segunda-feira, 13 de março de 2017

Entrevista Exclusiva: Sergey Kalugin (Сергей Калугин) - Orgia Pravednikov



* As versões em inglês e russo estão logo abaixo, sendo que originalmente, a entrevista foi realizada em inglês.

A Consultoria hoje desembarca em Moscou, e das longínquas terras russas apresenta uma entrevista com o líder fundador, violonista e vocalista do grupo Orgia Pravednikov. Extremamente simpático e atencioso, Sergey bateu um longo bate-papo, onde conta sobre as gravações do último álbum da banda, For Those Who Dream Vol. 2, lançado ano passado, envolvendo um bem sucedido projeto de financiamento coletivo, passeia pela história da banda desde o seu primeiro álbum, conta sobre as mudanças sonoras que o grupo sofreu nesses quase 20 anos de carreira, fala sobre sua vida pessoal e muito mais. Agradeço imensamente ao Sergey por sua simpatia, e espero que apreciem mais uma entrevista exclusiva feita pelo nosso site.

1. Caro Sergey, antes de mais nada, obrigado por compartilhar conosco um pouco sobre você e a história do Orgia Pravednikov. Temos um ano do lançamento de For those who dream Vol. 2, o quinto disco do Orgia e o primeiro em quatro anos. Por que tanto tempo entre os lançamentos?
Primeiramente, perdoe-me pelo meu inglês, erros e afins. Espero que você me entenda. Então, são 4 anos. Por um lado estávamos cansados após o álbum e a turnê de Shitrock (n. r. single com 4 faixas inéditas, lançado em 2012) precisávamos de um grande descanso. Decidimos não trabalhar e nem nos encontrarmos durante um ano. Parecia que o fim da banda estava próximo. Porém, as forças voltaram e começamos uma nova página.  Por outro lado, sentimos que não podíamos trancar passo, precisávamos de novas ideias, novas sonoridades, nova gana. É impossível encontrar essas coisas rapidamente. E não tínhamos contrato com nenhum selo (para falar a verdade, não temos nenhum selo aqui na Rússia, o rock não é um negócio interessante por aqui), ninguém nos incomodava gritando: "Precisamos de um álbum no próximo verão!", e podemos trabalhar (como dizemos na Rússia) "pelo nosso próprio prazer".
2. Ele é uma sequência de For those who dream. Vol. 1, lançado em 2010. A ideia desta sequência surgiu quando da gravação do Vol. 1? Em caso positivo, por que não lançaram originalmente como um álbum duplo, como aconteceu há pouco com a edição especial?
Somente por que em 2010 a maioria das canções que você ouve no Vol. 2 não estavam prontas. A ideia da sequência veio "do nada", quando discutíamos sobre o nome do novo álbum. Lembrando melhor, depois que vi o nome percebi que necessitava algo mais após a última palavra. E então Vol. 1 surgiu imediatamente. Eu contei ao grupo, e os caras disseram que esta ideia era completamente inspiradora!!!
3. Como estão os shows de promoção de For those Who Dream. Vol. 2?
Como Zorg disse em "O Quinto Elemento": "Tudo você deve fazer pelas próprias mãos". Os shows estão ótimos, visitamos muitas cidades na Rússia e por fim tocamos em Kiev (Ucrânia). Não é muito o que queríamos, é claro, por conta da crise econômica em nosso país que é um problema, e então algumas cidades dizem "NÃO" no momento. Mas o turnê no geral foi uma vitória para nós e os fãs.
4. Vocês escreveram para esse álbum uma canção com o nome em espanhol, "Flores de Muertos". Por que está homenagem? Isto está também associado com as roupas de caveiras mexicanas que vocês usam no encarte do disco e nos shows?
Sim, é claro. Veja, tudo que fazemos, fazemos como uma "árvore que cresce". Quando trabalhávamos esta canção, surgiu a ideia de usar o charango (instrumento que nosso guitarrista comprou quando viajou para o Equador). Após ouvir o som disto lembrei do filme "Viva Mexico!", de Sergey Eisenstein, que assisti quando tinha por volta de 12 anos. Encontrei ele no youtube e o assistimos, e então a última parte do filme (com "Day of Muertos") era o filme pronto para a canção. Isto foi chocante. Após isto, a energia deste acontecimento cultural e místico veio até nós e começou a trabalhar com a gente, e finalmente tornou-se a ideia central do disco. Talvez para você isto pareça engraçado (geralmente damos risada quando alguém tenta brincar com a cultura russa, parece-me o mesmo ... você endente, eu acho).
5. Sim, claro, totalmente compreensível. Voltando ao disco, ao ouvir For those who dream. Vol. 2, temos um uso maior das cordas e metais, assim como no Vol. 1. Como surgiu a ideia de adicionar esses instrumentos nas canções da banda?
Quando começamos nossa história sonhávamos como sonhar realmente "sinfônicos", um grande som. E passo a passo nós estamos chegando nesse objetivo. Metais, violinos, coral... normalmente as bandas que os usam, fazem isto muito simples. Num momento você ouve uma orquestra, noutro a banda. Tentamos implantar os instrumentos "sinfônicos" no corpo do som do rock pesado para trazer o efeito "Rachmaninoff". Somos grandes fãs do Muse, que faz as mesmas coisas.
6. Outra grande diferença neste disco em relação aos seus antecessores é a presença fundamental do vocal soprano de Elena Yurkina, os quais também estão presentes nos concertos da banda. Vocês estão adaptando também as canções antigas para inserir os vocais femininos nelas?
Oh, ótima ideia, obrigado!! Realmente. Especialmente se fizermos o projeto The Greatest Hits. Sonho com isto há muitos anos, por que muitas canções dos álbuns antigos podem soar mais modernas e interessantes!
As máscaras mexicanas
7. Uma das principais formas que os grupos encontraram para promover seus materiais é o sistema de financiamento coletivo. Recentemente, o Orgia Pravednikov usou isto para financiar a gravação de For those Who Dream. Vol. 2. O sistema foi um dos mais bem sucedidos na história do financiamento coletivo. Conte-nos como ocorreu este processo, quantas pessoas participaram e se existe algumas possibilidades de novos projetos para os fãs darem novas colaborações.
Para nós isto realmente foi chocante e um presente. Não podíamos imaginar que as pessoas nos amavam tanto e esperavam ansiosos por um novo álbum. Esperávamos atingir a meta após 3 meses, mas isto aconteceu em apenas 2 dias! No final, tínhamos muito mais dinheiro do que havíamos solicitado - mais do que o dobro! Então, podemos dizer que o sistema funciona, e funciona muito bem! Isto abriu um novo caminho para nossos negócios. Mas, não é absolutamente um caminho para projetos desconhecidos. Primeiro você deve ser realmente interessante para as pessoas. Por outro lado, você não deve ser muito conhecido. Cerca de 1200 pessoas compraram nossos lotes, não é muito em uma primeira olhada, mas eles COMPRARAM. Muitas bandas, que são mais populares do que o Orgia não chegaram nessa soma.
8. O Orgia estará completando 20 anos de carreira em 2019. Existem algumas surpresas sendo preparadas, como um lançamento especial, uma turnê mundial ou outra novidade para celebrar essa gloriosa carreira?
Turnê mundial - enrole para presente, por favor, eu quero isto!!! Sem brincadeiras, é muito cedo para pensar sobre isto. Se você vive na Rússia, você não sabe o que pode acontecer amanhã (e por que não, ontem). Isto, a princípio, é a razão por que ninguém dos negócios quer investir em rock aqui. Arte significa "muito dinheiro". Na situação onde as regras do jogo muda a cada três dias, as pessoas preferem o "dinheiro fácil". Então, como dizemos aqui: "Viveremos e veremos"!
