sábado, 31 de março de 2018

Consultoria Recomenda: rock alternativo dos anos 1990





Editado por Fernando Bueno
Tema escolhido por Diego Camargo
Com Alisson Caetano, Davi Pascale, Diego Bizotto, Fernando Bueno, Mairon Machado e Ulisses Macedo

Ah o rock alternativo dos anos 90! Tão característico e ao mesmo tempo tão díspar que consegue abranger no mesmo balaio Faith No More e Alice In Chains, Oasis e Red Hot Chili Peppers.

Eu desde sempre acompanho o tal do rock Alternativo já que era criança no meio dos anos 90 e foi nesse período que comecei a ouvir música, logo as bandas dessa época e o som daquela década me cativam ainda hoje. Tanto que uma das minhas coisas favoritas é ainda encontrar uma daquelas bandas que eu ainda não conhecia e que acabam por virar minhas favoritas (alguém aí falou de You Am I?).

No entanto, na lista abaixo o time da Consultoria do Rock focou realmente no ALT da palavra 'alternativo' e escolheu discos que passaram debaixo do radar popular e que, provavelmente você não ouviu. Na verdade, se tudo correr como o planejado, na maioria dos casos o leitor não vai ter nem ouvido falar nas bandas aqui presentes.

Mas com certeza você leitor vai lembrar de milhares de outras bandas que poderiam estar nessa lista, então seja bem vindo aos comentários e ajude todos os outros a descobrir suas mais nova velha favorita banda!

Sterling – Monterlingo (1997)
Recomendado Por Diego Camargo
O Sterling pra mim é um daqueles casos que todos os meus amigos mais próximos já estão cansados de ouvir a história. Quando me mudei pra região central de São Paulo em meados de 2002 ia regularmente ao 'Centrão' da cidade (especialmente aos sábados) para me perder nos sebos atrás de vinis que custavam 1 real cada e para me perder no que eu carinhosamente chamava de 'loja de forró'. As 'lojinhas de forró' eram lojas bem pequenas no Centro que eram abarrotadas de CDs do chão ao teto e que SEMPRE tinham como trilha sonora algum forró saindo dos falantes da loja. Isso assustava a maioria dos 'roqueiros de plantão' que nunca nem entravam nessas lojas e se dirigiam direto à Galeria do Rock, eu, em contrapartida, entrava nessas lojas e saia cheio de CDs. Uma loja em particular na rua Dom José de Barros era a minha favorita, sai de lá com muitos discos que eram raridades como o Lateralus do Tool edição europeia por 10 reais, o G-Force do Gary Moore por 5 reais entre muitas muitas outras pechinchas, incluindo o Monsterlingo, do Sterling. Comprei parte pela capa, parte pela curiosidade, paguei 5 reais no CD e ao chegar em casa e colocar o disquinho no play foi paixão de cara! Por anos foi impossível achar qualquer informação sobre a banda já que Sterling é um sobrenome pra lá de comum na Ilha Britânica, foram anos até conseguir saber mais sobre a banda e mesmo assim as informações não são grande coisa. A banda gravou apenas 4 singles, 1 EP e um disco completo entre 1996 e 1997 e sumiu. O grupo deixou um impacto tão grande em mim que hoje em dia tenho tudo que a banda lançou, incluindo um single só lançado em vinil 7 polegadas em que as duas músicas estão incluídas no EP, que eu também tenho... vai entender. Pra mim fica complicado falar do som da banda já que eles estão tão próximos e já que eu ouvi o disco tantas vezes que é algo que se tornou como um 'melhor amigo', posso esquecer do disco por um tempo, mas sempre que quero relembrar de algum momento da vida ou sempre que quero apenas cantar um disco do começo ao fim, é Monsterlingo que vai pro play. Bem vindo você também se quiser um novo amigo, nunca é tarde!
Fernando: Me senti em uma prova de gincana tentando encontrar esse disco para ouvir. Nos lugares que eu costumo usar e encontrar tudo o que procuro não tinha. Daí lembrei que o link do álbum no Bandcamp foi enviado junto quando montamos essa lista. Acho que é banda com apelo mais pop das que entraram aqui. No geral é interessante, os músicos me parecem competentes, mas não me comoveu.
Ulisses: Tocam bem, mas fora isso a maioria das composições são completamente descartáveis. Geralmente algum elemento se sobressai, como a linha de baixo ("Dream Queen") ou o vocal, mas não o suficiente para tornar a audição algo realmente prazeroso... O som é tipicamente noventista, mas com tantas boas bandas no período eu não sei por quê alguém ouviria esta aqui.
Davi: Esse foi um dos grandes destaques da lista, na minha opinião. Os caras conseguem mesclar direitinho a bateria e as passagens de guitarras distorcidas típicas do rock alternativo com linhas vocais pops repletos de refrãos radiofônicos. O trabalho é bem consistente e deve agradar em cheio aos fãs de grupos do chamado post grunge como Seether, Puddle of Mudd e afins. Faixas de destaque: “Is This The Time”, “Intravenous”, “Headless” e “The Good Sun”.
Alisson: Tem coisas que são segundo, terceiro escalão por motivos justos. Tirando o detalhe interessante de Justin Chancellor (baixista do Tool) ter feito parte da banda em algum momento da vida, mais nada chama atenção para qualquer aspecto aqui. O som é anos 90 em todos os sentidos, pegando tudo que deu certo na época e misturando, e jogue aí influências de Oasis dos dois primeiros discos, Weezer, um pouco de grunge, e pronto. "Qualquer coisa" é um adjetivo bem pertinente.
Diogo: O Sterling tem uma coisa em comum com minha indicação, que é um foco maior nas melodias do que nos riffs ou em algum outro elemento. Esse fato acaba tornando a audição relativamente palatável. Cabe o rótulo “alternativo”, mas sem aquele ranço indie que muitas vezes me incomoda. Claro, a repetição no fim de “Shiver” é desnecessária, mas não dá pra cobrar perfeição de algo que está muito longe de ser perfeito. Apesar de algumas características positivas, trata-se de um disco apenas razoável, que apresenta seu melhor no início do tracklist (especialmente “Intravenous” e “Out of the Sunlight”) e depois dá uma caída de nível. Da segunda metade, gostei de “Dream Queen”, que me lembrou o Velvet Revolver. Bota uma Gibson Les Paul na mão do guitarrista no lugar da provável Fender Jaguar (será?) enquanto a banda a toca que eles até passam por hard rockers.
Mairon: Isso é rock alternativo da mais pura origem alternativa que poderia esperar por aqui. Há um pé no grunge, seja pelo baixo distorcido ou pelas guitarras envenenadas, e por vezes uma lembrança ao Nirvana, e consequentemente ao Pixies (pedras, podem jogar) no vocal, mas o grupo não é uma cópia/filhote de Seattle. Gostei do lado soturno de "Addlestone Rock", o baixão da intro de "Crawl Mary", o embalo de "Three Hand Man" . Não curti "Headless" e "Out Of The Sunlight", mas elas são bem genéricas com relação a outras bandas de sucesso do Rock Alternativo. Pelo que pesquisei, é o único disco dos americanos. Uma lástima, pois tinham calibre para fazer mais. Não conhecia a banda e achei-a interessante.

