quinta-feira, 29 de maio de 2014

Maravilhas do Mundo Prog: Rush - Cygnus X-1 Book Two: Hemispheres [1978]


Depois de terem bancado sua vontade de seguir explorando as experimentações musicais de longas suítes, e verem o sucesso ser alcançado com o álbum 2112, em 1976, destacando a Maravilhosa faixa-título, o trio canadense Rush construiu os pilares para montar a sua mansão prog durante o final da década de 70.

A turnê de divulgação de 2112 gerou o belíssimo ao vivo All the World's a Stage (1976), lançado no formato duplo e que começou uma tradição na carreira de Geddy Lee (baixo, vocais, teclados), Alex Lifeson (guitarra, vocais, teclados) e Neil Peart (bateria), o qual foi o lançamento de um álbum ao vivo após quatro álbuns de estúdio, algo que manteve-se até os anos 2000, quando uma avalanche de lançamentos ao vivo foi feita pelo grupo.

Alex Lifeson, Neil Peart e Geddy Lee

Mas a carreira precisava continuar, e com a fama alavancada, o jovem trio (Neil Peart, o mais velho deles, tinha apenas vinte e quatro anos) voltou para os estúdios no início de 1977, concentradíssimos em manter o alto nível de 2112. No dia primeiro de setembro, o grupo lançou A Farewell to Kings, que apesar de não ter repetido o mesmo sucesso comercial que seu antecessor, é tido pelos fãs como o primeiro álbum realmente progressivo do Rush.

Um dos méritos de A Farewell to Kings foi o de ter sido o primeiro álbum do trio a alcançar ouro no mercado americano, feito esse consumado dois meses depois de seu lançamento (2112 alcançou platina, porém em novembro de 1977, após A Farewell to Kings chegar na mesma marca), mas musicalmente, o álbum traz ainda muito mais méritos, a começar pela linda faixa-título, com Alex Lifeson exibindo-se graciosamente no violão clássico, apresentando uma nova faceta para os fãs da banda. Os teclados também surgem pela primeira vez nessa canção, porém de forma muito tímida.

O primeiro álbum de uma nova fase do Rush, voltada exclusivamente para o progressivo

Para comprovar mais ainda a confiança nas suítes, o grupo apresenta duas em A Farewell to Kings. A primeira concluindo o Lado A, batizada de "Xanadu", com pouco mais de onze minutos de duração e que é mais uma das diversas Maravilhas Prog que os canadenses fizeram em sua carreira, e que será certamente tratada por aqui no futuro. A segunda surge depois de três canções mais acessíveis, "Closer to the Heart", "Cinderella Man" e "Madrigal", que abrem o lado B preparando o ouvinte para uma incrível experiência sonora chamada "Cygnus X-1 Book One: The Voyage".


Essa Maravilhosa faixa, com dez minutos de duração, conforme dito em seu título, é apenas a primeira parte de uma viajante história que foi completada no lançamento seguinte do grupo, Hemispheres, de 1978, trazendo a nossa Maravilha de hoje, o "segundo livro" de Cygnus X-1, batizado "Cygnus X-1 Book Two: Hemispheres". Porém, elucidar o contexto lírico da Maravilha de hoje sem enfatizar a importância de sua parte antecessora seria como contar a história da vitória dos aliados na Segunda Guerra Mundial sem citar a importância dos nazistas para a mesma.

Desta forma, vou resumir "The Voyage" não por conta de sua parte instrumental, mas com o conteúdo informativo que a mente genial de Neil Peart desenvolveu para criar uma história incrível, que traça as constantes brigas entre a razão e a emoção durante seu Segundo Livro, mas que no Primeiro Livro contém a origem da história, quando somos apresentados ao protagonista da mesma, viajando pelo espaço próximo ao buraco negro que dá nome a canção, localizado na constelação de Cygnus. Vale ressaltar que "Cygnus X-1 Book One: The Voyage" instrumentalmente também é Maravilhosa, mas seus detalhes, assim como "Xanadu", ficarão para o futuro.


Também é preciso citar aos que não sabem que um buraco negro surge na teoria da Relatividade Geral, e é uma região do espaço na qual a gravidade é tão intensa que nada consegue escapar, inclusive a luz. Dessa forma, caso exista, a visão que se terá no universo será de uma imensa bola negra, diferente da cor roxa tradicional do espaço (apesar de muitos acharem que o espaço é completamente negro, na verdade ele possui uma emissão de frequência de luz próxima ao violeta).

As origens dos buracos-negros seriam o estágio final de uma estrela - sua morte - e existem vários indícios da existência desse tipo de "túmulo estelar" já verificados por astrônomos e astrofísicos. Inclusive, uma das especialistas em buracos-negros em todo o mundo é brasileira, a gaúcha Thaisa Bergmann, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Porém, os dados atuais ainda não permitem comprovar a existência dos mesmos.


