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domingo, 27 de abril de 2025

Cinco Discos Para Conhecer: Raphael Rabello

Em 27 de abril de 1995, há exatos 30 anos, o Brasil perdia um de seus maiores talentos, Raphael Rabello. A causa da morte foi arritmia cardíaca, seguida de parada respiratória aguda. Ele tinha apenas 32 anos (nasceu em 30 de outubro de 1962, em Petrópolis), e vivia o auge de sua carreira como violonista. Raphael foi responsável por inovar a arte do violão de 7 cordas no Brasil, a qual havia sido criada por nomes como Tute, Dino 7 Cordas ou Paulão 7 Cordas, e acabou influenciando uma leva de novos nomes, tais como Alessandro Penezze, Fernando Cesar, e principalmente, Yamandú Costa.

Aos 14 anos estreia em estúdio acompanhando nada mais nada menos que Turíbio Santos, no álbum Choros do Brasil, e em seu pouco tempo de vida, Raphael lançou uma série de álbuns fantásticos, além de participar de diversos outros discos e canções igualmente fantásticos, acompanhando nomes do calibre de Chico Buarque, Nara Leão, Radamés Gnatalli, Maria Bethânia, Dona Ivone Lara, Hermeto Pascoal, Paulinho da Viola, Clara Nunes, e por aí vai. Foi difícil selecionar apenas cinco discos, mas trago aqui aquelas que considero suas principais obras. 


Sete Cordas [1982]

A estreia oficial de Rafael é com ele se auto-batizando Rafael Sete Cordas, e claro, chocando o Brasil pela tamanha capacidade técnica advinda de um rapaz tão jovem. Com apenas 19 anos, Rafael se aventura na música nacional apresentando sua técnica ainda tímida, mas em evolução, mas fazendo estripulias com as gingadas canções de João Pernambuco "Interrogando" e "Sons de Carrilhões", trazendo uma brasilidade bem representativa para o choro nacional, mas com pitadas de virtuosismo ainda não ouvidas dentro desta cena musical. Por outro lado, o menino compôe "Sete Cordas", uma singela peça que tem toda a embrionidade do que Raphael viria a se tornar anos depois. Ao mesmo tempo, o guri brilha no violão clássico de Agustin Barrios em "Choro da Saudade" e no dificílimo "Estudo de Concerto", canção para poucos se aventurarem em tentar tocar sem se embananar com a velocidade empregada nas cordas, ou nas delicadas peças "Por Um Momento Antigo" e "Yeda", carregadas de sentimento através das cordas do violão. Quer ver o que Rafael era capaz de fazer tão jovem, tente acompanhar o complexo dedilhado de "O Vôo da Mosca" (Jacob do Bandolim). Ainda havia muito para evoluir, mas perto de tantos músicos, o jovem Rafael Sete Cordas já estava arregaçando aqui.

Raphael "Rafael 7 Cordas" Rabello (violão de 7 Cordas)

1. Sons De Carrilhões 

2. O Vôo Da Mosca

3. Vivo Sonhando

4. Choro Da Saudade

5. Garoto

6. Sete Cordas

7. Interrogando

8. Estudo De Concerto

9. Gracioso

10. Por Um Momento Antigo

11. Praça Sete

12. Yeda

À Flor Da Pele [1990]

Eu já conhecia Raphael Rabello, mas ao ouvir esse disco, meu mundo caiu. Aqui para mim é o auge da carreira do rapaz. Sozinho, ele conduz a doce voz de Ney por clássicos da música nacional. O rapaz passou a acompanhar Ney justamente no momento de transição do ex-Secos & Molhados, no ótimo álbum Pescador de Pérolas (1987), ao lado de grande banda. Mas foi como dupla que saiu um disco atemporal. Os arranjos para faixas de Ary Barroso ("No Rancho Fundo" e "Na Baixa do Sapateiro), Chico Buarque ("Retrato Em Branco E Preto") e Noel Rosa ("Três Apitos", "Último Desejo"), entre outros, transformaram totalmente grandes clássicos, dando uma dramaticidade/suavidade única para cada canção. Claro que as interpretações de Ney são um show a parte, vide "Caminhemos/Segredo", "As Rosas Não Falam" ou "Da Cor Do Pecado". Mas ouvir o que Rafael (como é grifado na capa) faz aqui é um daqueles momentos especiais da vida. Preste atenção no trêmolo de "No Rancho Fundo", no ritmo inebriante de "Vereda Tropical", ou simplesmente deixe o disco rodar e admire dois artistas inspiradíssimos. O grande sucesso ficou a cargo de "Balada do Louco" (Os Mutantes), a qual acabou virando um dos grandes marcos na carreira de Ney. As faixas de Cartola ("As Rosas Não Falam" e "Modinha") inspiraram o matogrossense a fazer outro álbum seminal anos depois (Interpreta Cartola). Aqui, temos uma das obras-primas da Música Popular Brasileira. Sem dúvidas, os dois criaram um disco sem igual.

Ney Matogrosso (vocais), Raphael Rabello (violão)

1. Modinha

2. Retrato Em Branco E Preto

3. Molambo

4. Da Cor Do Pecado

5. No Rancho Fundo

6. Último Desejo

7. Na Baixa Do Sapateiro

8. As Rosas Não Falam

9. Autonomia

10. Três Apitos

11. Caminhemos / Segredo

12. Negue

13. Vereda Tropical

14. Balada Do Louco


Raphael Rabello & Dino 7 Cordas [1991]

A união de dois gigantes em um único álbum é algo comum no mundo da música, mas unir Dino 7 Cordas e Raphael Rabello, dois gigantes do violão brasileiro, foi algo incrível. Afinal, Raphael sempre disse que sua maior influência era exatamente Dino. Recheado de belos sambas e chorinhos arranjados por ambos, a dupla manda ver. Em quatro faixas ("1 x 0", "Conversa de Botequim", "Graúna" e "Segura Ele"), a dupla é acompanhada por um trio de pandeiro, cavaquinho e percussão, mas são nas faixas onde somente os violões foram registrados que a música deste álbum se sobressai. Ouvir "1 x 0", de Pixinguinha, ou "Escovado", de Ernesto Nazareth, são pequenas amostras de como dois gigantes podem dialogar sem querer ser maior um que o outro. Destaques especiais para "Alma de Violinos", onde é nítido quanto Raphael era talentoso, e com uma sobreposição dos violões tendo um charme todo especial, a excêntrica e estonteante "Desvairada", na qual Raphael é responsável pelo solo impossível de ser reproduzido em tal velocidade por um ser humano normal, e o excepcional arranjo para "Sons de Carrilhões".  Raphael ainda nos presenteia tocando sozinho (e fazendo misérias) na complexa "Odeon", simplesmente destruindo - quando o trêmolo começa, puta merda, é de chorar. Todo o disco na verdade é uma grande arte para ser admirada. Como Sergio Cabral exalta no texto de apresentação, o disco que reúne os violonistas Dino e Raphael Rabello é um capítulo tão importante na história da fonografia brasileira que não tenho como considerá-lo histórico, do nível de uma hipotética união entre Noel Rosa e Chico Buarque. Discaço

Dino 7 Cordas (violão de 7 cordas), Raphael Rabello (violão)

Convidados: Jorginho do Pandeiro (pandeiro, faixas 1, 5, 8 e 10)

Neco do Cavaquinho (cavaquinho faixas 1, 5, 8 e 10)

Celso Silva (cacheta, tamborim, agogô e reco-reco faixas 1, 5, 8 e 10)

1. Conversa De Botequim

2. Jongo

3. Escovado

4. Alma De Violinos

5. "1 X 0" (Um A Zero)

6. Odeon

7. Sons De Carrilhões

8. Segura Ele

9. Desvairada

10. Graúna

11. Sonho De Magia


Todos Os Tons [1992]

Provavelmente o disco de maior sucesso na carreira de Raphael, aqui o violonista emprega todo seu talento e virtuosismo para recriar obras de Tom Jobim. Todas as faixas trazem a genialidade de Tom sendo colocada à prova pela genialidade de Raphael, que simplesmente faz clássicos do carioca renascer através de suas mãos. Assim, ele faz versões solo inovadoras para "Modinha", de chorar a cada nota extraída do violão, e "Luiza", empregando técnicas de harmônicos, arpejos e trêmolo como poucos, ou acompanhado com banda para "Passarim", "Garota de Ipanema", "Garoto", essa com o próprio Tom ao piano, duelando com o violão de Raphael, entre outros, sempre com um virtuosismo raro, mantendo as linhas melódicas dos vocais originais mas trazendo todo o seu único e exclusivo talento para essas obras de arte já atemporais desde suas concepções. Como não se emocionar ao ouvir o que é feito em "Retrato Em Branco E Preto", ainda mais com a presença do cello de Jaques Morelenbaum e do piano de Luiz Avelar, ou com a complexa sutileza de "Pois É", uma das letras mais doloridas de Tom, e que ganha ainda mais dramaticidade na recriação feita por Raphael, acompanhado pelo saxofone de Paulo Moura e o baixo de Nico Assumpção?. O grande destaque vai para o arranjo flamenco de Paco de Lucia para "Samba do Avião", que simplesmente desconstrói esse clássico de Tom, reconhecível pela melodia vocal feita pelos violões mas com uma base extremamente complexa, na qual os solos de Raphael e de Paco são arrepiantes. Mesmo que você não goste das músicas de Tom, ouça, pois é a história da Música Popular Brasileira sendo refeita através das mãos de Raphael. Que lindeza!