9. O Orgia é uma banda muito famosa na Rússia, país que para nós, fãs brasileiros, ainda tem muitas histórias desconhecidas. Como foi construir seu conhecimento musical e criar uma banda de rock progressivo em um país que não era muito aberto para a cultura ocidental?
Ohhhhhhhh......... Amor - isto é uma resposta. E algum tipo de fanatismo. Acredito que em seu país a situação não é muito diferente. Não somos parte do mundo WASP (n. r. países de língua britânica, basicamente Reino Unido e Estados Unidos) e todos os seus brinquedos não são para nós. Mas podemos dizer à eles "Muito obrigado pela inspiração!". Podemos pegar a energia do rock e misturar com a nossa cultura - como o Sepultura começou a fazer no Roots (talvez no Chaos A. D.). Este é o caminho. Tudo o que sei é que  rock é a melhor das formas moderns de "alta cultura" para a arte real. Arte que possa ser próxima do padrão de Leonardo e Dante. Se olharmos o Doors, por exemplo, aquela música é absolutamente moderna, talvez eles gravassem suas músicas ontem, em estúdio, onde trabalham "Tito e Tarantula". A arte real não tem idade. No mínimo é o caminho para encontrar um elixir da juventude. Como diz meu amigo, o grande músico Yuri Naumow: "No nosso tempo, as pessoas da nossa profissão parecem como São Paulo, mas elas ainda pensam que são como o Led Zeppelin". Mas muito obrigado ao Led Zeppelin por ter nos levado a ser São Paulo. Isto é impossível de aprender na igreja.
10. Um colega de Consultoria do Rock afirmou certa vez que o rock progressivo na cortina de ferro tem características próprias dessa região, adicionando elementos de sua cultura que os diferenciam dos grupos ocidentais no mesmo estilo, sejam eles britânicos, italianos ou de outros países. Qual a sua opinião sobre isso e como está o rock progressivo, bem como o heavy metal e o rock na Rússia e outros países da antiga União Soviética no momento?
Acho que na realidade os grandes grupos ocidentais não são tão uniformes, e os pós-soviéticos não estão tão longe deles como isto parece. Se você estivesse aqui, iria ver que a milhares de bandas na Rússia tocando a mesma merda que os grupos do mainstream que você encontra em todo lugar. Eu não sei por que porra eles fazem isso. É um tipo de encenação, penso eu. O progressivo no mundo todo é uma seção musical separada, com suas próprias regras, e por isso eu nunca digo que tocamos progressivo. Nunca gostamos do jogo "quem parece como Dream Theater" e tantos outros. Mas se você diz que o progressivo é um sinônimo de "a arte real", eu digo, ok. Mas isto significará que as maiores bandas do progressivo não são Dream Theater ou Camel, e sim Metallica, Red Hot Chilli Peppers, Queen, Sepultura, Muse e Rammstein. Se você observar estas grandes bandas, perceberá que elas CONSISTEM DE suas culturas nacionais. Então, a única forma é tentar ser grande. E se você for grande sua cultura nacional começará a falar através da sua arte, queira você ou não.
Sergei, com a roupa de esqueleto
11. Recentemente,  a canção “Nasha Rodina – SSSR” foi eleita a décima colocada das 500 melhores canções do rock russo pela estação de rádio Nashe. Conte-nos sobre esse importante prêmio para a banda.
Oh, isto não é algo realmente tão sério assim. Não mudou nossas vidas, não irá torná-lo "mais famoso", a TV não irá convidá-lo para o programa matinal, chefes ricos não irão oferecer um contrato para assinar ... Em um país sem a indústria do rock isto é uma representação. Somente posso agradecer ao autor da canção, Dmitriy Averyanov. Ele é o poeta genial da história, e muitíssimo obrigado por sua amizade. Sua música é fantástica, e ... nosso trabalho juntos também, assim espero!
12. Aqui na Consultoria, escrevi um texto sobre uma canção do seu primeiro disco, "The Beginning of the Century" (aqui está o link), para uma antiga seção do site chamada Maravilhas do Mundo Prog. Particularmente, aprecio o trecho de trêmolo que você criou para essa canção. Conte-nos sobre a história dessa música, a qual acredito ser uma das obras primas gravadas pelo Orgia, bem como esse encontro da música clássica com o rock pesado dos tempos iniciais da banda.
Muito obrigado por essa inteligente e profunda redação (espero que em inglês e em português a palavra "deep" tenha o mesmo significado que em russo! Dizendo "deep" quando queremos dizer que alguém entendeu algo muito bem) Esta é uma composição antiga, do grupo Artel (nome da banda da qual fiz parte antes do Orgia). Nós achávamos ela tão boa, e então por que não usá-la. Eu apenas trouxe o arranjo da parte do violão clássico, o qual você gostou tanto. A música falava sobre 0 começo do século 20 e a história da Rússia. Ela consiste de 2 temas - paz e guerra ("Roll Over Tolstoy"). Paz, Primeira Guerra Mundial, Revolução, Guerra Civil ... Tudo isso você pode ouvir nessa música (se você quiser, não é o mais importante).
13. No segundo disco, admiro muito o incrível "casamento" entre violão e flautas com guitarras pesadas, baixo e bateria, que é exaltado principalmente no terceiro álbum, como a belíssima faixa "Yellow River. Rain over the Great River". Outgoing Sun é o álbum que consolidou o som do Orgia com os seus fãs?
Sim, muito de nossos fãs pensam isto, que foi nosso melhor álbum. Nós não pensamos, mas ...
Soltando a voz
14. Para quem não está acostumado com a música do Orgia, talvez a principal característica sejam as canções todas cantadas em sua língua Natal. Por que vocês optaram por não seguir os moldes tradicionais de partir para a língua inglesa em suas canções?
Por que eu sou um poeta russo!! Eu nunca poderia usar o inglês tão bem como minha própria língua. É impossível ganhar os Jogos Olímpicos com uma bicicleta com rodinhas de criança. Eu posso aprender inglês muito bem, mas isso não é o suficiente. Eu posso ver todos os filmes e desenhos que fazem parte da infância americana ou britânica, ler todos os livros, mas isto não irá levar a nada. Eu nunca sei o que está por detrás e sob as palavras em inglês! Mas o trabalho do poeta é brincar com estes córregos das conexões mentais. Cheiros, intonações, terra, ventos, sons... Este é o material para a poesia. Acho que a linguagem não pode ser o problema para a música. Ouvimos rocl na Rússia sem entender os texos, mas a música nos diz tudo. Se você quer endenter mais, seja bem-vindo ao dicionário. Mas a voz pode falar mais do que palavras. Ouço My Chemical Romance ou Serge Tankyan e penso "este cara sabe o que ele diz! Ok, depois eu olho o texto, mas agora eu quero somente ouvir. E absolutamente é bobagem que você deve cantar em inglês para ser interessante ao mundo. Olhe o Rammstein no México! Milhares de fãs mexicanos cantando em alemão com Til!
15. O Orgia também é notável perante aos fãs por disponibilizar gratuitamente todos os seus álbuns no seu site oficial. Quais as principais vantagens, comercialmente falando, de abrir as canções para os fãs de forma gratuita? Isso de alguma forma reflete no número de vendas dos álbuns?
