Mostrando postagens com marcador Quintal de Clorofila. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Quintal de Clorofila. Mostrar todas as postagens

terça-feira, 19 de setembro de 2017

Entrevista: Negendre Arbo (Quintal de Clorofila)




Um dos grandes nomes do rock progressivo nacional está de volta à ativa. Negendre Arbo, vocalista, violonista, letrista, poeta e fundador do grupo Quintal de Clorofila, está relançando, através do site ONErpm.com seu álbum Secret Face, lançado originalmente em 2002. Negendre concedeu-nos uma rápida entrevista via telefone, onde comenta sobre como está sendo feito esse relançamento, origens e histórias referentes ao Quintal de Clorofila, e o famoso/obscuro álbum O Mistério dos Quintais, além de divulgar surpresas relacionadas com a banda. Confira!

Com a Pipa chinesa, em 2013.

Obrigado por compartilhar um pouco de sua história conosco. Negendre, você está relançando o álbum Secret Face (2002) através do sistema OneRPM. Conte-nos como surgiu essa oportunidade, e o que consta nesse relançamento.
Já faz algum tempo que eu venho procurando a melhor maneira de publicar nosso trabalho.
Coloquei músicas na SoundCloud, PalcoMp3, Myspace, em meu website e muitos outros locais. Mas só agora creio ter encontrado a maneira de fazer disso realmente um trabalho, em que exista o retorno material que vai possibilitar dedicar mais tempo para compor, tocar, gravar, enfim fazer aquilo que mais nos dá prazer.
Outra coisa que de certa maneira acelerou nossa decisão, foram os lançamentos sem nossa autorização que Discos Mariposa e Granadilla Music fizeram do disco O Mistério dos Quintais.

O álbum Secret Face, relançado via ONErpm

Há a possibilidade de O Mistério dos Quintais ser relançado nesse formato?
Remasterizei O Mistério dos Quintais, corrigindo o Pitch e a velocidade que foi acelerada quase imperceptivelmente na prensagem do vinil, e esse será o próximo álbum a ser publicado também na ONErpm.com.

Poxa, que legal! E haverá alguma novidade a mais nesse lançamento?

Sim, sim. Terá uma regravação das "Alamedas" para colocar como faixa-bônus.

Como surgiu a ideia de criar O Quintal de Clorofila?
Quando penso nisso sempre me vem a sensação de que nosso caminho não poderia ter sido diferente, as descobertas, as vivências mais primais, e as mais elevadas, as viagens, os amores, os mandamentos do mar e as leis da estrada, os tantos personagens e as paisagens que faziam tua vida ser um roteiro cinematográfico maravilhoso, terrível, transcendente e insano...
Nós éramos, eu e Dimitri, dois adolescentes quando a música nos aliciou, e depois disso em certo sentido nunca mais crescemos. Se hoje tenho uma carteira de trabalho em branco como saiu da gráfica é reflexo daquele tempo.
Minha Identidade é de 1982.
Um amigo disse "você não é mais aquele cara". Percebi que se hoje me sinto um tanto deslocado nesse mundo é porque na verdade nunca deixei de ser aquele cabeludo com uma puta ressaca que olha pra mim do fundo do tempo sempre que abro minha carteira.

DA ESQUERDA PARA DIREITA NEGENDRE, DIMITRI E O POETA ANTÔNIO CARLOS ARBO, PAI DOS ARTISTAS

Vocês sempre tocaram em dupla e no formato acústico, ou em algum momento o Quintal foi um grupo elétrico?
Sempre misturamos tudo, desde o começo.

O álbum O Mistério dos Quintais tornou-se um dos mais cobiçados discos no mercado do vinil. Quantas cópias foram lançadas originalmente?
Poucas, foram prensados 2.000 discos que vendemos a maior parte nos shows.

Como foi o processo de divulgação do material durante a década de 80, já que o álbum saiu pouco antes do boom do BRock?
Lançamos O Mistério dos Quintais no teatro Renascença em Porto Alegre e depois saímos viajando com ele.

A dupla ao vivo no Teatro Guaíra, Curitiba

Como vocês encaram o fato de muitos dos lojistas estão vendendo-o, há algum tempo, por preços exorbitantes? Há algum retorno financeiro para vocês?
Retorno nenhum, mas são coisas distintas o disco de vinil que é parte dos 2.000 originais que hoje é vendido como raridade e os piratas que são vendidos em CD e vinil que recentemente foi fabricado sem nossa autorização.

