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terça-feira, 3 de janeiro de 2012

Melhores de 2011: por Mairon Machado


Massahara


Nesta primeira semana de janeiro, de segunda a sexta, diversos colaboradores da Consultoria do Rock estarão apresentando listas com suas preferências particulares envolvendo os novos álbuns de estúdio lançados em 2011. Cada redator tem a oportunidade de elaborar sua listagem conforme seus próprios critérios, escolhendo dez álbuns de destaque, além de uma surpresa e uma decepção (não necessariamente precisam ser discos). Conforme o desejo de cada um, existe também a possibilidade de incluir outros itens à seleção, como listas complementares, enriquecendo o processo e apresentando sugestões relacionadas ao ano que acabou de se encerrar. Como culminância do processo, no sábado, os dez álbuns mais citados serão compilados e receberão comentários de todos os colaboradores, não importando o teor das opiniões.

Por Mairon Machado (Publicado originalmente no blog Consultoria do Rock)

Não sou muito adepto aos novos sons, mas sempre que uma banda que eu curto lança um álbum novo, corro atrás para ver o que está acontecendo, com exceção do jazz, um dos meus estilos preferidos e que, independente da década, é sempre bem vindo a qualquer momento. Porém, no último ano, graças principalmente à minha colaboração aqui no blog, acabei ouvindo muito material de bandas novas ou desconhecidas para mim, e isso refletiu bastante na minha definição dos 10 melhores álbuns de 2011, mesmo de alguma forma incluindo algumas velharias. De forma geral, ficou o lado positivo de um ano repleto de bons lançamentos e a dificuldade em escolher apenas 10 entre tantos discos bons.

Álbuns do ano

Massahara - Massahara
Uma das sessões do blog é a "Direto do Forno", na qual um de nossos colaboradores recebe um CD que acaba de ser lançado ou relançado e é designado para resenhar o mesmo. Fui felicitado de receber o primeiro álbum do grupo paulista Massahara, auto-intitulado, que alegrou bastante vários dias do meu 2011. Nas oito canções do CD, um ótimo resgate da sonoridade do hard setentista, destacando o talento individual de músicos com grande técnica e principalmente, criatividade, que fizeram de Massahara o melhor álbum do ano passado para este que vos escreve. Ainda hoje continuo ouvindo e me surpreendendo com canções como "Já Nem Ligo Mais", "Lugar ao Sol" e "Tudo o que Eu Quero". O Massahara virou a referência para mostrar que o som setentista, cultuado por muitos (eu inclusive) ainda é capaz de sobreviver e apresentar discos decentes.

Yes - Fly from Here
Quando Jon Anderson saiu do Yes em 1979, o mundo recebeu de presente Drama (1980), um dos melhores discos do grupo, que mostrava o talento de compositor do baixista Chris Squire e do guitarrista Steve Howe. Ao lado dos ex-Buggles Trevor Horn (vocais) e Geoff Downes (teclados), bem como do baterista Alan White, Squire e Howe começaram a compor diversas canções, e muitas delas ficaram de fora de Drama. 30 anos depois, Anderson saiu novamente do Yes. Algumas das canções que ficaram fora de Drama foram resgatadas por Squire, Howe e White, que reviveram os momentos do que foi chamado de Yes-Buggles ao lado de Downes e do novato vocalista canadense Benoît David. Com a produção de Trevor Horn, saiu Fly from Here, que apresentou finalmente ao mundo a versão final da suíte "Fly From Here". É inegável que não é o velho Yes dos anos 70, e que David não tem o alcance vocal de Anderson, mas, por outro lado, as composições de Fly from Here são de encher os olhos e ouvidos. Não somente a faixa-título é destaque. Todo o álbum é um conjunto de belas canções, que soa como uma perfeita sequência para Drama. Se você curtiu o álbum de 1980, certamente curtirá esse segundo álbum sem Anderson, e o segundo melhor lançamento de 2011.

