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quinta-feira, 6 de janeiro de 2022

Melhores de 2021


E vamos as tradicionais listas de Melhores do Ano. Depois de algum tempo sem conseguir acompanhar lançamentos com certa assiduidade, ou de conseguir curtir 10 álbuns para fechar uma lista digna de ser apresentada aos leitores, eis que 2021 trouxe o retorno aos estúdios de gigantes que eu admiro, e que acabaram fazendo com que eu ouvisse bastante os álbuns que aparecem abaixo, principalmente nos lançamentos do último trimestre (outubro, novembro e dezembro). Foi um ano difícil, muitas perdas, muitas tragédias, mas fica a esperança para 2022. Que ele não repita tudo de ruim que aconteceu em 2021, mas que possa trazer paz, saúde, e claro, lançamentos tão bons quanto os que curti. Vamos a lista.

1.  ABBA - Voyage

Podem me dizer o que quiserem, mas Voyage é disparado o melhor disco de 2021. Anos esperando um lançamento novo dos suecos, e eis que o quarteto detona. O melhor do pop para agradar qualquer fã do grupo, ainda mais com músicas maravilhosas como "Don’t Shut Me Down", "Just a Notion" " Keep An Eye On Dan" e "No Doubt About It". Benny e Björn criando faixas como se o tempo não tivesse passado para eles, e o mesmo pode se dizer das vozes de Agnetha e Frida. A turnê holográfica não me atrai, mas esse discaço está rodando direto nessa descoberta (que não gosto muito, mas é o que temos no momento) que foi o Spotify. Lançado em 05 de novembro.


2. Steve Hackett - Under a Mediterranean Sky

Que Steve Hackett sempre é capaz de nos surpreender, disso ninguém tem dúvida. Depois de bons discos com vocais nos últimos tempos, eis que ele largou a guitarra, pegou o violão e foi unir-se a Roger King (teclados e arranjos orquestrais) para se inspirar nos sons mediterrâneos em um fantástico disco de violão clássico, que mistura elementos desde o flamenco até o oriente médio. O épico que abre o álbum, "Mdina (The Walled City)" é uma das canções mais virtuosas que já tive oportunidade de ouvir advinda das mãos do cara. Certamente sabia que ele é muito talentoso, mas os dedilhados furiosos que ele faz ao violão aqui, são de cair o queixo. Outra surpresa foi o uso do trêmolo em "Adriatic Blue" e "The Memory of Myth", como é linda essa técnica, e como Hackett a faz tão bem. E claro, ao ouvir "Scarlatti Sonata" uma lágrima correu, me lembrando os bons tempos que estudei violão clássico. Composições lindas, na linha do que John Willians já havia feito há algum tempo atrás, que atestam como um grande músico sabe se reinventar, e não necessariamente ficar tocando sempre a mesma coisa por anos e anos. Há tempos não ouvia algo tão tocante relacionado a arte do violão clássico. Lançado em 22 de janeiro. 

3. Styx - Crash the Crown

Outro que tocou muito no Spotify. O Styx volta a fazer uma sonoridade próxima ao progressivo, e faixas como  “A Monster”, “Hold Back The Darkness”, "Long Live The King" e “Our Wonderful Lives” atestam por que o Styx é a melhor banda daquelas que foram consagradas pelo seu som perambulando entre o pop comercial e o rock progressivo, empregando elementos acústicos, pesados, orgãos de igreja e até trompete (!) com uma precisão impecável. Perguntinha: quando o Styx dará o ar da graça por aqui? Lançado em 18 de junho. 

4. Greta Van Fleet - The Battle at Garden's Gate

Como é bom ver jovens alunos evoluindo, conseguindo caminhar por conta própria, e prometendo dar muito orgulho aos seus professores. É o caso do Greta Van Fleet. Se o álbum anterior trouxe muitas comparações ao Led Zeppelin, em The Battle at Garden's Gate os irmãos Kiska (e o batera Daniel Wagner) praticamente limaram essa comparação. Os rapazes estão cada vez mais soberanos em suas criações, claro, trazendo influências Zeppelianas, mas com arranjos e harmonias puramente VanFleetianos. O álbum é uma paulada atrás da outra, mesmo nas baladas, e até nos momentos acústicos as canções conseguem te dar uma pancada no peito, que te sacode por inteiro. Grande destaque para os solos de Jacob, como esse menino evolui nas seis cordas, e também no uso do wah-wah, basta ouvir, e se emocionar, com o maravilhoso solo de "The Weight of Dreams". Outras grandiosas faixas são "Broken Bells", "Heat Above" e "Built By Nations". Ansioso para ver esses caras abrindo para o Metallica, o laço que vão dar nos velhinhos. Certamente, se seguirem nesse patamar, serão lembrados como a maior banda deste século. Lançado em 16 de abril. 

5. Jerry Cantrell - Brighten

Jerry Cantrell é um sobrevivente do rock. Todos os exageros da geração Seattle dos anos 90 não foram capazes de afetar sua capacidade de criar músicas sensacionais. Apesar de Brighten trazer canções que em pouco lembram Alice in Chains, como por exemplo "Prism of Doubt", há também faixas pesadas e empolgantes, como a faixa-título, "Had To Know", que me fazem pensar como seria bom se Layne Stailey estivesse ainda criando faixas ao lado de Cantrell. Ouvir "Siren Song" fez arrancar lágrimas imaginando os dois cantando juntos essa faixa. Belo disco! Lançado em 29 de outubro. 

6. Big Big Train - Common Ground 

Me aproximei mais do Big Big Train depois da entrada de Rikard Sjöblom na banda. Apesar de não curtir os vocais Neal Morseanos de David Longdon, é inegável a contribuição que o ex-Beardfish Rikard deu para a banda. Da Suécia, o rapaz trouxe sua genialidade ímpar para criar peças preciosas, e que bom que Longdon percebeu o talento do cara. Mesmo que Rikard tenha composto apenas uma canção, a linda "Headwaters", somente ao piano, suas contribuições com teclados e guitarra em faixas como "All The Love We Can Give" e na suíte "Atlantic Cable", verdadeiras teses de rock progressivo atual baseadas nos grandes trabalhos dos anos 70. Destaque total para "Apollo", fantástica faixa instrumental cria do batera Nick D'Virgilio, e indicada para quem curte Yes e afins. Lançado em 30 de julho. 