O famoso disco O Mistério dos Quintais,
 única obra lançada pelo Quintal de Clorofila

O relançamento que a italiana Granadilla Music fez, em 2014, com os bônus "O Vento e o Trigo" e "Liverpool", assim como a argentina Discos Mariposa (2006), chegou a ser tratado com vocês?
Nunca nos contataram.

As qualidades musicais das canções do álbum são inegáveis. Como era criar música de tamanho gabarito usando instrumentos acústicos e artesanais?
Era uma coisa natural, nos motivava uma espécie de guerrilha que eu, o Dimitri e nosso pai Antônio Carlos Arbo, acreditávamos que devia ser travada em nome de algo que parecia estar morrendo na arte, e a mediocridade começava a dominar os espaços tirando da arte o lirismo e a poética de viver. Lutar pela preservação do lirismo e da poesia era bom.
A técnica e a teoria nos foi dada pela UFSM (Universidade Federal de Santa Maria) com seus cursos de Prática Instrumental, Teoria, Harmonia, Canto Lírico e outros.

Ao vivo no Teatro Renascença

Vocês já conseguiram, de alguma forma, apresentar "Liverpool" para alguns dos beatles?
Hahahahaha

Além de Beatles, quais outras bandas/artistas influenciaram na sua carreira, o que você acompanha da música nacional e internacional nos dias de hoje?
Nos 70's Jethro Tull, Yes, Deep Purple, Black Sabbath, Pink Floyd, Focus e outros.

Nos 80's Mike Oldfield, Egberto Gismonti, Pat Metheny, a música medieval dos alaudistas, os instrumentos primitivos como flautas andinas e tambores indígenas.

Hoje... além das gravações antigas destes caras todos e obras atuais dos que ainda estão na ativa como Jethro Tull, Pink Floyd e Gismonti, tenho me voltado para o oriente.
Há algum tempo comprei um Baglama árabe, uma Pipa chinesa e um Daf Drum do Kurdistão. São instrumentos cuja mecânica provoca o surgimento de melodias e harmonias completamente novas e muito interessantes.
Pra evitar ouvir mediocridades ligo as rádios da internet e ouço coisas do Paquistão, Coréia do Sul, Istambul, Rússia, Egito, quanto mais longe menor a probabilidade de ser surpreendido por uma dupla sertaneja ou uma diva do funk.

"O Violão, o Bouzouky japonês, o Baglama turco e a Pipa chinesa. Novas maneiras de tocar (ou muito, muito antigas), novas escalas e ritmos." (Negendre Arbo)

Existem canções com participação do grupo em LPs de Festivais, como o Vidima e o Projeto Cantares. Há material inédito do Quintal que possa ser lançado junto com essas canções?
Aqueles festivais eram acontecimentos que sempre pareciam feiras medievais, muita embriaguez em todos os sentidos, e muito lirismo também. É difícil reunir hoje aquele material, mas não impossível.

O que cada um fez após a dissolução da banda?
Eu já estava trabalhando com editoração gráfica e webdesign, o Dimitri tinha seu caminho e voltou para Porto Alegre onde seguiu fazendo música. Mantivemos contato sempre e fizemos vários trabalhos juntos. É dessa época o disco inédito Temporal (1995) que também publicaremos na ONErpm.com.
Hoje ele está aqui em Foz e o ciclo prossegue.

Quais as lembranças do show de reunião da dupla em 2008, nas cidades de Porto Alegre e Capão da Canoa, e como surgiu aquela ideia?
Você estava lá, foi uma coisa boa, uma visita ao passado, para mim foi uma experiência mística reviver e rever aquelas esquinas noturnas de Porto Alegre.

Entrevistador e entrevistado, em 2008.

Depois disso, vocês chegaram a se reunir novamente? 
Nos reunimos agora pra inventar coisas musicais pra fazer, não dá pra ficar mais sem tocar, quando fico muito tempo sem compor e tocar me sinto um desertor, não é uma emoção saudável.

E como foi, no passar dos anos, ver o crescimento do Quintal em termos de seguidores de fãs pelo Brasil e pelo mundo?