Voltando para "Cygnus X-1 Book One: The Voyage", ela é uma canção quase que completamente instrumental, e com sua letra começando apresentando o buraco negro, localizado à seis estrelas do Cruzeiro do Norte, com a força invisível de uma estrela que nunca morre, e cita algumas das características que ressaltei sobre buraco-negros nos dois parágrafos acima.

O protagonista surge viajando pelo espaço, exibindo-se a leste de Lyra, nordeste de Pegasus, tendo como referência a luz de Deneb através da via-láctea, até mergulhar no coração da constelação de Cygnus. Reparem aqui a inteligência de Peart nas citações para diferentes constelações, as quais são comuns no Hemisfério Norte. 

Quando o protagonista encontra a constelação de Cygnus, começa a sofrer as consequências da atração gravitacional do buraco negro. Raios-x e sons de sirene aparecem na Rocinante, a nave que transporta o nosso personagem, e não há o que fazer, já que a nave não consegue resistir a tal força.

Então, espiralando em queda, o protagonista sente seu corpo totalmente despedaçado, deixando notas de guitarra muito agonizantes soarem em tom decrescente, e a expectativa do que aconteceu com o protagonista. 

Terá ele morrido?


Além de toda a fantástica performance instrumental dos pouco mais de dez minutos de "Cygnus X1: The Voyage", com uma tensão e agonia muito marcante, o que chama bastante a atenção é o vocal de Lee. 

Mesmo comparecendo em pouco tempo, é o suficiente para ele estraçalhar, sendo que no momento em que o protagonista grita "Every nerve is torn apart", exatamente quando sente seu corpo despedaçado, o grito dado por Lee é de uma altura praticamente inalcançável por uma voz masculina, gerando um agudíssimo Bb5 (si-bemol na quinta), lembrando que por definição, a altura do som significa grave ou agudo. Quanto mais agudo o som, mais alto ele é.

O Lado A de Hemispheres, somente com a Maravilha de hoje

Foi com ansiedade que os fãs aguardaram o desfecho da viagem da Rocinante e seu piloto, e que foi apresentada no dia 29 de outubro de 1978, quando Hemispheres chegou às lojas com nossa Maravilha de hoje. Para surpresa de todos, o que aguardava o personagem no interior do buraco negro foi uma viagem no tempo, que o levou às origens da humanidade na Terra, quando o ser humano começava a formar suas características. 

Nesse tempo distante, ele vê uma batalha entre a razão e a emoção, e acaba sendo o principal personagem para resolver a mesma, usando sua experiência com o futuro, já que ele desafiou o buraco negro seguindo a confiança total na sua nave (a razão) mas também agindo por conta de sua vontade (a emoção).

Neil Peart

"Cygnus X-1 Book Two: Hemispheres" desenvolve-se apresentando a eterna briga entre a razão e a emoção, recriadas por Peart através de analogias com a mitologia grega, envolvendo dois deuses que representam a razão (Apolo) e a emoção (Dionísio). Além da fantástica letra, é inegável as qualidades musicais criadas por Lee e Lifeson, que viviam talvez a melhor fase de suas carreiras em 1978. A história é narrada em primeira pessoa, sendo essa o viajante de "Cygnus X-1 Book One: The Voyage".

A suíte surge diferente de sua primeira parte, mais alegre através de uma longa introdução, batizada "Prelude", com o barulho da nave espacial e batidas marcadas, como se a nave estivesse atravessando uma série de obstáculos, entrando no primeiro riff, levado pelo baixo cavalgante de Lee, o dedilhado da guitarra, batidas fortes de Peart e breves acordes de sintetizador, que trazem o segundo riff da canção, com guitarra, baixo e bateria repetindo as mesmas batidas em um ritmo marcial, deixando espaço para marcações que acompanham o dedilhado da guitarra.


Um terceiro riff aparece com uma sequência de notas feitas exatamente iguais por baixo e guitarra, com um complicado acompanhamento da bateria, e "Prelude" vai nos apresentando os diferentes riffs que irão surgir ao longo dos dezoito minutos de nossa Maravilha. Uma série de harmônicos cria o quarto riff, junto de batidas no chimbal e a marcação de baixo e bateria. O baixo passa a imitar as notas dos harmônicos, para a guitarra então explodir com a distorção fazendo as notas do quarto riff, e começar a segunda parte da história.

Com um novo riff, Lee nos introduz a história que ocorreu há muito tempo atrás. Os deuses do Amor e da Razão lutam para ver qual deles irá governar a fé dos homens, em uma batalha que durou eras, com o povo dividido entre a Razão e o Amor nos mais diversos campos de batalha. A guitarra e o baixo dedilham acompanhando a voz de Lee, que narra a história como uma pessoa que assiste os fatos que estão acontecendo, encerrando "Prelude" com um dedilhado mais grave da guitarra e a repetição do primeiro riff da suíte.


