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domingo, 19 de maio de 2024

Notícias Fictícias Que Gostaríamos Que Fossem Reais: Encontradas Fitas Reveladoras de Elis, Caetano, Gil e Gal



Notícias Fícticias que Gostaríamos que Fossem Reais é uma sessão da Consultoria do Rock onde apresentamos notícias fictícias, mas que poderiam se tornar reais em algum momento de nossas estadas aqui na Terra. A intenção não é gerar polêmcias ou controvérsias sobre determinados fatos, mas apenas incitar a discussão sobre o que ocorreria se o mesmo fato chegasse a acontecer.

No último dia primeiro de abril, o publicitário Gustavo Mayrink revelou ao mundo uma descoberta que era tido por alguns como ficção, e que durante muito tempo, povoou as conversas de bar como uma espécie de Mito Grego, mas que agora, através deste verdadeiro achado de Mayrink, torna-se real. Trata-se nada mais nada menos do que duas fitas cassetes que encontrou durante uma reforma na casa de seu falecido pai, o jornalista Geraldo Mayrink. Segundo Mayrink, o filho: "Nós resolvemos modificar o forro da sala, fazer umas adaptações luminosas e tal, com o objetivo de tornar a casa um museu sobre a história de meu pai. Para isso, precisávamos rebaixar parte da laje de sustentação da mesma. Foi quando ao começarmos a fazer o rebaixamento que o pedreiro encontrou esta caixa de metal com a inscrição 'A Primeira Vez'". Achamos estranho por que meu pai nunca foi de esconder algo da gente, mas a letra era dele. Foi então que decidi romper o cadeado que lacrava a caixa e encontrei as caixas individuais com as fitas, e algumas fotos (N. R. apresentadas ao longo do texto)".

O Compacto da Philips  com os quatro gigantes

Ao colocar as fitas para tocar, surgiram, quase 50 anos depois, as primeiras audições de um ambicioso projeto criado em meados de 1975, e que durou apenas 3 meses, batizado Os Doces Apimentados, unindo no mesmo palco Elis Regina, Caetano Veloso, Gilberto Gil e Gal Costa. Este projeto teve sua embriogênese ainda em 1974, quando a gravadora Philips resolveu produzir a bolacha Lupiscínio Rodrigues Na Interpretação De Caetano Veloso, Elis Regina, Gal Costa, Gilberto Gil, uma homenagem ao maior compositor gaúcho na qual os quatro artistas interpretam pérolas do cancioneiro de Lupiscínio (a saber "Esses Moços" por Gil, "Cadeira Vazia" por Elis, ambas inéditas e exclusivas para o compacto, adicionadas de "Volta", por Gal e "Felicidade", por Caetano).


Apesar de unir canções inéditas com outras já gravadas, no lançamento do compacto o quarteto se uniu de forma discreta no Copacabana Palace em junho de 1975, o que acabou gerando muitos boatos e histórias de que iriam criar algo juntos. Como nada surgiu nos anos seguintes, tudo parecia ser uma lenda urbana, mas as fitas encontradas por Gustavo revelam que realmente, o projeto foi adiante. Na primeira fita estão gravações dos ensaios que o quarteto estava fazendo ao lado de uma super banda formada por Cesar Camargo Mariano (piano, teclados e marido de Elis à época), Perinho Santana (guitarra, teclados), Luizão Maia (baixo) e Wilson das Neves (bateria). Já na segunda fita estão cerca de 20 minutos de uma entrevista especial de Mayrink junto a Elis e Caetano.

Gil, em ensaio de agosto de 1975

Para confirmar a veracidade das gravações, fomos atrás dos três membros vivos envolvidos no projeto: Gil, Caetano e Cesar Camargo Mariano. Gil se manifestou com uma alegria estupefata sobre o caso: "Ah, Elis. Eu era apaixonado por Elis. Ela era linda. Ela tinha uma força da natureza enorme dentro de um corpo tão pequeno, que não tinha como não se apaixonar. Eu faria qualquer coisa pela Elis. Eu até fui naquela marcha contra a guitarra por que eu amava a Elis. Foi a mulher mais incrível que eu conheci". E sobre o projeto Gil? "Ah, o projeto? Ah, eu não lembro das coisas muito bem mais, então, eu vou deixar pro Caetano, ele sim tem boa memória".

Gal em ensaio de julho de 1975

Cesar foi mais suscinto sobre o projeto: "Meu amigo, se a Elis não queria falar sobre isso, quem sou eu para falar sobre?". Coube a Caetano explicar o que aconteceu, e o baiano então não poupou palavras: "Olha cara, já que essa coisa aí surgiu do meio dessa loucura de divulgação de fita, dessa maluquice de uma coisa de 50 anos atrás vir assim, sem ninguém falar pra ninguém, então, é que é difícil, entendeu, de falar de algo inifalável, de que foi guardado num cofre à sete chaves dentro de um baú de mais sei lá, sete, vinte, quarenta cadeados, entendeu, por que não se podia falar disso". Mas Caetano, você lembra do que aconteceu? "Olha cara, eu lembro, eu tenho uma boa memória, e tenho bem claro tudo que aconteceu, entendeu. Eu não sei o que o Mayrink gravou, até onde ele gravou, o que tem nessa fita, entendeu. Mas eu sei o que aconteceu". E você pode nos contar, Caetano, por que o projeto não foi para a frente? Gil falou que você falaria. "Gil falou?". Sim, ele disse que você tem uma boa memória. "Mas Gil não pode sair assim, falando de uma coisa tão íntima, tão apropriadamente pessoal de minha pessoa, assim. Mas então, se assim, a gente pudesse voltar no tempo, eu gostaria de realmente poder saber o que o Mayrink registrou".

