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sábado, 1 de fevereiro de 2014

Sly & The Family Stone - Parte III


Hoje, encerro a história do grupo californiano Sly & The Family Stone. Já apresentei duas partes, desde o início em 1967 até o lançamento do álbum Life (1968), e do sucesso de Stand! (1969) ao fim precoce do grupo em 1975, por problemas internos.

Sly, assim como outros integrantes do grupo, partiu para uma carreira solo, e já em 1975, lançou High on You. Lançado pela Epic, ele marca um período no qual Sly toca praticamente todos os instrumentos do álbum, sendo o centro total das atenções. Em esse álbum, ele tem a companhia de dois membros da primeira geração da Família de Pedra, Cynthia Robinson no trompete e Jerry Martini no saxofone, além das Little Sisters e diversos convidados, que serão citados no decorrer do texto, mas que podemos destacar Dennis Marcellino no saxofone, Cousin Gale na guitarra, Bobby Lyles, Tricky Truman Governor nos teclados e Sid Page no violino, esses em quase todas as canções.

Ótima estreia solo de Sly Stone

O LP, mesmo não estando no nível de um Stand!, é ótimo de se ouvir, e começa com o baixão de Bobby Vega em "I Get High On You", e o sintetizador de Sly mostrando um ritmo mais cadenciado, acompanhado pelo órgão de Little Moses, dando um poder de fogo dos grandes clássicos da primeira geração, seguido pelo delicioso embalo de "Crossword Puzzle", no qual as linhas vocais se destacam. Essa faixa conta com Michael Samuels na bateria. O disco é um embalo tranquilo e saboroso até o fim, passando por preciosidades como "That's Lovin' You" (com Bill Lordan na bateria), "Who Do You Love?" e "Green Eyed Monster Girl" (também com Samuels na bateria), todas capazes de fazer pequenos sacolejos em seu corpo.

"Organize", escrita em parceria com Freddie Stone, mostra que dentro dos erros cometidos no final da carreira da Family Stone, ainda havia bom material elaborado, sendo que esta conta com Rusty Allen no baixo, e o único deslize fica por conta de "Le Lo Li", com Willie Wild Sparks na bateria e muito sem sal para a fantástica mistura de temperos que Sly era capaz de criar. 

Clássica contra-capa de High On You

Porém, é impossível não se emocionar com a balada "My World", uma das melhores composições da carreira de Sly, seguida pelo funk despretensioso de "So Good to Me", o qual poderia estar em qualquer um dos primeiros álbuns da Family Stone. O álbum encerra com a poderosa "Greed", fazendo de High on You um disco no mínimo sensacional e digno na Discografia de Sly Stone. O baterista nas demais faixas foi Jim Strassburg. O álbum também foi lançado em uma limitada versão quadrifônica.

O segundo single do álbum, "Le Lo Li" / "Who Do You Love", assim como o terceiro, "Crossword Puzzle" / "Greed", foram um grande fracasso. Mas o single "I Get High On You" / "That's Lovin' You" alcançou a terceira posição na parada Rhythm 'n' Blues americana, vendendo tanto que manteve a chama de Sly Stone acesa, dando oportunidade de um retorno do uso da Family Stone para o álbum seguinte. 

Acima: John Farey, Steve Schuster,Lady Bianca, Dwight Hogan, Sly Stone,
Virginia Ayers e Joe Baker.

Abaixo: Cynthia Robinson, John Colla, Vicki Blackwell e Anthony Warren.
Assim, com o desejo de provar que era capaz de fazer bons álbuns e seguir carreira, Sly Stone recebe apoio da gravadora Epic, e com o apoio de Cynthia Robinson e mais nove músicos (Joe Baker - guitarra e vocais; Dwight Hogan - baixo e vocais; John Colla - saxofone e vocais; Steve Schuster - saxofone, flauta; John Farey - teclados; Virginia Ayers - vocais; Anthony Warren bateria; Lady Bianca - vocais, clavinet; e Vicki Blackwell - violino), criando a Segunda Geração da Família de Pedra. 

A estreia da segunda geração da Família de Pedra

Alguns shows e rapidamente, esse time entra nos estúdios, registrando Heard Ya Missed Me, Well I'm Back, lançado em dezembro de 1976. A de se reclamar, assim como todos os álbuns da Segunda Geração, é a curta duração desse maravilhoso álbum. Alegre e muito bem gravado, amplia as linhas dançantes de High On You, apresentando novidades como a flauta em "Heard Ya Missed Me, Well I'm Back". 

Gosto muito do arranjo vocal desse álbum, principalmente das leves, mas harmoniosas, "Everything in You", "The Thing" e "Blessing In Disguise". Esses mesmos vocais, e o ritmo alucinante, são o ponto alto de "Sexy Situation", resgatando a época das canções positivas de Stand!. O baixão característico do grupo está presente em "What Was I Thinking In My Head" e "Let's Be Together". 

Sly Stone, a banda de um homem só

Bianca faz a voz principal na bela balada gospel "Nothing Less Than Happiness" e em "Mother is a Hippie", essa com um fantástico arranjo de metais e cordas. O álbum encerra com o vocoder ressurgindo das cinzas na ótima "Family Again", recheada de solos individuais, sendo um atestado de que a nova geração da Família de Pedra, além de ser maior, também era capaz de fazer grandes discos. 

O único single do LP, "Family Again" / "Nothing Less than Happiness", foi um fracasso comercial, o que impediu a Família de Pedra continuar suas atividades. Uma pena, já que o disco é sensacional.  Lynn Mabry e Dawn Silva saíram do grupo na sequência, formado o The Brides of Funkenstein em 1978. 