Raphael Rabello (violão de 7 cordas, violão)

Paco de Lucia (violão em 1)

Dininho (baixo de 5 cordas em 1, 2, 3 e 7)

Paulinho Braga (bateria em 1)

Mamão (bateria em 2, 3)

Marçalzinho (percussão em 1)

Luiz Avelar (piano em 4 e 7)

Jaques Morelenbaum (cello em 4)

Luizão Maia (baixo de 5 cordas em 6)

Wilson das Neves (bateria em 6 e 8)

Nico Assumpção (baixo de 6 cordas em 8 e 9)

Tom Jobim (piano em 8)

Leo Gandelman (Saxofone soprano em 8)

Paulo Moura (Saxofone Alto em 9)

1. Samba Do Avião

2. Samba De Uma Nota Só

3. Passarim

4. Retrato Em Branco E Preto

5. Modinha

6. Garota De Ipanema

7. Anos Dourados

8. Garoto

9. Pois É

10. Luiza


Bate Outra Vez [1992]

Este compilado especial da Som Livre em homenagem à Cartola trouxe para os fãs interpretações emocionantes de gigantes da MPB para sambas do famoso compositor carioca. Entre nomes como Gal Costa, Paulinho Da Viola e Nelson Gonçalves, Rafael (novamente grifado com F) surge acompanhando Beth Carvalho, Caetano Veloso, Cazuza e Luiz Melodia, em quatro canções excepcionais. Com Beth, Rafael manda o gingado de "O Sol Nascerá (A Sorrir)", faixa onde seu violão tem a destacada companhia de Cristóvão Bastos ao piano. Rildo Hora abrilhanta com sua harmônica a linda interpretação de Cazuza para "O Mundo É Um Moinho", na qual Rafael executa um dedilhado primoroso. Com Caetano e Luiz Melodia, Rafael surge sendo o responsável único por conduzir as vozes desses gigantes em "Acontece" e "Cordas de Aço" respectivamente. Na primeira, enquanto Caetano entrega seu estilo vocal para uma das melhores obras de Cartola, Rafael simplesmente derrama-se sobre o violão, em uma arte totalmente a parte e lindíssima, daquelas de parar o que está fazendo apenas para apreciar. Já em "Cordas de Aço", Rafael faz ao violão toda a homenagem que esta linda letra de Cartola exalta ao instrumento. Espetacular! Uma bela coletânea para se iniciar na arte de Cartola de um jeito diferente, e apreciar todo o talento não só de Rafael, mas dos músicos que participam aqui, listados abaixo. 

Raphael Rabello (violão em 6, 7, 8 e 11)

Cesar Camargo Mariano (piano em 1 e 5)

Cristóvão Bastos (piano em 3 e 6)

José Menezes (bandolim em 4, cavaquinho em 12)

Dino 7 Cordas (violão de 7 Cordas em 4, 10 e 12)

Milton Manhães (pandeiro em 4 e 12)

Paulo Moura (saxofone em 5 e 10)

Rildo Hora (gaita em 7)

Eduardo Souto Neto (piano em 9)

1. As Rosas Não Falam (Gal Costa)

2. Amor Proibido (Paulinho Da Viola E Elton Medeiros)

3. Disfarça E Chora (Leila Pinheiro)

4. Minha (Zeca Pagodinho)

5. Autonomia (Paulo Ricardo)

6. O Sol Nascerá (A Sorrir) (Beth Carvalho)

7. O Mundo É Um Moinho (Cazuza)

8. Acontece (Caetano Veloso)

9. Corra E Olhe O Céu (Vânia Bastos)

10. Peito Vazio (Nelson Gonçalves)

11. Cordas De Aço (Luiz Melodia)

12. Tive Sim (Dona Ivone Lara)

quarta-feira, 26 de junho de 2024

Cinco Discos Para Conhecer: As Parcerias de Gil


Gilberto Passos Gil Moreira, ou simplesmente Gilberto Gil, completa hoje 82 anos. Ministro da Cultura de Lula no período de 2003 a 2008, tendo inclusive sido responsável pela organização do gigante festival Viva Brasil Em Paris (2005), ao lado de Gal Costa, Daniela Mercury, Jorge Mautner entre outros, Gil é inegavelmente um dos maiores nomes da música nacional brasileira, e gostando ou não de suas canções, certamente você já ouviu ou reconhece clássicos de sua carreira logo na primeira audição. 

Um dos maiores arroz de festa da história, Gil tem em seu extenso currículo incontáveis projetos, participações especiais e shows ao lado de artistas do mundo inteiro. Essa lista de Cinco Discos Para Conhecer traz parcerias em duplas com cinco artistas renomados de nosso país, deixando espaço para os comentários trazerem outras sugestões de discos em duplas feitos por Gil, os quais eu admito que ficaram vários possíveis de fora. 


Gilberto Gil E Jorge Ben - Gil e Jorge Ogum, Xangô [1975]

Um dos discos mais experimentais da carreira tanto de Gil quanto de Jorge Ben. Aqui, o produtor André Midani largou os dois em um estúdio, acompanhados do baixista Wagner Dias e do percussionista Djalma Corrêa, para registrar e capturar a energia insana que a dupla já havia apresentado ao vivo no Phono 73 dois anos antes, e criar uma obra única. O clima é de improviso total, onde Gil (principalmente) e Jorge parecem se deliciar com as improvisações vocais e instrumentais. O álbum já abre com a inédita oração criada por Jorge Ben "Meu Glorioso São Cristóvão", com a dupla dividindo os vocais, mas certamente com Gil se destacando com suas vocalizações e falsetes, em uma das faixas mais curtas do álbum, "apenas" 8 minutos. Gil traz de seu baú as pérolas "Nega", cantada em inglês e com fortes influências de Bob Marley no estilo vocal, com mais de 10 minutos de duração, apenas com dois acordes ao longo de todo o improviso, a então inédita, e alucinante, "Jurubeba", com seus 12 complexos minutos de vocalizações e muita percussão, sendo algo muito interessante de se ouvir algo que praticamente foi criado ali, e a dupla "Essa É Pra Tocar No Rádio" e os insanos 13 minutos de "Filhos de Gandhi" (também inédita à época), com Gil sendo a principal atração na última, seja nos vocais seja no violão. Já dos arquivos de Jorge Ben brotam o gingado de "Quem Mandou (Pé Na Estrada)", sucesso com Wilson Simonal em 1973, o estonteante ritmo de "Morre O Burro, Fica O Homem", e principalmente os explosivos 15 minutos de"Taj Mahal", nos quais as experimentações vocais e o violão imparável da dupla, agora com apenas três acordes sendo mudados entre si, agitam as paredes da casa, sendo ambas as faixas de Ben (1972). Gil e Jorge interagem o tempo todo, vocal e instrumentalmente, tornando cada canção muito especial. É impressionante que a Phillips tenha tido culhões de lançar este disco duplo totalmente anti-comercial em 1975, mas não é impressionante o culto que o mesmo tem até hoje. Afinal, trata-se de uma das grandes obras da carreira de Gil, e por que não, da música nacional

Gilberto Gil (vocais, violões), Jorge Ben (vocais, violões), Djalma Corrêa (percussão), Wagner Dias (baixo)

1. Meu Glorioso São Cristovão

2. Nega

3. Jurubeba

4. Quem Mandou (Pé Na Estrada)

5. Taj Mahal

6. Morre O Burro, Fica O Homem

7. Essa É Pra Tocar No Rádio

8. Filhos De Gandhi

9. Sarro

Rita e Gil na turnê Refestança

Gilberto Gil e Rita Lee - Refestança [1977]

Gil e sua Refavela uniram forças com Rita Lee e a Tutti Frutti em uma turnê nacional durante outubro e novembro de 1977, registrada neste álbum que marca a primeira participação de Roberto “Zezé” de Carvalho em um disco da futura esposa Rita. O contexto da turnê surgiu um ano antes, quando a imagem da dupla ficou manchada por prisões porte de drogas (a de Gil inclusive sendo tratada com detalhes no documentario Os Doces Bárbaros). Os antigos parceiros de Tropicalismo criaram o projeto para poder reerguer suas carreiras. Cada um tinha seu espaço no show, e também apresentavam-se juntos. A Refavela traz toda a sua pimenta percussiva na inédita "Refestança", composição criada por Gil e Rita, abrilhanta a linda introdução de “Odara”, que havia acabado de ser lançada por Caetano no exclente Bicho (1977), e manda ver no peso em "É Proibido Fumar", de Erasmo e Roberto Carlos (até para ironizar o que aconteceu no anterior). O lado B do vinil é particularmente um show a parte de Gil, seja no gingado estilo Refazenda de “Eu Só Quero Um Xodó”, interpretando a inevitável “Ovelha Negra” da “comadre”, com grande tempero progressivo, ou comandando os vocais de Rita na clássica  "De Leve", versão abrasileirada de "Get Back", dos Beatles. Enquanto isso, a Tutti Frutti se apresenta junto de Gil e Rita dando bons ares roqueiros para “Back in Bahia”, “Giló”, ótima homenagem criada pela paulista para o baiano, e “Arrombou a Festa”, com uma divertida brincadeira de Gil e Rita na introdução, fazendo perguntas a plateia como se fossem repórteres. Destaque total para a arrebatante melhor canção do álbum, o resgate de “Domingo No Parque”, com Rita relembrando o Festival da Canção da TV Record de 1967, ao lado dos Mutantes, fazendo os backing vocals deste clássico que revelou o grupo para o Brasil, e aqui com um final apoteótico. Um ótimo disco inclusive em termos de qualidade na produção.

