segunda-feira, 21 de dezembro de 2015

David Gilmour no Brasil - A Primeira Vez a Gente Nunca Esquece



Por Fernando Bueno e Mairon Machado

Os consultores Fernando e Mairon estiveram presentes em dois dos quatro shows que David Gilmour fez no Brasil, e trazem hoje para nós um pouco da emoção que foram as noites de 12 e 16 de dezembro de 2015, as quais ficarão eternizadas no Hall de maiores shows da história brasileira.


São Paulo (FB)

EXTRA!!! EXTRA!!! EXTRA!!!

Interrompemos a nossa programação normal para relatar um acontecimento único. Não tinha intenção de fazer uma resenha sobre um desses shows que David Gilmour estão fazendo no Brasil. Por ser algo que atrairia muita gente não achei necessário isso já que provavelmente muitos sites estarão relatando o que presenciaram nesses dias. Porém, me senti obrigado a registrar minhas percepções sobre esse acontecimento histórico que houve aqui no Brasil. Também cheguei até pensar em procurar algum dicionário de adjetivos pois o meu repertório seria pequeno para descrever o que senti.

David Gilmour é meu guitarrista preferido dentre uma infinidade de assumidades no instrumento. Steve Howe, Randy Rhoads, Eric Clapton e Robert Fripp estão dentre aqueles guitarristas que estão no pódio dos meus preferidos, e todos eles tem que me desculpar. Esses músicos podem ser tecnicamente melhores que David Gilmour, mas nenhum deles consegue transmitir tanta emoção em cada nota tocada. Seus shows inéditos aqui no Brasil nesse final de ano de 2015 certamente comprovam isso.



É de se admirar a comoção de qualquer movimento que Gilmour fazia causava no público. A começar pela loucura que foi conseguir comprar um ingresso para o show. As filas virtuais que aconteceram no dia da compra com mais de três/quatro dezenas de milhares de interessados mostrava o quanto a presença do músico fez falta aqui no Brasil. Certamente o ineditismo desse evento ajudou aumentar a procura por um dos ingressos. A procura foi tanta que a venda para o dia 12 de dezembro foi tão rápida que tiveram que acrescentar mais uma data para São Paulo.

Era possível avistar camisetas com o nome do músico e também de sua antiga banda desde a Galeria do Rock ainda na manhã de sábado. Inclusive as camisetas alusivas ao último disco se esgotaram nas lojas de lá. A cada estação do metrô mais e mais fãs entravam em direção ao Terminal da Barra Funda. Nem a noite chuvosa estragou a animação dos que estavam por ali. Já dentro do estádio as barraquinhas de merchandising também tiveram seus estoques esgotados e até mesmo os copos de cerveja que servem como um ótimo souvenir eram disputados.



O momento que ele pisou no palco foi o primeiro de uma série de picos de emoção do público, que aconteceram também quando ele soltou a primeira nota da guitarra ou quando cantou a primeira palavra. A introdução do show com três músicas de seu novo disco, inclusive a excelente faixa título, achei bastante adequada. Mesmo a grande maioria dos presentes não ter tido ao menos a curiosidade de ouvir o disco a excitação era tanta que abraçaria qualquer coisa que fosse jogada por David.

O que mais me impressionou, e também me emocionou, foi a forma que o público participou nas músicas mais conhecidas do Pink Floyd. Acho que nem em “Love of My Life” no Rock in Rio de 1985 o público cantou tão alto quando em “Wish You Were Here”. Em “Us and Them” a energia que vinha do palco nas partes mais fortes da música foi tão impressionante que foi difícil segurar as lágrimas que só foram se secar no intervalo do show.



Gostei da inclusão de “Astronomy Domine” logo antes de “Shine On You Crazy Diamond”, fechando um pequeno bloco de homenagem à Syd Barret. “Fat Old Sun” e “Sorrow” foram surpresas deliciosas. A mescla de músicas solo com as do Floyd foi muito bem dosadas. Aliás tenho que comentar que o telão foi muito bem utilizados nessas músicas mais desconhecidas pelo público fazendo quem não conhecia as canções ficassem mais íntimos delas acompanhando o que se passava em tela como em “The Girl in the Yellow Dress”.

O final apoteótico com três clássicos do Pink Floyd deixou todo mundo com a certeza de que tinha presenciado algo único. Ao final de um show desses sempre temos aquelas sensação de quero mais e não seria diferente dessa vez. Acredito que se houvesse a possibilidades de sair do estádio, comprar um novo ingresso para uma hipotética continuação do show todos fariam tranquilamente. Os primeiros, e possivelmente únicos, shows de David Gilmour em solo brasileiro foram históricos. Fico com uma certeza, se o inglês ganhasse um segundo para cada pessoa que ele emocionou durante toda sua carreira eles seria imortal.

Set List

5 A.M.
Rattle That Lock
Faces of Stone
Wish You Were Here
A Boat Lies Waiting
The Blue
Money
Us and Them
In Any Tongue
High Hopes
Astronomy Domine
Shine On You Crazy Diamond
Fat Old Sun
On an Island
The Girl in the Yellow Dress
Today
Sorrow
Run Like Hell
Time / Breathe (Reprise)
Comfortably Numb



Porto Alegre (MM)


Depois desse belíssimo relato do Bueno sobre o show de São Paulo, trago minhas impressões sobre o show de Porto Alegre, show não, um verdadeiro espetáculo proporcionado por seis cordas, uma palheta e uma generosíssima dose de talento e competência advinda do senhor David Gilmour.

Com exceção da longa espera no sol escaldante da capital gaúcha, prolongada pela desastrosa organização do evento, que deixou mais de cinco mil fãs torrando por mais de uma hora além do horário programado para a abertura dos portões, e também da dificuldade em sair do estacionamento da Arena, devido as poucas vias de acesso ao local, a estreia do ex-Pink Floyd em terras gaúchas foi a pura perfeição.





Antes de Gilmour pisar no palco, o músico Duca Leindecker, acompanhado de sua banda, fez os gaúchos relembrarem de velhos sucessos do Cidadão Quem, banda famosa no Rio Grande do Sul dos anos 90, e da qual Duca fazia parte. Entre canções que marcaram época para uma geração de jovens e adolescentes da década de 90, Duca acabou deixando marcado para os presentes um cover feito com bastante maestria para o incrível solo de Eddie Van Halen, "Cathedral", surpreendendo à todos os que já lotavam a Arena por volta das 19 horas, pois Duca nunca teve uma fama de ser um virtuose na guitarra. E sobre a lotação aliás, cabe aqui dizer que acho estranho as pessoas falarem sobre crise financeira no país, mas comprarem mais de 40 mil ingressos com preço mínimo em torno de 200 reais. Onde está a crise?

Depois do show de Duca, com pouco menos de uma hora, o palco preparou-se para a atração principal.

Gilmour foi impecável desde o início. A bela "5 A. M.", do novo disco, Rattle That Lock, abriu os trabalhos seguida pela faixa-título e "Faces of Stone", fazendo com que as três primeiras canções do show fossem exatamente as três primeiras canções do novo álbum, as quais amaciaram as gargantas para os fãs poderem soltar a voz no primeiro grande clássico da noite, "Wish You Were Here", com um momento inesquecível onde Gilmour sentiu toda a emoção da plateia, e cordialmente deixou os mais de 40 mil presentes levarem a letra através dos acordes de seu violão. Lindo de ver e lindo de lembrar.





Depois de conquistado o território, Gilmour foi mesclando canções de sua carreira solo com clássicos do Pink Floyd. "Money" trouxe a presença do saxofonista curitibano João de Macedo Mello, que mesmo com apenas 20 anos, mandou ver no eterno solo criado por Dick Parry no álbum Dark Side of the Moon (1973), e me causou o primeiro grande arrepio da noite. Macedo também mandou bem na linda "Us And Them", outra do clássico Dark Side of the Moon, e que fez eu ir às lágrimas, já que esta é uma de minhas canções favoritas do Pink Floyd, e ouvi-la e vê-la sendo interpretada pelo seu criador há pouco menos de 5 m de distância é de uma incapacidade de segurar as lágrimas até mesmo para um salso-chorão.

Antes das duas, rolou "A Boat Lies Waiting", a quarta faixa de Rattle That Lock,  e "The Blue", do seu antecessor, On An Island (2006), e depois da pequena passada por Dark Side of the Moon, veio "In Any Tongue", quinta faixa de Rattle That Lock, o que para quem vem acompanhando a carreira solo de Gilmour, não é uma surpresa, já que ele sempre insere muitas músicas do seu mais recente lançamento em suas turnês, e elas encaixam-se perfeitamente entre as canções clássicas do Pink Floyd.





Falando em canções clássicas, a primeira parte do show encerrou com a linda "High Hopes". Antes dela, o famoso telão circular já havia abrilhantado os olhos dos fãs com imagens clássicas dos clipes de "Money" e "Us and Them", além de closes caprichados na guitarra de Gilmour durante seus solos, mas confesso que ver o famoso clipe da última faixa de The Division Bell ali, enorme diante dos meus olhos, me levou novamente às lágrimas. Melhor ainda, ouvir o solo de Gilmour, sentado na sua slide guitar, e depois tocando violão, foi uma comoção não só em mim, mas em todo mundo que estava ao meu lado. Era uma sensação de nostalgia e incredibilidade, além de alegria, que poucas vezes presenciei em um show. Se acabasse ali, teria sido perfeito, e quando Gilmour anunciou que iria fazer uma pausa de quinze minutos, a ficha caiu, já que se essa primeira hora de show havia sido tão impactante assim, tínhamos que nos preparar para a próxima etapa da viagem sonora que o inglês e sua banda iria nos propiciar.

O intervalo serviu para recarregar as baterias. Apesar dos preços nada convidativos para as bebidas (um copo de água custava R$ 10,00 reais), eu e minha esposa decidimos não beber, já que tivemos a sorte de sermos contemplados com dois copos alusivos ao show, completinhos de Budweiser, e então, do ponto de vista hidratação estávamos bem. Mas as pernas estavam bastante cansadas, até por que um dia antes havíamos enfrentado uma longa viagem de mais de 600 km entre São Borja e Porto Alegre. Sentamos no chão e ficamos esperando Gilmour voltar ao palco, enquanto o pessoal em nossa volta se abraçava e largava os tradicionais "Buda que partiu!" entre outras frases de exclamação e exaltação com o presenciado.





As luzes apagaram-se novamente, e o show recomeçou com uma pancada, "Astronomy Domine", resgatada do clássico The Piper at the Gates of Dawn, o primeiro disco do Pink Floyd, lá de 1967, e que não possuía Gilmour nas guitarras na época, mas sim o fundador Syd Barrett, e foi de uma ensurdecência incrível. Que pancada! Uma violência absurda que iniciou as homenagens à Barrett, seguida pela leveza de "Shine On You Crazy Diamond", a qual completou recentemente 40 anos (a faixa foi lançada em 1975, no álbum Wish You Were Here), e fazendo a Arena urrar com o Gm dos teclados, e também com o magnífico solo de Gilmour, causando obviamente mais lágrimas e mais arrepios nesse que vos escreve.

O telão então virou um gigantesco sol vermelho para Gilmour resgatar outra preciosidade, "Fat Old Sun", de Atom Heart Mother (1970), e surpreender aos presentes com uma impactante apresentação para "Come Back to Life", de The Division Bell. Gilmour retornou com mais duas canções de Rattle That Lock, com os desenhos da história de "The Girl in the  Yellow Dress" preenchendo o telão, e a bela "Today", para então mais uma vez nos surpreender com "Sorrow", faixa que acabou tornando-se um tanto quanto obscura, já que ela advém de A Momentary Lapse of Reason (1987), um álbum considerado menor na discografia do Pink Floyd, mas que para quem viveu o Pink Floyd nos anos 80, que nem eu, trouxe as imagens do VHS Delicate Sound of Thunder (1989). "Sorrow" mostrou que o velhinho está em uma ótima forma, e foi muito legal ver o baixista Guy Pratt e o tecladistas Jon Carin se divertindo com essa faixa, já que ambos também estavam lá no Delicate Sound of Thunder, e vem acompanhando Gilmour em quase todos os shows desde então.