O levíssimo Back on the Right Track

Sly não desistia, e afastando-se das drogas, conseguiu um contrato com a Warner Bros. Um novo Sly Stone aparecia no cenário musical, assim como uma nova formação para a Família de Pedra. 

Coletânea de remixes
Enquanto isso,  a Epic lançou Ten Years Too Soon, uma coletânea de remixes do grupo em versão disco, trazendo versões para "Dance To The Music", "Sing A Simple Song", "I Get High On You", "Everyday People", "You Can Make It If You Try", "Stand!" e "This Is Love"

Pouco depois do lançamento dessa coletânea, chega às lojas Back on the Right Track, com a Família de Pedra agora tendo dezesseis membros, entre eles Sly, Cynthia e Pat Rizzo da Primeira Geração.

Estão lá ainda Freddie Stewart (flautas), Joe Baker (flautas), Lisa Banks (flautas), Rose Banks (flautas), Keni Burke (baixo), Alvin Taylor (bateria), Hamp Banks (guitarras), Joseph Baker (guitarras), Fred Smith (metais) Gary Herbig (metais), Steve Madaio (metais), Mark Davis (teclados) e Walter Downing (teclados).

Contra-capa de Back on the Right Track

O som é voltado para o lado leve das canções que a Segunda Geração elaborou em seu primeiro disco, sem arranjos fabulosos, mas privilegiando os vocais sensuais de Sly. Assim o é em "Remember Who You Are" e na gospel "Shine It On". Segure-se na cadeira durante o embalo de "Who's to say", energética em cada segundo, e o grudento refrão entoando o nome da canção após as vocalizações de Sly. 

O vocoder aparece timidamente em "It Takes All Kinds" e triunfante em "The Same Thing (Makes You Laugh, Makes You Cry)", fazendo o solo da canção, e o baixão inconfundível está presente nestas e, principalmente, em "If It's No Addin' Up ...". Aliás, o que é a linha de baixo da faixa-título? Indescritível! Como se não bastasse, Sly comanda a harmônica em "Sheer Energy", grandiosa canção com um grandioso arranjo vocal, encerrando um álbum ótimo, simples e direto, de uma Segunda Geração que é outra banda em comparação a Primeira Geração, e infelizmente, muito curto. 

Do álbum, saíram os singles "Remember Who You Are"/ "Sheer Energy", que ficou em trigésimo oitavo na parada rhythm 'n' blues da Billboard, e foi lançado em 1979, e "Who's to Say"/ "Same Thing", que não conquistou posição na Billboard, e saiu em 1980. 

Sly Stone, um novo homem em 1979

A Família de Pedra encerrou a segunda geração de forma deprimente, com Sly praticamente sendo expulso da Warner, e voltando as drogas. Graças ao amigo George Clinton e o Funkadelic, Sly sobreviveu durante algum tempo, excursionando com o Funkadelic entre 1980 e 1981, quando participou do álbum The Electric Spanking of War Babies, vigésimo quinto dos americanos. Esse álbum motivou a gravação de um novo álbum da Sly & The Family Stone, e George Clinton era o principal responsável pelo resgate do músico. Porém, Clinton brigou com os diretores da Warner, e acabou abandonando o projeto no meio do caminho.

O fim trágico acabou ocorrendo com Ain't But the One Way, um álbum gravado totalmente de forma inconsequente, e que foi concluído pelo produtor Stewart Levine após Stone partir para um refúgio de recuperação das drogas. O resultado foi um disco eletrônico e sem muita empolgação. A guitarra de Sly está sofrega, e as vocalizações soam maçantes até para o mais fanático admirador do grupo.

Melancólica despedia da Família de Pedra

As canções acabam soando praticamente iguais, em um ritmo leve e de poucos destaques, e aqui entram "One Way", "L. O. V. I. N. U.", "High, Y'All" e "Ha Ha, Hee Hee". Nem a cover para "You Really Got Me" consegue agradar. A vinheta "Sylvester" poderia ser uma bela canção, mas foi relegada a apenas quarenta e quatro segundos de duração. Os momentos de exceção positiva são "Hobo Ken", graças a levada do hammond, o reaparecimento da harmônica e o wah-wah vocalizante, e "We Can Do It", na qual os metais dão show.

O ritmo dançante de "Who in the Funk Do You Think You Are" é interessante, mas a guitarra e a bateria eletrônica não combinaram. Despedida triste de uma grande banda. Ain't But the One Way e Back on the Right Track foram posteriormente lançados juntos na coletânea Who in the Funk Do You Think You Are: The Warner Bros. Records, de 2001.

Sly chegou a participar do programa Late Night With David Letterman, ainda em 1982, mas depois, mergulhado nas drogas, sumiu do mapa, fazendo um longo tratamento durante o ano de 1984, graças a ajuda do amigo Bobby Womack. Do álbum foram lançados os singles "L.O.V.I.N.U." (em 12") e "Ha Ha, Hee Hee / High Y'all ‎ (7").

Na década de 80, Sly colaborou em alguns singles, que foram "Chasing The Rock", de Gene Page (1983), "Crazay", de Jesse Johnson (1986) e "Eek-Ah-Bo-Static Automatic" / "Love And Affection", ao lado de Martha Davis (1986). Em 1987, Sly foi preso por porte de cocaína e por tráfico da mesma, voltando a ativa somente em 1992, quando apareceu na coletânea Red Hot + Dance contribuindo com  "Thank You (Falettinme Be Mice Elf Agin) (Todds CD Mix)". Esse álbum foi lançado para arrecadar fundos na ajuda do tratamento da AIDS.


