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terça-feira, 14 de abril de 2020

War Room: Graham Bond Organization - There's A Bond Between Us [1965]





Com André Kaminski, Mairon Machado e Ronaldo Rodrigues

Voltamos hoje com mais um War Room, dessa feita, explorando um lançamento que irá completar 55 aninhos em novembro. Trata-se de There's A Bond Between Us, o segundo álbum de um dos primeiros super grupos da história, a Graham Bond Organization, que contava nada mais nada menos com Graham Bond (hammond, mellotron, vocais), Jack Bruce (baixo, vocais), Ginger Baker (bateria) e Dick Heckstall Smith (saxofones, flautas, instrumentos de sopro). Coloque o álbum para rodar e acompanhe a opinião faixa a faixa dos participantes, e não esqueça de deixar seu comentário também.


1. Who's Afraid Of Virginia Woolf?

Ronaldo: Só essa entrada triunfal do Hammond já vale a faixa. Isso é que eu chamo de "Swinging London"!
Mairon: O disco já abre com Ginger Baker mostrando ao mundo quem é Ginger Baker. Esses metais somados com os instrumentos de sopro é um delírio. Graham Bond era um baita tecladista, e seu solo nessa faixa de abertura é matadora.
André: Longo instrumental. Aliás, não teve vocais, mas começou muito bem

2. Hear Me Calling Your Name
Mairon: Swingzão massa da porra. Jack Bruce e sua voz inconfundível. Diferente do que podemos esperar para o Cream, por exemplo, mas dá para imaginar como seria isso com a guitarra do Clapton
Ronaldo: Essa segunda faixa já tem aquele temperinho do pop dos anos 60, aquele pop orquestral repleto de boas harmonias.
Mairon: O Organization de Graham Bond, foi assim, como os Yardbirds, um berçário de grandes músicos - nesse caso, revelou Jack Bruce, Ginger Baker e Dick Heckstall Smith (futuro Colosseum). É uma banda ímpar.
Ronaldo: Eu fico imaginando ter o Graham Bond, o Ginger Baker e o Jack Bruce na mesma banda...a treta devia ser feia nos ensaios! rs
Mairon: Diz que várias vezes o Bruce e o Baker quebraram o pau, jogando cadeira uns nos outros, e até instrumentos
André: Adorei como o sax no fundo dá uma embelezada na canção. Por sinal, é uma letra simples mas ganchuda.

3. The Night Time Is The Right Time
Mairon: Blues para colocar a casa abaixo, com toda uma pimenta soul para fazer a coisa ferver mais ainda. Esse clima gospel desse blues para mim é o ponto alto dessa faixa. Dá vontade de cantar junto;
Ronaldo: Essa faixa é um standard de primeira. Não me lembrava da versão deles. O interessante é como o som tem pegada rock mesmo sem guitarras! vale ressaltar que nos primórdios do rock o saxofone tinha mais protagonismo.
André: Aqui ele se destaca no baixo. Por sinal, me pergunto porque diabos ninguém ou quase ninguém monta uma banda com uma sonoridade nesse estilo anos 50/início dos anos 60, Com mais sax, baixo protagonista e tudo mais
Ronaldo: o Dick Heckstall-Smith é uma fera no sax e a batida do Ginger Baker é inconfundível; ele e o Jon Hiseman tocavam blues na bateria como ninguém mais.

4. Walkin' In The Park
Mairon: Essa música me lembra muito uma faixa que o Colosseum gravou depois, agora não lembro o nome, mas tá no ao vivo.
Ronaldo: Essa foi aproveitada pelo Colosseum também, com vários bpms a mais! sabe de quem é a autoria, Mairon? Eles lançaram com o mesmo nome, acho que no primeiro álbum deles.
Mairon: pois é, o Colosseum gravou isso né?
Ronaldo: Sim, é a faixa de abertura do primeiro álbum deles...mas a versão deles é bem mais rápida do que essa. Ambas muito legais!
Mairon: Ah sim, não lembrava do disco de estreia. É que o que eles fazem no ao vivo, com as vocalizações, é de tirar o chapéu.
André: Eu sinto que preciso ouvir mais este estilo de rock. Leve, sem frescuras, alto astral
Ronaldo: Solo de Hammond sensacional!
André: Olha o solo de Hammond, brilhante.
Mairon: Solo lindo de Hammond.
Ronaldo: E essa condução do Ginger Baker é maravilhosa...sou muito fã dele!
André: Conheço pouco do Colosseum para saber, vocês dois que são as autoridades progs do site que me iluminem.
Ronaldo: André, pode pegar tudo do Colosseum... é uma banda de primeira, musicalidade riquíssima...desenvolveu do blues até o progressivo sinfônico.
Mairon: Concordo com o Ronaldo sobre o Colosseum.

Heckstall Smith, Bruce, Baker e Bond

5. Last Night
André: Achei que iria começar um "Pretty Woman" hahahahahaha.
Mairon: Voltamos para os rocks dançantes baseados em linhas de blues. Ouvir a Graham Bond sempre me faz pensar como que muita gente acha que nos anos 60 só havia Beatles e Stones. Olha isso cara, que sonzeira.
Ronaldo: Esse tipo de base, essa linha de baixo, é muito comum no rock sessentista...vem do blues! Sonzeira total, diversão pura!
André: Pensem nos bailinhos de rock 'n' roll dos anos 50 e 60. Aquele povo sim sabia se divertir
Mairon: Ahã. Não tinham que ficar no whats à toa ...
Ronaldo: Hammond fritando!
André: Olha, mesmo as mais simples das canções tem solos magníficos. Que solo de Hammond, meu Deus.