A segunda parte da apresentação encerrou com "Run Like Hell", tendo muitas luzes estroboscópicas e todos usando óculos escuros (apenas resgatando a banda de Gilmour, formada por Jon Carin, Guy Pratt e João de Mello, já citados, além de: Phil Manzarena - guitarra, vocais; Steve Distanislao - bateria; Theo Travis - saxofone; Bryan Chambers - vocais; e Lucita Jules - vocais) e não tardou para que o Bis surgisse, causando mais comoção ainda, primeiro com os despertadores de "Time / Breathe (Reprise)", seguindo com a lindíssima "Comfortably Numb", cantada por Carin e Gilmour, e com um solo estupendo de guitarra, para colocar a casa abaixo e fazer com que a viagem, o longo tempo de espera na fila, e todos os contratempos, valessem muito a pena.

Aliás, só o solo de "Comfortably Numb" já valeu cada centavo investido. Gilmour foi perfeito, arrancando uivos de sua Fender como só ele consegue, e o show de lasers em sua volta criou um clima espacial e viajante que auxiliou ainda mais para arrancar os olhos dos glóbulos oculares, trazendo êxtase para todos os presentes.





A volta para casa foi lenta e complicada por conta do enorme trânsito nos entornos da Arena, mas mesmo assim, a anestesia causada pelas quase três horas de show foi suficiente para que o tempo passasse rápido, enquanto as imagens e os sons da primeira visita de Gilmour no solo gaúcho se tornasse inesquecível. E que não seja a última.




Track list

Parte 1

1. 5 A.M.
2. Rattle That Lock
3. Faces of Stone
4. Wish You Were Here
5. A Boat Lies Waiting
6. The Blue
7. Money
8. Us and Them
9. In Any Tongue
10. High Hopes

Parte 2

11. Astronomy Domine
12. Shine On You Crazy Diamond
. Fat Old Sun
14. Coming Back to Life
15. The Girl in the Yellow Dress
16. Today
17. Sorrow
18. Run Like Hell

Bis


19. Time / Breathe (Reprise)
20. Comfortably Numb

sábado, 19 de dezembro de 2015

Melhores de Todos os Tempos: 1997

Bruce Dickinson e Adrian Smith, reunidos novamente em Accident of Birth
Bruce Dickinson e Adrian Smith, reunidos novamente em Accident of Birth
Por Diogo Bizotto
Com Alexandre Teixeira Pontes, Alissön Caetano Neves, André Kaminski, Bernardo Brum, Bruno Marise, Davi Pascale, Eudes Baima, Fernando Bueno, João Renato Alves, Leonardo Castro, Mairon Machado e Ulisses Macedo
Já foi comentando internamente, por alguns integrantes do site, que 1997 foi um dos anos mais fracos em se tratando da qualidade da música pop mundial. Talvez por isso, talvez nada a ver com isso ou até contrariando isso, apresentamos hoje uma das listas mais variadas desde que a série teve início. Do heavy metal ao pop mais explícito, passando por diferentes vertentes roqueiras, quem obteve mais destaque foi Bruce Dickinson, com o disco que lhe devolveu a admiração daqueles que não andavam muito satisfeitos com os rumos de sua carreira. Esta edição também traz uma novidade. Nosso colega João Renato Alves, editor da Van do Halen, que já foi convidado em edições anteriores e com quem construímos uma relação de colaboração mútua, participa a partir de agora como integrante fixo da série. A mesma coisa ocorre com os amigos do Minuto HM, outro site que sempre manifestou seu apoio, alternando a presença dos irmãos Alexandre e Flavio Teixeira Pontes, que também já colaboraram anteriormente. Dito isso, não posso deixar de lembrá-los que nossa listagem final, baseada nas individuais, segue o sistema de pontuação do campeonato mundial de Fórmula 1. Agora confiram o resultado!

Bruce Dickinson - Accident of Birth (121 pontos)
Alexandre: Eu não o coloquei em primeiro apenas por uma preferência pessoal pelo disco do Kiss. Mas é super correto afirmar que este é o melhor álbum de 1997. O Iron Maiden não faz um disco assim desde a saída de Dickinson até agora. Aliás, vou além, desde a saída de Adrian Smith, no final da década de 1980. Sei que é ousadia afirmar isso, mas além da qualidade dos bons tempos do Maiden, Accident of Birth tem alguns pontos extras por soar mais moderno, mas longe de ser "modernoso". Só encontra rival desde então justamente no álbum subsequente do próprio Bruce,  The Chemical Wedding (1998). O crédito, além de Dickinson, que é um ótimo compositor, vai também para Roy Z e Adrian Smith, uma dupla que entrega ótimas guitarras durante tudo aqui. Smith só é coautor de duas faixas, mas certamente trouxe mais classe e categoria ao já competente trabalho de Roy Z. O solo de "Man of Sorrows" é lindo, perfeito, sem necessariamente ser uma avalanche de notas. Vou escrever o óbvio, mas o vocal de Bruce é soberbo, assim sinto falta apenas de um baixo como o de Steve Harris pra competir com sua então ex-banda. Ainda assim, Eddie Casillas faz bonito, por exemplo, em "Taking the Queen". Exceto talvez por "The Ghost of Cain", ligeiramente inferior, as faixas são todas muito coesas, podendo destacar "Darkside of Aquarius" como a melhor do álbum.
Alissön: A donzela definhava lançando discos medíocres, enquanto Bruce Dickinson voava baixo com lançamentos seminais e postulantes a clássicos modernos. O primeiro após Bruce Dickinson se tocar de que ele não manja nada de rock alternativo é um belo registro de metal refrescante, moderno, sem muitas invencionices desnecessárias... Um grande disco, em resumo. Ainda me impressiono com a qualidade de canções como "Freak" e "Darkside of Aquarius", ambas com um bom gosto melódico e peso na rifferama para dar orgulho ao mais fiel amante de heavy metal.
André: Aproveito a primeira colocação para soltar meu desabafo pessoal: esse é, para mim, o pior ano da história da música. Somente os quatro primeiros colocados da minha lista pessoal considero trabalhos excelentes, e do restante para baixo são no máximo bons. E desses quatro, Dickinson foi o que mais brilhou aos meus ouvidos. Tenho Accident of Birth há muito tempo, um dos primeiros discos que comprei, antes mesmo de ter qualquer peça do Iron Maiden. E o considero o melhor trabalho vocal do senhor "Air Raid Siren". Apoiado pelo eterno Adrian Smith, Bruce voltou à relevância do heavy metal com canções excepcionais do naipe de “Freak”, “Darkside of Aquarius” e “Omega”. Clássico, mas com uma produção moderna e vigorosa, cortesia do na época não tão conhecido Roy Z.
Bernardo: Acompanhados de Adrian Smith, Bruce e Roy Z voltaram ao jogo ganho do heavy metal após Skunkworks (1996). Tem alguns bons momentos, como "Man of Sorrows".
Bruno: Uma volta ao heavy metal tradicional após as experimentações de Skunkworks e Tattooed Millionaire. A parceria com Adrian Smith e Roy Z rendeu um belíssimo disco, mas ainda considero o sucessor, Chemical Wedding muito superior.
Davi: Pesado, cativante, humilhante. Accident of Birth demonstra que havia vida para Bruce longe do Iron Maiden. O mesmo não posso dizer do Iron com sua errônea fase com Blaze Bayley. “Darkside of Aquarius” tem ar de hit. “Road to Hell” nos leva de volta aos seus tempos de Maiden. “Accident of Birth” e “Freak” trazem um ar moderno, mas sem perder suas características principais. Repleto de composições marcantes, ótimo instrumental e trabalho vocal animalesco, o cantor manteve a qualidade de sua ótima discografia solo (sim, gosto de Skunkwors e Balls to Picasso, de 1994). Discaço!
Diogo: Felizmente, Bruce acordou para a vida e se ligou que bancar o alternativo não era com ele, deixando de lado as invencionices mal aplicadas de Skunkworks e pisando em território muito mais seguro mas ao mesmo tempo muito mais excitante. Não tem aquela interessantíssima dose de ousadia de The Chemical Wedding, mas prepara o terreno muito bem, soando tradicional e atual na mesma proporção. Steve Harris provavelmente adoraria ter composto músicas como as melódicas "Road to Hell", "The Magician", "Starchildren" e talvez até a power ballad "Taking the Queen", um dos destaques do álbum. Imagino a reação do fã do Iron Maiden que, na época, não andava muito excitado com o que a banda vinha fazendo com Blaze Bayley, ao dar o play no disco e ouvir, de início, uma canção viciante como "Freak". Melhor ainda se deparar com um metalzão elaborado como "Darkside of Aquarius", que adianta parte daquilo que viria no lançamento seguinte, sem falar na magnífica faixa-título, que, no meu caso, foi paixão à primeira ouvida, com seus riffs pesados, linhas vocais bem sacadas e um Bruce Dickinson mais "malvado". Era algo que eu não esperava, e me agradou muito.
Eudes: Neste quarto álbum de Dickinson, na companhia do bom guitarrista e produtor Roy Z, o vocalista atira em várias direções. Com vocais talvez mais contidos (pelo menos mais graves), Dickinson aposta em faixas algo groovy, como "Starchildren", em heavy de refrão grudento ("Freak"), no esquemão seção suave seguida de seção pesada, na melhor faixa do disco, "Taking the Queen", e por aí vai revisitando com talento os vários clichês do gênero e chegando a um disco bastante divertido. Ouve-se com prazer, mas é difícil entender por que ele encabeça esta lista.
Fernando: A carreira solo de Bruce teve muitas facetas. A primeira foi com músicas setentistas, bem diferente do que fazia no Maiden. Foi uma válvula de escape, quando o interesse do vocalista pelo metal puro diminuiu. O segundo foi uma afirmação de que ele podia ser relevante sem ser totalmente metal. Skunkworks foi uma tentativa de ser moderno que fracassou, apesar de algumas qualidades ficarem escondidas no meio do todo. Com a aproximação de Adrian Smith, Bruce sentiu que o estilo em que ele se dá melhor é mesmo o heavy metal.
João Renato: Apesar de Steve Harris ter sido o dono da bola no Iron Maiden por toda a existência do grupo, várias das minhas músicas preferidas saíram da dupla Bruce Dickinson e Adrian Smith. Accident of Birth resgata o lado mais tradicional do heavy metal que consagrou a dupla, após ambos terem passado uma temporada em litígio conjugal com o gênero. Sons sensacionais do começo ao fim do tracklist, com Bruce reencontrando seu melhor registro vocal, perdido na década anterior, além de um acompanhamento de primeira do Tribe of Gypsies, capitaneado por Roy Z. Não oferece nenhuma novidade, como aconteceria no próximo, mas é um alívio para maidenmaníacos decepcionados com o que vinha sendo produzido.
Leonardo: Depois de experimentar bastante em seus três primeiros discos solo, o então ex-vocalista do Iron Maiden recrutou o também ex-guitarrista da banda Adrian Smith e retornou com uma sonoridade perfeita para agradar os fãs de seu antigo grupo. E o resultado foi muito acima da média. Unindo os riffs e solos melódicos de Adrian Smith aos vocais e refrãos pefeitos de Bruce Dickinson, o álbum é um deleite para os fãs do estilo, com canções fortes, memoráveis e marcantes. Altamente recomendado.
Mairon: O quarto álbum de Dickinson foi lançado depois do contestado Skunkworks, e é um disco interessante. Gosto quando um artista lança material solo que foge das alças de sua banda tradicional – aqui no caso, do Iron Maiden – e Dickinson traz em Accident of Birth mais peso, principalmente pela presença da guitarra de Roy Z, que, ao lado do ex-Maiden (na época) Adrian Smith, cria riffs que sacodem as perninhas. Mas o destaque mesmo vai para a linda "Taking the Queen", uma sequência primorosa de "Wasting Love" e "Tears of the Dragon", mas melhor do que as duas. Por outro lado, "Arc of Space" e "Man of Sorrows" são chatérrimas. No geral, além de "Taking the Queen", escapam-se "Freak", "The Magician", "Darkside of Aquarius" e "Omega". Acho demasiado este primeiro lugar, e apesar de certamente não querer o mesmo na minha prateleira, não é de todo ruim
Ulisses: Com Roy Z na produção e a presença do parceiro de Donzela Adrian Smith, Bruce e sua trupe trouxeram um disco calcado no heavy metal tradicional, sem mais nem menos. Faixas como "Freak", "Starchildren" e "Road to Hell" são bem sólidas; por outro lado, a bem trabalhada "Darkside of Aquarius" é a melhor composição do CD, que tem seus altos e baixos, mas agrada a quem curte o eterno "Air Raid Siren". Agora, melhor do ano? Exagero.

