Mostrando postagens com marcador Cinco Músicas Para Conhecer. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Cinco Músicas Para Conhecer. Mostrar todas as postagens

quinta-feira, 13 de março de 2025

Cinco Músicas Para Conhecer: Gal Costa E O Frevo




A baiana Gal Costa foi uma das grandes vozes do nosso país. Com uma carreira muito ampla, de mais de 55 anos, ela enveredou por diversos estilos, destacando-se desde o rock até o frevo. Foi nesse último que Gal deixou sua marca em canções que alavancaram seu nome entre a população brasileira, e por que não, mundial. A "gaúcha" (apelido dado pelo conterrâneo Gil) registrou diversas canções nesse estilo, e hoje, em homenagem ao Carnaval, e também à própria Gal, trago aqui cinco dos frevos (conhecidos e raridades) que estão na vasta discografia de Gracinha.

Ney Matogrosso, Guilherme Araújo e Gal Costa no Carnaval de 1978

Deixa Sangrar- Le-gal [1971]

A faixa de Caetano Veloso é um frevo animado, tendo como diferencial a guitarra lisérgica de Lanny Gordin acompanhando o vocal suave da baiana com intervenções maluquetes, e que lembra muito o que foi apresentado em canções de Caetano como "Atrás Do Trio Elétrico" e "A Filha da Chiquita Bacana". Para um disco repleto de rock 'n' roll, é surpreendente a presença de "Deixa Sangrar" em Le-gal, ainda mais entre o rockaço de "Hotel das Estrelas" e o samba-blues lindaço de "The Archaic Lonely Star Blues". Além disso, foi lado B de "Você Não Entende Nada", faixa que entrou depois em uma nova edição de Le-gal devido ao grande sucesso da bolachinha. Tem a importância história de ser a primeira incursão de Gal pelo frevo, e está aqui também por que é uma canção bem bonitinha.

Estamos Aí - 7" [1973]

Essa preciosidade original de Edil Pacheco e Paulo Diniz veio ao mundo em uma raríssima bolachinha de 1973, com "Barato Modesto" no lado B. Um frevo levado pela guitarra e por uma bela melodia vocal de Gal, acompanhada por uma flautinha manhosa e claro, a bateria conduzindo tudo com muita animação. A crítica letra da canção diz "Estamos aí em toda cidade pagando em suor a felicidade ... Vou sair de palhaço, você de careta a verdade deixei na gaveta" consegue se camuflar entre o ritmo festivo da canção, e gruda na cabeça do ouvinte. Boa faixa!

Sem Grilos - 7" [1974]

Outra raridade que saiu em um compacto simples em 1974, e exalta o frevo de forma descarada. "Vamos curtir o frevo diz por onde ir, vamos pelo rumo bom que o frevo seguir" e destacando como o frevo foi do Recife para a Bahia, virando o trio elétrico em Salvador. Destacando os vocais agudos de Gal e os teclados de Perinho Albuquerque, é uma canção simples, com uma letra mais simples ainda (mais um frevo na conta de Caetano, ao lado de Moacyr Albuquerque) e muito bom para curtir com os indicadores apontados para o céu e uma garrafa de samba (a famosa mistura de vodca ou cachaça com Coca-Cola) nas mãos, curtindo o Carnaval!


Gal Costa no Carnaval do Rio em 1994

Balancê - Tropical [1979]

Esta regravação de Braguinha e Alberto Ribeiro, lançada originalmente por Carmem Miranda em 1936, se tornou o maior sucesso dos carnavais no início dos anos 80, e responsável pela primeira venda de mais de um milhão de discos de Gal (no caso, o álbum Tropical, de 1979). Alguns consideram ela uma marchinha de carnaval, mas creio que o arranjo feito para a interpretação de Gal se aproxima muito mais de um frevo comandado pelo saxofone insinuante de Juarez Araujo. Na letra simplória de amor, o folião quer se divertir ao lado de uma morena que o despreza. A simplicidade da canção, e o grudento refrão, destacam-se junto dos belos agudos de Gal. Ainda hoje, muitos "veteranos" de carnavais sacodem-se ao som de um dos maiores hits da carreira da baiana. Como curiosidade, a canção não saiu no EP promocional de Tropical, e tão pouco em compacto simples aqui no Brasil, mas foi lançada em compacto de 7" no Perú, onde foi igualmente um grande sucesso, e foi tema musical da história Currupaco Papaco, lançada na Série Coleção Taba em 1984, onde a canção é a preferida do papagaio que é o personagem central da mesma. 

70 Neles - Mexicoração [1986]

Em 1986, a gravadora Som Livre soltou no mercado a coletânea Mexicoração, com canções de incentivo para a seleção canarinho rumo a Copa do Mundo do México. Entre artistas como Luiz Ayrão, Os Incríveis, Coral do Joab e até o lateral Júnior (Flamengo), quem se destacou mesmo foi Gal com uma revisão para "70 Neles". Composta por Antonio Edgard Gianullo*, Vicente De Paula Salvia e com arranjos de Lincoln Olivetti,  a faixa enaltece o êxito da seleção brasileira na Copa de 1970, também no México, com um refrão grudento que tenta unir os torcedores brasileiros. A canção perambula entre o frevo dos metais e a marchinha de carnaval, mas com muitos sintetizadores. A faixa na época fez tanto sucesso que saiu em um compacto exclusivo em ambos os lados da bolachinha, mas com o fracasso em campo do time de Zico, Sócrates, Falcão, Careca, etc ... acabou ficando obscurecida na discografia de Gal.

quarta-feira, 25 de dezembro de 2024

Cinco Músicas Para Conhecer: Homenagens À Rita Lee



No dia 31 de dezembro de 1947, nascia Rita Lee. A Rainha do Rock nacional, falecida em 8 de maio de 2023, vítima de câncer, teve uma carreira espetacular, que conquistou fãs não somente anônimos como este que vos escreve, mas também nomes importantes da cena musical nacional. Vários foram os artistas que prestaram sua homenagem à Tia Rita, a "mais bela tradução de São Paulo" na visão de Caetano Veloso, e desta forma, recolho aqui cinco destas homenagens.

