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sábado, 27 de abril de 2024

Consultoria Recomenda: Invasão Britânica



Editado por André Kaminski

Tema escolhido por Davi Pascale

Com Anderson Godinho, Daniel Benedetti, Fernando Bueno*, Líbia Brígido, Mairon Machado e Marcello Zappellini

Uma bela seleção de discos clássicos sessentistas aparece neste Recomenda, focado nas bandas do movimento conhecido como "Invasão Britânica", liderado principalmente pelos Beatles, Rolling Stones e The Who. Mas tirando esses gigantes, a Invasão Britânica da América teve muito mais bandas, tanto grandes como pequenas, que fizeram algum sucesso ou lançaram seus discos por lá. O que achou de nossa seleção? Comente lá embaixo!


Herman's Hermits - Both Sides of Herman´s Hermits [1966]

Por Davi Pascale

A British Invasion também ficou marcada com a presença de grupos mais pops. Dentre esses, sempre gostei muito do trabalho realizado pelo The Hollies, pelo Gerry & The Pacemakers e pelo Herman´s Hermits. Pensei muito em qual álbum indicar porque, assim como acontecia com os The Beatles, a discografia norte-americana (e também, a brasileira) eram, muitas vezes, álbuns criados para aquele país misturando algumas músicas do disco em questão com as músicas lançadas nos compactos. Queria indicar um álbum como foi concebido e comecei a revirar o tracklist (muitos desses discos tenho a versão norte-americana na minha coleção) e notei que nesse LP continha “Bus Stop”, uma faixa que tocou bastante aqui no Brasil. Além dessa, também gosto muito de “Listen People”, “The Story of My Life”, “When Where You When I Needed You” e “Dial My Number”. Disco bem bacana e que difere um pouquinho dos álbuns indicados aqui, que são espetaculares, mas são mais focados no blues ou na psicodelia.

Anderson: Nesse álbum as melodias cativantes, alegres e a simplicidade das músicas apresentam um cenário mais atrelado ao pop rock, algo mais palatável não tão agressivo com distorções ou vocais mais elaborados. Elementos distintos de outras bandas já comentadas e que justamente por isso posicionam o Herman’s Hermits em um espectro um pouco diferente das demais citadas ao meu ver. Dentre as mais interessantes citaria a boa Bus Stop que na verdade é um cover da banda The Hollies e a animada Dial My Number. No geral foi o material que menos me empolguei em reouvir, mas deve-se destacar que participaram do movimento da Invasão Britânica com alguma relevância.

André: Não faz muito tempo que eu conheci este álbum. Eles pegam por um lado mais pop do que rock em seus discos, mas o fazem com uma qualidade exemplar, caso deste disco.

Daniel: Não conhecia. É aquela sonoridade bem Beat, mas, aos meus ouvidos, soou excessivamente adocicada. Não é pra mim.

Líbia: Esse grupo também não era do meu conhecimento. Eles tem uma variedade de estilos bem variados, explorando muitos estilos em evidência na época de lançamento. Tem muita qualidade em suas músicas. A que mais se destacou para mim foi a “Where Were You When I Needed You”, quando ouvi senti algo familiar nos primeiros acordes, e lembrei imediatamente da “Crystal Light” do UFO, lançada anos depois. Deixando de lado essa observação, achei todo o conjunto musical muito bom, os vocais aqui estão mais entregues ao coração assim como todo o restante da banda, a dinâmica da música é muito boa. Se eles seguissem essa linha em todo o restante do álbum seria mais incrível.

Mairon: Eita. Não lembro a última vez que ouvi este disco. Deve ter sido lá no final de 2007, início de 2008, por aí. Era uma época onde os blogspots da vida estavam bombando, assim como vários grupos do Orkut traziam links para baixar discos diversos, e eu me divertia conhecendo muita coisa boa de diversos estilos. Quando coloquei aqui para tocar, lembrei na hora do choque que tomei ao ouvir o baixão e o peso de "Little Boy Sad", com o arranjo vocal interessantíssimo, mas depois o disco não segue assim. Ao longo de pouco menos de meia hora, o que se sobressai são arranjos vocais espetaculares, e um instrumental bem fraquinho, como atestam "Bus Stop", "Dial My Number" e "Where Were You When I Needed You?". É legal ouvir Herman (Peter Noone) cantando em francês tosquinho de "Je Suis Anglais (L'autre Jour)", mas a sua voz acaba se tornando as vezes irritante. O solo de guitarra de "For Love" é no mínimo constrangedor. Melhor faixa para o rockaço de "My Reservation's Been Confirmed". Obrigado ao consultor que recomendou esse disco (ouvi a versão britânica por sinal) por me fazer dar algumas risadas lembrando de um passado não muito distante.

Marcello: A banda de Peter Noone nunca me chamou a atenção, para ser honesto, mas o cantor tem meu respeito, afinal ele foi o primeiro a colocar nas paradas “Oh! You Pretty Things”, de David Bowie. Além do ótimo Noone nos vocais (à época com 19 anos, mas já um intérprete maduro e com boa variação de voz), o grupo incluía Derek Leckenby e Keith Hopwood nas guitarras, Karl Green no baixo e Barry Whitwam na bateria, que lidera uma versão da banda até hoje. O forte da banda eram os arranjos vocais, mas as guitarras não comprometem, destacando-se nas várias músicas. Este é o segundo LP inglês (e o quarto americano) da banda e traz doze músicas, na maioria covers, e teve como grande sucesso “Leaning on a Lamp Post” (o que não dá de entender, porque a música é bem enjoadinha). O álbum começa com as guitarras surpreendentemente pesadas de “Little Boy Sad”, um dos seus destaques, junto com “My Reservation’s Been Confirmed”, “For Love”, a curiosa “Je Suis Anglais” – que deveria ter feito sucesso na França, com Noone arriscando-se no francês, e a bela baladinha “Listen People”. Por outro lado, a versão de “Bus Stop” (de Graham Gouldman), é mais fraca do que a do The Hollies (e confirma que Bobby Elliott era um dos melhores bateristas da cena britânica nessa época) e “All the Things I Do For You” soa como um pastiche de Bob Dylan imitando os Beatles tentando fazer uma música dylanesca. As demais músicas não se destacam, mas também não comprometem. No todo, o disco é bom, mas sofre do mesmo problema que a esmagadora maioria das bandas da época: as coletâneas são melhores. E apesar de suas qualidades, o Herman’s Hermits não figura alto na lista das bandas inglesas dos anos 60.


The Kinks - Kinks [1964]

Por Anderson Godinho

Acredito que o The Kinks represente muito bem essa fase de virada cultural que ocorria no Reino Unido dos anos 1960: uma banda de irmãos e amigos já envolvidos na cena musical, que buscavam seu lugar ao sol através de uma sonoridade que passa por Folk, Blues, R&B e moldava a cara do tal Rock ‘n’ Roll. O debut autointitulado da banda traz um material muito eclético e interessante, são poucos mais de 30 minutos que apresentam uma síntese da banda e abriria um leque de possibilidades para seu futuro à época. Praticamente todas a músicas são muito boas no que apresentam. Desde as animadas misturas folk/blues como So Mystifying e I’m a Lover Not a Fighter, passando por aquele toque de rockabilly de I Took my Babe Home. Dentre as autorais, uma vez que o algum é composto por covers, Stop Your Sobbing atende a demanda por baladas românticas. Agora, se o Kinks alçou voos altos na carreira com certeza a pérola You Really Got Me foi a principal responsável! A música, ainda hoje aclamada, alcançou ótimos números logo após o lançamento do material e apresentou algo realmente empolgante e, porquê não dizer, a frente se sua época. Fato é que após esse belo debut, a banda lançaria mais de 20 álbuns até pelo menos os anos 1990.

André: Gosto bastante do Kinks e de sua atitude mais despojada ao compor e gravar suas músicas. É um álbum da invasão britânica, todavia, sem o mesmo brilho dos gigantes Beatles, Stones e Who. A banda melhoraria muito a partir do terceiro disco para frente. Daqui me agrada as versões deles para "Long Tall Shorty" e "Bald Headed Woman". Suas poucas composições próprias me passam despercebido e os outros covers são bem inconsistentes. Disco no melhor dos dias, mediano.

Daniel: A banda dos irmãos Davies em seu primeiro trabalho já mostrava a que veio. Em um misto de composições originais e várias versões, o álbum é muito divertido. Só “You Really Got Me” já valeria a audição, mas o disco é bem mais que isso. O “alto-astral” do álbum nem vislumbra a animosidade que Ray e Dave desenvolveriam ao longo do tempo. Bela indicação.

Davi: É realmente impressionante constatarmos quantos músicos dessa geração foram influenciados pelo saudoso Chuck Berry. Em seu álbum de estreia, os Kinks traziam duas regravações desse que é considerado o pai dos riffs. O hit “Too Much Monkey Business” aparece em uma versão bem mediana e bem inferior à registrada pelo rei do rock Elvis Presley. Já “Beautiful Delilah”, responsável por abrir o LP, ficou fenomenal e é um dos grandes destaques do disco. Assim como os Stones e os Pretty Things, eles misturam releituras com números originais e o mais bacana é que os grandes destaques ficam por conta das autorais “So Mystifying”, “Stop Your Sobbing” (que anos mais tarde voltaria às paradas com uma versão fenomenal dos Pretenders) e “You Really Got Me” (que anos mais tarde voltaria a causar barulho com a incrível regravação do Van Halen). Um bom disco dessa grande banda.

Líbia: Neste registro, os Kinks ainda estão buscando sua identidade sonora. É evidente a presença de diversas influências de artistas de Rhythm and Blues que os inspiraram. No entanto, se há uma faixa que se destaca é a "You Really Got Me". Essa música, de muitas maneiras, é a raiz do surgimento do punk rock. Além disso, Dave Davies é um dos pioneiros do efeito Fuzz na guitarra, pois é conhecido por ter cortado os cones dos alto-falantes de seu amplificador para obter um som distorcido, o que acabou criando esse efeito, e influenciou muitos músicos depois dele.

Mairon: Fabulosa estreia dos caras, trazendo fortes inspirações no blues e no rock 'n' roll americano. Logo de cara, "Beautiful Delilah" surge como que saída de algum álbum perdido de Elvis Presley. Acho a banda muito similar ao que os Stones faziam na mesma época, vide os vocais despojados de "Got Love If You Want It",  "Long Tall Shortly" e "I'm A Lover Not A Fighter", ou as vocalizações de "I'm Been Driving on Bald Mountain" e "So Mystifying". Ou mesmo quando enveredam para baladinhas, como "Just Can't Go to Sleep" e "Stop Your Sobbing", e rockzinhos animados, tais como "I Took My Baby Home" e o cover para "Too Much Monkey Business" (Chuck Berry), parece que falta algo que seus colegas tinham (técnica talvez?). Acabei pegando a versão britânica para ouvir, e nela, o lado B é bem melhor. Gosto da harmônica em "Cadillac", falando de carros como muitos à época, a pegada de "Revenge", bela pauladinha instrumental, e também a cômica "Bald Headed Woman". O lado A por outro lado traz uma obra prima do calibre de "You Really Got Me", imortalizada pela voz de David Lee Roth e a guitarra de Eddie Van Halen, e que é disparada a melhor canção do disco, totalmente diferente das demais, com ótimos vocais e um belo solo de guitarra (para a época muito "audacioso"). As críticas não diminuem a qualidade de Kinks. Somente os coloca um nível abaixo dos gigantes Stones, Beatles e claro, Yardbirds. A banda se tornaria bem maior na segunda metade dos anos 60 e início dos 70, mas isso é para outro Recomenda talvez.