Resolvemos então ouvir as fitas junto de Caetano, através de um encontro entre Gustavo Mayrink e o baiano, no qual Mayrink salientou: "Aprendi a gostar de Caetano 40 anos após ele xingar meu pai de burro". Essa história é um dos memes clássicos, hoje em dia, no qual, em entrevista para a TV Cultura, Caetano chama o jornalista de burro e muito mais. Ao ouvir as palavras vindas de Gustavo, Caetano sorriu afavelmente.

Então, logo na caixa com a inscrição "ENSAIO", podemos ouvir algumas canções registradas com as vozes de Elis, Gil, Caetano e Gal. Fala Caetano: "Nossa cara, isso é muito hilário. Não sabia que ele tinha gravado isso não. Eu acredito que esse é o nosso ensaio de 05 de agosto de 1975, e que foi um dos últimos. Eu lembro por que foi pouco antes do meu aniversário de 33 anos, e naquela noite eu e Dedé íamos ter um jantar junto com Gil e Sandrinha, para confraternizar esse momento importante que eram os 33, uma idade marcante de alguma forma". Ao longo da audição, Caetano mostrou-se emocionado, e podemos perceber a construção de ao menos duas canções conhecidas. "Ah, essa era a versão inicial de 'Os Doces Bárbaros'. Vejam a Elis cantando aqui oh, a diferença oh 'Peixe Espada, peixe luz, Doce  e apimentado Cuzcuz'. A gente fez essa ligação inicial com a comida, depois mudei para bárbaro Jesus", comenta Caetano sobre uma animada versão inicial para o que hoje conhecemos como "Os Mais Doces Bárbaros".

Caetano e Gustavo Mayrink, minutos antes de ouvir as fitas

"Gente, olha que lindo isso!", exalta um encantado Caetano ao ouvir Elis e Gal fazendo as vozes para "Atiraste Uma Pedra", acompanhadas de piano e violão. "A Elis e a Gal faziam um par incrível de vozes. Uma pena que a gente só pôde conferir elas juntas naquele especial da Gal. A Elis estava tão diferente naqueles dias do especial, uma pena". Na sequência, as caixas de som passam para mais uma canção conhecida. "Essa a Elis colocou no repertório por exigência dela, tanto que ela incluiu nos shows dela posteriormente. Elis gostava muito de Bituca (N. R. Milton Nascimento). A gente manteve a música depois, como Doces Bárbaros", comenta Caetano sobre uma interessante versão de "Fé Cega, Faca Amolada", bastante próxima a versão que Elis veio a interpretar depois no famoso show de Montreux, em 1978.

Entre várias conversas e discussões entre o quarteto, a fita encerra o lado A, tendo no lado B Gal e Elis conversando sobre algumas canções que poderiam fazer dueto, enquanto Gil e Caetano estão fazendo a criação de ao menos duas faixas reconhecíveis: "Chuckberry Fields Forever" e "Esotérico". Há também uma breve passagem de Gal cantando "Volta" acompanhada ao piano. Provavelmente Mayrink deixou a fita rolando nesse momento, e a única canção completa apresentada é uma apenas com piano e violão (segundo Caetano, é Gil ao violão) de "O Seu Amor", com Gal, Elis e Caetano fazendo os vocais, encerrando então o lado B. "Estou curioso para saber o que vem na segunda fita", diz Caetano, e então, vamos para ela.

Caetano e Elis em encontro de junho de 1975

A outra caixa traz um "ENTREVISTA" bem trabalhado na parte inferior da tampa, e no momento em que Caetano vê a palavra, começa a dar gargalhadas. Perguntei o que havia acontecido e ele "Você entenderá ao final, você entenderá!". A entrevista começa com Mayrink perguntando para a dupla sobre qual é a proposta do show. Elis responde: "Estamos querendo fazer um samba do crioulo doido no palco, bicho. O maior barato que o Brasil já viu e ouviu. A gente vai unir nomes que representam um cenário musical legitimamente brasileiro de norte a sul deste país. Já que o Vinícius me apelidou de 'Pimentinha', então vamos colocar essa Pimentinha junto a melhor Pimenta do país, que é a baiana, né meu rei, para criar com esses doces de pessoas que são Gil, Gal e Caetano, Os Doces Apimentados".

Caetano surge na fita: "Vamos criar um palco diferente, que não fique naquela coista estática e careta dos shows atuais. Nossa ideia é que, já que vamos apimentar desde o nome, então precisamos tornar o palco quente". "Como será isso?" diz Mayrink. "Vamos fazer uma mudança na diagramação do cenário e das luzes. Mudanças de roupas serão uma constante, assim como fantasias. Pensamos em trazer uma conotação erótica através das nossas performances, com um vestuário diversificado que exalte nossos corpos, mas sem ser vulgar. E teremos muitas composições novas, minhas, de Gil, e até de artistas estrangeiros" segue Caetano. Elis complementa: "Queremos pegar os Ruy Guerra, os Vinicius de Moraes, alguns dos nomes de maior peso da América Latina, e inserir isso num caos nunca visto antes. Queremos fazer de tudo no palco né Geraldinho, provocar a plateia, chocar mesmo".