6. Baby Can It Be True?
André: Essa é para dançar coladinho junto a guria e dançando devagarinho
Ronaldo: Eu acho curioso que o Ginger Baker já tinha muita assinatura desde esses primórdios. Vejo que o Jack Bruce desenvolveu mais (se comparar o material dele de 1965 e o de 1975, por exemplo), mas o Ginger Baker manteve mais ou menos a mesma abordagem em todos os seus trabalhos.
Mairon: Cara, Jack Bruce tem uma voz tão rouca para a idade dele. Esse cara devia fumar uns 15 maços de cigarro por dia. Baladaça!!
André: O pigarro do amor
Ronaldo: Que delícia de baladinha...puxou a pegada das big bands. E o que é esse orgão? Acho que o Jack Bruce treinava bastante pra isso também. O orgão também é maravilhoso. Não sei se vocês notaram, mas tem uma passagenzinha de mellotron ali... foi uma das primeiras aparições do instrumento em gravações.
Mairon: Lindo
André: Aquele sonzinho de fita magnética é inconfundível.
Ronaldo: Antes dos Beatles em "Strawberry Fields Forever".
[caption id="attachment_32854" align="aligncenter" width="484"] Dick Heckstall Smith, Jack Bruce, Ginger Baker e Graham Bond[/caption]

7. What'd I Say
Mairon: Cara, Ginger Baker é um monstro de ritmos. O que é isso que ele cria aqui? Uma espécie de samba, que misturado com o saxofone e com o Hammond sacodem até as paredes da casa. Mais uma sonzeira para curtir nas festas e nos pubs ingleses.
Ronaldo: Agitada! na mesma pegada de "I Feel Fine" dos Beatles... sóque aí é Ginger Baker na parada...então o bicho pega!
André: De fato, o Baker se destaca muito nessa faixa
Ronaldo: Esse Hammond dá um caldo maravilhoso na faixa!
André: Leves toques nos pratos. Até um glorioso cowbell hahahahaahaha.
Mairon: Eita solo de saxofone bom de se ouvir.
Ronaldo: Essa tirada no cowbell é realmente surpreendente! rs
Mairon: Como o Baker dizia, a GBO é a banda de jazz mais blues da história do rock britânico
Ronaldo: Tem razão... é nítida a transição entre os dois estilos!
Mairon: De sacolejar o esqueleto!
André: Aquela hora que acelera a bateria e finaliza de maneira apoteótica
Ronaldo: Termina como um bom bluesão.

Em sentido horário: Baker, Heckstall Smith, Bruce e Bond (pernas cruzadas)

8. Dick's Instrumental
Mairon: Melhor faixa do disco. Saxofone mandando ver, blues arrepiante, e um arranjo descomunal. Como que uma banda tão foda veio virar algo tão diferente, e igualmente poderoso, trocando dois membros e adicionando uma guitarra? Inacreditável
André: Muito bem, estou gostando bastante, Mairon. Pelo menos me acordou com um grande disco
Ronaldo: O que eu acho mais interessante é como essas bandas do blues britânico viraram e reviraram o blues americano do avesso pra criar coisas inovadoras como essa faixa. As outras faixas são muito divertidas e boas de se ouvir, mas essa foi além e traz várias ideias muito interessantes.
André: Pelo que diz na descrição do vídeo, a pergunta é como o Graham Bond teve a coragem de demitir o Baker e o Bruce.
Mairon: O Bruce pediu o boné por que não aguentava mais o Baker, e foi trabalhar com o John Mayall.
Ronaldo: O Eric Clapton disse uma vez que o Ginger Baker era um canalha, mas era dos melhores da área, então...rs
Mairon: A história é bem interessante. Eu to lendo o Crossroads ((biografia do clapton), e o trecho que é sobre a GBO é sensacional. Quando foram montar o Cream, o Clapton disse pro Baker: ou o Bruce ou nada, e o Baker engoliu.
Ronaldo: Fico só imaginando a treta!

9. Don't Let Go
Mairon: Outro rockzão anos sessenta, para levantar as meninas e girar pelo ar. Mais uma sonzeira.
Ronaldo: Muito groove nessa! também acho que tem mellotron nessa faixa (tocada de uma forma bem pouco ortodoxa).
André: Uma faixa diferente, mas interessante, o Hammond é muito diferente aqui.
Mairon: O mellotron para mim está como um acorde de fundo.
André: É o mellotron que faz esse sonzinho específico, Mairon?
Ronaldo: Esses ataques entre a voz parece ser o mellotron também... tenho quase certeza que sim.
Mairon: Parece.

10. Keep A'Drivin'
André: Isso é muito Jovem Guarda hahahahahahahaha
Ronaldo: Mais um bluezinho soft...na linha do que o Cream viria a fazer em "Hey Lawdy Mama".
Mairon: Mais um blues para agitar a galera. Bruce com sua voz roucaça, e a nítida impressão que já ouvi isso em outros discos do Bruce em sua carreira. A adição dos vocais femininos deu um up ainda mais saboroso para a faixa
Ronaldo: E com os vocais a la Doo-Wop.

11. Have You Ever Loved A Woman?
Mairon: Bah, nessa aqui o Graham Bond faz misérias. Acho que é a faixa mais conhecida deles né? Que baita blues
Ronaldo: O vocal do Bond nessa faixa está incrível!
André: É um cover do Freddie King, logo, não tem erro.
Mairon: Cara a categoria do Baker é acima do normal. Isso é 1965. Olha a diversidade de estilos que ele já tocou em pouco mais de meia hora.
Ronaldo: Não saberia dizer se é a faixa mais conhecida deles...acho que a banda é mais conhecida por nome (pelo conjunto da obra) do que por alguma faixa específica. O Baker realmente já era acima da média desde tempos imemoriais!
Mairon: Que solo de hammond. Jesus amado! Lindo
Ronaldo: Lindo demais...puro feeling.