Sly Stone, em 2006

Depois, foi uma longa ausência. Mesmo em 1993, quando o grupo foi homenageado na Rock 'n' Roll Hall of Fame, Sly não esteve presente, até que em 2006, Sly Stone foi homenageado com um Grammy por serviços prestados a música. Foi a primeira e última reunião da Família de Pedra, que interpretou diversas canções naquela noite. 


Último álbum de Sly Stone até o momento

Em 2011, Sly lançou seu segundo álbum solo, I'm Back! Family & Friends pelo pequeno selo Cleopatra. Com a participação de diversos convidados especiais "I'm Back! Family & Friends se torna um álbum frustrante em vários quesitos, mas entre os principais, a recriação nada inspirada para clássicos da primeira geração da Família de Pedra e, pior ainda, remixes totalmente desnecessários para esses mesmos clássicos, como atestam as terríveis versões para "Family Affair (dubstep remixe)", "Thank You (Fallentime Be Mice Elf Agin) (Electro Club Mix)", "Dance to the Music (Club Mix)" e "Dance to the Music (Extended Mix)", sendo as três primeiras, bônus na versão em CD. 

Porém, temos alguns momentos saciáveis nas inéditas "Plain Jane", "Get Away" e "His Eyes is on the Sparrow". Johnny Winter da as caras na simples "Thank You (Fallentime Be Mice Elf Agin)", assim como temos uma sem sal "Hot Fun in the Summertime", com Bootsy Collins e Ann Wilson, sem dizer muito a que veio, em "Everyday People". Carmine Appice em "Stand!", Ray Manzarek em "Dance to the Music", e Jeff Beck em "I Want to Take Your Higher", são as poucas participações que tornam as versões atuais no mesmo nível da versão original. Pouco para alguém como Sly Stone, e facilmente esquecível.

Sly Stone, um gênio americano

Sly continua apresentado-se regularmente em bares e pequenos locais nos Estados Unidos, vivendo em uma van e sem local fixo. Um triste fim de carreira para um dos maiores nomes da música.

sábado, 25 de janeiro de 2014

Sly & The Family Stone - Parte II


Sly Stone, Cynthia Robinson, Freddie Stone, Rose Stone, Jerry Martini e Larry Graham
Encerramos a primeira parte da série sobre a carreira da Sly & The Family Stone com o grupo lançando seu terceiro álbum, Life!, que havia construído a base para o futuro promissor que aguardava os californianos. O álbum, lançado em 1968, não vendeu o esperado, mas mostrou que a mistura de rock, swing e psicodelia, podia dar certo.

O compacto de "Everyday People"
Ainda em 68, o grupo lançou o compacto "Everyday People" / "Sing a People Song", o qual tornou-se o primeiro compacto do grupo a alcançar a primeira posição na Billboard, com a canção principal sendo a primeira do grupo a conter algo que se tornaria uma marca da Família de Pedra, que são as letras de protesto e com conteúdo social.

O sucesso de "Everyday People" serviu para alavancar as vendas do quarto álbum do grupo, lançado em 03 de maio de 1969. Stand" é considerado por nove em cada dez fãs como o melhor álbum do grupo, opinião que não é totalmente exagerada, já que Stand! é perfeito do início ao fim.
É aqui que o grupo decola de vez. Influenciados por James Brown, a Família de Pedra vendeu mais de três milhões de cópias, tornando-se uma das mais reconhecidas no mundo do funk. Stand! possui uma pancada atrás da outra, sendo as canções bem maiores do que os três álbuns anteriores, e o som final muito mais trabalhado e inovador.

Stand!, um discaço do início ao fim
Há espaço para canções mais amenas, como "Everyday People", "Stand!", que possui um grande encerramento, e a simples "Somebody's Watching You", além do embalo de "You Can Make It If You Try".

Porém, é Sly quem está endiabrado, ora sugando a harmônica como se fosse uma vagina ("I Wanna Take Your Higher"), ora criando riffs intrincados na guitarra ("Sing a Simple Song"), ora utilizando o vocoder (espécie de sintetizador da voz humana, transformando-a em qualquer instrumento) como uma extensão de seu corpo, em faixas como a manifesto "Don't Call Me Nigger, Whitey" e a longa "Sex Machine", na qual, seja com o vocoder, seja pisoteando sem piedade o wah-wah, o gênio negro cria uma obra prima do funk americano, com seus quatorze minutos instrumentais de aprendizado musical para qualquer ser vivo que goste de música, seja o estilo que for. Ela também tem um alucinante solo de bateria, único a aparecer nos LPs da Sly & The Family Stone. 

O grupo no auge de sua carreira, em 1969

Sem sombra de dúvidas, um dos melhores discos em todos os tempos e em todos os estilos. O compacto de "Stand!", com "I Want to Take You Higher" no lado B, ficou entre as trinta mais na Billboard. Mais de quinhentas mil cópias foram vendidas em menos de um ano, e em 1986, ele atingiu a marca de um milhão de cópias somente nos Estados Unidos. 

Em 2007, o álbum foi relançado com mais cinco bônus: "Stand" (mono single version), "I Want to Take You Higher" (mono single version), "YoU Can Make It If You Try" (mono single version), "Soul Clappin' II" (previously unreleased) e "My Brain (Zig-Zag)" (previously unreleased material). 