Morphine – Cure for Pain (1993)
Recomendado por Fernando Bueno
Essa edição foi a mais difícil para mim. Como não podíamos citar banda mais "famosas" as minhas opções se reduziram drasticamente e foram a quase zero. Sorte que lembrei desse disco aqui. O Morphine chegou para mim pelo fato de ser uma formação inusitada e confesso que nas primeiras eu ouvi com um pouco de desdém. Ainda bem que eu insisti, porque o som do trio é muito bom. Difícil desvincular o som de um bar vazio e com pouca luz ao ouvir o som da bateria, sax e baixo com a voz calibrada de whyskie de Mark Sandman. Podia ter indicado tanto o disco anterior quanto o posterior, mas é Cure for Pain que os fãs mais celebram, assim a tendência que seja mais bem recebido pelos amigos consultores. Sua música cheia de sentimento, seja de tristeza, saudade, dor ou qualquer outra coisa que normalmente te deixaria para baixo acaba sendo um prazer de ouvir. Sei que de todos os discos da lista esse pode ser o mais conhecido e também o mais diferente.
Diego: Fazia muito tempo que eu não ouvia Morphine e como foi bom retornar ao som da banda! Lá pelos idos de 2000, quando do lançamento do disco The Night, foi quando eu ouvi falar do Morphine pela primeira vez, graças à extinta rebista Bizz. No entanto, ainda nessa época, não era tão fácil digitar o nome da banda no Google e ouvir o disco, como todos sabemos, então corta para 2008 quanto eu ouvi a discografia toda da banda sem parar e adorei. Cure For Pain sempre foi o meu disco favorito da banda mas nunca rodou tanto no meu player, não pela falta de interesse ou qualidade, mas porque Morphine não é para todos os momentos. A música da banda é melancólica e cheia de dor e por mais que essa melancolia e dor sejam de alta qualidade, você não ouve um disco assim a todo momento. De qualquer forma foi bom ter relembrado deles, pois não pretendo esquecer do grupo por tanto tempo a partir de agora. Cure For Pain traz aos nossos ouvidos o som único da banda com bateria, saxophone e baixo de duas cordas (isso mesmo que você leu). Tudo regado com o vocal carismático de Mark Sandman. Um deleito aos ouvidos que deve ser apreciado com calma e com o coração aberto!
Ulisses: O Morphine faz parte do seleto grupo de bandas que desafia a norma de fazer rock com guitarra. Ao invés, o power trio aposta numa combinação de saxofone e baixo de duas cordas, unidos ao groove do baterista Jerome Deupree e à própria voz grave e melancólica de Mark Sandman. O resultado é um disco que, embora marcado pela atmosfera alternativa dos anos noventa, preserva o jeitão cool de seu jazz-rock com sabor de blues, e entrega vários hits no decorrer do tracklist, entre os quais a famosa faixa "Buena".
Davi: Esse segundo álbum do Morphine foi lançado em 1993, justamente quando o grunge vivia seu auge. Aqui no Brasil tivemos a histórica edição do Hollywood Rock que contou com alguns dos grandes nomes do gênero (L7, Alice In Chains e Nirvana). Enquanto as bandas buscavam fazer um som mais pesado, com vocais raivosos, buscando inspiração no punk , no noise e no heavy metal, a galera do Morphine apresentava o oposto. Canções repletas de sax jazzísticos, violões blueseiros e vocal quase tão calmo quanto ao do Jack Johnson. Cure For Pain é um trabalho bem desenvolvido, bem interpretado, mas não faz muito meu gosto pessoal. Para quem quiser uma dica do que aprontavam, recomendo ouvir seu ‘quase little hit’, “Thursday”.
Alisson: Gosto do Morphine mais pela ideia e proposta do que por gostar realmente do som. Acho bacana a ideia de aproximar jazz e rock de um jeito sem parecer erudito ou complicado ao extremo. As ideias se juntam em músicas que sempre caem no inusitado ou onde a pegada e o feeling são o foco. É lembrado com carinho pelos fãs de alt-rock dos anos 90 com justiça.
Diogo: Sem dúvida trata-se da audição mais, digamos, tranquila entre todas as indicações. O som do Morphine é tão classudo que o rótulo “alternativo” causa algum estranhamento, mas considerando a amplitude que essa palavra pode denotar, não discordo da recomendação. Falar que a escassez de guitarras é compensada pelo bom uso dos saxofones é lugar comum, então acrescento a isso a citação das canções em que esse formato melhor encontra sua expressão, que são “I’m Free Now”, “All Wrong”, “Sheila” e a faixa-título. Não sei se isso procede, mas sinto uma (grande) possível influência de Tom Waits ao longo das faixas. “In Spite of Me”, então, poderia facilmente ter sido gravada pelo trovador de voz rouca. Sem dúvidas trata-se de um belo disco.
Mairon: Dos álbuns aqui apresentados, com certeza esse é o que mais pessoas devem dizer que conhecem. A mistura de rock com jazz, levada pelos inusitados instrumentos (baixo de 2 cordas e saxofone), além de uma bateria cadenciada e um vocal que pega nos ouvidos, conquistou diversos fãs pelo mundo. O álbum é sinuoso e apreciativo, exalando um cheiro de modernidade para quem vivia um período onde o grunge parecia dominar o mundo do rock. Como não se surpreender com os bandolins da linda "In Spite Of Me", faixa com grandes inspirações na clássica "Going To California" (Led Zeppelin). O saxofone é o instrumento que mais me chama a atenção, fazendo os ouvidos sorrirem durante "I'm Free Now" e na animada "Mary, Won't YoU Call My Name?". O baixo e o saxofone, juntos, fundem-se confortavelmente nos riffs de "All Wrong", "Buena", e "Thursday". E atirem as pedras quem não se diverte com a ótima "A Head With Wings", ou não se emociona com "Miles Davis' Funeral". Disco fundamental e emblemático do rock alternativo, e muito bem-vindo por aqui.