Elis em entrevista de agosto de 1975

Então Mayrink fala: "Mas essa união será algo revolucionária. Vocês são bárbaros", e Elis, em choque, de pronto salta: "Você é burro cara, que loucura! Como você é burro! Que coisa absurda! Como você nos chama de bárbaros? As atrocidades que esses povos fizeram, você não entende que queremos homenagear nosso país". Caetano ri enquanto comenta com o consultor: "Viu? A Elis não entendeu o lado do bárbaro. E na época, eu percebi que ela ficou muito irritada com o Mayrink. Foi então que em 1978 eu falei para ele que ele era burro, foi por causa da Elis. Por que eu entendi o que ela falou, e que agora essa fita está aí para mostrar. O Mayrink tinha esse comportamento que dava um toque de agressividade, e por isso eu quis lembrar dessa fala da Elis, até por que eu também estava puto com ela".

A fita encerra-se exatamente após o esporro de Elis, com um Mayrink de voz exaltada falando "porra Elis, qual é a tua?", e Caetano então segue contando sua versão da história. "Não havia como dar certo. A Elis tava com um pensamento muito modernista, cafona, de usar música francesa no palco, uma coisa tão provinciana. A gente acabou discutindo e então, como já havíamos criado várias canções, decidimos por chamar a Bethânia. Daí, para sacanear a Elis, a gente chamou o novo conjunto de Os Doces Bárbaros. Acho que foi por causa disso que ela concordou em fazer o que fez comigo naquele show do Transversal do Tempo, me imitando com aqueles trejeitos desengonçados, colocando 'Gente', que é uma música que eu cômpus e amo, com tanto deboche que não era quem eu sou como pessoa entende. Mesmo ela tendo me dito que foi coisa dos diretores, aquilo me magoou profundamente, sabe, por que ela já tinha dito aos quatro cantos que gostava de mim como gostava do irmão dela. Todo mundo sabe que não gostei dessa parte do show, aquele cartaz de Coca-Cola escrito ‘Beba Gente’. Era agressivo, uma bobagem. E o show também era esquisito, muito pra baixo e diferente do que havíamos feito com os Doces Bárbaros, e ocorreu mais ou menos na época que eu falei o que falei pro Mayrink. Mas a gente se acertou depois, e ela até bebeu conhaque rindo muito".

Geraldo Mayrink

Empolgado, Caetano amplia a polêmica. "A Elis era uma artista sofisticada da legítima música popular brasileira, mas ela tinha uma insegurança intelectual e de prestígio, no sentido de palco mesmo, e também de pessoa. E agora que elas já não estão aqui, preciso dizer também que a Gal tinha uma paixão reprimida pela Elis. E ela falou isso para a Elis. Tanto que a Gal chamou a Elis para o especial dela da Globo de 81, e você pode ver como a Elis fica o tempo todo sem olhar para a Gal, desorientada de estar diante daquele mulherão, que tinha uma paixão enorme pela Elis. Uma coisa louca de duas mulheres incríveis entende!".

Mas e agora Caetano o que será feito dessa fita? "Sei lá, isso faz tanto tempo. 50 anos que ninguém soube disso. Penso que o melhor a ser feito é deixar isso num museu, por que as pessoas irão ficar só imaginando o que podia ter saído daí. Saiu muita coisa boa. O palco da Elis durante o Falso Brilhante praticamente veio todo daí, assim como nossas fantastias d'Os Doces Bárbaros. Eu não faço questão de falar mais nada sobre isso. Vou seguir minha vidinha, fazendo essa turnê com minha irmã Bethânia, por que isso aí não me pertence mais. Que fique sendo uma notícia real para vocês da imprensa, e para aquele imbecil que achou que eu tinha colocado 'Elis' em 'Podres Poderes', por que no fundo eu queria mesmo, mas não iria colocar uma prosódia assim numa letra. No fundo, se um dia fizessem algo com isso, vai parecer que foi ficção".

Obs: Gustavo Mayrink disse que irá doar as fitas para o museu em homenagem à seu pai, com data de inauguração ainda a ser informada.

sexta-feira, 22 de novembro de 2013

Notícias Fictícias Que Gostaríamos Que Fossem Reais: Jethro Tull - A Drunk Passion Play [2013]




Por Mairon Machado (criação do texto) e Pablo Ribeiro (criação das artes do Box)

Há quarenta anos, o grupo britânico Jethro Tull lançou seu sexto disco de estúdio, A Passion Play, que se tornou uma obra atemporal dentro da longa discografia do grupo de Ian Anderson (flauta, violões, voz, saxofone, percussão, harmônica), principalmente por vir após o incrível Thick as a Brick (1972), e, assim como seu antecessor, ser um álbum conceitual, composto exclusivamente apenas da canção que dá nome ao LP.