7. Stew - Taste

O Stew surgiu para mim através de um Test Drive que fizemos em 2019, e desde então, virou banda de audição constante com aquele álbum. Em novembro desse ano, veio Taste, mais uma bela paulada que mostra elementos de hard rock dos anos 70 surpreendentes. Novamente, o disco é curto (pouco mais de meia hora), mas o suficiente para quebrar pescoços e estourar cordas de air guitars mundo a fora, principalmente na pesadíssima "Earthless Woman", na rifferama de "Heavy Wings" e na trabalhada "Still Got the Time". Destaque também para a balada bluesy "When the Lights Go Out". Lançado em 12 de novembro.

8. Lucifer - Lucifer IV

Passei a prestar mais atenção ao som do Lucifer a partir do Melhores do Ano passado, onde a banda figurou nos dez mais. O som de Lucifer IV é pesado e ótimo de se ouvir com o som no talo. Os vocais de Johanna Sadonis estão cada vez mais sedutores e potentes, e as construções instrumentais mostram como o Black sabbath ainda influencia novidades, e é capaz de parir bisnetos tão tinhosos quanto foram suas composições originais, vide "Cold as a Tombstone", "Phobos", "Orion", "Wild Hearses", e com certeza, "Mausoleum", cuja introdução já colocou fácil esse álbum nesta lista. Essas faixas, que apesar do cheirão evidente do couro da jaqueta do bisavô Iommi, trazem todo um frescor do século atual. Lançado em 29 de outubro.

9. Robert Plant & Alison Krauss - Raise the Roof

Raising Sand, o primeiro álbum da dupla, é um álbum tão bom que ficamos na expectativa de como seria um segundo lançamento deles. Pois 14 anos depois, Plant e Krauss voltaram com Raise the Roof. Não é um disco tão impactante quanto seu antecessor, mas mesmo assim, muito belo. As canções parecem ser uma sequência natural da carreira de Plant ao lado da Sensation Space Shifters, porém aclimatadas pelo sempre excepcional vocal de Krauss. Faixas como "Go Your Way", "Searching for My Love" trazem belas harmonias vocais e instrumentais, e como Plant ainda está com a voz em dia, incrívelmente, como mostra também "High and Lonesome". Quando Alison tem o predomínio vocal, como "The Price of Love" e "It dont Bother Me", é de uma lindeza única. As melhores, "Quatro (World Drifts In)" e "Last Kind Words Blues", trazem elementos perfeitos para serem ouvidos enquanto nossos nervos são tocados pelas belezas emanadas dessas ótimas composições. Lançado em 19 de novembro. 

10. Caligonaut - Magnified as Giants

Estes noruegueses surgiram como indicação no Spotify, em virtude de eu ter ouvido bastante Wobbler esse ano, e fiquei encantado. É um progressivo mito bem feito, lembrando um pouco de Genesis mas trazendo também boas pitadas de peso, muito por conta da participação do membro do Wobbler  Lars Fredrik Frøislie (teclados, mellotron). A abertura com a linda "Emperor" já traz uma mistura incrível de elementos acústicos e elétricos, com teclados e baixo predominando entre os dedilhados de violão e guitarra. O trabalho de violão também é relevante em "Hushed" e na bela faixa-título. A suíte "Lighter Than Air" é uma das grandes joias desta década, em termos musicais. Quatro faixas apenas, mas muito boas para nos fazer esperar ansiosamente por mais um lançamento do Wobbler, e que o Caligonaut possa se manter na ativa, além de mostrar que a Escandinávia vem cada vez mais parindo as melhores bandas deste século em se tratando de progressivo. Lançado em 26 de fevereiro.

Menção Honrosa: Serj Tankian - Elasticity

O EP Elasticity trouxe o velho Serj Tankian para minhas audições. as cinco canções são uma moderna criação do que poderia ser o SOAD hoje em dia. Destaque em especial para "Your Mom" e "Electric Yerevan", pesadíssimas, e o piano com orquestra na sensacional "How Many Times?". Não entrou na lista dos dez melhores apenas por que é um EP. Ah se o SOAD voltasse ... 😔

Decepções: Iron Maiden - Senjutsu e Deep Purple - Turning to Crime

Que o Iron vem se repetindo há anos não é novidade. O problea central de Senjutsu é que as músicas longas estão cada vez mais sonolentas, e as mais curtas são um pastiche da carreira solo de Bruce Dickinson ou de composições de Adrian Smith. Disco modorrento, que não sei se irá me conquistar um dia. 

Turning To Crime é um disco triste. OK, o Deep Purple apresenta suas homenagens, mas falta uma vitalidade ao longo das canções. Mais uma banda que não há por que continuar na ativa, ao meu ver, e que deixei de acompanhar há algum tempo. Até tinha esperanças com Turning to Crime, mas foi uma grande decepção.

Vergonha alheia: The Metallica Blacklist 

Sério, quem foi o "gênio" que teve a coragem de lançar quatro horas de versões para algumas músicas do clássico "Black Album" do Metallica, em mais de 4 horas de duração? E sério, quem que se animou a comprar isso? Não me senti a vontade para ouvir o tal disco, até por que ouvir sete versões diferentes de "Sad But True" e "The Unforgiven", seis de "Enter Sandman", e doze (!) de "Nothing Else Matters" é ter muito tempo para ser perdido. Sério, que ideia de jerico isso aqui. 

sábado, 21 de agosto de 2021

Ouve Isso Aqui: Discos de Guitarristas


 

Por André Kaminski

Tema escolhido por Daniel Benedetti

Com Davi Pascale, Fernando Bueno e Mairon Machado

Eu não poderia começar este texto de outra forma. Após, no início de 2021, ter passado quase 30 dias em coma, estou em um longo processo de recuperação da Covid 19. E a música tem sido um instrumento poderoso para que eu consiga estabelecer uma reconexão com minha própria vida.