Saxon - Call to Arms
O que você espera ouvir de um grupo da NWOBHM? Bom, eu espero ouvir linhas melódicas de guitarras, um baixo grudento e canções que fazem cantarolar do nada. Há algum tempo eu não conseguia encontrar isso em um disco do estilo, até que ouvi Call to Arms, o décimo nono álbum do Saxon. Com certeza, é o melhor disco do grupo desde Solid Ball of Rock (1991), e a adição de Don Airey nos teclados deu um ganho a mais para o já ótimo som feito por Biff Byford (vocais), Paul Quinn (guitarra), Doug Scarratt (guitarra), Nibbs Carter (baixo) e Nigel Glocker (bateria). Vários são os pontos altos de Call to Arms, mas vou indicar apenas três pérolas, que futuramente, serão chamadas de clássicos: "Call to Arms", "Hammer of the Gods" e "Mists of Avalon". Enquanto outros grupos da NWOBHM estão meio perdidos em termos do que querem fazer musicalmente, o Saxon é a prova viva de como se manter na ativa fazendo o que fazia no passado, e ainda assim sendo original.

Vãn Züllat - Betelgeuse
Três anos de espera e finalmente o segundo álbum do grupo pelotense Vãn Züllat foi lançado. A expectativa era enorme. Afinal, a suíte "Betelgeuse" estava sendo interpretada ao vivo, e muitos se perguntavam como aquela maravilha do rock progressivo ficaria em estúdio. A dúvida foi sanada em Betelgeuse, e mostrou que não só os quase 20 minutos da faixa-título eram a arma principal de Cleber Vaz (teclados, flautas, guitarras), Gabriel Mattos (baixo), Marcelo Silva (bateria) e Jonatã Müller (guitarras). A épica "Seis Níveis de Criogenia" é o ápice de criatividade do rock progressivo nacional nos últimos 20 anos, misturando bandolim, berimbau, e claro, efeitos sintetizados de moog, mellotron, hammond e outros aparatos que tanto encantam os admiradores do estilo. Fora isso, o talento individual de cada membro é excepcional, resultando em um disco redondinho e que superou o já perfeito O Casulo (2008). Segundo disco de progressivo na minha lista, e não o último. 

R.E.M. - Collapse Into Now
Quando em 2010 foi anunciado que os americanos do R.E.M. estavam gravando um novo disco, a dúvida pairava no ar. Desde New-Adventures in Hi-Fi (1995), o grupo lançava material que alternava entre o ótimo e o descartável. O último disco do grupo até então, Accelerate (2008), figurava como ótimo, e assim, o próximo álbum deveria ser considerado descartável. Pois Collapse Into Now fugiu à regra e agradou em cheio aqueles que apreciam o que o trio Michael Stipe (vocais), Peter Buck (guitarras) e Mike Mills (baixo, teclados) vêm fazendo desde que estourou no planeta inteiro com "Losing My Religion", há vinte anos. Vários são os momentos de destaque desse bonito disco, do qual recomendo três canções: "Überlin", "It Happened Today" (com participação de Eddie Vedder) e "Blue", a segunda canção do grupo contando com os vocais emocionantes de Patti Smith. Infelizmente, esse álbum também marcou por ser o último de uma das principais bandas de rock dos anos 80.

Uriah Heep - Into the Wild
Ah, que saudades dos anos 90! É o pensamento que vem à cabeça quando ouço Into the Wild, o disco lançado pelos ingleses do Uriah Heep. Depois de dez anos,  o grupo resolveu voltar a lançar discos de estúdio. Assim, em 2008 veio Wake the Sleeper, seguido por Celebrate (2009) e Into the Wild, o melhor dos três. A linha musical é similar ao que foi apresentado quando Bernie Shaw assumiu os vocais do grupo, remetendo diretamente aos bons Sea of Light (1995) e Sonic Origami (1998). Os principais destaques vão para "Trail of Diamonds", "Nail on the Head" e "Lost", nas quais os tradicionais solos com wah-wah de Mick Box, acompanhados pelo hammond certeiro de Phil Lanzon e da cozinha formada por Trevor Bolder (baixo) e Russell Gilbrook (bateria) mantém o som característico de um dos mais injustiçados grupos do hard britânico. Mais um exemplo de que é possível sobreviver no presente soando idêntico ao passado. No caso do Uriah Heep, é um passado bem recente, mas muito bom.