A Passion Play mostra um Jethro Tull com novas inspirações, com uma letra conturbada (narrando a história do homem após a morte) e destacando principalmente a utilização do saxofone (por parte de Anderson) ao longo de toda a canção, o que acabou levando à imprensa especializada da época a apelidar o grupo de Van der Tull Generator (uma alusão aos britânicos do Van der Graaf Generator). Na época, o grupo era composto por Anderson, Martin Barre (guitarra, violões), Barriemore Barlow (bateria, tímpano, percussão), John Evan (piano, órgão, sintetizadores) e John Hammond-Hammond (baixo, violões, narração).

Imagem interna do livreto, com fotos e textos inéditos


A complexidade de "A Passion Play" está em um nível bem acima de "Thick as a Brick", e se tornou o verdadeiro caso "Ame ou odeie". Surpreendentemente, o álbum foi o mais vendido no ano de 1973 nas paradas americanas, seguindo os passos de Thick as a Brick (que havia conseguido esse êxito um ano antes) e consolidando o Jethro Tull como uma das principais bandas do rock progressivo.

Enquanto muitos fãs torcem o nariz, outros tem o álbum no topo da lista de melhor do grupo, e parece que não são só os fãs, já que o líder do Tull, o citado Ian Anderson, há exatos vinte anos lançou o CD duplo Nightcap: The Unreleased Masters 1973–1991, em uma camuflada comemoração aos vinte anos (na época) de A Passion Play, já que o primeiro CD, My Round: Chateau d'Isaster Tapes contém as gravações originais de "A Passion Play", registradas em 1972, e que foram adaptadas ou reformuladas para se tornarem o sexto disco do grupo.

Pois agora, Anderson mais uma vez presta seu tributo ao disco, e lança no mercado o incrível Box Set A Drunk Passion Play, que certamente irá atiçar os fãs e não fãs do grupo, devido a um conteúdo diferenciado e raro, mas que saiu em uma tiragem limitada (e numerada) de apenas mil cópias, feitas somente por encomenda.

O Consultoria do Rock entrou em contato diretamente com o próprio Anderson, e foi agraciado com um exemplar da caixa diretamente das mãos do cidadão, e trazemos nossas impressões sobre a mesma. O Box possui dimensões 40 cm x 40 cm x 10 cm, em um material bem trabalhado e resistente, mais massivo e grosso do que o que estamos acostumados a ver.


Imagens da reprodução do encarte original de A Passion Play,
inseridas nos posters que acompanham a caixa



O Box consiste de quatro mídias. A primeira é um inovador sistema de gravação, misturando na mesma mídia o formato blu-ray e o formato DVD comum, trazendo A Passion Play e My Round: Chateau d'Isaster na íntegra, com uma remasterização feita diretamente das fitas originais e escolha para Stereo ou 5.1 Surround System. O mais interessante é que é possível ouvir a mídia em qualquer aparelho, inclusive no CD Player, pois a mesma foi desenvolvida para reconhecer imediatamente aonde está inserida, e reproduzir as canções registradas para o formato especificado. Uma novidade que deverá ser seguida por outros grupos em breve.

A segunda e a terceira mídia são CDs que apresentam o show realizado pelo Jethro Tull em Los Angeles, na data de 22 de julho de 1973, um dia antes do álbum chegar às lojas daquele país, e uma das raras apresentações na qual o mesmo foi interpretado na íntegra. Esse show já circula pelo mundo através de um bootleg chamado Supercharged Through L. A., mas aqui, ganhou uma digitalização que torna a audição muito prazerosa, sem nenhum chiado ou ruído. O quinteto manda ver "A Passion Play" e ainda interpreta boa parte de "Thick as a Brick", além de petardos como "Wind-Up", "Aqualung" e "Cross Eyed-Mary".

Por fim, a quarta mídia é um DVD com raras apresentações do Tull entre 1972 e 1975, destacando diversas versões para "Thick as a Brick" e "A Passion Play", aonde podemos conferir por exemplo imagens originais da turnê de Thick as a Brick, jamais lançadas oficialmente e aqui em um tratamento de excelência visual, imagens nunca vistas da turnê de A Passion Play e uma jam session feita pelo grupo em Londres, 1975, com mais de vinte minutos de duração. Ainda no DVD, temos nos extras uma longa entrevista com Anderson, contando como foi o processo de gravação de A Passion Play, bem como a história interativa de " The Story of the Hare Who Lost His Spectacles", um dos trechos de "A Passion Play", especialmente para crianças e um jogo na qual você responde perguntas sobre a carreira do Tull e também sobre a história de A Passion Play. Na medida que você acerta as questões, a bailarina bebe um copo de uísque, e no final, quando todas as perguntas foram respondidas corretamente, a bailarina aparece bêbada, deitada conforme a capa original do LP, certificando a imagem irônica que o grupo sempre apresentou desde sua origem.
Whiskey
Uísque de doze anos acompanhando a caixa


Falando em uísque, talvez esse seja o maior atrativo da caixa (além da música, é claro). Isso mesmo, dentro do caixote, há uma garrafa de um litro de uísque escocês doze anos, desenvolvido especialmente para este lançamento, com rótulo personalizado e assinatura de Anderson. O uísque é Maravilhoso, com um sabor inigualável, e ao mesmo tempo que lamenta-se não preservar o mesmo para a posteridade, é impossível beber apenas um gole do mesmo durante a audição das mídias. Uma sacada genial, mas que torna a caixa ainda mais inacessível por nossas bandas.