Claro que o magnânimo sucesso de Stand! chamou a atenção de empresários e produtores, dentre eles os organizadores do Woodstock Music and Art Festival, que chamaram a banda para ser uma das atrações principais do evento, sendo a antepenúltima banda para fechar a noite de sábado, no dia 17 de agosto de 1969. Até hoje, esse é considerado um dos maiores shows do Festival, e consequentemente da carreira da Família de Pedra.

Na sequência, o single "Hot Fun in the Summertime" / "Fun" chegou às lojas, alcançando a segunda posição na Billboard em outubro de 1969. 

Os irmãos Stone em ação

1970 já foi um ano mais conturbado para o grupo. Os irmãos Stone começaram a discutir fortemente com o baixista Larry Graham, que não aceitava o novo direcionamento musical nem as imposições de Sly Stone. Para piorar, os Panteras Negras obrigaram Sly a demitir o baterista Gregg Errico e o saxofonista Jerry Martini (lembrando que Freddie Stone estava nas guitarras, Sly Stone nas guitarras, teclados e vocais, Cynthia Robinson no trompete e Rose Stone nos teclados e vocais), exigindo  a presença apenas de negros no grupo. O empresário David Kapralik também foi demitido pela mesma razão.

O grupo mudou-se para Los Angeles, mudança essa que só piorou o relacionamento dos membros, principalmente por conta do uso de drogas, principalmente cocaína. É nesse período que o famoso case de violino de Sly andava repleto de cocaína por todas as partes dos Estados Unidos. 

A baixa criatividade e os problemas internos refletiram-se na parte musical, com apenas um single sendo lançado, no caso "Thank You (Falettinme Be Mice Elf Agin)" / "Everybody is a Star", lançado em dezembro de 1969, e que ficou entre os 100 mais da Billboard. 

As drogas tornaram-se o alimento de Sly. Sujo, preguiçoso e totalmente inconsequente, ele viu os produtores cancelaram mais de um terço dos shows programados para aquele ano, jogando tudo o que havia conquistado com Stand! fora.

Destaque para o trio vocal Little Sister

Apresentações erráticas no Strawberry Fields Festival (Toronto, Canadá) em agosto de 1970, e nos programas de televisão The Mike Douglas Show e The Dick Cavett show foram os momentos de maior destaque do grupo naquele ano, mas não o suficiente para manter as vendas.  A coletânea Greatest Hits foi lançada para manter a chama acesa, e foi uma boa saída da Epic, já que o álbum alcançou a segunda posição na Billboard, a melhor de um álbum do grupo até então. A Whole New Thing também foi relançado, e isso é o que tivemos de música para o Sly & The Family Stone naquele ano.

Sly envolveu-se com gangsters e traficantes, e começou a criar uma certa paranoia, principalmente achando que alguns colegas de banda (Larry principalmente) estavam armando um plano para matá-lo. A crise existencial de Sly foi tamanha que, em um contrato com a Atlantic Records, ele fundou seu próprio selo, o Stone Flower Productions, que lançou apenas quatro singles: um para o artista Joe Hicks, um para um grupo chamado 6IX e dois singles Top 10 para o trio Little Sister, no caso "You're the One" e "Somebody's Watching You", com o selo sendo fechado em 1971.

Nesse mesmo ano, Errico foi demitido, sendo substituído por diversos bateristas de estúdio, até Gerry Gibson firmar-se como novo baterista. A nova formação é responsável pelo lançamento do quinto disco da banda, There's a Riot Goin' On, que chegou às lojas em 20 de novembro de 1971.


There's a Riot Goin' On, um disco leve e cadenciado

Com canções mais leves e cadenciadas, o álbum difere bastante da explosão sonora de Stand", enaltecendo principalmente a falta de esperança e o medo que os americanos viviam no início da década de 70, como ouvimos nas bluesísticas "Just Like a Baby" e "Time", essa um bluesão de tirar o fôlego do vivente. Os vocais são divididos democraticamente entre Rose e Sly em poucas faixas, no caso, "(You Caught Me) Smilin'", "Luv n' Haight", e "Family Affair", outro grande clássico do grupo. Os metais aparecem com destaque em "Brave & Strong" e na embalada "Runnin' Away", e o wah-wah cadencia ainda mais a leveza de There's a Riot Goin' On nas simples "Poet" e "Spaced Cowboy" (essa, uma verdadeira piada ao fã mais xiita).

Os pontos fortes ficam para as duas canções homenageando a África, que são as longas "Africa Talks to You The Asphalt Jungle" e "Thank You for Talkin' To Me Africa", repletas de ginga e sensualidade, mas um tanto quanto amorosas demais. Foi o mais vendido nos Estados Unidos logo após o seu lançamento, mas não tem o mesmo calibre que Stand!. Vale ressaltar que há uma importante participação especial de Ike Turner nas guitarras, assim como Bobby Womack (guitarras), Billy Preston (teclados) e o trio vocal Little Sister. E quem souber explicar o que são os três segundos de silêncio da faixa-título, sinta-se a vontade.


Versão alternativa (acima) e a incrível capa interna de There's a Riot Goin' On (abaixo)

Esse foi o primeiro e único disco do grupo a atingir a primeira posição na parada geral da Billboard, vendendo mais de quinhentas mil cópias em apenas um mês, apenas nos Estados Unidos. O LP foi levado pelo sucesso do single "Family Affair", que também atingiu a primeira colocação na Billboard. Os outros dois singles do LP são "Runnin' Away" (décimo sétimo no Reino Unido, décimo quinto nos Estados Unidos) e "(You Caught Me) Smilin'", quadragésimo segundo na Billboard.