12. Camels And Elephants
Mairon: Composição de Ginger Baker, então já sabem o que vem.
Ronaldo: Aqui surgem as doideiras!
André: Isso são as maluquices de bateria dele.
Mairon: Repito galera, 1965!!! Quem fazia algo assim nessa época? Pré-"Toad", pré-"Do What Your Like" e por ai vai. Que baita solo, que baita arranjo.
André: Quase ninguém fez depois também
Ronaldo: Outra característica marcante do rock entre 65 - 67 é a tentativa de incorporar escalas da música oriental (de diferentes locais) no meio do rock ou fundi-las com o blues.
Mairon: Exato Ronaldo. Acho que é um dos primeiros solos de bateria gravado por uma banda tida como de rock.
Ronaldo: Prenúncio dessas duas faixas, com certeza...como disse antes, o Baker já tinha uma assinatura desde antes de ser bem famoso.
Mairon: Nessa forma assim, que o Bonham copiou na cara dura em "Moby Dick", marcando o cymbal o tempo inteiro, até a sequência acho parecida, o crescendo e tal.
André: Uma música em que o protagonista é a bateria, quantas tem nos últimos 30 anos em grandes álbuns?
Ronaldo: Interessante esse detalhe, Mairon...não sabia dessa e nem me lembro de nada antes disso com solo de bateria.
Mairon: Só no jazz. E dessa forma, no rock, não lembro mesmo.
André: Só no jazz mesmo. Talvez alguma perdida no blues também.coragem para 1965 gravar algo assim.
Ronaldo: Pois é, André...de 80 em diante instrumentos além da guitarra perderam totalmente o protagonismo no rock.
André: No rock? Não lembro de nenhuma.
Mairon: Por isso Baker é Baker. E para quem acha que o solo de "Toad" é a origem, ouve isso!!! Destruindo as paredes aqui.
Ronaldo: Um dos maiores, sem dúvida nenhuma. Vejo alguns bateristas dizendo que ele não fazia nada demais, mas eu ignoro. Pra mim isso é inconteste.
Mairon: MONSTRO!!!!
André: Eu por exemplo se eu fosse músico, queria fundar uma banda em que o baixo fosse o protagonista. E eu seria o baixista é claro. Mas fica para outra vida
Ronaldo: Hahahaha!




Considerações finais
André: Sem considerações longas de minha parte hoje: discaço e ponto final.
Mairon: A Graham Bond era uma banda a frente do seu tempo. Esse segundo álbum é disparado o mais interessante, até pela presença do Baker. Me admira é que muita gente defende que só Beatles e Stones estavam na Inglaterra naquela época, e que inspiraram todo mundo. Bom, ouvir esse disco só me faz constatar que Beatles e Stones influenciaram muita gente, mas não esses gênios que criaram uma obra tão singular e sensacional
André: Orra, concordo e muito
Ronaldo: Já conhecia o disco (apesar de que fazia um bom tempo que não ouvia)...capta bem aquela pegada de blues e r&b que os mods ingleses ouviam e dançavam até cansar. Instrumental caprichado, um time de primeira qualidade, muito groove e músicas cativantes. É que nessa época a concorrência na Inglaterra era brabíssima, então, grupos como o GBO ficaram em segundo ou terceiro plano. Felizmente a obra fica para a posteridade e cá estamos nós, curtindo e dando o devido valor. Excelente escolha de disco, Mairon!
Mairon: Valeu pessoal. Um abraço!
Ronaldo: Tamo junto! Eu que agradeço.
André: Tranquilo, agradeço ao Mairon pela audição e a ambos vocês pela companhia. Abraços!

terça-feira, 8 de setembro de 2015

BBM - Around the Next Dream [1994]





As listas de Melhores de Todos os Tempos sempre propiciam boas discussões, muitas vezes fundadas na emoção e no gosto pessoal de determinado consultor, que recusa-se a aceitar ou entender a votação dos colegas e achincalha sem dó nem piedade discos que para ele, são simplesmente a reprodução da bost@ da mosca que circula ao redor da merd@ do cavalo do bandido. Eu mesmo sou um tarado na discussão. Quanta porcaria já rolaram nessas listas? A pior de todas com a enfadonha visão do RPM encabeçando a lista de Melhores de Todos os Tempos de 1985 (UOL Host, devolva nosso post!). Absurdos incomensuráveis, discos nada representativos, Maravilhas Prog abandonadas ao léu, enfim, o fato é que as listas são uma ótima diversão para nós que as escrevemos, e acredito, causa os mesmos transtornos em diversos leitores, mas sempre lembrando que as listas na maioria dos casos (para não dizer 100%) leva em conta simplesmente o gosto pessoal da criatura.


Em virtude da aproximação da lista de Melhores de 1994, venho de antemão me manifestar com esse petardo que DUVI-D-O-DÓ entre nos dez mais. Em um ano tão competitivo, com pelo menos três álbuns clássicos (Slayer - Divine Intervention, The Rolling Stones - Voodoo Lounge, e Pink Floyd - The Division Bell), algumas novidades surgiram no mercado, outras bandas novas consolidaram-se como fortes expoentes de sua geração, mas o mais marcante foi o renascimento de grandes nomes do rock, que perambularam como zumbis pop nos anos 80 e, depois de ter engolido muito cérebro com apenas dois neurônios, fizeram um tratamento de revitalização, saindo das tumbas com força e lançando discos muito bons, porém não tão aclamados assim.

Jack Bruce
Jack Bruce

E aqui entra Around the Next Dream, álbum lançado pelo magnífico trio Jack Bruce (baixo, piano, teclados e vocais), Ginger Baker (bateria, percussão) e Gary Moore (guitarra, violões, vocais), ou simplesmente BBM. Na época, a imprensa babou o ovo para o disco, mas os fãs fizeram um estardalhaço muito pequeno em comparação com as dimensões do álbum, que acabou atingindo o nono lugar nas paradas do Reino Unido, mas foi considerado um fracasso na parada americana.


Antes dessa reunião, os três vinham de carreiras solo que não estavam nada bem. Bruce, após sair do Cream por divergências com Baker, perambulou com participações especiais em discos de diversos artistas - Frank Zappa, Robin Trower, John McLaughlin, Jon Anderson, o próprio Gary Moore, entre outros - até enveredar pela World Music. Em 1993, ele havia lançado seu oitavo álbum de estúdio, Somethin' Else, que passou despercebido do grande público. Mas ainda naquele ano, em um encontro com Baker, a sua situação musical começou a mudar.
Jonas Hellborg e Ginger Baker, na época do Public Image Ltd.
Jonas Hellborg e Ginger Baker, na época do Public Image Ltd.