Wynton Marsalis e Eric Clapton - Play the Blues Live from Jazz at Lincoln Center
A passagem de Eric Clapton pelo Brasil no ano passado não foi tão alardeada, principalmente por ocorrer em um período no qual o Rock in Rio e o SWU Festival eram as principais atrações no país. Além disso, a divulgação do álbum lançado pelo guitarrista em 2011 foi precária. Sei que não era permitido tratar de discos ao vivo entre os 10 melhores do ano, mas com todo o perdão aos meus colegas consultores, Play the Blues Live from Jazz at Lincoln Center não poderia ficar de fora dessa lista de jeito nenhum. Não é apenas um disco ao vivo. É um disco ao vivo de jazz com Eric Clapton e o monstro do trompete Wynton Marsalis, acompanhados por uma ótima big band, e que é de um ineditismo tão raro, que suas canções soam todas como novas, com a diferença de que os presentes no Lincoln Center naquela noite puderam ouvir essa obra-prima. Os fãs mais fieis do guitarrista irão se apavorar com os alucinantes nove minutos de "Layla", mas os admiradores do jazz voltarão no tempo para um boteco impregnado de fumaça de cigarro, com um copo de uísque e a embriagante sonoridade de pérolas arrebatadoras como "Je Turners Blues", "Ice Cream" e "Joliet Bound". Destaque também para o resgate de duas canções de Taj Mahal, "Corrine Corrina" e "Just a Close Walk With Thee". Belíssimo álbum, como poderia ser com a união de dois gigantes da música.

Marcin Wasilewski Trio - Faithful
Ainda no jazz, os poloneses do Marcin Wasilewski Trio lançaram uma obra-prima. Conhecedores do estilo, preparem-se para se assustar com a performance de Marcin Wasilewski (piano), Slawomir Kurkiewick (baixo) e Michal Miskiewicz (bateria). Os caras detonam literalmente, e parece que estamos ouvindo um trio com os saudosos Art Tatum (piano), Slam Stewart (baixo) e Jo Jones (bateria). O trio polonês consegue alternar momentos calmos e simples (à la Keith Jarret Trio) com outros de muita experimentação e delírios instrumentais (no estilo do trio de Michel Petrucciani). Ótimo disco de jazz trio, para curtir em qualquer dia, acompanhado de bons petiscos e embriagantes drinques. Destaque para as gemas "Night Train to You", "Oz Guizos" e "Lugano Lake", que ajudam a fazer deste o melhor disco instrumental lançado ano passado. 

Van der Graaf Generator - A Grounding in Numbers
Desde a volta do Van der Graaf Generator em 2005, o grupo vem lançando um álbum a cada três anos. O primeiro deles, Present (2005), era um dos mais promissores retornos da história. Porém, em Trisector (2008), o grupo virou um trio, e a ausência do saxofonista David Jackson acabou afetando o gosto dos mais conservadores. Pois os remanescentes Peter Hammill (teclados, voz, guitarras), Hugh Banton (teclados, baixo) e Guy Evans (bateria) mantiveram o norte planejado em Trisector e arrebentaram com o fantástico A Grounding in Numbers. O sinistro órgão de Banton volta a se fazer presente, e as letras de Hammill continuam cada vez mais atraentes e inteligentes. Nada melhor para um físico do que ouvir uma canção sobre a identidade de Euler, no caso "Mathematics". Outra fantástica faixa é a épica "All Over the Place", assim como as instrumentais "Red Baron" e "Splink". Por fim, o que mais chama a atenção é a ausência de uma longa canção, sempre característica nos álbuns do grupo, mostrando que, passados mais de 40 anos desde o nascimento do Van der Graaf Generator, eles ainda são capaz de surpreender.

Robbie Robertson - How to Become Clarvoyant
A The Band foi talvez a melhor banda do Canadá, muito devido às canções compostas por seu líder, o guitarrista e vocalista Robbie Robertson, que, cercado de outros gênios da música, lançou álbuns essenciais em qualquer coleção. Seu último disco foi lançado em 1998, e essa volta repentina surpreendeu a todos. E não é que Robbie conseguiu se modernizar sem soar forçado? How to Become Clarvoyant é um disco simples, honesto, recheado de canções leves e gostosas de ouvir em qualquer situação. Trazendo participações especiais de nomes como Eric Clapton, Steve Winwood e Trent Reznor, entre outros, Robbie emociona com bonitas faixas e ótimas letras, onde os destaques maiores vão para as baladas "When the Night Was Young", "The Right Mistake", "She's Not Mine" (essa, uma mistura de U2 com Bruce Springsteen) e as lindas instrumentais "Madame X" e "Tango for Django". Um retorno digno de um dos principais nomes da música.