No momento o álbum físico tornou-se apenas uma lembrança. As pessoas o compram não para ouvi-lo, e na Rússia você tem milhões de formas de encontrar música na internet sem pagar por isso. Então, quem quer pagar, paga, quem não ... Pensamos que é melhor ele ouvir nossa música em qualidade normal do que roubar isto de um MP3 perigoso e com baixa taxa de bits.
16. Falando particularmente de sua formação, admiro e muito o seu trabalho com o violão clássico. Quais são as suas principais influências musicais para tocar e para compor?
Yuri Naumov. http://naumov.rock-club.org/. Ele toca de uma forma totalmente diferente da minha, mas sua música me mudou e me ensinou.
17. E sobre nomes como Andres Segovia, John Williams, Julian Bream e Kazuhito Yamashita, qual a sua opinião sobre a obra e a arte desses monstros do violão clássico?
São ótimos! Mas eles não sabem como tocar seus violões em uma banda de heavy metal!!
18. Você possui lançamentos solo. Você já pensou em lançar um disco apenas com violão clássico?
Todas as minhas músicas eu uso no trabalho do grupo, e para falar a verdade, não tenho certeza que seria interessante fazer isto sozinho. Existem milhões de guitarristas clássico no mundo, eu não quero ser o milionésimo primeiro.
Orgia em ação
19. Bandas como Scorpions, Black Sabbath, Iron Maiden entre outros apresentaram-se na Rússia nos últimos anos. Vocês já tiveram a oportunidade de abrir algum show para estas bandas, bem como tocar além das fronteiras da Rússia?
Em um filme de comédia russo bem conhecido por aqui, um dos heróis diz: "Eu tenho o desejo de comprar um carro, mas não tenho a possibilidade. Eu tenho a possibilidade de comprar um bode, mas eu não tenho o desejo". No momento, nos podemos comprar o bode.
21. Ouvi o Orgia Pravednikov pela primeira vez em 2006, através de uma postagem do amigo Diego Camargo no site Progshine. Qual a sua opinião opinião sobre sites como o do Diego, o Consultoria, e outros sem fins comerciais, os quais apenas existem para poder divulgar as paixões musicais de seus donos?
Nossa banda sobrevive por causa de pessoas como você e Diego, na Rússia ou no Brasil, fazendo este trabalho. Não sinta-se lisonjeado, é a pura verdade.
20. Como os fãs brasileiros que adoram buscar sons além dos tradicionais podem informar-se sobre novas bandas vindas da Rússia, e como é a imprensa musical russa no geral?
Recomendo acessarem os seguintes sites: http://music-directory.kroogi.com/?locale=ru e zvuki.ru
21. Existe a possibilidade de podermos ver vocês apresentando-se aqui no Brasil ou na América do Sul?
Posso responder como falo para nossos fãs na Rússia, Ucrânia, Israel ou Alemanha: depende de vocês, amigos! Lembra do Zorg? Não podemos simplesmente comprar as passagens, sentar no avião e "Olá Brasil! Estamos aqui!". Mas se alguém REALMENTE QUISER nos ver e mostrar-nos para os brasileiros, ele irá encontrar esse caminho. Estamos abertos para todas as ideias. E tocar um show na América do Sul é um sonho para nós.
Despedindo-se
23. Quais as expectativas da banda para o ano de 2017, bem como as suas?
Nada original para uma banda de rock com estúdio próprio: Trabalho! Trabalho! Trabalho!
24. Conte-nos uma história engraçada envolvendo uma apresentação, a gravação de um álbum ou algum momento especial sobre você ou a banda.
Em nosso site, orgia.ru, em breve estaremos disponibilizando um documentário sobre a gravação do último álbum. Isto irá ter alguns momentos "daqueles", esperem um pouco.
25. Por favor, deixe um recado para os fãs do Orgia aqui no Brasil, e muito obrigado pela atenção
Caros fãs, não podemos acreditar que do outro lado do mundo existem pessoas que nos compreendem e curtem nossa música. Sejam bem-vindos para nosso site (https://vk.com/orgia_pravednikov) e página do facebook (https://www.facebook.com/orgia.fan/), estaremos muito felizes de vê-los e conversar com vocês! E talvez antesdo fim do Universo estejamos no seu país! Mas se não, não fique triste. Eternidade é um local onde todos nos encontraremos um dia, nos aguarde!

English version
* Portuguese version above. Russian version below
Today, Consultoria do Rock arrives in Moscow, and from the distant Russian lands presents an interview with the founding leader, guitarist and vocalist of the group Orgia Pravednikov. Extremely friendly and attentive, Sergey has a long chat, where he tells of the recordings of the band's last album, For Those Who Dream Vol. 2, released last year, involving a successful crowfunding project, walks through the history of the band since its first album, tells us about the sonic changes that the group has undergone in these almost 20 years of career, about his personal life and more. Thank you very much to Sergey for your kindness, and I hope you enjoy another exclusive interview made by our website.
1. Dear Sergey, first of all, thanks for share with us a little about your and Orgia Pravednikov’s history. We have one year of For those who dream. Vol. 2, the fifth Orgia’s album and the first in four years. Why so much time between the albums?
First of all excuse me for my poor english, mistakes and so on. Hope you understand me. So, about 4 years - from the one side we were very tired after Shitrock album and tour, and need a long rest. One year we did not work and did not meet. It seems to us that story of band was closed. But at last forces came back and we began a new page! From the other - we felt that we can not stay on the step , we need new ideas,new sound,new rage. It s impossible to find such things quickly. And we have no contract with label (to tell the truth, we have no lables in Russia, rock is not interesting for business here), nobody cry us :"We need new album next summer!" , and we could work (as we say in Russia) " to our own pleasure".
2. It is a sequence of For those Who Dream. Vol. 1, released in 2010. The idea of this sequence begins around the recording of Vol. 1? In a positive case, why didn’t you released it as a double album, which happens now in a special edition?
Only because in 2010 the greatest part of songs which you can hear on vol.2 were not ready. The idea of sequence came "from nowhere" at the moment, when we discussed about the name of a new album. Remember, than after I saw the name I felt that it need somathing else after the last word. And this " vol.1" jumped immediately). I told to band , and boys said, that this idea " full of drive")))
3. How are the shows and tour of For those who dream. Vol. 2 promotion?
Like said Zorg in " The 5-th Element" - "Everything you have to do by your own hands") Shows are great, we visited many towns in Russia and at last played in Kiev (Ucraine). Not so many as we want, of course, economical crysis in our country is a problem , some towns said " No" at last moment. But in whole the tour was a victory for us and fans.
4. You have in this album a song with name written in Spanish, “Flores de Muertos”. Why this homage? Is this also associated with the Mexican skulls clothes that you are dressing in the album artwork and promotion shows?
Yes. of course. You see, everythig we do - we do " like the tree grow" . When we worked at the song , an idea to use the charango ( which our guitarist bought when he had a travel to Ecuador) came to us. After I heard this sound I remembered the film of Sergey Eisenstein "Viva Mexico!" , which I saw when I was 12. I found it on youtube and we saw, that last part of film ( with "Day of Muertos") was the ready movie for the song. it was a shock. And after this, the energy of this cultural and mystical happening came to us and began to work with us, and at last became the central idea of album. Maybe for you it looks funny ( we usually lough, when somebody try to play with russian culture , it seems so ...you uderstand, I Think)).
5. Listening to For those who dream. Vol. 2, we have a greater use of strings and brass instruments, just as it was in Vol. 1. How did the idea of adding it in the band's songs come about?
From the beginning of our history we dreamed about the real "symphonic" , big sound. And step to step we go to this aim. Brasses, violines, choir... Usually bands , who use them, do it very simply. This moment you hear an orchestra, this moment - the band. We try to implant the "symphonic" instruments in a body of heavy rock sound to resive the "Rachmaninoff" effect. We are the great fans of "Muse", who do the same things.