Baker foi outro nômade pós-Cream. Logo de cara, participou do super grupo Blind Faith (ao lado de Eric Clapton, Steve Winwood e Rick Grech), e na sequência, levou Steve Winwood para fundar a maravilhosa Ginger Baker's Airforce, que lançou dois excelentes mas desconhecidos trabalhos homônimos, ambos em 1970. Depois, foi viver na África, mais precisamente na Nigéria, onde apaixonou-se ainda mais pelos sons tribais africanos e lançou uma trinca de discos com o multi-instrumentista Fela Kuti. Depois do projeto Baker Gurvitz Armu, tocou com o Public Image Ltd. de John Lydon e com o Hawkwind, antes de montar o projeto Masters of Reality, que durou um elogiado álbum, Sunrise of the Sufferbus (1992), mas um verdadeiro fracasso, tendo vendido menos de 10 mil cópias em todo o mundo. Mas em 1993, a coisa mudou ...

Gary Moore
Gary Moore


Do trio, Moore é o que estava com sua carreira solo mais consolidada. O guitarrista irlandês já vinha de experiências bem sucedidas no Skid Row e no Thin Lizzy, duas das maiores bandas de sua terra natal, e seus discos vendiam regularmente bem. Em 1985, lançou seu álbum de maior sucesso comercial, Run for Cover, com forte sonoridade AOR, que se para os fãs antigos foi tratado com menosprezo, conquistou toda uma nova geração de seguidores. Porém, no início dos anos 90 Moore resolveu voltar as raízes do blues, lançado os belos álbuns After the War (1989), Still Got the Blues (1990) e After Hours (1992), ótimos discos em sua integridade, mas que não obtiveram sequer a sombra do sucesso de Run for Cover, apesar do single de "Still Got the Blues" ter ficado entre os 100 mais da Billboard. Eis que então chegou o ano de 1993.


Naquele ano, Bruce estava comemorando cinquenta anos de vida, e para celebrar o momento, realizou dois shows especiais na cidade de Colônia, Alemanha, nos dias 02 e 03 de novembro. O espetáculo contou com a presença de diversos artistas convidados, dentre eles Baker e Moore, que como trio, arrasaram com a plateia em versões foderosíssimas de quatro clássicos do Cream: "N. S. U.", "Sitting on Top of the World", "Politician" e "Spoonful". Essas preciosidades foram registradas no álbum duplo Cities of the Heart (1994), contendo toda a apresentação de Colônia e fazendo parte da discografia de Bruce. A apresentação foi tão impactante que catalisou a continuação do trio, e assim nasceu o BBM.

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Cities of the Heart

contendo os primeiros registros do trio BBM
Em pouco tempo, Around the Next Dream já estava pronto, sendo lançado em maio de 1994. O álbum já abre com a pancada "Waiting in the Wings", chapando o ouvinte e colocando-o diretamente em 1968, mais especificamente nos estúdios de gravação do aclamado Wheels of Fire, com a diferença que empunhando as seis cordas e pisoteando o wah-wah está Gary Moore, e não Eric Clapton. É impossível para qualquer fã do Cream não sentir o aroma e as nuances de "Tales of Brave Ulysses" ou "White Room" nessa faixa, seja pelo vozeirão de Bruce ainda estar intacto, pelo baixo cavalgante de Bruce, ou por que Moore é um guitarrista de mão cheia, e a forma como ele pisoteia o wah-wah sem dó durante o solo é muito similar a Clapton em tal faixa, principalmente pelas intervenções durante as frases de Bruce.


É impossível não ouvir o início do álbum pensando nos saudosos e inquestionáveis álbuns do Cream, e quando "City of Gold" surge nas caixas de som, continuamos viajando pela discografia da banda, partindo para Fresh Cream com as clássicas linhas de "Rollin' and Tumblin'", mas o experiente trio não vive só do passado, e faz uma surpreendente balada flower power, "Where in the World", com os vocais marcantes de Moore acompanhados por violão e sintetizadores aqui, a cargo de Tommy Eyre, além da percussão de Arran Ahmun, nessa que para alguns pode ser a única baixa do LP, mas na verdade, é uma singela peça musical oitentista entre a ótima agressividade sessentista que permeia todo o disco, com destaque para o refrão tendo os vocais divididos entre a dupla Moore e Bruce.
Gary Moore, Jack Bruce e Ginger Baker
Gary Moore, Jack Bruce e Ginger Baker
Moore também assume os vocais do gigante blues "Can't Fool the Blues", ótimo para ser ouvido regado por um velho uísque quinze anos, e mostrando que Moore além de um guitarrista de mão cheia, é um vocalista excepcional. Por mais que seja irlandês de nascença, sua voz soa como dos velhos africanos negros que influenciam gerações e gerações de cantores até hoje, em uma das melhores performances vocais de sua carreira. Além disso, o solo que é elaborado para essa faixa simplesmente é uma aula de como se construir um solo de blues simples mas recheado de feeling, e certamente aqui você irá se levantar da poltrona para brincar de air guitar.


O clima acalma em outro blues, "High Cost of Loving", com a marcante presença do órgão e do piano, sem gerar comparações com o Cream, lembrando talvez um pouco da carreira solo de Stevie Ray Vaughan, mas com uma performance irretocável do trio, fechando o lado A.
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Encarte


O lado B abre com "Glory Days", uma canção muito próxima ao que Moore registrou na sua fase AOR, contando com o trompete de Morris Murphy principalmente em Run for Cover, seguida da melhor canção do disco. Só ela já vale a aquisição do álbum, principalmente pela quantidade de arrepios e lágrimas que ela irá causar em você. Trata-se da emocionante "Why Does Love (Have to Go Wrong)". Com um início que nos lembra "We're Going Wrong" (Disraeli Gears, 1967), a canção passeia em sua mente por quase nove minutos que vão da dor agonizante de Bruce implorando a sua amada por uma explicação para os problemas de relacionamento entre ambos, até o solo de Moore, onde as portas do paraíso abrem-se para receber a majestosta virada que o guitarrista faz na canção. Que momento fantástico, em uma pegada fulminante que fecha os três últimos minutos da canção e simplesmente o coloca de queixo caído diante da vitrola, dizendo "Sério que foram seres humanos quem registraram essa belezura?".