Gilberto Gil (guitarra, violão, vocais), Rita Lee (Vocais).

Refavela (Banda de Gilberto Gil)

Péricles Santana (guitarras), Moacir Albuquerque (baixo), Milciades Teixeira (Teclados), Carlos Alberto Chalegre (bateria), Lucia Turnbull (vocais de apoio), Willi (vocais de apoio), Djalma Corrêa (percussão)

Tutti Frutti (Banda de Rita Lee)

Luis Carlini (guitarras), Roberto de Carvalho (Guitarra, teclados, vocais), Lee Marcucci (baixo), Sergio Della Monica (bateria), Naila Scorpio (percussão)

1. Refestança

2. É Proibido Fumar

3. Odara

4. Domingo No Parque

5. Back In Bahia

6. Giló

7. Ovelha Negra

8. Eu Só Quero Um Xodó

9. De Leve (Get Back)

10. Arrombou A Festa

11. Refestança


Gilberto Gil e Milton Nascimento - Gil e Milton [2000]

Vários foram as parcerias de Gil nos anos 80 e 90, mas o salto para 2000 se deve justamente por este encontro gigantesco com o mineiro Milton Nascimento. Gil foi o responsável por apresentar Milton a Elis Regina, dando origem a uma série de grandes lançamentos da gaúcha qe revelaram o mineiro ao Brasil. Aqui, a dupla funciona super bem, mesclando seus estilos em uma peça única e exclusiva, e criando cinco novas faixas. Das cinco, para mim a melhor é a crítica ácida de "Sebastian", carro-chefe de Gil e Milton. Temos também "Trovoada", com seu ritmo nordestino no qual Gil canta a primeira parte da canção, deixando a segunda metade para Milton, acompanhado por uma interessante harmonia vocal, o rock cheio de críticas "Lar Hospitalar", em mais uma grande letra de Gil, e "Dinamarca",  com Milton ao piano e um espetacular arranjo por Wagner Tiso. Ok, esqueça a outra composição exclusiva de Gil e Milton para este disco, a caipira "Duas Sanfonas", com participação de  Sandy & Júnior, é muito fraca, concordo fortemente, assim como o baião "Baião Da Garoa" e o reggae destrutivo de "Something", que honestamente Gil, pra que você fez isso? Porém, é lindo ver Gil resgatando "Ponta De Areia (Theme)", pena que somente em vinheta, duelando com Milton na pérola "Canção Do Sal" (de Milton), ou emocionar junto do parceiro ao resgatar "Maria", de Luiz Peixoto e Ary Barroso, e principalmente "Dora", de Dorival Caymmin, com um esplêndido arranjo de cordas, e Bituca na sanfona. Já Milton traz toda a sua capacidade de interpretação para "Bom Dia" (de Gil e Nana Caymmi), acompanhado do Coro das Meninas do Colégio São José, fazendo um belo dueto vocal com Gil, e manda ver na reinterpretação de "Yo Vengo a Ofrecer Mi Corazón", de Fito Paez. "Xica Da Silva" (Jorge Ben) tem uma aura Santaniana para ninguém botar defeito, O disco rendeu uma boa repercussão de público e crítica quando da época do seu lançamento, além de uma extensa excursão que contou com apresentações, entre outras, no Rock in Rio III e no Festival de Montreux de 2001, e apesar de um pouco longo, vale a pena ser conhecido principalmente para quem curte a obra indiviudal de cada um dos artistas

Gilberto Gil (violão, guitarra, vocais), Milton Nascimento (vocais, violões, sanfona piano)

Sergio Chiavazzoli (guitarras), Wagner Tiso (teclados, piano), Arthur Maia (baixo), Alberto Contentino (baixo), Lincoln Cheib (bateria), Jorge Gomes (bateria), Naná Vasconcellos (berimbau)

Diversos outros músicos de estúdio

1. Sebastian 

2. Duas Sanfonas 

3. Ponta De Areia "Theme" 

4. Bom Dia

5. Trovoada

6. Something

7. Maria

8. Lar Hospitalar

9. Yo Vengo A Ofrecer Mi Corazón

10. Dora

11. Xica Da Silva

12. Canção Do Sal

13. Dinamarca

14. Palco "Theme"

15. Baião Da Garoa

Gil e Gal em Londres, 1971

Gilberto Gil e Gal Costa - Live In London Nov 25th 1971 [2014]

Gil e a musa da Tropicália possuem no mínimo 5 participações juntos (a saber: Tropicália Ou Panis Et Circensis - 68; Temporada de Verão - 74; Doces Bárbaros - 76; Trinca de Ases - 2018 e este aqui apresentado), além de Gil ter feito contribuições em álbuns da "Gaúcha" (como Gil apelidou Gal) como Gal Costa (1969), Gal (1969) e Cantar (1974). Este álbum é especialíssimo. O show no Student Centre da City University de Londres foi para alguns amigos e curiosos, e chegou ao mundo somente 40 anos depois. É um petardo para colocar o ouvinte na lona, em um clima que o próprio Gil define como "informal". Tudo começa calminho com "Coração Vagabundo", clássico da obra de Caetano gravada na estreia de Gal (junto de um ainda Caetano Velloso) Domingo (1967). Depois, o show desbanca para muitas improvisações e insanidades vocais / instrumentais, como já mostra a paulada "Sai do Sereno". Gil está super-feliz, conversando em inglês com a plateia, dando risadas em diversas vezes, vide a introdução de "Aquele Abraço" (dedicada a Dorival caymmi, João Gilberto e Caetano Veloso), e um espetáculo à parte com o seu violão, seja em "Oriente", "One O'Clock Last Morning, 10th April, 1970" ou "Como Dois E Dois", instrumento que Gal também se sai modestamente bem. Acompanhados de Tutty Moreno (percussão) e Bruce Henry (baixo), os baianos mandam ver em um show dividido em duas partes. A primeira tem Gal como atração central, levando a pequena plateia versões explosivas e recheadas de improvisos para "Chuva, Suor E Cerveja", "Vapor Barato" e o festivo Medley com "Maria Bethânia / Bota A Mão Nas Cadeiras". Ela está cantando como nunca aqui, deliciosamente sensual em "Falsa Baiana", "Dê Um Rolê" como só ela sabia ser (o que é ela se derrentendo por diversas vezes na frase "eu sou amor da cabeça aos pés"?) e o ápice do show de Gal,  "Acauã", onde ela explora sua voz de forma como você nunca irá encontrar em algum outro momento de sua carreira. A de se lamentar que por vezes, os vagidos vocais de Gil acabam diminuindo o clima que Gal traz sozinha. A segunda parte tem Gil enlouquecido, e é aqui que o bicho realmente pega. Giló está endiabrado em faixas longas e repletas de improvisos, tocando seu violão com uma agilidade ímpar, e claro, com muitas vocalizações maluquíssimas. Destacam-se os 8 minutos de "Expresso 2222" e "Procissão", os mais de 10 minutos de "Brand New Dream" e "Viramundo", essa com um longo solo de vocalizações e muita percussão, e os quase 12 minutos de muita insanidade em "Aquele Abraço", dando indícios do que viria a aparecer posteriormente no já citado Ogum, Xangô. Há espaço para as recriação abaianada de "Up From The Skies" (Jimi Hendrix) e a desconstrução de "Sgt. Pepper's Lonely Hearts Club Band" (The Beatles). Vocais por vezes estourados, microfonia pegando, erros, um show legititamente ao vivo, e um registro único na carreira de ambos.