"Rita Lee" - Mutantes [1969] (Mutantes)

A primeira banda que homenageou Rita foi o seu próprio grupo, logo no segundo álbum da banda. A faixa, intitulada simplesmente "Rita Lee", é mais uma das grandes amostras do deboche escrachado que o trio Rita, Sergio Dias e Arnaldo Baptista fazia no início de sua carreira. Rita surge como uma menina inocente de 20 anos, infeliz, que sonha em ser feliz e encontrar seu amor, uma letra infantil para uma música infantil, um rock comandado pelo piano de Arnaldo e os vocais de Serginho, mas engraçada e que faz (fez) toda a aura mutante ser enaltecida através dos anos. O deboche vocal e musical vai crescendo junto com a história "comovente" de Rita, que ao final, acaba encontrando o seu par, entre muitos beijos, risadas de felicidade e chamegos, onde outro destaque é o solo de Arnaldo no órgão. Grande faixa dessa fase inicial do trio, que também saiu como lado B num raro compacto promocional da Polydor, tendo "Banho de Lua" no lado A. 

"Rita Jeep" - Negro É Lindo  [1971] (Jorge Ben)

Esta homenagem de Jorge Ben (que havia sido revisitado pelos Mutantes com "A Minha Menina", no primeiro álbum da banda) trata Rita como uma mulher forte, terrivelmente feminina, a qual faz Jorge sentir-se fraco e pedir-lhe para fazer um trato de comunhão de bens. Aprofundando-se mais na letra simples de Jorge (como a maioria de suas músicas), é um atestado de defesa da força da mulher, em plenos anos 70, e que tem no nome de Rita a personagem principal, com ela representando todas as mulheres fortes de nosso país, e a referência do Jeep é uma homenagem a Charles, o Jeep Willys que era de Rita Lee, a qual se definia como uma jeepeira. Em suas próprias palavras para um podcast da Rádio 89 FM, em 2021, "Eu tinha uma afinidade tão grande com o Jeep, que eu via os outros carros eu achava os outros carros horríveis, sem estilo". Musicalmente, é mais um samba-rock de Jorge, com apenas duas mudanças de acordes (C e F na primeira parte, A e D na segunda), destacando uma gatinha manhosa que acompanha o embalo do violão e a voz manhosa de Jorge, mas que embala a casa facilmente, como toda boa faixa do carioca. Saiu como lado A de um compacto (com "Negro É Lindo" no lado B) e abre o álbum Negro É Lindo de 1971. 

"Quando" - Doces Bárbaros [1976] (Doces Bárbaros)

Um dos maiores projetos da música popular brasileira, os Doces Bárbaros uniu nada mais nada menos que Gilberto Gil, Gal Costa, Caetano Veloso e Maria Bethânia, em uma turnê repleta de complicações, mas que acabou resultando em um álbum duplo ao vivo sensacional, assim como um compacto de quatro canções. No show, uma das faixas traz seu apoio para Rita, "Quando", interpretada por Gil e os backing vocals de Gal. Explicitamente, a música começa citando o nome da artista, seguido pelos "tiu, tiu, ru, ru, ru" e riffs que Rita apresentou diversas vezes em sua carreira, passando por apenas mais uma breve frase, citando que "quando a governanta der o bode pode quer que eu quero estar com você, super estar com você", em alusões para as canções "Superstafa" e "Sucesso Aqui Vou Eu", da própria Rita, e a citação para Mônica Lisboa, a empresária que acabou, supostamente, sendo a responsável pelo fim da Tutti Frutti. A segunda parte da canção  exalta uma profecia onde uma mulher lê, na bola de cristal, "uma menina loira que virá de uma cidade industrial, de bicicleta, de bermuda, mutante, bonita, solta, decidida, cheia de vida etc e tal, cantando o yê, yê, yê", ou seja, a própria Rita cuspida e escarrada. Uma faixa rock 'n' roll direta, na linha Tutti Frutti, e que segundo Gil, "Rita era a nossa musa do desvio, do transvio". No ano seguinte, Gil e Rita saíram na turnê Refestança, e "Quando" acabou nunca mais sendo interpretada.

"Rita Lee" - Ponto & Vírgula  [1980] (Ponto & Vírgula)

Este grupo conheci por aqueles acasos da vida. Vasculhando um acervo de uma rádio, na qual fui levado justamente para pegar os discos que quisesse, encontrei este compacto e achei curioso que nunca tinha ouvido falar no tal grupo. Ao ler as informações na contra-capa, me deparo com um certo T. Maia na percussão, e uma faixa intitulada "Rita Lee". Peguei a bolachinha e para minha surpresa, é justamente Tim Maia quem está na percussão do mesmo, o qual tem justamente em "Rita Lee" sua melhor faixa. A faixa é um belo rock no estilo da Tutti Frutti, trazendo várias referências inclusive as canções de Rita ("A Minha Menina", "Arrombou A Festa", "Ovelha Negra" entre outros), e citando como o cantor ficou influenciado pelas performances de Rita, destacando os bons solos de guitarra de Riba. A dupla Ponto E Vírgula (Tukley e Marcelo Fasolo) lançou alguns compactos nos anos 70, tendo sido os responsáveis por criarem a frase "money que é good nóis não have", na faixa "Laika nóis Laika", frase que ficou eternizada posteriormente pelos Mamonas Assassinas, e deixou também eternizada esta justa homenagem para a Rainha do Rock.

"A Tal" - Ivan Lins [1986] (Ivan Lins)

Esta faixa, escrita por Ivan em parceria com Vitor Martins, está no álbum de 1986 do cantor, e tem em seus versos a declaração de amor dos artistas por sua musa, em frases como “Sempre provocante / quente, picante, tem sal / Sempre irreverente, sim / descaradamente sensual”. Um rock pesado, com a quadrada bateria dos anos 80, e o comando da guitarra de Heitor T. P. e importante participação dos instrumentos de sopro de Guilherme Dias Gomes. Apesar de não ser citada diretamente, a descrição acaba que é de Rita que Ivan fala na terceira estrofe, "Negra, sempre uma ovelha negra como desejara que ia ser ...". O próprio Ivan, quando soube do falecimento de Rita, prestou homenagem à Rita em seu Facebook/Twitter, dizendo que "Esse roquezinho foi feito em homenagem a ela em 1986, por mim e pelo Vitor. Sempre tivemos forte admiração por ela, grande mulher. Polêmica, inteligente e libertária, sempre foi uma voz essencial na defesa das mulheres". 


domingo, 9 de maio de 2021

Cinco Múscas Para Conhecer: As Homenagens De Bono Para A Mãe



Amanhã, Paul "Bono" Hewson completa 61 anos. Vocalista do U2, o irlandês também é o responsável pela maioria das letras que os caras gravaram, as quais vão desde temas religiosos e cunhos sociais, até relacionamentos familiares. Bono escreveu muitas músicas em homenagem a sua mãe, Iris, a qual faleceu em 10 de setembro de 1974, quando ele tinha apenas 14 anos, vítima de um aneurisma cerebral que ocorreu durante o velório do avô de Bono, Alec Rankin.