Tendo sido o sorteado para escolher o tema deste “Ouve Isso Aqui”, resolvi colocar alguns dos discos que têm sido “meus companheiros” nesta jornada. Espero que meus amigos consultores também tenham curtido as escolhas. Boa leitura! (Daniel)


Rory Gallagher – Deuce [1971]

Daniel: Disco sensacional de um dos guitarristas mais talentosos do rock setentista – e dos menos exaltados. Tendo o Rock como base, Gallagher flerta com o Folk e com o Blues, prioritariamente. Faixas cativantes e criativas como “Maybe I Will”, “Whole Lot of People” e “Crest of a Wave” são ótimos exemplos da forma agressiva e ‘elétrica’ com que Gallagher construiu as canções, tendo a guitarra como protagonista para realçar a beleza das mesmas.

André: Este é um dos grandes discos do irlandês fodão da guitarra. Muito blues, hard e como não podia deixar de faltar, uma pegada céltica típica da ilha principalmente nas partes mais acústicas. Particularmente gosto mais justamente destas músicas de levada mais folk como “I’m Not Awake Yet” e aquela delícia de canção western americana “Don’t Know Where I’m Going”. Rory nunca foi lá um grande vocalista, mas consegue se segurar razoavelmente nas vozes. Um ótimo disco que dá de todos apreciarem sem qualquer problema.

Davi: Grande guitarrista! Gosto bastante do trabalho dele. Dentro e fora do Taste. Deuce é seu segundo álbum solo e Rory queria que o disco capturasse a vibe de seus shows. Gallagher havia achado a sonoridade de seu primeiro álbum solo muito polida e queria corrigir isso. Sua jogada deu certo. A sonoridade do álbum é impactante. Musicalmente, os arranjos possuem influências variadas. “Out Of My Mind” traz influências de country na levada de violão. A gaita de “Don´t Know Where I´m Going” remete ao trabalho folk de Bob Dylan. “Shoud I´ve Learnt My Lesson” traz o músico caindo de cabeça no blues. Os momentos que mais gosto, contudo, são “In Your Town”, onde temos Rory Gallagher roubando a cena com sua slide guitar, e o rock sujo e honesto “Used To Be”, responsável por abrir o LP. Bom álbum!

Fernando: Essa foi uma das minha melhores descobertas recentes. Por algum motivo eu nunca tinha ouvido o Rory Gallagher e quando tomei conhecimento desse mesmo disco eu fiquei com aquele sentimento de recuperar o tempo perdido. Ouvi todos os discos de estúdio que ele gravou e também o Taste, sua banda anterior. Mas é claro que mesmo tendo ouvido tudo eu ainda não consegui captar todas as nuances de sua carreira solo. Deuce mesmo sendo o preferido de boa parte dos fãs não está no topo do pódio lá de casa. Acho o Tattoo (1973) melhor e mesmo seu disco de estreia roda mais lá em casa.

Mairon: Disco que dispensa apresentações. Outro mestre irlandês da guitarra fazendo misérias em um hard rock de primeira. Gosto muito das inspirações flamencas de “I’m Not Awake Yet”, até por que é raro ver e ouvir Rory ao violão, algo que ele faz também com um talento impecável em “Out Of My Mind” e na divertida “Don’t Know Where I’m Going”, quase dando uma de Bob Dylan com sotaque irlandês. Mas é o hardão de faixas emblemáticas do porte de “Used To Be”, “Maybe I Will” e “There’s A Light”, ou então solando ao slide em “In Your Time” e “Crest Of A Wave”, as mais Taste das canções de Deuce, e não por menos fortes candidatas a melhores do álbum, ou “Whole Lot Of People”, que fazem de Deuce um clássico atemporal, mostrando por que Rory é tão idolatrado ainda hoje. Ouça o blues “Should’ve Learnt My Lesson” e tente acreditar que é um irlandês quem está cantando/tocando. Baita disco de um artista que merece ser reconhecido muito mais do que alguns superestimados por aí.


Paul Kossoff – Back Street Crawler [1973]

Daniel: Eu adoro os álbuns do Free. Paul Kossoff, guitarrista da banda, morreu muito jovem e jamais saberemos em que nível poderia chegar. Sem as amarras que o baixista do seu antigo grupo, Andy Fraser, o que se ouve é o espírito livre de Kossoff e todo o sentimento que ele conseguia colocar em cada nota que tocava, especialmente nos solos. Basta sentir a ótima “Tuesday Morning”, uma espécie de Jam Session, na qual Kossoff exerce toda sua criatividade.

André: Esse faz uma falta danada ao rock. O brilhante guitarrista do Free felizmente deixou este belo disco, com grandes passagens de guitarra que faz qualquer um que ame blues rock molhar as calças de tesão. Todavia, minha preferida é justamente a faixa “Molten Gold” com Rodgers nos vocais e os caras do Free tocando, música que podemos até considerar como parte da banda. Kossoff é daqueles casos que a guitarra canta sozinha, demonstra sentimento em suas linhas e até parece que sinto o cara dando a alma ali naquelas gravações. Uma pena mesmo que o vício em drogas nos tirou muito cedo um grande músico.

Davi: Gosto muito do trabalho de guitarra que Paul Kossoff realizou ao lado do Free. E também lamento muito que tenha partido tão cedo. Gostaria de ter escutado mais álbuns solo dele, tenho certeza que teria realizado trabalhos brilhantes. Mesmo! “Tá, mas o que você pensa de Back Street Crawler”? Bem, esse é um trabalho que considero sua audição satisfatória, mas que possui poucos momentos que realmente me chamam a atenção. Para ser mais preciso, as faixas “I´m Ready” e “Molten Gold” são as duas que gosto realmente de escutar. Essa última, aliás, nada mais é do que um outtake do álbum Free At Last e está registrado ao lado de seu ex-grupo. Resumindo: disco, sem dúvidas, agradável, mas que esperava mais por ter sido realizado por um músico desse calibre.