Gilberto Gil (vocais, violões), Gilberto Gil (vocais, violões), Bruce Henry (baixo), Tutty Moreno (bateria)

1. Coração Vagabundo

2. Sai Do Sereno

3. Vapor Barato

4. Como Dois E Dois

5. Dê Um Rolê

6. Medley: Maria Bethânia / Bota A Mão Nas Cadeiras

7. Chuva, Suor E Cerveja

8. Falsa Baiana

9. Acauã

10. Procissão

11. Brand New Dream

12. Expresso 2222

13. Aquele Abraço

14. Sgt. Pepper's Lonely Hearts Club Band

15. One O'clock Last Morning, 20th April, 1970

16. Oriente

17. Up From The Skies

Gilberto Gil e Caetano Veloso - Dois Amigos, Um Século de Música / Multishow Ao Vivo [2015]

Caetano é sem dúvidas o maior parceiro musical de Gil. Ao lado do conterrâneo, são nada mais nada menos do que 8 lançamentos juntos e/ou com outros artistas (a saber, além deste aqui apresentado: Tropicália ou Panis Et Circensis - 68; Barra 69 - 72; Temporada de Verão - 74; Doces Bárbaros - 76; Brasil - 81; Tropicália 2 - 93; Especial - 2012), fora diversas apresentações e participações exclusivas em álbuns deles e/ou de outros artistas. Com mais de 50 anos de parceria, o clima é de desontração, como que se divertindo em plena sala. Assim, percebemos como essa parceria é afiada, seja nos acordes precisos dos violões (como Gil toca bem, barbaridade) ou nas harmonias vocais de "Andar com Fé", "Back in Bahia", "Eu Vim da Bahia", "É Luxo Só", "Nine Out of Ten" e "Nossa Gente (Avisa Lá)". É muito interessante Gil dando voz para clássicos de Caetano como "Coração Vagabundo", fazendo passagens sutis de violão em "Terra", ou batucando o violão durante "Sampa". Ao mesmo tempo, é um deslumbre ver eles resgatarem pérolas do repertório de Gil do porte de "Esotérico", "Filhos de Gandhi", "Marginália II", "Super Homem (A Canção)" e principalmente "Domingo no Parque". Como não curtir Gil brincando com a plateia em "Toda Menina Baiana", soturnamente batucar o violão cantando a tensa 'Não Tenho Medo da Morte" ou destruindo as mãos no violão da veloz "Expresso 2222",  além de emocionar cantando sozinho "Drão", de forma arrepiante. A dupla ainda traz sua primeira composição juntos, "É de Manhã", resgatam d'Os Doces Bárbaros "São João, Xangó Menino", fazem uma versão muito fiel ao original para a bela "Desde Que O Samba É Sama" (de Tropicália II), e criam o samba "As Camélias do Quilombo do Leblon" especialmente para este show, e fazem uma versão muito bela para "Come Prima". Falando em línguas estrangeiras, o que Gil faz em "Tres Palabras" é inexplicável! O mais interessante é que não há longos trechos onde os músicos aprensentam-se individualmente. Ambos dividem o espaço democraticamente, tornando o show uma peça realmente dos dois. Escolhi justamente o último lançamento da dupla principalmente por ser uma apresentação fenomenal desses gênios, apenas com violões, resgatando obras primas de seus vastos catálogos de criações, totalizando 28 (!) canções. 

Gilberto Gil (vocais, violões), Caetano Veloso (vocais, violões)

1. Back In Bahia

2. Coração Vagabundo

3. Tropicália

4. Marginália II

5. É Luxo Só

6. De Manhã

7. As Camélias Do Quilombo Do Leblon

8. Sampa

9. Terra

10. Nine Out Of Ten

11. Odeio

12. Tonada De Luna Llena

13. Eu Vim Da Bahia

14. Super Homem (A Canção)

15. Come Prima

16. Esotérico

17. Tres Palabras

18. Drão

19. Não Tenho Medo Da Morte

20. Expresso 2222

21. Toda Menina Baiana

22. São João, Xangó Menino

23. Nossa Gente (Avisa Lá)

24. Andar Com Fé

25. Filhos De Gandhi

26. Desde Que O Samba É Samba

27. Domingo No Parque

28. A Luz De Tieta

quarta-feira, 3 de abril de 2024

Cinco Discos Para Conhecer: Manito

Antonio Rosa Sanches nasceu no dia 3 de abril de 1943 em Vigo, Ponte Vedra (Galícia), Espanha. Manito faleceu em 9 de setembro de 2011, em casa, na capital paulista, vítima de um câncer na laringe, contra o qual lutava desde 2006. O corpo está enterrado no Cemitério Horto Florestal, na Zona Norte de São Paulo.

Desde pequeno, revelou inclinação para a música, tocando diversos instrumentos. Vindo ao Brasil, em  1962 formou o The Clevers, onde era saxofonista, ao lado de Netinho (bateria), Mingo (guitarra-base), Risonho (guitarra-solo) e Nenê (baixo). Na sequência, a banda mudou o nome para Os Incríveis, começando então uma carreira fantástica e emblemática em terras brasilis. Com participação em diversos álbuns, é difícil selecionar apenas cinco obras que representem a categoria e o talento de um multi-instrumentista. Mas, dentre tantas opções, tentei selecionar aqui aqueles que julgo constiuirem ser suas obras mais relevantes. 

Os Incríveis - Para os Jovens que Amam os Beatles, Rolling Stones e... Os Incríveis [1967]

Os Incríveis possuem uma obra fantástica, concretada sobre versões para canções de artistas internacionais. Nesse álbum, terceiro da banda, podemos conferir toda a diversidade de estilos e instrumentos de Manito em estado bruto. Ele é o centro das atenções no saxofone nas instrumentais "Minha Oração (My Prayer)", "Não Resta Nem Ilusão" (bonito arranjo vocal nesta), "O Homem do Braço de Ouro (Delilah Jones)" e "You Know What I Want", todas ótimos rocks anos 50/60, e é o cerne ao órgão farfisa durante a balada rock "Nosso Trato (Se Giá D'Un Altro)", além de bases para diversas outras canções, como a bonita "Perdi Você" e a clássica "O Milionário (The Milionaire)", ambas instrumentais e principais canções da carreira do guitarrista Risonho. Mas a escolha de Para os Jovens que Amam os Beatles, Rolling Stones e... Os Incríveis estar aqui é "Czardas". O trabalho virtuoso de Manito no órgão nessa linda canção de Vittorio Monti é extremamente complexo, valendo cada segundo de audição, seja pela introdução singela, com longas notas, seja pela peça central, onde os dedos de Manito sobem e descem o órgão com uma agilidade e velocidades únicas. Linda faixa, e uma obra atemporal!

Mingo (voz e guitarra), Risonho (guitarra), Manito (teclados, vocal e saxofone), Netinho (bateria), Nenê (baixo)

1. Minha Oração  

2. Vai, Meu Bem  

3. Nosso Trato

4. Era Um Garoto Que Como Eu Amava os Beatles e os Rolling Stones

5. O Homem do Braço de Ouro

6. O Milionário

7. Molambo

8. You Know What I Want

9. Czardas

10. Perdi Você

11. Nosso Abraço aos Beatles e Rolling Stones

12. Não Resta Nem Ilusão

Manito - O Incrível Manito [1970]

Estreia solo do músico (que curiosamente só lançou dois discos em carreira solo), aqui ele faz adaptações com muito groove para um repertório bastante versátil. É um grande disco de soul music e rock'n'roll, que se circulasse entre o pessoal dos Panteras Negras, com certeza teria fácil aceitação. Assim, admire "Na Baixa do Sapateiro" (Ary Barroso), com o baixão delirante e muito groove, destacando o vozeirão rouco de Dom (da dupla Dom & Ravel), cantando em inglês (que swing), único single da bolacha, e também os rockaços com as vozes do grupo Som Beat, Carlinhos e Haroldo, em  "Shake, Rattle & Roll" e "Judge Baby, I'm Back" (Carlinhos) e "The Funky Judge" (Haroldo). Mas é no instrumental que o bicho pega, vide a excepcional versão de "Kool and the Gang", ou o espetáculo sonoro de "The Gangs Back Again" e "Sock It to 'Em J. B.", ambas com Manito mandando ver no solo de saxofone. Queria muito descobrir quem é o baixista neste disco, infelizmente não consta nos créditos da contra-capa. O cara toca demais, e não creio que seja Manito. O piano e o órgão são os instrumentos centrais de "Tuck's Theme" e "Samuray", e claro, Manito está tocando muito em todas elas. Destoam somente a Santaniana "Bailamos Boogaloo", que não é uma faixa ruim, mas é bem abaixo das demais, e a baladaça "Raindrops Keep Fallin' On My Head", com Manito brilhando ao saxofone e uma bela orquestração a cargo de Chiquinho de Moraes. Um disco que deveria ser mais conhecido e citado entre as grandes obras da música nacional.

