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domingo, 10 de novembro de 2019

Discos Que Parece Que Só Eu Gosto: Rick Wright - Wet Dream [1978]




Quando falamos de Pink Floyd, sempre os nomes que surgem são os de Roger Waters (baixo, vocais), David Gilmour (guitarras, vocais) e Syd Barrett (guitarras, vocais). Mesmo ao citar as carreiras solos, os discos desses três artistas sempre aparecem nos bate-papos relativos aos britânicos, deixando para trás os outros dois membros, Nick Mason e Rick Wright. Os álbuns solos de Mason realmente não são assim tão merecedores de atenção por parte dos fãs da banda, mas não consigo compreender como Wet Dream, lançado por Wright, não faz parte das listas de preferidos dos fãs.

Vivendo sua fase mais conturbada na banda, após o lançamento de Animals (1977) e de uma longa turnê que acabou culminando com a despedida de Wright do Pink Floyd, voltando para participar da turnê de The Wall apenas como músico contratado. Nessa entre-safra vivendo também problemas de relacionamento com a esposa Juliette Wright, o músico tirou um período de férias em Lindos, na Grécia, e lá, compôs seu primeiro álbum solo, influenciado bastante por Juliette, que acabou assinando duas das canções do disco.


Unindo forças com Snowy White (guitarras), Mel Collins (saxofone, flauta), Larry Steele (baixo) e Reg Isidore (bateria), Wet Dream surge com "Mediterranean C", uma balada simples, com uma bonita introdução ao piano, a presença do sintetizador e a fundamental presença do saxofone de Collins, fazendo um solo arrepiante e tocante na primeira parte da canção, deixando White brilhar na segunda parte da mesma. Um bonito dedilhado de violão, acompanhado por piano, introduz "Against The Odds". Wright começa a cantar, com toda sua voz aveludada e marcante dos tempos de "Summer '68" ou "Echoes", em outra faixa bastante suave e apreciável de se ouvir, principalmente no retorno do violão com o solo central.

A sequência de alternância de 6 acordes em "Cat Cruise" é simplesmente hipnotizante. Piano, baixo e e guitarra vão variando os acordes (o primeiro em um complexo dedilhado, os demais apenas na marcação), junto com a bateria, para então explodir em um solo de saxofone para rasgar a casa ao meio. O que Collins faz aqui é de se parar tudo e apreciar aqueles grandes momentos que a música nos proporciona. Repentinamente, a faixa ganha velocidade, e então é a vez de White nos abrilhantar com um solo para se brincar de air guitar pela casa. Só por "Cat Cruise", Wet Dream merece estar nas listas de grandes discos de membros ligados ao Pink Floyd. Que faixa sensacional!

"Summer Elegy" nos coloca direto em álbuns como More ou Obscured By Clouds, ou seja, as trilhas sonoras que o Pink Floyd participou, mais precisamente nas canções que Wright canta. Ali, o grupo não fazia questão de se preocupar com experimentações, e vez por outra até deixava se levar por canções mais pop, como é o caso dessa bonita e singela canção, trazendo também um belo solo por White O lado A encerra-se com "Waves", uma faixa mais sombria, levada por guitarra e piano elétrico, e que deixa novamente Collins tomar conta da casa com mais um solo para destruir com o mundo.

O piano sendo dedilhado carinhosamente introduz "Holiday", mais uma faixa a contar com os vocais de Wright, e que também nos remete à faixas de Obscured By Clouds, como "Stay". "Mad Yannis Dance" é um exercício de Wright ao piano elétrico e sintetizador, com tímidas participações de Collins e White. 


Já "Drop In From The Top" é um mergulho no jazz rock, com Wright divertindo-se no órgão, e fazendo uma bela surpresa aos ouvidos. O solo rasgado de White nos faz rememorar os bons tempos da dupla Gilmour / Wright, e essa faixa também coloca Wet Dream alguns degraus mais altos na classificação de discos pink floydianos. Essa faixa foi lançada em um raro compacto francês, em parceria com Gilmour, sendo ela o lado A e "No Way", de David Gilmour (1978), gravado no mesmo estúdio que Wright gravou Wet Dream, no lado B.

Os vocais de Wright retornam em "Pink' Song", que antes que os fãs mais curiosos possam imaginar, não é nenhuma homenagem ao Pink Floyd, mas sim um tributo a governanta do casal Wright, e é outra balada suave, dessa vez destacando a flauta de Collins. O álbum encerra-se com o swing de "Funky Deux", com o groovezão do baixo de Larry Steele apresentando o piano elétrico, guitarra e bateria para chegar no gingado solo de saxofone e guitarra, pontuando positivamente para um álbum muito bom e a ser descoberto.

Wet Dream foi lançado em maio de 1978, e causou um grande impacto no Pink Floyd. Waters foi o que ficou mais indignado por Wright lançar canções sem apresentar as mesmas anteriormente aos colegas. "Rick escreve essas coisas singulares, mas as mantém em segredo e depois as coloca em seus álbuns solo, que ninguém nunca ouviu. Ele nunca as partilhou. Era algo inacreditavelmente estúpido", disse Waters a Mark Blake no livro Nos Bastidores do Pink Floyd. Por essas e outras, durante as gravações de The Wall, Waters sentiu que Richard não estava disposto a contribuir para o disco, e o demitiu da banda. Porém, o músico recusou-se a deixar o grupo sem concluir o álbum, e continuou como músico contratado.

O próprio Wright, em entrevista para Mark Blake em 1996, quando do lançamento de seu segundo álbum solo, Broken China, admitiu que Wet Dream era um pouco amador, com uma produção irregular e letras não eram muito fortes, mas que era um álbum singular do qual gostava. Então, se o dono da obra admite isso, e como ele faleceu há 11 anos, por que parece que só eu curto Wet Dream?