Fernando: Óbvio que eu gosto do Free, mas nunca me passou pela cabeça ouvir um disco solo de seu guitarrista. No fim, porém, foi o disco que mais gostei de ter ouvido. Os outros da lista, exceto o do Gary Moore, eu já conhecia, então eu já sabia o que esperar, mas desse eu não tinha ideia o que viria. Aí no início da faixa de abertura eu fiquei ressabiado vendo que seriam 16 minutos e pensei que seria duro chegar até o fim. Mas não…eu estava enganado!!! Gostei do modo como ele variou tempos, estilos e abordagens ao longo da faixa. Também fiquei curioso quando vi que tinham músicas cantadas também, mas esperava que o próprio Kossof tivesse cantado, mas nesse caso me frustrei, apesar das faixas serem muito boas e cantadas por quem conhece do ofício. No geral é um belo disco!

Mairon: A guitarra do Free seguindo carreira solo. O álbum por si só é uma prova de luta de Kossoff, que parece ter gravado o mesmo batalhando contra seu vício em drogas. O lado A é dedicado para a jam “Tuesday Morning”, com uma performance sensacional de Alan White na bateria, e claro, Kossoff rasgando a guitarra em bends épicos, duelando com o órgão de John “Rabbit” Bundrick, além de muito feeling, e por que não, algumas engasgadas que não fazem parte do que acostumamos a ouvir dele no Free, mas que aqui caem bem dentro da questão que estamos curtindo um improviso viajandão. Apesar do improviso de “Back Street Crawler (Don’t Need You No More)”, o lado B é mais “pop”, tendo ainda a dançante “I’m Ready”, e a cria de Free “Molten Gold”, onde Paul Rodgers solta seu vozeirão, Andy Fraser aparece no baixo e Simon Kirke comanda a bateria. Ou seja, é o Free enrustido na carreira solo de Kossoff, fazendo uma baladaça. A melhor faixa do LP para mim também está no lado B, a delirante “Time Away”, onde Kossoff faz a guitarra gemer como Jeff Beck faria, esbanjando feeling. Bom disco de um dos grandes nomes do hard setentista, e que fazia um bom tempo que não ouvia.


Steve Hackett – Voyage of the Acolyte [1975]

Daniel: O extraordinário guitarrista do Genesis, com seu estilo elegante, em uma obra que é uma verdadeira ode ao rock progressivo. Com muita criatividade, Hackett impõe sua própria personalidade neste excelente disco, demonstrando sua categoria em faixas como “Star of Sirius” e a épica “Shadow of the Hierophant”. Um álbum excelente e uma ótima porta de entrada para quem conhecer todo o requinte do rock progressivo.

André: Dentre os discos de guitarristas, este foi o que eu mais gostei. Acho que é porque ando numa fase bem progueira nos últimos meses. Basicamente, este aqui é o Genesis sem o Tony Banks. E pelo que disseram, estas músicas foram descartadas pela banda e do qual Steve resolveu gravar em seu primeiro solo. Collins e Rutherford participaram também e Collins fez alguns vocais pouco antes de os assumir no Genesis logo depois. Disco bem sinfônico, muitas quebras e solos, com os de guitarra obviamente se sobressaindo. Gostei de todas as faixas. O disco passou voando e tudo foi muito agradável. Hackett nunca me decepciona.

Davi: Esse é o primeiro álbum solo do ex-guitarrista do Genesis. Trabalho que, inclusive, foi lançado quando esse ainda fazia parte da cultuada banda. Trata-se de um álbum majoritariamente instrumental, muito bem tocado, como era de se esperar, mas que por algum motivo, não me cativou. A pegada progressiva se faz presente, não achei os arranjos exagerados (algo que me agrada), mas sei lá, as canções não me emocionaram. Para não dizer que não gostei de nada, gostei de algumas passagens de “Shadow Of The Hierophant” e achei a faixa cantada “Star Of Sirius” muito bonita. Essa, inclusive, tem a participação especialíssima de Phil Collins nos vocais. Trabalho muito bem feito, sem dúvidas, mas sei lá, não me pegou. Talvez precise ouvir mais.

Fernando: Esse é um clássico! Obrigatório ouvir esse disco, principalmente para quem está entrando na estrada no início da viagem pela longa estrada do rock progressivo. Praticamente um disco de sobras do Genesis que ele resolveu gravar como álbum solo. E pelas sobras dá de ter a noção do quanto a banda estava produzindo em alta qualidade naquela época. Até acredito que o sucesso desse disco solo tenha sido a chave de virada para a sua saída da banda. Não fique com medo de ouvir um disco completamente instrumental. Para quem já ouve o Genesis com suas longas passagens instrumentais em várias de suas músicas não vai nem sentir isso.

Mairon: Essa belezinha está na minha coleção há algum tempo. Um Hackett inspiradíssimo, e muito bem acompanhado (inclusive dos colegas Mike Rutherford e Phil Collins, mas destacando o irmão John Hackett nos teclados, assim como John Acock no mellotron e piano), cria um álbum magistral de rock progressivo. “Ace of Wands”, faixa que abre Voyage of the Acolyte, é uma obra-prima digna de ser chamada de Maravilha Prog, com diversas variações. O álbum é um espetáculo diverso, trazendo por exemplo a sutileza do violão, mellotron e flauta nas lindas duas partes de “Hands of the Priestess”, as claras referências de Genesis em “Star of Sirius”, com a participação de Phil Collins nos vocais, e aqueles dedilhados encantadores do violão de Hackett, a intrincada  “A Tower Struck Down”, e a beleza de “Shadow of the Hierophant”, com os sopranos vocais de Sally Oldfield.  “The Hermit” é a oportunidade de ouvirmos Hackett aos vocais, em uma linda canção ao violão, e claro, ele também nos brinda com mais uma linda composição ao violão clássico na fantástica “The Lovers”. Outro álbum em que a guitarra não é o centro das atenções, mas que a criatividade do guitarrista é fantástica.