1. Na Baixa Do Sapateiro

2. Shake, Rattle & Roll

3. Kool And The Gang

4. The Funky Judge

5. Bailamos Boogaloo

6. Sock It To 'Em J.B.

7. Samuray

8. Judge Baby, I'm Back

9. Tuck's Theme

10. Raindrops Keep Fallin' On My Head

11. The Gangs Back Again

12. You've Made Me So Very Happy

Som Nosso De Cada Dia - Snegs [1974]

Antes de gravar esse álbum, Manito fez brevemente parte dos Mutantes de Sérgio Dias, substituindo nada mais nada menos que Arnaldo Baptista. Os dias como mutante foram poucos, e logo ele retomou uma parceria com Pedrão Baldanza e Pedrinho Batera, gravando talvez o disco mais versátil da sua carreira, e também o mais cultuado dentre os aqui apresentados. Snegs é uma aula de rock progressivo a ser descoberta pelo mundo. Em especial, nosso homenageado está endiabrado nos mais diversos instrumentos, vide o ápice com os solos de moog, sintetizadores e violino da Maravilha Prog "Sinal da Paranóia", sendo que o solo de violino é para abrir um sorriso de ponta a ponta na face de Jean Luc-Ponty. Ao longo dos 45 minutos do álbum, Manito desfila sua arte principalmente nos teclados, mas também chama a atenção o casamento vocal perfeito com o de Pedrão em faixas como as delicadas "Snegs de Biufrais" e "Direccion de Aquarius". Destaco ainda o experimentalismo de sintetizadores, moog e hammond na complexa seção instrumental de "Massavilha", onde Manito é um espetáculo a parte, a participação essencial do moog e do hammond em "Bicho do Mato", e principalmente "O Som Nosso De Cada Dia", com uma fantástica introdução levada pelos ágeis dedos de Manito, assim como um belo solo de saxofone e bases viajantes de hammond, o que acontece também na introdução e nas bases emotivas ao hammond para "A Outra Face", com mais um grande solo de hammond e também de saxofone. Um dos melhores discos do rock nacional, e para mim, a obra prima de Manito. 

Manito (saxofone, teclados, violino), Pedrão (viola, baixo e vocal), Pedrinho (bateria e vocal) e Marcinha (coro)

1. Sinal da Paranóia

2. Bicho do Mato

3. O Som Nosso de Cada Dia

4. Snegs de Biufrais

5. Massavilha

6. Direccion de Aquarius

7. A Outra Face

Zé Ramalho - Força Verde [1982]

Depois de sair do Som Nosso de Cada Dia, Manito fez registros junto com Rita Lee e a Tutti Frutti (Fruto Proibido e Babilônia) e se afastou da música durante um tempo, até ser redescoberto por Zé Ramalho em 1982, neste discaço. Apesar de não participar de todas as músicas, Manito faz o trabalho crucial de Midas naquelas onde ela toca. Assim, o cara vem com seus dois principais instrumentos, saxofone e órgão, em apenas três faixas, o suficiente para colocar este álbum aqui. Com o saxofone barítono, faz importantes inserções e um emocionante solo na polêmica faixa-título (veja por que aqui), da qual destaco também o belíssimo arranjo de cordas, assim como as bonitas passagens do alto-saxofone durante "Visões de Zé Limeira Sobre O Final Do Século XX". Porém, o ápice vai para o incrível solo de hammond de "Eternas Ondas", relembrando a virtuosidade de "Czardas" acompanhando um magistral arranjo vocal (que inclui, entre outras, a voz brilhante de Jane Duboc), e que faz desta canção facilmente um Top 3 de toda a obra de Manito. Com o bardo paraibano, ainda gravou Orquídea Negra (1982) e Por Aquelas Que Foram Bem Amadas Ou Pra Não Dizer Que Não Falei De Rock (1984), mas sem ter o status que atingiu em Força Verde, um dos melhores discos do paraibano (se não o melhor). 

Zé Ramalho  (violão, voz, arranjos); Luiz Paulo Simas (Órgão em 3, 8, piano em 1, 2, 4, 5, 6, 9); Chico Julien (baixo); Rui Motta (bateria); Herman Tôrres (viola de 12 cordas em 1, 3, 4, 5, 6, 7, 8, 9), Manassés (viola de 12 cordas em 1, 3, 4, 5, 6, 7, 8, 9)

Coral Do Joab (Backing Vocals em 2 e 7)
Cordas em 1, 5, 7, 9: 

   Cello – Alceu de Almeida Reis; Jaques Morelenbaum; Marcio Mallard 

    Viola – Arlindo Penteado; Frederick Stephany; Hindemburgo Pereira; Nelson Macedo Baptista

    Violinos – Aizik Geller; Alfredo Vidal; André Charles Guetta; Carlos Eduardo Hack; Paschoal Perrota; Giancarlo Pareschi; Jorge Faini; José Alves; José Dias de Lana; João Daltro; Virgílio Arraes;  Walter Hack

Marinês (vocal principal em 5)

Claudinha Telles; Jane Duboc; Miram Perachi (Coral em 1, 4, 6)

Sivuca (Sanfona em 3, 5, 8, 9)

Ubiratan Silva (Congas em 5, 6)

Waldemar Falcão (Flauta em 3, 4, 5, 6, 8)

Ubiratan Silva (Ganzá em 2, 3, 7);  

Zé Gomes (Pandeiro em 3 e 6, Ganzá em 1)

Cícero (Percussão em 3, Zambumba em 5 e 6)

Aurélio (Saxofone em 3, 6)

Zé Nogueira (Saxofone em 3, 6)

Zé Leal (triângulo em 3, 5, 6, 9)

Moisés (trombone em 3, 6)

Bidinho (trompete em 3)

Marcio Montarroyos (trompete em 3)

Rafael Baptista (violão de 7 cordas em 10)

Geraldo Azevedo (violão em 10)

Braz Limongi (Oboé em 7)

Celso Porta (flauta em 9)

Franklin (flauta em 9)

Paulo Guimarães (flauta em 9) 

Ricardo Pontes (flauta em 9)

Bruno (Fagote em 10)

1. Força Verde

2. Eternas Ondas

3. O Monte Olímpia

4. Visões De Zé Limeira Sobre O Final Do Século XX

5. Banquete De Signos

6. Pepitas De Fogo

7. Beira-Mar - Capítulo II

8. Os Segredos De Sumé

9. Amálgama

10. Cristais Do Tempo

Camisa de Vênus - Duplo Sentido [1987]

O disco de (então) despedida do Camisa de Vênus conta com a mão de Manito em diversas faixas. Em especial, ele surge em um estilo totalmente diferente do que acostumamos antes no punkzaço "Após Calipso", onde usa saxofone, fazendo um solo quase free jazz, flauta, com dois solos bem virtuosos, e violino, com um breve e violento solo final, mostrando que um cara que tem talento consegue colocar instrumentos de sopro e cordas até no punk. Ao mesmo tempo, Manito usa o saxofone no solo de encerramento do rock "Chamam Isso Rock And Roll", no solo da introdução e central do bluezão "Me Dê Uma Chance", importantes passagens no clássico "Muita Estrela, Pouca Constelação", com a eterna participação de Raul Seixas, que acabou alavancando bastante o álbum, no solo/dueto com a guitarra do Post-Punk "O Suicídio Parte II", outro estilo bem "estranho" ao que conhecemos na carreira de Manito, e órgão hammond em "A Canção Do Martelo (Hammer Song)", faixa de Alex Harvey e sua Sensational Alex Harvey Band, ícone da Glam Rock, e que aqui ganha tons dramáticos. Enra justamente pelos estilos inusitados aos quais Manito está incubido de tocar, e o faz com maestria. 

Marcelo Nova (vocais), Gustavo Mullen (guitarras), Karl Hummel (guitarras), Aldo Machado (bateria), Robério Santana (baixo)

Vera Natureza, Maria Aparecida de Souza (Cidinha), Rita Kfouri e Nadir: vocais de apoio

Manito: Saxofone, Hammond, flauta e violino

Sérgio Kaffa (piano)

Chiquinho Brandão (serrote)

Luiz Carlos Batera (percussão)

Mica Griecco (harmônica)

1. Lobo Espiatório

2. O País Do Futuro

3. Ana Beatriz Jackson

4. Vôo 985

5. Após Calipso

6. Me Dê Uma Chance

7. Deusa Da Minha Cama

8. Chamam Isso Rock And Roll

9. Muita Estrela, Pouca Constelação

10. O Último Tango

11. O Suicídio Parte II

12. Chuva Inflamável

13. Enigma

14. Farinha Do Desprezo

15. A Canção Do Martelo

16. Aluga-se

17. Canalha

* Bônus Track: Como um bônus, fica também esse inacreditável duelo percussivo de Manito e Netinho, gravado para um especial da TV Cultura de 1972.




sexta-feira, 15 de março de 2024

Cinco Discos Para Conhecer: Engodos Sob Alcunha Tim Maia


No dia 8 de março de 1998, enquanto gravava um show para a televisão no Teatro Municipal de Niterói, Sebastião Rodrigues Maia, ou simplesmente Tim Maia, acabou passando mal logo no início da apresentação. O síndico saiu carregado do palco, e foi diretamente internado no Hospital Universitário Antônio Pedro, com crise hipertensiva e edema pulmonar. Tim já vinha sofrendo com problemas de saúde, que não impediram ele de no ano anterior, lançar nada mais nada menos do que cinco álbuns pelo seu selo Vitória Régia: Amigo do Rei (com o grupo Os Cariocas), What A Wonderful World, Oldies But Goodies, Pro Meu Grande Amor, Só Você – Para Ouvir E Dançar e Sorriso de Criança

Uma semana depois, sofrendo de uma grave infecção, acabou falecendo aos 55 anos por falência múltipla de órgãos, deixando o Brasil inteiro em comoção e com uma saudades tão grande quanto seu enorme talento. Muitos discos póstumos surgiram no mercado, e hoje, apresento cinco deles, os quais foram lançados como sendo compostos de faixas inéditas de Tim, mas que para um fã do artista, soam como um engodo gigante, que serve apenas para gerar uns níqueis a mais às custas de ter a alcunha Tim Maia. Mas, se alguém gostar dos discos abaixo e achar que não está sendo enganado, parabéns! 