O relançamento de 2007 contou com os seguintes bônus: "Runnin' Away" (mono single version), "My Gorilla is My Butler" (instrumental), "Do You Know What?" (instrumental) e "That's Pretty Clean" (instrumental).

Três compactos saíram do álbum: "Family Affair" / "Luv 'N' Haight", primeiro colocado na Billboard, décimo quinto no Reino Unido; "Runnin' Away" / "Brave & Strong", vigésimo terceiro na Billboard, décimo sétimo no Reino Unido, e "(You Caught Me) Smilin'" / "Luv 'N' Haight", quadragésimo segundo na Billboard, sem posição no Reino Unido.

Outro fator de importância relacionado a There's a Riot Goin' On é a sua emblemática capa. Trazendo uma imitação para a bandeira norte-americana, ela apresenta as mesmas listras vermelhas e brancas da bandeira original, mas com o preto substituindo o azul e sóis ao invés de estrelas. Segundo Sly: "Eu queria uma bandeira que representasse as pessoas de todas as cores. O preto significa a ausência de cor, e o branco é a combinação de todas as cores. O vermelho representa a única coisa que todas as pessoas tem em comum, que é o sangue, e o Sol no lugar da estrela implica uma busca. Como buscamos por uma estrela, considerei o Sol por que ele sempre está lá, olhando para você, não precisa procurá-lo. Betsy Ross até que fez um bom trabalho, mas eu acho que ele podia ter ficado melhor".

O álbum chegou a ser relançado com uma outra capa, trazendo Sly em uma apresentação, mas a capa original ficou nos anais da história do rock como talvez a mais famosa da carreira do grupo.

Apesar de a crítica ter malhado bastante o álbum quando de seu lançamento, aguardando algo na linha de Stand!, hoje o mesmo é aclamado como dos melhores da Família de Pedra, lado-a-lado com Stand!. A revista Rolling Stone, em 2003, elegeu o álbum um dos cem melhores de todos os tempos, colocando-o na posição noventa e nove. 

Depois do lançamento de There's a Riot Goin' On, novos problemas apareceram. Martini exigiu o pagamento de dividendos, pedindo demissão logo em seguida. Pat Rizzo foi contratado como novo saxofonista, mas Martini acabou voltando atrás e, ao lado de Rizzo, manteve-se nos metais do grupo.

A tensão aumentou mesmo foi entre Graham e Sly, com os dois confrontando-se por diversas vezes, sendo que Graham inclusive chegou a contratar um assassino profissional para matar Sly. Capangas contratados por Sly (Bubba Banks e Eddie Chin) foram atrás de Graham, que acabou fugindo de um hotel aonde estava hospedado com sua esposa. Sem clima para continuar trabalhando com Sly, o baixista fundou a Graham Central Station, banda de relativo sucesso, que seguia a linha da Sly and the Family Stone, enquanto Womack ficou temporariamente no seu lugar na Família de Pedra, lugar este ocupado posteriormente pelo novato Rusty Allen.

Foi com o clima totalmente incerto que o agora octeto entrou nos estúdios, tendo um novo baterista, Andy Newmark, e registrando seu sexto álbum com Sly afundado na cocaína. 


Fresh, o início do fim

Sem ser tão lento quanto seu antecessor, Fresh não conseguiu manter o êxito dos álbuns lançados pelo grupo até então, mas está longe de ser um disco decepcionante. O trabalho de overdubs feito por Sly Stone foi exaustivo, mas deu um belo resultado. Duas faixas contam com Graham no baixo, "If it Were Left Up To Me" e a balada "Que Sera, Sera (Whatever Will Be, Will Be)", cover para o clássico de Ray Evans. 

Resistir a levada de "Skin I'm In" e a sensacional "I don't Know (Satisfaction)", uma das melhores canções do grupo, é tarefa ingrata, e a performance vocal de Sly é belíssima em "Frisky", a sensual "Keep on Dancin'", na pérola "If You Want Me to Stay", mais um grandioso sucesso do grupo, e também em "In Time", uma inovadora performance musical do ritmo criado pela Família de Pedra.

"Thankful N' Thoughtful" e "Babies Makin' Babies" possuem um belo arranjo vocal e dos metais, e o único resbalão é a sonolenta "Let Me Have It All". O que se sobressai é um disco muito coeso e representante do estilo funk, influenciando desde Miles Davis, que ouviu "In Time" repetidamente por mais de trinta minutos, até Red Hot Chili Peppers, que fez um cover para "If You Want Me to Stay", no álbum Freaky Styley (1985).

Sly Stone

O relançamento de 2007 contou com os seguintes bônus: "Let Me Have It All" (alternate mix), "Frisky" (alternate mix), "Skin I'm In" (alternate mix), "Keep On Dancin'" (alternate mix) e "Babies Makin' Babies" (alternate version).

De Fresh saíram os singles "If You Want Me to Stay" / "Thankful N' Thoughtful", décimo segundo na Billboard, e "Frisky" / "If It Were Left Up to Me", apenas septuagésimo novo nas paradas americanas.

O grupo continuou na ativa, com poucos shows e com Sly atravessando uma das fases mais complicadas de sua vida. Na tentativa de manter a chama acesa, gravam desesperadamente diversas composições (algumas, sobras de material até então nunca lançado), e em julho de 1974, sai o último disco da primeira geração da Família de Pedra, Small Talk.

A despedida da Família de Pedra

Trazendo na capa uma bonita imagem de Sly com sua esposa Kathleen Silva e seu filho Sylvester Jr, temos uma despedida não tão satisfatória para os fãs. Atolado em drogas, Sly não consegue construir canções contagiantes, e o álbum passa lentamente pelo toca-discos. 