Gary Moore – After Hours [1992]

Daniel: Eu sou fã da obra do Gary Moore, especialmente de seus discos voltados para o Blues. After Hours é o meu favorito. São 11 faixas, sendo 7 composições próprias, em um trabalho em que é possível perceber todo o sentimento que o guitarrista colocava em seus solos (como em “Story of the Blues”). A parceria com o mestre BB King, em “Since I Met You Baby” é um dos pontos altos do disco, bem como “The Blues Is Alright”, a qual conta com o também monstruoso Albert Collins. Para não dizer que tudo são flores, eu não curto muito a balada “Separate Ways”.

André: Apesar de, no geral, eu curtir mais a fase aorzenta oitentista do Moore, cara, esse disco me conquistou com o bom humor do norte irlandês, um repertório excelente e uma performance excepcional. Aqui ele conseguiu uma bela contribuição do gênio B.B.King em “Since I Met You Baby” mas a canção que mais gostei foi a lindíssima balada final “Nothing’s the Same”, com uma voz açucarada de Moore levada principalmente no teclado e com solos belíssimos de poucas notas à la David Gilmour pelos quais amo demais. Segundo melhor da lista.

Davi: Sem dúvidas, esse é meu trabalho favorito da lista. Sempre fui muito fã do Gary Moore e adoro essa fase. After Hours, nada mais é do que uma continuação de seu antecessor, o clássico Still Got The Blues. A sonoridade segue a mesma lógica. A mescla de rock e blues continua presente, o diferencial acredito que seja o uso dos metais, que já aparecia no anterior em canções como “Oh Pretty Woman”, mas que aqui aparecem mais encorpados. O tracklist não possui nenhuma canção que tenha tocado tanto quando “Still Got The Blues”, mas traz bastante momentos marcantes como “Cold Day In Hell”, “Story Of The Blues” e “Jumpin´ At The Shadows”. Isso sem contar nas participações especialíssimas de B.B. King em “Since I Met You Baby” e Albert Collins em “The Blues Is Alright”. Discaço!

Fernando: Nunca tinha ouvido a carreira solo do Gary Moore. Esse disco é indicado para quem gosta desse blues rock mais eletrificado e cheio de distorção que aparece em alguns momentos da carreira do Eric Clapton. É música para levantar o clima de qualquer lugar. “Story of the Blues” é excelente! A participação de B. B. King em “Since I Met You Baby” nos leva de volta lá para as raízes do rock and roll. “Separate Ways” é daquelas músicas que um professor deve colocar para seus alunos quando for ter uma aula de blues.

Mairon: Depois dos anos 80 bastante recheados de altos e baixos, Gary Moore entrou nos anos 90 contudo, e nesse álbum, traz o blues como base para criação de faixas espetaculares ao lado de ícones como B. B. King (“Since I Met You Baby”, animadíssima) e Albert King (“The Blues Is Alright”, uma aula de solo dos músicos), ou sozinho em “Cold Day In Hell”. Desprezando as chatinhas “The Hurt Inside” e “Separate Ways”, que nada acrescentam ao disco, o resto é de alto nível. Por vezes, parece que estamos ouvindo o também saudoso Stevie Ray Vaughan comandando as guitarras. Melhores faixas para a dolorida “Jumpin’ At Shadows”, para cortar os pulsos com tanto drama, a baladaça bluesy “Story of the Blues”, linda demais, e com Gary Moore fazendo a guitarra gemer sem sentir dor, em um dos melhores solos de sua carreira, bem como a paulada “Only Fool In Town”, pesada mas bluesy como só Moore conseguia criar. Ainda temos a animada “Don’t You Lie To Me (I Get Evil)”, comandada pela presença dos metais, e a arrepiante “Nothing’s The Same”, que apesar de não ser uma faixa de blues, fecha o álbum em alto nível, com uma letra que me emociona muito. É uma surpresa ter After Hours como indicação para um Ouve Isso Aqui no quesito Gary Moore, já que há outros grandes discos do guitarrista em sua carreira. Mas isso não significa que After Hours não seja um belo disco de guitarras.


Kiko Loureiro – Universo Inverso [2006]

Daniel: Para aqueles que apenas conhecem a faceta “metaleira” de Kiko Loureiro, este disco é surpreendente. Foi o meu caso. Eu não acompanhava sua carreira solo e, quando ouvi este álbum pela primeira vez, fiquei positivamente surpreso. E isto foi há muito pouco tempo. As influências brasileiras estão presentes por aqui, mas o que pega, pelo menos para mim, é a fusão do Jazz com a Música Latina, e esta mistura é muito saborosa aos meus ouvidos. Um trabalho que eu curti bastante e do qual estou cada vez mais fã.

André: Muita gente reclamaria de “como um músico de metal espadinha vai se atrever a gravar um álbum de fusion”? Nunca tive esse preconceito, muito pelo contrário, admiro ainda mais quando músicos saem da segurança do estilo de sua banda principal e buscam outros gêneros e inspirações para o seus discos solo. Universo Inverso se destaca mais ainda no repertório de Kiko justamente por fugir do prog/power do Angra. Uma pena que eu sou minoria. Adorei a delicadeza e simplicidade de “Recuerdo”. Esqueçam o passado do músico em questão e admire a obra pelo que ela realmente apresenta.

Davi: Kiko Loureiro sempre foi um dos meus ídolos e tive o prazer de receber esse CD das mãos do mesmo, quando estive presente na sede da revista Rock Brigade para realizar uma entrevista com o famoso guitarrista no ano de 2006. Sucedendo o (bom) No Gravity, seu segundo trabalho solo mantinha elementos do rock e do fusion, e se distanciava de tudo que já havia feito antes por adicionar doses cavalares de jazz, música brasileira e música cubana. Os músicos são excelentes e fiquei muito feliz pela participação de outro músico que admiro muito, o baterista Cuca Teixeira. Musicalmente, esse é o álbum que menos gosto de Kiko, ainda que tenha alguns momentos brilhantes como “Feijão de Corda”, “Camino a Casa” e “Havana”. De todo modo, estou curioso para ver os comentários dos colegas sobre o disco.