"Apollo (Bringer of Wisdom)" é a segunda parte de "Cygnus X-1 Book Two: Hemispheres". O Deus do Sol e das Artes na mitologia grega representa o lado esquerdo do cérebro na suíte, sendo este o lado criativo do ser humano, já que diversas pesquisas mostraram que as pessoas que possuem o lado esquerdo do cérebro mais desenvolvido (ou utilizam mais o lado esquerdo) são pessoas voltadas para o pensamento, aptas a ciências como Física, Matemática, Química entre outros.

A base musical é o terceiro riff de "Prelude", e na letra, Apolo apresenta-se. A apresentação é declamada pausadamente, acompanhando a melodia do riff, e nela, Apolo diz trazer a verdade, a compreensão, sagacidade e sabedoria, todos presentes preciosos e incomparáveis. Apolo afirma também que somos capazes de construir um mundo maravilhoso. Esses presentes ajudarão o homem a encontrar comida e abrigo, a fazer o fogo para aquecê-lo durante tempestades de inverno. O homem viverá com graça e conforto em um mundo no qual ele mesmo será capaz de transformá-lo para melhor.


As marcações do início de "Cygnus X-1 Book Two: Hemispheres" nos levam para o quarto riff, e com a voz mais solta, Lee volta a representar o contador da histórico, falando que as pessoas ficaram encantadas com as palavras de Apolo, e prontamente estimularam-se a construir cidades e trocar ideias.

Mas um dia, as ruas ficaram silenciosas, e o povo não sabia o que tinha acontecido. O desejo de construir essas coisas maravilhosas não estava mais presente. A solução foi dada pelos sábios: cruzar a ponte da morte em busca de Dionísio, para tentar descobrir o que havia sido perdido.

Aqui surge o primeiro solo de Lifeson, carregado de distorção e bends, feito sobre uma levada acelerada de baixo e guitarra, e apesar de curto - menos de um minuto - é suficiente para deixar os ouvintes boquiabertos com a agilidade de seus dedos e a velocidade das escalas.


Um breve dedilhado e retornamos ao riff de "Apollo", agora em "Dionysus (Bringer of Love)", a terceira parte, que apresenta o contra-ponto da razão: a emoção, sendo Dionísio o lado direito do cérebro. Pessoas que tem o lado direito do cérebro mais desenvolvido são voltadas para o dom artístico, como atores e palhaços, e são muito mais sensíveis. Na mitologia grega, Dionísio é o Deus do vinho e da fertilidade.

O Deus do Amor surge além da ponte da morte, trazendo o amor para confortar, seja na escuridão da noite ou na luz eterna do coração. Dionísio afirma que é necessário confiar em seus sentimentos, que somente o amor pode guiá-los, e assim trazer risadas, música, alegria e lágrimas, acalmando os medos primitivos. Por fim, o Deus do Amor pede ao povo para que as correntes da razão sejam jogadas fora, para livrar-se da prisão que paira sobre eles.


O quarto riff de "Prelude" retorna, e a história continua através da voz de Lee, novamente como o interlocutor da mesma, com as cidades construídas com a Razão sendo abandonadas, e as pessoas indo morar junto à natureza, nas florestas, onde passou a ecoar uma canção enquanto elas dançavam e viviam como irmãos, sabendo que o amor não poderia estar errado. Lá eles tinham comida e vinho à vontade, e dormiam abençoados sob as estrelas. O povo estava feliz, e os deuses os observavam de longe.

Mas, quando o inverno chegou, pegou-os totalmente desprevenidos. Lobos famintos, fome e frio atingiram os povos, e então seus corações entraram em desespero.


A introdução de "Prelude" é retomada, com a presença dos sintetizadores, e então surge um novo riff, feito por baixo e guitarra ao mesmo tempo. Repetida a introdução dos sintetizadores, Lifeson sola com uma dupla série de escalas que sobem e descem em tons diferentes, e mais uma vez temos os sintetizadores, abrindo a batalha entre a razão e a emoção, enaltecida na quarta parte, "Armageddon: The Battle Of Heart and Mind".

O andamento desse novo riff lembra o do segundo riff de "Prelude", e com ele ao fundo, o narrador nos conta que o universo foi dividido, com o coração e a mente entrando em colisão e deixando as pessoas desnorteadas. Os anos que passaram-se foram conturbados, com uma nuvem de medo e dúvida sobre o céu, até o mundo ser dividido em dois hemisférios ocos.


Os povos começaram a lutar entre eles, e até dentro deles mesmo, mas a maioria apenas seguia uns aos outros, perdidos e sem rumo como irmãos. Os que seguiam o Coração (Amor) estava escuro, e os da Verdade (Razão) não apareciam. Os espíritos foram divididos em hemisférios cegos.