Sensacional! Eu juntei bastante e-mails, contatos, com um monte de gente, através das redes sociais. Tem uma república de estudantes, em Bauru, que botou o nome de Quintal de Clorofila, e tem mais de 800 pessoas lá! É super legal, um baita retorno, que nos motiva a trabalhar novamente.

Muito obrigado novamente, e por favor, deixe um recado para seus fãs.
Deixo um poema em prosa:
"Te deixo o que sobrou do meu ingênuo credo nas coisas antigas, do eco distante das vozes hoje já quase inaudíveis, da imagem enevoada das praças noturnas, das esquinas perdidas e das melodias das canções que estão sendo esquecidas.
Esquecidas por nós, os insanos e irresponsáveis doces pecadores que de cabeça erguida e olhos vermelhos punham as pupilas dilatadas no céu e do céu éramos donos.
Te deixo o que restou dos meus sonhos coloridos de neón lisérgico e pagão, do meu coração velho e enferrujado que como um patético carrinho de fricção quebrado hoje só roda muito devagar.
Minha vida é só a frágil e infantil certeza de que que não fomos enganados, de que é melhor a insegurança dos espaços abertos do que a falsa estabilidade dos corações fechados.
Porque se algo de tudo o que havia em mim sobrou foi porque nunca acreditei em castigos, porque sempre que pequei foi por amor, sorrindo.
Porque mesmo que os portadores de crachás insistam em me contradizer, ainda sou dono do céu.
Ainda sou o último a abandonar as esquinas enevoadas e não vendi minhas ilusões por 30 moedas frias de uma vida estereotipada.
Te deixo o que sobrou como um convite à transgressão.
Embarque em meu delírio como no trenzinho do parque e talvez você possa ser dona(o) do céu mais uma vez".
(Negendre Arbo, de Cartas para Lilith)

Links:
ONErpm: https://www.onerpm.com/disco/album&album_number=8098979102
Number1: http://www.numberonemusic.com/negendrearbo
Youtube Aveleiras: https://www.youtube.com/watch?v=ptEcOa9IYHM
Youtube Negendre: http://www.youtube.com/watch?v=Pq9_bgLtr9Y
Youtube Dimitri: https://www.youtube.com/watch?v=vJDCkAaDVCY
WordPress: http://wptemporal.negendre.com.br/wp
Soundcloud: https://soundcloud.com/negendre-arbo
Myspace: http://www.myspace.com/negendre
Facebook: https://www.facebook.com/negendre.arbo
Palcomp3: http://palcomp3.com/negendre

segunda-feira, 10 de setembro de 2012

Podcast Grandes Nomes do Rock # 42: Ouviram do Ipiranga às Margens Plácidas



O Podcast Grandes Nomes do Rock desse mês homenageia a Independência do Brasil. Para isso, apresentamos cinco blocos com alguns dos principais grupos do rock nacional, divididos por estados e regiões. Assim, ouviremos grupos do Sudeste (Minas Gerais, Rio de Janeiro e São Paulo), do Distrito Federal, da Bahia e do Rio Grande do Sul, em pouco mais de duas horas de programa.




Museu do Ipiranga, em São Paulo
Track list Podcast # 41 - Dia dos Pais


Bloco 01
Abertura: "Papa Don't Preach" [do álbum True Blue - 1986 (Madonna)]
"Father and Son" [do bootleg Live on Earth Tour - 1976 (Cat Stevens)]
"My Father's House" [do bootleg Live at Bologna - 2005 (Bruce Springsteen)]
"My Father" [do álbum Who Knows Were The Time Goes - 1968 (Judy Collins)]
"Father to Son" [do álbum ... But Seriously - 1989 (Phil Collins)]
"Father of Night" [do álbum New Morning - 1970 (Bob Dylan)]

"Oh! Father" [do álbum Like A Prayer - 1988 (Madonna)]

Bloco 02
Abertura: "Pai" [do álbum Com Amor - 1996 (Fábio Júnior)]
"Ê Meu Pai" [do álbum Abre-te Sésamo - 1980 (Raul Seixas)]
"Papai Me Empresta O Carro" [do álbum Acústico MTV - 1998 (Rita Lee)]
"Como Nossos Pais" [do álbum Transversal do Tempo - 1978 (Elis Regina)]
"Pais e Filhos" [do álbum Acústico MTV - 1999 (Legião Urbana)]
"Catch Me Daddy" [do álbum Farewell Song - 1982 (Janis Joplin)]