02 Visions
Stratovarius - Visions (82 pontos)
Alexandre: Bem, depois que o Helloween e o Angra mudaram de vocalistas, eu confesso ter perdido um certo interesse no estilo mais melódico que ambos desenvolviam. A verdade é que o Stratovarius tem um som com mais influências clássicas, como o som de guitarra neoclássico que tem relação direta com o que fez Yngwie Malmsteen desde o início da década de 1980 em carreira solo. Outro detalhe também importante é que a participação dos teclados do ex-Malmsteen Jens Johansson não se limita aos sons de base e harmonias; há bastante espaço para solos aqui. Eu gostei do álbum, cheguei inclusive a cogitar colocá-lo entre os dez melhores do ano, até porque 1997 também não é tão pródigo assim em lançamentos. Acabou ficando de fora, mas certamente estaria entre os 15 ou 20 da lista. O destaque absoluto pra mim é "The Kiss of Judas". A instrumental "Holy Light" alterna climas e um trecho de impressionante virtuosismo entre Jens e o ótimo guitarrista Timo Tolkki. O outro Timo da formação entrega desafiadores vocais e encaixa perfeitamente com a proposta. O restante do álbum traz, na grande maioria, faixas aceleradas do metal melódico e uma ou outra balada, a não ser pela faixa-título, de longa duração, na qual há espaço para tudo que a banda desenvolve. Uma boa escolha para o ano, sem dúvida.
Alissön: Teclado demais pro meu gosto. Passo.
André: Talvez o disco mais representativo do auge do “metal espadinha” daqueles tempos. Clichês e mais clichês do estilo são despejados sem dó por aqui. E tudo de maneira brilhante. Melodias, velocidade e os agudos de Timo Kotipelto junto àquela aura fantasiosa e de sentimentos positivos aos quais o Stratovarius sempre foi afeito. Era o auge criativo do atualmente insano Timo Tolkki. Músicas como “Black Diamond” e “Forever Free” praticamente serviram de guia para o power metal dos dez anos seguintes.
Bernardo: O mais maneiro do Stratovarius é ter um baixista chamado Lauri Porra. Fora isso, é o mesmo power metal de sempre.
Bruno: Como de costume, me recuso a comentar metal espadinha.
Davi: Álbum emblemático na carreira do Stratovarius e álbum emblemático da cena heavy dos anos 1990. Foi com este disco que tive meu primeiro contato com a banda e ainda me lembro do alvoroço entre a garotada da época. Com seu melhor line-up, o grupo fazia um som melódico de primeira. O egocêntrico Timo Tolkki se tornou referência com sua pegada à la Malmsteen. Kotipelto demonstrava ser a escolha certa para o cargo. Sonoramente, davam um passo adiante do (ótimo) Episode (1996). Destaques: “The Kiss of Judas”, “Black Diamond”, “Forever Free”, “Paradise” e “Visions”.
Diogo: Apesar de haver alguns discos do estilo dos quais eu gosto mais, Visions talvez represente o auge do que foi o power metal melódico nos anos 1990, com músicas que, apesar de terem características que inegavelmente as classificam como heavy metal, são praticamente canções pop em um formato mais "elástico", admitindo bumbos velozes (e disso Jörg Michael entende muito bem, conduzindo as canções com tranquilidade), solos de guitarra e teclado de influência erudita (Timo Tolkki é um dos melhores discípulos de Yngwie Malmsteen, vide a instrumental "Holy Light"), riffs pesados (mas não tanto) e um vocalista que consegue cantar "lá em cima" sem necessariamente ser um gritalhão. Duvidam? Ouçam "Black Diamond" e "Paradise" e digam se estou errado. Podem ouvir até do lado das suas mães (caso elas não apreciem heavy metal) que elas não vão estranhar muito o que está rolando. "The Kiss of Judas" e "Forever Free" são outras duas ótimas canções que não fogem muito desse esquema. Mesmo "Legions", que tem uma pegada mais oitentista, traz um daqueles refrãos indefectíveis. Nas músicas mais lentas o grupo também foi feliz, tornando Visions o preferido de uma grande (a maior?) parte dos fãs. Não é meu caso, pois prefiro Episode, que tem guitarras mais na cara e algumas composições mais inspiradas, como "Father Time" e "Will the Sun Rise".
Eudes: Meninos prodígios, tocando seus instrumentos com competência endiabrada e faixas cheias de força e ganchos, com um pé no rock progressivo e outro no estilo Metallica. Bacana. Tinha ouvido algo nos anos 1990 e nunca voltei à banda até agora. Não sei se entraria na minha lista pessoal, mas sinto que devo ouvir a banda com mais atenção.
Fernando: Sei que o povo antimelódico vai criticar, mas este disco é certamente um dos pilares do estilo. A banda com Kotipelto nos vocais vinha de Fourth Dimension (1995), uma evolução no som da banda em relação a quando Timo Tolkki ainda fazia a dupla função de guitarrista e vocalista, e Episode, que moldou melhor o que seria o som da banda a partir de então. Visions tem tudo o que os fãs de heavy metal procuram, riffs e mais riffs de guitarra, solos rápidos, solos lentos e cheios de melodia, bateria na velocidade da luz e um vocalista privilegiado se destacando em refrãos inspiradíssimos. “Black Diamond” é uma pérola do metal, mas ela não é destaque sozinha, o nível das outras músicas é tão parelho que mais faz o disco parecer um "Best of".
João Renato: Uma coisa que me incomoda um pouco quando leio esta seção é que, muitas vezes, os comentários deixam o disco de lado para questionar a opção alheia, chegando às raias do pessoal, especialmente quando se trata do metal. Digo isso porque tenho certeza que este álbum sofrerá com este tipo de declaração improdutiva e desagradável da parte de quem só quer expressar seu rabugentismo, seja para aparecer ou para cutucar alguém por um motivo que o leitor desconhece. Visions é o melhor trabalho do Stratovarius, representando o auge criativo do grupo. Apesar de os trabalhos posteriores terem alcançado sucesso, a inspiração se esgotou aqui. As músicas são complexas e, ao mesmo tempo, de fácil assimilação.
Leonardo: Sem dúvida alguma, o melhor disco de metal melódico/melodic power metal lançado nos anos 1990. Dando continuidade ao estilo criado pelo Helloween na década anterior, o Stratovarius levou ao limite a mistura de riffs rápidos, vocais agudos e andamentos acelerados, mas com composições marcantes, refrãos fortes e uma virtuosismo instrumental que funcionava com maestria a favor das músicas. Por mais repetitivo e previsível que o estilo tenha se tornado nos anos seguintes, é impossível não se empolgar com músicas como "Black Diamond", "The Kiss of Judas", "Forever Free" e "Legions".
Mairon: Olha, entre tantas porcarias que apareceram na lista, Visions até que se salvou. Conheci Stratovarius há muito tempo, e até achava legalzinho. Não lembro qual era o disco que eu ouvi, mas sei que não era Visions. Achei bom, principalmente canções que me lembraram Helloween, como "Legions", "Black Diamond", mas até as baladinhas "Before the Winter" e "Coming Home" fazem os ouvidos se voltarem para as caixas de som. Timo Tolkki é um belo guitarrista, principalmente nos solos de "The Kiss of Judas" e "The Abyss of Your Eyes", e o batera Jörg Michael é um animal no seu kit, destacando-se em "Forever Free". Destaque total para a incrível instrumental "Holy Light", um show de duelos entre guitarra e teclado, e a longa faixa-título, enquanto "Paradise" é uma faixa menor neste álbum. Não é uma banda que me faça ir atrás da discografia, mas tomara que esteja em um top 3 nesta lista vergonhosa que os consultores entregaram para vocês.
Ulisses: Quando comecei a dar meus primeiros passos no mundo do metal, "Black Diamond" foi uma das primeiras músicas que ouvi. É a faixa de abertura e, para mim, o maior destaque do clássico Visions, um dos mais celebrados discos do quinteto finlandês. A presença de composições mais trabalhadas e não tão focadas na velocidade, como "The Kiss of Judas", "Paradise" e "The Abyss of Your Eyes" ajuda a dar um frescor na audição, enquanto que o estilo característico do gênero é bem representado por petardos como "Forever Free", "Legions" e a épica "Visions (Southern Cross)".

04 Flaming Pie
Paul McCartney - Flaming Pie (62 pontos)
Alexandre: Um bom álbum de Paul, em que praticamente todas as faixas me agradam, exceto pela "açucarada" em excesso "Little Willow" e a mistura estranha de balada com música mais acelerada de "Beautiful Night". Há  uma importante participação de Jeff Lynne, que havia produzido as faixas inéditas que entraram em Anthology (1995), dos Beatles, lançado alguns anos antes. Quem conhece algo do Eletric Light Orchestra, banda de Lynne, vai perceber alguns toques particulares dele que complementaram muito bem as composições de Paul, como em "Young Boy" ou "If You Wanna". A canção que mais gosto é "Somedays", com uma orquestração com cordas e sopros que tem a marca McCartney. "Heaven on a Sunday" é um pouco mais moderna em relação ao restante do clima do disco, um blues com toques pop, que também me agrada, com os solos do filho de Paul, James. Também gostei da boa participação de Steve Miller no blues à la Robert Cray "Used to Be Bad", mas achei a faixa em uma espécie de jam session com o outro beatle, Ringo Starr ("Really Love You"), um pouco extensa para o propósito. Dentro da safra de 1997, este Flaming Pie dá conta e com sobras.
Alissön: Eu não sou um conhecedor da carreira solo de cada um dos Fab Four, mas sei que uma música do velho Macca nunca é demais. Pelas audições, notei um clima mais agreste, sempre mantendo o pé no pop, que é a maior habilidade do sujeito. A faixa de abertura é uma lindeza pop com vocais carregados de interpretação emotiva, uma das melhores composições que já escutei de Paul McCartney. Ouvirei com mais atenção nos próximos dias, então não direi nada mais aprofundado sobre o mesmo no momento.
André: Nunca serei aquele cara que irá suspirar por qualquer álbum solo de um ex-beatle, mas o baixista canhoto sempre teve uma carreira digna. E este bom álbum do McCartão é mais um que demonstra um ótimo instrumental, arranjos bem feitos e a sempre cristalina voz de Paul em grande estado. Talvez por eu gostar daquela coisa mais juvenil dos Beatles eu acabe não valorizando tanto os trabalhos solo dos caras.
Bernardo: Com Ringo Starr na bateria e George Martin nas orquestrações, tem um gostinho de Beatles, apesar de nem de longe concorrer. "Beautiful Night", simpática como ela só, é um dos pontos altos do álbum.
Bruno: Não ouvi.
Davi: Empolgado em reviver o passado no projeto Anthology, dos Beatles, Paul McCartney resolveu voltar ao básico em seu álbum seguinte. Contando com o auxílio de Jeff Lynne (Electric Light Orchestra), George Martin e a participação especial de Ringo Starr, não tinha como não atingir seu objetivo. Em Flaming Pie, McCartney comprovava o que todos já sabem: além de ser um grande músico, é um dos melhores compositores que existem. Tente ouvir “Beautiful Night” e não se emocionar. Outros momentos de destaque: “The World Tonight”, “If You Wanna”, “Young Boy” e “Flaming Pie”.
Diogo: Flaming Pie é formado por uma coleção de canções agradáveis em sua totalidade, recheadas de melodias aprazíveis, instrumentação na medida e uma produção que, apesar de bastante polida (no melhor estilo Jeff Lynne), funciona e destaca o inegável caráter pop do tracklist. Encontrar, em meados dos anos 1990, um disco de rock como este, explorando aspectos positivos e extraindo música boa disso, é um achado. Admito, porém, que apesar dessas qualidades, não é o tipo de álbum que verdadeiramente chama minha atenção, que desperta tesão e me dá vontade de ouvir repetidamente. Algumas músicas são bem interessantes, como "Young Boy" (a única que conhecia previamente), "The Song We Were Singing", "The World Tonight" e "Beautiful Night", mas não chegam a fazer de Flaming Pie um disco que deve rolar muitas vezes por aqui.
Eudes: Declaração de briga: Flaming Pie é o melhor disco de rock lançado em 1997. A par disso, o álbum marca uma das mais espetaculares ressurreições de um artista na história da música pop. Entre o final dos anos 1970 e o começo dos 1990, Paul lançou uma coleção de discos medianos e mesmo ruins (uma possível exceção é o gostoso Flowers in the Dirt, de 1989, feito em colaboração com Elvis Costello) que pareciam decretar a decadência definitiva do ex-beatle. Flaming Pie recoloca Paul no panteão dos gênios indomáveis vindos dos anos 1960. A abertura com a delicada e inspirada "The Song We Were Singing", que emenda com o rock abusado "The World Tonight", já nos mostra que Paul não estava de brincadeira. "Calico Skies" está entra as melhores baladas que Paul compôs, e olhe que a concorrência é pesada, enquanto a faixa-título, uma canção de amor nostálgica (Paul vinha da perda de Linda), nos remete ao cancioneiro escocês. Depois de anos, em "Somedays" Paul volta à uma canção de elegância soul, fazendo lembrar o clássico Wings at the Speed of Sound (1976). Na faixa-título, Paul rocka pra valer, nos legando um de seus melhores arranjos cinquentistas, enquanto em "Souvenir" se arrisca em um blues como não fazia desde Wild Life (1971). Não fosse o bastante, o disco traz ainda a já clássica "Beautiful Night". Pra fã nenhum se decepcionar!
Fernando: Confesso que, apesar de dizer ser fã do melhor dos Beatles, eu nunca tinha ido atrás dos discos dele que saíram da metade dos anos 1980 para a frente, com exceção do mais recente, o ótimo New (2013). Não tinha a mínima idéia de que, em plenos anos 1990, Paul estaria fazendo música tão boa. Aliás, isso era óbvio de se esperar dele, não é?
João Renato: O projeto Anthology reaproximou Paul de seu lado mais pop. Apesar de não ser seu melhor disco, oferece uma agradável audição descompromissada. Simples, direto, sem grandiosidades na produção, é um trabalho que vai direto ao ponto. Nenhum grande clássico, mas várias pequenas pérolas do cancioneiro, incluindo parceria com Ringo Starr, o ser humano comum mais legal que existe. Aliás, fazia tempo que não escutava o play de cabo a rabo, o que agradeço pela oportunidade.
Leonardo: O talento de Paul McCartney como compositor, desde os Beatles, passando pelo Wings e desembocando em sua carreira solo, sempre foi indiscutível. E Flaming Pie é mais uma prova disso. Contendo canções mais simples e despojadas do que na maioria de sua carreira solo, o álbum prova que a força de um disco vem primordialmente de suas canções, e não de seus arranjos ou produção. Ainda assim, a sutileza de faixas como "Beautiful Night" é irresistível.
Mairon: O pessoal fica dando uma de renovador de lista e me traz a velha insipiência de Paul McCartney para os dez melhores de 1997??!! Flaming Pie é um disco que começa legalzinho de ouvir, com forte presente do violão de Macca e da guitarra de Jeff Lynne, mas depois de "Somedays", a pior do disco, fica bem chatinho. Baladinhas sem sal, pouca inspiração e muito repetitivo. Chegou a dar sono.
Ulisses: Um registro decente; nada mais que isso. No meio das faixas roqueiras e "down to earth", como "The World Tonight" e "If You Wanna", tem-se momentos mais sutis (“Heaven on a Sunday”), nostálgicos ("The Song We Were Singing") ou simplesmente especiais ("Beautiful Night"). E, ainda bem, o eterno beatle faz tudo funcionar direitinho.