Marcello: The Kinks seria a banda mais britânica de todas as que compõem a chamada “British Invasion”, mas isso ainda não estava nítido nesta época. Os irmãos Ray e Dave Davies, mais Peter Quaife (baixo) e Mick Avory (bateria – antecedeu Charlie Watts numa das primeiras versões do que se tornaria os Rolling Stones), gravaram 14 músicas nessa estreia britânica, sendo seis covers de músicas americanas, duas do produtor Shel Talmy (que também trabalhou com o The Who) e o resto era de Ray Davies. E são do vocalista e guitarrista rítmico as músicas mais conhecidas do álbum, “You Really Got Me” e “Stop Your Sobbing”. O álbum abre com “Beautiful Delilah”, de Chuck Berry, com os Kinks soando quase como uma banda punk! Curiosamente, a primeira música é cantada por Dave Davies e não por Ray. As primeiras músicas de Ray no álbum, “So Mistifying” e “Just Can’r Go To Sleep”, são bem mais interessantes, ainda um pouco imaturas, mas não se pode esquecer que eram composições de um garoto de 19-20 anos. E o resto do lado A segue com rocks sessentistas bem simpáticos (“I’m a Lover Not a Fighter” é uma cópia de “You Can’t Catch Me”, de Chuck Berry, e traz Dave no vocal principal e Ray no seu único solo de guitarra em todo o álbum), até chegar na monumental “You Really Got Me” e sua guitarra distorcida, grande sucesso do disco. A curta “Revenge” traz Ray na harmônica, e os vocais são apenas para fazer efeito. Outra de Berry, “Too Much Monkey Business”, é mais tradicional e mais próxima do original. “Bald Headed Woman” e “I’ve Been Driving on Bald Mountain” são composições de Shel Talmy, e têm pouco destaque, deixando apenas a pergunta de por que tanta preocupação com carecas. A linda “Stop Your Sobbing” vem em seguida, mostrando que os Kinks só tinham a ganhar se investissem nas músicas de Ray. O álbum original termina com “Got Love If You Want It”, clássico do blues que trocentas bandas gravaram.  A edição DeLuxe traz quase meia hora a mais de música, incluindo outro clássico de Ray Davies, “All Day and All of the Night”. Considerado no todo, “The Kinks” não figura muito alto numa lista de melhores álbuns da banda, mas é um disco honesto, enérgico e que já deixava entrever o talento de Ray Davies para composição. Coisas melhores viriam, mas é aqui que tudo começou.


 

The Animals - The Animals [1964] (British Album)

Por Marcello Zappellini

O primeiro LP britânico não traz “The House of the Rising Sun”, que catapultou a banda ao estrelato, diferentemente do americano. Mas escolhi essa versão porque ela capta melhor a energia primitiva do The Animals, a banda que tirou seu nome da reação do público aos seus shows caóticos (o grupo se chamava The Alan Price Set). A formação é a clássica com Eric Burdon nos vocais, Alan Price nos teclados, Chas Chandler no baixo, Hilton Valentine na guitarra e John Steel na bateria, e o repertório é praticamente todo formado por covers de artistas americanos de blues e rhythm’n’blues. A primeira coisa que você ouve ao colocar o disco para tocar é o órgão de Price, grande destaque instrumental da banda, abrindo “The Story of Bo Diddley”, letra de Burdon sobre a famosa “Bo Diddley Beat” – com direito a uma citação de “A Hard Day’s Night”. Na sequência, o que se tem são clássicos de John Lee Hooker (“Dimples”, “I’m Mad Again” e “Boom Boom”), Fats Domino (“I’ve Been Around”, “I’m in Love Again”), Chuck Berry (“Memphis Tennessee” e “Around and Around”), Ray Charles (“The Right Time”), bem como outras composições extraídas da mina de ouro da música americana (“She Said Yeah”, “Bury my Body” e “The Girl Can’t Help It”). As comparações com os Stones, que mineravam o mesmo catálogo, são inevitáveis: “She Said Yeah” e “Around and Around” se saem melhor com o quinteto londrino de Jagger e Richards, mas “Memphis Tennessee” ficou melhor com a turma de Newcastle capitaneada por Burdon e Price, especialmente porque a voz de Eric se casou melhor com a música do que ade Mick Jagger. Os destaques, para mim, ficam com “Dimples” e “The Girl Can’t Help It” (ambas com direito a belos solos do eternamente subestimado Valentine), “I’m Mad Again” (Burdon na sua melhor forma), o órgão de igreja de Price em “The Right Time”, perfeita para a voz de Burdon, e “Boom Boom” – o velho John Lee deve ter curtido essa versão. “The Animals” não traz a música que tornou a banda um sucesso, mas é mais próximo do que eles faziam no palco do que “The House of the Rising Sun”.

Anderson: Assim como era praxe na época, muitas alusões ao blues e ao folk derivados dos EUA, bem como, versões e homenagens. Nesse álbum o The Animals apresenta alguns dos elementos que o caracterizam como banda, como: o contrabaixo e os teclados. Agora, não é possível pensar em The Animals e não ouvir a poderosa voz de Eric Burdon! A abertura do disco é Story Of Bo Diddley e apresenta uma narrativa que contextualiza todo esse cenário de reinvenção e expansão do rock britânico a partir da breve história de Bo Diddley. Logo na sequência um dos destaques do disco, a poderosa Bury my Body que apresenta um som pesado com Eric Burdon destruindo! Dentre algumas coisas mais calmas ou românticas, destaco, o bom blues I’m Mad Again muito intensa que apresenta uma crescente bem interessante. Por fim, a agitada e animada She Said Yeah. Dentre todas essas bandas do período o The Animals é uma que não pode faltar. Uma bela pedida.

André: Tirando a primeira faixa, mais covers. Porém, diferente dos Kinks, os Animais aqui fazem versões muito boas ou até mesmo melhores que as originais dando praticamente uma geral naquilo que seria o início do rock 'n' roll da década anterior. Acho "Bury my Body" e "I'm Mad Again" belíssimos hinos de uma época em que ninguém sequer consegue copiar mesmo com toda a tecnologia de hoje.

Daniel: Fazia muito tempo que eu não ouvia este disco, mas me recordo de que, quando o fiz, não havia me marcado muito. Talvez o fato de que o ouvi logo após a audição do álbum dos Kinks tenha prejudicado minha experiência, mas a realidade é que não me comoveu (novamente). Ah, eu curto a ótima versão para “I'm in Love Again”.

Davi: O álbum de estreia do The Animals, assim como os primeiros álbuns do The Rolling Stones, era focado em releituras do blues. A única exceção aqui é a faixa “The Story of Bo Diddley”, onde os músicos tentaram reproduzir, inclusive, a batida que o cultuado guitarrista utilizava em suas canções. Essa música acho meio sem sal, mas o disco é excelente e tem várias versões que são memoráveis. “She Said Yeah”, “Dimples” e “Bury My Body” se destacam ao lado da inconfundível voz de Eric Burdon. Muitos críticos o consideram uma das grandes vozes do rock e diziam que ele fazia parte do time de "cantores brancos que tinham voz de cantores negros", assim como acontecia com Joe Cocker. Concordo com ambas as afirmações.

Líbia: Um álbum de R&B/Rock muito sólido. A cada faixa, descobrimos novas camadas, destacando a maestria dos membros em capturar a essência desse gênero musical. Faixas como 'Boom Boom' e 'She Said Yeah' foram posteriormente regravadas por muitas outras bandas, mas suas versões sempre se destacam como uma das melhores. O mesmo pode ser dito de 'The House of the Rising Sun', que está na versão americana deste álbum. As músicas de blues se destacam. Em 'I'm Mad Again', Burdon mostra do que é capaz vocalmente.

Mairon: Os Animals durante muito tempo frequentaram audições regulares em meu Media Player. Baseada no blues e R & B americano, a estreia britânica é muito boa, e inova começando com uma faixa de 6 minutos homenageando Bo Diddley na genial "Story of Bo Diddley", contando a história de um dos nomes mais importantes do blues, um dos pais do rock, sobre uma de suas bases mais conhecidas. Letra fantástica! As revisões fogem um pouco dos cantores tradicionais, indo de Fats Domino ("I've Been Around" e "I'm In Love Again") até John Lee Hooker ("Boom Boom", "Dimples" e "I'm Mad Again") e Chuck Berry ("Around and Around" e "Memphis Tenesse"), ou seja, os caras estavam ligados na cena americana dos anos 40 e 50, levando esses artistas para uma nova geração de jovens britânicos com um ar que segue as linhas originais, onde a voz de Eric Burdon se destaca. Porém, o grande diferencial dos caras, além da genialidade de Burdon, era o órgão de Alan Price. Aquele som que nos acostumamos a ouvir no The Doors de 1967 já estava em voga com ele em 64, se sobressaindo em "Boom Boom", "Bury My Body" e "The Right Ime". Na citada "I'm Mad Again", certeza que antes da voz de Burdon entrar você irá pensar "Olha o Doors fazendo mais um blues aí". Pois é meus caros, a origem vem da velha ilha, e que baita solo de órgão!  Um disco de 40 minutos, que para 64 era uma eternidade, onde não há o que tirar nem por. Espetacular!


The Pretty Things - Get the Picture [1965]

Por Líbia Brígido

Um dos grupos muitas vezes esquecidos das primeiras bandas da Invasão Britânica é o The Pretty Things. A ideia principal por trás do álbum era fazer um filme que mostrasse a banda um pouco como os Beatles haviam feito, a fim de oferecer uma boa promoção para a banda. Infelizmente, devido provavelmente à falta de tempo e financiamento, o filme só foi lançado em 1966 e não atendeu às expectativas comerciais. O som não é tão claro, mas isso não é um grande problema para mim. A faixa de abertura "You Don't Believe Me" é uma das minhas favoritas, uma música que não ficaria fora de lugar em discos de meados dos anos 60 dos Beatles ou Stones. As melhores músicas estão no final das faixas bônus. "Come See Me" e "L.S.D." são excelentes.

Anderson: Essa banda eu particularmente não conhecia, assim como muitas outras possíveis pérolas da chamada Invasão Britânica. Trata-se de um rock ‘n’ roll bem clássico que se mantém presente por toda a sonoridade do álbum. Por exemplo, o simples, mas, bem interessante solo de Get the Picture, bem como as distorções e melodias presentes em outras músicas como You'll Never Do It Babe ou Can't Stand the Pain, essa que, por sua vez, soa mais introspectiva do que as demais. Poderia ser uma música do Animals ou mesmo quem sabe estar em um álbum do Blue Oÿster Cult. É um disco interessante, com um rock and roll mais consolidado que outros dessa geração, mesmo dentre os que ouvimos nessa lista, mas não é o que mais me agradou. Muitas músicas simplistas demais, fracas, muitas baladas e um vocalista (Phil May) um tanto sem sal. Porém, fica a oportunidade de conhecer e quem sabe ir mais a fundo em tal banda.

André: Sou mais chegado à sua fase mais psicodélica de uns anos depois, mas nesse período ainda garageiro eles ofereciam ótimas composições que não deviam em nada à sua melhor fase. "You Don't Believe Me" que abre o disco e "Gonna Find Me a Substitute" que fecha o lado B são grandes rocks da época e a banda cresceria ainda muito mais nos álbuns seguintes.

Daniel: Este eu nunca havia ouvido. Parabéns a quem o indicou, curti muito. Os solos de Dick Taylor são bem legais e a sonoridade que funde o Blues e o Rock, de maneira até meio “inocente” (na falta de um termo melhor) são cativantes. “We'll Play House” é uma música muito legal!