Então, eis que surge o personagem de "Cygnus X-1 Book One: The Voyage", através do primeiro riff de "Prelude". Ele apresenta-se como alguém que nunca lutou, trazendo contos do passado para iluminar estes povos. 


Ele viajou na nave Rocinante através da noite, e seu último voo foi em direção ao coração de Cygnus, quando uma força temível fez sua nave espiralar através desse espaço atemporal, levando-os para o meio do mundo antigo, um lugar imortal. Aqui que descobrimos que o narrador da história é exatamente o personagem central de "Cygnus X-1 Book One: The Voyage". 

Um breve solo de sintetizador, ainda sobre o riff de "Prelude", leva ao encerramento da quarta parte, o qual resgata um pequeno trecho de "The Voyage", com um crescendo de acordes que explode em três batidas fortes, deixando a guitarra dedilhar suavemente de forma igual ao encerramento de "Book One".


"Cygnus: Bringer Of Balance", a quinta parte, é iniciada com longos acordes de sintetizador e inserções de trechos instrumentais de "The Voyage", até que sobre as camadas de teclados, surge nosso viajante, dizendo ter memória e consciência, apesar de não ter forma. Ele virou apenas um espírito sem corpo, que não morreu e nunca nasceu. O viajante passou por Olimpo, como nos velhos contos, vendo a cidade dos imortais, com o mármore branco e ouro puro.

Essa apresentação fica mais tensa nos sintetizadores, enquanto ouvimos explosões, e o viajante diz que viu os deuses em batalha, sem poder se mexer ou se esconder, e sentindo um grito silencioso surgir dentro dele.

Os teclados dão lugar a uma melodia seguida por guitarra e vocais, falando que a aparição do espírito cessou o caos. Um longo silêncio surgiu em um clima de paz, com os guerreiros caindo em lágrimas, tornando-se místicos.


O riff  final de "Prelude" acompanha o encerramento de "Cygnus: Bringer of Balance", com Apolo assustado, Dionísio parecendo louco. Mas ao ouvir a história do espírito que viajou no tempo, maravilhados, ficaram tristes por suas atitudes. Olhando para o Olimpo, eles viram um mundo de medo e dúvidas, com a superfície separada em dois hemisférios. Os deuses sentaram-se em silêncio, e falaram para o espírito: "Nós o chamaremos Cygnus, o Deus do Equilíbrio você deverá ser", e uniram-se para trazer a paz ao mundo.

A introdução da suíte é repetida, para uma série de acordes dedilhados acompanhar os últimos momentos da quinta parte, destacando as escalas de baixo, para sintetizadores encerrarem a coroação do espírito do equilíbrio, concluindo com quatro marcações fortes de guitarra, baixo e bateria.


"Cygnus X-1 Book Two: Hemispheres" encerra-se com "The Sphere: A Kind Of Dream", levada apenas pelo violão acompanhando a linda mensagem deixada no final da canção, que diz que podemos caminhar nossas estradas juntos, se os objetivos são os mesmos, e podemos correr sozinhos e livres, se objetivamos alvos diferentes. 

O importante é deixar a verdade do amor acender, e o amor da Verdade brilhar forte. Afinal, a sensibilidade, de braços com o sentido e a liberdade, tornam o coração e a mente unidos, em uma única e perfeita esfera, e nossa Maravilha conclui-se com um longo acorde de sintetizador. 

Uma história viajante, que fez do trio ainda mais reconhecido, aumentando sua importância para o hall do rock progressivo e ultrapassando nomes de "dinossauros" como Pink Floyd, Emerson Lake & Palmer e Yes.

Alex Lifeson

A exploração do tema foi levada inclusive para a polêmica capa de Hemispheres. Ao apresentar um homem nu de costas, as pessoas inicialmente ficaram chocadas com tal visão. Porém, ao perceber os detalhes da capa, somos hipnotizados pela simplicidade e genialidade, mostrando os dois hemisférios do cérebro tanto na frente quanto na contra-capa. A diferença é que na frente, temos de um dos hemisférios (o hemisfério esquerdo) um homem bem-vestido, representando a razão, e o tal homem nu no hemisfério direito, representando o Amor. Na contra-capa, os dois Hemisférios estão unidos sem os homens, mostrando a união para a perfeição. Detalhes que tornam a obra ainda mais genial. 

A capa de Hemispheres. No lado esquerdo, a contra-capa, com os cérebros unidos.
No lado direito, a capa, com a Razão no Hemisfério esquerdo e o Amor no Hemisfério direito

Depois de Hemispheres, o Rush continuou sua carreira, e desfrutou de ser a principal banda do rock progressivo mundial no final da década de 70, início da década de 80, com os aclamados álbuns Permanent Waves (1980) e Moving Pictures (1981), cada um deles detentor de pelo menos duas Maravilhas prog em cada álbum ("Natural Science" e "Jacob's Ladder" no primeiro, "YYZ" e "The Camera Eye" no segundo), até o lançamento do segundo ao vivo, Exit ... Stage Left (1981).