A formação da banda já está bastante modificada, com Rusty Allen e Andy Newmark permanecendo no baixo e na bateria respectivamente, assim como Pat Rizzo no saxofone, mas agora, temos a entrada de Sid Page no violino, o que mudou bastante o som funk do grupo, tornando-o mais próximo do pop de cantoras como Yvonne Elliman, como atestam as baladas "Mother Beautiful", "Wishful Thinkin", "This is Love" e "Can't Strain My Brain". 

Por outro lado, Small Talk apresenta pontos positivos, como o arranjo instrumental de "Holdin' On", a deliciosa balada "Say Your Will", o rock pegado de "Livin' While I'm Livin'" e a levada vocal de "Time for Livin'". O violino está presente em todo o disco, e soa interessante em alguns pontos, principalmente em "Better Thee Than Me", na qual duela ferozmente com os metais. 

Andy Newmark, Cynthia Robinson, Sly Stone, Freddie Stone, Rose Stone, Jerry Martini e Rusty Allen


Quem bebeu da fonte desse álbum foi o grupo Beastie Boys, o qual regravou "Time for Livin'" no formato punk rock no disco Check Your Head (1992) e sampleou o riff de "Loose Booty" na canção "Shadrach", do disco Paul's Boutique (1989), sendo "Loose Booty", com todo o seu trabalho de vocalizações e os metais, o ponto alto de um disco mediano, sem inspiração, muito romântico e longe do esperado para um lançamento de Sly Stone. 

Do álbum saíram os singles "Time for Livin'" /  "Small Talk" (trigésimo segundo na Billboard) e "Loose Booty" /  "Can't Strain My Brain" (octagésimo quarto). O relançamento de 2007 trouxe as bônus "Crossword Puzzle" (early version), "Time For Livin'" (alternate take), "Loose Booty" (alternate take) e "Positive" (previously unreleased instrumental).

Vale ressaltar que todos esses álbuns apresentados nas partes I e II foram relançados na caixa The Collection (2007), com os bônus citados durante o decorrer do texto.


caixa The Collection, com todos os álbuns da primeira geração,e muitos bônus 
Depois disso, o grupo se diluiu. Em janeiro de 1975, o grupo até tentou reviver sua fama, alugando o Radio City Music Hall para uma temporada de shows. A busca por ingressos foi tão insignificante que no final, os músicos tiveram que tirar dinheiro dos próprios bolsos para pagar as despesas. Em fevereiro daquele ano, o grupo acabava oficialmente.

Rose Stone partiu para uma carreira solo, adotando o nome de Rose Banks e vivendo um bom momemnto com seu estilo Motown-style. Freddie Stone ingressou no Graham Central Statio, aonde permaneceu por pouco tempo. O trio Little Sister também deixou de existir. Já Andy Newmark tornou-se um bem sucedido baterista de estúdio, gravando com Roxy Music, B. B. King, Steve Winwood entre outros.

Sly Stone também entrou em carreira solo, como veremos em breve, aqui no Baú do Mairon, voltando em 1976 com uma surpreendente versão da Família de Pedra.


sábado, 18 de janeiro de 2014

Sly & The Family Stone - Parte I

Larry Graham, Jerry Martini, Freddie Stone, Cynthia Robinson, 
Sly Stone, Rose Stone e Greg Errico 


Um guitarrista negro, extremamente talentoso, que ajudou a revolucionar seu instrumento e ainda consagrou-se durante o verão do amor de 1967, na Califórnia, fez misérias em Woodstock e deixou um legado de álbuns que influenciaram muita gente posteriormente. Estou falando de Sylvester Stewart, mais conhecido como Sly Stone.


Entre 1967 e 1976, Sly comandou sua "família" no Sly & The Family Stone, um dos principais grupos de funk-rock e soul que o mundo pode ouvir. Ao lado da banda de James Brown (os J. B.'s), Ike & Tina Turner e do projeto Parliament-Funkadelic, a Sly & The Family Stone marcou época com muito swing, canções clássicas e a guitarra embalada de Sly Stone.


No final da década de 70, o grupo deixou de existir, e mesmo a tentativa de retomar o nome Sly & The Family Stone na virada dos anos 70 para os 80, acabou perdendo espaço para a onda da eletrônica.

Rara foto da família Stewart, destacando os pequenos
The Stewart Four
Nascico Sylvester Stewart, em 15 de março de 1943, o segundo filho de K. C. e Alhpa Stewart tem sua história musical ainda na infância, em Dallas, Texas, quando era um membro de uma família de classe média altamente religiosa, ligada a Igreja de Deus em Cristo, aonde começou a aprender sobre música. Esse foi o primeiro contato com instrumentos como guitarra e piano.

Quando Sly atingiu a adolescência, os Stewart mudam-se para Vallejo, na Califórnia, e lá, K. C. criou o grupo The Stewart Four, composto pelos quatro dos cinco filhos do casal: Sylvester, Freddie, Rose e Vaetta. O quarteto fez diversas apresentações, com a conotação totalmente gospel, lançando um raríssimo compacto em 78 rotações, com as canções "On the Battlefield of the Lord" e "Walking in Jesus' Name", no ano de 1952.


The Viscaynes, com Sly ao centro

Ao mesmo tempo, o jovem Sylvester flertava estilos com outros colegas do Ensino Médio que também tocavam, criando grupos como o The Viscounts, The Webs e The Viscaynes, que lançou diversos compactos na década de 50, com uma formação tendo Frank Arellano, Charlene Imhoff, Sylvester Stewart, Maria "Ria" Boldway e a dupla Charles e Vern Gebhardt. Esse foi um dos primeiros grupos interraciais de rock que se tem história, já que era composto por quatro brancos, um negro (Sylvester) e um filipino (Frank Arellano). 

