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quarta-feira, 20 de dezembro de 2017

Caravela Escarlate - Caravalea Escarlate [2017]



No dia 30 de novembro, o grupo carioca Caravela Escarlate arrebatou os corações e ouvidos dos proggers brazucas - e por que não, mundiais - com seu segundo álbum, auto-intitulado. O trio, formado por Ronaldo Rodrigues (teclados), David Paiva (baixo, violões, guitarras, voz) e Elcio Cáfaro (bateria) já vinha divulgando, em seu blog oficial, o processo de gravação desse disco, feito no Estúdio Mata (Niterói, RJ). A expectativa de um belo trabalho, principalmente por que as bases das oito canções foram registradas ao vivo em estúdio, foi confirmada positivamente com um registro sensacional e criativo, que estabelece a Caravela como um dos grandes nomes do cenário progressivo nacional.

Das oito faixas, duas são instrumentais, "Atmosfera" e "Cosmos". A primeira é uma experiência sonora sensacional, com Ronaldo fazendo misérias em seu sintetizador, muito bem acompanhado pela veloz e sacolejante cozinha da Caravela. A segunda é um tour-de-force de 8 minutos, no qual baixo, sintetizadores e bateria se unem para encantar os ouvintes, com um riff grudento que se repete diversas vezes, e um andamento perfeito para viajarmos ao longo de uma audição fantástica. O que David faz com o baixo no final da mesma, é de comer o chapéu.

Caravela em estúdio

Nas faixas com letras, todas a cargo de David, a suíte "Planeta-Estrela" destaca-se pelos seus imponentes 11 minutos e 30 segundos de muita pegada, com um andamento que nos lembra "Yours is no Disgrace" (Yes) em seu início, e que tem vários trechos com fortes referências ao grupo britânico. Da duração total, apenas três minutos possui letra, que em parceria com Tadeu Filho, ex-batera do grupo, mantém o climão viajante e a alta melodia/composição no mesmo nível. Mais de cinquenta por cento (exatamente os seis minutos iniciais) são um delírio instrumental, e os dois últimos minutos, também instrumentais, são dedicados ao lindo solo de Hammond. É fácil uma das melhores de Caravela Escarlate.

Também gostei do climão Terçiano de "Um Brilho Frágil No Infinito", seja pelos vocais de David, pelos violões e pela magistral presença do moog e do mellotron. As influências de O Terço também estão presentes na pegada de "Futuro Passado", outra boa faixa do material aqui vos apresentado.

Caravela ao vivo

A introdução de "Gigantes da Destruição" é muito bonita, e o excelente trabalho de baixo feito no trecho central da canção, em uma escala complicada que exige muita competência para executá-la, complementada por lindas camadas de mellotron. O baixão de David também é uma das atrações na faixa "Caravela Escarlate", junto da ótima linha percussiva de Elcio e a boa presença do moog.

Somente "Toque as Constelações" não me agradou, talvez por conta de que me trouxe lembranças de faixas dos anos 80, de grupos que não são muito minha preferência musical. Mas não posso deixar de destacar novamente outra participação interessante do moog, lembrando Wakeman em seus momentos de "suavidade".

A produção de Sergio Filho auxilia bastante na audição, já que cada instrumento ficou bem destacado, e a linda imagem da Caravela que estampa a capa ficou a cargo de Fábio Gracia. Uma viagem aos anos 70 em uma máquina do século XXI, para apaixonados e seguidores do rock progressivo. Sucesso ao pessoal, e que aportem sua caravela nos mares e rios do Sul em breve.
Capa e contra-capa do CD


Track list

1. Um Brilho Frágil No Infinito
2. Caravela Escalarte
3. Atmosfera
4. Gigantes da Destruição
5. Toque as Constelações
6. Futuro Passado
7. Cosmos
8. Planeta-Estrela

quarta-feira, 12 de outubro de 2016

Caravela Escarlate - Rascunho






Muitas vezes, quando recebemos um álbum para ouvir, olhando pela capa e pelo nome das canções criamos pré-conceitos que quase sempre tornam-se reais a partir do momento em que a música começa a sair das caixas de som.

Pois Rascunho, o primeiro álbum do grupo Caravela Escarlate, foi-me de tamanha surpresa em relação a capa que não consegui conceber nenhuma imagem musical a partir da mesma, e somente quando dei o play no CD da dupla Ronaldo Rodrigures (órgão, sintetizador e teclados) e David Paiva (baixo, craviola, guitarra, viola de 12, violão de aço e sintetizador) que o desbunde pegou geral.