Complementam o Box dois pôsters em tamanho 40 cm x 30 cm, com as capas do A Passion Play original e do caixote aqui resenhado, tendo internamente a reprodução da capa interna original de A Passion Play, com o convite ao espetáculo inserido junto às letras da canção de forma idêntica ao lançamento de 1973, e um livreto capa dura, trazendo fotos da época, textos inéditos e entrevistas com pessoas envolvidas na gravação de A Passion Play.

Enfim, apesar do preço bem salgado, e de ter saído somente lá fora, corra atrás desse magnífico lançamento, e delicie-se com a música (e o uísque) de uma caixa que nem parece real.

Todo o material da caixa

quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

Notícias Fictícias Que Gostaríamos Que Fossem Reais: Rolling Stones e AC/DC gravam discos juntos!


Por Mairon Machado
Arte da capa: Pablo Ribeiro

Finalmente os fãs dos Rolling Stones tem o que comemorar. Passados oito anos de seu último lançamento, o álbum A Bigger Bang, o grupo em 2012 trouxe a coletânea GRRR!, comemorando os cincoenta anos de estrada, a qual apresenta as inéditas "One More Shot" e "Doom and Gloom", essa última com um clipe tendo cenas de nudez, zumbis e explosões. Tudo isso culminou com o retorno aos palcos no último dia 25 de novembro no London O2 Arena. Mas as comemorações não param por ai.

Eis que um projeto remoto, surgido em uma sessão de camarim após o Molson Canadian Rocks for Toronto (realizado no Canadá em 2003 para mais de oitocentas mil pessoas) vem a tona. 

Naquele festival, os Rolling Stones encerraram a noite que havia tido antes Rush e AC/DC, entre outros, e dividiram o palco com os guitarristas Malcolm e Angus Young (ambos do AC/DC) para interpretar uma versão matadora para “Rock Me Baby”. Nos camarins, os dois guitarristas, Keith e Angus, entre sorrisos e bebidas, brincaram: “Precisamos fazer um disco só de blues juntos!”. Por incrível que pareça, isso aconteceu. 


Keith e Angus

Em um sigilo quase absoluto, o álbum foi gravado nas Bahamas entre setembro e outubro últimos, e será lançado no início do ano que vem. Graças a um colaborador do blog, amigo pessoal de Mick Jagger, tivemos acesso ao mesmo, o qual receberá o nome de The Rolling Stones in a Highway to Hell

Nele, estão dez grandes clássicos do blues americano, além de versões revisitadas para “Ride On” e "Boogie Man" (AC/DC) e "Country Honk" e “You Gotta Move” (Rolling Stones). The Rolling Stones in a Highway to Hell abre com a versão em estúdio para “Rock Me Baby”, e desfila por canções de Robert Johnson (“Me & The Devil Blues”, “Crossroads”), Muddy Waters (“Nine Below Zero”), B. B. Kimg (3 O’Clock Blues” e “Sweet Sixteen”), Stevie Ray Vaughan (“Ain’t Gone ‘N’ Give Up On Love”), Blind Willie McTell (“Statesboro Blues”) e John Lee Hooker (“Worried Life Blues). 


Stones e AC/DC reunidos para um lançamento raro

Ambas as bandas participam em todas as canções, deixando apenas a tarefa para Brian Johnson e Mick Jagger cantarem as canções, sozinhos. Johnson surpreende, principalmente por não estar com a voz tão esganiçada, cantando “You Gotta Move”, "Country Honk", “Crossroads”, “3 O’Clock Blues” e “Worried Life Blues”, enquanto Jagger esbanja malícia em “Sweet Sixteen”, “Me & The Devil Blues” (essa com direito a uma pequena inserção de “Sympathy for the Devil” na letra), “Ain’t Gone ‘N’ Give Up On Love”, “Rock Me Baby”, "Boogie Man" e “Nine Below Zero”, além de fazer chorar na belíssima recriação de “Ride On”. 

Mas não pense que só os grandes figurões do blues são homenageados. O Canned Heat também recebeu uma cover ilustre no álbum, no caso, “That’s Alright Mama". 

The Rolling Stones in a Highway to Hell
 receberá como bônus (em uma tiragem limitada de apenas cinco mil cópias) a versão de “Rock Me Baby” gravada ao vivo em Toronto e mais um DVD com as sessões de ensaio, entrevistas, um pôster, livreto e dois bottons, tudo envolto em um pacote especial no formato de uma garrafa de uísque. 


Mick Jagger e os Rolling Stones

Sem sombra de dúvidas, o lançamento do ano! 

Track list 

1. Rock Me Baby 
2. That’s Alright Mama 
3. Nine Below Zero 
4. Boogie Man
5. Crossroads 
6. Statesboro Blues 
7. You Gotta Move 
8. Ain’t Gone ‘N’ Give Up On Love 
9. Worried Life Blues 
10. Ride On 
11. 3 O’Clock Blues 
12. Sweet Sixteen
13. Me & The Devil Blues
14. Country Honk


terça-feira, 23 de agosto de 2011

Notícias Fictícias que Gostaríamos que Fossem Reais: The Trinity Festival Tour



Por Mairon Machado (Publicado originalmente no blog Consultoria do Rock)

Notícias Fícticias que Gostaríamos que Fossem Reais é uma sessão da Consultoria do Rock onde apresentamos notícias fictícias, mas que poderiam se tornar reais em algum momento de nossas estadas aqui na Terra. A intenção não é gerar polêmcias ou controvérsias sobre determinados fatos, mas apenas incitar a discussão sobre o que ocorreria se o mesmo fato chegasse a acontecer.