Davi: Esse álbum foi minha porta de entrada no universo do Pretty Things. Lembro que peguei o CD para ouvir por conta de “You Don´t Believe Me”, música que haviam composto em parceria com o grande Jimmy Page (sim, o próprio). Essa banda sempre foi muito comparada aos Stones e a comparação faz sentido. Eles percorriam o mesmo território explorando uma sonoridade que era, basicamente, um blues mais eletrizado, digamos assim. As linhas vocais de Philip May, por vezes, remetem ao Mick Jagger. Um grande exemplo seria a regravação do blues de Jimmy Witherspoon, “I Had a Dream”. Um grande diferencial é que eles arriscavam mais com composições próprias e, dentre essas, a minha favorita atualmente é “Cry to Me”. Bom disco.

Mairon: Segundo álbum do grupo, mantém a linha de canções simples que o rock vindo da ilha tinha. A diferença do Pretty Things para outros grupos da British Invasion se dá no vocal dramático de Phil May, vide faixas como a faixa-título, os gritos de "I Want Your Love" e "You'll Never Do It, Baby" ou "You don't Believe In Me", o que dificilmente encontraremos em Beatles ou Stones por exemplo. A harmonia bluesy, também bastante presente nas demais bandas, aqui surge de uma forma um tanto quanto experimental, como atestam "Cry To Me" e "Can't Stand the Pain", além da versão empolgante de "I Had a Dream". E claro, baladinhas para alegrar as meninas também levantam o braço marcando presença, através de "Rainin' In My Heart". Gosto da forma como a guitarra é usada em "Buzz The Jerk" e "We'll Play House", com boas distorções, e do uso do violão na agitada "London Town" . Tudo simples, sem muita técnica ou virtuose, mas redondinho. Melhor faixa ao meu ver é a versão de " "Gonna Find Me a Substitute", original de Ike Turner, e que resume muito bem essa fase inicial dos caras, com todas as características que citei acima. Único ponto negativo é que em 30 minutinhos a coisa acaba, deixando um gostinho de "faltou mais" para saborearmos um belo disco, mas que é um aperitivo entre tantas guloseimas aqui recomendadas. O tempo iria mudar (e muito) a carreira da banda, e S. F. Sorrow, de 1967, fez grande diferença aqui.

Marcello: Banda formada por Dick Taylor após deixar os Rolling Stones, e pelo vocalista Phil May, cujo nome saiu de uma música de Bo Diddley, não da (inexistente) beleza dos meninos. O grupo se completava com o guitarrista Brian Pendleton, John Stax no baixo e um monte de bateristas envolvidos na gravação (Viv Prince, Bobby Graham e Twink Alder). “You Don’t Believe Me” foi coescrita por Jimmy Page, que a produziu (e nos anos 70 assinou a banda com a Swan Song Records). “Buzz the Jerk” e “Get the Picture” são ótimos rocks de garagem, com guitarras na medida e bateria pesada, somados ao vocal canalha de Phil May. A bluesy “Rainin’ in my Heart” soa muito como Stones tocando blues no começo de carreira e, embora seja altamente genérica, é uma música bem gostosa de ouvir por causa do charme tosco dos Pretty Things. “You’ll Never Do it Baby” traz um bom trabalho de guitarras, indicando que Dick Taylor era melhor do que poderia pensar à primeira vista. Mas “I Had a Dream” é muito parecida com “The Night Time (Is the Right Time”) de Ray Charles, e soa meio deslocada – até porque na sequência “I Want Your Love” é bem interessante (e o solo lembra um pouco o de “The Last Time”, dos Stones – mas não sei quem copiou quem nessa história! Falando em Stones, “Cry to Me”, de Solomon Burke, foi regravada também por eles, numa versão que eu acho bem melhor, com Keith Richards se destacando nas guitarras. Mas, verdade seja dita, essa também ficou bacana. O disco se encerra com “Gonna Find me a Substitute”, outro rock bem interessante, com May e Taylor se destacando. Fazia bastante tempo que não ouvia The Pretty Things dos anos 60 (tenho apenas o “Silk Torpedo” em minha coleção). Este álbum me motivou a buscar mais coisas deles dessa época.


The Yardbirds - Having a Rave Up With The Yardbirds [1965]

Por Mairon Machado

Se é para falar de discos para conquistar o mercado americano, nada mais apropriado que Having a Rave Up With The Yardbirds. Voltado única e exclusivamente para os US, este álbum apresenta o talento de Jeff Beck ao mundo. E o cara chega mandando ver com sua guitarra carregada de efeitos e muito mais técnica que Eric Clapton. Além disso, Os Yardbirds eram diferentes de todas as demais bandas não só por revelar Eric Clapton, Jeff Beck e Jimmy Page, mas também por ter em suas composições muito mais do que inspirações bluesísticas, que até surgem na revisão de "I'm a Man", com Keith Relf mandando ver na harmônica, mas com Beck se sobressaindo no solo carregado de efeitos, ou na pancada "Train Kept A-Rollin". E é aqui o toque que faz a diferença no som dos Yardbirds. Os caras exalavam rebeldia e talento para compôr, colocando no bolso os demais fazendo músicas atemporais com muita inventividade e improvisos que ninguém tinha coragem de fazer nesta época, o que para mim a torna simplesmente a maior banda da British Invasion. Essas composições diferenciadas são observadas na beleza psicodélica de "You A Better Man Than I". Colocar Sitar na introdução e no riff de "Heart Full of Soul" não basta para lhe provar isso, então choque-se com os cantos gregorianos de "Still I'm Sad". Não tem como não soltar um "puta que pariu" quando se ouve a primeira, a segunda, a milésima vez de "Still I'm Sad". Quem fez algo tão triste no rock antes de 1965? Que música encantadora! E como é bom ouvir o solo de "Evil Hearted You", e as vocalizações sutis por trás da voz chorosa de Relf. O lado B é um compilado de quatro faixas da estreia Five Live Yarbirds ("Smokestack Lightning", "Respectable", "I'm A Man" e "Here 'Tis") que ainda não haviam saído nos EUA, agora com Clapton na guitarra, e bem mais blues do que o ardente lado A, mas não menos incrível. Discaço!

Anderson: Bom, escola básica do Rock and Roll: Yardbirds. Você precisa conhecer e ponto. Esse álbum em específico conta com Jeff Beck substituindo Eric Clapton, ou seja, trata-se de algo grande. Dentre as músicas da banda, uma vez que os covers eram muito comuns nas gravações da época, logo na primeira faixa uma pedrada daquelas: Mr. You're a Better Man Than I traz um rock and blues muito poderoso que dita a regra do que viria na sequência. Heart Full of Soul é outro som maravilhoso, com algumas experimentações e ritmo marcante com uma pegada um tanto folk, sensacional. Na animada The Train Kept A-Rollin mais um clássico Rock ‘N’ Roll traz uma capacidade de envolver o ouvinte que irá perceber o que aconteceu quando a música acabar, muito bom! Poderia comentar sobre os ótimos blues, solos, gaitas, melodias... mas deixo a surpresa para quem for conferir! Vale a pena!

André: Aqui não tem erro tendo dois grandiosos guitarristas como Jeff Beck e Eric Clapton cada um em um lado do disco (Beck em estúdio, Clapton no ao vivo). Todo guitarrista deveria pegar esse disco e ouvir umas 10 vezes seguidas para ver se inculca em sua mente um pouco da verdadeira arte de se tocar guitarra. Não dá de destacar uma faixa aqui, o disco todo é excelente.

Daniel: Yardbirds é, de longe, minha banda preferida nesta lista. Sempre admirei a capacidade do grupo em pegar canções de terceiros e as transformar em uma espécie de nova música, imprimindo a personalidade do conjunto em suas versões. Também, uma banda que tinha Jeff Beck, Eric Clapton e Jimmy Page não foi qualquer uma.

Davi: Em seu segundo registro, os músicos passavam por um período de transição. Saía o fenomenal Eric Clapton, para a chegada do igualmente fenomenal Jeff Beck. E isso está contado no disco. Como assim? O lado A traz 6 registros, em estúdio, ao lado de Beck. Já o lado B são 4 músicas ao vivo com a guitarra de Clapton. A mudança de estilos também é sentida. O lado A traz uma pegada mais rock psicodélico tendo como destaques as inesquecíveis “You´re a Better Man Than I”, “Heart Full of Soul” e “I´m a Man”. O lado B, por outro lado, tem uma pegada mais blues, mais R&B, tendo como destaque “Smokestack Lightning”. Quando for ouvir, além das guitarras, reparem no trabalho vocal e no trabalho de harmônica de Keith Relf. Muito se fala, compreensivelmente, dos guitarristas que passaram pelo grupo, mas ele também era um diferencial na banda.

Líbia: É incrível como esse grupo jovem soava sofisticado e como eles eram originais. Em 1965, a maioria dos grupos não podia deixar de ser influenciada pelos Beatles, mas os Yardbirds tinham uma abordagem única. Uma das minhas favoritas desse registro é a "Evil Hearted You" que segue com uma melodia memorável e um maravilhoso trabalho de guitarra de Beck. Outra surpreendente é a “Still I’m Sad” que combina backing vocals no estilo canto gregoriano, um arranjo musical parecido com Ennio Morricone e uma ótima performance vocal principal.

Marcello: Um LP americano, pois na época a banda não tinha cacife para bancar um 12 polegadas (alguém aí chegou a ver essa denominação?) na Inglaterra – até porque o único LP britânico até então, “Five Live Yardbirds”, tinha fracassado comercialmente. Formado por músicas antigas, gravadas com Eric Clapton, e novidades com Jeff Beck, “Having a Rave Up...” é um daqueles discos para você fechar os olhos e viajar no som. O lado A é praticamente irrepreensível, sendo difícil destacar alguma música: “Evil Hearted You” traz guitarras extremamente pesadas para sua época, “Still I’m Sad” traz o canto gregoriano como influência (com direito a Giorgio Gomelski, produtor e empresário da banda, no basso profundo), a bela “You’re a Better Man Than I” (de Mike Hugg, do Manfred Mann – uma banda que pensei que ia aparecer nessa lista), que nunca entendi como é que foi parar no lado B do compacto “Shapes of Things”, e a versão com Beck reproduzindo a cítara na sua Telecaster de “Heart Full of Soul” (a melhor, para mim – a versão com a cítara não ficou tão boa), o balanço de “Train Kept A’Rollin’”... Ou seja, à parte a questionável inclusão da versão de estúdio de “I’m a Man” (que, aliás, é gravada com Clapton na guitarra-solo), só há clássicos dos Yardbirds no lado A. No lado B, quatro músicas extraídas de “Five Live...”, que não foi lançado nos EUA naquela época: “I’m a Man” reaparece na sua versão (muito superior) ao vivo, “Respectable” do Isley Brothers (com a banda engatando a quinta marcha), “Here ‘Tis”, de Bo Diddley (como as bandas inglesas gostavam dele no começo dos anos 60!), e mr. Eric “Slowhand” Clapton no seu habitat natural em “Smokestack Lightning”. Ao vivo, a banda se mostra segura, ainda que a voz de Keith Relf não seja a melhor para o repertório apresentado; é curioso ver que a maioria das músicas do lado B não mostre o talento de Clapton - será que é porque tinha saído da banda? No mais, os bons Jim McCarthy na bateria, Paul Samwell-Smith no baixo e o subestimado Chris Dreja na guitarra rítmica (também, quem vai prestar atenção nele numa banda que teve Clapton, Beck e depois Jimmy Page?) seguram bem a peteca. Mas o lado A deste LP é melhor e é preferível ouvir “Five Live Yardbirds” na íntegra para ver o que os Most Blueswailing eram capazes de fazer.