03 OK Computer
Radiohead - OK Computer (51 pontos)
Alexandre: Entrou na minha lista, mas não sou fã da banda ou do estilo. Não há, no entanto, como negar sua importância e sua influência para boa parte do que foi feito desde então por bandas como o Muse, para chover no molhado. Mas também se percebe a influência da psicodelia, em especial dos Beatles, na fase em que mais gosto, do Sgt. Peppers Lonely Hearts Club Band (1967) em diante, na concepção deste OK Computer. Os arranjos são um ponto forte do álbum pra mim, pois várias das múltiplas texturas de guitarras e instrumentos como xilofones e pianos elétricos, com efeitos, como os de delays curtos, fazem papel fundamental no clima durante todo o trabalho.  E algo que eu sempre levo em consideração é o fato de que a banda consegue reproduzir praticamente tudo ao vivo. O outro destaque são as melodias melancólicas criadas em especial através das linhas vocais, como em "No Surprises". Destaco a parte do meio de "Paranoid Android", outra linda melodia vocal, além do ótimo uso das diversas camadas de guitarras com efeitos e o que me pareceu ser uma guitarra de 12 cordas em "Subterranean Homesick Alien" durante o seu refrão. Faixas como a ótima "Exit Music (For a Film)" vão influenciar também bandas como o Dream Theater em "Disappear", do álbum Six Degrees of Inner Turbulence (2002), por exemplo. Fica claro a abrangência e o impacto deste OK Computer não só em artistas que tenham uma proximidade ao estilo trazido pelo Radiohead. É muito justa sua presença nesta lista dedicada a 1997.
Alissön: Eu não sei bem como classificar o som deste álbum. Quando comecei a usar o site Rate Your Music, logo percebi que o disco mais bem conceituado de todos era justamente este, na frente de outros maravilhosos, como The Dark Side of the Moon (Pink Floyd, 1973) e Pink Moon (Nick Drake, 1972). Achei que fosse exagero hipster dos usuários, mas o preconceito logo foi por terra ao fazer minha primeira audição do dito cujo. A pegada eletrônica e o uso de ambientações foi de agrado imediato, mantendo, no mesmo nível, a levada pop dos vocais de Thom Yorke e as belas melodias de guitarra. Se fosse para eleger um disco para ser considerado clássico eterno dos anos 1990, citaria este sem pestanejar. Belíssima presença, e se lhe fosse concedido o primeiro lugar, o seria feito com muita justiça.
André: ZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZ.
Bernardo: Thom Yorke e sua trupe, junto ao Nirvana, foram dois dos maiores símbolos da música mainstream dos anos 1990. Enquanto o Nirvana entrou para a história com desespero adolescente vertido em peso, distorção e agressividade, o Radiohead apostou em texturas, atmosferas e estruturas e harmonias pouco óbvias para comentar o efeito da tecnologia sobre o homem. "Paranoid Android", o momento mais assustador do álbum, tem um ritmo ao mesmo tempo seco e envolvente – quase maníaco – que pouco se assemelha aos dois singles mais famosos do álbum, as melancólicas "Karma Police" e "No Surprises". A música do século/década seguinte, após o estouro desses colossos, dificilmente seria a mesma.
Bruno: O Radiohead sempre me incomodou um pouco por ser a banda queridinha da crítica. Mas Ok Computer é um grande disco, obviamente não tão revolucionário como é dito por aí, mas um bom representante do rock mainstream do final dos anos 90. Acessível e experimental ao mesmo tempo.
Davi: Último disco decente do Radiohead. Os caras começaram bem com Pablo Honey (1993), deram uma derrapada de leve em The Bends (1995) e voltaram a acertar em cheio em OK Computer. “Karma Police” e “No Surprises” comprovam que era possível ser pop tendo conteúdo. “Electioneering” e “Airbag” trazem guitarras distorcidas do álbum de estreia de volta. A soma das guitarras distorcidas com o vocal choroso de Thom Yorke era meio que um pré-Muse. Já faziam aqui o que o (ótimo) grupo de Matthew Bellamy faz. “Climbing Up the Walls” já apontava para um lado experimental. Tinha de tudo para ser um dos grupos mais legais dessa geração, mas foram para um lado "cult" que me irrita profundamente. Realmente, uma pena!
Diogo: Todo o hype em cima deste disco conspirava contra, mas não é que o desgraçado é bom mesmo? É muito bom ver quando uma banda está em seu auge e consegue unir boas composições a arranjos inteligentes, algo em profusão em OK Computer. Mais que isso, o quinteto soube aplicar no álbum influências de 30 anos de música pop e fazer com que tudo soasse atual. Da melancolia pós-punk à criatividade progressiva, tudo se encaixa e soa bem. Os músicos souberam fazer do estúdio um instrumento para construir um disco, não apenas gravá-lo, e isso é algo do qual gosto muito. Os guitarristas Jonny Greenwood e Ed O'Brien, em especial, estão afiadíssimos, trabalhando na construção de paisagens musicais ambiciosas. Sei que esta série tem especial valor por muitas vezes não seguir aquilo que é tendência, por mostrar que, por trás da elaboração dessas listas, há pessoas com gostos muito peculiares, mas admito que esta edição ficaria incompleta sem a presença de OK Computer.
Eudes: Não sou exatamente fã do Radiohead, mas o compromisso histórico não poderia admitir a ausência deste disco nesta lista. Mas, fora isso, o álbum é mesmo bem bacana, oscilando entre o rock de corte clássico, as intervenções progressivas e um inovador bric a brac eletrônico. Além disso, Thom Yorke é um compositor inspirado. "Paranoid Android" e "The Tourist" resumem bem um disco cheio de seduções.
Fernando: Apesar de gostar dos primeiros discos do Radiohead até mais do que deste daqui, reconheço que é com OK Computer que eles serão lembrados pela eternidade. Temos psicodelia, rock alternativo, progressivo, hard rock e um pouquinho de jazz em uma mistura fantástica. Apenas como curiosidade, este álbum aparece como o melhor disco de todos os tempos se levarmos em consideração a pontuação dadas pelos fãs de música em geral no site Rate Your Music. Na frente de coisas maravilhosas como The Dark Side of the Moon. Isso é um fato grandioso, não?
João Renato: Acredito que nem o próprio Radiohead imaginava que OK Computer se tornaria o que acabou virando. Porém, o jeito “deprê cabeça” do grupo não me agrada. Sou adepto do rock farrista, que não leva nada a sério nem tenta salvar o mundo.
Leonardo: Para muitos, o disco definitivo da década de 1990. Na minha opinião, um amontoado de riffs, efeitos, vocais e refrãos desconexos, que não fazem muito sentido. Pode ser que seja genial e eu que não tenha compreendido. Passo.
Mairon: Confesso que nunca tinha ouvido este álbum, e tinha grande expectativa nele. Afinal, sempre ouvi falar bem dele, que vendeu muito, que é o melhor disco da década de 1990 e blá blá blá. Resumo com a tradicional frase: CHATO BAGARÁI! Com exceção de "Electioneering", ótima faixa aliás, OK Computer é uma choradeira sem fim no qual poucos momentos se salvaram. Quando "Karma Police" rodou, entendi que pelo menos ele tem uma representação entre os lançamentos de 1997, já que ela tocou demais nas rádios, mas bah, foi dose aturá-lo.
Ulisses: Este eu tinha certeza que iria figurar por aqui. Nunca morri de amores por ele e muito menos pela banda, mas ele tem diversas qualidades e é fácil compreender por que é tão idolatrado: um misto de psicodelia, progressivo, pós-punk e música eletrônica se fundamenta em letras reflexivas e melancólicas, além de belos arranjos. É a cara dos anos 1990. A esquizofrênica "Paranoid Android", a linda "Exit Music (for a Film)" e a canção de ninar "No Surprises" são as minhas preferidas do disco.