Fernando: Quando vi que o tema seria álbuns de guitarristas eu imaginei que teríamos uma série de discos gravados por músicos virtuosos tocando para outros músicos. Até aqui isso não tinha acontecido e acredito que o Daniel quis brincar com isso quando escolheu o tema e os discos que entrariam. Mas esse é o representante de disco de guitarrista para guitarristas da lista. Gosto muito do Kiko Loureiro, as coisas que ele fez com o Angra fazem parte da minha vida como fã de metal, adorei o Distopia com o Megadeth, mas ultimamente eu tenho preguiça de ouvir esses discos. Só que Kiko é um guitarrista fantástico e mesmo que você não goste dos estilos que ele aborda em algumas músicas a audição te prende pela curiosidade de saber o que vem depois na música. Quem conhece a carreira dele e e já viu pelo menos uma entrevista sabe que ele tem todo esse background de música brasileira e latina. Apesar de tocar metal ele sempre foi interessado nisso e o próprio Angra foi criado para que esses estilos fossem de alguma forma agregados no tipo de som que o André e o Rafael estavam querendo fazer. Por isso Kiko foi o cara perfeito para aquela hora da banda.

Mairon: Kiko Loureiro vem usando de inspirações latinas pra criar um álbum bem interessante. De cara, “Feijão de Corda” já mostra traços nordestinos no estilo de tocar do rapaz, em uma ótima faixa que equilibra solos melodiosos com um acompanhamento jazzy muito bom, principalmente por conta do piano de Yanel Matos, para mim o principal nome do CD, ao lado dos membros da Point of View (Cuca Teixeira na bateria e Carlinhos Noronha no baixo). O Brasil é a principal fonte de inspiração de Kiko, com o samba jazz de “Samba da Elisa”, com um piano maravilhoso, a leve “Realidade Paralela”, o samba “Espera Aí”, com Kiko ao cavaquinho, “Anastácia”, uma das mais fracas do disco, e na dupla “Arcos da Lapa” / “Monday Mourning”, sendo que a última certamente poderia ter sido concebida pela mente de Tom Jobim, enquanto admirava a baía de Guanabara durante uma segunda pela manhã.  “Ojos Verdes” advém do tango, e novamente, é a Point of View quem dá seu show, assim como a belíssima e dolorida “Recuerdos”, na qual o casamento do piano com o violão é simplesmente perfeito. Já “Camino a Casa” é o momento onde Carlinhos brilha no baixo, e as inspirações advém de uma milonga uruguaia com elementos brasileiros, principalmente pela presença da cuíca. “Havana” vem com inspirações da terra do charuto, e é uma das faixas onde Kiko mais se solta. Um álbum que me surpreendeu positivamente, e essa banda que acompanha Kiko aí, bah, seria perfeita para assistir em um boteco enfumaçado e com um bom uísque. Disco muito bom, onde apesar da guitarra ser o instrumento central, é exatamente quando ela se ausenta onde o álbum cresce mais.

segunda-feira, 19 de outubro de 2020

Steve Hackett - The Night Siren [2017]



Durante 7 anos, o guitarrista inglês Steve Hackett ficou responsável por coordenar as cinco cordas do grupo Genesis, um dos mais importantes nome da cena prog britânica na década de 70, ao lado de Yes, King Crimson, Pink Floyd e Emerson Lake & Palmer. Em 1977, ele abandonou o grupo, buscando novas sonoridades, e seguiu em carreira solo de relativo (ou pouco) sucesso. Hackett realmente voltou à mídia musical em 1986, quando ao lado de Steve Howe, naufragou titanicamente no projeto GTR (de sucesso temporário apenas para quem amava o Pop oitentista).

A partir dos anos 90, o guitarrista resolveu reviver seu passado no Genesis, e investiu pesado nisso, através de Genesis Revisited (1996). Nos anos 2000, montou uma parceria com o grupo húngaro Djabe, participando de vários discos do quinteto, revisitou o Genesis em mais um álbum (Genesis Revisited II, de 2012) até chegar ao seu vigésimo quarto (!) disco de estúdio em 2017, The Night Siren.

Com Jo Hackett, sua esposa

Acompanhado de diversos convidados (os únicos músicos fixos são Rob Townsend, no saxofone, flauta, pífaro, quena, duduk e clarinete, Christine Townsend no violino e viola, e Dick Driver no double bass), tendo como principal deles Roger King, responsável pelos teclados e arranjos (exceto na canção "The Gift", conforme será mencionado), Hackett criou ao lado da esposa Jo Hackett (parceira em 7 das 11 faixas do disco) um álbum muito interessante, misturando elementos e instrumentos de diversas regiões do mundo. The Night Siren passou despercebido por mim quando de seu lançamento, mas nos últimos meses, virou uma constante nas audições que tenho feito no trabalho ou no carro. Hackett é responsável pelas guitarras, alaúde, charango, sitar elétrica e vocais, e você se surpreende como a voz de Hackett é muito boa de se ouvir, com um grave particular mas adocicado, bem diferente do agudo Phil Collins ou da fanha Gabriel.

O álbum começa muito bem, com "Behind the Smoke", uma faixa bastante progressiva, cuja introdução lembra David Bowie em Blackstar, mas que com seu andamento marcial, revela uma canção que alegra de imediato os admiradores de um som jurássico, ainda mais quando Hackett solta a mão para fazer mais um dos seus incontáveis solos majestosos. A grande atração aqui além do solo de Hackett é a orquestração, muito bonita e envolvente, além de Malik Mansurov no Tar (instrumento tradicional da região do cáucaso).  O trecho acústico na segunda metade da faixa já a coloca de cara entre as prováveis favoritas em The Night Siren. As orquestrações também aparecem em "Fifty Miles from the North Pole", uma canção extremamente moderna, com batidas eletrônicas por conta de Gary O'Toole e vocalizações carregadas de efeitos, mas que vale pelo solo Lamb Lies Downiano que Hackett cria. Nessa faixa, temos Ferenc Kovács no trompete e Sara Kovács no didgeridoo (instrumento de sopro dos aborígenes australianos).