Menções honrosas:

Alice Cooper - Welcome 2 My Nightmare 
Anthrax - Worship Music
Black Country Communion - 2 
Chickenfoot - III
Deicide - To Hell With God
Domingos Mariotti e Fernando Motta - Reunião
Keith Jarret - Rio
Marcelo Camelo - Toque Dela
Megadeth - Th1rt3en


A surpresa

 
Çağdaş Gençlik Senfoni Orkestrası

Em busca de canções para o segundo Podcast em homenagem ao Dream Theater, descobri uma fascinante apresentação da Orquestra da Juventude Contemporânea de Istambul, na qual, regida pelo jovem maestro Eren Başbuğ, garotos e garotas interpretam diversas canções do Dream Theater em versões sinfônicas. Um espetáculo sonoro, que inclusive me levou às lágrimas em alguns momentos, demonstrando que, por trás de todas as masturbações instrumentais de John Petrucci e cia., existem sim belas e encantadoras melodias. Parabéns à Eren Başbuğ pela iniciativa, e aos membros da Çağdaş Gençlik Senfoni Orkestrası pela coragem e habilidade para interpretar as intrincadas e complexas canções do grupo americano, com destaque para o vídeo acima, no qual "Octavarium" é apresentada na íntegra.

A decepção

O não lançamento do novo álbum do Rush
Em 2010, o single com "Caravan" e "BU2B" foi o anúncio de que em 2011 seria lançado o novo álbum do Rush. A turnê "Time Machine Tour" estava promovendo as novas canções e diversos clássicos do passado. Fui ao Rio de Janeiro assistir ao trio canadense e, comprovei com meus ouvidos, que Geddy Lee não está cantando mais nada, mas está tocando muito. A expectativa ficou então para o que aconteceria em estúdio. Passou-se o ano e nada do novo álbum. Parece que em fevereiro de 2012, Clockwork Angels chegará às lojas. Esperamos que esse não seja o novo Chinese Democracy do rock.


A melhor notícia

A volta do grupo Los Hermanos

Anunciada no final do ano, foi a melhor notícia que um fã do grupo poderia ter. Claro que o quarteto carioca vem se reunindo regularmente, mas para ocasiões especiais. Agora, parece que com uma grande turnê pelo país, pode ser que um novo material surja, saciando a sede pelas canções de Marcelo Camelo, Rodrigo Amarante, Barba e Bruno Medina.


A pior notícia

A morte do guitarrista Gary Moore
Entre tantas perdas que a música sofreu em 2011, sem dúvida a mais sentida foi a do guitarrista Gary Moore. No dia 6 de fevereiro, o mundo acordou sabendo de sua morte. Dono de uma técnica impecável, que foi registrada em dezenas de álbuns perfeitos como Back on the Streets (1978), Run for Cover (1985), After the War (1989), Still Got the Blues (1990), bem como os discos ao lado do grupo Skid Row (34 Hours, de 1971), Thin Lizzy (Black Rose: A Rock Legend, de 1979) e Colosseum (Electric Savage, 1977), isso só para citar alguns, Moore foi um dos nomes mais importantes do rock irlandês, e nos deixou cedo, com apenas 59 anos. Ausência que será marcante na música a partir desse ano.

terça-feira, 24 de maio de 2011

Massahara - Massahara [2011]

Por Mairon Machado (Publicado originalmente no blog Consultoria do Rock)

Foi com muita gratidão e também satisfação que recebi a tarefa de resenhar o primeiro CD do grupo Massahara. Confesso que fui surpreendido positivamente por um álbum sensacional, talvez o melhor já lançado esse ano no Brasil, com o forte tempero do hard setentista empregado com leves pitadas de progressivo e jazz, fazendo de Massahara um achado musical entre a mesmice que anda peregrinando e sendo divulgada por aí.

O grupo Massahara foi formado em 2002 na cidade de São Paulo. Sua primeira formação contava com um quarteto tendo guitarra, baixo, bateria e voz, e as canções eram apenas covers de bandas não tão conhecidas no mundo da música, o que já fazia do Massahara um diferencial entre as demais.

Depois de algum tempo, o Massahara estabilizou-se como um trio, tendo na formação Fabio Gracia (guitarra, vocais), Allan Ribeiro (baixo) e Thiago Sapienza (bateria, vocais), e então, passaram a compor suas próprias canções, onde construiram uma excelente reputação com shows por diversos lugares de São Paulo e região.

Em 2008, Sapienza deu lugar a Douglas Oliveira, e nessa época, o tecladista Ronaldo Rodrigues ingressou no grupo. Com essa formação, lançam um EP não oficial, apresentando canções próprias, influenciadas pelas bandas clássicas como Experience, Cream e Led Zeppelin, mas também adicionando uma forte inclinação para sons no estilo de bandas como Captain Beyond, Armageddon e Beck Bogert & Appice.