05 The Boatman's Call
Nick Cave and The Bad Seeds - The Boatman's Call (47 pontos)
Alexandre: Pra mim, o segundo pior da lista. Entendo que a ideia é ser sutil, melancólico e o tal minimalismo, mas o álbum inteiro ser assim o torna cansativo demais. Até é bem gravado, mas eu fiquei esperando algo durante o disco inteiro e ele não saiu da monotonia em pouco mais de 50 minutos. Só não é pior que o Racionais MC's porque naquele lá ninguém canta e ninguém toca nada no álbum. Além de tudo, a voz de Nick é muito limitada aos tons graves, basta ele resolver tentar algo minimamente mais alto que eu levanto sérias restrições, como nos refrãos finais de "People Ain't no Good" ou também no fim da última faixa, "Green Eyes". Os tons graves são até bonitos, no entanto. Esse eu passo, não serviu nem como sonífero.
Alissön: O ápice de Nick Cave como músico, letrista e produtor. Ao invés da pegada post-punk de outrora, o disco se baseia em harmonias conduzidas por pianos e maior influência de música pop, sem deixar aquele ar sombrio e até mesmo gótico de canto. "People Ain't No Good" continua sendo um dos momentos mais arrasadoramente sentimentais e uma das músicas mais lindas da história. Não preciso dizer mais nada, o disco fala por si só.
André: Gosto de Nick Cave and the Bad Seeds, mas não deste disco. Segundo rezam as lendas, este álbum foi gravado depois de um chute na bunda que PJ Harvey deu no australiano devido o seu envolvimento com Kylie Minogue e aí chorou suas pitangas neste disco à base de piano. Acho que ele plagiou a ideia aí de um certo mutante...
Bernardo: Após a versatilidade de Murder Ballads (1996), Cave lançou The Boatman's Call, um de seus discos mais introspectivos, inteiramente baseado em piano. O que poderia render um disco homogêneo encontrou na sensibilidade de Cave momentos emocionantes, como "Into My Arms" e "(Are You) The One that I've Been Waiting For?".
Bruno: Certa vez li uma resenha desse disco dizendo que é o som de um coração se partindo. Não há definição melhor. Após dois relacionamentos fracassados, Nick Cave muda o tom em um álbum basicamente calcado no piano, com os Bad Seeds servindo apenas como trilha sonora de fundo. Uma das performances mais sinceras da história da música pop e meu trabalho favorito do compositor australiano.
Davi: Sabe aquele dia em que você precisa ir dormir cedo porque tem que acordar cedo na manhã seguinte, mas está sem sono e não sabe o que fazer? Pois é... Você coloca este disco do Nick Cave para tocar que é tiro e queda. Deveriam vender na farmácia.
Diogo: Quando se conhece pouco a respeito de determinado artista, trabalhamos com os níveis de comparação que temos à disposição. No meu caso, é o fato de ter ouvido Murder Ballads para a edição anterior desta série. Admito que gostei mais daquele do que deste, mais intimista, melancólico e, por que não?, mais cansativo. Não é que o disco tenha deixado uma impressão ruim ou algo do tipo, pelo contrário, mas é que a sua aparente linearidade não soa muito atraente para o ouvinte eventual, meu caso. Achei que Murder Ballads tem mais "cores", enquanto The Boatman's Call trabalha com diferentes tons da mesma cor, no caso, um vermelho não tão vivo quandto eu gostaria. Talvez, se houvesse mais músicas como "Far From Me" e "Idiot Prayer", o resultado seria melhor, mas admito que este diagnóstico tem muito a ver com minha pouca familiaridade em relação à obra de Nick Cave.
Eudes: Depois do "criminal record" do ano anterior, Nick seguiu na onda temática e fez um CD inteiro sobre amores, desilusões e chifres em profusão. Chifre é sempre um tema infalível na música popular, e se tomado por um artista especialista em entortar tudo em que põe a mão, pode virar um troço deliciosamente indefinível. A sequência de tristezas musicais desfiada por Cave, que podia degenerar em uma audição sem graça, enfileira surpresas escondidas em canções bem urdidas e bem amarradas, que se fazem ouvir sem esforço e grudam dias e dias em nossa cabeça. Outro discão do cantor!
Fernando: Os consultores descobriram um novo ídolo? É isso? Porém, antes tarde do que nunca. Gostei dos dois discos dele que apareceram por aqui. Não sei se é o caso, mas seu som me lembrou o clima dos álbuns do Tom Waits, que também apareceu aqui na série em duas ocasiões. Porém, Nick Cave é infinitamente melhor.
João Renato: Nick Cave possui uma voz bem característica e as músicas são muito bem compostas e arranjadas. Porém, depois da quarta, se tornou cansativo para mim. Talvez seja mais agradável ouvir em pequenas pílulas. Na íntegra, me exigiu esforço.
Leonardo: Minimalista, centrado no piano e na voz de Nick Cave. Para quem curte baladas introspectivas e melancólicas. Não é o meu caso.
Mairon: Disco surpreendente, ainda mais depois da decepção que foi Murder Ballads na lista de 1996. Levado pelo piano, é um álbum que ainda soa depressivo, mas que desta vez me agradou em cheio, com destaque para as lindas "Into My Arms" e "(Are You) The One that I've Been Waiting For?". Adorei o violino e o violão em "West Country Girl", com sua levada country que me lembrou Johnny Cash. O ritmo lento de "People Ain't No Good", "Idiot Prayer" e "Where Do We Go Now But Nowhere?", também chamou atenção dos meus ouvidos, e até o órgão em  "There is a Kingdom", "Far from Me" e "Lime Tree Arbour" soa agradável. Claro, nem tudo é perfeito, e "Black Hair", "Green Eyes" e "Brompton Oratory" são provas de músicas desnecessárias, mas o disco é bom no geral, apesar de não considerá-lo suficientemente bom para 1997.
Ulisses: Por conta das simples, belas e delicadas conduções ao piano e ao baixo, The Boatman's Call é bem mais agradável de se ouvir do que a obra do australiano que deu as caras aqui na edição anterior (Murder Ballads). As composições são serenas e facilmente apreciáveis, mas nada que eu vá ouvir novamente. Serve como música de fundo. Sei que tem gente que ouve isso e fica maravilhado; não é o meu caso.

06 Buena Vista Social Club
Buena Vista Social Club - Buena Vista Social Club (41 pontos)
Alexandre: Depois de uma reação de quase incredulidade, quando ouvi os primeiros momentos da primeira faixa, "Chan Chan", não teve jeito... Afinal, este é o único dos álbuns que eu sequer havia ouvido falar dos autores. Assim, após uma pesquisa na internet, fiquei estarrecido com o reconhecimento deste álbum e sua incrível vendagem. Aí eu li o nome de Ry Cooder e parece que algo fechou, trazendo o sentido que não havia percebido anteriormente. Bem, eu não tenho e provavelmente jamais terei qualquer álbum do gênero na minha coleção, o que não quer dizer em absoluto que eu o achei ruim. Na verdade, me senti em uma trilha de cinema cuja ambientação pedisse algo similar, e as canções foram passando tranquilas, com ótimo instrumental. De negativo, não sou muito chegado nas músicas em espanhol, embora entenda que o estilo combina com a língua, indubitavelmente. Assim, meus sinceros parabéns aos consultores que possuem o conhecimento para citar este álbum entre os melhores, embora eu apenas possa respeitar a escolha. Ouvi com atenção, posso destacar que me agradam boa parte das harmonias vocais, um solo de violão mais desafiador na faixa "El Cuarto de Tula", um bom trabalho do instrumento em "Y Tú Qué Has Hecho" e os sons do slide guitar que devem ser de Cooder em "Orgullecida".
Alissön: Sons latinos nunca me agradaram muito. Exatamente por esse motivo eu nunca caí de amores pelo Buena Vista Social Club. É uma merecida presença, reconheço, mas continuo não apreciando a audição.
André: Não conhecia o trabalho. Pelo que pesquisei, um guitarrista norte-americano juntou uns músicos tradicionais cubanos que gravaram velhas canções e passaram a ser conhecidos no mundo, visto que jamais conseguiriam qualquer reconhecimento apenas tocando no playground particular de Fidel Castro. Para quem gosta desses ritmos caribenhos deve ser bom, mas não adianta eu mentir: achei chato pacas. Não consigo dissociá-lo de música tocada ao fundo de algum bar latino-americano comum.
Bernardo: Produzido por Ry Cooder com base no documentário homônimo de Wim Wenders, o disco coloca em evidência a vanguarda musical cubana trazendo alguns dos melhores momentos do que tocava na trilha sonora do clube de dança da década de 1940. Sempre sofisticado, com alguns momentos sublimes.
Bruno: Um daqueles discos históricos que devem ser vistos não como um simples trabalho, mas um registro cultural importantíssimo. Essencial.
Davi: O grande guitarrista Ry Cooder se uniu ao músico cubano Juan de Marcos Gonzalez e juntos fizeram uma homenagem ao clube de dança Buena Vista Social Club, onde vários músicos costumavam se encontrar na década de 1940. O disco resgata ritmos latinos tradicionais. Na época, estava ocorrendo um resgate da música latina por conta do sucesso de alguns artistas pop latinos. Isso deve ter influenciado o sucesso em torno do álbum, já que não se trata de um som radiofônico. Durante a audição, é possível notar que artistas como Maná, Gloria Estefan, Santana e até mesmo Ricky Martin se inspiraram bastante nesses ritmos para construir suas músicas. O disco é bem feito, bem tocado, bem gravado, mas que é estranho aparecer entre os preferidos dessa turma headbanger aqui, ah, isso é...
Diogo: Não tenho uma relação próxima com esse tipo de sonoridade e inclusive duvido muito do fervor que alguns manifestam para com artistas assim, de cunho mais ideológico que musical, mas não sou estúpido a ponto de não saber apreciar uma obra com a qualidade de Buena Vista Social Club quando ela se apresenta na minha frente. Música tradicional, mas perfeitamente inserida na modernidade, de cunho local, mas que dialoga com qualquer um que não viva fechado dentro de sua concha. O disco transpira honestidade, nada daquele exotismo barato que alguns artistas famosos tentam vender em países anglófonos através do uso de ritmos caribenhos, mas que não soam muito além de um pastiche mal ajambrado que só serve pra enganar trouxa. Ouvi pouco o álbum para tecer este comentário, mas desde já destaco a canção que lhe empresta o nome. Uma lembrança diferente, mas positiva.
Eudes: Lá pelo fim dos anos 1990, não tinha uma única festa daqueles amigos descolados em que não se ouvisse a viciante "Chan Chan", canção que abre o álbum Buena Vista Social Club. E, de fato, a canção soava como aquelas coisas que, ao mesmo tempo, nos remetem a lembranças indistintas do passado e ainda assim a sensações absolutamente novas. É que o son, ritmo cubano que não teve a mesma difusão que a rumba e o cha cha cha nos anos 1950, nunca tinha sido ouvido entre nós. "Chan Chan" nos dominou com seu tom nostálgico e pop, com sequência de notas familiar aos ouvidos acostumados ao blues. Mas nem só de "Chan Chan" vive o álbum que, na verdade, é uma coleção de grandes clássicos dos cassinos cubanos no tempo em que o país era pouco mais do que um grande bordel para turistas norte-americanos, recebidos sob os auspícios da máfia. Portanto, sim, os frenéticos e românticos ritmos caribenhos estão todos lá! Mas, afinal, porque este disco alcançou status lendário, uma vez que essas coisas se podiam encontrar em formações como os bem conhecidos Românticos de Cuba? O diferencial vem da autenticidade alcançada pelo recrutamento dos sobreviventes dos anos 1950, gente como os extraordinários cantores Ibrahim Ferrér e Omara Portuondo, o pianista virtuose Rubén Gonzalez e o guitarrista e cantor Compay Segundo. Essa turma de velhinhos transviados, vivos e ativos nos buracos da noite habanera, resgataram não só peças clássicas mas pouco ouvidas fora da ilha, como recuperaram a forma como eram tocadas nos bons tempos, em que se destaca a inusitada combinação de cordas sedosas e ataques de naipes de metais, tudo sob a condução do piano de Gonzalez. Conta a lenda que, obcecado pelas canções que captava em seu rádio do outro lado do mar do Caribe, na juventude, Ry Cooder resolveu garimpá-las com ajuda de um grupo de músicos malês que, entretanto, esbarraram na burocracia e não puderam desembarcar em Cuba, o que levou Cooder a recorrer a esses velhos artistas. Mas, na boa, deve ser mentira. O próprio Cooder narra no filme homônimo que o resgate dos velhinhos fazia parte de um projeto. Bem ou mal, o fato é que Buena Vista cometeu a proeza de fazer com que um disco cubano chegasse a vender 6 milhões de cópias e recolocasse em circulação uma arte que se julgava extinta.
Fernando: Sempre li e ouvi falar dessa que é a banda cubana mais conhecida. Porém, nunca havia realmente escutado. Apesar de me soar bem aos ouvidos, atualmente estou em outra vibe musical. Vai ficar para um futuro.
João Renato: Vivendo no interior do Rio Grande do Sul, você se acostuma a lidar com a música tradicional, especialmente aquela com base nos violões. Por isso, apesar de ser uma abordagem diferente, o trabalho do Buena Vista Social Club não é difícil de ser compreendido. Talvez o impacto tenha sido maior para quem não estava acostumado, mas não dá para dizer que era algo realmente diferente do que quem vive “longe demais das capitais” escuta. Mesmo assim, uma ótima pedida.
Leonardo: Bom, este site se chama Consultoria do Rock. E, definitivamente, este não é um disco de rock. É interessante, animado e perfeito para aquela festa ou churrasco na beira da piscina. Mas não entra na minha lista de melhores discos de rock de 1997.
Mairon: A prova de que essas listas de Melhores de Todos os Tempos caíram na mediocridade a partir dos anos 1990, porque, sinceramente... Bom, melhor nem falar nada... Para ouvir bêbado em uma praia paradisíaca cercado de lindas latinas, ou seja, sem prestar atenção na música.
Ulisses: Um disco gostoso de apreciar, muito por sua gravação, que mergulha o ouvinte na música cubana de forma vibrante, acolhedora e intimista. Me peguei gostando mais das faixas animadas, como "De Camino a La Vereda", "El Curato de Tula" e "Candela", mas o registro inteiro é muito bom. Um álbum riquíssimo como este me parece do tipo que já teria uma matéria completa e detalhada aqui na Consultoria...