A tragédia familiar ocorreu após a festa de cinquenta anos de casamento dos avós de Bono, e mudou totalmente sua vida, abandonando os estudos e dedicando-se apenas a duas grandes paixões: música e garotas. Foi o pontapé inicial para ele começar sua carreira como artista, infelizmente, de forma tão dura, e por isso, ele faz questão de vez por outra homenagear sua mãe em canções. Então, como uma homenagem ao aniversariante Bono, e também à todas mães nesse dia das mães, apresento aqui cinco canções que Bono fez para Iris.

"I Will Follow" - Boy [1980]

Primeira canção do primeiro álbum da banda, e primeiro vídeo clipe promocional dos meninos, "I Will Follow" é uma canção que narra sobre o amor incondicional das mães pelos filhos, que seguirá cuidando dos mesmos onde quer que eles estejam. Uma letra simples, mas que sobre uma base de um riff de apenas três notas, criado pelo próprio Bono em um momento, segundo ele, de raiva, a faixa é empolgante e energética. O refrão grudento é perfeito para levantar plateias, e certamente, é um dos grandes clássicos da banda, tanto que é a única a aparecer em todas as turnês do U2. Foi o segundo single de Boy, tendo no lado B "Boy-Girl" (nas versões britânicas, australiana e neo-zelandesas, imagem do texto), "Out of Control" (versões americana e canadense) e "Gloria" (versão holandesa)

"Tomorrow" - October [1981]

Essa triste canção lançada no segundo disco da banda, October, apresenta a dor de Bono quando do funeral de sua mãe. A letra reflete sobre o fato de não termos mais nosso ente querido no dia seguinte, e ainda, para um adolescente como Bono, a saudade até de momentos onde a repreensão da mãe surgia. A música surge com o triste som das Uilleann Pipes (gaitas de foile irlandesas) de Vincent Kilduff, deixando apenas acordes de sintetizadores para Bono soltar sua comovente voz. A cada "Won't you come back tomorrow" (Você não voltará amanhã) cantado por Bono, sentimos uma pontada de dor no coração. Quando ele canta "I want you, I really want you", é impossível não segurar as lágrimas, enquanto a gaita de foile perambula pela voz de Bono, até a entrada magnífica da banda. Um grande momento de inspiração e despedida de Bono, e uma das grandes músicas do U2 nesse período inicial.

“Lemon” - Zooropa [1993]

Particularmente uma das melhores canções do U2, "Lemon" foi inspirada em um vídeo em Super-8 que Bono viu de sua mãe. Para ele, era muito estranho encontrar um vídeo de sua mãe em uma idade mais nova do que ele, e como a tecnologia dos vídeos podem preservar as memórias das pessoas. No vídeo, Iris está como dama de honra, em vestido verde-limão, que acabou batizando a canção. "Lemon" flerta com a disco music, e Bono usa e abusa de falsetes para cantá-la. O ritmo sensual da canção em nada sugere as doloridas lembranças que "irão fazer chorar", mas sim te colocar para dançar pela casa sem nenhuma vergonha. Baita música, uma das melhores da banda em minha opinião, presente em Zooropa e lançada como single em diversos formatos.

Bono e Íris

“Mofo” - Pop [1997]

Uma canção que nasceu sobre uma linha de blues, "Mofo" é o emprego do melhor do techno junto ao rock dos irlandeses, e traz claramente as dores que Bono sentiu pela perda da mãe quando jovem. Frases como "Conforte-me mãe", "Eu ainda sou seu filho", "Você partiu e me fez alguém" deixam explícito o quanto o vocalista tem dificuldades em entender e aceitar a morte de Iris. A letra é muito franca, mostrando um homem adulto que sente a falta do zelo materno. O ritmo dançante, os vocais sussurrados, as viajantes linhas de sintetizadores de The Edge e uma produção mais que perfeita de Flood fazem destas umas melhores canções de Pop, tanto que ela se tornou responsável por abrir os shows daquela turnê. "Mofo" também saiu em single, recebendo diversos remixes e se tornando figurinha carimbada em muitas festas de música eletrônica pelo mundo, apesar da dolorida letra. 


“Iris (Hold Me Close)” - Songs of Innocence [2014]

Esta bela canção narra novamente sobre a dor que Bono sente pela ausência da mãe, e como essa perda acabou moldando sua trajetória como home. Iris é a "estrela que se foi há muito tempo" e que ele "irá encontrar novamente". É uma linda dedicação de amor e saudades de sua mãe, levada por um clima que lembra muito canções da fase The Joshua Tree ou Unforgettable Fire, através do baixo marcante de Adam Clayton e das linhas exuberantes da guitarra de The Edge. Saiu apenas em Songs of Innocence, sendo que foi apresentada durante a turnê de promoção do mesmo, inclusive com a mãe de Bono aparecendo nos telões em um vídeo caseiro. 

segunda-feira, 2 de novembro de 2020

Cinco Músicas Para Conheer: As Baladas de Madonna

A Rainha do Pop eternizou-se por agitar as casas noturnas com faixas empolgantes, danças sensuais, ritmos marcados, entre outros. Porém, Madonna também produziu inúmeras canções suaves, ou simplesmente, baladas perfeitas para se aninhar e apenas curtir enquanto o som está nas caixas de som. Há muitas outras baladas de Madonna, mas resolvi escolher aquelas que estão presentes nos lançamentos dos dez primeiros anos de sua carreira, sendo que três delas estão presentes na bela coletânea de baladas Something To Remember, que completa hoje 25 anos. Por isso, nada mais justo do que revisitar algumas das mais belas canções de Madonna.