Oliveira acabou deixando o Massahara no início de 2010, sendo substituído por Renato Amorim, e exatamente com a entrada de Amorim, começam a gravar o primeiro álbum do grupo. Massahara foi registrado no estúdio Área 13, em São José do Rio Preto, levando alguns meses para ser completado e lançado pelo selo Som Interior Produções Artísticas.

O disco foi gravado em cerca de 50 horas de estúdio, já que os mśicos só de deslocavam para São José do Rio Preto nos feriados prolongados, pois com exceção de Ronaldo, que mora no Rio de Janeiro, os demais todos moram em São Paulo. O fato mais interessante das gravações é que no estúdio Área 13, o Massahara teve a sua disposição instrumentos como amplificadores valvulados, teclados Hammond C3, um Fender Rhodes Mark V e minimoog antigos e também quatro baixos e quatro guitarras diferentes, o que acabou gerando uma sonoridade ainda mais setentista ao produto final.

A bela arte de Massahara (acima) e a imitação de vinil no rótulo
Além disso, o álbum conta com a participação de dois bateristas. Com a saída de Douglas, o grupo, para não atrasar as gravações, convidou Junior Muelas, e depois, Amorim entrou para a banda. O resultado, cada baterista gravou metade das oito canções do álbum. Finalmente, todos os teclados foram gravados em apenas um dia, dando uma sensação de gravação ao vivo em todas as faixas. Outro destaque positivo vai para a arte do CD, contando com uma bela capa (criada por Gracia) e também com o CD imitando um vinil, inclusive tendo o selo da Som Interior como destaque.

A primeira faixa é "Contramão", com o riff de guitarra e baixo de frente para o ouvinte, tendo ao fundo os acordes do órgão e as viradas da bateria de Amorim, onde o maior destaque vai para a linha de baixo feita por Ribeiro. Depois da sessão com wah-wah, Gracia puxa o riff principal, acompanhado pelo baixo e bateria, soltando a voz em um estilo bem similar as grandes bandas citadas anteriormente, e lembrando momentos dos Mutantes no álbum Tudo foi Feito Pelo Sol durante o refrão. O solo de Gracia é repleto de efeitos, e o piano elétrico de Ronaldo dá o toque setentista para o andamento de baixo e bateria, levando então a um rápido solo de moog, e voltando para o solo de guitarra sobre o riff principal, encerrando a letra e a canção com a repetição do refrão.

Ronaldo
"Lugar ao Sol" parece ter saído do fantástico álbum Captain Beyond (1972) tamanha a semelhança do riff e da distorção das guitarras. Mas a semelhança fica apenas no riff. O Massahara coloca a sua cara em mais uma outra grande canção, com destaque novamente para as linhas de baixo de Ribeiro e as intervenções do piano elétrico de Ronaldo, além do fantástico duelo central entre baixo e bateria, onde ambos os instrumentos tocam as mesmas notas. A bateria de Junior Muelas também é outro grande destaque dessa canção, que encerra-se com os belos solos de Gracia e Ronaldo.

A bateria faz a introdução de "Cabeça Boa", que é um hardzão setentista destacando as linhas de guitarra e baixo. Porém, a canção tranforma-se, com uma superposição de solos de guitarra levando ao riff de guitarra, baixo e piano elétrico, para Gracia cantar sobre uma levada swingada e extremamente pesada e dançante. Amorim é o baterista nessa faixa, e seu estilo é bem mais "pegado" do que o de Júnior, comandando o instrumento com variações nos pratos e também nas batidas da caixa, sem exagerar em firulas ou viradas mais complicadas. O trecho central resgata os rocks brazucas da década de 70, com um ótimo solo de Ronaldo no hammond, bem como o solo de Gracia com suas escalas e vibratos encaixados a la Martin Pugh (guitarrista do Armageddon).