Track list

1. Mediterranean C
2. Against The Odds
3. Cat Cruise
4. Summer Elegy
5. Waves
6. Holiday
7. Mad Yannis Dance
8. Drop In From The Top
9. Pink's Song
10. Funky Deux

quarta-feira, 9 de outubro de 2019

Rick Wakeman - G'olé! [1983]




A carreira do tecladista britânico Rick Wakeman é recheada de altos e baixos. Com mais de uma centena de discos lançados, é impossível que um artista tenha todos eles agradando aos seus fãs, mesmo alguém como Wacko. Porém, há um álbum em especial que nunca ouvi um fã dizer: "Bah, eu gosto muito desse disco", pelo contrário. Quando se trata de G'Olé! - The Official Film Of The 1982 World Cup, a trilha sonora oficial da Copa de 1982, sempre ouço dos fãs que é um dos piores discos já lançados na história do progressivo. Mas eu não consigo concordar.

Lançado em 1983, G'olé! possui as participações especiais de Jackie McAuley e Mitch Dalton nos violões, e da bateria precisa do sempre fiel companheiro de Wacko Tony Fernandez. Vale aqui lembrar um pouco da carreira de Wacko até chegar em G'olé!. Com sua formação clássica, o músico destacou-se no Strawbs, indo parar no Yes onde conquistou sua fama com o aclamado Close to the Edge (1972). No ano seguinte, lançou-se em carreira solo, e o álbum Six Wives of Henry VIII praticamente colocou o nome Rick Wakeman no mesmo patamar do que o de sua então banda Yes. Journey to the Centre of the Earth (1974) e The Myths and Legends of King Arthur and the Knight of the Round Table (1975) fizera tanto sucesso que a estrela de Wakeman foi elevada ao ápice, e com apenas 26 anos, era um dos mais famosos músicos do mundo. 

Clássicos (ou não) devidamente autografados

Com isso, convites para fazer trilhas apareceram à Wacko, e assim vieram Lisztomania (1975), trilha do filme homônimo que narra a história do músico e compositor húngaro Franz Liszt, e White Rock (1977), trilha para os Jogos Olímpicos de Inverno de Innsbruck, Áustria, no mesmo ano. Com essas trilhas, Wakeman pode explorar um lado mais comercial em sua carreira, totalmente em paralelo com os contemporâneos lançamentos da época, No Earthly Connection (1976) e Criminal Record (1977), álbuns conceituais onde as explorações progressivas e instrumentais são levadas a extremos.

Ao mesmo tempo, a vida pessoal de Wakeman estava muito turbulada no final dos anos 70. Problemas financeiros levaram o músico a vender seu Rolls Royce para ajudar a pagar uma dívida de quase 350 mil libras, uma imensa fortuna para época. Isso é uma das razões para que Wakeman tenha aceitado fazer a trilha de White Rock, mas ele acabou gostando desse tipo de som, o que culminou em Rhapsodies (1979), esse sim, um álbum difícil de se ouvir gostando por completo e último com a gravadora A & M, que acompanhou a trajetória do loiro desde o início. 

Wakeman com o Yes em 1978

Em paralelo, ele havia voltado ao Yes, lançando o excelente Going for the One (1977) e Tormato (1978), partindo para uma extensa turnê que acabou registrada em Yesshows (1980). Brigas internas fizeram com que Wacko e o vocalista Jon Anderson pedissem demissão do Yes, e assim, o tecladista entra nos anos 80 completamente no limbo.

Após assinar com a Charisma, sai o conceitual 1984 (1981) e mais uma trilha, agora para o filme de terror The Burning (1981) e Rock 'n' Roll Prophet (1982) que pouco agregaram na discografia, e principalmente, nas finanças do músico, ao ponto de ele se declarar "sem gerente, sem dinheiro e sem casa". Assim nasce G'olé!, com Wakeman tentando se reestruturar financeiramente, independente do que gravar. Acho esse um disco bem interessante de se ouvir, com climas diversificados, sem firulas magníficas ou marcantes mas tão pouco sem ser pobre o suficiente para ficar pegando pó nas prateleiras. 

O selo inglês é em formato de bola ...

"International Flag" abre os trabalhos com um belo tema dos sintetizadores e do piano, e com a presente marcação da bateria de Hernandez. Esse tema é repetido por diversas vezes, e certamente foi usado em muitas formaturas mundo à fora."The Dove (Opening Ceremony)" mostra Wakeman usando com delicadeza do moog e de sintetizadores, em uma bonita faixa que realmente nos dá a sensação de ver as equipes adentrando o estádio de futebol. O piano é o instrumento central da linda "Wayward Spirit". A introdução parece uma sequência para "Awaken", com um dedilhado feroz e agitado. A entrada do riff central modifica a canção, apresentando uma linda faixa onde Wakeman chega a solar com o moog, mas é o piano que permanece sempre como o instrumento chefe da canção, em solos muito tocantes.

"Latin Reel (Theme From G'olé)" é uma faixa que confesso desnecessária. O ritmo alegre e popular lembra as piores canções do ABBA, o que seria algo muito bom de se ouvir se aparecesse, em algum momento, as vozes de Agnetha e Anne-Frida, mas aturar os teclados faceiros de Wakeman, e uma percussão sem-vergonhamente sem-vergonha realmente é difícil. Pule a faixa e vá para "Red Island", uma faixa sensacional, onde sobre uma marcação precisa de baixo e bateria, teclados e coral comandam as variações musicais de uma música bastante climática, até a bateria conduzir o coral para nos remeter aos melhores momentos de Journey To The Centre of The EarthO Lado A encerra-se com "Spanish Holiday", um espetáculo sonoro bastante intenso por parte das diversas variações de instrumentos de solo por Wakeman, e contando com uma importante participação do dedilhado veloz do violão de Jackie McAuley e Mitch Dalton, além da bateria sempre competente de Tony Fernandez.

Já a versão nacional ...

"No Possibla", onde Wakeman abusa dos sintetizadores, e junto com a bateria e o baixo, faz um ritmo bem dançante para nos conduzir à segunda metade do LP, ainda mais com as inspirações flamencas nos acordes do moog.  "Shadows" é outra bela canção, comandada pelo piano elétrico, o ritmo de baixo e bateria, moog, e depois de uma diversa sequências de solos, e uma incrível virada no final da canção, torna-a forte candidata a melhor disco.