Bloco 03
Abertura: "Daddy Where Did I Come From" [do álbum Ars Longa Vita Brevis - 1968 (The Nice)]

"Another Brick in the Wall, Part III" [do álbum The Wall - 1979 (Pink Floyd)]


"Father Bach" [do álbum Mother Focus - 1975 (Focus)]
"I Believe in Father Christmas" [do álbum Works II - 1977 (Emerson, Lake & Palmer)]
"Dear Father" [do álbum Yesterdays - 1975 (Yes)]

"Father Oblivion" [do álbum Apostrophe (') - 1974 (Frank Zappa)]

"Little Fugue / Father O. S. A." [do álbum Styx II - 1973 (Styx)]


Bloco 04
Abertura: "Sometimes You Can Make It On Your Own" [do álbum  How To Dismantle An Atomic Bomb - 2004 (U2)]
"Father Time" [do bootleg Live at Wacken Open Air - 2007 (Stratovarius)]
"Father to Son" [do álbum Queen II - 1974 (Queen)]
"Son of Your Father" [do álbum The Last Puff - 1974 (Spooky Tooth)]
"Daddy's Gonna Pay For Your Crashed Car" [do vídeo Zoo TV: Live from Sidney - 1993 (U2)]
"
"Come Away Melinda" [do álbum UFO - 1970 (UFO)]

Encerramento: "Fine Fat Daddy" [do álbum Dinah Sings Bessie Smith - 1958 (Dinah Washington)]

quinta-feira, 23 de junho de 2011

Maravilhas do Mundo Prog: Quintal de Clorofila - As Alamedas [1983]




O rock gaúcho durante a década de 80 revelou nomes que fizeram muito sucesso pelo país. Grupos como Engenheiros do Hawaii e Nenhum de Nós estouraram nas rádios com sucessos como "O Papa é Pop" (do primeiro) e "Camila Camila" (do segundo). Além disso, Replicantes, TNT, Nei Lisboa, Cascaveletes e De Falla são claros exemplos de grupos do Rio Grande do Sul que, se não fizeram tanto sucesso, deixaram seus nomes registrados como ícones do rock nacional.

Mas, no final da década de 70 e início dos anos 80, os principais grupos do Rio Grande do Sul não eram de Porto Alegre como todos os citados acima, e sim do interior do estado. O mais famoso, Os Almôndegas, revelou ao país Kleiton & Kledir (famosos por canções como "Maria Fumaça", "Deu Prá Ti" entre outras), tocando canções tipicamente "gaudérias" mas com pitadas de rock'n'roll no período de 1972 até 1978. Exatamente nesse ano, surgiu talvez o principal grupo de rock progressivo do estado, o Quintal de Clorofila.

Vindos da cidade de Santa Maria, os irmãos Dimitri e Negendre Arbo eram os únicos membros do grupo, que mesmo sendo formado apenas por uma dupla, compunha canções de extrema complexidade, com letras fantásticas e desenvolvendo uma série de instrumentos caseiros como telhas de zinco, galões de gasolina, serrotes, entre outros criados especialmente pela dupla de irmãos, que posteriormente, viriam a influenciar outro grande grupo progressivo do país, os mineiros do UAKTI.

Quintal de Clorofila em ação na década de 80

Na época do início da banda, outros grupos semeavam e colhiam suas sonoridades misturando folk rock com elementos gaúchos, tais quais o Couro, Cordas e Cantos, Grupo Terra Viva e Os Tápes. O diferencial do Quintal de Clorofila eram as doses de psicodelismo e as viajantes sessões instrumentais, mescladas com letras complicadíssimas, criando um abiente acústico raríssimo na literatura musical, e que pode ser conferido no único e também muito raro LP do grupo.

O Mistério dos Quintais, lançado pelo em 1983, é um achado na musicultura gaúcha. Contando com diversos elementos tradicionais do  pampa e com a participação de Paulo Soares tocando violão em algumas faixas, está fortemente construído em um clima emocional e musical criado pelos irmãos Arbo, acessorados por diversos instrumentos acústicos como violões, banjo, bandolim, flauta, ocarina, saxofone, além de uma parte percussiva bem elaborada e também pelas lindas poesias do pai, Antônio Carlos Arbo.