O sonho de muito marmanjo tornou-se realidade na noite do último domingo, 21 de agosto, na Inglaterra. Diante de mais de 100 mil pessoas, em um Wembley Stadium tomado por jovens, velhos e admiradores do rock em geral, que saíram de suas casas praticamente carregando toda a família, foi dada a largada para aquele que está sendo considerado o maior festival da história do rock, o The Trinity Festival, o qual reúne nada mais nada menos que três bandas consideradas as maiores da década de 70, e que formam o que hoje é considerada a santíssima trindade do heavy metal: Led Zeppelin, Black Sabbath e Deep Purple.

Os três grupos reuniram-se depois de muitas especulações. Afinal, o Led Zeppelin acabou em 1980, após a morte do baterista John Bonham, e mesmo com as diversas reuniões, jamais voltaram a fazer uma excursão. Por outro lado, o Black Sabbath também passou por diversas pendengas, sendo que a última vez que seu nome foi citado foi através do extinto Heaven and Hell, o qual contava com o baixinho Ronnie James Dio nos vocais (falecido em 2010). Por fim, o Deep Purple, apesar de ainda estar na ativa, há alguns anos marca a rivalidade entre Ian Gillan (vocais) e Ritchie Blackmore (guitarras), que praticamente não se falam havia quase duas décadas.

Tony Iommi e Ian Gillan, na conferência de imprensa pré-show


Mas os tempos passaram, e graças a diversos promotores, entre eles Bob Geldof (famoso por organizar os festivais Live Aid, em 1985, e Live 8, em 2005), bem como o apelo emocional, o trio pesado foi reunido para fazer uma turnê mundial que arrecadará fundos para ajudar vítimas de atentados terroristas e também crianças necessitadas ligadas à grupos não governamentais com sustento da ONU.

Dessa forma, o Led Zeppelin foi reunido com Jimmy Page (guitarras), John Paul Jones (baixo), Robert Plant (vocais) e Jason Bonham (bateria), sendo essa a mesma formação que participou do último show do grupo, em dezembro de 2007. O Black Sabbath veio com Ozzy Osbourne (vocais), Tony Iommi (guitarras), Geezer Butler (baixo) e Eric Singer (bateria), já que Bill Ward, o baterista original, passa por alguns problemas de saúde.

Wembley Stadium durante apresentação do Captain Beyond

O caso mais emblemático foi o Deep Purple. Os promotores queriam a formação mais famosa, com Gillan e Blackmore dividindo o mesmo o palco. A birrenta dupla não topou, e a solução foi apresentar o Deep Purple com dois line-ups diferentes, onde os primeiros cinquenta minutos competem à seguinte formação: Ian Gillan (vocais), Roger Glover (baixo), Ian Paice (bateria), Don Airey (teclados), Jon Lord (teclados) e Steve Morse (guitarra). Já os últimos cinquenta minutos foram reservados para a formação que conta com Ian Paice, Jon Lord, Don Airey, Ritchie Blackmore, Glenn Hughes (baixo, vocais) e David Coverdale (vocais).

A insanidade dos fãs para conseguir um ingresso foi tamanha que as vendas bateram recordes, sendo os 100 mil ingressos vendidos em menos de cinco minutos. No último domingo, às 16 horas, os portões do estádio se abriram para uma noite memorável.

Lee Dorman, baixista do Captain Beyond


O show de abertura foi com nada mais nada menos que uma das melhores bandas do hard rock setentista. Geldof e os demais produtores trouxeram do limbo Rod Evans (vocais), Bobby Caldwell (bateria), Larry "Rhino" Reinhardt (guitarras) e Lee Dorman (baixo), e, depois de quase 30 anos, o Captain Beyond voltou à cena. Com uma apresentação impecável de pouco mais de 45 minutos, o grupo interpretou seu álbum de estreia, lançado em 1972. O espetacular Captain Beyond foi tocado na íntegra, e o Captain Beyon ainda fez uma bela revisão para um dos hinos da primeira formação do Deep Purple: "Hush".

Um emocionado Rod Evans (vocalista da Mark I do Deep Purple) anunciou a primeira das grandes bandas da noite. O Deep Purple entrou em cena com Gillan detonando "Highway Star". Na sequência vieram "When a Blind Man Cries", "Ted the Mechanic", "Smoke on the Water", "Black Night", "Perfect Strangers", "Woman from Tokyo", "Maybe I'm a Leo" e encerraram com a surpreendente "No No No". Destaque para os sensacionais duelos entre Airey e Lord.

O Deep Purple saiu do palco, mas Gillan continuou. Com a plateia enlouquecida, Gillan contou que era um prazer estar ajudando diversas pessoas ao redor do mundo ao mesmo tempo que estava alegrando as dezenas de milhares de pessoas no Wembley, na primeira data de uma longa turnê, partindo então para o anúncio de "uma das bandas que eu mais admiro em minha vida. Com vocês: Black Sabbath".