Depois do desbunde feito pelo trio em "Why Does Love (Have to Go Wrong)", sobra pouco espaço para surpresas, mas elas ainda irão surgir, começando pela leveza da tocante "Naked Flame", uma ótima ode para o descanso após a intensa orgia musical propiciada na faixa anterior. A voz de Moore enche as caixas de som no boogie de Albert King "I Wonder Why (Are You So Mean to Me?)", destacando outro belo solo de Moore. Por fim, a balada "Wring Side of Town" encerra o LP com Bruce no baixo acústico e muito sintetizador, em uma dolorida canção de despedida do trio, que saiu em uma turnê de regular sucesso pela Europa e Estados Unidos, mas acabou fechando as atividades no ano seguinte, novamente por conta das divergências entre Baker e Bruce.
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As canções do álbum
Around the Next Dream recebeu um relançamento em CD em 2002, com quatro faixas bônus: "Danger Zone", "World Keeps on Turning", 13. "Sitting on Top of the World" (Live) e "I Wonder Why (Are You So Mean to Me?)" (Live). O trio nunca mais se reuniu, virando mais uma pedra no muro de supergrupos que nasceram para o sucesso, mas naufragaram nos oceanos do desconhecimento e do descaso.


Curiosamente, nesse mesmo ano, Eric Clapton abandonou a pieguice explícita dos terríveis August e Journeyman, e finalmente encontrou-se com as raízes no belíssimo From The Cradle, mas isso é papo para outra rodada de ceva.


PS: Duvido também que From the Cradle fique entre os dez mais ..
.
b Back
Contra-capa de Around the Next Dream

Track list 

1. Waiting in the Wings 
2. City of Gold 
3. Where in the World 
4. Can't Fool the Blues 
5. High Cost of Living 
6. Glory Days 
7. Why Does Love (Have Go Wrong) 
8. Naked Flame 
9. I Wonder Why (Are You So Mean To Me) 
10. Wrong Side of Town

terça-feira, 29 de junho de 2010

Ginger Baker's Airforce


Após o término da Blind Faith, Winwood, Baker e Rick permaneceram com uma amizade forte, mantendo ensaios e encontros regularmente. Winwood já havia decidido lançar-se em carreira solo, enquanto Baker passava a aprender sobre a cultura africana e se aprofundar em técnicas e acompanhamentos de jazz. Rick perambulava entre bares e estúdios atrás de alguns trocados, e foi o primeiro a aceitar a participação em um ambicioso projeto que Baker começa a construir em sua mente.

Durante todo o mês de novembro de 1969, Baker influenciou-se demais pelo jazz de big bands como Count Basie, Duke Ellington e Buddy Rich. Logo, formou a ideia de construir um grupo que extrapolasse a música da época, indo em novas direções totalmente diferentes aquelas da Blind Faith e do Cream, misturando jazz, rhythm & blues, folk, blues e ritmos tribais africanos.

Rick adorou a ideia, e ressaltou que a presença de Winwood seria a alma R & B que Baker estava procurando. Baker foi atrás de Winwood, que agora já estava ensaiando com Jim Capaldi e Chris Wood, em uma tentativa mascarada de volta do Traffic. Winwood relutou por alguns dias, mas ao entender o projeto e suas extensões, topou a participação.

Assim, a Blind Faith agora estava reunida, mas sem Clapton, e algumas peças ainda estavam faltando. Rick tinha o blues, Baker os ritmos e Winwood era o R & B em pessoa. Faltavam o jazz e os ritmos africanos. A saída encontrada por Baker foi voltar ao passado novamente, e chamar o cara que revelara ele ao mundo. Assim, Graham Bond (sax, órgão, piano e voz) entrou na parte jazzística, trazendo com ele o lendário baterista de jazz Phil Seamen e Harold McNair, um fantástico saxofonista eflautista jamaicano que havia participado de shows com Quincy Jones e também fez parte do quarteto de Charles Mingus, se tornando então o que Baker chamou de "a inspiração".

Mente aberta, Baker aceitou ainda a sugestão que Winwood fez para Chris Wood entrar no naipe dos metais, e assim, com Bond, Wood e McNair, formava-se um dos maiores naipes de metais da história do rock.

Para a percussão africana, Baker folheou seus contatos pelo continente, e acabou optando pelo nigeriano Remi Kabaka. Com a adição de Jeanette Jacobs aos vocais e do amigo Denny Laine (que participou da primeira formação do Moody Blues e também do grupo Balls) na guitarra e vocais, Baker fechava seu projeto, que batizou com um nome sugestivo e que traduzia o que realmente aquela multidão de pessoas eram: a Ginger Baker's Air Force.
Primeira geração da Air Force em ação
Diferente de tudo o que já havia sido feito por Baker, a Ginger Baker's Air Force foi sem dúvida nenhuma o ponto alto das realizações do baterista, mesmo com as virtudes e importantes passagens pelo Cream, Blind Faith e Graham Bond Organisation. Na Airforce, Baker expandiu seus horizontes, dominando ainda mais a bateria e também o processo de composição e conjunto.

Logo após o anúncio da criação do novo grupo em dezembro de 1969, Baker agendou duas datas para a banda se apresentar na Inglaterra durante o mês de janeiro. A princípio, a união daqueles monstros da música não passaria dessas duas apresentações, mas após o primeiro show da Airforce em Birmingham, no dia 12 de janeiro de 1970, a reação positiva tanto da imprensa quanto do público fez com que Baker começasse a viajar mais alto, tanto que o segundo show, realizado na data de 15 de janeiro, no Royal Albert Hall em Londres, foi registrado, culminando no primeiro e espetacular álbum da Air Force.
Um dos melhores álbuns ao vivo de todos os tempos
Lançado em fevereiro de 1970, Ginger Baker's Air Force registra um momento histórico na história da música. Para mim é um dos três melhores álbuns ao vivo de todos os tempos, e em seus sulcos, está toda a efervescência criada por uma maravilhosa cozinha percussiva, recheada com todo o esplendor do naipe de metais e com o talento de Winwood no órgão e vocais. Logo na primeira audição, o LP mostra todo o seu poder de vôo, fazendo com que o ouvinte delire desde o começo.