Logo na sua abertura, está uma maravilha que ninguém no rock gaúcho conseguiu escrever algo se quer parecido, a incrível "As Alamedas". A  canção começa com violões e bandolim introduzindo um clima totalmente medieval, com um belíssimo tema do mandolim. A levada dos violões então passa a acompanhar os vocais feitos pela dupla, com acordes tristes e narrando a história dos enormes pinheiros que cobrem alamedas em busca da luz do sol e da lua, ao mesmo tempo que lutam contra suas quedas causadas pelos homens. Progressivo ao extremo!

A introdução é repetida, seguindo o melodioso e bonito ritmo medieval, tendo nos violões uma encantadora sequência de acordes que repetem o tema do mandolim e retornam para a repetição da letra. Ao final dos quase seis minutos dessa linda canção, temos a repetição do lindo tema do mandolim, e Dimitri nos brinda com uma intervenção de saxofone sobre efeitos percussivos de pratos e apitos, terminando com um solo de flauta andina acompanhado por violões e por um bumbo-leguero.

Dimitri Arbo e o bolha que vos escreve (ainda com um certo cabelo)

O Mistério dos Quintais apresenta ainda outras lindas canções como "Jornada" (lembrando muito os duelos instrumentais das apresentações ao vivo feitas por Ray Schulman e Gary Greendo Gentle Giant), a percussiva instrumental "Drakkars", a bela seresta de "Gotas de Seresta", o clima "I've Seen All Good People" de "Viver" ou o flamenco ed "O Último Cigano", mas nada comparável ao lindo e elaborado arranjo de "As Alamedas".


Depois de O Mistério dos Quintais, a dupla participou em muitos festivais pelo Rio Grande do Sul, se destacando na cena cool de Porto Alegre, para onde mudaram-se logo após a gravação do vinil, e sendo um dos principais nomes na inauguração de um dos principais locais de show da capital gaúcha, o Bar Opinião, ainda no ano de 1985.  Em 1988, o Quintal de Clorofila deixou de existir, com Negendre indo morar no Paraná e seguindo carreira solo, enquanto Dimitri partiu para outros aminhos, continuando a morar em Porto Alegre.
Negendre Arbo e o bolha que vos escreve

Em 2008 Negendre voltou por uns dias para o Rio Grande do Sul, e, com a ajuda de alguns amigos, o Quintal de Clorofila, depois de vinte anos, voltava a fazer apresentações; uma em Porto Alegre, no Beco das Garrafas, em 11 de abril, e duas na cidade de Capão da Canoa, nos dias 19 e 20. Tive o prazer de ser um dos poucos participantes desse retorno da banda no Beco das Garrafas, e de me emocionar com uma apresentação insana de Negendre declamando poemas e mais poemas tal qual o suor corria de seu corpo, enquanto um alucinado Dimitri mostrava seu talento nos mais diferentes instrumentos, fechando a apresentação com uma inspirada versão de 16 minutos para a nossa maravilha prog "As Alamedas", com todas as partes de sua versão original e muitas improvisações em instrumentos bem diferentes, onde, numa noite quente e estrelada, o Quintal de Clorofila literalmente conseguiu fazer chover na capital gaúcha.


sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

Podcast Collector's Room #34


 
Esse podcast em especial foi negado, à época, pela editoria da Collector's Room, devido ao fato de apresentar somente bandas do Rio Grande do Sul. Ele chegou a sair na comunidade da Collector's, mas como foi banida a apresentação do mesmo dentro do blog, retirei da comunidade. Duas pessoas chegaram a baixar o podcast. Agora está aqui para quem quiser ouvir

Meus caros amigos da Collector's Room, em especial aos gaúchos, hoje, 20 de setembro, estou aqui em Paris, depois de uma passagem maravilhosa pela Grécia e pela Itália, e nessa data tão marcante para nosso estado, decidi homenagear aos meus conterrâneos com um podcast especial de artistas gaúchos.

Então prepare o churrasco, ajeite as brasas para aquecer a água do chimmarrão, puxe o mochinho e acomodo-se para mais um podcast especial.