"Love Don't Live Here Anymore" - Like A Virgin[1984]

Canção totalmente a parte na vasta discografia da loira, já que é um dos raros covers de Madonna, ela surge com sintetizadores e arranjos orquestrais para arrebatar corações. Madonna rasga sua voz, sofrendo aos microfones e fazendo os machões babarem. O arranjo vocal que faz inserções junto a voz de Madonna, a bela harmonia da orquestração, com um solo divino, o ritmo suave que a canção vai ganhando, estourando em uma levada gostosa através do ritmo da bateria de Tony Thompson e da guitarra  de Nile Rodgers, boa para se empernar, tudo perfeito para mostrar que Madonna também é uma ótima vocalista, permitindo explorar suas cordas vocais de forma única, com alguns técnicas do soul, falsetes e agudos que não eram comuns para o seu início de carreira, e levando-a às lágrimas no meio da gravaço. Tudo registrado em Like A Virgin. A canção original de Miles Gregory, e gravada primeiramente por Rose Royce, saiu também em um raro compacto promocional na África do Sul (!), bem como no Japão, com "Over and Over" no lado B, e recebeu uma nova adaptação de Madonna em 1995, para o álbum Something to Remember, lançada também como single.

"Live To Tell" - True Blue [1986]

Essa é a minha canção favorita da carreira da loira. Seu clima depressivo, sobrecarregado pelos sintetizadores, torna a faixa quase que progressiva, e a voz de Madonna está linda aqui. Me apaixonei perdidamente pela canção desde a primeira audição. Os sintetizadores fazem a cama para Madonna cantar sua letra sobre traições e lembranças tristes de sua infância, inspirada no relacionamento fracassado de seus pais. O que só atesta que Madonna é um artista completa. Uma parceria fantástica com Patrick Leonard, responsável pela criação da parte instrumental de "Live to Tell", com os sintetizadores sendo uma atração a parte. O clipe, com fundo negro, apresentou o visual Monroe de Madonna para o mundo, e seu hipnotizante olhar, bem como trechos do filme At Close Range, para qual a canção serviu como trilha sonora. Filme este que conta com a participação do então marido de Madonna, Sean Penn.  É um dos singles mais bem sucedidos de Madonna, recebendo diversos lançamentos distintos, alguns em versões picture ou com pôster acompanhando. Está no álbum True Blue, além de coletâneas e discos ao vivo.

Junto ao túmulo da mãe, durante "Promise to Try"




"Promise to Try" - Like a Prayer [1989]

Essa linda faixa é interpretada de forma emocionante por uma Madonna que estava com a voz esplêndida. Acompanhada apenas do piano de Patrick Leonard e uma tímida orquestração, Madonna arrepia a espinha cantando suave, quase sussurrando, como se alguém estivesse lhe falando, pedindo para ter força com a perda da mãe (para qual o álbum onde "Promise to Try" está registrada, Like A Prayer, é dedicada). As palavras são tocantes, e Madonna dá mais gravidade e sentimento à elas com um talento inquestionável. Tudo ganha ainda mais força ao assistir Truth Or Dare (no Brasil batizado de Na Cama com Madonna), quando tendo a canção ao fundo, Madonna leva flores ao túmulo de sua mãe. Like A Prayer ainda conta com mais duas lindas baladas, "Oh Father" e "Spanish Eyes", mas a interpretação de Madonna em "Promise to Try" é o que a faz ser representante de Like a Prayer aqui.

"Something To Remeber" - I'm Breathless (Music From And Inspired By The Film Dick Tracy) [1990]

Interpretando Breathless Mahoney no filme Dick Tracy, Madonna mostrou ao mundo uma faceta diferente deu jeito atriz, e na trilha sonora, do seu jeito de cantar. Com inspiração no jazz e na Broadway, a loira desagradou aos fãs mais xiitas de seu pop, mas conquistou outros com faixas como "Something to Remember". Essa linda balada tem uma letra que traz o lado emocional de Breathless, sofrendo por um homem que mostrou que a vida dela era muito mais do que ela podia imaginar, mesmo sem ter tido uma relação com ele. Segundo Madonna, a faixa foi inspirada no fim do seu casamento com Sean Penn. O instrumental conduzido magistralmente pelo piano elétrico, e uma tímida marcação percussiva, é perfeito para Madonna explorar seu lado jazzístico na voz, fazendo uma melodia muito bela. A virada da canção, na segunda metade, é de arrepiar, com seu grandioso arranjo orquestral e a presença da bateria. A balada é tão importante para a carreira de Madonna que foi usada como título na compilação de baladas citada no início do texto. 

"Rain" - Erotica [1992]

Outra grande composição de Madonna, dessa vez ao lado de Shep Pettibone, Predominada por sintetizadores e com acompanhamento drum 'n' bass, que por vezes lembra algo de Enya, ou até mesmo Peter Gabriel, Madonna solta sua voz falando sobre as semelhanças entre a chuva e o amor. Enquanto a chuva limpa a sujeira, o amor lava as tristezas do passado, abrindo um novo caminho para a pessoa viver seu presente ao lado de um novo parceiro. No vídeo, Madonna revisita Edith Piaf, com cabelos curtos e pintados de preto. Outra característica importante do vídeo é que é o primeiro de Madonna sem a pinta no rosto que marcou o início da carreira. Curiosamente, essa baladaça está no álbum mais sexy da loira, Erotica, além de ter sido lançado em single em diferentes edições, com a versão picture sendo apresentada aqui.

Interpretando "Rain" na turnê The Girlie Show

sábado, 19 de setembro de 2020

Cinco Músicas Para Conhecer: Performances Inacreditáveis na Bateria



A bateria é com certeza um dos instrumentos mais importantes no mundo do rock. Além de ditar o ritmo das canções, o instrumento também serve para que muitos artistas utilizem o seu baterista como uma forma de "descanso", deixando-o a vontade para solar enquanto curte umas biritas ou simplesmente relaxam durante a apresentação. Tanto que Jimmy Page do Led Zeppelin, por exemplo, utilizava os solos de John Bonham para "brincar" com algumas groupies nos camarins. Hoje, 20 de setembro, Dia do Baterista, trago Cinco Performances de bateria de cair o queixo. Nelas, o baterista não só faz a condução, mas também cria ritmos mirabolantes, ou simplesmente, inexplicáveis até mesmo para profissionais da área. E se lembrar de mais alguma, ou discordar das aqui mencionadas, os comentários estão à disposição.