Steve Hackett

É bonito ouvir o violão de Hackett na linda "Other Side Of The Wall", com um dedilhado clássico no início, e aquele dedilhado acelerado característico de seu período inicial no Genesis, para abrir aquele sorriso na face do fã. Uma faixa onde o guitarrista mostra que além de exímio nas seis cordas, ele também sabe soltar a voz muito bem. "Anything But Love" também traz o violão como instrumento central, aqui em um ritmo flamenco descomunante. O que Hackett faz ao violão nessa faixa é para se parar tudo o que está fazendo e ouvir com atenção, mas, é só na introdução. Depois, cantando ao lado de Amanda Lehmann, tornar-se algo que nem nos piores momentos do GTR poderíamos imaginar Hackett participando. Como positivo, fica o solo de Hackett com a harmônica, e claro, a bela introdução flamenca. Outra faixa mais abaixo é "In The Skeleton Gallery", com um andamento arrastado e bem diversificada nos ritmos, ora pesada, ora complexa, ora moderna, ora conservadoramente progressiva. Uma faixa estranha, que ainda não me caiu bem.

Versões em vinil branco e Lilás

Porém, esses pequenos deslizes são compensados ao longo de The Night Siren. A experimentação musical de "In Another Life", por exemplo, é surpreendente. O ritmo dos violões na introdução parece nos levar aos tempos medievais. Já a entrada dos vocais tornam a canção quase que apropriada para um luau, e dominada pelas belas vocalizações femininas. Boa faixa, com uma segunda metade surpreendente, onde a gaita irlandesa de Troy Donockley predomina de forma encantadora. "Martian Sea" possui um andamento veloz, graças a participação de Nick D'Virgilio na bateria, com grandes vocalizações e a flauta de John Hackett  que nos remetem a Moody Blues, porém com toques mais modernos, sem permitir o brilho dos solos melódicos das guitarras de Hackett, que aqui mostra um lado virtuoso praticamente desconhecido pelos que o conhecem apenas nas bandas citadas no início do texto. Destaque para o rápido solo de Sitar Elétrica feito por Hackett.

Outra faixa onde os violões surgem com força é a baladaça prog "West to East". O dedilhado dos violões tipicamente Hackettianos são intercalados por trechos vocais muito belos, que trazem a participação dos israelenses Kobi Farhi e Mīrā ‘Awaḍ, assim como Jo Hackett. A bateria ficou a cargo de Gary O'Toole, e o irmão de Hackett, John Hackett, apresenta um belo trabalho na flauta. O arranjo orquestral aqui, com o tema dos violinos, é muito belo. Os instrumentos andinos tocados por Townsend estão presentes na bonita "Inca Terra", faixa com uma harmonia típica dos Andes, e com Hackett brilhando novamente ao violão. Curto muito as vocalizações centrais, a cargo de Hackett, Amanda e Nad Sylvan, que facilmente remetem à Yes, e a parte percussiva que leva ao solo de guitarra é sensacional. Aliás, o pique desse solo vai fazer você certamente lembrar de "Los Endos", e é outra forte candidata a melhor de The Night Siren.

Linda versão Nothern Lights, com a capa imitando a aurora boreal

Das faixas instrumentais, "El Niño" é uma potente canção, onde tudo o que podemos esperar de Hackett na guitarra está ali, ou seja, um solo melodioso, mas inspirado, que em alguns momentos me remeteu a fantástica "Please don't Touch", gravada por Hackett no álbum homônimo de 1976. A bateria aqui está novamente a cargo de Gary O'Toole. Na outra, "The Gift", os teclados de Benedict Fenner e Leslie-Miriam Bennett fazem a cama para Hackett solar gloriosamente, como que mostrando aos fãs o presente que recebeu que é o dom de tocar (E MUITO BEM). Solo tocante, para emocionar estátuas, e fechar com chave de ouro um belo álbum.

Acompanhando o encarte, vamos lendo textos de Hackett que vai nos contando como criou as canções e o conceito para The Night Siren. Então, descobrimos que "Behind the Smoke" é uma homenagem as raízes da família Hackett, "In The Skeleton Gallery" é uma lembrança dos pesadelos de infância de Hackett, "Inca Terra" é uma homenagem para as florestas peruanas do Vale Sagrado, "Other Side of the Wall" é uma história de um sonho de amor que Steve e Jo tiveram, entre outras histórias de um belo disco, que acredito que deve agradar não só a mim, mas todos os fãs de Genesis e rock progressivo em geral.

Linda imagem da capa do CD autografado

Tracklist

1. Behind the Smoke
2. Martian Sea
3. Fifty Miles from the North Pole
4. El Niño
5. Other Side Of The Wall
6. Anything But Love
7. Inca Terra
8. In Another Life
9. In The Skeleton Gallery
10. West To East
11. The Gift

quinta-feira, 26 de julho de 2012

Maravilhas do Mundo Prog: Steve Hackett - Please Don't Touch [1976]




Um dos grandes músicos do rock progressivo é também um dos mais injustiçados dentro do estilo. Estou falando do guitarrista britânico Steve Hackett. Músico inovador, Hackett é um dos responsáveis por introduzir no rock 'n roll o estilo do tapping (tocar as cordas da guitarra batendo nelas com os dedos, alternando as casas do instrumento) e também algo que se tornou muito conhecido dentro do heavy metal melódico nos anos 80, a guitarra sintetizada.