The Dave Clark Five - Have a Wild Weekend [1965]

Por Fernando Bueno

*Infelizmente, Fernando Bueno não conseguiu nos mandar os comentários a tempo desta publicação. (André)

Anderson: A autointitulada faixa título já inicia os trabalhos com uma baita energia! Rock ‘N’ Roll, mas com aquela pegada de rockabilly, aquela animação na melodia. Diria que nesse mesmo sentido se enquadram I Can’t Stand It, On the Move e mesmo Doo Dah. Porém é a segunda música do álbum, Catch Us If You Can, que posiciona o álbum como algo grandioso. O que os caras conseguiram com a melodia dessa música é memorável. O álbum em si foi composto no intuito de ser trilha sonora do filme de mesmo título e isso por um lado pode ter limitado a criatividade da banda ou mesmo ter aberto possibilidades, fato é que o disco é totalmente alinhado a dinâmica cinematográfica. Entretanto, ao comparar esse material com o Kinks, o Yardbirds ou o Animals a seta do Dave Clark Five aponta para trás e não para frente, não se ouvem inovações do que viria a ser incorporado lá no Hard Rock ou lá no universo psicodélico, ao menos não enxergo assim, remetem mais ao passado consolidado do estilo que se delineava. Todavia, não se engane, é um ótimo álbum, muito bom mesmo, top 20 da Billboard, mas datado.

André: Dentre todos, o disco que eu esperava menos mas que me surpreendeu positivamente. Uns rocks blueseiros misturados ao surf que me animaram muito aqui no que a audição foi passando. Depois fui ver que esse disco é uma trilha sonora de um filme. Fiquei até com vontade de assistir o dito cujo filme só para ter uma desculpa de ouvi-los de novo.

Daniel: Conhecia apenas de nome e nunca havia parado para ouvir um álbum inteiro. Não é que foi uma audição ruim, mas não me causou maiores emoções. Não é algo que eu vá procurar novamente.

Davi: Muito bacana essa lembrança. Eu, provavelmente, teria escolhido o álbum Glad All Over, mas não há como negar que esse disco é bem divertido de ouvir. Misturando canções cantadas com (poucas) instrumentais, Having a Wild Weekend é a trilha de um filme de mesmo nome. As músicas continuam com a pegada que tornou o grupo famoso e traz, ao menos um grande hit: “Catch Us If You Can”. Outros grandes destaques ficam com os rockões “New Kind of Love” e a faixa título, que conta com uma irresistível pegada anos 50, além das baladas “I Said Was Sorry” e “Don´t Be Taken In”. Essa última conta com uma vocalização bem beatle, banda que, na época, eles disputavam. E, certamente, deram muita dor de cabeça, afinal os hits não foram poucos.

Líbia: Eu não conhecia esse álbum, mas ao pesquisar sobre ele, vi que se trata da trilha sonora de um longa-metragem que também aborda questões sociais. Alguém aqui já assistiu ao filme? Quanto às músicas, considero esta trilha sonora ideal para diversos momentos do dia. A primeira que me chamou a atenção foi “Don’t Be Taken In”; sua melodia é envolvente e cativante. Destaque para a instrumental “When I’m Alone”. Tem uma variedade de músicas animadas e baladas melódicas, o lançamento oferece uma experiência auditiva diversificada.

Mairon: Fabuloso quinteto de rock 'n' roll direto na linha Little Richard e Elvis, ou seja, inspiradaço nos gigantes americanos dos anos 50. A faixa título já abre o disco arregaçando. Então, desfilamos por ótimas faixas dançantes com destaque para a presença marcante do saxofone. Ou baladinhas bonitas como "Don't Be Taken In",  "I Said I Was Sorry", "New Kind of Love", onde o piano é o centro das atenções junto de um belo arranjo vocal. Curto bastante as instrumentais "Dum-Dee-Dee-Dum", que parece saída de um filme de faroeste, e principalmente "No Stopping", com o sax mandando ver, belo solo de órgão, e que nos remete a filmes do 007 na linha da guitarra. Além disso, é surpreendente o arranjo de cordas e a leveza da gaita e vocais em "When I'm Alone", com certeza a faixa mais impressionante do álbum, junto de outra instrumental, a suave "Sweet Memories", também com cordas, mas aqui levada por um belo tema de guitarra e harmônica. Acho que o disco soa bem destoado de tempo para 1965, mas que é um baita disco, a isso é.

Marcello: Dave Clark era um baterista mediano, mas tinha um ótimo ouvido para um som pop e seu quinteto era formado por músicos de alto calibre. Este álbum é o sexto da discografia americana da banda e é trilha sonora de um filme de mesmo nome, de John Boorman. O quinteto era formado por Clark na bateria, Mike Smith nos teclados e vocal principal, Lenny Davidson na guitarra, Rick Huxley no baixo e Denis Payton no sax; os backing vocals são divididos pela banda, e quase todos (Huxley é a exceção) compuseram para o disco, produzido pelo nosso herói Dave Clark. O álbum alterna músicas com jeitão de lançamento de compacto com instrumentais próprias para uma trilha sonora – mas algumas são bons rocks, e outras baladinhas para cenas românticas. Após o começo com a roqueira e animada faixa-título, a beatlemaníaca “New Kind of Love” tem aquele sabor do pop sessentista, enquanto que “Dum-Dee-Dee-Dum” é uma quase instrumental, pontuada pelos gritos dos músicos, que soa como country dos anos 50. “I Said I Was Sorry” não teria feito feio no LP “With The Beatles”, por exemplo, e aí reside um probleminha do DC5: enquanto a banda de Liverpool na mesma época lançava “Yesterday”, “Ticket to Ride” e “You’ve Got to Hide Your Love Away”, eles emulavam o som da Beatlemania. Por outro lado, outra instrumental, “No Stopping”, é bem avançada para a época e ficaria interessante na trilha sonora de um filme do 007. Gosto muito de “Don’t Be Taken In” e “Catch Us If You Can”, ótimos exemplos do talento do grupo para compor e gravar músicas que grudavam no ouvido, mas a bela melodia de “When I’m Alone” foi prejudicada pelo arranjo cafona (como teria sido dito em 65...). Dave Clark Five fez um sucesso enorme nos anos 60, mas hoje é quase esquecido. É uma pena, pois o rock’n’roll da banda pode soar inocente, mas era muito bem feito e tinha arranjos bem criativos, com teclados e saxofone proeminentes.


The Tremeloes - The Tremeloes: Chip, Dave, Alan, Rick [1967]

Por André Kaminski

Sendo curto e direto: peguei este disco desta banda porque os considero extremamente underrated. Nunca entendi o porquê de não serem tão conhecidos quanto os seus contemporâneos. Talvez porque os caras são um pouco mais velhos do que "os jovens revolucionários britânicos"? Sei lá. Só peço que ouça.

Anderson: O nome do álbum já indica algo importante, mudanças! A banda deixa de ser uma ‘banda de apoio’ para assumir o protagonismo de suas ações como grupo musical. A sonoridade é bem clássica do período tendendo para um pop rock um pouco mais elaborado, forçando a barra é possível encontrar alguns elementos de psicodelia ou algo progressivo. Particularmente os Tremeloes não me atraem muito, são talentosos, apresentam algumas experimentações por vezes, como em Happy Song ou em Sing Sorta Swingle, mas não são músicas que me cativam. Com certeza é uma banda historicamente importante para o cenário da época, há pessoas que afirmam que a banda e este álbum são subestimados, mas não é uma opinião que compartilho, realmente não me impressionam muito. Vale a pena conferir, mas sem grandes expectativas.

Daniel: Dos que eu não conhecia, achei este o melhor álbum. Minha impressão é de que há mais misturas de sonoridades diferentes ao Pop, com algumas canções com toques psicodélicos. Belas harmonias vocais, algumas músicas com a guitarra mais presente. Vou ouvir novamente.

Davi: A primeira vez que ouvi algo dos Tremeloes foi através de uma coletânea do Brian Poole & The Tremeloes. Lembro que estava curioso para ouvir a versão deles para “Twist and Shout”, que conhecia pelos Beatles e considerava a versão do fab four insuperável (sendo honesto, ainda considero). Depois, ouvi a versão deles para “The Silence Is Golden” (hit do grupo 4 Seasons) e aí, sim fiquei impressionado. A versão era perfeita e as vocalizações encantadoras. Pois bem, esse é o álbum que contém o megahit. O disco é variado e traz bastante influência da cena psicodélica (o que pode ser notado já na faixa de abertura, a contagiante “Happy Song”). Os caras eram feras e o disco entrega outros momentos memoráveis como “I´m With You All The Way” e “Running Out”. Agora... A versão deles para “Too Many Fih In The Sea” é bem abaixo da versão das Marvelettes, hein?

Líbia: Esse foi o único que infelizmente não tive como ouvir, não encontrei por aqui. Nesse eu “tonguei” totalmente. Até encontrei no Youtube mas não tem a divisão das faixas. Como não conheço achei melhor “deixar quieto” no momento e ouvir com mais calma depois.

Mairon: Das bandas aqui recomendadas, os Tremeloes são os únicos que não conheço mais a fundo. Acho que este é o primeiro disco da banda que ouço na íntegra, e gostei do que ouvi, principalmente por encontrar diversas referências ao longo da audição. As variações de "Happy Song", com o piano elétrico em evidência e boas harmonias vocais, já me conquistaram de cara. O mesmo ocorreu com a introdução e a melodia da lindinha "Norman Stanley James St. Clare", influência clara para os álbuns iniciais da Aphrodite's Child de Vangelis e Demis Roussos. Até o estilo vocal me lembrou o que Roussos fez depois. Ao mesmo tempo, foi legal ver o gingado de "Cool Jerk", "Running Out" e "Too Many Fish In The Sea" (bota distorção na guitarra aí!), que me lembrou o que a Mark I do Deep purple faria anos depois. No geral, o que mais me chamou a atenção foram os arranjos vocais, se destacando em "Come On Home", "I'm With You All The Way", "Negotiations In Soho Square" e "Sunshine Games", e a psicodelia de faixas como a doida "Sing Sorta Swingle" ou "Suddenly Winter", algo quejá surgia com força na Londres de 67. E quando ouvi "Silence Is Golden" meu coração bateu mais forte, já que me remeteu a infância ouvindo horas a fio Jive Bunny & The Master Mixers!! Bem bom de conhecer este trabalho.

Marcello: De todos os álbuns escolhidos, este era o único que nunca tinha ouvido antes. Conhecia a banda de nome e nunca tinha ido atrás, por conta da sua primeira fase como Brian Poole & The Tremeloes – a banda que a Decca preferiu contratar em vez dos Beatles. A banda é formada aqui por Chip Hawkes (baixo e vocais), Dave Munden (bateria, vocais), Alan Blakley (guitarra, teclados, vocais) e Rick Westwood (guitarra e vocais). O álbum começa com “Happy Song”, digna desse nome, bem flower power, bem 1967. “Running Out” já me soa bem mais interessante, com mais energia e um trabalho mais interessante de guitarras. “Negotiation in Soho Square” está mais próxima da primeira música, mas não me agradou muito. “Suddenly Winter” e “Sunshine Games” são boas, mas com guitarras muito magrinhas, que precisavam de um pouco mais de peso. “Silence is Golden”, um dos destaques do LP, é muito bonita em sua harmonia vocal; é uma cover da banda americana The Four Seasons, e como não conhecia a versão original (nunca dei muita importância para a banda do Frankie Valli), fui atrás dela – e gostei mais da cover do Tremeloes. “Norman Stanley James St. Clare” soou um pouco como Procol Harum do primeiro LP, só faltou o Hammond. “Cool Jerk” é um clássico, e ficou legalzinho, mas a versão original do The Capitols, neste caso, é melhor. “I’m With You All the Way” não chamou a atenção e “Sing Sorta Swingle” até é boa, mas tem uma fuga vocal no meio, entremeada por risadas, que estragou tudo... Bom que “Too Many Fish in the Sea” é bem boa, com um órgão muito legal. O álbum conclui com “Come on Home”, uma baladinha interessante. No geral, este álbum batizado com o nome dos quatro músicos foi uma surpresa agradável, mas não vai me fazer sair correndo atrás do resto da discografia da banda. Agradeço a quem o recomendou por me chamar a atenção para ele!