Durante a década de 80, o grupo mergulhou em uma fase diferente, levada pelos sintetizadores e com álbuns que somente hoje conseguem receber seu valor, mas que foram muito contestados principalmente pelos fãs da fase progressiva. 

Geddy Lee, Alex Lifeson e Neil Peart

A partir dos anos 90, o Rush consolidou-se com um som moderno, tendo suas incursões progressivas mas sem poder ser definido como tal, fazendo um rock direto, agradável e com ótimas passagens pelas diferentes fases da vida desse que sem sombra de dúvidas é o maior grupo de rock canadense, e que ainda nos brinda com shows, álbuns e Maravilhas com certa frequência.

segunda-feira, 26 de maio de 2014

Gentle Giant: Memories of Old Days (A Compendium of Curios, Bootlegs, Live Tracks, Rehearsals and Demos, 1975 - 1980) [2013]



Em 1995, os remanescentes do grupo britânico Gentle Giant decidiram  seus baús, afim de resgatar material de qualidade (ou não) e agradar aos fãs (ganhando alguns vinténs em troca) com lançamentos no estilo box set, trazendo novidades, histórias e diversão para todos. 

Assim, em apenas dois anos, chegou ao mercado Under Construction, um álbum duplo com um CD apenas com material inédito e outro CD trazendo demos e ensaios desde o início do grupo, em 1969, até seu término, em 1980.


Detalhes da caixa quíntupla

Sete anos se passaram, e mais poeira foi levantada dos tapetes e armários do gigante gentil, até que em 2004, a segunda caixa de raridades foi lançada, em um formato bem mais apetitoso que seu antecessor. Scraping the Barrel (2004) consiste de quatro CDs muito democráticos, com o primeiro trazendo raridades do primeiro álbum do grupo, Gentle Giant (1970) até Free Hand (1975), o segundo CD tendo material de Free Hand até Civilian (1980), este o último LP lançado pelo grupo, e o terceiro CD com diversos materiais solo ou de projetos que nunca chegaram a vingar. 

O melhor fica por conta do quarto CD, que no formato MP3 e também .jpg, contém imagens e canções raríssimas, com qualidade diversas, mas que totalizam mais de doze horas de audição para os fãs, e que segundo consta no encarte do Box, completava todo o material de raridades ligadas ao Gentle Giant, que se conhecia até aquele momento, tudo em apenas dois Boxes.


Os cinco CDs da caixa

Porém, nove anos depois, inspirada na caixa Scraping the Barrel, eis que a gravadora Chrysalis, responsável pelo lançamento dos últimos seis álbuns do Gigante, resolve reunir algumas canções que ficaram no MP3 de Scraping the Barrel, e depois de vasculhar um pouco suas fitas master, e alguns bootlegs que haviam no mercado, unir esse material em uma bela caixa, com o grandioso título Memories of Old Days (A Compendium of Curios, Bootlegs, Live Tracks, Rehearsals and Demos, 1975 - 1980), que confirma a abrangência de registros obtidos apenas entre 1975 e 1980.

A caixa consiste de cinco CDs, disponibilizados nas antigas caixas para quatro CDs (e não em um box normal, como esperado) e é de excelente apresentação para quem é acostumado com as diabruras que o quinteto Gary Green (guitarras, flautas, violões, percussão), Ray Shulman (baixo, vocais, violão, trompete, violino, percussão), Kerry Minnear (teclados, xilofone, violoncelo, piano, percussão, flauta, vocais), Derek Shulman (vocais, baixo, percussão) e John Weathers (bateria, percussão, xilofone) fazia tanto em estúdio quanto no palco.

Os cinco CDs são bem representativos daquele período do grupo, ou seja Free Hand (1975), Interview (1976) Missing Piece (1977), Giant for a Day (1978) e Civilian (1980), obedecendo a ordem cronológica dos lançamentos desses álbuns.


Encarte, destacando o primeiro CD (acima e abaixo)

O CD 1 abre com sessões de ensaio para Free Hand, originalmente lançadas na caixa Scraping the Barrel. São cinco faixas com ótimo qualidade, que demonstram o trabalho do grupo para construir clássicos como "Just the Same", "On Reflection" e "Free Hand", seguindo por duas canções registradas no Music Hall de Nova Iorque, em outubro de 1975 ("On Reflection" e "Proclamation") e uma no Community Theatre de Berkeley ("Free Hand), todas com qualidade regular, e que haviam saído no bootleg Endless Life, e fechando com as sessões de ensaio para a gravação de Interview, com destaque para as complicadas passagens de "Empty City" e "I Lost My Head", sendo as sete faixas pertencentes aos ensaios de Interview também retiradas de Scraping the Barrel.