6. Another great difference in the album in relation to its predecessors is the remarkable presence of the Elena Yurkina’ sopranos vocals, that are present also in the concerts of the band. Do you think to do an adaptation of the old songs to fit the female voices in them?
Oh, good idea, thanx!!! Really. Especially if we do "The Greatest Hits" project at last. I dream about it many years. Coz many songs from old albums can and must hears more modern and interesting!
7. One of the main ways that groups have found to promote its material is the crowfunding system. Recently, the Orgia Pravednikov has used it to financially the For those who dream. Vol. 2 record. This system was one of the most successful in the crowfunding history. Tell us a little about how was this process, how many people participate and if there is some possibilities of new projects arises to fans given new collaborations.
For us it was a real shock and present. We could not imagine, that people love us and wait new album so much! We hope to recive the point after 3 months but it happens after 2 days! And at last we had much more momey than we asked - more than twice as much as!So , can say that the system works and works well.It opens the new road for our deal. But! It s absolutelly not a way for the unknown projects. First you must be interesting for the real people.From the other side you must not be only wellknown. About 1200 people bought our lots - not so many on the first view, but they BOUGHT. Many bands, which are more popular than "Orgia" could not resived the asked sum.
8. Orgia will be turning 20 years in 2019. Is there some surprises been prepared, like a special release, a world tour or another thing to celebrate this glorious career?
World tour - roll in paper two, please, I take it!) Without jokes , it is too early to think about it. If you live in Russia, you do not know, what can happens tomorrow (and time to time - yesterday).This, apropos,is a reason, why nobody from business do not wants to bring his money in rock here. Art is a "long money". In a situation, when the rules of the game changes every 3 days, people prefere the " fast money". So,as we says here - " We ll live - We ll see")
9. Orgia is a very famous band in Russia, a country that to us, brazilian fans, still have many unknown stories. How was to build your musical knowledgement, and to create a progressive rock band in a country where the western music doesn’t had much openness?
Ohhhhhhhh.........Love - is an answer. And some type of fanatism. Think , in your state situation is not so far from. We are not a part of the WASP world , and all their toys are not for us. But we can say them "Great thanx for the inspiration !". We can take the energy of rock and mix it with our own culture - like Sepultura began to do it from Roots ( maybe from the Chaos A. D.). It s the way. All the time I knew, that rock is a best modern form for the "high culture" , for the real art. Art which can stand near Leonardo and Dante. If we look at "Doors" we see, that their sound is absolutely modern, maybe they recorded their music yesterday, on the studio, where works " Tito and Tarantula"? The real art has no age. At last it s the way to find an elixir-stone. Like says one my friend, great musician Yuri Naumow : " At our time, people of our profession looks like St. Paul - but they still think,that they looks like "Led Zeppelin". But great thanks for" Led Zeppelin", that we do the deal of St. Paul. Impossble to learn it in Church.
10. A Consultoria do Rock colleague affirm once that progressive rock in the Iron Curtain has a own characteristical from that region, adding elements of its culture that isn’t resemble the western groups of the style, be them british, Italian and other countries. What is your opinion about it, and how is the progressive rock, as well as the heavy metal and rock, at Russia and the other countries from the old URSS at this time?
I think that real great western groups are not so uniform, and post-soviet - are not so various as it can seems from the distance. If you be here you see, that 1000s bands in Russia plays absolutely same shit as mainstream groups everywhere. I do not know, for fucking what they do it. It s a kind of a role-play, I think. Progressive in the whole world is a musical sect, with it s own rules, that s why I never say, that we play progressive. We never like the game "who looks like "Dream Theater" more than others". But if you say that progressive is a synonym of "the real art" i say well. But it will means that the greatest progressive bands are not "DT" or "Camel" and so on, but Metallica, RHCHP, Queen, Sepultura, Muse and Rammstein. And if you look at this great bands you see, that they CONSIST OF their national cultures.So, the only way - is to be great. And if you be great your national culture begin to speak through your art, you want it or no.
11. Recently, the song “Nasha Rodina – SSSR” was voted number 10 of the best 500 songs of the Russian rock radio station Nashe radio. Tell us about this important prize for the band.
Oh, it s not somethig serious.Such victorys can not change your life. You will not "get up famous", TV will not call you to the morning programme, rich bosses will not ask you to signature the contract. In a country without rock-industry it s a simulacrum . Only can say great thanks to the author of the song, Dmitriy Averyanov. He is genious poet , and thank him very much for the friendship. His song is fantastic, and.... our work with it is fantastic too, I hope) .
12. Here in Consultoria, I wrote a text about a song for your first album, “The Beginning of the Century” (here is the link), to an old section called The Prog World’s Wonderfuls?
I particularly appreciate the stretch of tremolo you created for this song. Could you tell us about the history of this song, that I think is one of the masterpieces recorded by Orgia, as well as this encounter of classical music with heavy rock at the beginning of band?
Thank you very much for such clever and deep (hope in english this word meaning the same thing as in russian !We say "deep" when we want to say, that somebody understend something very well ) essay ! It was an old composition of "Artel" band ( name of the band before I took part in it). We thought that it s so well, that we can use it. I only bring in arrangement party of classcal guitar, which you like so much).The music - we mean the beginning of the 20th century and histoty of Russia. It consists from 2 themes - peace and war ( roll over, Tolstoy!)). Peace, World War 1, Revolution, Civil war...All this you can hear in our song ( if you want it, it s not important)).
13. In your second album, I admire so lot the incredible “marriage” between acoustic guitar and flutes within the heavy guitars, drums and bass, which is exalted main in your third album, like the beautiful song, "Yellow River. Rain over the Great River". Was Outgoing Sun the album that consolidated the Orgia’s sound with their fans?
Yes, many of fans think, that it was our best album. We do not think so, but....
14. For those who isn’t used to listening the Orgia’s songs, maybe the main characteristical are the Russian language in all songs. Why do you chose to not following the Standard English language in your songs?
Because I am a russian poet... I never can use english so well as my own language. Impossible to win Olympic Games on the 3-wheels children bike. I can learn english more well, but it s not all. I can see all the movies and animations from which consists american or british childhood, read all the books, but it gives me not far from nothing. I never know what stands behind and under the words in english language! But Work of poet is a playing with this streams of mental connections. Smells, intonations, ground, winds, sounds...It s the material for the poetry. And I think that language can not be the problem for the music. We hear rock in Russia without understanding texts - and music tell us all. If you want to uderstand more - welcome to the dictionary.But the voice can tell more than words. I hear My Chemical Romance or Serge Tankyan and i see - this man knows, what he say. OK, later I look at the text, but now i will only hear. And its absolutely bullshit that you must sing in english to be imteresting for the world. Look at Rammstein in Mexico! Thousands of mexican fans sings german together with Til!
15. The group is also notable between the fans for making all albums available for free on their official website. What are the main advantages, commercially speaking, to open your songs for fans? Its somehow reflects on the number of albums sales?
On the moment bodily album became a remembrance. People buy it not for hear. And in Russia you have million ways to find music in net wihout paying. So , who want pay - pay. Who not...We think that better he will hear our music in normal quality than stole it in dangerous mp3 with small bitrate.
16. Speaking about your musical training, I am a great fan of your passages in the classical guitar. What are your main musical influences to play and to compose?
Yuri Naumov. http://naumov.rock-club.org/ . He play absolutely different way than me , but his music changed me and teached me.