Foto Promocional
Jamais imaginaria que um álbum sem bateria, baixo ou vocais, levado apenas por guitarras e teclados, causaria-me tanta sensação de nostalgia, com referências a nomes consagrados do rock progressivo, e com uma tamanha qualidade melódica exalada pela dupla.

O grupo foi formado em 1988, mas encerrou as atividades logo depois. No início da década atual, David uniu-se a Ronaldo e Tadeu (bateria), e retomou o Caravela, que ainda contou com Henrique Moreira na bateria, até passar por um hiato de alguns meses no final de 2015. Foi então que Ronaldo e David decidiram retomar as gravações desse EP, por conta da saída de Henrique. Desde então, a dupla passou a experimentar um novo formato, explorando possibilidades eletro-acústicas, diversidade de instrumentos, timbres e cruzamentos entre rock progressivo e MPB. O resultado foi lançado em julho desse ano, e não podia ser nada no mínimo Maravilhoso.


Foto Promocional de Rascunho


O dedilhado aflito do violão em "De Sol a Sol" nos apresenta uma faixa delirante, onde a guitarra de David possui uma distorção similar a de Sérgio Dias nos tempos de Tudo Foi Feito Sol (1974), e com a entrada de Ronaldo, rapidamente nos vimos viajando com a Caravela para a São Paulo do início da década de 70, quando o rock progressivo explorava instrumentos, harmonias, combinações melódicas e técnicas musicais com o mais puro perfeccionismo, levados por um delicado violão, que também abrilhanta a introdução de "Hipocampo", faixa mais soturna, onde os efeitos dos teclados de Ronaldo nos lembram uma flauta, e fazem a Caravela voar para Minas Gerais no final da década de 70, e nos trazer a imagem de um Recordando o Vale das Maçãs preenchendo o ambiente, tendo como destaque o piano enigmático e sutil de Ronaldo.

Com "Metamorfose", a Caravela volta no tempo, continuando em Minas, agora com claras referências ao Clube da Esquina, sendo impossível não sentir um cheiro de queijo e pinga com o moog avançando pelo seu cérebro na companhia de um vigoroso dedilhado de violão. Com "Circo Imaginário", David traz o violão para a frente do aparelho de som, em um espetacular dedilhado clássico que apresenta uma viagem musical extraída por Ronaldo em seus sintetizadores, das quais as referências que a Caravela vai buscar é desde as profundas cavernas italianas de grupos como Le Orme e Formula 3, até a habilidade nacional de artistas como Turíbio Santos e Raphael Rabello.


Ronaldo e David  ao vivo

A partir de "Cavalo de Fogo", a Caravela passa a navegar nos mares britânicos, trazendo referências dos dois antológicos discos de Steve Howe (Beginnings - 1975, e The Steve Howe Album - 1979) seja no Maravilhoso emprego do mellotron, seja no fantástico timbre de guitarra que se assemelha e muito ao que o guitarrista do Yes fez nesses discos, trazendo uma aura clássica incomum na música atual. Retornamos para o Brasil em "Maino", onde a viola é o centro das atenções junto a um sintetizador que emula sons do sertão nordestino e hipnotizam o corpo, colocando-o a dançar no meio da sala de maneira sem igual, sendo que o que Ronaldo faz com o moog, na linha da introdução de "Xanadu" (Rush), é simplesmente de chorar.

"Pedra do Sal" nos traz lembranças do pessoal do Clube da Esquina, mas dessa feita da turma de Beto Guedes, Toninho Horta, Danilo Caymmi e , só que com fortes pitadas Genesianas, e o álbum encerra-se com "Século XIV", obra clássica de David ao violão regada por psicodélicos acordes de moog e sintetizador, onde novamente, as passagens no estilo "Xanadu", mescladas com a guitarra com timbres a la Steve Howe são de emocionar.


Perfumes

O EP dos cariocas deve ser tratado não como o nome sugere, mas como uma obra definitiva, que irá ser exaltada nos anais do rock progressivo brasileiro pela sua capacidade de tocar a alma, o coração e a mente, de forma metódica e perfeitamente apaixonante.

No aguardo do LP, e que a Caravela continue sua viagem por águas límpidas e tranquilas como a música desse seu álbum de estreia.


Contra-capa de Rascunho

Track list

1. De Sol a Sol
2. Hipocampo
3. Metamorfose
4. Circo Imaginário
5. Cavalo de Fogo
6. Maino
7. Pedra do Sal
8. Século XIV
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