No segundo CD, temos um raríssimo momento na carreira dos britânicos, também lançado no MP3 de Scraping the Barrel, que é um ensaio aberto à imprensa para a turnê de The Missing Piece. Com poucos presentes, o grupo mostra sua força, azeitando a máquina que iria avançar pela Europa e Estados Unidos tanto na parte musical como nas luzes e efeitos, e assombra com interpretações impecáveis para as clássicas "Funny Ways", "On Reflection" e "So Sincere", entre outras. Aqui, podemos ouvir claramente - já que a qualidade do som é perfeita - como o quinteto era fenomenal individualmente, tocando com perfeição instrumentos diversos, sendo os melhores exemplos Kerry e Ray, que com naturalidade exibem suas qualidades em instrumentos muito opostos, como citados acima). Só o CD 2 já vale a aquisição da caixinha, mas ainda vem mais. 


Encarte, destacando os CDs 2 e 3

Os ensaios para a gravação de The Missing Piece aparecem no CD 3, e também foram retirados de Scraping the Barrel. São seis faixas, concentrando-se apenas em passagens individuais de guitarra e moog, sem chamar tanta a atenção, deixando para o complemento do CD mais um grande momento do gigante ao vivo, dessa vez em uma apresentação em Cleveland, no ano de 1977, a qual está na íntegra, com qualidade regular, e contendo nada mais que onze faixas, aonde percebemos como o grupo já apresentava o desgaste que iria levar ao seu fim três anos depois. Mesmo assim, é inegável que ouvir "I'm Turning Around", "Two Weeks in Spain" e novamente "Funny Ways" e On Reflection", bem como "For Nobody", ao vivo, sempre traz aquele sorriso ao fã. Esse show foi retirado do bootleg The Mission Face, que saiu de circulação há alguns anos, valorizando ainda mais a caixinha.

O quarto CD possui algo mais conhecido dos verdadeiros fãs do Gentle Giant, que é a apresentação no programa de TV da BBC Sight & Sound In Concert. Esse show está disponível em canais como o youtube, e é outra amostra fiel do talento individual dos músicos. Apesar do set list ser praticamente o mesmo do show em Cleveland, a qualidade do CD 4 é muito boa, e a inclusão das onze faixas acaba sendo válida. Complementa o quarto CD cinco demos retiradas de Scraping the Barrel, e que fizeram parte do que tornou-se Giant for a Day, para muitos o mais fraco disco que o grupo já lançou.


Encarte, destacando os CDs 4 e 5

Por fim, dois ensaios para a gravação de Civilian ("All Through the Night" e "It's Not Imagination") e mais duas apresentações ao vivo nos Estados Unidos preenchem o quinto e último CD. Os ensaios não chamam tanta a atenção, mas quando o início de "Convenience (Clean and Easy)" surge nas caixas de som, abrindo o show de New Haven (1980), a casa cai. A aplicação de moogs e sintetizadores deixa os fãs mais antigos de boca aberta, enquanto os cabeça-aberta enlouquecem com as novidades propiciadas por Kerry Minnear. "Knots" e "Inside Out" são outros grandes momentos do show de New Haven, que é seguido pela última apresentação oficial do quinteto, feita em Los Angeles na data de 16 de junho de 1980, e que foi registrada anteriormente no bootleg oficial The Last Steps. Sem sombra de dúvidas, o grande momento dessa apresentação é quando os cinco largam seus instrumentos e assumem percussões, registrada sob o título "Five Man Drum Bash", um dos clássicos instantes da carreira do Gentle Giant, assim como a inesperada " The Advent of Panurge", ambas aparecendo pela única vez nesse quinto CD.


Últimas páginas do encarte

Os dois primeiros CDs foram impressos com o famoso logo verde da Chrysalis, enquanto os demais estão impressos com a mistura branco/azul que consolidou a gravadora posteriormente. Assim como o Box que envolve as mídias, o material em si também é pobre visualmente. Não há memorabilia ou imagens inéditas para o fã visualizar, apenas um encarte com doze páginas, trazendo depoimentos dos integrantes do Gentle Giant para cada um dos CDs, e com o qual descobrimos que um audacioso projeto com Eddie Jobson e um novo vocalista quase nasceu após o término do grupo, bem como a decepção de Minnear perante o resultado final de Giant for a Day.

Mas musicalmente, esse lado "colecionista" é totalmente compensado, e vale a pena aos fãs do progressivo irem atrás dessa caixinha, ficando a dica também para conseguirem a caixa que serviu de influência para que Memories of Old Days chegasse até nós. Como Gary Green diz no encarte: "Você irá encontrar algumas fitas de ensaio e gravações pessoais, algumas muito legais, mas todas muito interessantes".