Ribeiro
Então, chegamos a melhor faixa do CD, a incrível "Já Nem Ligo Mais". Essa é uma das melhores canções do rock nacional que eu já ouvi nos últimos 25 anos. O início com guitarra, órgão, baixo e bateria fazendo o riff, já é matador. Então, Iommi e Butler "baixam" em Gracia e Ribeiro, fazendo o riff para Gracia começar a cantar uma letra-manifesto muito forte, tendo Amorim soltando o braço ao fundo. Então, Ribeiro passa a solar acompanhado apenas pela bateria e utilizando-se de muita distorção no seu baixo. O ritmo muda, e Ribeiro faz uma pesadíssima investida, com escalas velozes e complicadas, alterando mais uma vez o ritmo para a entrada do solo de slide guitar de Gracia, com Ronaldo dando o andamento em seu piano elétrico, e com Gracia fazendo misérias na guitarra. Os andamentos jazzísticos de Ronaldo durante seu solo tornam a canção ainda mais agradável, e a leveza de seu solo contrasta com a pesada sessão inicial da canção, tendo ainda mais um solo de Gracia. Depois da bela sessão instrumental, Ribeiro é o responsável por voltar ao sabbathiano riff, encerrando a canção com a repetição da letra e aqueles grandes encerramentos das canções setentistas, nada mais apropriado para essa grande faixa!

"Mandacarú" mantém a sequência de boas faixas, com um riff pesado feito por escalas de canções nordestinas e com Muelas mostrando seu lado mais técnico na bateria, diferenciando de Amorim pela precisão de suas batidas, mas também sem soar como um invencionista ou algo do gênero. Depois da introdução, surge o pesado riff de guitarra, baixo e órgão, com Gracia cantando raivosamente, tendo destaque para as sombrias passagens de Ronaldo. A canção muda no seu refrão, repleto de vocalizações e com os teclados de Ronaldo sendo a principal atração, levando ao solo de Gracia típicamente hardiano, com Ribeiro e Muelas fazendo a bela cozinha de acompanhamento dos delirantes acordes de Ronaldo e das notas de Gracia e encerrando a mesma com a repetição do riff inicial.


Gracia
Depois, "Zói D'Cobra" surge com efeitos percussivos em sua introdução, surgindo então o riff de moog. O baixo toma o espaço, e a pauleira pega com mais peso e riffs marcados de guitarra, baixo, órgão e bateria. O estilo inconfundível de Amorim está presente durante o solo de Gracia, consolidado em cima do wah-wah e de variações rítmicas do baixo, órgão e bateria, no momento mais viajante de Massahara.


O riff de "Tudo o que Eu Quero" segue a mesma linhagem, em uma canção onde a letra já está mais próxima ao Led Zeppelin ou ao Deep Purple, mas as constantes mudanças de andamento a tornam única no CD, e apesar do solo de Gracia lembrar muito um determinado trecho de "Dazed and Confused" no excepcional ao vivo The Song Remains the Same,  os teclados de Ronaldo a tornam algo muito, mas muito diferente das demais.


Gracia e Ribeiro (ao vivo)

O CD encerra-se com a faixa-título. Assim como a anterior, ela conta com a participação de Muelas. O seu viajante início com barulhos percussivos e os acordes do órgão de Ronaldo fazendo a cama para os delírios instrumentais de baixo e guitarra, vai sendo construído aos poucos. Depois de 2 minutos e 28 segundos, o órgão fica sozinho, tendo apenas intervenções da guitarra, e então Muelas solta o braço, com Gracia e Ronaldo fazendo o tema para Ribeiro solar. Essa fantástica sequência de solos é hipnotizante e muito bem trabalhada, e tranforma-se na sequência com o solo de Ronaldo no moog, onde o baixo está inovativamente bem mixado, com o volume acima da guitarra e tendo bastante destaque na audição. Ronaldo faz dois solos distintos, um em cada canal, e então, a faixa vai para seu encerramento com o bonito solo de Gracia, e com Ronaldo dando show nos teclados, em camadas de mellotron, órgão e moog, voltando então ao tema inicial que encerra de vez o álbum com outra grande faixa.


Massahara, segundo os músicos do grupo, são 51 minutos de música que  é a expressão e tradução musical do sangue, do suor e das lágrimas que cada um derramou, sozinho ou em grupo, pra fazer do sonho o concreto. Eu diria mais, eu diria que são 51 minutos de prazer auditivo que poucas bandas do século atual irão lhe propiciar. Peço perdão aos músicos do Massahara pelas inevitáveis comparações aos grandes nomes do rock setentista, mas realmente, vocês estão em um nível muito acima do que vem sendo divulgado por aí.


Parabéns e que mais frutos sejam gerados nessa árvore!


Track List


Contramão
Lugar ao Sol
Cabeça Boa
Já Nem Ligo Mais
Mandacarú
Zói D'Cobra
Tudo o que Eu Quero
Massahara
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