Living in the Shit – Chá Magiológico (1996)
Recomendado por Ulisses Macedo
Inegavelmente uma das bandas mais importantes da história da música alagoana, o Living começou como uma banda meio punk rock que foi, pouco a pouco, deixando o som mais recheado, com influências que iam do hardcore e metal ao manguebeat, reggae e ska, acabando por se tornar mais uma daquelas efervescentes bandas do rock alternativo noventista, com criatividade e originalidade de sobra. Independentes, misturavam inglês e português num caldeirão musical que combinava composições pesadas ("Essência da Mata", "Protect Your Freedom" e a faixa-título) com outras mais acessíveis e até engraçadas ("Raputenga" e "Degustação"), mas sempre com bastante energia e aquela pegada orgânica e viva, para fazer o ouvinte bater cabeça. Único álbum de estúdio do grupo, e ainda assim uma peça essencial da história do rock alagoano.
Diego: São dezenas e dezenas de bandas independentes surgidas na década de 90. A ascensão do CD e o barateamento da tecnologia e dos estúdios de gravação fez com que centenas de bandas gravassem e lançassem trabalhos independentes naquela década. Por isso mesmo fica impossível conhecer tudo, e por isso mesmo, eu nunca tinha ouvido falar no Living In The Shit, apesar de conhecer o baterista da banda e seu projeto Sonic Junior. Chá Magiológico tem produção modesta mas é competente naquilo que se pretende fazer: Mangue Beat/Funk Metal/Hardcore/Rap Rock. O problema, acredito eu, mora justamente nessa mistureba toda, a banda não consegue uma identidade própria. Ora quer ser Planet Hemp, ora quer ser Chico Science & Nação Zumbi e ora quer ser o Suicidal Tendencies. No final a banda não é nenhuma das influências e também não é o Living In The Shit... Uma pena, se a banda tivesse durado mais um disco eles poderiam ter conseguido atingir uma identidade própria que poderia ser interessante. Li comentários que um segundo disco teria sido gravado, no entanto não encontrei rastro nenhum dele, sendo assim Chá Magiológico fica como o único registro da banda Alagoana.
Fernando: Só eu que achei que estava ouvindo alguma coisa do Planet Hemp nos primeiros minutos da música? Claro que foi só uma impressão inicial já que no todo o som do Living in the Shit está mais próximo ao manguebeat, mesmo que o discurso ‘Legalize Já’ também dê as caras. Bom instrumental, baixista bastante presente, mas o som de bateria é ruim, com a caixa estalando que cansa lá pela terceira ou quarta música. Não é para mim e fica a pergunta: quem teve a ideia "brilhante" do nome da banda?
Davi: Banda de Recife. Conheço algumas bandas alternativas dessa época como o Pin Ups e o Killing Chainsaw, mas confesso que nunca tinha parado para ouvir o Living In The Shit. O trabalho é bem feito e remete bastante à cena da época. “Essência da Mata” é Chico Science total. Tanto nos riffs quanto no trabalho vocal. “Rojão” já bebe bastante no Planet Hemp, “Raputenga” traz outra referência bastante usual na época, o reggae. Referência que se repete em “Ganja Yeah”, que como o próprio nome entrega fala sobre maconha. Outro tema corriqueiro na ocasião. Isso, talvez, explique o porquê o conjunto não chegou ao segundo disco. Os músicos eram competentes, mas não possuíam um grande diferencial em relação aos demais conjuntos de sua época, que possuíam mais mídia e eram melhores compositores. De todo modo, foi bacaninha ouvir.
Alisson: Decente, mas não dá pra elogiar muito, já que o produto é muito igual a um monte de bandas de mais sucesso dos anos 90. Pense em Planet Hemp, Nação Zumbi, Faith No More, Charlie Brown Jr., e por aí vai. Está tudo aqui, mas sem o mesmo talento dos originais.
Diogo: Bastam poucos segundos para perceber a fortíssima influência que a turma manguebeat de Recife teve nesses alagoanos, que fazem exatamente a previsível mistura de rock (especialmente em seu lado mais punk), rap, reggae e maracatu, regada a muita percussão. A produção é magrinha (o som de bateria é meio anêmico e a caixa se sobrepõe ao resto) e a mixagem enterra o vocal lá no fundo, mas até que isso não é um grande problema considerando o contexto. Trata-se de um caso em que elementos negativos como esse fazem parte da expressão do trabalho, mesmo que essa não seja bem a intenção. Quando a banda aposta mais no rock, chega a soar como o Planet Hemp, que estava surgindo com força na mesma época, então não creio poder rotular como influência, apesar das letras sugerirem esse fato. Não chega a ser ruim (algumas músicas são beeeeem fraquinhas, outras são razoáveis), mas não tenho planos de ouvi-lo novamente.
Mairon: Nunca tinha ouvido falar dessa banda. Lembrou-me bastante o Nação Zumbi, com algo de Sepultura nas guitarras e percussão, e um pouco de Raimundos nos vocais. É Mangue Beat na essência. As faixas que mais me chamaram a atenção foram a faixa-título, "Essência da Mata", "Raputenga" e a matadoras instrumental "Awinthila Dreams". As faixas em inglês são muito boas, pesadas, e mesmo como o sotaquezão nordestino, é admirável a audição de  e "Fuck Off The People" e "Protect Your Freedom" (a melhor delas) e do embalo de "Pessoas Bad Communication". A versão para "Degustação", original de Rita Lee (e particularmente, uma das piores músicas/letras que ela e o Roberto de Carvalho já fizeram) ficou muito boa musicalmente. Apesar de a gravação ser bastante crua, gostei do que ouvi, até mais do que o próprio Nação Zumbi. Boa surpresa!

The Gits - Frenching The Bully (1992)
Recomendado por Davi Pascale
Quando foi lançado o tema, fiquei dividido entre indicar o Gruntruck e o The Gits. Acabei optando pelo segundo por toda sua importância. O The Gits nunca se tornou uma banda de grandes proporções, mas tudo indicaria que isso aconteceria com eles em questão de pouco tempo. Na cena local, a banda já dava o que falar. A vocalista Mia Zapata acabou se tornando referência para diversas cantoras da cena. Infelizmente, tudo foi por água abaixo, no dia 7 de Julho de 1993 quando a cantora, aos seus 27 anos, foi estuprada e assassinada na volta de um bar em Seattle. Os músicos optaram por não seguir adiante. Era o fim do The Gits. A sonoridade do grupo era um punk rock direto, honesto e cheio de gás. Mia tinha bastante atitude. Quem assistiu o grupo ao vivo diz que a garota roubava a cena no palco. “Another Shot of Whiskey”, “Insecurities”, “It All Dies Anyway” e “Here´s To Your Fuck” estão entre minhas favoritas.
Diego: Não conhecia o The Gits e confesso que é difícil ficar isento, emocionalmente, depois de ler o que aconteceu com a vocalista da banda Mia Zapata (uma simples leitura na Wikipedia te traz todo o conteúdo, não sendo necessário eu contar a história aqui). Também é fato que, mais uma vez, a escolha foge um pouco da minha ideia original de citar bandas de rock alternativo já que o The Gits faz um direto e cru Punk Rock. Mas de qualquer forma Frenching the Bully tem um certo charme. Duração adequada (pouco mais de 30 minutos), boas melodias, instrumentais competentes, boas canções e uma vocalista acima da média. Em suma Frenching the Bully é um disco pra se ouvir, pelo menos uma vez, com calma e daí se julgar se ele entra na sua lista de favoritos. Eu confesso que vou ter que ouvir ele algumas outras vezes ainda, mas vou!
Fernando: O rock alternativo é um termo bastante abrangente. Tem bandas com influências diversas, dos grupo clássicos dos anos 70 até o punk oitentista, e esse último é a veia do The Gits. Punk rock até o osso. Mais uma vez não gostei e dificilmente ouvirei de novo.
Ulisses: Opa, punk rock com vocal feminino. Com exceção de "Another Shot of Whiskey", que é mais cadenciada, a banda se dá bem no filão de composições velozes, tendo como apoio a voz versátil de Mia Zapata, transitando entre o melódico e o visceral sem tropeçar. O álbum é célere em sua premissa e não faz muito esforço em ser variado e diferente, mas dá aquela injeção de adrenalina que muita gente busca no punk rock.
Alisson: O legado dessa banda ainda continua vivo no underground do punk contemporâneo, tanto pela força das apresentação ao vivo do grupo na época, quanto pela influência que a vocalista Mia Zapata teve em várias vocalistas dali em diante. Uma pena que a carreira do grupo foi tristemente interrompido pelo assassinado da vocalista. Mesmo o som não sendo pra mim, reconheço o poder que o disco tem em quem quer um bom registro punk.
Diogo: O punk rock do The Gits é bem intenso e ganha contornos peculiares graças aos vocais de Mia Zapata, que destacam a banda das demais e conduzem as canções. Não são os riffs, mas suas melodias vocais que constroem o cerne do tracklist. Se eu dissesse que morro de amores por essa sonoridade estaria mentindo, mas é um trabalho que parece ter um grande número de admiradores e esse fato é compreensível, pois não se trata de uma banda genérica. As faixas são executadas com precisão e vão direto ao ponto, sem enrolações desnecessárias. “Insecurities” e “Slaughter of the Bruce” são as músicas que mais chamaram minha atenção.
Mairon: Punk rock raiz, para se fechar uma roda e quebrar o pescoço. Várias faixas legais, em especial "Cut My Skin, It Makes Me Human", "Insecurities", "While You're Twisting, I'm Still Breathing" e "Kings and Queens", com seu jeitão Ramones de ser. Para a maioria das canções, se não fosse pelas letras em inglês, eu diria que era de uma banda paulista dos anos 80. Aliás, falando nas letras, a vocalista Mia Zapata canta super agradável para o punk. Há alguns pontos fora da curva ("Another Shot of Whiskey" e "It All Dies Anyway"), mas nada assombroso de ruim. No geral, curti bastante.