Raríssimo compacto dos Viscaynes, com a grafia errada ("B" no lugar de "V")
O grupo fez relativo sucesso na Califórnia, apresentando-se em escolas e igrejas, além de pequenos bares, e em 1961, participam do programa de TV Dick Stewart Dance Party TV Show, quando lançaram seu primeiro compacto, pelo selo VPM Records, com as canções "Yellow Moon" / "Heavenly Angel". O grupo migrou para Los Angeles, aonde registrou diversas canções, lançando ainda mais um compactos pelo selo VPM, tendo uma revisão de "Yellow Moon" no lado A, com "Uncle Sam Need You (My Friend)" no lado B, e sob o nome de The Biscaynes (um erro de digitação na prensagem).

Seguiram-se os compactos "Stop What You Are Doing" / "I Guess I'll Be", pelo selo Trop Records, e sob o nome The Viscaynes & The Ramblers (Sly Stewart & The Viscaynes na segunda prensagem), e como grupo de apoio para Jasper Woods no compacto "I'm Comming Home" / "Hully Gully Papa". 


Compactos de Danny Stewart (acima) e Sly Stone (abaixo)

No início da década de 60, Sylvester começou a gravar seus primeiros compactos solo, adotando o nome de Danny Stewart. Entre 1961 e 1965, foram cinco compactos ao total: "A Long Time Alone"/ "I'm Just A Fool" (1961), "Help Me With My Broken Heart" / "Long Time Alone" (1962), "I Just Learned How To Swin" / "Scat Swim" (1964), "Buttermilk, Part 1" / "Buttermilk Part 2" (1965) e "Temptation Walk, Part 1"  / "Temptation Walk, Part 2" (1965),  os dois últimos já como Sly Stone, e todos lançados por selos distintos. 

Em 1964, Sly tornou um DJ na rádio KSOL, de San Francisco, aonde audaciosamente passou a reproduzir sons de bandas brancas como Beatles e Stones entre os clássicos do rhythm 'n' blues americano. Foi nesse ano que ele aprendeu o trabalho da produção, participando de lançamentos de nomes como The Beau Brummels, Bobby Freeman e The Mojo Men. 

Sly Stone, em 1967
Porém, Sly não era um homem de andar sozinho, e em 1966, formou o grupo Sly & The Stoners, trazendo como novidade a trompetista Cynthia Robinson, ao mesmo tempo que seu irmão Freddie funda o Freddie & The Stone Souls, trazendo Ronnie Crawford no saxofone e Gregg Errico na bateria. 

Não demorou para que as duas bandas fundissem em uma só, e assim, surge o Sly & The Family Stone, em março de 1967, com Sly e Freddie nas guitarras, Larry Graham no baixo e vocais, Errico na bateria, Cynthia no trompete e vocais, e Crawford no saxofone. O time foi completado por um trio vocal Little Sistes, composto pela irmã de Sly e Freddie, Vaetta "Vet" Stone, e suas amigas colegiais, Mary McCreary e Elva Mouton. Vale lembrar que Sly também tocava, órgão, piano e diversos outros instrumentos, e era o vocalista principal.
A regular estreia da Family Stone
Alguns shows e não demorou para a CBS Records interessar-se pelo som do grupo, principalmente após um show na Winchester Cathedral, uma boate de Redwood City, Califórnia. Em outubro de 1967, lança seu primeiro disco, A Whole New Thing

A estreia da Família de Pedra é um apetitoso aperitivo para o groove e dançante ritmo que fez de Sly Stone um ídolo anos depois. Aqui estão os pequenos elementos que acimentaram o funk do grupo, para depois construir o alicerce que sustentaria toda a dinâmica efervescente e contagiante desse trem em evolução. 

O álbum possui de tudo um pouco: Motown puro e simples ("I Cannot Make It"), rock californiano a la Beach Boys ("Run, Run, Run"); e baladas doloridas ("That Kind of Person", cantada por Freedie, e "Let Me Hear It From You", nas quais Sly demonstra todo seu talento no órgão). As linhas vocais de "I Hate to Love Her", "Advice" e "Trip to Your Heart" (essa beirando a psicodelia) ou o ritmo alucinante de "Turn Me Loose" (encerrando com Sly fazendo um suspiro cansado) e "Underdog" são totalmente inovadores para a época. O grande destaque é o arranjo dos metais nas pérolas "Dog", "If This Room Could Talk" e "Bad Risk". 

Capa do relançamento de A Whole New Thing, em 1970
Detalhe importante é que A Whole New Thing foi gravado ao vivo no estúdio, para diminuir custos. Em 1970, ele foi relançado com nova capa. Outros dois relançamentos ocorreram: 1995, trazendo a bônus "What Would I Do"; 2007, com cinco bônus, as quais são "Underdog" (mono B-side version), "Let Me Hear It From You" (mono B-Side version), "Only One Way Out of This Mess", "What Would I Do" e "You Better Help Yourself".

Apesar de receber elogios de nomes como Tony Bennett e Mose Allison, o álbum não vendeu o esperado, mas mesmo assim foi um bom começo para o grupo. O produtor Clive Davis acabou interferindo, já que o grupo tinha tudo para deslanchar, mas estava restrito a tocar em pequenos bares e clubes da Califórnia. 