Ginger Baker's Air Force abre com "Da Da Man", onde percussão, baixo e bateria puxam o ritmo dos metais, que surgem com o tema principal. Winwood faz intervenções no órgão. Bond faz um segundo tema, acompanhado por vocalizações que cantam o nome da canção, retornando ao tema inicial e começando a sequência de solos com Winwood.

O acompanhamento latino de Baker e Seamen tem toques de metais com notas muito pesadas, enquanto Winwood viaja no órgão. O tema principal é repetido, com Laine fazendo as intervenções que indicam de quem será o próximo solo. Uma boa sequência de notas feitas por Laine, esbanjando vigor e feeling, é acompanhada pelo impecável andamento da cozinha percussiva formada por Baker, Seamen e Kabaka, que fazem uma melodia grudenta.

O tema principal surge de novo e Bond assume a ponta das intervenções, para solar fantasticamente antes de encerrar a faixa de forma primorosa, levando a segunda e última faixa do Lado A, que é "Early In The Morning".

Começando com uma percussão lenta, tipo ritmo tribal, Rick faz a melodia vocal no violino. Winwood começa a cantar em cima da melodia, acompanhado pelos vocais de Laine e Jeanette. Os metais vão dando peso a canção, e Baker solta o braço, levando a sequência de solos, a qual começa com Rick no violino, repleto de distorção e com uma ótima levada do baixo e da cozinha percussiva, lembrando Allman Brothers.

Os metais participam com bons temas de intervenção, e é a vez de Wood solar na flauta, primeiro de forma lenta, e depois, crescendo junto com o andamento da cozinha, até retornar ao tema principal. Finalmente, McNair executa seu solo de flauta, e a pauleira pega entre o naipe de metais, percussão e bateria. Os aplausos insandecidos da plateia crescem junto com o solo e a faixa encerra o lado A com o violino de Rick novamente fazendo a melodia dos vocais.

"Don't Care" abre o lado B em grande estilo, com os riffs dos metais apresentando os vocais de Jeanette e Winwood. Após alguns versos, entramos na sequência de solos, começando com Winwood no órgão, que não esbanja notas, tocando apenas longos acordes sem muita inspiração.

O riff dos metais retorna, e a pressão aumenta, com Bond, McNair e Wood fazendo uma marcação forte enquanto Winwood faz um solo magistral. Baker e Seamen estão incansáveis, travando uma batalha única contra a percussão de Kabaka, e o palco incedeia, com o órgão de Winwood defendendo seu terreno contra o ataque sonoro dos metais. Laine e Rick apenas observam, marcando o tempo para a loucura geral no palco.

McNair ganha espaço e passa a solar. Assim como Winwood, o solo no início é lento, aumentando com a sequência da canção, levando então para o solo de Wood, que entre microfonias e aplausos, manda ver com o pulmão.

O riff principal volta e percebesse que a empolgação de Baker e Seamen passa dos limites, cometendo um erro na volta do riff, mas mesmo assim, conseguem acertar o tempo e voltar a repetição da letra, encerrando a faixa com a repetição do riff principal, e o ouvinte com as pernas totalmente estrupiadas de tanto dançar com a canção.

A prova de resistência é ainda maior na faixa seguinte, uma re-edição para a clássica "Toad". Rick, Baker, Seamen e Kabaka fazem a marcação do ritmo tradicional da faixa, enquanto o trio de metais sola independentemente. Winwood e Laine passam a acompanhar o ritmo, fazendo os acordes para a aeronave levantar vôo em uma espetacular jam session comandada pelos metais, onde Kabaka destrói as mãos na sua percussão.

Baker então começa a solar na sua forma tradicional, onde de forma monstruosa usa todo o seu kit, apresentando rufadas, batidas nos pratos e bordas das caixas e tons e monstrando um domínio que poucos tem. Uma violenta sequência nos dois bumbos surge antes de variações impossíveis de serem reproduzidas, e Seamen passa a duelar com Baker.

A partir de então, os dois esgotam as possibilidades e maneiras de tocar o instrumento. Pancadas violentas nos pratos e bumbos são constantes, e o efervescente final do solo é uma pressão percussiva de tirar o fôlego. Ambos retornam com o ritmo da canção, trazendo baixo, órgão e os metais, para encerrar a faixa e o lado B com todos reproduzindo o tema principal e muito barulho, além da plateia aplaudindo e assoviando incrédula com o que acabou de ver e ouvir.

Percussão e bateria abrem "Aiko Biaye", faixa de abertura do lado C, onde Jeanette entoa o nome da canção enquanto Kabaka canta em um dialeto africano, tendo intervenções de Jeanette e Laine. Os metais fazem um determinado tema junto com o baixo, que passa a fazer a melodia dos vocais e acompanhar a letra de Kabaka, até os metais repetirem o tema inicial, com a cozinha comandando a pauleira para os solos.

Wood é o primeiro a se aventurar no sensacional andamento dos metais, que repetem o mesmo tema enquanto Wood gasta seu fôlego no sax. Laine surge solando na guitarra, e o andamento continua hipnotizando o ouvinte. McNair entra na festa, solando a la Coltrane dos tempos free-jazz, com Baker e Seamen destruindo seus kits. Os metais ganham força, e estamos à beira da loucura, até Baker avisar que é hora de voltar a realidade.