My Bloody Valentine – Loveless (1991)
Recomendado por Alisson Caetano
A capa do segundo registro de estúdio do My Bloody Valentine diz muito quanto ao que encontramos em termos de som. Parafraseando o que Anthony Fantano disse em sua análise para o disco: "Se a observarmos por tempo suficiente, ficará claro que se trata de uma guitarra. Porém, ela está coberta por uma camada de névoa rosa, ao ponto de obscurecer a guitarra". Essa ideia de distorcer e transformar uma ideia por efeito artístico ja é notável com poucos segundos de "Only Shallow", onde qualquer um pode dizer que é uma barulheira oca e desprovida de conteúdo, mas que no fundo, se atentando à música, podemos ver que se trata de uma música pop, de levada calma e vocais doces. Esse contraste entre o noise quase sufocante e o pop quase surreal traz um contraste único a cada uma das faixas. Não foram os primeiros a trazer esse conceito de justaposição de conceitos oposto para a música (O Velvet Underground já havia feito coisa bem parecida em White Light, White Heat), porém, o pioneirismo aqui está no efeito pretendido. A guitarra de Kevin Shields, protagonista indiscutível, cria texturas e camadas sonoras infinitas, ajuda de anos de pesquisa em estúdios de gravação, além de alguns milhares de libras investidos. O resultado é algo sublimemente contemplativo, feito para sentir os sons nos levando para pensamentos surreais e tranquilizantes. Claro que quase ninguém entendeu o conceito de cara. O disco custou uma fortuna e o retorno foi pouco próximo de nada. Apenas tempos depois que o legado do registro foi se fazendo visível, com obras claramente inspiradas apenas em Loveless (Billy Corgan chamou o engenheiro de som deste para trabalhar no Siamese Dreams, tamanho o fascínio pela obra).
Diego: O auge da pretensão 'hype', o auge orgasmático dos alternativos descolados de plantão, o que significa que Loveless é um disco oco e completamente perfeito para 'show off'. Passo!
Fernando: Sei que o My Bloody Valentine fez bastante sucesso junto daquele grupo de bandas que se convencionou a chamar de emo, mas não sabia que eram tão antigos. Algumas coisas meio ridículas dos adolescentes que curtiam esse som acabou estigmatizando as bandas e até limitando um eventual desenvolvimento das mesmas. Algumas melodias foram feitas para emocionar adolescentes, mas outras são bem sacadas, alguma coisa de Radiohead aqui e acolá. No todo não é ruim, mas para mim uma audição está de boa.
Ulisses: Exemplo de álbum que melhor define o estilo em que se encaixa. Loveless costuma ser descrito através de adjetivos como "onírico", "líquido" e similares, o que nada mais é do que uma tentativa de colocar em palavras sua inexplicável parede sonora, cheia de guitarras experimentais e distorcidas sufocando na produção nebulosa. Por baixo de todo o noise e da névoa rosa encontram-se canções acessíveis e emotivas. Por isso, as (muitas) pessoas que idolatram o álbum têm suas boas razões para isso - não é o meu caso, já que não consigo ter grande apreço pelas composições do álbum e nem por sua sonoridade e estética.
Davi: Muita gente considera esse disco um clássico do movimento, mas confesso que não mexe comigo. As guitarras possuem uma distorção razoável, as linhas vocais são melódicas, mas o modo que esses caras mixaram esse disco me incomoda muito. Parece que Kevin Shields sofria de uma síndrome Ritchie Blackmore e achou que somente ele deveria ser ouvido. Bateria lá atrás, baixo quase inaudível. O CD tem bastante experimentações. Em alguns momentos é bacana, mas depois de passados alguns minutos, dá uma saturada. Faixa preferida: “When You Sleep”.
Diogo: Loveless é o tipo de álbum que tinha tudo para me desagradar, mas isso não acontece. Sua estética propositalmente “torta”, canções barulhentas, o fato de ser muito superestimado... Só que se trata de um bom disco, um verdadeiro manifesto pelo direito de fazer música feia e “errada”, sem a preocupação de encaixar-se em convenções comerciais, apenas de botar para fora as ideias na forma de um fluxo que parece meio desorganizado, mas que se revela bastante meticuloso para os ouvidos mais atentos. Prestem atenção na faixa de encerramento, “Soon”, especialmente nas guitarras, e entendam o que quero dizer. Há um cuidado em construir atmosferas que se sobrepõe à estética noise de distorção e feedback, usando esses elementos a favor de um contexto amplo, no qual cascatas de arranjos fluem com invejável facilidade. Havia inclusive ficado surpreso que este álbum não fez parte da edição voltada a 1991 da série “Melhores de Todos os Tempos”, na nossa famosa “cota indie”.
Mairon: Outro álbum bastante conhecido por aqui, e que marcou época no início dos anos 90. O som do MBV é bastante viajante, com abuso de experimentações nos vocais e nas guitarras (trêmolos, samplers, entre outros), vide "Blown A Wish", "I Only Said", "Touched" e "What You Want" . Outro destaque é o vocal sussurrado de Bilinda Butcher, principalmente em "Only Shallow". Quem viveu os anos 90, certamente irá lembrar de "When You Sleep", canção que tocou muito por aqui.  Não há como não viajar em "Come in Alone" e "Soon", e claro, a delirante "To Here Knows When". Disco legal de ser ouvido, e uma produção que na época foi orçada em caríssimos 500 mil dólares, e que acabou levando o grupo a falência, já que mesmo sendo um marco no rock alternativo, não conseguiu emplacar nas vendas.

Marvelous 3 – Hey! Album (1998)
Recomendado por Diogo Bizotto
Senti-me em um beco sem saída quando fui confrontado com esse tema. Afinal de contas, rock alternativo e tudo aquilo que a ele é relacionado nunca foi meu forte. Felizmente acendeu-se uma luz ao lembrar-me do ótimo Marvelous 3, que praticava uma sonoridade poppy punk/pop rock com a cara dos anos 1990, mas com um pé fincado no power pop da década de 1970. Pensei inclusive que minha indicação poderia não ser aceita, mas eis-me aqui. Esse tipo de sonoridade dificilmente me agrada, mas o guitarrista e vocalista Butch Walker é um compositor tão bom que o resultado não poderia ser outro, uma série de canções viciantes cheias de ganchos melódicos, refrãos perfeitos e energia transbordando minuto a minuto, tudo orientado pelas linhas vocais de Butch. As baladas “Until You See” e “Let Me Go” são inegáveis destaques, muito superiores a quase tudo que foi sucesso radiofônico na época do lançamento. “Freak of the Week” então, é pura covardia. É chiclete? É sim, mas até hoje não perdeu o sabor. Também merece especial menção “Lemonade”, mais longa e ambiciosa, indicando o caminho que seria seguido no terceiro e último álbum, ReadySexGo (2000). Quem quiser pode conferir aqui minha discografia comentada do grupo.
Diego: Outra banda que eu não conhecia e que foi uma bela surpresa! Ok, o Marvelous 3 não é nenhuma grande banda, na verdade eles são bem medianos, com letras bem abaixo da média e com um som típico adolescente, mas, por algum motivo que nem mesmo eu conheço bem, eu sou atraído por esse tipo de som, especialmente se vindo dos anos 90. Assim como tantas outras bandas dos anos 90 como Fastball, Everclear, Bush, Better Than Ezra, etc o Marvelous 3 calca seu som numa pitada de punk, muito de rock alternativo e um pézinho no power pop pra fazer com que as melodias grudem como chiclete. Não vai mudar o mundo e com certeza não vai mudar a sua vida, mas é o tipo de disco que você bota pra rodar pra ter uma trilha bacaninha enquanto faxina a casa ou lava a louça. Pode ir que eu garanto que funciona!
Fernando: Como vocês pode estar percebendo, além da minha própria indicação não gostei de quase nada dessa lista, mas o Marvelous 3 até que arrancou alguma simpatia. Imaginei colocando esse som em um churrasco à beira de uma piscina e agradando todo mundo.
Ulisses: De longe o disco mais genérico da lista. Ao contrário de discos diferentões da lista, como o Loveless e o Cure for Pain, o Marvelous 3 joga seguro o tempo todo, com um som tipicamente power pop e pop punk com aquele jeitão de "frat boy" que só deve cativar os fanáticos pelo estilo.
Davi: Esse foi o que mais gostei da lista. Disco muito bacana mesmo. Pop rock de primeira qualidade. Ótimas composições, trabalho vocal muito interessante. Embora eles façam um som um pouco mais moderno, peguei bastante de Enuff Z´Nuff nos arranjos, grupo que eu adoro. Principalmente, nas linhas vocais. Certeza que se o Chip Z´Nuff ouvisse “Write it On Your Hand” ele iria querer gravar. “Freak Of The Week”, “Until I See”, “Indie Queen” e “Vampires In Love” se destacam.
Alisson: Pop punk composto por viciados em prozac. A felicidade bate tão forte no disco todo que beira o irritante.
Mairon: Das audições aqui recomendadas, achei esse o álbum mais fraquinho. Lembrou-me um pouco Offspring e Green Day, sem a grandiosidade dos mesmos. Parece que estava ouvindo uma trilha sonora da Malhação americana. Não é um disco ruim de todo, passa tranquilo em uma festinha de amigos para relembrar adolescência, apesar da xaroposa baladinha "Let Me Go". Honestamente, não consegui tirar nada de bom dele para destacar aqui. Me desculpe o consultor que o indicou.