08 Carnival of Souls
Kiss - Carnival of Souls: The Final Sessions (40 pontos)*
Alexandre: Sei que boa parte dos consultores e dos leitores que aqui comentam vão querer o meu fígado por isso, mas não tenho dúvidas em afirmar que este é o meu álbum preferido de 1997. O problema dele é que seu lançamento só seu deu pelo fato de ter vazado pela internet e aí a banda resolveu tentar ganhar algum trocado antes que mais ninguém o comprasse. Assim, Carnival of Souls não foi lançado, foi jogado no mercado, sem divulgação, com uma formação diferente daquela em que o Kiss se encontrava naquele instante, em plena "reunion tour" e faturando horrores com o tal revival. Como pra mim o que interessa é música, e citando um dos frequentadores do Minuto HM, o Daniel, eu adoro quase sempre quando o Kiss não soa como o Kiss. Foi assim com Dynasty (1979), no pesado Creatures of the Night (1982), no renovado Lick It Up (1983) e mais ainda no conceitual Music from "The Elder" (1981), todos ótimos trabalhos. Aqui eles resolveram seguir a proposta "grunge", mas o lançamento foi tardio. Ainda assim, o disco tem ótimas canções e ótimos solos de Bruce Kulick, talvez em seu melhor álbum na banda.  As faixas cantadas por Simmons têm mais relação com a proposta, como a ótima "Hate" ou a soturna "I Confess". Mas o vocal de Paul Stanley está em ótima forma, em especial em "It Never Goes Away". E é dele também a única balada, "I Will Be There", com cordas, violões e bandolins, que fizeram bonito no arranjo. No fim, uma ínédita e boa faixa com Kulick nos vocais, "I Walk Alone", que ele acabou levando para tocar com o Union (projeto com John Corabi) quando foi chutado do Kiss. Gostaria apenas de ouvir mais da bateria de Eric Singer, um tanto apagado e simples. De resto, podem me chamar de doido, mas este CD furou de tanto tocar aqui em casa.
Alissön: Este é o Kiss tentando ser grunge. Apenas tentando mesmo, porque o resultado final é tão ruim que chega a doer. Disco lotado de ideias equivocadas, em que apenas "Childhood's End" se sobressai em, vejam só, uma música que mais parece ter saído de algum lado B do Soundgarden. Faria sentido a citação deste disco se este fosse o fórum do Kiss Army.
André: Esta entrada aqui surpreendeu. Creio que o responsável tenha sido um certo judeu aqui que é fã da banda. Curiosamente, também tenho este disco, comprado há muito tempo quando eu queria ter qualquer coisa do grupo e o vi em promoção na internet. Comprado no escuro e só pelo nome Kiss mesmo. Uns dizem que eles tentaram pegar a boquinha da recente onda grunge, mas não vejo isso por aqui, exceto a banda tentando soar mais obscura e noventista. Nem de longe é destaque na discografia dos caras, mas ouvir “Master & Slave” (um dos raros momentos do Kiss em que Simmons se destaca com seu baixo) e “In My Head” é um alívio nesse ano tão bizarro que foi 1997. Felizmente, as coisas começaram a melhorar muito de 1998 para frente.
Bernardo: O momento grunge do Kiss. O último suspiro criativo da banda. Depois tudo voltou para o mesmo reme-reme de sempre.
Bruno: Kiss em 97, é brincadeira, hein?
Davi: Este álbum do Kiss sempre dividiu opiniões, assim como Music from "The Elder". Acredito que a razão seja a mesma. Os rapazes saíram de seu som tradicional para fazer algo fora de seu universo. Simplesmente amo este álbum. Carnival of Souls é ainda mais pesado que Revenge (1992). Traz um Eric Singer inspiradíssimo, conforme podemos comprovar já na primeira faixa, “Hate”, e um Paul Stanley extremamente endiabrado. Para quem quiser ter uma ideia da direção musical, diria que se aproxima da sonoridade que Bruce Kulick viria a trabalhar pouco tempo depois no Union. Faixas de destaque: “Hate”, “Rain”, “Master & Slave”, “Jungle”, “In My Head”, “I Confess” e “In The Mirror”.
Diogo: O pessoal gosta de colocar uns discos "meio meio" do Kiss por aqui, não? Primeiro foi Dynasty, depois Music from "The Elder" (alguns incluiriam Lick It Up também, mas esse considero ótimo) e agora este Carnival of Souls, cujo lançamento muito provavelmente não teria ocorrido em circunstâncias normais. O jeitão cru é até interessante e gosto de ver o Kiss explorando territórios diferentes daquele que consagrou o quarteto, mas o álbum exibe uma deficiência de composições realmente boas. Há canções interessantes, como "Rain" (Alice in Chains mandou um abraço), "Master & Slave" (riffzaço matador) e "Jungle" (Bruce Kulick mandando bem no baixo), destacando a boa forma de Paul Stanley, mas nenhuma delas chega a ser verdadeiramente memorável, coisa que o grupo atingiria um ano depois com algumas faixas de Psycho Circus, mais debochado, mais brega, menos noventista e sem medo de ser feliz.
Eudes: Mesmo no seu auge, nunca entendi o culto ao Kiss e nem mesmo jamais me senti impulsionado a comprar um de seus discos de rock qualquer coisa (de bandas qualquer coisa ainda prefiro os Rolling Stones) Para mim, o Kiss sempre foi um grupo de canções em que confundia rock básico com rock primário (do tipo batatinha quando nasce...). Agora, este disco com a banda em plena decadência (ou até mesmo no pós-decadência, já que a decadência propriamente dita se deu nos anos 1980) entrar em uma lista de melhores desafia todas as minhas faculdades de entendimento. A tentativa de soar como uma banda de Seattle é apenas patética, e a derivação em direção a diferentes vertentes do rock, inclusive o progressivo, apenas deixa à mostra a competência limitada dos músicos. Incompreensível!
Fernando: O Davi é fã mesmo de Kiss, hein!!! Afinal, só ele tendo colocado este disco fraquíssimo do Kiss em primeiro para que ele tenha conseguido entrar aqui. Com a iminente volta de ex-integrantes clássicos, o Kiss aproveitou restos de estúdio da formação até então atual e soltou Carnival of Souls. Até a capa dá a impressão de que as coisas foram feitas às pressas.
João Renato: Todos que me conhecem sabem que o Kiss é minha banda preferida, a razão por eu ter mergulhado de cabeça no rock. Porém, confesso que fiquei surpreso em ver Carnival of Souls na lista, até porque o deixei de fora da minha. Quem acompanha a carreira do grupo sabe que eles sempre gostaram de surfar na onda do momento, então, não era de se estranhar que fossem pegar carona no grunge. O problema é que a maioria das músicas não dá sustentação. Some a isso o fato de esta ser, nas palavras dos próprios, uma demo mal acabada, que só foi lançada porque cópias piratas se espalhavam pelo mundo. Poucas composições me agradam, todas de Paul Stanley, que estava em um momento vocal sublime.
Leonardo: Antes de tudo, confesso que sou um grande fã do Kiss. É, sem dúvida nenhuma, minha banda favorita, e confesso ser daqueles que colecionam todo tipo de produto lançado pela banda. E, até por isso, por se tratar da minha banda favorita, sou muito crítico em relação à mesma. No meio de tantos discos maravilhosos e canções extraordinárias, há coisas insuportáveis, como "No No No", do álbum Crazy Nights (1987), ou "Read My Body", de Hot in the Shade (1989), entre muitas outras. E este Carnival of Souls é, na minha opinião, o momento menos inspirado da carreira da banda. Tentando seguir a linha grunge/altenativa tão em alta na época, Paul Stanley, Gene Simmons e cia. compuseram um álbum insosso, grave e carente de músicas mais animadas e com bons refrãos, como a banda sempre teve. Há algumas boas canções, como a estupenda balada "I Will Be There" e as pesadas "Jungle" e "Rain", todas de autoria de Paul Stanley. Mas, no geral, é um disco que não empolga. Com tantos lançamentos mais interessantes no mesmo ano, não sei como conseguiu emplacar na lista.
Mairon: Ótimo disco do Kiss, mantendo o excelente nível de Revenge. Depois do Unplugged (1996) e da coletânea You Wanted the Best, You Got the Best!! (1996), os fãs estavam esperando pelo retorno da formação mascarada, mas eis que veio Carnival of Souls, pegando todo mundo de surpresa. Tendo como maior sucesso a pesadíssima "Jungle", o disco tem influências grunge, como atestam os riffs de "Hate", "It Never Goes Away", "Master & Slave", "In the Mirror" e "Rain", todas faixas pesadas e arrastadas, que, se fossem registradas alguns anos antes, teriam feito muito sucesso entre seguidores das bandas de Seattle. Destaque para o ritmo alternado de "I Walk Alone", a linda "I Will Be There", com o acompanhamento harmonioso dos violões, as pancadas "I Confess" e "Seduction of the Innocent", e o quebra-pescoço de "In My Head".  Não há nenhum resquício do Kiss festeiro dos anos 1970 ou do Kiss carregado de purpurina dos anos 1980, mas sim, uma versão genérica de Alice in Chains ou Soundgarden, e que de jeito nenhum deve ser desprezada. Não lembrei deste álbum quando fechei minha lista de dez melhores, e acredito que, se tivesse lembrado, estaria entre os cinco melhores. Flor de lótus desta lista.
Ulisses: Não é a sonoridade clássica do Kiss, mas é bom. Na verdade, lembra um pouco o Alice in Chains. Várias canções têm qualidade acima da média, como "Master & Slave", de baixo marcante e bom refrão, a viajante "Jungle" e o encerramento com "I Walk Alone". Mas que é esquisito ouvir um Kiss assim, é!