"Close to the Edge" - 
Close to the Edge  [1972] (Yes)

Aqui é um caso típico onde técnica unida com perfeição e competência geram algo inacreditável. A suíte do álbum homônimo, lançada pelo Yes em 1972, tem várias partes que atraem o ouvinte. Mas ao se concentrar na performance de Bill Bruford, fica aquela pulga na orelha de "da onde ele tirou isso?". Na primeira metade da suíte, Bruford inventa uma forma de tocar totalmente em contra-tempo, tirando completamente do sério aquela mente acostumada a uma batida 2 x 4 comum, e faz o air drummer passar um constrangimento enorme por não acertar UMA batida se quer. O mais curioso é que Bruford faz uma série de maluquices e viradas em contra-tempos totalmente aleatórios, mas sem nunca perder o ritmo para o solo de Steve Howe (introdução), ou os vocais bem encaixados de Jon Anderson e Chris Squire. Na sequência final, é outra série de delírios baterísticos que nem Freud conseguiria explicar, batidas totalmente desencaixadas, mas que se encaixam perfeitamente para o grandioso solo de Wakeman. Coisa de gênio. Ok, na parte do "I Get Up, I Get Down" ele não participa, mas isso é pouco perante tudo o que ele faz antes e depois desse trecho. Tanto que ao vivo, Alan White jamais conseguiu reproduzir uma batida correta, e preferiu dar outro andamento para a música. Uma das melhores canções de todos os tempos só poderia ser tão grandiosa graças a um dos maiores bateras da história, infelizmente aposentado.

"Karn Evil 9" - Brain Salad Surgery [1973] (Emerson Lake & Palmer)

Uma das obras mais impressionantes lançadas pelo trio inglês, "Karn Evil 9" é um tour de force para colocar qualquer principiante de quatro. Dividida em três partes (Impressions) e concentrando-se apenas no que Carl Palmer faz com seu kit, o homem demole tudo o que vê pela frente sem piedade. A "1st Impression" apresenta um Palmer um tanto quanto contido, fazendo algumas batidas comuns, viradas igualmente comuns, nada demais durante boa parte do trecho que encerra o lado A. Só que na reta final do lado A, ele começa a soltar o braço, com um ritmo descomunal e uma série de viradas, marcações nos pratos, cowbells, entre outras, que já levam o batera a se destacar sobre a tecladeira de Keith Emerson. Então, o homem consagra o solo de guitarra de Greg Lake com um vigor descomunal, e quando colocamos no lado B, a frase "Welcome back my friends to the show that never ends ..." ressoa nas caixas de som para nos apresentar um show a parte de Palmer. O pouco que ele fez no lado A é ampliado no Lado B. A "1st Impression" surge como uma locomotiva sem freio, derrubando o que vem pela frente em um ritmo dilacerante, conduzido pelas batidas inacreditáveis de Carl Palmer. Claro que Emerson e Lake fazem seu trabalho muito bem, mas toda a condução rítmica que Palmer entrega para o solo de Emerson é para se escabelar de tanto sacudir a cabeça. Há um pequeno trecho para Palmer exibir-se com um solo destruidor, e cara, aqui o bicho pega. Velocidade absurda, batidas incontroláveis, cansa só de ouvir, e isso é levado até o encerramento da "1st Impression". Na "2nd Impression", Palmer dá uma aula de jazz para poucos, fazendo de tudo. Seu duelo com o piano de Emerson não se restringe apenas a mera condução. É pancadaria comendo solta, numa luta pouco ouvida nos discos de rock progressivo, e de difícil descrição com palavras. Só ouvindo! A "3st Impression" é igualmente fantástica, com rufadas, viradas, batidas em seco, pratos socados sem piedade, enfim, uma  performance tremendamente justificada para estar aqui. E ao vivo, o bicho pegava mais ainda, com Palmer executando seu solo ferozmente, e ainda, geralmente, tirando a camiseta no meio do solo, marca tradicional do batera. Quem quiser ouvir a versão de estúdio, está no fundamental Brain Salad Surgery (1973), e quem quer conferir performances ao vivo da faixa, acesse o vídeo da banda no California Jam de 1974, ou então delicie-se com o ao vivo Welcome Back My Friends To The Show That Never Ends ... Ladies and Gentleman Emerson, Lake & Palmer (1973).


"A Light in Black" - Rising [1976] (
Rainbow)

Cozy Powell tem uma carreira repleta de altos e baixos. O auge de suas performances, quando ele realmente ganhou destaque mundial, após passar pela trupe da Jeff Beck Group, foi ao lado de Ritchie Blackmore no Rainbow. No disco Rising (1976), temos duas performances inacreditáveis. O que ele faz na introdução de "Stargazer" já é impressionante, mas é em "A Light in Black" que Powell mostra por que foi um dos maiores bateristas de todos os tempos. A velocidade absurda que ele emprega logo no início da faixa, acompanhando o riff grudento da guitarra com marcações precisas e rápidas nos pratos, é mantida por mais de oito incansáveis minutos, soberanos. Powell perpassa pelos solos de teclado e guitarra sempre com um ritmo fulminante e preciso, que dá vontade de sair batendo a cabeça e agitando os braços. Mas é nesses solos que ele mostra por que de estar aqui. O domínio dos dois bumbos, numa velocidade sempre precisa, a marcação na caixa e as viradas nos pratos, é coisa para mais de um polvo, fora que tudo isso é numa pancadaria sensacional. Quando ele trava duelo com os teclados, destruindo os pratos, já estamos batendo a cabeça na parede. Mas ainda vem mais. Acompanhando o rei Blackmore, Powell repete a mesma performance, adicionando mais marcações junto com o teclado, tornando a faixa ainda mais atraente. Por vezes, o solo de Blackmore nem parece estar na nossa mente, já que é aquela pancadaria nos bumbos e na caixa, com os pratos sendo estraçalhados, o que sobressai das caixas de som. Novamente temos o duelo com os teclados, pancadaria comendo, e Powell segue firme, incansável, destruindo seu kit, e encerrando uma das melhores músicas de todos os tempos com mais uma série de viradas impressionantes!