Ozzy Osbourne


Iommi, Butler e Singer entraram no palco soberanamente, e, para surpresa geral, soltaram os acordes de "Trashed", canção que abre o álbum Born Again, gravado pelo Black Sabbath em 1983, que conta com Gillan nos vocais. Depois, Ozzy assumiu o microfone, dividindo os vocais com Gillan em "Zero the Hero". Lágrimas rolaram no estádio. A sequência do Black Sabbath contou com "War Pigs", "Black Sabbath", "Never Say Die", "It's Alright", "Paranoid", "Sabbath Bloody Sabbath", "Sleeping Village", "Wicked World", "Children of the Grave" e "N.I.B.". No final do show, Ozzy lembrou Ronnie James Dio, e dedicou a última canção daquela apresentação do Black Sabbath a ele. Assim, chamou ao palco Glenn Hughes, para então interpretarem uma arrepiante versão de "Heaven and Hell".

O público não parava de gritar e chorar. A emoção era total. Hughes deu boa noite para a galera, agradecendo ao Black Sabbath por aquela sensacional apresentação.

David Coverdale


Logo após, com todo seu carisma, Hughes disse: "Chegou a hora de reencontrar velhos amigos. Quanto tempo não subimos em um palco tão grande como esse. Nossa estreia foi praticamente assim. Ritchie, David, Ian, Jon, Don, por favor, venham cá". Debaixo de uma enxurrada de aplausos, a Mark III do Deep Purple estava novamente reunida, com a adição de Don Airey, e a segunda parte da apresentação do grupo foi ainda melhor que a primeira.

Glenn Hughes



O grupo começou com "Burn", que fez tremer o último tijolo do estádio. Na sequência, vieram "You Fool No One", "Stormbringer", "Lady Double Dealer", "A-200", "Mistreated", "Soldier of Fortune" e a linda homenagem a Tommy Bolin com "You Keep on Moving". Blackmore esteve impecável, e os duelos com Airey e Lord mostravam que mesmo velhinho, o guitarrista manda ver. Mesmo assim, o músico não perdeu a pose dos setenta, e manteve-se todo o tempo no lado direito do palco, sem se quer chegar perto dos colegas de apresentação, a não ser naquele que talvez tenha sido O MOMENTO do show.

Ritchie Blackmore


Com o Wembley Stadium em  comoção, e em um dos raros momentos da história, Blackmore foi ao microfone de Hughes, e dedicou algumas palavras aos amigos Cozy Powell e Ronnie James Dio, considerado por ele o maior gênio da voz do heavy metal. Blackmore contou que a perda dos ex-companheiros de Rainbow ainda era sentida por ele, e como certamente ambos estavam observando aquela apresentação, uma pequena homenagem seria feita. Então, o guitarrista completou: "Paice, agora é com você", e após uma contagem de "one, two, three, four", Paice detonou a pancada introdução de "Stargazer", uma das principais canções do Rainbow, onde Blackmore, Dio e Powell tocaram juntos, e que foi cantada por Hughes e Coverdale com uma perfeição cirúrgica. Para fechar a apresentação do Deep Purple, Rod Evans voltou ao palco, e ao lado de Coverdale, cantou "River Deep, Mountain High".


O público estava alucinado. Muitos não sabiam para onde olhar. Depois de um intervalo de 40 minutos, as luzes se apagaram, e então, Page, Plant, Jones e Bonham (o filho), começaram as duas horas do show do Led Zeppelin com "Rock and Roll". A partir de então, o grupo desfilou clássicos e mais clássicos: "Celebration Day", "The Song Remains the Same", "The Rain Song", "Stairway to Heaven", "Kashmir", "Achilles Last Stand", "Over the Hills and Far Away", "We're Gonna Grove", "Whole Lotta Love", "Dazed and Confused", "Out on the Tiles", "No Quarter", "Since I've Been Loving You" e "Black Dog" foram cantadas em uníssono. O quarteto saiu do palco, voltando para o bis com mais duas canções: "All My Love" e "Thank You", cantada por Plant, Coverdale e Ozzy.


Led Zeppelin em ação


Por fim, todos subiram ao palco e agradeceram aos fãs, que foram para casa depois da maratona de mais de seis horas de apresentação, a qual está saindo da Inglaterra em direçao à Itália. Depois, o The Trinity Festival passará por Alemanha, Espanha, França e Dinamarca, fazendo praticamente um show a cada duas semanas, tendo ainda quatro datas na Ásia (duas no Japão, uma na China e uma na Índia), duas na África do Sul, seis datas nos Estados Unidos, duas datas no Canadá e mais cinco datas na América do Sul (três no Brasil, uma na Argentina e uma no Chile), encerrando as 25 datas programadas justamente com uma apresentação na reabertura do Maracanã, programada para janeiro de 2013, e prometendo uma grande surpresa para a banda de abertura em cada local dos shows, inclusive no Brasil.

Façam suas apostas, mas principalmente, preparem o coração. Essa turnê é algo com o qual sempre sonhamos!

terça-feira, 3 de maio de 2011

Notícias Fictícias que Gostaríamos que Fossem Reais: caixa traz material unindo Jimi Hendrix e Miles Davis


Capa da caixa
Por Mairon Machado (Publicado originalmente no blog Consultoria do Rock)

Notícias Fictícias que Gostaríamos que Fossem Reais é uma sessão da Consultoria do Rock onde apresentamos notícias fictícias, mas que poderiam se tornar reais em algum momento de nossas estadas aqui na Terra. A intenção não é gerar polêmicas ou controvérsias sobre determinados fatos, mas apenas incitar a discussão sobre o que ocorreria se o mesmo fato chegasse a acontecer.