Track list do podcast Collector's Room # 34


Engenheiros do Hawaii - Anoiteceu em Porto Alegre
Álbum: O Papa É Pop! (1988)


Graforreia Xilarmônica - Amigo Punk
Álbum: Coisa de Louco II (1995)


Jupiter Maça - Um Lugar do Caralho
Álbum: A Sétima efervescência (1997)


Ataque Colorado: Guiñazu - Gladiador dos Pampas
Álbum: Ataque Colorado II (2008)


Almôndegas - Vento Negro
Álbum: Almôndegas (1975)


Vitor Ramil - Joquim
Álbum: Tango (1987)


Os Tápes - Os Homens de Preto
Álbum: Canto da Gente (1975)


Liverpool - Décimo Terceiro Andar
Álbum: Por Favor, Sucesso (1969)


Quintal de Clorofila - As Alamedas
Álbum: O Mistério dos Quintais (1983)


Âmago Elíptico - Um
Álbum: Demo (2004)


Van Züllat - Produto Misto
Álbum: O Casulo (2008)


Elis Regina - Deus Lhe Pague
Elis Regina - Meio Termo / Corpos
Álbum: Transversal do Tempo (1978)


Elis Regina - Los Hermanos
Elis Regina - Como Nossos Pais
Álbum: Falso Brilhante (1976)



quinta-feira, 11 de junho de 2009

Quintal de Clorofila

Quando se fala no rock gaúcho, as primeiras bandas que vêm à cabeça de um cara que conhece um pouco sobre rock são Engenheiros do Hawaii e Nenhum de Nós. Aquele que é mais eclético ainda lembra do Bixo da Seda de Fughetti Luz (e que na verdade teve seu sucesso quando foram morar no Rio de Janeiro), do TNT de Charles Master, dos Replicantes de Wander Wildner ou dos Cascavelletes de Nei Van Soria. Na própria história musical gaúcha, Lupicínio Rodrigues e Nelson Gonçalves são reis, e os mais citados pela população em geral são Elis Regina e Nei Lisboa, entre outros que fizeram do auditório Araújo Viana e do Parque Farrupilha (viva a Redenção!!!!) um marco na cena porto alegrense. Porém, esses últimos, os quais faziam parte da Turma do Bonfim (bairro aqui de Porto Alegre), surgiram em meados dos anos oitenta e tiveram seu auge exatamente no lançamento dos primeiros álbuns das bandas já citadas.

Mas, durante a década de setenta e o início dos oitenta, os patrões dos pampas gaúchos não estavam sentados nos galpões da capital, mas sim espraiando sua musicalidade a partir de duas cidades do interior. O mais famoso deles foi os Almôndegas, de Pelotas, que revelou ao Brasil, entre 1974 e 1979, os irmãos Kleiton e Kledir Ramil e uma sonoridade gauchesca com tempero carioca que abalou as rádios nacionais com músicas como "Canção da Meia-Noite" e "Vento Negro", e que irá merecer uma matéria especial para essa sessão.

O outro patrão em questão também revelou dois irmãos, Dimitri e Negendre Arbo. Surgidos em 1978 e vindos da cidade de Santa Maria, Dimitri e Negendre estudaram na Escola de Artes da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) e, juntos, criaram o excepcional Quintal de Clorofila. Em 1983 conseguiram lançar seu único registro, o qual estraçalhou tudo o que já poderia ter se imaginado em termos de musicalidade, misturando elementos do pampa gaúcho à uma sonoridade de diversos instrumentos no mínimo curiosos, como telhas de zinco, galões de gasolina, serrotes, entre outros criados especialmente pela dupla de irmãos.

Essencial e único LP do Quintal de Clorofila

Na época do início da banda, outros grupos semeavam e colhiam suas sonoridades misturando folk rock com elementos gaúchos, tais quais o Couro, Cordas e Cantos, Grupo Terra Viva e Os Tápes, mas o Quintal foi um dos únicos a conseguir lançar um LP, o maravilhoso e cobiçado O Mistério dos Quintais, de 1983. Lançado pelo selo Bobby Som, o álbum é um achado na musicultura gaúcha. Contando com diversos elementos tradicionais do pampa e com a participação de Paulo Soares tocando violão em algumas faixas, O Mistérios dos Quintais está fortemente construído em um clima emocional e musical criado pelos irmãos Arbo, acessorados por diversos instrumentos acústicos como violões, banjo, bandolim, flauta, ocarina, saxofone, além de uma parte percussiva bem elaborada e também pelas lindas poesias do pai, Antônio Carlos Arbo.