Seus últimos registros foram feitos nos Estúdios Vitória Régia, ainda em 1997, com um projeto audacioso no qual Tim foi convidado a gravar os hinos dos quatro grandes clubes de futebol do Rio de Janeiro (Botafogo, Flamengo, Fluminense e Vasco). A ideia surgiu após o músico eternizar sua rouca voz para o hino do América do Rio de Janeiro no CD Os Hinos dos Grandes Clubes Brasileiros Cantados Por Feras Do Rock E Da MPB, lançado junto da Revista Placar n° 1114 de 1996, apresentando o Ameriquinha, um clube tradicional carioca, mas não um dos grandes do Brasil, para uma geração inteira de seguidores de Tim e amantes do futebol. Naquele CD, ainda há nomes diversos como Ultraje a Rigor (São Paulo), Herbert Vianna e Falcão do Rappa (Flamengo), Kleiton e Kledir (Internacional), Paulo Miklos (Santos), Luis Melodia, Fernanda Abreu e Celso Blues Boy (Vasco) entre outros. 

A última imagem de Tim em vida

Tim havia começado o projeto, registrando sua voz para os hinos de Flamengo, Fluminense e Vasco, quando veio a falecer (ficando o do Botafogo sem a oportunidade de ter a aveludada voz do Síndico), e eis que então, através do produtor Claudio Mazza, o projeto seguiu adiante. Trazendo então a propaganda de "O Último Registro de Tim Maia", no início dos anos 2000 saíram  três CDs, cada um para um dos grandes times que Tim havia gravado os hinos, e que são verdadeiro caça-níqueis em cima do nome Tim Maia. E os três estão fortemente inseridos aqui, nesta indicação que serve para conhecer não no sentido de "ouça", mas sim de saber do que que se trata. Pela ordem de lançamentos, vamos a eles

Dance Com O Hino do Seu Clube: Hino Flamengo [2000]

Este foi o primeiro lançamento da Mazza Music, sob número 828817 001, e claro, o nome de Mazza fica evidente como o cérebro deste engodo. O álbum começa com o vozeirão de Tim cantando a estrofe central do Hino do Flamengo, e então, com 50 segundos, surgem sintetizadores e eletrônicos, assim como diversos outros instrumentos, enquanto a voz de Tim falando algumas de suas frases clássicas (libera, libera, que beleza, quem não dança segura a criança, simbora, vitória régia etc) são intercaladas. Tim canta o hino sobre uma base eletrônica, e este é o único momento interessante do CD, com o "ai Jesuis" de Tim sendo bem engraçado de ouvir. A faixa dura 3 minutos e 48 segundos, e então o CD passa a rodar mais 7 faixas eletrônicas gritantemente irritantes. É difícil dizer o que é pior, se "Pancadão da Raça" (apresentada em uma versão normal e versão remix, que praticamente forma uma única faixa de 9 minutos entediantes), começando com o grito da torcida do Flamengo seguida por insuportáveis 8 minutos de batidas dance e ritmos eletrônicos, misturando alguns gritos da torcida, e que em nada tem a ver com Tim Maia, ou as três desinteressantes versões de "Dance Fla" (normal, extend e instrumental), que nada mais são do que o instrumental do hino do Flamengo repetidos a exaustão, acrescentando vocalizações, gritos de torcida e muitos eletrônicos. Ainda se tem o hino do Flamengo de forma instrumental para Karaokê, assim como repete a mesma faixa inicial após o tal Pancadão (duas faixas iguais no mesmo CD?!) e o engodo encerra com um registro da torcida do Flamengo de pouco mais de 45 segundos, e é isso. A farsa é tamanha que em 2001, com o título do Bi-Campeonato Carioca conquistado pelo time da Gávea, Mazza resolveu relançar essa "coisa" (Mazza Music 82881 7002) com mais alguns gritos de torcida e uma provocação ao Vasco, com a urubuzada gritando "Vice De Novo". Cansativo!

Igor Araújo (baixo em 1, 2, 5, 6, 7, 8); Roberto Lly (baixo, teclados e bateria em 3,4); Kesso Fernandes (bateria em 1, 2, 5, 6, 7, 8); Márcio Mazza (bateria em 1, 2, 5, 6, 7, 8); Claudio Mazza (bateria, baixo e teclados em 1, 2, 3, 4, 5, 6, 7, 8, vocais em 1, 2, 5, 6, 7, 8); Rogério Lopes (guitarra, vocais de apoio em 1, 2, 5, 6, 7, 8);  João Bosco Nóbrega (teclados e vocais de apoio em 1, 2, 5, 6, 7, 8); Leg Rinsgted (percussão e vocais de apoio em 1, 2, 5, 6, 7, 8); Evaldo Robson (saxofone e vocais em 1, 2, 5, 6, 7, 8); Elias Corrêa (trombone e vocais de apoio em 1, 2, 5, 6, 7, 8); Marcos Belchior (trompete em 1, 2, 5, 6, 7, 8); Cidália Castro (vocais de apoio em 1, 2, 5, 6, 7, 8)

1. Hino Do Flamengo

2.Dance Fla

3. Pancadão Da Raça

4. Pancadão Da Raça [Remix]

5. Hino Do Flamengo

6. Dance Fla [Extend]

7. Hino Do Flamengo [Karaokê]

8. Dance Fla [Instrumental]

9. Grito Da Torcida [Bonus Track]

Dance Com O Hino do Seu Clube: Hino Vasco [2001]

Este álbum foi lançado sob número (82881 7003). Assim como do arqui-rival Flamengo, o CD do Vasco tem como único atrativo a voz de Tim cantando o hino do Gigante da Colina, e só. Mazza novamente traz eletrônicos à exaustão, tanto na música principal quanto em "Techno Vasco" (versão normal e remix), novamente em algo que parece uma única faixa, que é um techno com inserção de gritos da torcida do Vasco, ao menos agora só (!) com cinco minutos e 30 segundos, faz a versão Karaokê para o hino do Vasco, e piora o que já veio do disco do Flamengo com "Vasco Dance", com o ritmo dance do hino e inserção de gritos da torcida, e "Vasco Rave" (ambas versões normal e remix), em versões intermináveis de batidão, eletrônicos e gritos de torcida, e um "Vasco da Gama" dito por Tim Maia vez que outra. Como novidade, acrescenta gritos da torcida (as mesmas que aparecem em "Vasco Rave", "Techno Vasco" e "Dance Vasco") também como faixas individuais, com pouco mais de 20 segundos ("O 'Maraca' É Nosso, Lê Lê Lê O Vasco, Grito Do Vaco e Torcida Vasco), que servem para aumentar o tempo de duração de um engodo que tão pouco acrescenta alguma coisa para o CD ou para a discografia de Tim. Ao menos aqui ele não teve a indecência de repetir o hino do Vasco da Gama, como fez com o hino do Flamengo, e a coisa felizmente se acaba com menos de 30 minutos. Mesmo assim, fuja!

Igor Araújo (baixo em 1, 2, 10, 11); Roberto Lly (baixo, teclados e bateria em 3, 4, 5, 6, 7, 8, 9, 12, programação de bateria em 1, 2, 10 e 11); Claudio Mazza (bateria, e baixo em 3,4, 5, 6, 7, 8, 9, 12, teclados em  1, 2, 3, 4, 5, 6, 7, 8, 9, 10, 11, 12, vocais de apoio em 1, 2, 10 e 11); Rogério Lopes (guitarra e vocais de apoio em 1, 2, 10, 11);  João Bosco Nóbrega (teclados e vocais de apoio em 1, 2, 10, 11); Leg Rinsgted (percussão em 1, 2, 10, 11); Evaldo Robson (saxofone em 1, 2, 10, 11); Marlon Sette (trombone em 1, 2, 10, 11); Marcos Belchior (trompete em 1, 2, 10, 11); Cidália Castro (vocais de apoio em 1, 2, 10, 11)

1. Hino Do Vasco Da Gama

2. Vasco Dance

3. Techno Vasco

4. Techno Vasco [Remix]

5. O "Maraca" É Nosso

6. Lê Lê Lê O Vasco

7. Vasco Rave

8. Vasco Rave [Remix]

9. Grito Do Vasco

10. Hino Do Vasco [Karaokê]

11. Vasco Dance [Remix]

12. Torcida Vasco


Dance Com O Hino do Seu Clube: Hino Fluminense [2001]

Quarto lançamento da Mazza Music (82881 7004), mantém o padrão dos seus antecessores, com a voz de Tim sendo o atrativo para um dos hinos mais belos do futebol nacional, em homenagem ao tricolor carioca, o qual possui ainda mais elementos eletrônicos do que os antecessores, com sintetizadores por vezes remetendo a "Descobridor dos Sete Mares". Daí vem "Dance Flu" (versões normal e remix), que até tem um interessante solo de teclado, "Festa Flu" (versões normal e remix, com insuportáveis 6 minutos e meio de muito bate-estaca, somadas as duas) e a tediosa "Techno Flu" (tambem nas versões normal e Remix, com pouco mais de 6 minutos, e bota chato), nada criativo. Além disso, adições de gritos da torcida do Fluminense em trechos pequenos ("Grito do Flu", "A Torcida do Fluzão", "Nense" e "Eh! Oh! Tricolor"), e a famigerada versão Karaokê do hino, totalizando pouco mais de 30 minutos. No âmbito geral, seria bem mais honesto Mazza ter lançado em um único CD os três hinos, com a mixagem que quisesse, mas três CDs individuais, onde a voz de Tim é usada e usurpada de forma tão deliberante, é uma piada sem tamanho.