Terminal Curve – Feeding Frenzy (1994)
Recomendado por Mairon Machado
Conheci esse grupo quando estive em Atenas, e um lojista local indicou-me uma coletânea chamada Act-UP como representativa de bandas gregas que tiveram destaque no país nos anos 90. O som é levado por guitarras carregadas de distorção, unindo hardcore com um pouco de grunge e muitos momentos para sair quebrando o pescoço. Logo de cara, a instrumental "Rise" já chama a atenção pelo equilíbrio entre baixo e guitarra, com boas melodias e o peso claro. O mesmo vale para "In Action",  e "Walking On The Beach". Quem curte rock anos 90 irá apreciar a sujeira de "Joy", "Penetrate", "Suicide" e "Worship". A gravação é meio tosca, soando muito próximo de um punk anos 80 em alguns momentos, mais precisamente na segunda metade do disco, como "Don't You Mess", "Suicidal Love", "Soul Drug" e "Terminal Curve".
Diego: Antes de entrar no mérito da música do disco em si, é bom dizer que a escolha fugiu (e muito) do tema que eu propus. O Terminal Curve faz um hardcore com nuances punk e um pézinho no funk metal tão em voga na primeira metade dos anos 90. De rock alternativo ele não tem nada. É bom frisar que o rock alternativo, apesar de ser um termo usado pra 30 trilhões de bandas, tinha sim um som característico e não é o caso desse disco! O interessante do disco é que ele foi gravado por uma banda grega e lançado em 1994. Pra quem assim como eu vai atrás de sons de lugares sem tradição no rock sabe que os gregos não tem tantos lançamentos fáceis de se encontrar por aí. Infelizmente esse fato também prejudica o disco já que a verão encontrada na web é de pouca qualidade e a qualidade da gravação em si é terrível com uma produção tosca e os timbres dos instrumentos são amadores pra dizer o mínimo. Em suma, parece aquele disco que a banda do seu primo rico gravou em 1994 e que só o fez porque era rico. Não digo que faltou talento para a banda, mas faltou um amadurecimento do som e uma melhor preparação pra gravação. Gravaram esse disco e sumiram.
Fernando: De início alguns acordem que me remeteram ao doom, depois a influência punk/hardcore que tomou conta, mas me surpreendeu algumas passagens quase na linha do metal oitentista. Porém também não me agradou como quase que a totalidade da lista. Acho que rock alternativo mais underground não é minha praia.
Ulisses: Uma boa surpresa nesta lista: banda grega com um som que puxa um pouco para o punk e o metal. Energia constante no decorrer do tracklist e faixas bem legais, como "Sacrifice" e "Worship". Seria melhor ainda com uma produção mais caprichada, que privilegiasse o peso e a velocidade do registro com maior clareza.
Davi: Banda que faz um hardcore pesadinho com vocais limpo e melódico, mesclado com algumas linhas quase raps. É uma espécie de Suicidal Tendencies subnutrido. Parece que eles não tomaram leite Ninho quando criança. A qualidade de gravação não é das melhores. Caixa da bateria com som de lata de tinta Suvinil, baixo quase não se ouve, som muito agudo. Nesse tipo de som, tem que se destacar o grave para dar mais peso. As composições são ok. Nenhuma abominável, mas nenhuma que você pense ‘cara, que som’. Um trabalho mediano que vale mais pela curiosidade.
Alisson: Mesmo ignorando o fato de isso ser mais um disco de hardcore punk do que um disco de rock alternativo, tudo não passa do genérico, ao ponto de não sobrar muito o que falar aqui.
Diogo: Achei o punk rock do Terminal Curve bem convencional, até pendendo para o lado mais heavy do que para o lado alternativo. Alguns riffs, inclusive, fariam bastante sentido em discos de thrash metal e crossover thrash da década de 1980. Nas mãos de Rocky George e Mike Clark (Suicidal Tendencies), é material que poderia render boas músicas. Na mão desses gregos, alterna entre o satisfatório e o decepcionante. A produção pobrinha também não ajuda, mas músicas como “Penetrate” e “Sacrifice” dão uma boa empolgada. Fica bem claro que o responsável por conduzir a banda é mesmo o guitarrista, pois é dele que brotam as melhores ideias e seus riffs conduzem as faixas. Ao vocalista, falta mais personalidade. Mesmo em um estilo agressivo e despojado como o punk rock, é possível colocar um pouco mais de alma e interpretação no seu trabalho.

terça-feira, 27 de março de 2018

Threesome - Keep On Naked [2017]



O Brasil, apesar de muita gente dizer que não, vem produzindo muitas bandas de qualidade. Mesmo em um mercado bastante restrito, onde é melhor enaltecer absurdos musicais como Pablo Vittar, ainda aparecem nomes capazes de fazer o ouvinte ter vontade de comprar um CD de rock.

O Threesome é uma banda que pode se encaixar nesse sentido. Formados em 2012 na cidade de Campinas, o quinteto conta na formação com Juh Leidl (vocal), Fred Leidl (guitarra, piano, vocal), Bruno Manfrinato (guitarra), Bob Rocha (baixo) e Henrique Matos (bateria), o grupo traz em seu release a influência do rock dos anos 60 e 70, com referências ao blues, jazz e indie. Ainda, destaca letras maliciosas, sobre relações humanas através de perspectivas das experiências sexuais, monogâmicas ou não.

O grupo lançou seu primeiro trabalho em 2014, Get Naked, contando com o vocalista Bruno Baptista. Porém, Bruno saiu, deixando os vocais para Juh, e assim, o Threesome seguiu carreira. Em 2017, lançou o EP Keep On Naked, que traz duas regravações para canções de Get Naked.