O ano de 2011 propiciou para os admiradores da música um achado único, até hoje praticamente desconhecido. Em fevereiro deste ano, na longíqua Seaford, na Inglaterra, foram encontradas duas fitas cassetes em um pequeno casebre, onde supostamente morou Monika Danneman. Monika foi a última namorada do deus negro da guitarra, Jimi Hendrix, e, ao que parece, foi a única pessoa a ter acesso a uma sessão até então desconhecida, registrada nessas fitas. Nada mais nada menos que um encontro entre dois gênios da música: Jimi Hendrix e Miles Davis.

Uma das fitas encontradas na antiga casa de Monika

Monika faleceu em 5 de abril de 1996. A casa onde morava até sua morte passou por diversos donos, até que o mais recente morador, um escocês de nome Donald McFlower Habigaill resolveu destruir o antigo porão. Foi nessa destruição que uma caixa com algumas cartas, pedaços de roupas, fotos e duas fitas cassete foram encontrados.

McFlower Habigaill, o novo milionário

As fitas, que estavam em ótimo estado de conservação, logo foram levadas a conhecimento da gravadora Legacy, responsável pelo relançamento de muito material de Hendrix nos últimos anos, que pagou a bagatela de 5 milhões de dólares pelo material. Cada uma das fitas contém 45 minutos de improvisos e arranjos para clássicos de Hendrix e Davis, apenas com os dois, em uma espécie de ensaio para a gravação que ambos pretendiam fazer juntos, logo após o encontro no Isle of Wight Festival de 1970.

Os boatos de que ambos haviam gravado algo juntos rola pela internet e pela história desde 1969. Os dois teriam agendado datas no Carnegie Hall para fazer alguns ensaios, mas isso não ocorreu devido à precoce morte de Hendrix em setembro de 1970. Mas agora ficou comprovado que, por algumas horas, os dois estiveram sob o mesmo teto, e produziram ali as canções que foram lançadas na mais nova caixa da Legacy, intitulada And the Gods Made Love.


Algumas fotos que constam do livro presente na caixa: Miles no enterro de Hendrix (no alto), 
Hendrix e Monika (no centro) e Hendrix no Hawaii (logo acima)


Na caixa está um livro com diversas fotos, como a do próprio Miles no enterro de Hendrix e dos últimos dias de vida do guitarrista, duas palhetas, um imã de geladeira em formato de trompete, uma bandana com o desenho da capa e quatro CDs. Os dois primeiros CDs apresentam as fitas, na íntegra, em sua versão original. O terceiro CD traz uma mescla das duas fitas em uma versão remasterizada, adicionando também elementos como baixo e bateria, os quais foram tocados por Billy Cox (baixista que acompanhou Hendrix durante boa parte de sua carreira) e por Ginger Baker (Cream, Ginger Baker's Airforce, Blind Faith). O último CD é uma caprichada recriação para as duas longas jams que estão nos lados A de cada fita, com uma big band formada por três trompetes, um sax-alto, um sax-tenor, um clarinete, uma tuba, bateria e baixo.
Miles Davis


Concentrando-se nas canções originais, apenas com guitarra, trompete e gemidos cantados por Miles, temos no CD 1 ensaios para "...And the Gods Made Love" (faixa que abre o excelente LP Electric Ladyland, de Jimi Hendrix, lançado em 1969), "1983... (A Merman I Should Turn to Be)" (outra de Electric Ladyland), além de "Jam 1" e "Jam 2". O destaque fica para a excelente harmonia entre guitarra e trompete, principalmente nas jams, dois maravilhosos blues, sendo que "Jam 1" contém 20 minutos de embriagantes e ácidos improvisos, onde Hendrix e Miles parecem tentar provar um para o outro quem era mais talentoso com seu instrumento. 
Jimi tocando bateria


O CD 2 é bem mais experimental. Miles e Hendrix misturam distorções e instrumentos, como violão, tabla e percussão (Hendrix) além de flugelhorn e piano (Miles Davis). Estão nele "Jam 3", que é uma jazzística improvisação que poderia facilmente estar dentro de Bitches Brew, álbum de Miles, lançado em abril de 1970, fundindo de vez o jazz com o rock; "Mademoiselle Mabry (Miss Mabry)", do álbum Filles de Kilimanjaro, lançado em 1969 por Miles e aqui registrada apenas com violão e piano; o blues de "Jam 4", com flugelhorn e bateria; e a longa recriação para "Mood Indigo", de Duke Ellington, com bateria, trompete, violão e guitarra.

Os outros dois CDs são complementos para uma audição emocionante, com um ótimo arranjo para as canções, arrancando, além de lágrimas, a sensação e a vontade de saber como ficariam essas jams em uma gravação oficial, algo que infelizmente não poderemos ouvir, já que tanto Hendrix quanto Miles, que faleceu em 28 de setembro de 1991, dez dias após a morte de Hendrix completar 21 anos, hoje estão presenteando os que estão no paraíso com muita improvisação, sabedoria e técnica.
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