"La Villa Strangiatto" - Hemispheres [1978] (Rush)

Os fãs de Peart podem dizer que há outras canções com performances mais inacreditáveis por parte do baterista, e até posso concordar, mas em "La Villa Strangiatto" acredito que o que ele faz é inacreditável por que ele torna-se o centro das atenções, diferente das outras. Desde o dedilhado inicial da guitarra, ele que puxa as batidas que vão explodir nos solos de Lifeson e Lee (também comandados por ele), com uma marcação singular no cymbal. As viradas que levam ao solo são virtuosas, e a marcação no cymbal é feroz e pontual. Mas é quando a faixa diminui o ritmo para o magnífico solo de Lifeson, que Peart faz algo descomunal. A marcação é quebrada, complexa, e somente depois de duas ou três audições percebemos que ele altera o bumbo e a caixa exatamente no mesmo número de compassos invertidos do cymbal, e sempre com um rolo extra em cada intervalo. Fazer isso uma ou duas vezes até vai, mas concentrar o cérebro para fazer coisas tão distintas em um intervalo de tempo tão longo, não é para meros mortais. A medida que o solo ganha corpo, Peart vai empregando mais força em suas batidas, e quando vê, ele está solando junto com Lifeson, mantendo o ritmo mas fazendo a música ganhar mais sentido do que apenas notas e escalas de guitarra. A marcação do cymbal é incansável, as batidas improváveis surgem espontaneamente, e então, mais uma explosão, agora para Peart conduzir a loucura de guitarra e baixo. Agredindo os tons-tons, Peart se dá ao luxo de degladiar com Lee em um solo jazzístico, apresentando rufadas impossíveis de serem reproduzidas (quiçá criadas), explorando o cymbal a la Buddy Rich, ou simplesmente, espancando seu kit sem piedade em uma virada brusca, mas perfeita. A faixa volta ao seu início, com toda a precisão que o trio canadense sempre soube trazer para suas músicas, e encerra-se como um clássico atemporal na música mundial, presente no fantástico Hemispheres (1978) e em vários álbuns ao vivo e coletâneas do Rush.

"Eagle Fly Free" - Keeper of the Seven Keys Part II [1988] (Helloween)

O Helloween é um pioneiro no speed metal, muito graças as performances velozes de Ingo Schwichtenberg. O baterista infelizmente cometeu suicídio em 1995, mas entrou para os anais de maiores bateristas de todos os tempos com suas marcações nos pratos e tons, bem como a velocidade impressionante. "Eagle Fly Free" possui essas características de arrancada, acompanhadas de viradas muito precisas e complexas. Com um ritmo endiabrado, Ingo parece solar enquanto Kiske canta ("In the sky a mighty eagle Doesn't care 'bout what's illegal ... ), alterando batidas nos tons, pratos, viradas, e sempre marcando com precisão na caixa. No refrão, a velocidade continua absurda, os dois bumbos não param, e Ingo faz mágica para criar um ritmo tão impressionante com apenas quatro membros no corpo. Repetem-se as estrofes, e se você já está cansado, prepare-se para ouvir a sequência de solos, começando com as guitarras de Kai Kansen e Michael Weikath, passando pelo ótimo solo do baixista Markus Grosskopf, volta para as guitarras, e então, Ingo "duelar" com a banda, fazendo um solo furioso, espancando seu kit com viradas impressionantes, carregando algum efeito de eco na bateria, e retornando para o ritmo fulminante que leva ao refrão, encerrando a jornada sonora de uma locomotiva desenfreada com  uma rufada e mais uma virada de tirar o fôlego, e uma das mais belas canções da história do Metal, presente no excelente Keeper  of the Seven Keys Part II

terça-feira, 9 de junho de 2020

Cinco Músicas Para Conhecer: Aguente Firme!




Em tempos tão difíceis de quarentena e indecisões políticas, o que fica na nossa cabeça é a frase "Aguenta firme", "Força", "Se segura". Por incrível que pareça, muitos artistas cantaram isso através de suas músicas. Em inglês, uma tradução possível é Hold On. Diversas são as canções que possuem essa expressão em seu nome, seja a expressão pura e diretamente dita ou derivados como Holding On, Hold On My ... Esse segure firme varia desde se apegar ao amor até os sonhos. A frase é tão emblemática que o programa Médico Sem Fronteiras fez uma campanha publicitária há dois anos utilizando a canção "Everybody Hurts", aquela que quem nunca chorou ouvindo não tem coração, e que tem na expressão "Hold On" seu momento mais emocionante. 

Aqui no Brasil, agora durante a pandemia, o Bradesco lançou uma campanha com a frase "Aguente Firme" em destaque. Fiz um levantamento rápido na minha catalogação de discos e encontrei mais de duas dezenas ligadas com esse tema. Assim, selecionei dentre elas aquelas que tinha apenas a expressão Hold On, e então, depois de muito pensar, escolhi as cinco músicas para conhecer de hoje, deixando mais cinco indicações após, e com certeza, havendo muitas outras que vocês podem citar nos comentários. As escolhas levaram em conta apenas critérios de gosto pessoal.

Deep Purple  - "Hold On" [1974]

Primeira despedida de Blackmore do Purple, Stormbringer é daqueles álbuns ame ou odeie, muito por conta da mistura de estilos. Se por um lado há pauladas como a faixa-título ou "Lady Double Dealer", por outro o funk e o soul tomavam conta, como é o caso da sensacional "Hold On", faixa que mostra na sua letra a já característica marca erótica de David Coverdale (vocais) em parceria com Glenn Hughes (baixo, vocais), pedindo para a mulher segurar firme e aguentar o tranco de sua paixão (eita porra). Musicalmente, além dos duetos vocais, destaques disparados para o solo de piano elétrico de Jon Lord e o ritmo cavalgante extremamente sedutor empunhado por baixo e bateria (Ian Paice). E quanto a Blackmore, o seu solo é tão desnecessário e faceirinho, vulgo sem graça, como quase tudo que ele fez no Purple depois desse álbum. Está somente em Stormbringer, e em algumas das infinitas coletâneas dos ingleses no mercado.