The Zombies - Odessey and Oracle [1968]

Por Daniel Benedetti

Escolhi Odessey and Oracle, pois foi um dos álbuns mais ousados da década de 1960, misturando melodias alucinantes e sons exuberantes do Mellotron comandado por Rod Argent. A forma como as harmonias vocais são construídas são outro ponto alto. Também destaco a seção rítmica formada por Chris White e Hugh Grundy, os quais fornecem um certo peso às canções. Músicas como "Care of Cell 44", "Changes", "Butcher's Tale (Western Front 1914)" e "Time of the Season" falam por si mesmas. Apesar de sua qualidade, a falta de sucesso e demanda por shows fez deste o “último” disco do Zombies até reuniões futuras.

Anderson: Não poderia faltar algo voltado para o psicodélico. Deste modo a lacuna está preenchida com louvor. Esse material é resultado dos últimos suspiros da banda que gravou apenas dois álbuns antes de retornar nos anos 1990. Tecnicamente colocaria esse álbum em outro patamar nessa lista junto com o do Yardbirds. As harmonias são fantásticas, algo de jazz aqui e ali, psicodelia de ponta a ponta, algo de Rock ‘N’ Roll, porém já alçando os anos 1970. Algumas das músicas são clássicas como Hung Up on a Dream, Time of the Season e Butcher's Tale (Your Final Piece). Vou optar por não entrar em detalhes, acredito que os companheiros da resenha vão se desdobrar na obra! Recomendadíssimo.

André: Inacreditável pensar que a banda tinha acabado pela falta de sucesso e renda antes mesmo de lançarem este petardo. E não dá de aceitar que, novamente, o disco vendeu uma mixaria. O que estavam pensando a hippaiada da época? Aqui tem tudo o que eles gostam. O mundo é um lugar injusto. E os zumbis foram vítimas disso.

Davi: É curioso notar que várias revistas colocam esse álbum como um dos melhores de todos os tempos. Digo curioso porque, na época, muitos torceram o nariz para o disco. Inclusive, seu lançamento foi recusado, inicialmente, nos Estados Unidos onde só chegou às lojas 2 anos depois, quando o grupo não mais existia. Aquela velha história... A banda não deixou os chefões contentes com os números atingidos e isso levou à separação. O disco, de fato, é maravilhoso e mistura psicodelia e harmonia na dose certa. Um exemplo do que estou falando é a belíssima “Brief Candles”. Outra que eu gosto muito é a faixa de abertura “Care of Cell 44”. Como se não bastasse, ainda temos o o classicão “Time of the Season", uma gravação que considero simplesmente perfeita. Bela lembrança!

Líbia: Este é um álbum que, numa loja de discos, conquistaria pela capa, especialmente se você fosse um fã do visual psicodélico. Ele possui uma grandiosidade nas composições; na minha opinião, é muito original, por isso surpreende. Das minhas favoritas, "Beechwood Park" tem uma vibe psicodélica, mas também é muito emocional. "Brief Candles" tem harmonias semelhantes às dos Beatles? Provavelmente possui muita influência, mas tem uma essência única. "Hung Up On A Dream" é muito emocionante. Enfim, adorei este álbum; foi o que mais gostei de ouvir desta lista, álbum nota 10. Fiquei até triste com a história da banda em relação a indústria musical.  Deixo aqui o meu "Muito Obrigada" pela recomendação.

Mairon: Podem me chamar de maluco, mas considero este álbum uma cópia paraguaia de Pet Sounds. Basta ouvir as vocalizações em “Care of Cell 44″ e “A Rose for Emily” que essa sensação aparece de cara. Acho que é um disco bem trabalhado, principalmente na parte vocal e no piano de Rod Argent, e é óbvio que o mellotron dá uma cara diferente. As alternâncias entre acústico e elétrico de "Maybe After He's Gone", com ótimas vocalizações, são um dos pontos altos do álbum, assim como as "flautas" e todo o arranjo de "Changes", bem como manda o estilo psicodelia londrina de 68. Não é um disco ruim, mas não entendo todo o auê que fazem com ele, e também penso que a British Invasion aqui, em especial, já havia acabado. Fechando o comentário, ressalto que a clássica “Time of the Season” é certamente a melhor faixa do disco, e ela por si só já vale o LP, principalmente pelo solo de piano elétrico, o melhor momento da carreira do Zombies.

Marcello: Uma obra-prima tardia de uma banda que estava se desfazendo. Rod Argent e Chris White criaram um repertório de belas canções para marcar o fim dos Zombies, cansados de muito batalhar e pouco obter em troca. Gravado entre junho e setembro de 1967 e lançado em abril de 1968, “Odessey and Oracle” inclui doze composições originais, das quais cinco foram escritas pelo tecladista Rod Argent e sete pelo baixista Chris White; as gravações foram complicadas e, para todos os efeitos, a banda estava nas últimas. O quinteto se completa com Hugh Grundy na bateria, Paul Atkinson na guitarra e Colin Blunstone nos vocais. Do início com “Care of Cell 44” ao encerramento com “Time of the Season”, “Odessey...” oferece apenas pérolas do pop psicodélico do final dos anos 60. Além dessas músicas, gosto muito de “A Rose for Emily”, “Beechwood Park”, “Hung Up on a Dream”, “I Want Her, She Wants Me” e “Friends of Mine”, mas o disco todo se mantém em alto nível o tempo todo, o que o faz ser um daqueles álbuns especiais que você ouve sem pular nenhuma faixa. Mas, quando foi lançado, “Odessey...” seguiu o caminho para o anonimato, sem chamar a atenção do público; em 1969, “Time of the Season” começou a tocar nas rádios americanas e virou um hit, o que fez com que houvesse uma demanda por shows e turnês – mas os Zombies já tinham acabado após um último concerto em dezembro de 67 (o que levou ao surgimento de vários “fake Zombies” pelos EUA!). Quando a banda se reuniu nos anos 90, “Odessey...” foi finalmente executado ao vivo por quem era de direito, e de lá em diante várias turnês capitaneadas por Blunstone e Argent levaram o álbum adiante. Este é daqueles discos que não podem faltar na coleção de quem gosta de rock, ponto final.

sábado, 10 de agosto de 2013

Melhores de Todos os Tempos: 1968

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Por Diogo Bizotto
Com Adriano KCarão, Bruno Marise, Fernando Bueno, Luiz Carlos Freitas*, Mairon Machado, Micael Machado e Ronaldo Rodrigues
A escolha dos dez melhores álbuns de 1968 revelou-se a mais disputada desde que começamos a publicar esta seção na Consultoria do Rock. Ao todo, 46 discos foram citados por oito pessoas, dificultando a formação do Top 10 final e ajudando a fazer com que o mesmo grupo que se sagrou vencedor em 1967 também fosse responsável pelo melhor registro de 1968: The Jimi Hendrix Experience. Na verdade, isso não é exatamente uma surpresa, pois, se há um artista que é praticamente uma unanimidade entre as pessoas que levam o rock junto a si, esse artista é Jimi Hendrix. Beatles, Bob Dylan, Rolling Stones e outros suscitam muitas reações de amor, mas também uma grande quantidade de ódio e indiferença. Raro é observar essa dicotomia em se tratando daquele que é tido como o mais importante guitarrista de todos os tempos. Dito isso, como sempre, lembramos que o critério para elaborar nossa listagem final, baseada nas listas individuais de cada colaborador, segue a pontuação do Campeonato Mundial de Fórmula 1. Agora é com você, leitor: deixe sua opinião e registre suas preferências. Aproveite também e confira aqui nossas edições anteriores desta seção.

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The Jimi Hendrix Experience – Electric Ladyland (81 pontos)
Adriano: Não esperava que este álbum fosse terminar em primeiro, mas, em um ano tão disputado, é até difícil avaliar quem mereceria tal posição. Posso dizer apenas que o disco é ótimo, contendo clássicos como “Burning of the Midnight Lamp” e “House Burning Down” e a melhor composição/atuação vocal de Noel Redding no Experience, “Little Miss Strange”. A guitarra de Hendrix é um espetáculo do começo ao fim, inclusive nessa composição de Redding. Destaco ainda a espacial “1983… (A Merman I Should Turn to Be)” e o início altamente grooveado de “Still Raining, Still Dreaming”. Melhor disco de Hendrix, pra mim.
Bruno: Com seus dois primeiros trabalhos, Hendrix definiu como se tocaria guitarra dali pra frente. Em seu último disco, resolveu expandir os limites de seu blues rock psicodélico, abusando de experimentações em estúdio. O resultado é uma viagem chapada total, um bom som para ouvir de madrugada. Electric Ladyland complementa bem a curta, mas essencial discografia do power trio.
Diogo: Que é um disco excelente, disso poucos duvidam, tanto que o incluí em minha lista particular. Não posso negar, porém, que também se trata de uma obra um tanto cansativa, tanto por sua extensão quanto pelas inúmeras experiências levadas a cabo pelo guitarrista, que consolidava sua capacidade como explorador dos recursos que seu equipamento e os estúdios podiam oferecer. Prefiro seus antecessores, mas não sou burro de ignorar diversas canções que transbordam qualidade, como a pesada e grooveada “Crosstown Traffic”, o blues lisérgico de “Voodoo Chile”, a interessantíssima experiência de “Burning of the Midnight Lamp”, recheada de sons excitantes, o clássico inegável “Voodoo Child (Slight Return)” e, é claro, aquele que é um dos melhores covers já executados na história, “All Along the Watchtower”. Discaço sim, mas não a ponto de merecer uma posição tão elevada.
Fernando: Gosto deste álbum, mas achei exagerada esta posição. Qualquer um dos três abaixo poderia muito bem ficar com o primeiro lugar. Entretanto, isso mostra o quanto Jimi é importante. Conseguir colocar dois discos na primeira posição em anos seguidos em um grupo tão exigente quanto o nosso é digno de nota.
Mairon: Em um ano tão recheado de opções para os melhores lançamentos, acho estranho mais uma vez ver o deus negro da guitarra na primeira posição. O disco das prostitutas nuas é interessante em alguns momentos, mas, por ser um álbum duplo, me soa cansativo. Entre os álbuns de Hendrix, é o mais fraco, sem dúvidas, e não o acho merecedor desta posição, apesar de versões definitivas para “Voodoo Child (Slight Return)” e “Crosstown Traffic”. Talvez, se fossem retiradas algumas canções, eu pensaria em colocar entre meu Top 30. Uma pena que este foi o último álbum de estúdio do negão. Imaginem o que ele poderia ter feito nos anos 70, o auge do hard rock?
Micael: Hendrix ampliou seu leque sonoro e gravou um registro impecável. O melhor cover da história (“All Along the Watchtower”), clássicos imortais como “Voodoo Child (Slight Return)” e “Crosstown Traffic”, blues lentão (“Voodoo Chile” ), viagens sonoras do porte de “1983… (A Merman I Should Turn to Be)” e “Rainy Day, Dream Away”, balada emocional (“Burning of the Midnight Lamp”) e até palhinha de Noel Redding nos vocais de “Little Miss Strange”. Primeiro lugar com justiça.
Ronaldo: Melhor trabalho do gênio Jimi Hendrix. Alguns dos melhores momentos da guitarra elétrica em toda a história do rock. Você pode conferir minhas considerações sobre este disco aqui.