A primeira delas é "Sweet Anger", que abre o EP. Antigamente chamada de "Why Are You So Angry", aqui ela ficou mais intensa. Começa com um pesado riff da guitarra, e destaca-se pelo bom vocal de Juh. É uma faixa que irá agradar principalmente aqueles apreciadores do heavy metal do final dos anos 80, início dos 90, e com certeza, é a melhor faixa do EP. O trecho central, onde Juh canta sobre as viagens de guitarra, levando aos ótimo solos de Fred e Bruno, irá fazer você sair pulando pela casa.


Porém, o som muda bastante em "My Eyes", a única faixa nova da bolachinha. Os vocais de Fred, roucos e agressivos, não trazem a mesma agradável sensação dos vocais de Juh, e o próprio ritmo da faixa não é das mais agradáveis.

"ERW" é a antiga "Every Real Woman", que ficou bastante provocativa e sensual na voz de Juh. A introdução com as viradas de Henrique, o riffzão sujo e a pegada punk rock são estimulantes adicionais para a canção, complementada pela ótima linha vocal criada por Juh.

A captação, mixagem e masterização do EP ficou a cargo de Maurício Cajueiro, produtor que assinou trabalhos de Gene Simmons, Glenn Hughes, Stephen Stills, Steve Vai, entre outros gigantes da música mundial. Chama a atenção a capa de Keep On Naked, criada por Juh (que é artista plástica).


Entre mortos e feridos, o EP é aprovado com média. Acredito que o quinteto deve investir mais nos vocais de Juh, a qual parece ser uma promissora peça ao microfone. Além disso, o impacto das letras irá aumentar muito mais se cantadas em português. É estranho que a intenção da banda seja o de provocar, romper barreiras impostas pelo preconceito e por setores opressores da sociedade, tentando promover uma livre reflexão sobre o sexo, falando em inglês, exatamente para um país onde a maior parte da população tem dificuldades de interpretação na própria língua.

Gostaria realmente de ver as letras em português, e quem sabe, com mais uma azeitada na parte instrumental, não tenhamos aqui mais uma preciosas joia brasileira a ser garimpada por colecionadores e admiradores de música do mundo inteiro.

Track list

1. Sweet Anger
2. My Eyes
3. ERW

quarta-feira, 21 de março de 2018

Entrevista Exclusiva: Patrick Djivas e Franz DiCioccio (PFM)



Em parceria com o site Progshine, o Baú do Mairon traz hoje para vocês uma entrevista exclusiva com Patrick Djivas e Franz Di Cioccio, baixista e baterista, respectivamente, do grupo italiano Premiata Forneria Marconi (PFM). Os italianos estarão passando pelo Brasil no próximo mês de abril, com uma série de shows (São Paulo - 19; Porto Alegre - 20; Rio de Janeiro - 21; Belo Horizonte - 22).

Os membros fundadores de uma das mais tradicionais bandas de rock progressivo na década de 70 contam um pouco sobre o novo álbum, Emotional Tattoos, como serão os shows em nosso país, e claro, passeiam pela história marcante e cheia de sucesso de sua carreira. Confira abaixo as versões em português e inglês.



Versão Em Português

Antes de mais nada, obrigado por sua atenção. Esta será a segunda vez do PFM aqui no Brasil nessa década. Quais as lembranças que você tem da apresentação do grupo em nosso país em 2014, e o que você espera encontrar nas apresentações que irão ocorrer em quatro cidades?
Patrick (PA): Na verdade, estaé a terceira vez. Todos lembramos desses shows com muita alegria. Adoramos muito o público brasileiro por que no seu país, a música é um parceiro de vida insubstituível. Os brasileiros respondem a nossa música com entusiasmo e isto significa que o concerto é transformado, toda as vezes, em uma grande festa coletiva. Esperamos o entusiasmo que conhecemos muito bem.

Como será a divisão do repertório do show para essas apresentações tão especiais?
Franz (FZ): O set list está articulado com a execução de peças que cobrem todo o nosso repertório. Chamo elas de "janelas emocionais", e observamos todos nossos períodos históricos. Teremos peças do começo da banda, o período "inglês", o "americano", a temporada experimental do PFM na música clássica, e partes do novo álbum, Emotional Tattos. Teremos também momentos de livre improvisação, que tornam os concertos sempre diferentes.

Há a possibilidade dos shows no Brasil serem registrados para um posterior lançamento, seja em vídeo ou áudio?
PA: Não sabemos ainda. Nosso empresário está verificando a possibilidade dessa hipótese.

Recentemente, o PFM esteve apresentando ao vivo, na íntegra, álbuns consagrados da fase inicial da carreira do grupo, que inclusive foram lançados em CD. Como surgiu a ideia de recriar obras como Storia di Un Minuto, Per Um Amico, L’isola de Niente,  ...
FZ: Somos felizardos de ter uma audiência multi geracional. Tocamos muito ao redor do mundo, e nosso repertório é vasto. Por esta razão, sempre temos novos fãs que descobrem o PFM, se apaixonam por nossa música e buscam nossas gravações. Storia di Un Minuto, Per Um Amico e L'isola di Niente são discos importantes que fizeram a diferença na época de seus lançamentos. O segundo e o terceiro, na versão inglesa, atingiu um bom posicionamento nas paradas britâncias, e ficou nos 100 mais da Billboard americana. Foi a primeira vez que isso aconteceu para um grupo italiano não-inglês, com raízes mediterrâneas. Um grande alvo que abriu nossas portas em todos os países. Por esta razão, eles foram também relançados em novas versões. Il suono del Tempo é uma coleção que reapresenta em uma caixa nossos cinco primeiro discos. Gravamos eles no Japão em uma versão ao vivo, com os mesmos arranjos originais..

O álbum Emotional Tattos foi lançado em dois formatos: um com as canções em italiano e outro, no formato especial, com as canções em italiano e em inglês. Essa é uma tendência para os próximos lançamentos do grupo?
PA: Certamente. Recentemente, assinamos um contrato internacional com a InsideOut (selo Alemão mundial) e é natural que nosso público é diverso. A versão italiana, porém, não é lançada apenas para a Itália. Em nossas turnês percebemos que nos países da América Latina a versão italiana é mais admirada pelo fato da sonoridade próxima da língua nos idiomas da América Latina. O inglês por outro lado, é para o resto do mundo. Os temas das letras são compatíveis como inspiração entre as duas línguas, mas eles não são a tradução um do outro.



Como foi o processo de composição das canções do novo álbum?
FZ:  Eu e Patrick escrevemos tanto as letras quanto as músicas. Para as composições, nós trabalhamos bem e em grande harmonia. Patrick, além de ser um grande baixista, é um pesquisador de sons e seus arranjos são ricos em nuances que englobam cada estilo musical. Conhecemos um ao outro muito bem, e quando eu canto uma melodia ele já tem em mente como a canção irá surgir. Para as letras é um trabalho similar. Eu escrevo em italiano e ele em inglês, uma língua que ele conhece muito bem, junto do italiano e do francês.

De forma a promover Emotional Tattoos, os vídeo-clipes de “Le Lezione e sua versão em inglês foram lançados. Como foi o processo de criação dos mesmos, e por que a escolha dessa canção para um vídeo promocional? 
PA: Escolhemos ela por que é uma peça muito dinâmica, onde existe uma melodia, ritmo, experimentação de sons e um grande arranjo envolvido. A letra é uma reflexão do papel da vida, que é sempre o professor de nossas ações. Queríamos um vídeo irônico, que representa-se a banda como é dentro e fora dos palcos.



O disco todo tem vários momentos de admirável audição, mas em especial, curti muito  as faixas “Il Regno” e “Big Bang”. Em especial, com esta última canção, sou doutor em Física de Partículas, e estudei de alguma forma sobre o Big Bang. Você poderia falar um pouco sobre a história e o conceito dessa faixa?
FZ: Fico feliz que você curtiu essas duas canções por que elas estão entre as nossas preferidas. O conceito de "Big Band" é aplicado na vida como uma metáfora. Quando você decide mudar sua vida, um tipo de Big Bang emocional acontece. Tudo se despedaça e inicia-se sem esquemas, em completa liberdade.