Sintetizadores apresentam "Black Pearls", bonita faixa com Wakeman brilhando ao piano e moog.  "Frustration" traz todo o clima de frustração após uma eliminação, em uma faixa sombria, somente com sintetizadores, que parece surgida das melhores viagens da brilhante mente de Vangelis. "Spanish Montage" é um belo duelo de clavinete e violão clássico / flamenco. A participação do violão é muito similar à Steve Howe, e é impossível não abrir um sorriso enquanto a canção vai passando por nossa mente. "G'olé", assim como "Latin Reel", é outra faixa alegre e desnecessária, com grande excesso de sintetizadores, que conclui o álbum de forma um pouco abaixo de sua média geral, mas ainda assim, bastante aceitável perto de outras trilhas sonoras que surgiram nos anos 80, inclusive do próprio Wakeman ...



Track list

1. International Flag
2. The Dove (Opening Ceremony)
3. Wayward Spirit
4. Latin Reel (Theme From G'olé)
5. Red Island
6. Spanish Holiday
7. No Possibla
8. Shadows
9. Black Pearls
10. Frustration
11. Spanish Montage
12. G'olé

segunda-feira, 8 de setembro de 2014

Discos Que Parece Que Só Eu Gosto: Wishbone Ash - Lost Pearls [2004]


Algumas coletâneas lançadas no mercado são geralmente meras caça-níqueis, com artistas resgatando algumas obscuridades de períodos clássicos e faturando algum em cima de discos consagrados. Porém, raras são as bandas que investem em resgatar para os fãs anos perdidos, de pouca fama ou relevância, mas que podem ter suas qualidades, e principalmente, atestam que nem sempre o que chegou ao mercado coincidia com o que poderia ter sido registrado definitivamente. Um bom exemplo são as joias perdidas que os ingleses do Wishbone Ash apresentaram aos fãs somente nos anos 2000, as quais foram registradas em 1978 (onze das doze faixas do CD são deste período).

Nessa época, o Wishbone Ash tinha na formação Andy Powell (guitarra, vocais), Martin Turner (baixo, vocais), Steve Upton (bateria) e Laurie Wisefield (guitarra, vocais). As canções que constituem esse incrível resgate, praticamente obscuro na carreira dos ingleses, demonstram que o quarteto, apesar de estar longe dos áureos tempos progressivos e experimentais dos clássicos Pilgrimage (1971) e Argus (1972), envergava muito bem para ser uma belíssima banda capaz de sobreviver aos anos 80, trazendo rocks regados de embalo e peso, sendo as mesmas um exemplo de uma fase de transição que muitos grupos sofreram, e que foi abalada principalmente pela busca de um sucesso radiofônico e conquista de um mercado que já havia sido deles (exemplos não faltam, como Jethro Tull, Emerson Lake and Palmer, Genesis e por aí vai). 

Martin Turner, Andy Powell, Steve Upton e Laurie Wisefield

Basicamente, todas  (dez de doze) acabaram sendo registradas mas ficaram de fora dos lançamentos oficiais, no caso No Smoke Without Fire (1978) e Just Testing (1980), e comparando o material final que chegou às lojas em ambos os álbuns com a qualidade distribuída por Martin Turner nessa bela coletânea, é difícil entender o por que das mesmas terem sido banidas dos lançamentos finais.

Mas graças aos esforços de Martin, Andy Powell e do produtor Guy Roberts, essas "pérolas" foram encontradas em uma antiga fazenda inglesa, na cidade de Pigsty, propriedade de Kevin Harrington, que havia trabalhado com o grupo durante a década de 70, e com um devido tratamento de restauração, saiu para o mundo e aos fãs em 2004, colecionadas com o nome Lost Pearls.

Claire Hammill
Esse fantástico CD, cujo título inicial seria The Pigsty Tapes, abre com dois rocks excelentes, que são a pancada "Is Justice Done?", com um refrão grudento perfeito para levantar arenas,  e"The Bells Chime", mostrando toda a excelência das guitarras do Wishbone Ash, bem como o som marcante que o grupo fez no final dos anos 70. Segue-se a balada "Hard on You", destacando os vocais de Laurie, e mais rock 'n' roll embalado, agora com "Out on a Limb", que poderia estar em álbuns de grupos como Lynyrd Skynyrd. Para quem não conhece esse período do grupo, certamente o que mais irá chamar a atenção é a voz delicada de Laurie, bem diferente do grave vocal de Ted Turner ou do próprio Martin Turner por exemplo. 

A crueza da gravação de "Where You Been" é tão bela quantos as linhas Kiss impregnadas nos riffs e na levada da voz de Martin Turner (que lembra bastante o vocal de Ace Frehley), e essa distinção vocal pode ser ouvida com clareza nas duas versões do boogie "Halfway House", uma com Martin nos vocais e outra com Claire Hammill assumindo a voz, lembrando que Claire fez diversas participações nos álbuns Just Testing  e Number the Brave (1981).

"Football and Boxing" é a canção mais pesada do álbum, com um riff poderoso e a voz marcante de Martin Turner estourando as caixas de som, e seu riff expande-se para uma longa e animada Jam Session, chamada "John Serry Jam", com as guitarras exibindo-se graciosamente para o ouvinte sobre o acompanhamento saculejante do baixo e da bateria, nesta que é a melhor canção do álbum. 

Temos ainda uma estupenda versão ao vivo para o clássico de Chuck Berry, "Too Much Monkey Business", gravada em 1978, uma rara "Night Hawker", registrada em 1982 e única canção dos anos 80, com Trevor Bolder no baixo (substituindo o afamado John Wetton) e com um show das guitarras gêmeas de Powell e Laurie, e a versão demo da pancada "Sheriff of Sherwood", canção instrumental que poderia facilmente estar registrada em Argus ou Wishbone Four, e cuja versão final  foi lançada oficialmente como a fantástica "Stand and Deliver", em No Smoke Without Fire.