O grupo faz o tema inicial e Kabaka retorna a letra, repetindo o início da canção até começar o solo de Baker, Seamen e Kabaka. Jeanette fica repetindo o nome da canção e soltando gritos, enquanto os três fazem um longo e espetacular duelo entre bateria e percussão, que termina com batidas nos pratos e o encerramento da canção com o tema principal e muito barulho.
Compactos de Man Of Constant Sorrow
"Man Of Constant Sorrow" encerra o lado C em uma leve balada guiada pela guitarra de Laine, que também comanda os vocais na linha Bob dylan, onde Rick sola ao violino em uma canção que destoa das demais, apesar do bonito arranjo folk.

O lado D retorna a pauleira com o clássico da Blind Faith, "Do What You Like". Baker apresenta a canção e já puxa o ritmo, com os metais fazendo o riff junto do baixo. Winwood surge com a letra, e os metais fazem o riff acompanhando o órgão e o baixo. Após as primeiras frases, Winwood começa seu longo solo no órgão, enquano Jeanette repete o nome da faixa entre temas marcados dos metais e baixo.

Winwood abusa de escalas e notas características de seus solos, improvisando sobre as camadas de percussão e metais. Baker aumenta o ritmo das batidas, com os metais repetindo o tema da canção, abrindo espaço para mais um longo e monstruoso solo de Baker.

Marcando o tempo no cymbal, Baker re-monta seu kit, para então destruí-lo novamente, de uma forma totalmente diferente do que havia sido feito em "Toad". Alternando batidas nos tons e bumbos, Baker usa muito pouco da caixa, tendo como destaque a incrível sequência nos dois bumbos, enquanto com os braços quase quebra os pratos com pancadas violentíssimas.

Uma bela sequência de rufos na caixa e bumbo levanta o público, que assovia e aplaude as peripécias de Baker. O solo encerra com um espetacular ataque aos bumbos, pratos e caixa, solando com fúria e mostrando ao mundo por que nada mais nada menos que John Bonham era um de seus maiores fãs, retornando então ao ritmo da canção que encerra-se com os instrumentos fazendo muito barulho entre aplausos e assovios.
O monstro Ginger Baker

O álbum encerra com uma jam session fantástica conduzida por Rick e Baker, onde o baterista apresenta primeiramente a banda e puxa o ritmo do que foi chamado "Doin' It". Rick faz a marcação junto com Baker, para Laine e Bond executar pequenos solos. Winwood faz um tema específico, e Wood passa a solar junto com os demais, em um clima totalmente final de festa.

O baixo faz a base junto com os metais, enquanto Wood e Winwood solam livremente. A doideira pega na cozinha percussiva, com sequências fantásticas de caixa, prato e viradas nos tons que aumentam o ritmo da improvisação, com Wood solando muito, encerrando a faixa com a repetição do tema de "Do What You Like" e saindo ovacionados!

A apresentação no RAH causou estardalhaços tanto na Inglaterra quanto nos Estados Unidos. A imprensa exaltou a força sonora do grupo e começou a especular sobre o andamento da carreira do novo bibelo da música britânica. Ginger Baker's Air Force acabou sendo lançado mesmo com a banda tendo feito apenas dois shows, alcançando a posição 33 nos EUA e 37 na Inglaterra.

Porém, o estrondoso e meteórico sucesso da Air Force barrou dentro do grupo, provando que nem sempre muitas estrelas formam uma constelação. Winwood não estava mais afim de viver no estrelato, e acabou saindo do projeto logo após o lançamento do primeiro álbum, voltando para a sua carreira solo. Para o seu lugar, o baterista e pianista Alan White (Plastic Ono Band, Yes) foi chamado, formando então um trio de bateristas.

Wood também partiu, e foi trabalhar com Winwood, trazendo o Traffic das cinzas junto com Jim Capaldi e lançando o fabuloso LP John Barleycorn Must Die (1970), e então, Colin Gibson foi chamado para o saxofone. Os vocais femininos também sofreram mudanças, com Jeanette dividindo-os com a namorada de Bond, Diane Stewart.

Essa formação durou apenas dois meses, de março a maio de 1970, e fez exatas 13 apresentações. O grupo ainda possuia uma data marcada para o Madison Square Garden em 20 de junho, mas acabou cancelando por problemas internos.
O poderoso naipe de metais da Air Force
De fato, Rick não estava mais entusiasmado com o projeto, e White foi participar do grupo de Yoko Ono. Assim, Baker reformulou novamente a Air Force, tendo agora como braço direito o velho amigo Bond. Ele foi o responsável por chamar Steve Gregory (sax, flauta) e Bud Beadle (sax) para re-agrupar o naipe de metais, que havia perdido Wood e McNair. Para os teclados, Bond chamou Ken Craddok, e lançou a namorada para o posto de primeira voz do grupo, dividindo-as com Aliki Ashman, contratada especial de Baker, o qual também recrutou o novo percussionista, o ganês Neemoi "Speedy" Acquaye.
A gigante segunda formação da Airforce

Com a nova formação tendo 11 membros, Baker foi para os estúdios, sendo um bandleader no estilo de Count Basie e Buddy Rich. Vez por outra, Rick e Layne apareciam no local e participavam das gravações. De junho a outubro, muito material foi realizado, e depois de uma seleção rigorosa, acabou sendo agrupadas as canções que fariam parte do segundo álbum da Air Force.
O segundo e último álbum da Airforce
Ginger Baker's Air Force 2 foi lançado em 1970, e abre com a cover para "Let Me Ride", de Roebuck Staple, com Rick no baixo e Laine nas guitarras. Os metais apresentam a canção trazendo a voz de Bond acompanhada pelos vocais femininos e um delicioso andamento feito por teclados, piano, guitarra e baixo, além claro dos metais e de Baker. Bond faz um interessante solo no órgão, com Laine solando ao fundo, em uma encantadora sobreposição de sons.

O clássico do Cream "Sweet Wine" vem a seguir, também com Rick no baixo e tendo Rouki Dzidzornu na percussão. A flauta faz a melodia do refrão acompanhada pelo tímpano, e então Baker surge, com flauta e vozes fazendo o tradicional riff da canção. Aliki comanda os vocais acompanhada por Diane e Catherine, em uma poderosa faixa que conta com um enlouquecido solo de sax feito por Bond, com diversas intervenções de flauta e guitarra.