Igor Araújo (baixo em 1, 2, 10, 11); Roberto Lly (baixo, teclados e bateria em 3,4, 5, 6, 7, 8, 9, 12, programação de bateria em 1, 2, 10, 11); Claudio Mazza (bateria, baixo em 3,4, 5, 6, 7, 8, 9, 12, teclados em 1, 2, 3,4, 5, 6, 7, 8, 9, 10, 11 e 12, vocais de apoio em 1, 2, 10 e 11); Rogério Lopes (guitarra e vocais de apoio em 1, 2, 10, 11); João Bosco Nóbrega (teclados e vocais de apoio em 1, 2, 10, 11); Leg Rinsgted (percussão em 1, 2, 10, 11); Evaldo Robson (saxofone e vocais de apoio em 1, 2, 10, 11); Marlon Sette (trombone em 1, 2, 10, 11); Marcos Belchior (trompete em 1, 2, 10, 11); Cidália Castro (vocais de apoio em 1, 2, 10, 11), Micheline Linhares (vocais de apoio em 1, 2, 10, 11)

1. Hino Do Fluminense

2. Dance Flu

3. Grito Do Flu

4. Festa Flu

5. Festa Flu [Remix]

6. A Torcida Do Fluzão

7. Techno Flu

8. Techon Flu Remix [Remix]

9. Eh! Oh! Tricolor

10. Hino Do Fluminense [Karaokê]

11. Dance Flu [Remix]

12. Nense


A Festa do Tim Maia [2002]

Esse engodo não tem a mão de Claudio Mazza, mas sim  DJ Memê. Sei lá de onde o cara tirou a ideia de fazer uma adaptação de clássicos de Tim para versões "dançantes" (techno, pode se dizer), e assim, acabar destruindo com uma obra atemporal. A abertura com "Intro Festa" apresenta um pessoal chegando para uma festa, e então, começa o bate-estaca interminável, interlacado por gritos como se fosse realmente uma festa. Pouca coisa se aproveita aqui, e as remixagens são em maioria demasiadamente longas. DJ Memê readaptou a voz de Tim Maia, e algumas falas, para fazer atrocidades em "Do Leme Ao Pontal", "Não Quero Dinheiro", "Vale Tudo", "Você" e principalmente, as tinhosas "Gostava Tanto de Você", "Sossego" e "Você E Eu, Eu E Você". Músicas originalmente animadas ficam até que bem remixadas aqui, vide "A Festa Do Santo Reis", "Acenda O Farol" e "Azul Da Cor do Mar", talvez a melhor remixagem do trabalho, mas nada que supere o original. Em comparação aos outros quatro desta lista, este é o melhorzinho, mas mesmo assim, digno de se passar longe!

1. Intro Festa

2. Vale Tudo (In My House Memê Mix)

3. Acenda O Farol (Memes's Philly Flavor Mix)

4. Você E Eu, Eu E Você (Juntinhos) (M&M Electro-La Rmx)

5. Não Quero Dinheiro (Só Quero Amar) (Memê 2002 Mix)

6. Sossego (The Underground Solution Mix)

7. Você (The Blacksuit Mix)

8. Azul Da Cor Do Mar (Memê Meets Corello Mix)

9. Gostava Tanto De Você (Memê's Liquid Kitchen Experience)

10. Do Leme Ao Pontal (Memê's Febre Mix)

11. A Festa De Santo Reis (Maresias Club Mix)

12. Só Mais Uma (Vinheta)

13. Não Quero Dinheiro (Só Quero Amar) (Ibiza Sunset Mix)


Forró Do Brasil [2003]

Essa é daquelas coisas que os desconhecedores da carreira de Tim acabam caindo como um rato na ratoeira. Amplamente divulgado como "O Último Disco de Inéditas de Tim Maia", na verdade é um engodo promovido por Cláudio Mazza (ele novamente), junto de um time com mais de 20 músicos, englobando uma espécie de "coletânea" de cinco discos lançados por Tim no fim de sua carreira, entre 1994 e 1998, porém apenas com a voz de Tim, e uma mixagem em ritmo de forró. Assim, o ouvinte em pouco ais de 45 minutos passa por sofríveis versões para "O Nordeste É Lindo" e "O Que Vem Da Bahia" (de Voltou Clarear), com a última sendo a única a ser possível de se chamar de boa, por conta da sua bela introdução; "Estória De Cantador", "Nanã", "Pra Fazer Você Feliz", "Tudo Era Lindo" (de Pro Meu Grande Amor, com "Pra Fazer Você Feliz" sendo uma adaptação para "Pra Fazer Você Sorrir", que ficou lamentavelmente lamentável), "O Pescador", "Sorriso De Criança" e "Sozinho" (Sorriso de Criança), "Ter Você É Ter Razâo" (Amigo do Rei) e "Cross My Heart" e "Vixe" (Só Você, Pra Ouvir E Dançar). Dentro da proposta do forró, com muito esforço soam agradáveis ao ouvido "O Nordeste É Lindo", "Ter Você É Ter Razão" ou "Tudo Era lindo", que até dá de se ouvir imaginando uma Elba Ramalho ou um Alceu Valença cantando por exemplo, e que com a voz rouca e grave de Tim ficaram somente ok. Por outro lado, é constrangedor ouvir "Cross My Heart", misturando country com reggae e forró (horrível!!), lamentável a desfaçatez de "Sozinho", clássico de Peninha imortalizado somente com vo e violão por Caetano Veloso, e detestável o que fizeram com as canções-manifesto "O Pescador", "Sorriso De Criança" e "Vixe", que em nada combinam com o ritmo alegre proposto por Mazza. No contexto geral, é um disco totalmente esquecível, e não digno de fazer parte da discografia do Síndico, que como o próprio Cláudio Mazza afima nos liner notes do CD, possui uma obra atemporal!

1. Pra Fazer Você Feliz

2. O Nordeste É Lindo

3. Sorriso De Criança

4. Ter Você É Ter Razâo

5. Estória De Cantador

6. Nanâ

7. Vixe

8. Cross My Heart

9. Tudo Era Lindo

10. Sozinho

11. O Pescador

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quarta-feira, 7 de setembro de 2022

Cinco Discos Para Conhecer: Nicky Hopkins



Poucos são os músicos que conseguiram, ao longo de sua carreira, ter registrado sua marca em álbuns de monstros como The Rolling Stones, The Who, Jeff Beck, John Lennon, George Harrison, Ringo Starr e Paul McCartney, só para citar alguns. Nascido no dia 24 de fevereiro de 1944, Nicholas Christian Hopkins, ou simplesmente Nicky Hopkins, foi um dos maiores nomes do piano em todo o cenário da música. Ao longo de uma vasta carreira, o rapaz acompanhou gigantes do porte de Art Garfunkel, Joe Cocker, Carly Simon, Rod Stewart e Cat Stevens, além de vários outros nomes que tiveram canções emblemáticas contando com os dedos ágeis de Hopkins. 

Falecido em 6 de setembro de 1994 (portanto há 28 anos), vítima de complicações por conta de uma cirurgia no intestino, advinda da Doença de Crohn, a qual ataca o aparelho digestivo, e com a qual Nicky lutou por muito tempo, o rapaz ainda continuava na ativa, gravando com Spinal Tap, Izzy Stradlin and Ju Ju Hounds, The Jayhawks, entre outros. Trago aqui Cinco Discos nos quais a contribuição de Nicky Hopkins é mais do que fundamental, sabendo que deixarei de fora inúmeras obras emblemáticas.

Nicky Hopkins - The Revolutionary Piano of Nicky Hopkins [1966]

Esse belíssimo álbum de estreia da carreia do pianista é recheado de versões para canções de relevância. Acompanhado da orquestra e coral de Mike Sammes, ele passeia desde Beatles e Stones, com reconstruções fantásticas para "Yesterday" e "Satisfaction", até pérolas do jazz de Duke Ellington ("Don't Get Around Much Anymore") e Bob Russell ("You Came a Long Way from St. Louis"), chegando a trilha de James Bond ("Goldfinger"), que certamente agradaram aos compositores originais, seja pela exuberância dos dedos de Nicky ou pela sua capacidade de reinventar as mesmas. E são nas suas composições onde percebemos as principais marcas do seu estilo de tocar, como por exemplo as marteladas e arpejos que ele apresenta em "Mr. Big" e "The Unlonely Bull", a alegria exuberante do rock de "The Ilejistry Pig" ou o dedilhado suave de "Jenni", um dos grandes sucessos de sua carreira. Todas as faixas revelam um talento desabrochando, e não à toa, pouco tempo depois Hopkins viria a acompanhar os gigantes citados acima. A semente está nessa belíssima obra, que creio que nosso querido leitor Igor Maxwell, amante de Richard Clayderma, se deleitará. Bastante distinta dos demais álbuns que irei apresentar aqui, mas não menos importante e sensacional de se ouvir. 