O material de Memories of Old Days

Track list

CD 1

Free Hand Studio Excerpts 1975

1. Just the Same (Instrumental Backing Track)
2. On Reflection (Instrumental Clavinet Composing & Improvisig)
3. Free Hand (Piano Composing & Improvising)
4. Time to Kill (Instrumental Backing Track)
5. Mobile (Instrumental Violins)

Live USA 1975

6. On Reflection
7. Proclamation
8. Free Hand

Interview Rehearsals & Studio Excerpts 1976

9. Interview (Rehearsal)
10. Another Show (Instrumental Hammond Hi Notes)
11. Empty City (Instrumental Acoustic Guitar)
12. Empty City (Instrumental String Machine)
13. Timing (Rehearsal)
14. I Lost My Head (Composing 2)
15. I Lost My Head (Rehearsal)

CD 2

Pinewood Tour Rehearsals 1977

1. As Old As You're Young
2. The Face - Plain Truth
3. For Nobody
4. Free Hand
5. Funny Ways
6. Just the Same / Playing the Game
7. Memories of Old Days
8. On Reflection
9. The Runaway - Experience
10. So Sincere
11. Winning

CD 3 

The Missing Piece Rehearsals & Studio Excerpts 1977

1. Memories of Old Days (Guitar)
2. I'm Turning Around (Rehearsal)
3. Betcha Thought We Couldn't Do It (Guitar)
4. Betcha Thought We Couldn't Do It (Moog Solo I)
5. Mountain Time (Piano)
6. Winning (Rehearsal)

Live Usa 1977

7. Opening
8. Two Weeks in Spain
9. Free Hand
10. On Reflection
11. I'm Turning Around
12. Playing the Game
13. Memories of Old Days
14. Betcha Thought We Couldn't Do It 
15. Funny Ways
16. The Face
17. For Nobody

CD 4

BBC In Concert

1. Two Weeks in Spain
2. Free Hand
3. On Reflection
4. I'm Turning Around
5. Just the Same
6. Playing the Game
7. Memories of Old Days
8. Betcha Thought We Couldn't Do It 
9. Funny Ways
10. For Nobody
11. Mountain Time

Giant for a Day Demos 1978

12. Words From the Wise (Band Demo)
13. Thank You (Band Demo)
14. Spooky Boogie (Band Demo)
15. Little Brown Bag (Band Demo)
16. It's Only Goodbye (Band Demo)

CD 5

Civilian Rehearsals 1980

1. All Through the Night (Rehearsal)
2. It's Not Imagination (Rehearsal)

Live in New Haven 1980

3. Convenience (Clean and Easy)
4. All Through the Night
5. Free Hand
6. Knots
7. Playing the Game
8. Giant for a Day
9. Inside Out

Live Roxy 1980

10. It's Not Imagination
11. Underground
12. Five Man Drum Bash
13. Band Introduction
14. For Nobody
15. The Advent of Panurge
16. Number One

quinta-feira, 22 de maio de 2014

Review Exclusivo: Uriah Heep (Porto Alegre, 20 de maio de 2014)



Depois de muitos anos de espera, os britânicos do Uriah Heep saciaram a sede de algumas centenas de gaúchos que preencheram as cadeiras do belo Teatro do Bourbon Country na fria noite do dia 20 de maio. Aproximadamente 800 fãs estavam no local, e durante toda a apresentação, quebraram o protocolo do Teatro, assistindo em pé diante das cadeiras disponibilizadas pelo local, e agitando muito.

O Uriah Heep está passando pelo país com a turnê Latin American Heepsteria, divulgando o novo álbum, Outsider, que deverá chegar às lojas ainda no primeiro semestre desse ano. A turnê, somente no Brasil, conta com shows em São Paulo, onde o grupo apresentou-se para 70 mil pessoas no último dia 17, Ribeirão Preto no dia 18, Porto Alegre, Rio de Janeiro (ontem) e ainda passará por Belo Horizonte (hoje), Brasília (dia 24) e Curitiba (25 de maio). A agenda cheia é um motivador a mais para que Mick Box (guitarra, vocais), Bernie Shaw (vocais), Phil Lanzon (teclados, vocais), Russell Gilbrook (bateria) e o novato Davey Rimmer, responsável por substituir o eterno Trevor Bolder, um dia antes da morte de um dos principais baixistas da história do rock completar um ano (Bolder faleceu no dia 21 de maio de 2013, vítima de câncer no pâncreas).


Mesmo o salgado preço do ingresso não afugentou os seguidores da banda, ainda mais que o grupo já esteve por ir a Porto Alegre duas vezes, mas ambas as apresentações foram canceladas devido a baixa procura pelos ingressos.

Dessa vez, a ampla divulgação e o crescimento no número de pessoas que curtem as famosas linhas de teclados, ou os pesadíssimos riffs de guitarra (e aqui eu me incluo) que consagraram a banda nos anos 70 foram suficientes para o Teatro do Bourbon Country ferver de adrenalina.