Martin Turner, Laurie Wisefield, Steve Upton e Andy Powell

Se para muitos fãs Lost Pearls não faz jus ao nome de Pérolas Perdidas, por não trazer nada da época dourada do Wishbone Ash (que compreende seus cinco primeiro álbuns), e por isso totalmente desprezado, para mim é um disco perfeito para mostrar ao mundo que não somente as guitarras gêmeas de Ted e Andy eram a única qualidade do Wishbone, mas sim canções que fazem a festa, sacudir os dedos, tocar sua air guitar ou simplesmente valer a pena o tempo e o dinheiro investido.

Contra-capa de Lost Pearls

Track list

1. Is Justice Done?
2. Bells Chime
3. Hard On You
4. Out On A Limb
5. Where Have You Been?
6. Halfway House 
7. Halfway House 
8. Football And Boxing
9. John Sherry Jam
10. Too Much Monkey Business (Live) (Demo Version)
11. Night Hawker
12. Sheriff Of Sherwood (Demo Version)

sábado, 22 de outubro de 2011

Discos que Parece que Só Eu Gosto: Sepultura - Morbid Visions [1986]



Por Mairon Machado (Publicado originalmente no blog Consultoria do Rock)

Acho que já falei repetidas vezes como eu e o meu irmão, nosso colaborador Micael Machado, desenvolvemos nossa paixão musical praticamente juntos, ouvindo as mesmas coisas, e discordando praticamente em tudo o que um ouvia do outro. Eram raros os materiais que o Micael me mostrava que eu dizia: "Bah, isso é muito bom", e vice-versa. Foi assim com Iron Maiden, Legião Urbana e The Cure (por parte do Micael, e eu não gostei), e Led Zeppelin, Black Sabbath ou Mutantes (por minha parte, que ele não gostou). Até mesmo o Deep Purple, uma banda que nós dois gostávamos, o Micael preferia Ian Gillan, e eu só ouvia David Coverdale

No auge da minha paixão pelo thrash metal, pouco depois de completar oito anos, eu descobri uma mera banda chamada Slayer, através de um K7 que o Micael arranjou sei lá com quem que continha de um lado um álbum do Metallica, o famoso black album Metallica e havia sido lançado dias antes, e do outro lado South of Heaven, o mais pesado disco do Slayer. Enquanto o Micael batia cabeça com "Enter Sandman", "Sad But True", "Holier Than Thou" e outras, eu delirava com "Mandatory Suicide", "South of Heaven" e "Dissident Agressor" (só para citar algumas). Nossa briga era por quem ouvia a fita, e o resultado foi algo que hoje os jovens não conhecem, ou acham que só existe em museu: a transferência de cada canção desejada para uma outra fita K7, nos famosos duplo-decks.

Porém, meu gosto pelo Slayer era por causa do Possessed, descoberto um ano antes em outro cassete que o Micael conseguiu que tinha sei lá o que no lado B (Agent Orange???) e no lado A o Seven Curches. Caraca! Aquilo era muito forte. As linhas de guitarra, o vocal gutural, as melodias infernais do grupo que eu não tinha nem ideia como era o nome de cada integrante, me arrepiava, me dava medo. E eu gostava. Passei a ser um fiel seguidor do Possessed e até hoje é uma das minhas bandas favoritas.

Sepultura no início de carreira
Exatamente naquele longíquo 1991, o Micael me apareceu um dia com uma banda chamada Sepultura (nem conto qual o outro disco que ele comprou no mesmo dia para o Mica não passar vergonha, hehehe). Tendo o álbum Beneath the Remains nas mãos, sentou-se a ouvir aquilo e me dizia: "Isso é thrash metal de verdade, não esses teus Possessed e Slayer que tu ouves". O som realmente não era dos piores, mas a blasfêmia do Micael em tentar comparar Sepultura com Possessed me causou revolta, e eu não conseguia gostar do grupo. Taradão pelo som dos mineiros, aos poucos o Micael foi comprando a coleção. Veio o Arise, depois o Schizophrenia, e por fim, Chaos A. D.Bestial Devastation e Morbid Visions.

Apesar da minha relutância em gostar do Sepultura, eu curtia no fundo o som, e sempre escondido, pegava os discos para ouvir. Pois quando chegaram o Bestial Devastation e o Morbid Visions, por um acaso os discos que o Micael ouviu e menos gostou, a casa caiu, e eu descobri que realmente, o Sepultura que o Micael gostava não era o que eu gostava.

Bestial Devastation, a estreia vinílica dos mineiros
Bestial Devastation é um EP lançado pelo Sepultura em 1985. A formação do grupo na época era Max Cavalera (guitarra, vocais), Igor Cavalera (bateria), Paulo Jr. (baixo) e Jairo T. Guedes (guitarras). De um lado da bolacha, o Sepultura apresenta as canções "The Curse" (uma pequena vinheta), "Bestial Devastation", "Antichrist", "Necromancer" e "Warriors of Death", todas pauladas certeiras, furiosas, raivosas, mostrando uma indignação que me lembrava muito o Seven Churches, e eu curti aquilo. Na versão original, o EP saiu com o lado B complementado pelo grupo Overdose, mas não era essa a versão que o Micael tinha. Mesmo assim, aquele Sepultura eu curti, principalmente por que Jairo T. era (na minha opinião) muito mais guitarrista do que o falado Andreas Kisser.

O EP serviu como divulgação do nome Sepultura, e no ano seguinte, através da Cogumelo Records, a mesma formação lançou um LP completo, Morbid Visions. A produção tosca, as distorções extremamente sujas, aquele satanismo rugindo em cada mili-segundo do sulco, a agressividade e pancadaria comendo solta, me encantavam como uma naja por uma flauta, e eu me tornei um fã do Sepultura de Jairo T., a melhor formação do grupo. O que mais me impressiona é que toda a explosão furiosa do grupo estava impregnada em jovens adolescentes. No quarteto, Max e Paulo tinham 17 anos, Igor 16 e Jairo T. era o único que completaria 18 anos em 1986, mas na gravação do LP, ainda estava com 17 anos.