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The Rolling Stones – Beggars Banquet (71 pontos)
Adriano: Clássico é pouco! Em 1968, este disco perde apenas pra The Kinks Are the Village Green Preservation Society, dos Kinks, o melhor álbum da década! Como esperar menos de um disco que inicia com “Sympathy for the Devil”, um clássico único em sua forma e totalmente atemporal? Os Stones deixam a psicodelia um pouco de lado – embora ela ainda possa ser sentida levemente em “No Expectations”, faixa a ser tocada em meu funeral –, mas não adotam um estilo homogêneo, e sim uma mistura de vários elementos combinados de diversas formas em cada faixa. O disco é todo bom, mas destaco “Dear Doctor”, de música e letra fantásticas, “Jigsaw Puzzle”, cujo solo de guitarra é a melhor representação musical de um coito, e “Street Fighting Man”, trilha sonora perfeita pro momento atual do País. Paro por aqui, porque descrição nenhuma é suficientemente boa para essas maravilhas!
Bruno: Após os experimentalismos de Aftermath (1966) e Between the Buttons(1967), os Stones resolveram jogar simples, com um disco quase inteiramente acústico, mas sem perder a pegada característica da banda. “Sympathy for the Devil” é o samba (que de samba não tem nada) na visão de Mick Jagger: uma batucada que mistura ritmos africanos e latinos com blues, e a guitarra de Keith Richards rasgando a canção no meio com um solo lisérgico de arrancar lágrimas.
Diogo: Demorou para que um disco dos Rolling Stones entrasse em uma de minhas listas pessoais, mas esse momento finalmente chegou. Seu antecessor, Their Satanic Majesties Request (1967), quase conseguiu, mas foi preciso que uma verdadeira coletânea em forma de álbum de estúdio desse o ar da graça para ocupar essa posição. A banda encontrou sua identidade e transparece autoconfiança absurda ao longo dos dez clássicos que compõem Beggars Banquet, fazendo dele, não à toa, o preferido de grande parte dos fãs. Apesar de Jagger e Richards já estarem ocupando o posto de principais compositores da banda havia um bom tempo, Brian Jones ainda demonstrava posição de destaque, como foi em Their Satanic…, mas neste disco a situação se reverteu completamente para o lado da dupla, exaltando o lado mais básico e sujo de sua musicalidade. Destaques? Muitos, quase tudo, mas aponto especialmente “No Expectations”, “Jig-Saw Puzzle”, “Street Fightning Man” e “Salt of the Earth”.
Fernando: Se “Sympathy for the Devil” é uma continuação do álbum anterior e uma faixa até um pouco incomum para abrir um álbum, o restante mira na direção dos próximos três e fazem parte da época de ouro dos ingleses. A contribuição de Brian Jones estava diminuindo e isso é de se fazer pensar, já que, claramente, este é um disco em que eles se firmaram como compositores.
Mairon: Como é bom ver uma lista da década de 60 com mais um álbum dos Stones (e, principalmente, sem o famigerado grupo de Liverpool entre os dez mais). Beggars Banquet, assim como seu antecessor, é forte candidato a melhor disco do grupo, mas com uma peculiaridade interessante: grande parte dele é acústico. Tenho em mente que este álbum serviu de inspiração para que o Led Zeppelin, por exemplo, gravasseIII em 1970. Observem as sonzeiras: “Sympathy for the Devil”, “No Expectations”, “Dear Doctor” (que baita som), “Parachute Woman”, “Jig-Saw Puzzle”, “Street Fighting Man”, “Prodigal Son” (PATACAPARÉU), “Stray Cat Blues”, “Factory Girl” e “Salt of the Earth”. Dez HINOS em letras garrafais. Mick Jagger e Keith Richards afastam a psicodelia impregnada por Brian Jones e voltam para as origens, criando um disco de blues/folk magnífico. Uma despedida de Brian Jones para os mortais que é outra obra-prima de sua carreira. Ah, e a capa do banheiro (com a arte dupla interna) é a melhor da carreira do grupo, assim como a de seu antecessor.
Micael: Um disco diferente dentro da discografia dos Stones, predominantemente acústico, com boas composições como “Parachute Woman”, “Stray Cat Blues”, “Salt of the Earth” e as clássicas “Sympathy for the Devil” e “Street Fighting Man” (regravada com louvor pelos Ramones). Tornou-se um clássico na história do grupo e é digno de constar nesta lista, mas não sei se merecia uma posição tão alta.
Ronaldo: Os Rolling Stones dando um passeio, com a proposta de som na qual eles realmente eram autênticos – a tradução britânica do r’n’b americano. Disco safado, sujo, uma coleção de “joias” da banda.

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The Band – Music From Big Pink (44 pontos)
Adriano: Um bom disco, mas que passou longe de entrar no meu Top 10. Não é exatamente um som que mexe comigo, e não encontro clássicos nesse disco, com exceção da óbvia “The Weight”. Respeito sua entrada, mas deixou muita coisa espetacular de fora.
Bruno: Não ouvi.
Diogo: Music From Big Pink representa muito mais do que a absurda qualidade de suas composições e o talento gigantesco dos músicos que formavam a banda. Este álbum representa a rejeição daquilo que vinha sendo feito na segunda metade dos anos 60 em se tratando de música popular e de vanguarda, voltando os olhos para o passado e apropriando-se de tudo aquilo que já havia sido criado: blues, country, r’n’b, rock ‘n’ roll, soul… Mesmo assim, parindo algo novo, diferente, excitante e, especialmente, verdadeiro. É música imperfeita, carregada de sotaques, angústia, honestidade e humanidade, levada a cabo por cinco pessoas que constituem uma das formações mais fantásticas da história da música, cada uma com características imprescindíveis que ajudavam a tornar a The Band tão peculiar. A verdadeira obra-prima do grupo foi lançada no ano seguinte, mas músicas como “Tears of Rage”, “In a Station”, “We Can Talk”, “Chest Fever” e “I Shall Be Released” são muito mais que suficientes para colocar Music From Big Pink no rol dos melhores discos de estreia de todos os tempos. Melhor nem comentar sobre “The Weight”, pois a canção é digna de uma tese de doutorado.
Fernando: Simplesmente fantástico! Nenhuma faixa abaixo de ótima. É o típico disco que cresce em qualidade a cada audição. Suas melodias fáceis, quase pop, sugerem que esse seria um álbum mais cultuado, mas não é o que acontece. Alguns ainda consideram o disco seguinte melhor que este. Acho que minha grande afeição por ele não me deixa concordar.
Mairon: Qual banda poderia acompanhar Bob Dylan? Bom, essa banda só podia ser “A Banda”. Music From Big Pink entra fácil na lista de melhores discos de estreia de todos os tempos. O jeito simples dos canadenses, comandados pelo gênio Robbie Robertson e influenciados diretamente pelo homem que os batizou, é cativante e digno da terceira posição. Não se emocionar com faixas como “The Weight”, “I Shall Be Released” e “Tears of Rage” é sinônimo de ausência de alma. Simplesmente perfeito!
Micael: Não entendo a paixão de alguns por este disco. Ok, tem “The Weight” e “I Shall Be Released”, e a paixão dos membros do grupo por Bob Dylan já foi comprovada em listas anteriores. Mas, terceiro lugar? Me parece muito para ele… (detalhe: a tecladeira de “Chest Fever” é muito boa!).
Ronaldo: Um disco sem atrativos e nada excitante, especialmente dentro do contexto da época. Soa até bem, agradável, mas demanda paciência do ouvinte. Não há nada em Music From Big Pink que já não havia sido explorado, com mais brilhantismo e energia, por outras bandas antes ou no mesmo ano de 1968. O disco tem seus méritos, algumas boas composições – “The Weight” e “Chest Fever” são ótimas, inclusive. É carregado, porém, de várias baladas sem sal, genéricas e apáticas, e “This Wheel’s on fire” é um bom exemplo de que tipo de som não tirar de um teclado.
 

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The Small Faces – Ogden’s Nut Gone Flake (43 pontos)
Adriano: Mais um bom disco que não mexe muito comigo. Considero-o no mesmo nível do anterior, Small Faces, de 1967. Se esse não entrou na minha lista passada, mais difícil ainda é a entrada de Ogden’s Nut Gone Flake na disputadíssima lista de 1968.
Bruno: O melhor disco dos Small Faces com sobras. Aqui, Steve Mariott e companhia adicionam grandes doses de psicodelia às pauladas r’n’b que o grupo sabia fazer. Destaque para as linhas de baixo de Ronnie Lane.
Diogo: Certamente muito mais interessante que seus antecessores, Ogden’s Nut Gone Flake traz a banda dosando bem seu recente passado, mais voltado para o rock infectado de r’n’b, com bastante psicodelia e inclusive algumas incursões rumo a uma sonoridade mais pesada, como em “Afterglow (of Your Love)”, já com cara de power ballad setentista. Apesar dessa impressão positiva, fica o desejo de que as músicas tivessem sido mais estendidas e melhor desenvolvidas. Caso o nível do lado A fosse mantido, seria um sério candidato a beliscar uma posição mais elevada em minha lista particular, quem sabe uma nona ou décima colocação.
Fernando: Fiquei preocupado se esse disco entraria na lista. Gosto demais dele, mas não sabia que esse gosto era compartilhado pelos meus amigos do site. Trata-se de um daqueles casos em que eu gosto tanto de um álbum que não consigo colocar os outros da banda em um mesmo patamar. Meus comentários mais detalhados estão aqui.
Mairon: Para muitos, o melhor registro da psicodelia inglesa. É um baita disco no ponto de vista instrumental (nunca o Small Faces fez algo tão bom), mas peca em absurdos como “Afterglow (of Your Love)”. Ainda tem a belíssima capa original, que vale quase mais do que as canções em si. Uma pena que as músicas são curtas, ficando o gostinho de que poderia ter sido parido um álbum muito melhor.
Micael: Tem “Rene”, “Song of a Baker” e “Lazy Sunday” (que até o Toy Dolls já regravou), além de ser um disco muito falado e comentado, e ter toda a questão do lado conceitual, que enseja um envolvimento maior para ser totalmente compreendido. Na parte musical, porém, não me agrada muito. Passo!
Ronaldo: Parece que a banda caiu de pára-quedas na psicodelia, mas, ainda sim, se deu bem na maior parte do disco e o saldo é positivo. Algumas coisas apontam para o rock dos anos 70, mais pesado, intenso, exagerado. Era um time de feras, que embalou na barriga duas sementes muito importantes do rock na década seguinte – Humble Pie e Faces. O lado B é bem pretensioso, acerta em alguns momentos, mas carece de brilho e espontaneidade.