07 Whoracle
In Flames - Whoracle (40 pontos)*
Alexandre: A banda é competente, não há dúvida, mas não consegui gostar do estilo do vocal. Assim, a análise fica de alguma forma prejudicada. Nos tons mais graves, então, acho quase inaudível o que é cantado, como no primeiro minuto de "Worlds Within the Margin". Parece que há um vocal ali, mas ficou a dúvida... Dentro do trabalho, a quarta faixa, "Dialogue with the Stars", instrumental, foi a que se destacou pra mim, com guitarras dobradas e violões fazendo a harmonia em cima da pancadaria bem construída. Achei que o álbum também tem alguns tracks baixos na mixagem, como o solos de "Morphing Into Primal" e "Jester Script Transfigured", que foi justamente a música que destaquei entre as cantadas. Também não gostei da cover do Depeche Mode, embora também não goste de Depeche Mode. Pra resumir: não, obrigado.
Alissön: Ouvi menos este disco que o anterior – The Jester Race (1996) –, mas o nível de qualidade se manteve. Os vocais de Anders Fridén continuam sendo o contraponto perfeito para estruturas exuberantemente melódicas, complementadas com muita harmonia e senso técnico. A habitual influência medieval continua sendo o diferencial que coloca a audição de um disco do In Flames (noventista, não a porcaria de hoje em dia) entre as mais prazerosas do estilo. Belo disco e bela presença.
André: Houve uma notória queda de qualidade aqui se comparada com The Jester Race. Há músicas muito boas, como “Food for the Gods”, “The Hive” e “Worlds Within the Margin”, mas “Jotun” e “Everything Counts” jogaram o disco para baixo. Acho que quiseram soar como o anterior com o acréscimo de mais melodias, porém, as composições não empolgam como antes. Fica naquela categoria de álbuns razoáveis.
Bernardo: De novo? Bem, interessante, mas não me chama atenção.
Bruno: Uma cartilha de melodeath. Meu disco preferido do In Flames.
Davi: Disco bacana, pesado, com algumas faixas muito boas, muito bem tocadas. In Flames é uma banda que sempre teve personalidade e Whoracle demonstra um enorme avanço em relação a The Jester Race, inclusive no trabalho vocal. Entretanto, para o desagrado de muitos, minha fase favorita começa em Reroute to Remain (2002). Surpresa ver que a banda é tão amada entre os consultores. Não esperava por essa.
Diogo: A turma liderada por Jesper Strömblad estava mesmo inspirada na segunda metade dos anos 1990. A combinação de agressividade nos riffs e nos vocais de Anders Fridén com as melodias extraídas de sua guitarra continuaram dando certíssimo em Whoracle e continuariam a fazer bonito por ao menos mais dois discos, que também merecem dar as caras por aqui. Tanto quanto, ou até mais do que em The Jester Race, a banda brinca de ser o Thin Lizzy (ou o Iron Maiden?) do death metal, recheando as canções de guitarras que ficam na mente do ouvinte e ajudam a tornar o In Flames muito peculiar, mesmo que não tenha sido o único pioneiro daquilo que ficou conhecido como death metal melódico. Só sei que, quando descobri a banda, na época de Clayman (2000), achava isso tudo muito novo e excitante. Assim como seu antecessor, o álbum é equilibrado e a maioria das faixas é memorável, variando entre a porradaria mais direta ("Morphing into Primal") e a saudável mescla entre passagens acústicas e agressiva eletricidade ("Dialogue With the Stars", "Jester Script Transfigured"). Minha favorita mesmo é "Episode 666", de riff forte e cheia de licks que a complementam tal qual o Judas Priest fazia em seus melhores momentos.
Eudes: Nunca havia ouvido a banda até a edição anterior. Heavy padrão, bom de ouvir e fácil de esquecer.
Fernando: O In Flames foi uma excelente novidade para mim nesses últimos meses. Já disse na edição anterior que foi um tempo perdido eu não ter conhecido essa banda lá na década de 1990. Acredito que Whoracle é até melhor que The Jester Race.
João Renato: Meus preferidos do In Flames são Colony (1999) e Clayman (2000), embora a banda não faça realmente parte do meu playlist. Whoracle tem suas qualidades, mas ainda soa um tanto quanto confuso para minha assimilação. Acho seu antecessor, The Jester Race, melhor, mais encaixado, especialmente nas partes acústicas.
Leonardo: Uma das bandas mais originais e prolíficas dos anos 1990, o In Flames lançou uma sequência de álbuns incríveis entre 1996 e 2000. E destes, Whoracle é um dos melhores. Partindo da base death metal melódico de seu disco anterior, o grupo expandiu um pouco seu som, adicionando algumas influências industriais e vocais limpos em algumas faixas. Mas os riffs e solos de Jesper Strömblad, principal compositor e solista da banda na época, continuavam certeiros, e o trabalho de guitarras continuava incrível. Escute "Jotun", "Episode 666" e "Words Within the Margin". O death metal melódico não fica melhor do que isso.
Mairon: Novamente, gostei do instrumental e não gostei do vocal. Conheci a banda através da lista de 1996, e não percebo nada de mais nela. Até me chamou um pouco de atenção a introdução de "Food for the Gods", as passagens acústicas de "Jester Script Transfigured", e, de novo, as melhores canções são as instrumentais, "Dialogue With the Stars" e "Whoracle". Pior, ainda conseguiram estragar a linda "Everything Counts" (Depeche Mode). Peguei nojo depois disso, e, pelo jeito, estou realmente por fora dos novos bons sons, já que mesmo o CD tendo 40 minutos, quando chegou nos 20 eu já clamava pelo seu fim. Espero nunca mais ter que ouvir nada da banda.
Ulisses: De novo um disco do In Flames por aqui. Achei este bem menos legal que o antecessor, trazendo duas faixas fillers instrumentais e um cover do Depeche Mode (aff!), mas músicas como "The Hive" e "Jester Script Transfigured" salvam o registro.

09 Come On Over
Shania Twain - Come On Over (37 pontos)
Alexandre: Mais um tiro certeiro de Mutt Lange, o produtor que havia levado tanto o AC/DC quanto o Def Leppard, entre tantos outros, a venderem o que venderam com álbuns como Back in Black (1980), Hysteria (1987) e Pyromania (1983). O que é um tanto questionável para os puristas do estilo tido como de raiz de Shania (o country) é o caminho indiscutível que ela fez juntamente com Mutt em direção ao pop, mas, assim como Hysteria do Def Leppard, certamente foi exatamente isso que a fez vender os mais de 40 milhões de álbuns com este Come On Over. Não é o meu caso, já que não sou um purista da chamada country music. Assim, o álbum vai bem pra mim, o vocal da moça é muito bom e o instrumental impecavelmente conduzido por Lange, com arranjos feitos para arrebentar as paradas de sucesso. O cara é praticamente imbatível nisso. Os toques de pedal steel guitar, acordeão (ou sanfona, pra quem preferir), slide guitar, banjos, violinos (ou rabecas), o som "estalado" dos captadores single coil das Fenders Stratocasters estão aqui e ali, pra lembrar que Shania precisava atingir também o pessoal do country, mas o apelo pop é pra lá de latente. E eu nessa história? Bem, eu posso conviver com isso, sem problemas, como já afirmei. E gosto bastante das baladas também, "From this Moment On" em especial. Não votei no álbum, mas não vejo problemas nele estar aqui. Mas a gente podia ficar sem o videoclipe de "Man! I Feel Like a Woman!", ô coisa horrorosa... E fica a pergunta: Será que a Paula Fernandes vai ter alguma chance aqui na Consultoria?
Alissön: Achei que nunca mais ia ter o desprazer de ouvir as músicas pavorosas dessa mulher. Popzinho sem vergonha com um ranço country da pior qualidade. "Medonho" ainda é elogio.
André: As meninas adolescentes da minha época de escola adoravam esse country pop da canadense. E, convenhamos, ela mereceu o sucesso. Shania tem um baita vocal, é carismática e as músicas aqui são bem grudentas, principalmente a carro-chefe “Man! I Feel Like a Woman!”. Não é meu estilo, mas dou crédito para a entrada dela por aqui.
Bernardo: Obrigado por me fazerem ouvir "Man! I Feel Like a Woman!" de novo – ainda é tremendamente divertida. Vão à merda por me fazer ouvir "You're Still the One" de novo – ainda é melosa de dar diabetes.
Bruno: Não é minha praia.
Davi: Ótima surpresa ver este disco por aqui. Contando com a impecável produção de Mutt Lange (AC/DC, Def Leppard), o terceiro disco da lindíssima Shania Twain traz uma perfeita mistura entre country, rock e pop. Shania não era apenas um rostinho bonitinho, era uma cantora extremamente afinada e carismática. Seu trabalho vocal no álbum é muito bem feito. Característico, sem maneirismos e com refrãos que entram fácil no inconsciente para nunca mais sair. Com este trabalho, deixou de ser uma artista consagrada no universo country para se tornar uma artista mainstream (The Woman In Me, de 1995, já havia meio que aberto as portas para isso). O disco é repleto de diversos momentos memoráveis, como “Black Eyes, Blue Tears”, “Don't Be Stupid (You Know I Love You)”, “That Don't Impress Me Much”, “Rock This Country!”, “When”, “Love Gets Me Every Time”, “Man! I Feel Like a Woman!” e “You're Still the One”. Para quem não ouve apenas porradaria, disco recomendadíssimo.
Diogo: Fico feliz que eu não tenha sido o único a lembrar desta, que é uma obra que faz jus ao enorme sucesso obtido. Ao lado de seu marido e produtor, o lendário Robert John "Mutt" Lange, Shania compôs e interpretou uma coleção de canções muito bem resolvidas, executadas à perfeição (com a ajuda do excelente guitarrista Dann Huff) e, por que não?, em vários momentos realmente excelentes, e não falo apenas de seus maiores hits. "When", por exemplo, que não foi lançada como single nos EUA e é a favorita da própria Shania, equilibra-se perfeitamente sobre o tripé que sustenta Come On Over: pop, country e rock de arena. "Black Eyes, Blue Tears" é outra, entre as menos lembradas, que faz bonito. Aliás, quem joga a responsabilidade pelo sucesso do disco mais para Mutt do que para Shania tem que ouvir seu belíssimo trabalho vocal, afinado, equilibrado, sem os exageros de tantas outras cantoras que querem chamar a atenção mais para si do que para suas canções. Em se tratando de baladas, gosto muito de "You're Still the One" e "You've Got a Way" também tem seu charme, mas é em "From This Moment On" que se atinge o clímax do álbum, especialmente após o solo de guitarra, quando a canadense solta a voz de maneira emocionante. Além dessas, várias outras empolgam muito, caso de "Love Gets Me Every Time", "Don't Be Stupid (You Know I Love You)" e "Honey, I'm Home", todas com uma pegada mais country, além de "Rock This Contry!", mais arena impossível, e da debochada "That Don't Impress Me Much", que aparece em mixagens diferentes (todas ótimas) conforme os lançamentos, assim como outras canções de Come On Over.
Eudes: Delicado, bem executado e extremamente convencional, este disco tem como principal traço o fato de ter sido um best seller sem precedentes entre artistas mulheres do machista gênero country 'n' western. Afinal, dele se extraíram nada mais nada menos do que 12 singles, 11 dos quais chegaram ao top 5. Fora isso, que não é pouco se nossas listas levam o critério influência em conta, a obra não contém maiores atrativos. Mas parece que há quem goste!
Fernando: Rááá!!! Pegadinha do malandro! Fiquei esperando até o último minuto alguém dizer que a inclusão deste disco era zueira. Pelo jeito não era....
João Renato: Das 16 faixas, 12 foram lançadas como single. A produção do recluso Mutt Lange, marido da moça, é certeza de qualidade técnica. Mas tudo é muito comportado, certinho, no lugar. Você sabe exatamente onde chegará a próxima ponte, o próximo refrão, tudo bonitinho. De qualquer forma, vale para ver de onde boa parte das cantoras brasileiras atuais tirou a inspiração.
Leonardo: Robert "Mutt" Lange, produtor de bandas como AC/DC, Foreigner e Def Leppard nos anos 1980, sempre foi uma máquina de fazer hit singles, daqueles com enorme apelo pop. E ainda que tenha tido um retorno fenomenal com os artistas citados, foi provavelmente com a cantora Shania Twain que seu trabalho alcançou os maiores níveis de sucesso. A fusão de country music, soft rock e pop apresentada nas canções do disco catapultou a carreira da cantora canadense, que se tornou uma diva da música pop quase que imediatamente. Não é a minha praia, mas confesso que há diversos momentos interessantes.
Mairon: Ah para, né, vocês exageraram, hein? Tá certo que "Man! I Feel Like a Woman!" e "You're Still the One" tocaram horrores em tudo que é lugar, mas, sinceramente, vocês realmente gostam dessa cópia pasteurizada de uma banda cover country do Dire Straits? Me surpreendeu a quantidade de álbuns que vendeu e as marcas históricas (mais de 40 milhões de discos vendidos em todo mundo é disco pra c@cete!), que sinceramente desconhecia. Então tá, fica subentendido que por ter vendido muito deve aparecer nos melhores de cada ano. Que seja. Eita disco chato da porr@.
Ulisses: Só conhecia Shania de nome. Minto: lembro de já ter ouvido "You're Still the One" alguma vez na vida. De qualquer forma, conhecer Come on Over por inteiro foi uma grata surpresa, e fica bem justificada sua aparição entre os melhores do ano: uma mistura bem calibrada de country e pop. É hit atrás de hit, voz maravilhosa e refrãos memoráveis. O único problema do disco é a quantidade excessiva de composições – haja orelha para 16 delas... De qualquer forma, já virei fã.