Paulo Jr., Igor Cavalera, Max Cavalera e Jairo T.
Morbid Visions abre com a faixa-título, onde as guitarras surgem com muita distorção, e Max grita "Hell", para a pauleira pegar. Igor detona na bateria, um monstro, mesmo sendo ainda adolescente, e os zumbidos das guitarras de Max e Jairo são como zangões em volta da colmeia. A velocidade das notas de guitarra, misturadas com a violência de Igor, é o que sempre apreciei no thrash metal, sendo que dificilmente ouvimos o baixo de Paulo Jr. Após a segunda repetição do refrão, o ritmo muda, não tão veloz, com Igor utilizando os dois bumbos enquanto Max e Jairo fazem uma sequência de acordes, voltando para o refrão e ao escandaloso solo de Jairo que conclui a canção.

Já "Mayhem" nos permite ouvir um pouco do baixo de Paulo Jr.. A introdução com notas marcadas e o grito de Max, apresenta o riff quebrado de baixo e guitarras, com mais um show de Igor. Max vomita a letra com uma violência descomunal, e é impossível não lembrar do Slayer na ponte da canção, com baixo e guitarra fazendo as pesadas notas que Igor consegue inventar um ritmo quebrado para a mesma. Max muda o estilo de cantar, mas a pancadaria continua, e depois de gritar "Mayhem", mais um solo extremamente barulhento e visceral de Jairo conclui outra grande pedrada do Sepultura.

Uma das melhores canções do thrash metal vem a seguir, a linda "Troops of Doom", com uma introdução poderosa das guitarras, baixo e a bateria de Igor. O peso dos instrumentos junto a marcação da bateria e os gritos guturais de Max assombram. Parece que estamos ouvindo o tinhoso entrando no quarto. Max e Jairo puxam o riff que dá ritmo para Max cantar, e ouvimos isso mudar para algo muito veloz, com Igor detonando as caixas e os tons em viradas furiosas. Max retorna a letra, e então, mais outro riff recheado de distorções leva ao baixo de Paulo Jr., que sozinho, comanda o riff final, onde Jairo faz a guitarra rugir com arpejos, alavancadas e bends insanos, fechando com mais pancadas na cabeça.

Por fim, outro petardo, "War", encerra o lado A, tendo uma introdução quebrada, onde Max grita o nome da mesma, e a velocidade das guitarras lembra muito Seven Churches do Possessed (acho que é por isso que eu gosto tanto deste disco). Curto bastante a sessão mais lenta de "War", onde Igor faz rolos mais simples nos tons, e com o crescendo dos riffs formando um interessante tema. As violentas viradas de Igor, junto aos velozes riffs de Max e Jairo, mostram como o Sepultura era agressivo, não tinha medo de investir na pancadaria, totalmente diferente do grupo que virou pós o idolatrado Chaos A. D., que a mim, não passa na goela. É essa agressividade que eu sempre desejei ouvir do grupo, e isso ocorre com perfeição não só no lado A de Morbid Visions, já que o lado B ainda tem mais pancadaria.

A melhor formação do Sepultura para este que vos escreve

Não sei da onde o quarteto mineiro tirou tanta raiva para gravar "Crucifixion", algo tão sinistro quanto o inferno (se é que isso pode existir). Logo na introdução, as notas de guitarra com baixo e chimbal marcando, estouram em uma violenta sequência de acordes onde Max novamente vomita a letra, gravando na cabeça praticamente à ferro-quente a palavra que dá nome a canção. É pancada por todo lado, e não tem como se defender da violência que o grupo impõe. O baixo de Paulo Jr., encoberto pelas guitarras, tenta sobreviver com o peso extra da distorção, e novamente, a ponte lenta é muito bem-vinda, para dar sequência a canção com um novo riff, onde Jairo sola com uma velocidade incrível. Alguns dizem que é mais barulho do que solo, mas fazer "esses barulhos" como Jairo T. fazia, jamais Andreas Kisser conseguiu fazer. Alavancadas, arpejos, raspadas de palheta, sinos e a voz satânica de Max, falando em latim, é macabro demais, de correr crianças, e é isso que está presente no meio da canção, que repete-se até o final.

"Show Me the Wrath" começa diferente, com o riff pesado do baixo e da guitarra e o ritmo cadenciado de Igor, mas depois, Igor solta os braços e os pés, para Jairo e Max acompanharem outra violenta faixa, com efeitos nos vocais, e que é a única onde o baixo de Paulo Jr. pode ser ouvido com mais clareza, repetindo as notas do violento e veloz riff das guitarras. Igor é o centro das atenções, fazendo quebradas que imitam a velocidade dos riffs da guitarra, na melhor linha Dave Lombardo, e chutando os dois bumbos, não limitando-se apenas a pisar nos mesmos.

Já "Funeral Rites" abre com um riff tipicamente death/thrash metal, construído pelas guitarras e com o baixo sendo o fiel escudeiro da sonzera distorcida gerada pelas seis cordas de Max e Jairo, que em algum momento lembra Black Sabbath, e também é muito similar ao início de "Crucifixion". Depois da longa introdução, os zangões surgem novamente, em uma velocidade absurda, e a partir de então, segure-se, pois Max irá esmurrar sua cara com violentas palavras cuspidas ao microfone, agressivas, podres e sujas, como jamais iria cantar novamente. As palavras do nome da canção, gritadas no refrão, ferem pela violência, e a mudança no ritmo após esse intervalo, demonstra que mesmo jovens, os garotos sabiam o que faziam.

O LP encerra-se com "Empire of the Damned", também com uma introdução similar a "Funeral Rites", com a diferença apenas nas batidas de Igor, e depois com a pauleira pegando. Creio que é por que depois de tanta pancada, já chegamos aqui cansados, e não tem como curtir essa canção 100%. Mesmo assim, é de se destacar a velocidade dos riffs de Paulo Jr., Max e Jairo, e também para o estuprador solo de Jairo T.

Adolescentes e agressivos
No geral, pouco menos de 35 minutos de muita sujeira, muita raiva, muita sonzeira, muito thrash-death metal porradão, que eu ouvi e ouvi o quanto pude, até que o Micael se mudou e ficou para mim apenas mais um cassete. Depois, por problemas pessoais, Jairo T. saiu do grupo, sendo substituído por Andreas Kisser. Jairo parou no The Mist, enquanto que o Sepultura começou uma nova fase, que os levaria a serem reconhecidos mundialmente.