Trapeze - "Hold On " [1978]

Comandado por Mel Galley, o Trapeze tentou sobreviver pós-saída de Glenn Hughes, e lançou três álbuns bastante regulares. Apagando a porta e fechando a luz, com Peter Goalby nos vocais, veio a faixa "Hold On". A letra trata de agarrar-se a amizade fiel, que irá com você até o fim, pois isso é melhor do que estar sozinho, e agarrar-se a vida, mesmo ela não sendo um paraíso. O ritmo é uma espécie de rock leve, que o Trapeze de Hughes até já tinha feito de alguma forma anteriormente, com aquela guitarra southern de Galley serpenteando ao longo das batidas precisas de Galley, em um instrumental bastante gostoso de se ouvir, principalmente no solo de Galley. Além do nome, cito essa canção para mostrar que existem determinadas faixas que é importante conhecer para saber por que algumas coisas não dão certo, como foi a carreira de Goalby pós-Trapeze, principalmente à frente do Uriah Heep. Está no último disco de estúdio da banda Running, o álbum que originalmente foi lançado somente na Alemanha em 1978 (capa do post), mas que ganhou uma versão internacional no ano seguinte, batizada justamente com o nome da faixa, presente também no ao vivo Live In Texas - Dead Armadillos (1981).

Triumph - "Hold On" [1979]

Essa bonita canção do grupo canadense surge com teclados e um dedilhado de violão. O vocalista, guitarrista e monstruoso Rik Emmett entoa a letra, que fala sobre agarrar-se aos sonhos, em deixar o tempo correr e esperar que os sonhos aconteçam, em uma faixa bastante motivadora e emotiva. O ritmo do violão vai ganhando força, trazendo o nome da canção entoado para arenas cantarem em plenos pulmões, e então, surgir o trio mais fantástico do Canadá (joguem as pedras) para mandar um AOR gostoso, com grandes pitadas progressivas, graças a performance impecável de Gil Moore na bateria. Uma letra de 1979 mas que serve muito para os dias de hoje, afinal, só de sonhos podemos pensar em viver pós-pandemia e nesse caos político que o Brasil vive nos últimos anos. Está no obrigatório Just A Game (1979), no ao vivo Stages (1986), além das bolachinhas com "Just A Game" no lado B, lançadas em diversos países.

Wishbone Ash - "Hold On" [1982]

Vivendo sua fase mais conturbada, o Wishbone Ash lançou discos pouco marcantes nos anos 80. Porém, há materiais que se escapam, como essa grande e grudenta faixa que narra sobre o drama de um homem distante mais de cinco mil milhas de sua amante, e que tenta angustiadamente, sem sucesso, ligar para ela, enquanto o operador no telefone lhe diz "Aguente firme, estou tentando fazer a ligação", algo que os jovens de hoje não devem nem ter ideia do que isso significa ... O baixo marcante de Trevor Bolder, os dedilhados das guitarras, uma interpretação vocal fascinante e uma sensualidade jazzística entregue aos fãs, além de um refrão que fica por horas na cabeça, fazem dessa uma das melhores faixas da banda naquela década. Além da bela letra, as guitarras gêmeas de Andy Powell e Laurie Wisefield, marca sagrada dos ingleses, estão saindo das caixas de som para emocionar os fãs em solos magistrais. Fecha a conta a bateria sempre competente de Steve Upton. Está presente em Twin Barrels Burning (1982) e no lado B de um raro compacto espanhol, que ilustra o post.


Beardfish - "Hold On"  [2015]

Imagine-se um velho roqueiro que entra em um dilema: o de sentir-se um prisioneiro em sua cidade natal, sendo forçado à mediocridade pelas pessoas ao seu redor e não sendo capaz de se libertar disso Esse é o conceito de +4626-Comfort Zone, lançado pela trupe sueca de Rikard Sjöblom (vocais, guitarras, teclados e faz tudo) no Beardfish. "Hold On" é a faixa que apresenta ao ouvinte o choque da realidade do velho roqueiro que descobre que o mundo está passando, e ele já não pertence mais ao nível que outrora pertenceu. O "Hold On" aqui clama para o personagem aguentar firme sua atual posição, mesmo com tudo o que possa lhe acontecer. A indignação do personagem central, tentando entender como o tempo passou sem ele perceber, não reconhecendo os olhos que costumavam trazer a chama que existia quando jovem, é apresentada através de 8 incessantes minutos, onde o ritmo da bateria de Magnus Östgren e o baixo marcante de  Robert Hansen fundem a mente para fazer ela entregar aos seus pés e cabeça um balanço filho da puta. Rikard traz todas suas influências de Yes e Genesis para essa faixa, principalmente nas linhas de guitarra, ao lado de David Zackrisson, e nas linhas vocais. Wah-wah comendo solto, riffs grudentos, pulos pela casa cantando os diversos momentos onde a letra nos possibilita isso, e assim como o conceito de "Hold On" nos conta, quando a faixa é concluída você nem percebeu o tempo passar. Uma das melhores obras desse século.

Mais cinco outras "Hold On": 
- The Sons of Champlin (A Circle Filled With Love, 1976);
- Kansas (Audio Visions, 1980);
- Santana (Shangó, 1982);  
- Yes (90125, 1983); 
- Rush (Snakes & Arrows, 2007);

quarta-feira, 22 de abril de 2020

Cinco Músicas Para Conhecer: Parece, Mas Não É


Nos últimos tempos, tornou-se comum a brincadeira do reaction, onde se filma uma pessoa tendo reações ao ver um determinado vídeo ou ouvir uma música pela primeira vez. Baseado nessas experiências, o Cinco Músicas Para Conhecer de hoje simula uma espécie de reaction com alguém que irá ouvir as faixas escolhidas, pensando ser uma coisa, mas que na verdade, é outra.

Atomic Rooster - "Gershatzer" [1970]

Como é bom ouvir Emerson Lake & Palmer, que paulada já de cara. Esse órgão do Emerson, o baixão do Lake, e pô, Palmer soltando o braço. Sonzeira fudida hein? Olha essa rufada do Palmer, que espetáculo. Ei, que massa, Emerson demolindo o piano no seu solo. O cara tinha é uma técnica sensacional. Olha esse pulo para os teclados, e a velocidade. E agora vai para a sutileza do piano com uma simplicidade monstra! E essas loucuras assim é puro Emerson. Genial! Baita solo! É  da época do Tarkus? Só pode, pela inspiração! Voltou o riff, puro ELP. Que baita música, não conhecia. Ih rapaz, Palmer mandando ver no solo. Cara, como ele toca tanto? Monstro, olhada as rufadas, mão esquerda impecável, e o controle dos bumbos. Baita som. É de qual disco? O que? Não é ELP? É meu caro, isso é Atomic Rooster, um dos grandes power trios da história da música britânica, liderado pelo genial Vincent Crane nos teclados, e que por acaso revelou Carl Palmer ao mundo. Mas aqui, as baquetas estão a cargo do também fenomenal Paul Hammond. Está no excelente e fundamental segundo disco do grupo, Death Walks Behind You (1970) e em diversas coletâneas da banda. Para conhecer um pouco mais sobre a banda e a faixa, acesse aqui. 