Gibsons é o responsável pelo baixo em "Do U No Hu Yor Phrenz R?", a qual começa com a percussão de Rouki, tendo nos vocais Aliki, Diane, Bond e Baker, em uma leve jazz-waltz que lembra canções de bandas como The Band, com um belo solo de Bond.

O lado A encerra com a linda "We Free Kings", onde a percussão de Rouki é seguida pela bateria. Rick marca o ritmo no baixo enquanto flautas e teclados fazem o bonito tema da canção. Aliki e Diane fazem vocalizações acompanhando os metais, e então Aliki começa a cantar sozinha, com Diane acompanhando-a na frase final da estrofe.

Beadle faz o primeiro solo, enquanto Aliki e Diane fazem as vocalizações. Os metais trazem o tema para a segunda estrofe, e é a vez de Gregory solar acompanhado pelas vocalizações femininas. Mais uma vez, o tema dos metais leva a terceira estrofe da letra, com Bond assumindo a posição de destaque nos solos, mandando ver em um alucinante improviso, que leva ao final da canção com a repetição do tema princcipal.
A dupla feminina Aliki e Diane
O lado B abre com a balada "I Don't Want To Go On Without You", de Bert Berns e Jerry Wexler, onde flauta e sax fazem a melodia da letra, que é cantada por Laine e tem a participação de Aliki, Diane e Catherine, e assim como no álbum anterior, é uma faixa que passa despercebida, apesar dos bonitos temas de flauta.

Porém "Toady" recupera o alto nível. Baker colocou letra em cima de mais um clássico do Cream, que aqui começa com piano, baixo e flauta sendo acompanhados por Baker enquanto fazem improvisações. Aliki e Diane começam a cantar sobre a cadência criada pela bateria e pela percussão. Gregory faz o solo acompanhado pela viajante sessão instrumental feita por metais, piano, baixo, flauta e percussão.

A doideira pega fogo, com Bond e Gregory solando juntos, sobrepondo-se de forma espantosa e dando uma aula de improvisação, até os vocais retornar. Após a repetição do nome da canção, começa o solo de Baker e Neemo, que desta vez não vou comentar os detalhes, apenas apague a luz, deite e ouça cada segundo. Baker retorna o ritmo inicial, e os metais trazem o tema para a repetição da letra e o encerramento de outro grande clássico.

"12 gates Of The City", composta por Bond, trás o corpulento saxofonista e seu vozeirão acompanhado pelos vocais femininos. Destaque para o arranjo vocal e para a participação dos metais, tendo todo o tempero que somente Bond conseguia dar as suas canções.

"Let Me Ride", "Sweet Wine" e "I Don't Want To Go On Without You" foram gravadas em maio, "12 Gates Of The City" em setembro e "Do U No Hu Yor Ohrenz R?", "We Free Kings" e "Toady" em outubro, todas em 1970. Ginger Baker's Air Force 2 foi lançado com outras músicas na Alemanha. A ordem do vinil alemão é "We Free Kings", "Caribbean Soup", "Sunshine Of Your Love" (onde os metais dão uma aula de como re-criar um clássico), "You Wouldn't Believe It", "You Look Like You Could Use A Rest", "Sweet Wine", "I Don't Want To Go On Without You" e "Let Me Ride".
Show de despedida da Airforce
Após o lançamento do segundo álbum, os problemas começaram a aparecer. Mesmo sendo um bom disco, não atingiu vendagens expressivas, e isso tornava o ambiente complicado, afinal, o dinheiro que entrava era dividido entre onze pessoas. Big bands como a de Count Basie e Duke Ellington possuiam patrocínios para trabalhar e também agentes que mantinham o dinheiro certo para cada instrumentista, além de que o dinheiro recebido pelo "catálogo patenteado" de cada um deles era muito bom, mas isso não ocorria na Air Force.

A turnê de divulgação do segundo álbum foi agendada para grandes locais, com as imprensas britânica e americana taxando o grupo como sendo um Blind Faith reformulado. Porém, a venda dos ingressos foram muito baixas, e assim, o grupo encerrou as atividades em março de 1971, tendo realizado apenas 41 shows em dois anos de uma carreira curta.

Baker foi trabalhar com músicos africanos no projeto Stratovarius, tocando com Guy Warren (bateria), Fela Ransome-Kuti (órgão, voz, percussão), Bobby Gass (baixo), Sandra Danielle (voz) e Alhaji Jk Brimar (percussão) e lançando o álbum Stratovarius (1972). Baker tocou no disco do baterista Graeme Edge (ex-Moody Blues) chamado Kick Off Your Muddy Boot (1974). Formou a Baker Gurvitz Army, com quem lançou 5 LPs, e ainda fez parte de uma das formações da Hawkind.

O baterista ainda participou de vários outros grupos, como o Wings (tocando no álbum Band On The Run), PIL (onde gravou o álbum Album), Nutters, John Mizarolli e Master Of Reality, além de ter lançado vários álbuns solo e também feito parte da banda solo de Jack Bruce, com quem em 1994, formou, ao lado de Gary Moore, o BBM, que durou pouco tempo e gravou apenas um disco.
Junção dos dois álbuns em um único CD
Voltando a Air Force, no final dos anos 80, a Polygram relançou o primeiro LP em cd, e posteriormente o segundo álbum também em cd. No ano de 1998, ambos foram condensados em um cd duplo chamado Do What You Like, e que trás ainda raridades de estúdio com o projeto Stratovarius, sendo uma boa pedida para os bolhas de plantão.

A Ginger Baker's Air Force lançou ao mundo um dos melhores álbuns já gravados ao vivo e outro que é base para as misturas entre música africana, jazz e rock, e infelizmente, apesar de todo o talento atribuído para o grupo, hoje são lembrados mais como sendo um dos super-grupos dos anos 70 que não deu certo.
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