Mas ai que está. O Sepultura é venerado por álbuns como Chaos A. D. (1993) e Roots (1996), pelos temas políticos em suas letras, pela mistura de sons, pelo Andreas Kisser, sei lá por que. Honestamente, isso não é Sepultura. O grupo poderia ter acabado em Arise que teria feito um bom papel na minha opinião, e se tivesse lançado apenas Morbid Visions, seria sem dúvidas a maior banda de thrash metal / death metal do Brasil.

Só que eu não conheço ninguém além de mim que pensa isso. A maioria dos fãs despreza a fase Jairo T., torcendo o nariz e nem se quer ouvindo. É compreensível. O som do Sepultura pós-Jairo T. é bem mais ameno, mais acessível e mais polido, não tem a crueza inicial, a "podreira", a raiva, e isso, bom, isso só os que são diferentes conseguem gostar (para não me chamar de louco).

Jairo T. Guedes
Será que tem mais alguém "diferente" nesse mundão que curte o Morbid Visions mais do que o resto da discografia do Sepultura? Veremos ...

sexta-feira, 2 de setembro de 2011

Discos que Parece que Só Eu Gosto: Aerosmith - Rock in a Hard Place [1982]





Por Mairon Machado (Publicado originalmente no blog Consultoria do Rock)

Em 1982, a carreira do Aerosmith estava mais pra lá do que pra cá. A saída dos guitarristas Joe Perry e Brad Whitford acabou gerando uma grande divergência entre os fãs do grupo, que não conseguiam assimilar como aquela banda fantástica, que havia gravado álbuns espetaculares como Aerosmith (1973), Toys in the Attic (1975) e Rocks (1976) estava praticamente encerrando sua atividade.


A culpa de tal decadência pode ser atribuída principalmente ao abuso de drogas. Tyler havia abusado de mais, consumindo cocaína como quem consome água. Perry, o parceiro de Tyler nas drogas, tanto que a dupla acabou sendo batizada de Toxic Twins, saiu para tentar uma recuperação durante a gravação de Night in the Ruts, lançado em 1979, sendo substituído por Richard Supa, que ficou pouco tempo no cargo, o qual foi definitivamente ocupado pelo jovem Jimmy Crespo.

Brad Whitford, Tom Hamilton, Steven Tyler, Joey Kramer e Jim Crespo

Crespo havia sido guitarrista das bandas de Meat Loaf e Stevie Nicks (Fletwood Mac), e havia feito um relativo sucesso com o grupo Flames. Com um visual bem diferente do de Perry, sua entrada acabou sendo um tiro na própria perna, com os velhos fãs rejeitando o guitarrista. Por outro lado, a mulherada curtiu o novo visual, apresentado na turnê de promoção de Night in the Ruts.


Durante essa turnê, em 1980, Tyler teve um colapso em pleno palco, durante um show em Portland. O Aerosmith estava no fundo do poço, e a solução encontrada pela gravadora Columbia, detentora dos direitos do grupo, foi lançar a coletânea Greatest Hits, que vendeu mais de 11 milhões de cópias somente nos Estados Unidos. Quando parecia que o gupo voltaria ao normal, Tyler sofreu um grave acidente de moto no outono de 1980, ficando hospitalizado durante dois meses.

Irritado com a situação, Whitford abandonou o grupo, formado o Whitford / St. Holmes ao lado de Derek St. Holmes, pouco depois das gravações do novo álbum do Aerosmith começar. Para seu lugar, o francês Rick Dufay foi o homem. Sua escolha se deu principalmente pelo bom trabalho no seu álbum solo, Tender Loving Abuse, lançado em 1980, e também pelo visual muito similar ao de Crespo.


Assim, com Tom Hamilton (baixo), Jimmy Crespo (guitarras), Joey Jramer (bateria), Steven Tyler (voz, teclados, harmônica e percussão) e Rick Dufay (guitarra), o Aerosmith voltou aos estúdios para concluir o novo álbum.

Tom Hamilton, Joey Kramer, Steven Tyler, Rick Dufay e Jim Crespo
Rock in a Hard Place foi lançado no primeiro dia de agosto de 1982, e acabou sendo um grande fracasso comercial na carreira do grupo, já que conquistou apenas ouro, ou seja vendeu 500 mil cópias (todos os demais álbuns haviam alcançado vendas bem mais expressivas do que as de Rock in a Hard Place, acima da platina dupla, com Toys in the Attic chegando a platina óctupla, lembrando que platina equivale a 1 milhão de cópias vendidas).


Isso acabou deixando registrado para a posteridade a infame atribuição para Rock in a Hard Place de "Pior disco da carreira do grupo". Isso é uma grande mentira. Rock in a Hard Place é um belo álbum, com rocks pegados e muito similar as canções da fase Perry. Claro que sem toda a inspiração de Toys in the Attic e Rocks, mas mesmo assim, capaz de fazer você voltar o braço do toca-discos por diversas vezes para ouvi-lo.


O álbum começa com uma paulada logo na abertura, “Jail Bait” , com Tyler soltando a voz, trazendo bateria, baixo e o pegado riff da guitarra, Tyler passa a cantar, com a marcação dos riffs de guitarra, e com Kramer ditando o andamento da mesma, em um rock pesado e na mesma linha das canções de clássicos como Toys in the Attic e Rocks.

Jimmy Crespo
Sintetizadores apresentam “Lightning Strikes”, uma oitentista canção levada pelo andamento bumbo-caixa de Kramer, e pelo pesado riff de Hamilton, Crespo e Whitford, que participou fazendo a guitarra base. Outro boa canção, que não deve nada para os discos anteriores, com um riff simples mas grudento, contando também com um solo de slide guitar feito por Crespo, encerrando com trovões e os teclados da introdução.

“Bitch’s Brew” tem o início baladeiro dos violões e da voz emotiva de Tyler, virando um rockzão pesado que mesmo com a adição de teclados, não estraga a linhagem de boas canções que estão sendo apresentadas ao ouvinte. O interessante é que chegamos na terceira faixa do LP e ainda não ouvimos um solo poderoso de Crespo que possa ser comparado com o estilo de Perry, talvez justamente por que essa não é a ideia.