17. And what about Andres Segovia, John Williams, Julian Bream and Kazuhito Yamashita, what is your opinion about the art of this classical guitar monsters?
They are great! But they didn't know, how to play on their guitars in a heavy-metal band...
18. You have some albums in solo career. Do you think to release an album only with classical guitar pieces?
All my music we use in the group work, ant to tell truth I m not sure that it will be so interesting alone. There are million of classical gutarists in this world, I do not want to be 1000001.
19. Groups like Scorpions, Black Sabbath, Iron Maiden and other have been made shows at Russia in last years. Does Orgia had the opportunities to open some show of these big bands, as wells as to made a show beyond the Russian borders?
In a well-known russian comedy-film one of heroes say " I have a desire to buy a car, but i have no possibility. I have a possibility to buy a goat, but I have no desire". On the moment we can buy only the goat!
20. I’m listening the Orgia’s songs since 2006, when I read a release from our friend Diego Camargo at the Progshine website. What is your opinion about these sites like Progshine, Consultoria, and other without business purposes, made only to fans express their music passion?
Our band lives only because people like you and Diego , in Russia or Brasilia do this work. It s not a flattery, trust me.
21. How the brazilian fans that love to search songs beyond the traditional bands can be informed by new bands advinded from Russia?
I can recommend http://music-directory.kroogi.com/?locale=ru and zvuki.ru
22. Is there some possibilities to see an Orgia’s show here in Brazil or South America?
I can answer like I do it to our fans in Russia, or Ukrain, or Israel, or Germany - it depends on you, friends! Do you remember Zorg?!!! We can not simply buy the tickets, sit in a plane and - Hello, Brasilia! We are here! But if somebody REALLY WANT to see us and to show us to your people - he will find the way to do it! We are open to all ideas. And for us to play show in South America - is a dream!
23. What are the expectations of Orgia Pravednikov to 2017, as well as yours?
Nothing original for a rock-band with own studio! Work.Work.Work.
24. Tell us a funny history involving a show, a record session or another special moment about you or the group.
On our site orgia.ru will be available soon a documental film about recording of the last album. It will consist of such moments, wait a little!
25. Please, leave a message to Orgia’s fans here in Brazil, and thank you very much for your attention.
Dear fans, we can not belive, that on the other side of the world lives people, who understand us and like our music! Welcome to https://vk.com/orgia_pravednikov and https://www.facebook.com/orgia.fan/ , we will be glad to see all of you, and speak with you! And maybe before the finish of this Universe we play concert in your country! But if not - do not be sad, Eternity, where we all meet, wait us!

Русское интервью
* Версии на португальском и английском языках до
Consultoria do Rock Сегодня приземлился в Москве, а дальние русские земли представляет интервью с лидером основатель, гитарист и вокалист группы Оргия Праведников. Очень дружелюбный и внимательный, Сергей ударил длинный чат, где на последнем альбоме записей, для тех, кто мечтает Vol. 2, выпущенный в прошлом году, с участием успешный проект Crowdfunding, прогулки по истории группы от их первого альбома, рассказывает о звуковых изменениях, что группа пострадавших в почти 20-летней карьеры, рассказывает о своей личной жизни и многое другое. Я очень ценю Сергея за его симпатии, и я надеюсь, вам понравится еще одно эксклюзивное интервью для нашего сайта.
1. Дорогой Сергей, прежде всего, спасибо за то, что поделились с нами немного о своей и истории Оргии Праведников. У нас есть год Для тех, кто видит сны Vol. 2, пятый альбом Orgia и первый за четыре года. Почему так много времени между альбомами?
Прежде всего, извините меня за мой плохой английский, ошибки и так далее. Надеюсь, вы меня поняли) Итак, около 4 лет - с одной стороны мы очень устали после альбома и тура «Shitrock» и нуждаемся в длительном отдыхе. Один год мы не работали и не встречались. Нам кажется, что история группы была закрыта. Но, наконец, силы вернулись, и мы начали новую страницу). С другой - мы чувствовали, что не можем оставаться на этом шаге, нам нужны новые идеи, новый звук, новая ярость. Невозможно быстро найти такие вещи. И у нас нет контракта с лейблом (по правде говоря, у нас в России нет лейблов, рок не интересен для бизнеса), никто не кричит: «Нам нужен новый альбом следующим летом!» , И мы могли бы работать (как мы говорим в России) «по собственному усмотрению».
2. Это последовательность Для тех, кто видит сны, выпущенный в 2010 году. Идея этой последовательности начинается вокруг записи Vol. 1 & 2; В положительном случае, почему вы не выпустили его в виде двойного альбома, что происходит сейчас в специальном выпуске?
Только потому, что в 2010 году большая часть песен, которые вы можете услышать на втором томе, не была готова). Идея последовательности возникла «из ниоткуда» в тот момент, когда мы обсуждали название нового альбома. Помните, чем после того, как я увидел это имя, я почувствовал, что ему нужно сойти еще после последнего слова. И этот «vol. 1» сразу прыгнул). Я сказал группе, и мальчики сказали, что эта идея «полна драйва»)))
3. Как проходят шоу и гастроли по Европе, в том числе и вокальные. 2 продвижение?
Как сказал Зорг в «5-м элементе» - «Все, что вы должны сделать своими руками») Шоу великолепно, мы побывали во многих городах России и, наконец, играли в Киеве (Украина). Не так много, как мы хотим, конечно, экономический кризис в нашей стране является проблемой, некоторые города в последний момент сказали «Нет». Но в целом тур стал победой для нас и болельщиков.
4. У вас есть в этом альбоме песня с названием, написанным на испанском языке «Flores de Muertos». Почему это почтение? Это также связано с одеждой мексиканских черепов, которую вы одеваете в обложку альбома и рекламные шоу?
Да. конечно. Вы видите, все, что мы делаем - мы делаем «как дерево растет». Когда мы работали над этой песней, к нам обратилась идея использовать чарганго (который наш гитарист купил, когда он ездил в Эквадор). После того, как я услышал этот звук, я вспомнил фильм Сергея Эйзенштейна «Вива Мексика!». , Который я увидел, когда мне было 12 лет. Я нашел его на youtube, и мы увидели, что последняя часть фильма (с «Day of Muertos») была готовым фильмом для песни. Это был шок. И после этого энергия этого культурного и мистического события пришла к нам и начала работать с нами, и, наконец, стала центральной идеей альбома. Может быть, для вас это выглядит забавно (обычно мы лукавим, когда кто-то пытается поиграть с русской культурой, кажется так ... вы удержите, я думаю)).
5. Прослушивание Для тех, кто видит сны Vol. 2, у нас есть большее использование струн и медных инструментов, так же, как это было в Vol. 1. Как возникла идея добавить его в песни группы?
С самого начала нашей истории мы мечтали о реальном «симфоническом», большом звучании. И шаг к шагу мы идем к этой цели. Металлы, скрипки, хор ... Обычно группы, которые их используют, делают это очень просто. В этот момент вы услышите оркестр, этот момент - группу. Мы пытаемся внедрить «симфонические» инструменты в тело тяжелого рокового звука, чтобы выровнять эффект «Рахманинова». Мы великие поклонники «Muse», которые делают то же самое.
6. Еще одно большое различие в альбоме по отношению к его предшественникам - замечательное присутствие вокальных партий сопрано Елены Юркиной, которые присутствуют также на концертах группы. Вы будете адаптировать старые песни с женскими голосами в них??
О, хорошая идея, спасибо))) Реально. Специально, если мы наконец сделаем проект «The Great Hits». Я об этом мечтаю много лет. Потому что многие песни из старых альбомов могут и должны слышать более современные и интересные!