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The Zombies – Odessey and Oracle (41 pontos)
Adriano: Mais um clássico. Até estranho o disco não receber uma posição melhor. Os Zombies realizam aquilo que já tinham demonstrado serem bastante capacitados pra fazer. Um álbum repleto de belíssimos temas, com arranjos fenomenais, performances vocais e instrumentais impecáveis, um disco lindo e comovente! São muitas pérolas, mas destaco a trinca “This Will Be Our Year”, “Butcher’s Tale (Western Front 1914)” e “Friends of Mine”, todas composições do gênio pouco reconhecido Chris White, e a segunda sendo também lindamente cantada por ele. Essencial.
Bruno: Só o quinto lugar é uma heresia. Se na estreia já haviam feito um pop de primeira qualidade com pequenas doses da ainda embrionária psicodelia, aqui essa união se concretizaria de maneira brilhante. Odessey and Oracle é um disco pop perfeito. Diria que ele até supera Pet Sounds (Beach Boys, 1966) nesse quesito, apesar de ser uma comparação meio absurda, já que os Beach Boys são uma banda pop por excelência e os Zombies têm uma pegada mais urgente.
Diogo: Alguns julgarão absurdo o que tenho a dizer, mas, para mim, Odessey and Oracle apresenta uma mistura daquilo que de melhor vinham fazendo The Hollies, Beatles e Beach Boys, aliado ao aguçadíssimo senso melódico já explicitado no primeiro disco, Begin Here (1965). Em resumo: música pop da melhor qualidade, levada por vocais extremamente bem pensados, instrumental cheio de esmero e incursões por experiências sonoras que nunca se sobrepõem ao valor das composições em si. Cheios de equilíbrio e coesão, os 35 minutos que compõem o álbum passam voando e a vontade de ouvi-lo repetidamente é quase inevitável. Prefiro me abster de citar destaques, mas reforço quão especial é o talento de Rod Argent comandando as teclas da banda, tornando tudo muito mais belo.
Fernando: Só ouvi depois que recebi a lista final. Boa indicação, mas acho que alguns bons discos ficaram de fora e não acredito que este seja melhor que eles.
Mairon: Podem me chamar de maluco, mas considero este álbum uma cópia paraguaia de Pet Sounds. Basta ouvir as vocalizações em “Care of Cell 44″ e “A Rose for Emily” que essa sensação aparece de cara. Acho que é um disco bem trabalhado, principalmente na parte vocal e no piano de Rod Argent, e é óbvio que o mellotron dá uma cara diferente. Não é ruim, mas não consigo vê-lo em posição tão elevada para um ano tão maravilhoso como 1968. Além disso, acho-o longo demais. “Time of the Season” vale o LP, principalmente pelo solo de piano elétrico, o melhor momento da carreira do Zombies. Se tivesse sido lançado alguns anos antes, acredito que, aí sim, mereceria uma posição entre os melhores.
Micael: Odessey and Oracle gerou um clássico (“Time of the Season”), é bem arranjado e bem executado. Mas não merecia uma posição tão alta na lista, pois, com exceção da citada e, talvez, de “Hung Up on a Dream” e “Maybe After He’s Gone” (além do baixão de “I Want Her, She Wants Me”), não tem nenhuma outra canção que chame a minha atenção. Não é do meu gosto pessoal, portanto, não o indiquei.
Ronaldo: Bom disco pop barroco, com algumas modestas incursões proto-progressivas. Essas incursões são o que Odessey and Oracle tem de melhor a oferecer, é o que soa “fresco” no álbum. De resto, um tipo de construção sonora que já vinha se ouvindo havia, no mínimo, três anos. Em absoluto, é garantia de boa audição. Para o universo sonoro de 1968, parece pequeno.

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The Moody Blues – In Search of the Lost Chord (36 pontos)
Adriano: Um ótimo disco, a meu ver superior ao anterior, embora não tão emblemático quanto. Vejo muitos álbuns melhores nesse ano, mas considero justa sua entrada, principalmente tendo em vista que Days of Future Passed não entrou no top 10 de 1967. Prefiro não dar destaques, pois o disco é bastante consistente, sem nenhuma falha.
Bruno: Não sou grande fã do Moody Blues, mas os caras manjam das melodias. O problema é que esses discos iniciais têm forte influência da música erudita, ofuscando um pouco o quão bem feitas são as harmonias da banda. Por isso prefiro Question of Balance (1970) a esses primeiros registros.
Diogo: Antes justiça insuficiente do que nenhuma justiça. É assim que me sinto ao verIn Search of the Lost Chord nesta lista, representando uma de minhas formações favoritas. Após a criminosa exclusão de Days of Future Passed do Top 10 de 1967, nada mais justo que a banda aparecesse com seu essencialmente autoral sucessor nesta edição. Como é belo constatar que, após o lançamento de uma verdadeira e raríssima obra-prima, caso de Days of Future Passed, o quinteto não esmoreceu e conseguiu atender às mais exigentes expectativas, demonstrando ser dono de grandioso talento e capaz de muito trabalho, forjando um clássico de ponta a ponta, perfeccionista, como um colar cravejado de belíssimas gemas, cada uma delas uma canção presente em In Search of the Lost Chord. Costumo ouvir este álbum de ponta a ponta, mas muitas vezes não resisto e preciso colocar “Voices in the Sky” no repeat, uma das mais belas obras idealizadas pelo genial Justin Hayward, que ainda por cima é um de meus vocalistas favoritos.
Fernando: Este é um discaço! Gosto muitos dos vocais do The Moody Blues e as composições deste álbum os favorecem. Olhe a capa e ouça o álbum. Acho que nunca tivemos tanta discrepância entre um e outro, isso sem levar em consideração o teor lírico das canções.
Mairon: O melhor disco da carreira do Moody Blues, corrigindo a grande falha que foi a ausência de Days of Future Passed em 1967. Com o pé mais forte no progressivo (que ainda estava engatinhando, diga-se de passagem), o quinteto inglês consolida o mellotron como um instrumento importante na música, e, principalmente, confirma o nascimento de um gênio: Justin Hayward. Com apenas 21 anos, ele cria uma obra-conceitual fantástica, em busca de um mantra perdido. Tal mantra é a maravilhosa “Om”, que encerra um álbum incrível, com pérolas como “Ride My See-Saw”, “Dr. Livingstone, I Presume”, as duas partes de “House of Four Doors”, “Legend of a Mind”… Para ouvir do início ao fim, inúmeras vezes.
Micael: Nunca fui muito fã de Moody Blues, e este disco, apesar dos toques orientais e das belas baladas, não foi o responsável pela minha conversão. Além disso, discos conceituais são sempre complicados, pois exigem um certo envolvimento e identificação do ouvinte com a história. Não é meu caso aqui.
Ronaldo: Os músicos do Moody Blues são verdadeiros escultores de canções. Soa límpido cada pequeno detalhe de sua rica música. Melodia e esmero nos arranjos são constantes neste álbum e em vários outros de sua carreira. Sem a presença da orquestra, onipresente no álbum anterior, a banda pisa mais firme e mostra toda sua identidade. Lições aprendidas de Sgt Pepper’s Lonely Hearts Club Band (The Beatles, 1967) e Pet Sounds, equilibrando a ousadia e as melodias cativantes que se esperam da música pop.

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The Velvet Underground – White Light/ White Heat (31 pontos)
Adriano: Inferior ao primeiro disco da banda, e não me parece que apresente nenhum avanço. É mais barulhento, tem barulheiras mais demoradas, mas não é nada que faça você babar. O álbum não é ruim, mas não é nada espetacular. Realmente, tinham que passar a bola pras bandas alemãs.
Bruno: Já ouvi e reouvi e não me pegou. Gosto mais do primeiro.
Diogo: O primeiro álbum do grupo ainda tem valor para muito além da estética, pois diversas canções são de boa qualidade e revelam que, em meio a algumas ideias um tanto desconexas, a trupe de Lou Reed parecia ter determinados objetivos em direção a produzir música que desperta meu interesse. Esse fato, porém, não repete-se emWhite Light/White Heat, que soa repetitivo em excesso e carece de foco definido. Bem, talvez a intenção fosse justamente essa.
Fernando: Nunca ouvi. Como já disse na última edição desta seção, a banda não me apetece. Se nem o maior clássico deles, o tal disco da banana, me fez gostar, não acho que esse seria o caso.
Mairon: Tirando a versão eternizada por David Bowie posteriormente para a faixa-título, repito: isso é música?
Micael: Bem abaixo do primeiro disco e muito mais anárquico, mas, ainda assim, recomendadíssimo. Quem não entender a desordem sonora de “Sister Ray” irá odiar, mas quem conseguir captar a “viagem” barulhenta e mal gravada da faixa terá doses enormes de prazer. A faixa título e “Here She Comes Now” estão entre as melhores coisas que o Velvet já gravou, e “The Gift” não é coisa de quem tem a sua sanidade mental em plena capacidade. Discaço!
Ronaldo: Enquanto o Velvet Underground gravava esse disco, a criatividade fumava um cigarro atrás do outro do lado de fora do estúdio. Não contentes com essa “ausência”, a banda chutou qualquer sombra de bom gosto com sons ainda mais rudes e toscos que em seu trabalho anterior e teve a cara de pau de gravar 17 minutos de barulho em “Sister Ray”, um verdadeiro atentado terrorista aos ouvidos.

13.+Wheels+of+Fire
Cream – Wheels of Fire (30 pontos)**
Adriano: O disco entrou por conta de sua parte inédita de estúdio, então desconsidero o segmento ao vivo. E o disco em estúdio de Wheels of Fire é ótimo, o melhor do Cream! Poderia até ter entrado no meu Top 10, pois é tão bom quanto meus nono e décimo lugares. Destaco as lindas “Passing the Time” e “As You Said”, que, pra mim, representam uma influência dos Yardbirds sobre a banda, pela semelhança no estilo.
Bruno: Não ouvi.
Diogo: A única razão que faz com que eu não considere Wheels of Fire o melhor álbum do Cream é o simples fato de que Disraeli Gears (1967) é insanamente fantástico. Um disco que abre com “White Room” e fecha com “Deserted Cities of the Heat” teria que estar recheado com muita porcaria para que perdesse a alcunha de “clássico”, mas felizmente isso não ocorre, pois Jack Bruce, Eric Clapton e Ginger Baker, por mais que não tenham tido carreiras 100% perfeitas, quando juntos são praticamente incapazes de errar. Ouça o que o trio faz em “Sitting of the Top of the World” e “Born Under a Bad Sign” e sinta o blues sendo pervertido, assim como Jack Bruce dá sequência a sua infalível parceria com o poeta Pete Brown nas delirantes “As You Said” e “Politician”. Esqueçam esse papo de rotular qualquer trio como “power trio”: depois do Cream, nenhum mais merece essa alcunha.
Fernando: Obviamente gosto muito deste disco, mas, quando apresentei minha lista, preferi deixá-lo de fora. Não sei bem o porquê. Acho que quis dar chances a outros.
Mairon: O melhor disco da carreira do Cream. Mesmo desprezando o lado ao vivo (excepcional, diga-se de passagem), nele temos sonzeiras como “White Room”, “Sitting on Top of the World” e “Politician”, isso para citar apenas três. Não entraria na minha lista final, mas é sim um grande álbum.
Micael: Este disco não está na minha lista por puro esquecimento. Tivesse eu lembrado, estaria lá em cima, disputando pau a pau o primeiro lugar com Hendrix. Mesmo ignorando o disco ao vivo (critério que adotamos em nossas listas), impossível não se render a clássicos do porte de “White Room”, “Politician” ou “Deserted Cities of the Heart”, ao talento de Clapton, Bruce e Baker nos blues “Sitting on Top of the World” e “Born Under a Bad Sign”, à psicodelia de “Those Were the Days” e “Passing the Time”, à beleza de “As You Said” ou à engraçada “Pressed Rat and Warthog”. E isso tudo sem citar que o desgraçado do disco ainda é duplo e tem na outra parte uma banda no topo da forma em registros captados sobre o palco, seu lugar natural. Muitas vezes melhor que qualquer um que está nesta lista (à exceção, talvez, deElectric Ladyland), o que torna o seu oitavo (???) lugar quase uma vergonha!
Ronaldo: Uma banda no ápice da criação e do entrosamento. Composições marcantes. Letras densas e interpretativas. Solos de guitarra que disparam o coração. Baixo e bateria pulsantes. Vocais enérgicos. Instrumentos inusitados. Blues transformado. Músicas ricas em variações. Atmosfera psicodélica. Uma produção sonora e gráfica à altura da música. Para os atentos, sempre há o que se descobrir em Wheels of Fire.