Outra paulada está em “Bolivian Ragamuffin”, com Crespo detonando no slide da introdução, e com um riff muito parecido com o de “Walkin’ the Dog” (do primeiro disco da banda, Aerosmith), virando um boogie despretensioso com destaque para as linhas vocais de Tyler e a importante participação do slide de Crespo, ganhando ritmo na segunda metade da canção, com Crespo mandando ver no slide, e finalmente podemos traçar alguma comparação com Perry, e que na minha modesta opinião, não tem como dizer qual dos dois é melhor, já que o solo de Crespo encaixa-se perfeitamente a sonoridade do Aerosmith.

A cover para “Cry Me a River”, de Arthur Hamilton, encerra o Lado A, começando apenas com violão e a voz de Tyler cantando esse grande clássico de forma muito lenta. O baixo de Hamitlon surge, assim como a marcação nos pratos, para então Crespo começar a solar sobre um andamento embriagantemente bluesístico, dando peso para Tyler repetir a letra com o blues pegando solto. Assim como já havía feito com “Train Kept A Rollin’” dos Yardbirds em Get Your Wings, e com “Come Together” na trilha de "Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band" (1978), o Aerosmith consegue fazer uma versão que supera a original, e aqui principalmente, pela emocionante interpretação de Tyler.

Rick Dufay
O Lado B abre com a bizarra “Prelude to Joanie”, com vozes sintetizadas falando as palavras que ilustram o encarte do LP, chegando em “Joanie’s Buterfly”, com a participação de John Lievano nas guitarras e nos violões introdutórios que acompanham a voz de Tyler, assim como percussões, em uma linha viajante e com um clima oriental, destacando as vocalizações que permeiam a canção e a tensa distorção na guitarra, transformando-se em um rock ‘n’ roll característico do som do Aerosmith, encerrando com vocalizações e o clima oriental salientado pela presença dos acordes de violino de Reinhard Straub.

Kramer puxa o ritmo de “Rock in a Hard Place”, voltando aos rocks pesados com uma pegada muito boa, tendo Crespo solando na introdução acompanhado pela harmônica de Tyler. Guitarras e saxofone, tocado por John Turi, fazem o riff acompanhado pelo baixo cavalgante de Hamilton, trazendo os vocais de Tyler em um boogie pesado, dançante e muito bom, destacando outro belo solo de Crespo no slide.  

Visual novo para nova formação. Cores e cabelos!
“Jig is Up” é um boogiezão zeppeliano para nenhum fã do grupo reclamar, com temas marcados e Kramer novamente fazendo uma boa participação, além de mais um interessante solo de Crespo.

O álbum encerra com a balada bluesy “Push Comes to Shove”, onde a bela introdução com Tyler solando na harmônica, acompanhado por guitarra, piano, baixo e bateria, trazem a voz rasgada e bêbada do pai de Liv Tyler, cantando esse blues de encerramento para um bom álbum.


O único sucesso de Rock in a Hard Place foi "Lightning Strikes". A turnê desse álbum também não foi das melhores, com Tyler novamente passando problemas durante uma apresentação em Worcester. A Columbia despediu o grupo, e o fim era a saída mais óbvia. Mas, como uma Fênix, em 14 de fevereiro de 1984, Perry e Whitford voltaram ao grupo, gravando em 1985 o álbum Done With Mirrors e levando o Aerosmith rapidamente ao sucesso com os LPs Pump (1989) e Get a Grip (1993), investindo em baladas e grudentos refrões, finalmente conquistando uma nova legião de fãs e principalmente, a mulherada.


The Toxic Twins
Obviamente, Rock in a Hard Place está longe de ser o melhor disco da carreira do Aerosmith, mas o que eu pretendo aqui defender é que este disco não é nem de perto a porcaria que apresentam por aí. Sendo bastante regular, todas as canções estão em um nível que, em uma escala de 0 a 10, ficam entre o sete e o oito facilmente, mas que infelizmente, por não ter Perry nas guitarras, acabaram ficando esquecidas nos repertórios do Aerosmith a partir de então, e desconhecidas principalmente da garotada que passou a curtir Aerosmith depois de Pump e Get a Grip.

Quem sabe agora você se anime a dar uma ouvida com carinho, e perceber que o Aerosmith, mesmo sem seu principal guitarrista, também fez muito som bom em Rock in a Hard Place.

sexta-feira, 29 de julho de 2011

Discos que Parece que Só Eu Gosto: Secos & Molhados [1978]



Por Mairon Machado (Publicado originalmente no blog Consultoria do Rock)


É muito fácil criticar sem conhecimento de causa, e depois que conhece o assunto, pedir desculpas, assumir que está errado e fingir que nada mudou, completamente ignorante do mal que possa ter atingido ou causado com tamanha crítica. O mundo da música é cercado de injustiças, e a sessão "Discos que Parece que Só Eu Gosto" apresenta de certa forma, um ponto de vista pessoal de alguns dos nossos consultores para um determinado álbum que a maioria das pessoas não gostam, o que não significa que por tal consultor gostar do álbum ele é injustiçado.

Gerson Conrad, Ney Matogrosso e João Ricardo

Mas, com todo o perdão, o álbum a ser tratado hoje encaixa-se no termo injustiçado. Afinal, quando falamos em Secos & Molhados, lembramos apenas de Ney Matogrosso fantasiado com plumas, penas e paêtes, e mais dois membros mascarados (João Ricardo e Gerson Conrad, ambos nos vocais), cantando clássicos como "O Vira", "Sangue Latino", "Rosa de Hiroshima" e "Flores Astrais", registrados em um período de pouco mais de um ano em dois álbuns seminais do rock nacional, Secos & Molhados (1973) e Secos & Molhados (1974), que levaram o nome do grupo ao auge de vendas no Brasil, superando o Rei Roberto Carlos, e projetando uma carreira internacional de extremo sucesso, que acabou sucumbindo por diversos problemas de briga entre os membros, divisão de dinheiro e também, falta de apoio.