7. Одним из основных способов, которые группы нашли для продвижения своих материалов, является система наживы. Недавно Oргия Праведников использовал его в финансовом отношении, в том числе в Vol. 2 запись. Эта система была одной из самых успешных в истории заемных средств. Расскажите нам немного о том, как этот процесс, сколько людей участвуют и есть ли какие-то возможности для новых проектов, возникает у поклонников, которым дается новое сотрудничество.
Для нас это был настоящий шок и настоящее. Мы не могли себе представить, что люди любят нас и так много ждут нового альбома! Мы надеемся получить точку после 3 месяцев, но это произойдет через 2 дня! И, наконец, у нас было намного больше мумии, чем мы просили - более чем в два раза! Так что можно сказать, что система работает и работает хорошо. Она открывает новый путь для нашей сделки. Но! Это совершенно не путь для неизвестных проектов. Сначала вы должны быть интересны для реальных людей. С другой стороны вы не должны быть только хорошо известны. Около 1200 человек купили наши лоты - не так много на первый взгляд, но они купили. Многие группы, которые более популярны, чем «Oргия», не смогли выжать запрошенную сумму.
8. Oргия в 2019 году исполнится 20 лет. Готовились ли какие-то сюрпризы, например, специальный релиз, мировое турне или что-то еще, чтобы отпраздновать эту славную карьеру?
Мировое турне - бросьте бумагу два, пожалуйста, я понимаю!) Без шуток пока еще рано об этом думать. Если вы живете в России, вы не знаете, что может произойти завтра (и время от времени - вчера). Это, кстати, причина, почему никто из бизнеса не хочет приносить свои деньги в рок здесь. Искусство - это «длинные деньги». В ситуации, когда правила игры меняются каждые 3 дня, люди предпочитают «быстрые деньги». Итак, как мы говорим здесь - «Мы будем жить - увидим»)
9. Oргия - очень известная группа в России, страна, которая для нас, бразильских фанатов, все еще имеет много неизвестных историй. Как вам удалось создать свое музыкальное знание и создать прогрессивную рок-группу в стране, где западная музыка не имела большой открытости?
Ohhhhhhhh ......... Любовь - это ответ. И некоторый тип фанатизма. Подумайте, в вашем государстве ситуация не так далека от. Мы не являемся частью мира WASP, и все их игрушки не для нас. Но мы можем сказать им «Великое спасибо за вдохновение!». Мы можем взять энергию рок и смешать ее с нашей собственной культурой - как Sepultura начал делать это с «Roots» (может быть, из «Chaos AD»). Это так. Все это время я знал, что рок - это лучшая современная форма для «высокой культуры», для настоящего искусства. Искусство, которое может стоять рядом с Леонардо и Данте. Если мы посмотрим на «Двери», мы увидим, что их звучание абсолютно современно, возможно, они записали свою музыку вчера, на студии, где работают «Тито и Тарантула»? Настоящее искусство не имеет возраста. Наконец-то это способ найти эликсир-камень. Lke говорит, что мой друг, великий музыкант Юрий Наумоу: «В наше время люди нашей профессии выглядят как St.Paul, но они все еще думают, что они похожи на« Led Zeppelin ». Но большое спасибо за« Led Zeppelin », Мы делаем сделку Святого Павла. Невозможно узнать это в Церкви.
10. Один из коллег из колледжа Consultoria do Rock подтверждает, что у прогрессивного рока в «железном занавесе» есть свой характерный характер из этого региона, добавив элементы своей культуры, которые не похожи на западные группы стиля, будь то британские, итальянские или другие страны. Как вы относитесь к этому, и как прогрессивный рок, а также хэви метал и рок в России и других странах из старой СССР в это время?
 Я думаю, что настоящие великие западные группы не столь однородны, и постсоветское - не так уж и разнообразны, как это может показаться издалека. Если вы здесь, вы видите, что 1000-ые группы в России играют абсолютно такое же дерьмо, что и мейнстримные группы во всем мире. Я не знаю, для траха, что они делают. Я думаю, это своего рода ролевая игра. Прогрессивная во всем мире музыкальная секта, с ее собственными правилами, поэтому я никогда не говорю, что мы играем прогрессивную. Нам никогда не нравилась игра «кто больше похож на« Театр мечты »больше, чем другие». Но если вы скажете, что прогрессив - синоним «настоящего искусства», я говорю хорошо. Но это будет означать, что величайшие прогрессивные группы не являются «DT» или «Camel» и так далее, но Metallica, RHCHP, Queen, Sepultura, Muse и Rammstein. И если вы посмотрите на эти великие группы, вы увидите, что они СОСТАВЛЯЮТ из их национальных культур. Итак, единственный способ - это быть большим. И если вы великолепен, ваша национальная культура начинает говорить через ваше искусство, вы хотите этого или нет.
11. Недавно песня «Наша Родина - СССР» была признана № 10 из 500 лучших песен российской рок-радиостанции «Наше радио». Расскажите нам об этом важном призе для группы.
 О, это не серьезно. Такие победы не могут изменить вашу жизнь. Вы не станете «прославлять», телевизор не позвонит вам по утренней программе, богатые боссы не будут просить вас подписывать контракт. В стране без рок-индустрии это симулякр. Только могу сказать большое спасибо автору песни, Дмитрию Аверьяну.
11. Недавно песня «Наша Родина - СССР» была признана № 10 из 500 лучших песен российской рок-радиостанции «Наше радио». Расскажите нам об этом важном призе для группы.
 О, это не серьезно. Такие победы не могут изменить вашу жизнь. Вы не станете «прославлять», телевизор не позвонит вам по утренней программе, богатые боссы не будут просить вас подписывать контракт. В стране без рок-индустрии это симулякр. Только могу сказать огромное спасибо автору песни Дмитрию Аверьянову. Он гениальный поэт и очень благодарен ему за дружбу. Его песня фантастическая, и ... я надеюсь, наша работа с ней тоже фантастическая).
12. Здесь, в Consultoria do Rock, я написал текст о песне для вашего первого альбома, «Начало века» (здесь ссылка), к старому разделу под названием «Чудеса Мира Прог Мира»?
Я особенно ценю тот тремоло, который вы создали для этой песни. Не могли бы вы рассказать об истории этой песни, которая, я думаю, является одним из шедевров, записанных Oргия, а также эта встреча классической музыки с тяжелым роком в начале группы?
Большое спасибо за такой умный и глубокий (на английском надеюсь, что это слово означает то же, что и на русском! Мы говорим «глубоко», когда хотим сказать, что кто-то что-то очень хорошо понимает) эссе! Это был старый состав группы «Артель» (название группы до того, как я принял в ней участие). Мы думали, что это так хорошо, что мы можем им воспользоваться. Я привожу только партию аранжировки классической гитары, которую вы так любите). Музыка - это начало XX века и история России. Он состоит из 2 тем - мира и войны (переверните, Толстой!)). Мир, Первая мировая война, Революция, Гражданская война ... Все это вы можете услышать в нашей песне (если вы этого хотите, это не важно)).
13. На втором диске, я восхищаюсь удивительный "свадьба" между гитарой и флейт с тяжелой гитары, бас и барабаны, который возвышенным прежде всего на третьем альбоме, как красивая дорожка "Желтая река. Дождь над рекой Великой ". Исходящий Солнце альбом, который консолидировал звук оргию со своими поклонниками?
Многие поклонники считают, что это был наш лучший альбом. Мы так не считаем, но ....