Davis sugeriu a Sly que tentasse gravar algo mais direto e popular, capaz de tornar-se um hit, e assim, o guitarrista compôs seu primeiro grande clássico, "Dance to the Music". Apesar do estilo pop não ter agradado nenhum dos integrantes da Family Stone, a canção acabou fazendo toda a diferença na carreira do grupo. Foi através dela que os americanos tiveram conhecimento de um grupo sem segregação racial, já que brancos e negros dividiam o mesmo espaço, e também de sons totalmente inovadores para sua época, misturando rock, psicodelia, as tradicionais linhas de baixo do funk e um maravilhoso conjunto de metais, além do órgão gospel de Sly perambular pela canção como um anjo salvador.



Uma guinada diferenciada na carreira de Sly e sua família

O compacto foi lançado em janeiro de 1968, e em 27 de abril do mesmo ano, o álbum de mesmo nome chegou às lojas. Parece mentira que em tão pouco tempo um grupo possa ter evoluído tanto. Gravado dois meses após A Whole New Thing, e com a adição da tecladista Rose Stone, Sly pode soltar-se mais na guitarra, como ouvimos em "Don't Burn Baby" e "I'll Never Fall in Love Again". 

A faixa-título, que abre o LP, se tornou TOP 10 nos Estados Unidos, e é uma aula de swing, com cada instrumento fazendo sua participação solo de forma empolgante, além de criar o que ficou batizado de Psichedelic Soul. Rose comanda o piano de "I Ain't Got Nobody (For Real)", e eu gosto muito do ritmo intrincado criado por Errico em "Are You Ready?", que assim como "Ride thr Rhythm", deu as bases para o que o Jackson 5 iria fazer no início dos anos 70 utilizando muitas vocalizações. 


Famiía de Pedra em 1968:
Freddie Stone, Sly Stone, Rose Stone, Larry Graham, Cynthia Robinson, Greg Errico e Jerry Martini



"Higher" destaca Sly na harmônica, e "Color Me True" é uma maravilhosa mistura de vozes, aglomeradas pelo ritmo da guitarra e dos metais. O principal ponto a se destacar é que quase todas as canções são cantadas pelo quarteto Graham, Sly, Rose e Freddie, tornando a harmonia vocal muito interessante de se ouvir. E claro, a psicodelia e o agito dos mais de doze minutos de "Dance to the Medley" são uma aula de transpiração, inspiração e ritmo, em uma das melhores canções da carreira do grupo, com vocalizações, baixo carregado de distorção e a guitarra lisérgica de Sly pegando fogo.

Assim como A Whole New Thing, Dance to the Music recebeu dois relançamentos em 1995 e em 2007, com o relançamento de 1995 trazendo como bônus a faixa "Soul Clappin", e o de 2007 seis bônus: "Dance to the Music" (mono single version), "Higher" (mono single version), "Soul Clappin'", "We Love All" (previously unreleased), "I Can't Turn You Loose" (previously unreleased) e "Never Do Your Woman Wrong" (previously unreleased instrumental). O disco vendeu bem, sendo o essencial para que a EMI investisse no terceiro disco do grupo.

A avalanche sonora de Life

A receita de Dance to the Music foi aperfeiçoada nesse terceiro álbum, lançado oito meses após o citado LP, e que foi gravado durante o verão de 1968.

Mantendo a mesma formação, os vocais agora ficam concentrados em Freddy, Graham e Rosie, e as harmonias entre baixo, órgão e metais é envolvente demais para ficar parado. O álbum é uma avalanche sonora do início ao fim, e em termos de letras, foi o que apresentou as canções de protesto e a harmonia musical, marcas registradas de Sly Stone. 

De início, temos a guitarra rasgada de "Dynamite!", a hilária "Chiken" (com vocais imitando sons de cacarejos) e a linda "Plastic Jim", uma swingadissíma canção com uma das harmonias mais belas da história do funk. A partir de então, Life cresce de forma incrível, tornando-se a avalanche que destrói casas até hoje. 

"Fun", "Into My Own Thing" e "Harmony" são brilhantes harmonias de metais, piano, órgão e vocalizações, enquanto a faixa-título tem um riff entusiasmante que faz até defunto levantar os braços. As vocalizações de "M' Lady" mostram como o grupo evolui nesse disco, e o baixão distorcido de Graham é a sensação em "Jane is a Groupie" e "Love City", essa, com uma democrática divisão de vozes. A única queda do LP vai para "I'm an Animal", que realmente não diz para que veio, principalmente por sua simplicidade. 

O começo da transição visual e musical da Família de Pedra, em 1968:
Rose Stone, Larry Graham, Sly Stone, Freddie Stone, Greg Errico, Jerry Martini e Cynthia Robinson
A reedição de 1995 conta com o bônus "Only One Way Out of This Mess", e o relançamento de 2007 traz quatro bônus: "Dynamite" (mono single version), "Seven More Days" (previously unreleased), "Pressure" (previously unreleased) e "Sorrow" (previously unreleased).

Life não vendeu muito, apesar de ter recebido boas críticas da imprensa. Não importava, os alicerces já estavam construídos para a maior empreitada do grupo, que começou depois da primeira excursão europeia, ocorrida em setembro de 1968 na Inglaterra. O problema é que a turnê não pôde ser feita na íntegra, já que Graham acabou preso por porte de maconha, o que desagradou bastante os promotores do grupo.

O retorno do Sly and the Family Stone aos Estados Unidos foi um novo caminho, como veremos em breve aqui no Baú do Mairon, aonde abordaremos o período áureo do grupo, indo de 1969 até a separação da primeira geração da Família, em 1973. 
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