Primeiro álbum solo de João Ricardo

Mas, caro leitor, o Secos & Molhados continuou sem Ney Matogrosso, e na realidade foi muito além dos dois álbuns citados. Tendo na capitania o músico João Ricardo (violão, vocais, letras), em 1977 ele reformulou a banda depois de investir em uma carreira solo de relevância praticamente nula. Nesta carreira, lançou dois álbuns: João Ricardo (1975) e Da Boca Pra Fora (1976).

Como os discos não emplacaram, fracassado financeiramente, João resolveu investir novamente no nome Secos & Molhados e resolve reviver o grupo. Para isso, convocou o guitarrista e vocalista Wander Taffo (que fez sucesso em carreira solo e também como fundador do Rádio Taxi, além de ser integrante da clássica formação do Made in Brazil), o baixista João Ascensão e o vocalista Lili Rodrigues. Com a participação de Gel Fernandes (bateria), Lazy (teclados) e Rubão (percussão), em maio de 1978, quatro anos após o fim prematuro da primeira formação do Secos & Molhados, a chama voltava a ser acesa. Porém a proposta era diferente. 

Jornal de 1978 anunciando a volta do grupo

Apesar de seguir uma linha similar aos primeiros discos e de Lili ter uma voz tão aguda quanto a de Ney, João decidiu parar com a androginia, retirar as plumas e investir no talento individual de cada um dos novos músicos do grupo. De cara limpa, partiu para os estúdios e, aquele que eu considero um dos melhores álbuns do rock nacional, o excelente Secos & Molhados (também conhecido como A Volta dos Secos & Molhados).

O disco abre com um verdadeiro clássico, "Que Fim Levaram Todas as Flores?", a qual foi um sucesso nacional, dando direito à banda de participar de inúmeros programas de televisão. A semelhança com faixas como "Flores Astrais" e "Assim Assado" não pode ser evitada, e Lili mostra que estava na banda para substituir, e bem, Ney. É impossível não confundir a sonoridade dessa canção com as canções da fase Ney, mas o resto de Secos & Molhados segue uma linha sonora bem diferente, que já se torna evidente na faixa seguinte, "Lindeza", onde os violões introduzem a canção com o baixo característico das músicas mais rápidas dos primeiros álbuns, além de trazer um belo arranjo de cordas, uma novidade nas canções do grupo. 

Segue mais uma canção totalmente diferente. Após flertar com o blues em "Primavera nos Dentes", o flamenco em "Primer Mundo" e o fado de "O Vira", o Secos & Molhados invadia o funk, com uma bateria marcando o ritmo, tendo na sequência uma ótima linha de baixo, guitarras e teclados, dando espaço para os vocais cantarem "De Mim Pra Você", uma das faixas mais dançantes da banda e que merece espaço em qualquer festa anos setenta que você pense em fazer, ao lado dos clássicos de Village People, Bee Gees, Gloria Gaynor entre outros. 

Após a sacudida no esqueleto de "De Mim Pra Você", temos a bela balada "Minha Namorada", onde Lili está fenomenal, mostrando sua simpatia (a qual contava nos créditos do álbum). O violão de 12 cordas de João leva a canção, que ainda trás um belo solo de Taffo (apresentado no álbum como Wander Tosh). O lado A encerra com "Anônimo Brasileiro", que apesar da bela melodia e do arranjo de cordas e metais, traz os vocais graves de João Ricardo, não combinando com o clima proposto na canção.

Wander Taffo, Lili Rodrigues, João Ascensão, João Ricardo e Rubão

O lado B começa com "Última Lágrima", que lembra muito "Sangue Latino", principalmente pela levada do violão e do baixo. Segue "Insatisfação", uma pedrada na orelha de quem achava que o lado B seria lento, contando com vocalizações e destacando novamente a voz de Lili. Temos aqui uma boa letra de João, bem auxiliada por uma sessão instrumental de teclados e guitarras. Os arranjos de cordas se fazem presente em "Oh! Canção Vulgar", uma linda balada que antecedeu a musicalidade amena empregada por diversos artistas brazucas nos anos 80. 

Segue uma sessão acústica (antes mesmo dos acústicos terem sido inventados), com a belíssima "Como Eu, Como Tu". Com João Ricardo liderando as vozes e acompanhado apenas de seu violão, temos aqui uma das mais belas e comoventes letras da banda, a qual trata sobre a dor de uma pessoa que recorda os poucos momentos de um amor que não deu certo. De chorar! Um dos melhores arranjos instrumentais para apenas um violão que já ouvi. A animada "Quadro Negro" resgata o clima leve do álbum, contando com boas participações dos integrantes nas vocalizações, que também possui João no vocal principal. 

Por fim, "Cobra Coral Indiana" é introduzida pelo piano elétrico e baixo, que lembram bastante "Flores Astrais". A pequena letra, narrando a história de milhares de brasileiros que entram e saem de filas enormes para pagar suas contas, dá espaço para um longo tema instrumental com cordas e guitarras, encerrando o álbum em altíssimo nível.

Porém, nem toda flor cheira bem, e João acabou tendo diversos problemas com os integrantes dessa formação, lançando seu terceiro trabalho solo, Musicar, em 1979. Em meados de 1980 tenta mais uma vez resgatar o Secos & Molhados, contando agora com os irmãos Roberto Lampé (violão), César Lampé (voz) e Carlos Amantor (percussão), lançando mais um álbum homônimo, também muito bom, mas não no nível de seus antecessores.

Depois, em 1987, foi a vez de ao lado de Tôto Braxil, João Ricardo registrou mais um LP sob o nome Secos & Molhados, o fraquíssimo A Volta do Gato Preto. Seguiram-se ainda Teatro? (1999) e Memória Velha (2000), praticamente álbuns solos de João Ricardo, que ficam muito longe do esperado para o nome Secos & Molhados. O grupo para muitos acabou em 1974, mas em 1978, foi dado o último suspiro, aliás, um suspiro cujo perfume parece que só eu gosto, mas creio que pelo fato de que a maioria dos fãs do grupo apenas desconsideram a existência do mesmo sem o Ney. Mera injustiça!
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