Nicky Hopkins (piano)

Acompanhamentos

The Mike Sammes Orchestra, Mike Sammes Singers, conduzidos por David Whitaker

1. Mr. Big

2. Yesterday

3. Goldfinger

4. Don't Get Around Much Anymore

5. Jenni

6. Acapulco 22

7. You Came a Long Way from St. Louis

8. Love Letters

9. The Unlonely Bull

10. Satisfaction

11. Paris Bells

12. The Ilejistry Pig

The Rolling Stones - Beggar's Banquet [1968]

Em um álbum voltado para o lado acústico, e que é totalmente oposto às experimentações de seu antecessor, o psicodélico Their Satanic Majesties Request, os Stones chamam Hopkins para acompanhá-los ao piano, e assim, temos a consagração de Hopkins para mundo. Em uma participação sensacional, o cara é o dono do disco ao lado de Mick Jagger, comandando o ritmo da clássica "Sympathy for the Devil", onde exibe-se com graciosidade em um vibrante solo, entre os "uh-uh" que consagraram a canção. Mas há mais Hopkins nas entranhas de Beggar's Banquet, seja fazendo o blues alegre de "Dear Doctor" junto dos violões de Richards e Jones, ou distribuindo suas marteladas e arpejos no sucesso "Street Fighting Man", na pancada "Stray Cat Blues" ou em "Jigsaw Puzzle", na mesma linha do que havia feito em "Sympathy for the Devil". A preguiçosa "No Expectations" traz Hopkins brincando com o órgão farfisa, enquanto na lindíssima "Salt of the Earth", Hopkins encanta não só no piano, mas também brilhando com o mellotron. Um dos melhores discos da carreira dos Stones, e por que não, de todos os tempos, e com a mão exclusiva de Hopkins por detrás da genialidade da dupla Jagger/Richards.

Mick Jagger (vocais, harmônica, maracas), Keith Richards (guitarra, violão, slide guitar, baixo, vocais), Brian Jones (slide guitar, violões, harmônica, mellotron, sitar, tambura, vocais de apoio), Bill Wyman (baixo, double bass, vocais de apoio, shekere, maracas), Charlie Watts (bateria, claves, tambourine, tabla)

Participações especiais

Nicky Hopkins - piano, mellotron, órgão

Rocky Dzidzornu – congas em 1, 8 e 9

Ric Grech – fiddle em 9

Dave Mason – shehnai em 6

Jimmy Miller – vocais de apoio em 1

Watts Street Gospel Choir – vocais de apoio em 10

Anita Pallenberg - vocais de apoio em 1

Marianne Faithfull – vocais de apoio em 1


1. Sympathy For The Devil

2. No Expectations

3. Dear Doctor

4. Parachute Woman

5. Jigsaw Puzzle

6. Street Fighting Man

7. Prodigal Son

8. Stray Cat Blues

9. Factory Girl

10. Salt of the Earth

Jeff Beck Group - Beck-Ola [1969]

Ao entrar na banda de Jeff Beck, Hopkins foi fundamental para apimentar a sonoridade da banda. Ele colabora na estreia da Jeff Beck Group, a aclamada Truth, nas faixas "Morning Dew", "You Shook Me", "Beck's Bolero" e "Blues Deluxe", mas aqui ele é elevado ao posto de membro oficial do grupo de Jeff Beck, e não decepciona. Compondo quatro das 7 faixas de Beck-Ola, sendo que das três restantes, duas são covers, o pianista mostra seu estilo ditando o ritmo da pancada  "All Shook Up", do blues de "The Hangman's Knee" ou da sensacional e pesadíssima versão de "Jailhouse Rock", além de fazer belos duelos com a guitarra de Beck em "Plynth (Water Down the Drain)" e "Spanish Boots". Na longa jam instrumental "Rice Pudding", o espancamento geral dá espaço para que o piano de Hopkins também brilhe com marteladas e arpejos contagiantes. Porém, entre tantas pauladas, é na baladaça "Girl From Mill Valley" que Hopkins dá seu espetáculo a parte, seja no Hammond, seja dedilhando o piano, em uma das composições mais marcantes de sua carreira, acompanhado apenas pelo gentil andamento do baixo de Ron Wood e a bateria de Tony Newman. Um disco subestimado por conta de seu irmão mais velho, mas de mesma qualidade e relevância para a música mundial, graças também a genial contribuição de Hopkins, e que como diz na contra-capa do álbum, sente, ouça e decida se você pode encontrar um pequeno lugar em sua cabeça para ele.

Jeff Beck (guitarras), Rod Stewart (vocais), Nicky Hopkins (piano, órgão), Ronnie Wood (baixo), Tony Newman (bateria)

1. All Shook Up

2. Spanish Boots

3. Girl from Mill Valley

4. Jailhouse Rock

5. Plynth (Water Down the Drain)

6. The Hangman's Knee

7. Rice Pudding


Quicksilver Messenger Service - Shady Grove [1969]

Na sua passagem pelos Estados Unidos, o inglês deixou contribuições fundamentais em discos de Jefferson Airplane, Steve Miller Band e The Jerry Garcia Band, mas foi na Quicksilver Messenger Service onde ele se estabeleceu como um nome a ser respeitado, ainda mais com a companhia dos gênios John Cipollina e David Freiberg. Hopkins já mostra seu lado virtuoso de cara, na excelente faixa-título, e também no country de "Words Can't Say". Ao mesmo tempo, mostra toda sua versatilidade, aclimando-se muito bem com o som da Califórnia  com belas contribuições em "Joseph's Coat",  "Holy Moly", "Too Far", no surpreendente boogie de "3 or 4 Feet From Home" ou na legítima representante psicodélica de "Flashing Lonesome". A delicadeza de seu solo em "Flute Song" faz até as paredes de sua sala se arrepiarem, e é aqui que Hopkins deixa para a eternidade talvez sua mais famosa criação, a Maravilha "Edward (The Mad Shirt Grinder)", uma das canções mais belas que já ouvi, e cuja técnica para solar de Hopkins, e os duelos com a guitarra de Cipollina, são sensacionais. Nove minutos de tirar o fôlego, e onde o pianista mostra por que foi chamado por gigantes da música não só no piano, mas também com o hammond. Uma pérola a ser descoberta por apreciadores do flower-power, e principalmente, para quem acha que na Califórnia dos anos 60 apenas The Doors e Big Brother & The Holding Company era quem existiam.

John Cipollina (guitarra e vocais), Nicky Hopkins (piano, órgão, celeste, harpsichord, cello), David Freiberg  (baixo, vocais, guitara, viola), Greg Elmore (bateria, percussão)

1. Shady Grove

2. Flute Song

3. 3 or 4 Feet from Home

4. Too Far

5. Holy Moly

6. Joseph's Coat

7. Flashing Lonesome

8. Words Can't Say

9. Edward, the Mad Shirt Grinder


The Who - By Numbers [1975]

Nicky era para ter sido o quinto membro do The Who, antes mesmo de começar carreira solo. O problema é que a guerra de egos na banda não era algo que casava com o estilo mais introvertido do pianista. Mesmo assim, o rapaz colaborou em diversas faixas do grupo, tais como "I Don't Mind", "The Ox", "The Song Is Over" ou "Getting in Tune", até que em 1975, ele "fez parte" oficialmente do The Who nesse álbum divisor de águas na carreira da banda. Depois de anos de estrada e vários conflitos entre Pete Towshend e Roger Daltrey, Nicky serviu como um elo de ligação entre os dois, e colaborou decisivamente para Pete Townshend poder criar canções acessíveis sem ser parte de uma ópera-rock. Assim, nasceram pancadas do porte de "In A Hand of a Face", "Slip Kid" e "Squeeze Box", ou belíssimas canções mais leves, ao piano e violão, como "Imagine a Man" e "They Are All In Love". As marteladas e arpejos se sobressaem em faixas como "However Much I Booze", e nas sensacionais "Dreaming From The Waist" e "How Many Friends", onde Hopkins encaixou-se perfeitamente dentro das geniais e geniosas ideias de Townshend, e também com a cabeça de Entwistle, na excelente "Success Story". Um disco digno do The Who, e bastante subestimado perto da trilogia Tommy, Quadrophenia e Who's Next, mas do mesmo nível dos mesmos. 

Roger Daltrey (vocais),  Pete Townshend (guitarra, teclados, banjo, acordeão, ukulele, vocais), John Entwistle (baixo, trompete, vocais, trompas), Keith Moon (bateria)

Músico adicional

Nicky Hopkins (piano)

1. Slip Kid

2. However Much I Booze

3. Squeeze Box

4. Dreaming from the Waist

5. Imagine a Man

6. Success Story

7. They Are All in Love

8. Blue Red and Grey

9. How Many Friends  

10. In a Hand or a Face

                           

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