A primeira aparição desse instrumento ocorre em 1976 no disco Please Don't Touch, lançado pouco depois de sua conturbada saída do Genesis. Ao lado de Peter Gabriel (voz, flauta, percussão), Mike Rutherford (baixo, violões, guitarra, vocais), Tony Banks (teclados, violões, vocais) e Phil Collins (bateria, percussão, vocais), participou de uma das mais consagradas formações  do rock mundial. Com eles, gravou os inesquecíveis Nursery Crimes (1971), Foxtrot (1972), Selling England By The Pounds (1973) e The Lamb Lies Down On Broadway (1974), além de Live (1973).

Genesis em 1972: Phil Collins, Steve Hackett, Mike Rutherford,
Peter Gabriel e Tony Banks

A saída de Gabriel após o término da turnê de The Lamb Lies Down On Broadway elevou Phil Collins ao posto de vocalista principal. O Genesis, agora como quarteto, continuou mergulhado no progressivo (apesar de dar pequenos indícios do que iria acontecer anos depois), através dos álbuns A Trick of the Tail (1976), Wind & Wuthering (1976) e o ótimo ao vivo Seconds Out (1977).

Foi durante as gravações de Wind & Wuthering que Hackett começou a compôr algumas canções para um novo álbum do Genesis. Porém, Collins assumiu o posto de chefão do grupo, rejeitando várias composições de Hackett por serem "difíceis" para a nova proposta musical da banda. Indignado, o guitarrista decidiu sair do conjunto e continuar sua carreira solo, a qual havia começado em 1975 com o ótimo Voyage of Acolyte.

Para garantir um trabalho sólido e respeitado, Hackett cercou-se de convidados especiais como Ritchie Havens, Steve Walsh e Phil Ehart (ambos do Kansas), além de uma super banda com Chester Thompson (bateria, percussão), John Hackett (flauta, picolo, teclados), John Acock (teclados) e Tom Fowler (baixo). Para mostrar que era talentoso, resolveu soltar a voz em algumas canções fazendo vozes de fundo. Algo que no Genesis era quase impossível de acontecer.

Steve Hackett, durante gravação de Please Don't Touch

O que foi registrado, em sua maioria, são canções não aproveitadas pelo Genesis. "Narnia" e "Racing A" apresentam a dupla do Kansas. A primeira é uma canções simples que em nada nos remete ao progressivo que seu antigo grupo costumava fazer, mas é muito parecida com o que o Kansas passou a fazer pós-Monolith. A segunda, traz a guitarra sintetizada sendo mostrada ao mundo acompanhada de uma pequena orquestra. Uma mistura do Genesis pós-Gabriel com pop eletrônico, com direito a uma bonita passagem de violão clássico. Outra impressionante habilidade de Hackett. 

"How Can I" é uma linda canção folk, contando com a participação de Havens nos vocais e na percussão. O músico também comanda os vocais em "Icarus Ascending". Essa com uma sonoridade mais pesada, remetendo-nos diretamente às canções de Wind & Wuthering, além de misturar jazz e reggae em uma mesma canção.

Hackett canta em "Carry On Up The Vicarage", sua voz é carregada de efeitos que deformam a mesma tanto para o grave quanto para o agudo. Somente no trecho central podemos conferir a voz de Steve, apesar de ainda existirem outros efeitos. Já RandY Crawford apresenta sua voz soul na balada "Hoping Love Will Last", outra em que as cordas também estão presentes.

"Kim" representa o momento instrumental com um lindo solo de flauta. É exatamente um momento acústico que acabou se tornando a Maravilha Prog dessa semana. Trata-se da faixa-título. 


Contra-capa com o "alerta" para a audição de "Please Don't Touch"
Ela foi oferecida por Hackett ao Genesis ainda na época de A Trick of the Tail e ficou escondida sob os panos do grupo até aparecer no lado B de Please Don't Touch. A contra-capa indica para tomar cuidado com a canção, pois pode deixar o ouvinte confuso e causar problemas de insanidade temporária. E, realmente, é isso que ela faz!

"Please Don't Touch" aparece logo após a vinheta instrumental "Land of a Thousand Autumns", na qual Hackket nos apresenta um pequeno riff central com a guitarra sintetizada explodindo na virada de bateria que apresenta órgão e guitarra repetindo o tema de "Land of a Thousand Autumns". O músico violenta a guitarra através da alavanca, que faz o instrumento gemer. Os sintetizadores dão um clima todo especial para canção. A marcação de baixo e bateria é quebradíssima e os diversos barulhos que surgem ao fundo parecem que constroem uma canção. 

O maluco trecho central surge após uma ponte repleta de marcações extremamente complicadas entre piano, órgão, violão e bateria, com destaque para a performance de Chester Thompson. Nesse trecho central, guitarra e flauta duelam em cima de um tema do folclore britânico. O trecho  é repetido duas vezes, enquanto a ponte é repetida três. Um mágico solo de flauta nos leva novamente para o riff de "Land of a Thousand Autumns", executado entre muitos barulhos pela guitarra e pelo órgão, encerrando essa maravilha com uma abrupta interrupção. Deixa, apenas, o picolo e um fagote reproduzindo o riff principal.

Dessa repetição, nasce "The Voice of Necam". Uma linda passagem de violão feita por Hackett, servindo perfeitamente como conclusão da obra-prima chamada "Please Don't Touch".

Steve Hackett nos anos 2000
Steve Hackett continua em carreira solo até os dias de hoje, tendo gravado mais de uma dezena de LPs que vão desde o blues até a música latina. Em 1985, formou o GTR ao lado de outro gigante do progressivo: Steve Howe. Apesar da sonoridade AOR, o único álbum da banda (GTR, lançado em 1986) apresenta uma sequência para "Please Don't Touch". Trata-se de "Hackett to Bits", na qual o guitarrista mostra toda sua virtuose em cima do riff dessa maravilhosa canção fazendo variações em cima do tema principal. Incrivel! Mesmo tendo ganho uma cara mais moderna. Uma vez Maravilha Prog, sempre Maravilha Prog!!!
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