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Big Brother and the Holding Company – Cheap Thrills (29 pontos)
Adriano: Já fui bem fã de Janis Joplin, mas não é mais o caso. Acho lindíssima a versão de “Summertime”, talvez a melhor de todas, mas este disco passa longe de me impressionar.
Bruno: Apesar de admirar o timbre e a qualidade vocal de Janis Joplin, não há nada no trabalho dela que me atraia, mas considero este o seu registro definitivo, com uma banda bastante competente por trás.
Diogo: Nunca fui fã de Janis Joplin e continuo não sendo, mas isso não impediu que eu escutasse Cheap Thrills. Na verdade, comparado aos seus contemporâneos psicodélicos californianos, o Big Brother and the Holding Company até fica acima da média, especialmente por injetar doses fortes de blues e ter os pés fincados mais no chão, mas, mesmo assim, o grupo não me chama muito a atenção, apesar das versões, em especial, terem bastante valor.
Fernando: Não liguei o nome à pessoa quando vi o Big Brother nesta lista. Depois que fui ouvir a banda é que lembrei porque nunca tive interesse em ouvi-la: Janis Joplin. Pode ser picuinha, mas não gosto dela. Algumas faixas, as mais blues, são até interessante, mas no geral não gostei.
Mairon: Este é um dos melhores discos da história da Califórnia, e, certamente, o melhor álbum do Big Brother and the Holding Company. Em apenas sete canções, temos a essência do flower power lisérgico, apresentado ao mundo um ano antes no Monterey Pop Festival e assassinado um ano depois no Woodstock Festival. Difícil achar outro disco do estilo com tantos clássicos, ainda mais do porte de “Ball and Chain” (um dos melhores covers que já ouvi), “Summertime”, “Piece of My Heart” e “I Need a Man to Love”. Complementam esta obra-prima a genial “Combination of the Two”, o blues embriagante de “Turtle Blues” e a sensacional recriação para “Coo-Coo”, batizada de “Oh! Sweet Mary”. Discaço-AÇO-AÇO!!! Recomendado para todo ser vivo.
Micael: Gosto bastante do Big Brother, mas não de sua cantora. Este segundo álbum geralmente tem mais reconhecimento que o de estreia, mas, para mim, os dois estão no mesmo nível. A melhor música do grupo para mim está aqui, “Oh, Sweet Mary”, por não contar com Janis na voz principal, se bem que a interpretação da moça em “Summertime”, “Ball and Chain” e “Piece of My Heart” quase fazem a aventura de ouvi-la cantar suportável. Pena que, após sua saída, a banda tenha tido tão pouca atenção, pois esses dois registros mostram que eles mereciam muito mais do que ser apenas a “eterna primeira banda de Janis Joplin”.
Ronaldo: Eis o clássico que portou uma das maiores vozes do rock ‘n’ roll, Janis Joplin. A imagem sonora da Califórnia ensolarada e psicodélica é o que temos quando “Combination of the Two” começa a tocar. Seguem-se sons embasbacantes, com lotes de guitarras fuzz inebriantes e a voz orgasmática de Janis.

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Os Mutantes – Os Mutantes (28 pontos)
Adriano: Por pouco este disco não entrou no meu Top 10, embora a disputa com o homônimo de Gilberto Gil desse ano fosse acirrada e talvez eles perdessem pro músico baiano. É legal, de qualquer modo, ver, finalmente, um representante brasileiro na lista final. Destaco neste álbun as clássicas “Panis et Circenses”, “Baby” e, principalmente, “Bat Macumba”, além da linda “O Relógio”. Não consigo gostar de “A Minha Menina”, mas ela não compromete tanto o trabalho.
Bruno: Um dos discos mais importantes da música psicodélica mundial, sem dúvida nenhuma. O que esses caras fizeram em 1968 em terras brasileiras, em plena ditadura, é pra aplaudir de pé. Não é o meu favorito da banda, muito por não conter quase nenhuma composição própria, mas é com certeza o mais inventivo do grupo.
Diogo: Apesar de ter ouvido o disco poucas vezes, fica bastante latente que, apesar da influência da música brasileira, os Mutantes beberam nas duas vertentes psicodélicas. A mistura, que normalmente poderia cair de forma indigesta para mim, até que supera a expectativa e garante alguns momentos muito interessantes, como é o caso de “Panis et Circensis”, “O Relógio” e “Baby”. Difícil mesmo é imaginar que a Rita Lee que ouvimos em Os Mutantes é a mesma de hoje em dia.
Fernando: Outra banda que, a exemplo do Velvet Underground, nunca me agradou. Já ouvi bastante e não é que não a considere boa, mas é o tipo de banda que não tenho interesse em reouvir. Os álbuns que baixei há muito tempo estão sempre lá na minha pasta de música, mas nunca volto a ouvi-los. Sei que o povo vai descer o pau, mas é a verdade.
Mairon: Dos álbuns da Tropicália, esse foi o que mais se destacou, e com razão. Para muitos, o melhor disco de rock do Brasil (curiosamente, o primeiro disco de rock nacional a entrar na lista final de melhores de todos os tempos). É um álbum fortemente influenciado por Beatles, mas com o tempero brasileiro apimentado pelos arranjos de Rogério Duprat, e claro, o talento raro de Rita Lee, Arnaldo Baptista e Sergio Dias. Não é o meu preferido do grupo, mas reconheço sua importância. A partir do nascimento dos Mutantes, o rock nacional nunca mais foi o mesmo.
Micael: Ainda não são os Mutas que se tornariam, mas já davam a cara a bater e mostravam talento. As poucas canções autorais (“O Relógio” e, principalmente, “Ave Genghis Khan”) e a versão para “Once Was a Time I Thought” (“Tempo no Tempo”) talvez sejam minhas favoritas, mas um grupo que consegue transformar Caetano Veloso e Gilberto Gil em música de qualidade merece todos os créditos. Discos melhores do grupo viriam, mas esta estreia merece todos os elogios, e, com certeza, deveria estar em um local mais alto nesta lista!
Ronaldo: O primeiro disco dos Mutantes é, hoje, um reconhecido trabalho da era psicodélica, mas só entrou na lista dos dez porque esta é uma lista feita por brasileiros. Garotada muito ousada, que estava cercada de cabeças pensantes e muito ativas (Duprat, Caetano, Gil, Tom Zé, etc). Rock psicodélico com um toque exótico, e esse elemento não se refere somente às incursões na música brasileira.

Listas individuais:
Adriano KCarão
11. The Kinks – The Kinks Are the Village Green Preservation Society
2. The Rolling Stones – Beggars Banquet
3. Blue Cheer – Outsideinside
4. The Zombies – Odessey and Oracle
5. The Jimi Hendrix Experience – Electric Ladyland
6. The Mothers of Invention – We’re Only in It For the Money
7. Procol Harum – Shine on Brightly
8. The Beatles – The Beatles
9. Blood, Sweat & Tears – Child Is Father to the Man
10. The United States of America – The United States of America

Bruno Marise
1364328104_van-morrison-astral-weeks1. The Zombies – Odessey and Oracle
2. The Small Faces – Ogden’s Nut Gone Flake
3. The Rolling Stones – Beggars Banquet
4. The Jimi Hendrix Experience – Electric Ladyland
5. Os Mutantes – Os Mutantes
6. Van Morrison – Astral Weeks
7. Ronnie Von – Ronnie Von
8. Steppenwolf – Steppenwolf
9. Jeff Beck – Truth
10. Roberto Carlos – O Inimitável

Diogo Bizotto
The Byrds Sweetheart of the Rodeo HIGH RESOLUTION COVER ART
1. The Byrds – Sweetheart of the Rodeo
2. The Band – Music From Big Pink
3. The Moody Blues – In Search of the Lost Chord
4. Cream – Wheels of Fire
5. Dillard & Clark  – The Fantastic Expedition of Dillard & Clark
6. The International Submarine Band – Safe at Home
7. The Rolling Stones – Beggars Banquet
8. The Zombies – Odessey and Oracle
9. Jeff Beck – Truth
10. The Jimi Hendrix Experience – Electric Ladyland

Fernando Bueno
traffictraffic196811. The Small Faces – Ogden’s Nut Gone Flake
2. The Band – Music From Big Pink
3. The Moody Blues – In Search of the Lost Chord
4. Traffic – Traffic
5. The Beatles – The Beatles
6. Jeff Beck – Truth
7. The Rolling Stones – Beggars Banquet
8. Jethro Tull – This Was
9. Deep Purple – Shades of Deep Purple
10. Blue Cheer – Vincebus Eruptum

Luiz Carlos Freitas
CS432366-01A-BIG1. The Velvet Underground – White Light/White Heat
2. The Rolling Stones – Beggars Banquet
3. Fleetwood Mac – Fleetwood Mac
4. Creedence Clearwater Revival – Creedence Clearwater Revival
5. Joni Mitchell – Song to a Seagull
6. The Jimi Hendrix Experience – Electric Ladyland
7. Os Mutantes – Os Mutantes
8. Van Morrison – Astral Weeks
9. Big Brother and the Holding Company – Cheap Thrills
10. Grateful Dead – Anthem of the Sun

61jjYpCO01LMairon Machado
1. Big Brother and the Holding Company – Cheap Thrills
2. Moby Grape – Grape Jam
3. Quicksilver Messenger Service – Quicksilver Messenger Service
4. Moby Grape – Wow
5. Vanilla Fudge – Renaissance
6. The Band – Music From Big Pink
7. The Moody Blues – In Search of the Lost Chord
8. Bloomfield/Kooper/Stills – Super Session
9. The Rolling Stones – Beggars Banquet
10. Iron Butterfly – Heavy

Micael Machado
ilps-9085-jethro-tull-this-was-front1. The Jimi Hendrix Experience – Electric Ladyland
2. Jethro Tull – This Was
3. Deep Purple – Shades of Deep Purple
4. Os Mutantes – Os Mutantes
5. Deep Purple – The Book of Talyesin
6. The Doors – Waiting For the Sun
7. The Velvet Underground – White Light/White Heat
8. Pink Floyd – A Saucerful of Secrets
9. Neil Young – Neil Young
10. Iron Butterfly – In-A-Gadda-Da-Vida

Ronaldo Rodrigues
4645591541_d89a09104b_b1. The Jimi Hendrix Experience – Electric Ladyland
2. Cream – Wheels of Fire
3. Steppenwolf – Steppenwolf
4. The Pretty Things – S.F. Sorrow
5. Quicksilver Messenger Service – Quicksilver Messenger Service
6. Jeff Beck – Truth
7. The Rolling Stones – Beggars Banquet
8. The Electric Prunes – Mass in F Minor
9. Big Brother and the Holding Company – Cheap Thrills
10. Soft Machine – The Soft Machine
 
* O colaborador Luiz Carlos Freitas não conseguiu enviar seus comentários a respeito da lista final a tempo, mas participou de sua elaboração.
** Consideramos apenas o disco de estúdio que compõe Wheels of Fire.
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