pomada americana usada para matar chatos (aquele piolho que gruda na virilha).

Com o lançamento de Burn nos EUA, ocorre também o retorno da banda à terra do Tio Sam, tocando em Detroit no dia 03 de março. Por lá, o álbum alcançou a nona posição, ficando em décimo primeiro no Japão, sétimo na Austrália, Canadá e Holanda, quinto na Finlândia, quatro na França e primeiro na Alemanha, Áustria e Noruega. No Reino Unido o álbum foi bem-recebido, chegando na terceira posição, ficando atrás apenas de The Singles 1969 - 1973 (Carpenters) e Old New Borrowed and Blue (Slade).

Deep Purple ao vivo em 1974

Em 06 de abril ocorre um dos fatos mais marcantes de toda a carreira do Purple. Assim como o incidente no hotel de Montreux que gerou "Smoke on the Water", a participação no California Jam é lembrada por muitos como o último grande momento de Blackmore à frente do grupo, e que continuaremos a história na semana que vem.
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