Focus - "House of the King" [1970]

Violão fazendo acordes velozes, e eis que a flauta surge sobre um andamento rápido, linha de baixo complicada e uma bateria marcante.O sorriso toma conta, afinal, é o Jethro Tull quem está tocando. Como Ian Anderson toca bem, certamente isso é da fase Aqualung, uma sobra de Thick as a Brick no máximo. Por que será que nunca foi lançada? Epa, mas e essa virada? A guitarra do Martin Barre não tem esse timbre! Claro meu caro, é Jan Akkerman na guitarra, solando para um dos maiores clássicos do grupo holanês Focus. O flautista em questão é Thijs Van Leer, um dos maiores nomes do instrumento, claro, ao lado de Ian Anderson. "House of the King" é tão Jethro Tull, mas tão Jethro Tull, que certa vez um famoso lojista de Porto Alegre falou que "é a canção que Ian Anderson jamais gravou, mas com certeza deve ter composto". Exageros a parte, é uma magnífica faixa, que saiu originalmente nas versões americana e inglesa de Focus Play Focus (batizadas de In And Out of Focus), posteriormente em algumas das várias versões de Focus 3, e em diversos lançamentos em compacto, inclusive sendo responsável por manter o Focus na ativa, já que o fracasso de vendas de Focus Play Focus levava para o fim prematuro da banda, mas o sucesso da bolachinha fez com que Jan Akkerman (guitarras) e Thijs Van Leer (teclados, flauta, voz) reformulam-se a banda e seguissem na ativa, para conquistar o mundo no seu lançamento seguinte.

Mandrill - "Mandrill" [1970]

O som começa com uma tecladeira infernal, envolta por percussão rítmica avassaladora. Um naipe de metais entoa o riff da canção, e então surge a guitarra com wah-wah e carregadíssima de efeitos. Impossível não ser a trupe de Carlos Santana. A medida que a canção vai passando, o ritmo frenético da percussão e o solo de órgão só nos comprova cada vez mais que é Santana sim. Claro, a presença de flautas, vibrafones e metais, cria aquela pulga atrás da orelha, ainda mais quando a flauta passa a solar virtuosisticamente. Peraí, vibrafone tomando conta das caixas de som sobre o ritmo avassalador? Isso é Santana? Ah, esse solo avassalador de percussão faz minha pergunta cair por terra, agora tenho certeza que sim, é Santana o que sai das caixas de som. Mas não é minha leitora, meu leitor, você foi redondamente enganado por uma das bandas mais fantásticas da década de 70.  Um hepteto do brooklyn com uma boa discografia a ser descoberta. "Mandrill" está no álbum de estreia da banda, auto-intitulado, e em quatro compactos como lado A, tendo cada um no lado B as faixas "Peace And Love" (Espanha, que ilustra a matéria), "Revolucion Sinfonica" (México), "Warning Blues" (Estados Unidos) e "Hang Loose" (Reino Unido).

Styx - "Mademoiselle" [1976]

Um acorde de teclado, baixo marcante, guitarra e bateria juntinhos, uma voz em francês, solo de guitarra com efeitos e uma vocalização aguda e marcante. Opa, é Queen! Mas peraí, quem está cantando? Brian May? Bom, o instrumental é Queen, deve ser o May sim. Pô, isso é Queen, só pode ser Queen. Ouve essas linhas de guitarra, essas vocalizações. Cara, com certeza é Queen. Ah velho, está brincando, isso é Queen sim!! Não meu caro, isso é uma das obras atemporais que o Styx lançou no excepcional Crystal Ball, de 1976, quando o Queen havia acabado de conquistar o mundo. Nunca foi comprovado se o Styx se inspirou no Queen para fazer "Mademoiselle", mas com certeza, os elementos de vocalizações e efeitos na guitarra que Brian May usou na banda inglesa apareceram em diversas outras faixas da banda antes mesmo do Queen pensar em existir como tal, como "After You Leave Me" (1972) ou "Earl of Roseland" (1973). "Mademoiselle" é um exemplo mais recente na obra do Styx, mas eu poderia ter escolhido vários outros. Trouxe essa faixa do SEXTO disco da banda, e de um belíssimo compacto com a sensacional “Lonely Child” no lado B, para ver se causo uma polêmica por aqui. E também existe um compacto com “Light Up” no lado B.


Greta Van Fleet - "Lover, Leaver" [2018]

Epa, é uma versão nova de "Whole Lotta Love"? Opa, não é nova não, é a original. Deve ser ensaios de gravação né? Mas a letra tá diferente. Eita, o Bonham devia estar gripado esse dia, mas o Plant e o Page estão afiadíssimos. Por que o baixo do Jonesy tá tao baixo? Eita, Plant canta pra caralho nesses agudos hein? Sonzeira. É uma versão inicial de "Whole Lotta Love"? A letra tá bem diferente ... Eita, Page e sua Les Paul, baita solo. Bah, os caras tavam flertando com orquestrações antes do Led III, eu sabia!! O que? Isso é um bando de garotos americanos dessa década? Tás de brincadeira!! O Greta Van Fleet é o verdadeiro caso do Ame ou Odeie, muito mais por um preconceito infantil e besta, Tirando a paixão clubística de lado, os caras entregam faixas memoráveis, claro que sugadas diretamente da fonte Zeppeliana, mas com toda uma vitalidade moderna que cai muito bem aos dias atuais. "Lover, Leaver" é um exemplo claro disso. Todas as referências ao Led estão lá, mas o comportamento geral da canção mostra que há muito mais criatividade do que inspiração na obra dos americanos. Está no seu primeiro full lenght, de 2018, e foi lançada no mesmo ano para download no site oficial da banda, através do single que ilustra a postagem.

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...