O espetáculo abriu exatamente com duas canções inesperadas, no caso a pancada "Against the Odds", uma das melhores canções da fase Shaw (que entrou para o grupo no final dos anos 80, substituindo nomes consagrados como o inesquecível David Byron ou a grande voz do Lucifer's Friend) , responsável por abrir o excelente Sea of Light (1995) e a animada "Overload", lançada no também primoroso Wake the Sleeper (2008). 


A partir de então, o carismático Bernie Shaw começou a se derreter de amores e desculpas para o povo de Porto Alegre, perguntando por que não se apresentaram antes na cidade, e passou a desfilar um repertório de clássicos, que segundo ele, iria passar desde o primeiro LP do grupo, Very 'Eavy, Very 'Umble (1970) até o mais recente, Into the Wild (2011), e assim, anunciou o ano de 1972, e do álbum Demons & Wizards retirou "Traveller in Time". Foi a partir daqui que começamos a ver uma performance individual marcante por parte de Mick Box.


O ex-gordinho, agora com longos cabelos brancos, simplesmente destrói seu wah-wah, além de fazer misérias com uma Les Paul branca lindíssima, e faz uma série de bençãos, abanos e outros acenos com as mãos, parecendo receber uma entidade espiritual que o auxilia a fazer todas as incríveis passagens de seus solos, além de mandar ver em riffs pesados que sacudiam o teatro.


Ainda de 1972, mas agora de The Magician's Birthday, veio "Sunrise", cantada em uníssono, e com o público acompanhando com palmas, "Stealin" (Sweet Freedom, 1973) teve o primeiro longo solo de Box na noite. Outro músico que se destaca bastante é Gilbrook. O cara simplesmente é um animal, e foi uma ótima escolha para substituir o ídolo eterno Lee Kerslake, que gravou alguns dos principais álbuns do Uriah Heep em sua carreira. Pulando no banco, Gilbrook tem duas bigornas nos locais dos braços, e durante todo o show várias baquetas sofreram os ataques furiosos do músico.


"I'm Ready" foi a única canção de Into the Wild, mostrando como o Uriah Heep sabe encaixar muito bem os clássicos com novas canções, fato comprovado com "Between Two Worlds" (Sonic Origami, 1998), uma das canções mais belas feitas pelo Uriah Heep nos últimos 30 anos. 

De Very 'Eavy, Very 'Umble veio mais um clássico, "Gypsy", com um peso descomunal, e a velocidade de Look at Yourself (do álbum homônimo de 1971) sacudiu o esqueleto de todos no local. "July Morning" (também de Look at Yourself) trouxe Shaw sentado diante da plateia, com Rimmer repetindo o solo que Bolder empregou para a canção nos anos 90, no lugar do solo de teclado, e com Box fazendo mais uma performance sobrenatural, e a apresentação encerrou-se com Box conclamando à todos para cantar uma "Hippie Happy Song" de Salisbury (1971). Era a deixa para todos soltarem a garganta com "Lady in Black", e surpreendentemente, o espetáculo ser encerrado, com pouco mais de uma hora de duração.


Obviamente que a longa espera por uma apresentação do Uriah Heep em Porto Alegre não poderia ser encerrada com tão pouco tempo, e o público não parou de pedir por mais, até que todos retornaram sob muitos aplausos para o palco. 

Shaw pediu que algumas mulheres acompanhassem os músicos na próxima canção, e conseguiu arrecadar onze moças (minha esposa entre elas, que prontamente foi lá angariar uma palheta de Box). Não gostando do número, Shaw pediu para um menino de no máximo dez anos que assistia o show na primeira fila subisse ao palco. O Guri foi lá todo envergonhado e com medo, mas viu Box detonar o riff de "Free & Easy" (Innocent Victim, 1977), mostrando ao mundo como o Uriah Heep já fazia Heavy Metal de verdade muito antes de bandas consagradas da década de 80. 

Por fim, "Easy Livin'" (Demons & Wizards) encerrou de vez o show, com pouco menos de 90 minutos de duração, e após uma longa distribuição de palhetas e acenos, o grupo deixou o palco, e os fãs foram embora satisfeitos por um show memorável, mas com um gostinho de "Quero mais" o qual Shaw prometeu ser saciado na próxima vez que o Uriah Heep voltar ao Brasil. Tomara que não demore tanto quanto a primeira vez que o grupo finalmente apresentou-se em Porto Alegre.


Set list

1. Against the Odds
2. Overload
3. Traveller in Time
4. Sunrise
5. Stealin'
6. I'm Ready
7. Between Two Worlds
8. Gypsy
9. Look at Yourself
10. July Morning
11. Lady in Black

Bis

12. Free & Easy
13. Easy Living

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