O disco abre com a incrível "As Alamedas" e os violões e bandolim introduzindo um clima totalmente medieval. A levada dos violões acompanha os vocais feitos pela dupla, com acordes tristes e narrando a história dos enormes pinheiros que cobrem alamedas em busca da luz do sol e da lua. Quer algo mais progressivo que isso? A introdução é repetida, com os vocais novamente apresentando a letra. Por fim, Dimitri ainda nos brinda com uma intervenção de saxofone sobre efeitos percussivos de pratos e apitos, terminando com um solo de flauta andina acompanhado por violões e por um bumbo-leguero.

O bandolim introduz "Jornada", bem como os violões que lembram as escalas do Gentle Giant nas apresentações ao vivo entre Ray Schulman e Gary Green. Os vocais trazem mais uma letra de Antônio Carlos, com a linha instrumental acompanhada pelo bandolim e pelo violão. O tema central está em um duelo marcado de notas entre bandolim e violão. A introdução é retomada, dando sequência à letra, que agora é acompanhada, além do bandolim e do violão, por efeitos de um teclado Casio bem primitivo, entrando em um belo conjunto de solos de flautas. Vocais ficam sozinhos, trazendo o refrão da letra, com violão, teclados e bandolim trazendo novamente o tema da introdução.

Galões de gasolina, bumbos e muita percussão abrem a instrumental "Drakkars", a qual também conta com a participação de uma flauta solando insanamente. O teclado Casio novamente volta à ativa, executando um determinado tema. Harmônicos dos violões trazem uma parte cheia de vocalizações, que lembram cantos indígenas, com destaque para Negendre mandando ver no violão. A seguir, um engana-bobo aparece, já que temos um solo de flauta que até Ian Anderson diria se tratar de si mesmo a solar. Violões e flautas retomam o clima medieval. O lindo arranjo de Negendre e Dimitri é de chorar, com o clima medieval ficando denso na adição do teclado e também pela velocidade do violão. Por fim, o bumbo-leguero comanda o ritmo para o fantástico encerramento com o solo de flauta e os dedilhados do violão. Sensacional!

Duas homenagens encerram o lado A. A bela "Liverpool", que homenageia o Fab Four, com uma linda introdução de violão e flauta, bem como os solos de Negendre ao violão e Dimitri ao sax, e "Gotas de Seresta", uma linda homenagem aos seresteiros dos anos 40/50, com um belíssimo trabalho do bandolim de Negendre e da flauta de Dimitri que nos fazem pensar em estar realmente ouvindo um 78 rpm. Além disso, a voz de Negendre é de arrepiar, e o encerramento então, pra fazer até o mais sério "metaleiro" ir as lágrimas.

Poster divulgação da apresentação do grupo em 2008

O lado B inicia com o barulho da Maria-Fumaça (famoso trem brasileiro) totalmente recriado pelos instrumentos da dupla, introduzindo "Viver", a qual lembra muito "I've Seen All Good People", do Yes. Os vocais aqui são de Dimitri, com destaque para o violão com distorção usado por Negendre e para o solo com o Casio.

A flamenca "O Último Cigano" recria caminhos da região de Andaluzia. Construída sobre a intrincada peça de Negendre ao violão, é impossível não imaginar lindas morenas com castanholas dançando em nossa volta. Dimitri acompanha seu irmão no violão, e os vocais são acompanhados por acordes de teclado e passagens de violão. Essa canção, principalmente pela levada do violão, mostra como a música gaúcha tem influência da música espanhola, seja como uma milonga ou principalmente quando a parte percurssiva surge, fazendo desta linda canção um quase chamamé (tradicional ritmo gaúcho).

"Jardim das Delícias", criada somente pelos irmãos, tem um início no teclado de lembrar os álbuns da fase alemã do Bowie. Porém, a flauta e o violão já dão jeito de mudar isso. O saxofone leva a uma linda balada, com Negendre mandando ver no bandolim. Vocalizações de Negendre duelando com o seu violão, trazem o violão com distorção novamente, lembrando muito o som de uma guitarra. Lindos dedilhados de violão e o saxofone agonizante nos levam ao final dessa canção com a flauta acompanhando os vocais, que retomam a letra de "As Alamedas", encerrando com um MPB ao violão e sax.

"Balada da Ausência" é outra linda canção construída sobre o trabalho no violão. Com muita percussão, o destaque maior vai para o arranjo de flautas na introdução, com sons de pássaros e a ocarina sendo usada abusivamente. Uma linda balada com um lindo poema de Antônio Carlos Arbo, acompanhado sempre pelo teclado Casio e pelos violões.