Ao mesmo tempo, temos a faixa instrumental “Freedom Square”. Como foi o processo de criação da mesma, e o que é mais fácil: criar uma faixa totalmente instrumental ou inserir letras sobre uma melodia já criada?
PA: Somos músicos, e certamente é mais fácil criar peças instrumentais sem pensar numa letra. Nessa etapa a história já está na expressividade dos instrumentos e suas intervenções musicais. Imagine estar em um quadrado conversando com amigos cada um com seus instrumentos em mãos. Assim nasce uma jam session, na qual cada um dá a sua colaboração.



A arte da capa de Emotional Tattoos, por Stefano Bonora, traz um conceito interessante sobre “o novo mundo musical do PFM”. Explique quais os principais detalhes e características da mesma.
FZ: Quando escrevemos as canções percebemos que eram histórias que conduziam o ouvinte a expor um novo mundo do PFM, então a melhor forma era pegar uma nave espacial e trazer todo mundo para descobrir este Novo Mundo Musical, feito de imagens conhecidas e também novas imagens. O conceito é descobrir as emoções que temos com elas.

O vinil tem voltado com força nos últimos anos, inclusive com o PFM fazendo lançamentos nesse formato. Como vocês percebem esse retorno do vinil e quais as principais atribuições que o LP pode agregar para o fã?
PA: O vinil te leva a ouvir música com mais cuidado, devido ao manuseio e a atenção ao ouvir que são mais próximas a esfera emocional humana. A assim chamada "música líquida" não tem esse charme. O vinil faz você dedicar seu tempo.
FZ: E mais tempo para si mesmo significa assimilar melhor as emoções, e felicidadeem ouvir. É um gesto ritual, como preparar uma taça de chá. Nosso LP na Itália atingiu a primeira posição nas paradas italianas de LPs, e isto não acontecia há muito tempo. Amo vinil e penso que os fãs estão voltando a amá-los também.

Falando um pouco sobre alguns dos últimos lançamentos do grupo, como surgiu a ideia de criação do álbum instrumental Stati di immaginazione.
PA: A ideia foi de nossa empresária Iaia De Capitani. Ela nos conhece muito bem, e sabe que se existe uma boa ideia, PFM imediatamente irá trabalhar. Alugamos um teatro e em uma semana compomos a música inspirada pelos curtos filmes que ela havia editado.
FZ: Depois de tanto tempo de existência, havia a ausência de um disco instrumental, e esta foi uma oportunidade para falar com a música, sem ter a necessidade de cantar e escrever as letras. Um projeto que renovou nossa liberdade de expressão, sem condicionamento de gênero.



No álbum PFM In Classic From Mozart A Celebration, há uma bela homenagem a música clássica. Como surgiu a ideia desse projeto, bem como foi o processo de seleção das composições para esse show.
FZ: Outra ideia de Iaia que concordamos e preenchemos. Somos devedores dos ensinamentos advindos dos Mestres Clássicos. Portanto, pareceu legal fazer um projeto que reverte-se os papeis.
PA: Imaginamos uma jam session com Mozart, Prokofief e todos os outros músicos que gostamos. Arranjamos e misturamos nossos temas com os deles. Novas composições clássicas e elétricas estavam nascendo ao mesmo tempo.


A caixa Marconi Bakery, lançada ano passado, resgatou os álbuns Photos of Ghosts, L’isola di Niente e The World Became The World, mas principalmente, trouxe um CD bônus com muitas raridades. Dentre elas, uma versão para “21st Century Schizoid Man”, do King Crimson. Como foi a gravação dessa canção e que outras bandas serviram de influências para a formação inicial do PFM.
FZ: Eu diria que toda a boa música daquele período, e o King Crimson em particular. Esta canção foi uma homenagem dedicada à eles para nosso debut. Tínhamos mudado o nome de Quelli para PFM, e tocávamos covers bem executados para sermos reconhecidos com a nova formação. Greg Lake ouviu aquela fita anos depois e decidiu nos escrever para seu novo selo, Manticore.

Aqui no Brasil, o álbum I Quelli é reverenciado por diversos admiradores do progressivo, assim como é um item de colecionador de alto valor.  Conte-nos um pouco sobre o período no qual o I Quelli esteve na ativa, e como foi desenvolver o rock progressivo na Itália.
FZ: Seria uma longa conversa sobre o I Quelli porque devemos escarafunchar os anos 60. Ao menos é suficiente saber que as raízes foram boas, não era progressivo, mas haviam excelentes músicos, e isto então levou a transformação para PFM.

Quais as bandas de rock progressivo, ou da música em geral, que você conhece aqui do Brasil?
PA: Confesso que amo todo tipo de música, e não faço discriminação de gênero. Realmente amo a música brasileira e suas raízes.
FZ: Amo a música brasileira também, mas estou intrigado pelas bandas extremas, que reviram suas tradições e oferecem um material forte. Na área do rock, uma banda brasileira que conheço bem é o Sepultura, por sua frequência no Thrash Metal primitivo.


Hoje em dia, tornou-se tradição unir grandes nomes de um determinado estilo para apresentações exclusivas. Um exemplo marcante é o Big 4 do Thrash Metal, bem como o G3 de Vai, Satriani e Malmsteen. Aqui na Consultoria do Rock, temos uma seção chamada Notícias Fictícias que Gostaríamos que Fossem Reais, e com certeza, uma delas seria uma turnê por nosso pais unindo gigantes do prog italiano, como PFM, Le Orme, Locanda dele Fate, entre outros. Isso seria possível?
FZ: Não creio que isto seja possível. Uma coisa é colocar três ou mais solistas em um único palco, outra é colocar várias bandas em um mesmo concerto. O desejo dos fãs as vezes não reflete a realidade artística e as escolhas pessoais das bandas no cenário progressivo. O show de uma banda é o seu DNA, e isto varia muito de pessoa para pessoa e de banda para banda.

Apesar da recente saída do guitarrista Franco Mussida, vocês ainda mantém contato?
FZ – PA: Não temos contato. Cada um por si e Deus por todos.

Por favor, mande uma mensagem para vossos fãs no país. Estamos aguardando-os ansiosos, e obrigado por seu tempo e atenção.
FZ - PA: Iremos nos ver em poucos dias, e saibam que estamos ansiosos pelo público brasileiro. OBRIGADO!



English Version


In partnership with Progshine, Rock Consulting brings you an exclusive interview with Patrick Djivas and Franz Di Cioccio, bassist and drummer, respectively, of the Italian group Premiata Forneria Marconi (PFM). The Italians will be passing through Brazil next April, with a series of shows (São Paulo - 19, Porto Alegre - 20, Rio de Janeiro - 21, Belo Horizonte - 22).


The founding members of one of the most traditional bands of progressive rock in the 70's tell a bit about the new album, Emotional Tattoos, as will the shows in our country, and of course, stroll through the remarkable and successful history of his career. Check out the Portuguese and English versions below.



First of all, thanks for your attention. It will be the second time of PFM in Brazil at this decade. What memories do you have of the last shows of the group in our country (2014) and what do you expect for the shows that will take place in four cities next April?
Patrick In reality this is the third time. We all remember the shows with great joy. We like Brazilian audiences a lot because in your country music is an irreplaceable life partner. The Brazilians respond to our music with enthusiasm and this means that the concert is transformed every time into a large collective party. We expect the enthusiasm that we know very well

How will the set list be choosed for such special presentations?
Franz The set list is articulated with the execution of pieces that belong to all our repertoire. I call them emotional windows and overlook all our historical periods. There will be pieces from the beginning, the English period, the American one, the experimental season of PFM in Classic and part of the last album Emotional Tattoos. There will also be moments of improvisational freedom that makes the concert always different.