14. Для тех, кто не привык слушать песни Orgia, возможно, основным характерным является русский язык во всех песнях. Почему вы решили не следовать стандартному английскому языку в своих песнях?
Потому как Я русский поэт))) Я никогда не умею так хорошо владеть английским языком, как мой родной язык. Невозможно выиграть Олимпийские игры на трехколесном велосипеде для детей. Я могу лучше выучить английский, но это еще не все. Я могу видеть все фильмы и анимации, из которых состоит американское или британское детство, читать все книги, но это дает мне недалеко от ничего. Я никогда не знаю, что стоит сзади и под словами на английском языке! Но работа поэта - это игра с этими потоками умственных связей. Запахи, интонации, земля, ветры, звуки ... Это материал для поэзии. И я думаю, что язык не может быть проблемой для музыки. Мы слышим рок в России без понимания текстов - и музыка рассказывает нам обо всех. Если вы хотите больше удернуть - добро пожаловать в словарь. Но голос может сказать больше, чем слова. Я слышу Мой Химический Романс или Сержа Танкяна, и я вижу - этот человек знает, что он говорит. ОК, позже я смотрю на текст, но теперь я буду только слышать. И это абсолютно ерунда, что вы должны петь на английском, чтобы быть интересным для всего мира. Посмотрите на Rammstein в Мексике! Тысячи мексиканских фанатов поют немецкий вместе с Til!
15. Группа также примечательна тем, что поклонники делают все альбомы доступными бесплатно на их официальном сайте. Каковы основные преимущества, коммерчески говорящие, открывать ваши песни для поклонников? Каким-то образом это отражается на количестве продаж альбомов?
 На данный момент телесный альбом стал воспоминанием. Люди покупают его не для того, чтобы его слушать. И в России у вас есть миллион способов найти музыку в сети без оплаты. Итак, кто хочет платить - платить. Кто не ... Мы думаем, что лучше он услышит нашу музыку в нормальном качестве, чем украл ее в опасном mp3 с небольшим битрейтом.
16. Говоря о вашем музыкальном обучении, я большой поклонник ваших пассажей на классической гитаре. Каковы ваши основные музыкальные влияния, чтобы играть и сочинять?
  Юрий Наумов. Http://naumov.rock-club.org/. Он играет совершенно по-другому, чем я, но его музыка изменила меня и научила меня.
17. А как насчет Андреса Сеговии, Джона Уильямса, Джулиана Брефа и Казухито Ямашиты, каково ваше мнение об искусстве классических гитарных монстров?
 Они великолепны! Но они не знали, как играть на своих гитарах в хэви-метал группе))))
18. У вас есть несколько альбомов в сольной карьере. Вы думаете выпустить альбом только с классическими гитарными партиями?
  Вся моя музыка, которую мы используем в работе группы, муравей, чтобы сказать правду, я не уверен, что это будет так интересно в одиночку. В этом мире миллионы классических гутаристов, я не хочу быть 1000001.
19. Группы, такие как Scorpions, Black Sabbath, Iron Maiden и другие, были сделаны в России в последние годы. Имеет ли Orgia возможность открыть шоу этих больших групп, а также сделать шоу за пределами России?
 В известном российском комедийном фильме один из героев говорит: «У меня есть желание купить машину, но у меня нет возможности. У меня есть возможность купить козу, но у меня нет желания». На данный момент мы можем купить только козу)
20. Я слушаю песни Orgia с 2006 года, когда я прочитал выпуск нашего друга Диего Камарго на сайте Progshine. Каково ваше мнение об этих сайтах, таких как Progshine, Consultoria и других без коммерческих целей, сделанных только для поклонников, выражающих свою музыкальную страсть?
 Наша группа живет только потому, что такие люди, как ты и Диего, в России или Бразилии делают эту работу. Это не лесть, поверьте мне.
21. Как бразильские фанаты, которые любят искать песни за пределами традиционных групп, могут быть оповещены новыми группами из России?
  Я могу порекомендовать http://music-directory.kroogi.com/?locale=ru и звуки.ru
22. Есть ли возможность увидеть шоу Orgia здесь, в Бразилии или Южной Америке?
  Я могу ответить так же, как это делают наши фанаты в России, Украине, Израиле или Германии - это зависит от вас, друзья! Ты помнишь Зорга?))) Мы не можем просто купить билеты, посидеть в самолете и ... Привет, Бразилиа! Мы здесь! Но если кто-то ДЕЙСТВИТЕЛЬНО ХОТЕТ увидеть нас и показать нам своих людей - он найдет способ сделать это) Мы открыты для всех идей. А для нас, чтобы сыграть шоу в Южной Америке - это мечта)
23. Каковы ожидания Оргии Праведников до 2017 года, как и ваши?
 Ничего оригинального для рок-группы со своей собственной студией) Работа. Работа.Работа.
24. Расскажите нам забавную историю, связанную с шоу, записью или другим особым моментом о вас или группе.
На нашем сайте orgia.ru скоро будет доступен документальный фильм о записи последнего альбома. Он будет состоять из таких моментов, подождите немного)
25. Пожалуйста, оставьте сообщение поклонникам Orgia здесь, в Бразилии, и большое спасибо за внимание.
  Дорогие фанаты, мы не можем верить, что на другом конце света живут люди, которые понимают нас и любят нашу музыку! Добро пожаловать на https://vk.com/orgia_pravednikov и https://www.facebook.com/orgia.fan/, мы будем рады видеть всех вас и поговорить с вами! И, может быть, до финиша этой Вселенной мы играем концерт в вашей стране! Но если нет - не печалься, Вечность, где мы все встречаемся, жди нас!

sábado, 11 de março de 2017

Melhores de Todos os Tempos - Aqueles que Faltaram: por Bernardo Brum

O jovem Caetano Veloso

Por Bernardo Brum

Com Alexandre Teixeira Pontes, André Kaminski, Christiano Almeida, Davi Pascale, Fernando Bueno, Flavio Pontes, Mairon Machado, Ronaldo Rodrigues e Ulisses Macedo


Não deixe esta seleção te enganar: ela passa longe de ser definitiva. Ela é o resumo de um apanhado de mais de 30 discos cuja ausência senti. Quando havia passado dos 20, o coração já tinha começado a pesar. Mas amo com força cada um desses dez discos – muitos deles foram primeiros ou segundos lugares em listas minhas, e vê-los de fora foi tipo ver o time perder um gol, com o perdão da metáfora cretina. Ainda que esses “acertos” e “erros” sejam altamente subjetivos, foi uma dádiva que os editores da Consultoria tivessem essa ideia para que façamos nossa própria justiça ao invés de reclamar. Então, pois bem, em ordem cronológica, aí vão meus dez escolhidos e os respectivos comentários.

The Stooges - Fun House (1970)
Bernardo: Se The Stooges (1969), gravado em Nova York e produzido por John Cale (Velvet Undergroud), privilegiava a experimentação, a atmosfera de microfonia, a repetição estilística e a postura vanguardista tentando parecer meio The Doors e meio Velvet Undeground, Fun House foi gravado em Los Angeles e produzido por Don Gallucci, tecladista da banda de garage rock Kingsmen (do clássico "Louie, Louie"), e com a adição na banda do saxofonista de jazz Steve MacKay. O resultado da “californização” dos Patetas é a banda no volume máximo, mais livre do que nunca em um disco de fúria demencial que ainda soa completamente despirocado. Canções como “Down on the Street”, “T.V. Eye” e “1970” mostram a banda completamente imersa em atonalidade, improvisação e distorção. Um dos discos mais excessivos da mais excessiva das épocas.