Por fim, "O Mistério dos Quintais" encerra esse magnífico e fantástico álbum. A introdução com a ocarina, pássaros, percussão e com uma harpa é divina. Antônio Carlos declama o poema sobre a melodia da harpa e dos violões, que comandam a canção em notas iguais. O violão leva ao encerramento, acompanhado por flautas e por um clima emotivo de despedida. Novamente é difícil não se emocionar com o talento e com o sentimento empregado pelos irmãos Arbo.

Raro LP com a participação da dupla

O duo participou em diversos festivais pelo Rio Grande, chegando inclusive a ter uma canção gravada no raro Projeto Cantares, de 1984 (a saber: o nome da canção era "O Vento e O Trigo"). O duo também continou sua carreira na cena cool da Porto Alegre da década de oitenta. Na inauguração do famoso Bar Opinião, em 1985, a Quintal esteve presente, encantando muita gente que por ali passava. 

Em 1988 o duo acabou dissolvendo-se, com Negendre indo morar no Paraná. Os irmãos acabariam por registrar mais um álbum no ano de 1994, chamado Temporal e com a participação de Frank Cimino nos violões, mas que infelizmente nunca foi lançado. No Paraná, Negendre começou a construir diversos projetos, inclusive trabalhando com índios da região de Foz do Iguaçu, lançando álbuns fantásticos como Secret Face e Final Dance, enquanto Dimitri continuou seus trabalhos em Porto Alegre.

Dimitri Arbo e Mairon Machado

Em 2008 Negendre voltou por uns dias para o Rio Grande do Sul, e, com a ajuda de alguns amigos, a Quintal de Clorofila, depois de vinte anos, voltava a fazer apresentações; uma em Porto Alegre, no Beco das Garrafas, em 11 de abril, e duas na cidade de Capão da Canoa, nos dias 19 e 20. 

Tive o prazer de ser um dos doze (eu me prestei a contar) participantes do retorno da banda no Beco das Garrafas, creio que pela falta de divulgação do show, e me emocionei muito com uma apresentação insana de Negendre declamando poemas e mais poemas tal qual o suor corria de seu corpo, enquanto um emocionado Dimitri mostrava seu talento nos mais diferentes instrumentos. Ainda por cima, tocaram uma inspirada versão de 16 minutos de "As Alamedas", onde, numa noite quente e estrelada, o Quintal conseguiu fazer chover na capital gaúcha. Ao final do show, ainda fiquei tomando cerveja e conversando com os caras durante horas, voltando para casa na madruga, sem ônibus e abaixo de um pé-d'água gigante, mas com a certeza de que era um privilegiado por ter visto dois talentos raros na música brasileira, os quais também são excelentes pessoas.
Negendre Arbo e Mairon Machado



Segundo Dimitri, o som da banda misturava jazz, rock, música medieval e ritmos africanos, orientais e latinos, no que ele chama de "rock viking". Porém, o Quintal era maior que isso. Na verdade, a complexidade e profundidade das canções inspiradas do duo são de notável presença e sentimento, e com certeza devem ser ouvidas e reouvidas para sempre pelos apreciadores de boa música.

O álbum O Mistério dos Quintais foi lançado com uma tiragem pequena, sendo encontrado (quando!) valendo até 500 reais. Porém, se catar na região central do Rio Grande do Sul, as vezes se brilha um LP por modestos cinquentinha. O CD teve um relançamento não autorizado pela dupla, através de amigos argentinos que copiaram o LP para .wav e depois ganharam dinheiro com o som do Quintal. Ao descobrir isso, Negendre fez questão de copiar o seu LP para .wav e .mp3 e distribuiu em diversos blogs que conhecia, sendo que o progshine.com foi um dos que mais ajudaram nesse ponto. Além disso, colocou as canções no site oficial do Quintal para quem quisesse baixar e ouvir, sem custos, com somente a intenção de divulgar o trabalho do Quintal (e claro, acabar com a criminalidade que os argentinos estavam fazendo). No site também colocou a disposição o álbum Temporal, mas atualmente o link está fora do ar. Aproveitando o frio e o feriado, chame seus pais, acenda uma lareira, torre os pinhões, ceve o chimarrão, coloque O Mistérios dos Quintais para rodar e segure as lágrimas.
Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...