Is it possible that the shows in Brazil are being to be recorded for a later release, whether in video or audio?
PA This we do not know yet. Our management is verifying the possibility of this hypothesis

Recently, the PFM has been presenting the famous albums of the initial phase of the group's career, which were even released on CD. As the idea of re-creating works such as Storia di Un Minuto, Per Um Amico, L'isola de Niente, arise?
FZ We are fortunate to have a multi generational audience, we play a lot around the world and our repertoire is vast. For this reason we always have new fans who discover PFM, fall in love with our music and go looking for our records. Storia di Un Minuto, Per Um Amico, L'isola di Niente are important records that made the difference at the time of their release. The second and third in the English version entered the ranking in the UK and in the USA in the first 100 Billboard. It was the first time for an Italian non-English band with Mediterranean roots. A great goal that has opened our doors in all countries. For this reason they are also republished in new versions. Il suono del Tempo is a collection that re-presents in a box our first five records. We recorded them in Japan in live version with the original arrangements of the time.



The last album, Emotional Tattos, was released in two formats: one with songs in Italian and another in the special format, with songs in Italian and English. Is this a trend for the group's next releases?
PA Sure. We have recently signed an international contract with InsideOut (German / world label) and it is natural that our public is wide. The Italian version, however, is not designed only for Italy. In our tours we realized that in the Latin American countries the Italian version is more loved for a fact of sonority because our language is closer to the Latin American idioms. English instead is for the rest of the world. The themes of the lyrics are compatible as inspiration between the two languages, but they are not the translation of each other.

How was the songwriting process for the new album?
FZ Patrick and I have written both the music and the lyrics. For the compositions we worked very well and in great harmony. Patrick, besides being a great bassist, is a researcher of sounds and the arranged arrangements are rich in nuances that range in every musical style. We know each other very well and when I sing a melody he already has in mind how the song will come. For the lyrics it was a similar work. I wrote those Italians and he those in English, a language that knows very well besides Italian and French.



To promote Emotional Tattoos, the video of "Le Lezione" and its English version have been released. How was the process of creating them, and why the choice of that song for a promotional video?
PA We chose it because it is a very dynamic piece, where there is a melody, rhythm, sound experimentation and an arrangingly involved one. The lyric is a reflection on the role of life, which is always the first teacher of our actions. We wanted an ironic video that would represent the band as it is on and off the stage.

The whole album has several moments of admirable listening, but in particular, I really enjoyed the tracks "Il Regno" and "Big Bang". In particular, with this last song, I am a PhD in Particle Physics, and Physics Teacher as weel. I studied something about the Big Bang. Could you tell us a bit about the history and concept of this track?
FZ I'm glad you like these two songs because they are among our perferits. The concept of Big Bang applied in life as a metaphor. When you decide to change your life, a kind of emotional Big Bang happens; everything shatters and everything starts without schemes, all in freedom

We have also an instrumental track "Freedom Square". How was the process of creating this song, and what is easier: to create a fully instrumental track or insert lyrics on a melody already finished?
PA We are musicians and it is certainly easier to create instrumental pieces without thinking of a lyric. In this passage the story is already in the expressiveness of the instruments and in their musical interventions. Imagine being in a square talking to friends with their instruments in hand. Thus a jam session is born in which everyone gives his voice.



The cover art of Emotional Tattoos, by Stefano Bonora, brings an interesting concept about "the new musical world of PFM". Please, explain the main details and characteristics of it.
FZ When we wrote the songs we realized that they were stories that led the listener to expose a new world of PFM, so the best way was to take a spaceship and bring everyone to the discovery of this New Musical World, made of images that we know but also new images. The concept is to discover the emotions we have within us.

Vinyl has come back strongly in recent years, including with PFM making releases in that format. How do you see this return of the vinyl and what are the main attributions that the LP can add to the fans and groups?
PA Vinyl takes you to listen to music more carefully. because gestures and attention to listening return closer to the human emotional sphere. So-called liquid music does not have this charm. Vinyl takes you to dedicate time.
FZ And more time for oneself means better assimilation of emotions, and happiness in listening. It's a ritual gesture like making a cup of tea. Our LP in Italy went 1st in the LP ranking and this has not happened for a long time. I love vinyl and I think the public is coming back to love it too.

Talking about some of the group's latest releases, how the idea of creating the instrumental album Stati di immaginazione came about?
PA The idea was of our manager Iaia De Capitani. She knows us very well and knows that if there is a good idea, PFM immediately gets to work. We closed a theater and in a week we composed the music inspired by the short films that she had edited for us.
FZ After so many live we lacked an instrumental album and that was the opportunity to tell with the music, without having the need to sing and write lyrics. A project that renews our expressive freedom without gender conditioning.

In PFM In Classic From Mozart To Celebration, there is a beautiful tribute to classical music. As the idea of this project arose, as well as the process of selecting the compositions for this show.
FZ Another idea of Iaiah that we have married and fulfilled. We are all debtors of the teachings of the great Classical masters. So it seemed nice to do a project that reversed the roles.
PA We imagined doing a jam session with Mozart, Prokofief and all the other musicians we liked. So we arranged and mixed in our themes with theirs. New classical and electric compositions were born at the same time.

The Marconi Bakery box set, released last year, rescued the albums Photos of Ghosts, L'isola di Niente and The World Became The World, but mainly, brought a bonus CD with many rarities. Among them, a version for "21st Century Schizoid Man", of King Crimson. Tell us about the recording of this song and what were the other bands that served as influences for the initial formation of PFM.
FZ I would say all the good music of that period and the King Crimson in particular. That song was a tribute dedicated to them at the time of our debut. We had just changed the name from Quelli to PFM and we played well executed covers to make ourselves known in that new formation. That tape years later listened to Greg Lake and decided to write us for his new label Manticore.

Here in Brazil, the album I Quelli is revered by several admirers of progressive, just as it is a high value collector's item. Tell us a little bit about the period in which I Quelli was active, and what it was to develop progressive rock in Italy.
FZ It would be very long to talk about I Quelli because we should dig in the 60s. It is enough to know that the roots were good, they were not progressive but there were excellent musicians, as it then demonstrated the transformation into PFM

What progressive rock bands, or music in general, do you know from Brazil?
PA I state that I love all music and I never do gender discrimination. I really love Brazilian music and its roots.
FZ I love Brazilian music too, but I'm intrigued by extreme bands that overturn their traditions and offer strong material. In the rock area a Brazilian band I knew was I Sepultura for their frequentation of the thrash metal primitive.

Nowadays, it has become a tradition to combine great names from a particular style to unique presentations. An outstanding example is the Big 4 of Thrash Metal, as well as the G3 by Vai, Satriani and Malmsteen. Here at the Consultoria do Rock, we have a section called News that we would like to be Real, and certainly one of them would be a tour of our country joining giants of the Italian prog, like PFM, Le Orme, Locanda …, among others. Would it be possible?
FZ I do not think it is possible. One thing is to put together three or more soloists on one stage, one account is to put together several bands in the same concert. The desire of the fans often does not reflect the artistic reality and personal choices of the bands of the progressive scene. The show of a band is its DNA and this varies a lot from person to person from band to band.

Despite the recent departure of guitarist Franco Mussida, do you still have contact?
FZ – PA We have no contacts. Everyone for himself and God for everyone.

Please send a message to your fans in the country. We are looking forward to 
FZ - PA We'll see you and know that we can not wait to be brazilian for a few days.    OBRIGADO
thank you for your time and attention.

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