10 Sobrevivendo no Inferno
Racionais MC's - Sobrevivendo no Inferno (35 pontos)
Alexandre: Não, não gosto. Por dois motivos principais: 1. Música deveria ser, pelo menos na sua maior parte, cantada. Para recitar, declamar, simplesmente falar, sei que não tem o mesmo impacto, mas gostaria que a proposta fosse dissociada dessa arte. 2. Não posso avaliar o trabalho instrumental, porque, pelo que entendi, ninguém executou nada do instrumental do álbum. Se há alguém responsável por tal, eles deveriam dar o crédito. Pelo jeito não há, e botar um som (gravado por outros músicos) em sampler, em loop, pra tocar e falar por cima dele não me agrada, não vejo mérito, seja isso considerado música ou não.  Não serei eu aqui a abrir uma discussão e dizer se é ou não é. Pra mim não é, mas esta é apenas a minha opinião. As letras são fortes e deve-se dar todo o crédito por entender que os caras saíram da onde saíram para conseguir a notoriedade e respeito por elas. No meu entendimento, é o que salva. O que é muito pouco.
Alissön: Cada canção é um detonador de sentimentos no ouvinte: indignação, comoção, assombro, entre outros mais obscuros. "Tô Ouvindo Alguém me Chamar", da introdução da história ao seu desfecho inevitável, é um belo tapa na cara com uma história crua e um ponto de vista que não estávamos acostumados a ouvir até dentro da própria música rap. E tudo é dito com a franqueza e os vocais duros de Mano Brown, que vai entoando sua poesia das ruas de maneira direta e sem rodeios, falando sobre os mais diversos temas que a sociedade por vezes insiste em não discutir: sistema prisional, pobreza, a vida nas favelas paulistanas, entre outros temas nada sutis. Se existe um álbum que traduz, em sua totalidade, o que é o Brasil, é este Sobrevivendo no Inferno, um dos melhores discos que já foram feitos em terras brasileiras.
André: Céus... Me obrigaram a ouvir um longuíssimo álbum de rap do início ao fim... Por gentileza, voltem com os punk/indies/alternativos por aqui. Bem, pelo menos nessa época as letras eram melhores do que qualquer rap dos últimos dez anos. E finalmente descobri de onde o Cauê Moura do “Eu Sou 1337” tirou a referência para falar coisas como “sete em cada dez fãs de cosplay se masturbam para a Morrigan do Darkstalkers”.
Bernardo: Um dedo na ferida que ainda dói. "Tô Ouvindo Alguém me Chamar", "Capítulo 4, Versículo 3" e o clássico "Diário de um Detento" demonstram não só a revolta dos Racionais mas também o talento do grupo para criar narrativas urbanas e violentas nas letras e reproduzir com seus samples e batidas um universo sombrio, opressivo, desesperador. Ainda hoje, um disco essencial e riquíssimo.
Bruno: As letras são geniais, mas musicalmente não me agrada. Ainda assim é um dos melhores representantes do gênero no Brasil.
Davi: Juro que não consigo entender o culto ao Mano Brown. Ouvi este disco que, se não me engano, é o mais famoso dele, e não me passou absolutamente nada. Não me fez rir, não me fez chorar, não me fez refletir, só me fez ir olhar quanto tempo faltava para acabar.
Diogo: Considerando que só comecei a ouvir rap com mais atenção de dois anos para cá, minha capacidade de avaliação de um disco como Sobrevivendo no Inferno ainda é bastante limitada. Se levarmos em consideração que minha preferência tem recaído pelo bem produzido rap da Costa Oeste norte-americana (mais especificamente o G-funk), cheio de influências funk e soul, é ainda menor a chance de que um álbum como este, focado em arranjos minimalistas, caia no meu gosto. Felizmente isso não ocorreu. São Paulo não é Los Angeles e artistas como Snoop Doggy Dogg e Dr. Dre diferem muito dos Racionais, apesar de suas narrativas terem intersecções, mas Sobrevivendo no Inferno funciona muito bem de seu jeito mais minimalista e até soturno, dando o destaque que as letras merecem, estimulando a concentração do ouvinte. "Capítulo 4, Versículo 3", "Tô Ouvindo Alguém Me Chamar", "Diário de um Detento" e "Qual Mentira Vou Acreditar" são obras de um grupo que sabe transmitir seus relatos, mesmo que alguns achem exagerados os tamanhos das faixas. O disco transpira regionalismo, mas é capaz de conversar com o ouvinte de qualquer canto do Brasil, e isso é um grande mérito.
Eudes: Acho, de um ponto de vista puramente musical, o rap uma experiência frequentemente tediosa. Mas os Racionais MC's ultrapassam quase sempre o limite estético do estilo. Este best seller (1 milhão e 500 mil cópias já na época do compartilhamento de arquivos na internet) é o disco da monumental "Diário de um Detento" e da regravação nota 10 de "Jorge da Capadócia", na qual Mano Brown prova que a exploração de novas direções na música negra não é contraditório com retomar sua própria linha evolutiva. Um disco bacana e ainda fresco depois de quase 20 anos. Aqui os consultores acertaram em cheio.
Fernando: Sobreviver no inferno deve ser o mesmo que ouvir Racionais MC's em loop eterno.
João Renato: Tenho sentimentos conflitantes em relação aos Racionais. Sem dúvida, o grupo se expressa de uma maneira nua e crua, expondo problemas e situações sociais pelos quais muitos passam e não conseguem ter uma voz ativa para expor. Mas não concordo com a postura intolerante de Mano Brown e companhia em relação a algumas pessoas. Sei que se trata de uma reação contra uma ação da qual foram vítimas a vida inteira. Mesmo assim, não acho que se enfrenta fogo com fogo, a não ser que se queira promover uma batalha infinita. Sobrevivendo no Inferno é o álbum referencial do rap nacional. Não houve nem haverá um mais simbólico para o movimento.
Leonardo: Não suporto rap, e muito menos os Racionais MC’s. Para quem curte, o disco deve ser um prato cheio. Para mim, é uma tortura sem fim.
Mairon: Nunca gostei de Racionais, apesar de também nunca ter ouvido com a merecida atenção. Dediquei meu tempo para embasar minha opinião e confirmei que, realmente, não gosto de Racionais. Esses raps com mistura de samplers e letras de protesto com palavrões não me dizem nada, e mesmo respeitando quem goste, jamais isso será um álbum para estar entre os melhores de 1997. Imagino o papa ouvindo os "FDP", "C@R@LHO" e "VSF" que rolam a torto e a direito. Que baita presente de grego, hein, Haddad?
Ulisses: Não sou fã de Racionais, mas respeito. Algumas faixas são costumeiramente referenciadas por aí ("Diário de um Detento" tem uns versos clássicos) e, ouvindo o disco todo, é fácil entender o por quê: arranjos de bateria, baixo e teclado bem simples, porém eficientes, aliados a ótimas letras, cruas e verdadeiras narrativas da periferia.

* Carnival of Souls: The Final Sessions (Kiss) ficou empatado com Whoracle (In Flames), ambos com 40 pontos. Como não foi possível aplicar nenhum critério de desempate, a decisão sobre qual ocuparia a sétima posição foi tomada através de uma enquete na qual participaram todos os colaboradores da série.

Listas individuais
Alexandre Teixeira Pontes
  1. Kiss – Carnival of Souls11 Falling Into Infinity
  2. Bruce Dickinson – Accident of Birth
  3. Dream Theater – Falling Into Infinity
  4. Whitesnake – Restless Heart
  5. Megadeth – Cryptic Writings
  6. Queensrÿche – Hear in the Now Frontier
  7. Fates Warning – A Pleasant Shade of Grey
  8. Paul McCartney – Flaming Pie
  9. Creed – My Own Prison
  10. Radiohead – OK Computer
Alissön Caetano Neves
  1. Prodigy – The Fat of the Land12 The Fat of the Land
  2. Björk – Homogenic
  3. Racionais MC’s – Sobrevivendo no Inferno
  4. Elliot Smith – Either/Or
  5. Nick Cave and the Bad Seeds – The Boatman’s Call
  6. Strapping Young Lad – City
  7. Electric Wizard – Come My Fanatics
  8. The Chemical Brothers – Dig Your Own Hole
  9. Radiohead – OK Computer
  10. Modest Mouse – The Lonesome Crowded West
André Kaminski
  1. Bruce Dickinson – Accident of Birth13 Stille
  2. Lacrimosa – Stille
  3. The Corrs – Talk on Corners
  4. Stratovarius – Visions
  5. StunLeer – Once
  6. Symphony X – The Divine Wings of Tragedy
  7. A Mind Confused – Anarchos
  8. Edguy – Kingdom of Madness
  9. Fatal Opera – The Eleventh Hour
  10. Von Groove – Mission Man
Bernardo Brum
  1. Radiohead – OK Computer14 Either - Or
  2. Racionais MC’s – Sobrevivendo no Inferno
  3. Elliot Smith – Either/Or
  4. Nick Cave and the Bad Seeds – The Boatman’s Call
  5. Bob Dylan – Time Out of Mind
  6. Buena Vista Social Club – Buena Vista Social Club
  7. Foo Fighters – The Colour and the Shape
  8. Björk – Homogenic
  9. Primal Scream – Vanishing Point
  10. Daft Punk – Homework
Bruno Marise
  1. Nick Cave and the Bad Seeds – The Boatman’s Call15 Perfect from Now On
  2. Built to Spill – Perfect from Now On
  3. Buena Vista Social Club – Buena Vista Social Club
  4. Millencollin – For the Monkeys
  5. Radiohead – OK Computer
  6. Deftones – Around the Fur
  7. Motorpsycho – Angels and Daemons at Play
  8. Fu Manchu – The Action Is Go
  9. Modest Mouse – The Lonesome Crowded West
  10. D Generation – No Lunch
Davi Pascale
  1. Paul McCartney – Flaming Pie16 Jugulator
  2. Stratovarius – Visions
  3. Kiss – Carnival of Souls
  4. Shania Twain – Come On Over
  5. Judas Priest – Jugulator
  6. Bruce Dickinson – Accident of Birth
  7. Lynyrd Skynyrd – Twenty
  8. Fates Warning – A Pleasant Shade of Grey
  9. Foo Fighters – The Colour and the Shape
  10. The Corrs – Talk on Corners
Diogo Bizotto
  1. Shania Twain – Come on Over17 The Wake of Magellan
  2. Savatage – The Wake of Magellan
  3. In Flames – Whoracle
  4. Rammstein – Sehnsucht
  5. Kip Winger – This Conversation Seems Like a Dream
  6. Bruce Dickinson – Accident of Birth
  7. Megadeth – Cryptic Writings
  8. Strapping Young Lad – City
  9. Whitesnake – Restless Heart
  10. Radiohead – OK Computer
Eudes Baima
  1. Paul McCartney – Flaming Pie18 Shleep
  2. Buena Vista Social Club – Buena Vista Social Club
  3. Robert Wyatt – Shleep
  4. Bob Dylan – Time Out of Mind
  5. Spiritualized – Ladies and Gentlemen We Are Floating in Space
  6. Radiohead – OK Computer
  7. Falcão – A Um Passo da MPB
  8. Tim Maia & Os Cariocas – Amigos do Rei
  9. Racionais MC’s – Sobrevivendo no Inferno
  10. Teenage Fanclub – Songs from Northern Britain
Fernando Bueno
  1. Bruce Dickinson – Accident of Birth19 Somewhere Out in Space
  2. Stratovarius – Visions
  3. Gamma Ray – Somewhere Out in Space
  4. Saxon – Unleash the Beast
  5. Judas Priest – Jugulator
  6. Symphony X – The Divine Wings of Tragedy
  7. IQ – Subterranea
  8. Radiohead – OK Computer
  9. Savatage – The Wake of Magellan
  10. Foo Fighters – The Colour and the Shape
João Renato Alves
  1. Bruce Dickinson – Accident of Birth20 The Colour and the Shape
  2. Foo Fighters – The Colour and the Shape
  3. Stratovarius – Visions
  4. Hammerfall – Glory to the Brave
  5. Misfits – American Psycho
  6. Paul McCartney – Flaming Pie
  7. Megadeth – Cryptic Writings
  8. Paradise Lost – One Second
  9. Saxon – Unleash the Beast
  10. Rammstein – Sehnsucht
Leonardo Castro
  1. In Flames – Whoracle21 Fearless Undead Machines
  2. Deceased – Fearless Undead Machines
  3. Stratovarius – Visions
  4. Bruce Dickinson – Accident of Birth
  5. Emperor – Anthems to the Welkin at Dusk
  6. Hammerfall – Glory to the Brave
  7. Dimmu Borgir – Enthrone Darkness Triumphant
  8. Savatage – The Wake of Magellan
  9. Gamma Ray – Somewhere Out in Space
  10. Overkill – From the Underground and Below
Mairon Machado
  1. U2 – Pop22 Pop
  2. Bill Bruford with Ralph Turner and Eddie Gomez – If Summer Had its Ghosts
  3. David Bowie – Earthling
  4. Natiruts – Nativus
  5. Dream Theater – Falling Into Infinity
  6. Legião Urbana – Uma Outra Estação
  7. The Flaming Lips – Zareeka
  8. Madredeus – O Paraíso
  9. Deicide – Serpents of the Light
  10. Peter Hammill – Everyone You Hold
Ulisses Macedo
  1. Conception – Flow24 Flow
  2. Within Temptation – Enter
  3. Nightwish – Angels Fall First
  4. Symphony X – The Divine Wings of Tragedy
  5. Dr. Sin – Insinity
  6. Megadeth – Cryptic Writings
  7. John Fogerty – Blue Moon Swamp
  8. Stratovarius – Visions
  9. Misfits – American Psycho
  10. Judas Priest – Jugulator
Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...