Alexandre: Guitarras mal gravadas, com efeito de “delay curto” irritante, vocal (mal) gritado, baixo e bateria que qualquer iniciante com pouquíssimos meses de instrumento e um mínimo de talento poderia reproduzir. Quando Iggy Pop não está berrando, parece Jim Morrison, e isso não é um elogio. Há de se discernir energia e atitude de barulheira. Energia e atitude podem conter musicalidade, o que eu não encontrei aqui. E ao pesquisar a história do álbum e até o seu legado, entendi que o errado era eu. “Dez milhões” de artistas citam este disco como um de seus preferidos. Nenhum desses artistas (entre eles Joey Ramone e Jack White) tem alguma relevância fundamental para mim. As harmonias de guitarras (não o solo propriamente) no fim de "Dirt" salvam a monotonia que permeia o álbum todo. E é só. O que é aquele saxofone em "1970 (I Feel Alright)"? O que é aquele final do disco? O lado B é literalmente intragável. Se o errado era eu, continuo sendo.
André: Vai ser um pouco difícil comentar os discos do Bernardo pelo fato de termos gostos completamente diferentes (e acredito que ele sentirá a mesma coisa quando ouvir os meus). Felizmente, ele recomendou o Stooges, banda que, apesar de não ter ouvido muita coisa, possui o meu respeito devido à sua influência e inspiração para tantas outras. Fun House é um disco curto, tem uma pegada garageira bacana e uma levada jazzística bem legal. A canção da qual mais gostei foi a título, "Fun House", em que o naipe de metais se destaca junto àquela pegada rock 'n' roll típica dos anos 1960. Pena que o vocal de Iggy Pop não ajuda muito a eu apreciar mais a obra.
Christiano: Mesmo não tendo muita familiaridade com o punk rock, tenho que admitir que estamos diante de um clássico. Um disco seminal para o desenvolvimento do estilo. Lançado em 1970, Fun House é mais uma prova do grande ecletismo que caracterizava as bandas daquela época, sendo até meio difícil encontrar um rótulo para o som dos Stooges. Ao mesmo tempo em que percebemos elementos de hard rock e rock 'n' roll, um certo clima de psicodelia dá as caras em algumas músicas. Um bom exemplo disso é “Dirt”. Por outro lado, a sujeira de faixas como “Loose” e “1970” mostra que algo até então inclassificável estava sendo apresentado por esses jovens rapazes de Michigan. Ótima escolha.
Davi: Confesso que o debut do Stooges é o meu preferido deles, mas Fun House é um disco bacana. Pesado, com bastante atitude e inovador. O arranjo mais cadenciado e viajado de “Dirt” é muito bacana. A ideia de adicionar sax ao som da banda, que pode ser conferido em faixas como “1970”, é genial, já a bagunça sonora de “L.A. Blues” poderia ter sido limada. Destaque para o trabalho vocal do sempre endiabrado Iggy Pop e para o trabalho de guitarra de Ron Asheton. Faixa preferida: “Down on the Street”.
Diogo: Não soubesse antecipadamente, mesmo assim não seria difícil adivinhar que os Stooges são crias de Detroit e suas vizinhanças. Por mais que cada grupo tivesse suas diferenças, a crueza e o peso de suas composições, além de uma atmosfera evidentemente urbana, eram ponto de intersecção entre grupos como MC5, Grand Funk Railroad, Alice Cooper (egressos do Arizona, bem sei disso) e Stooges. Com um som muito baseado em riffs de guitarra, a banda desenvolve suas músicas ao redor do trabalho de Ron Asheton, algo bem evidente na maior parte do tracklist, especialmente em "Down on the Street", grande destaque. Quando resolve dar uma "viajada", o grupo também se sai bem, vide a ótima "Dirt", que traduz a psicodelia para um mundo cinza de chaminés de indústrias e laranja e vermelho vivo das caldeiras (tal qual sua capa) que derretiam o metal que dava vida a toda essa cena, distante do bucolismo idealista californiano. Fun House é um produto de sua época e de sua região, mas fez e continua fazendo sentido para muita gente ao redor do mundo.
Fernando: Em algum período no meio da faculdade eu conheci Syd Barret e fiquei maluco. O interesse por Iggy Pop e Lou Reed veio nessa época também. Porém, por mais que eu os achasse divertidos, não conseguia curtir tanto esses dois últimos. Assim, o interesse pelas carreiras regressas dos músicos quase nunca passou pelos meus ouvidos. Ouvir Stooges agora me parece algo legal para animar um bar, um pub inglês ou uma reunião de amigos, mas não creio que seria o ideal para ouvir em casa sozinho. Algumas coisas remetem aos Rolling Stones, como em “Loose”, por exemplo, mas, no geral, é o tal garage rock em sua essência.
Flavio: O disco começa de forma interessante com "Down in the Street", um rock básico bem marcado, privilegiando o vocal rasgado de Iggy Pop.  No momento do solo a coisa dá uma complicada, quando já se percebe que a guitarra não vai ajudar muito. Daí pra frente não vejo muita novidade: apesar de relevar a qualidade do som gravado, limitado em função do ano de lançamento, o grupo soa muitas vezes com uma banda de garagem, em um ensaio despretensioso. Alguns berros exagerados aqui e ali, a bateria apenas na base da animação. O baixo cumprindo o papel mais básico possivel e as guitarras por vezes dando até "tiro pra fora". A melhor música talvez seja a quarta, "Dirt", um pouco mais psicodélica e só. Não há dúvidas de que em 1970 tivemos coisas bem melhores que isso.
Mairon: Os Stooges foram precursores do punk rock e revelaram ao mundo a identidade maluca de Iggy Pop. O segundo álbum não é tão bom quanto o primeiro (que poderia ter sido lembrado para a edição dedicada a 1969), mas ainda assim é uma bela de uma pancadinha nos joelhos. Sempre é legal ouvir e sacudir a cabeleira (hoje não mais existente) durante "Loose" e a faixa-título, bem como os chapantes solos de guitarra em "Down on the Street" e o andamento arrastado de "Dirt". Fico pensando o que se passava na mente dessas quatro criaturas quando criaram este disco. Para eles, viva a existência de insanidades do porte de "T.V. Eye", "1970 (I Feel Alright)" e "L.A. Blues", sendo que, nas duas últimas, o saxofone de Steve Mackay e os gritos de Iggy são muito doentios. Poderia ter entrado pelo menos no lugar de Déjà Vu (Crosby, Stills, Nash & Young). Baita lembrança, Bernardo.
Ronaldo: Quase todas as bandas de proto-punk são melhores que as bandas punk propriamente ditas. E o motivo é que, na época, ainda era necessário tocar razoavelmente bem para convencer a plateia. É o caso do Stooges. Todos os elementos do rock raivoso que infestaria a segunda metade dos anos 1970 estavam já ali cristalizados e mais bem acabados do que a obra de todos os discípulos dos Stooges juntos. Rock possante e rasgante, visceral e louco, como o bom rock praticado em 1970.
Ulisses: Uma cacetada caótica na forma de um blues rock garageiro contorcido e de variada intensidade, em que Iggy Pop se resume a balbuciar e gritar redundantemente. É mais divertido do que parece, ainda mais por causa da guitarra faiscante de Ron Asheton e da bizarra presença do saxofone. O disco tem um clima de loucura que abarca o ouvinte de primeira e funciona muito bem.

The Kinks - Lola Versus Powerman and the Moneygoround, Part One (1970)
Bernardo: É com este álbum conceitual carregado do melhor senso de sátira inglês que os Kinks e particularmente Ray Davies conseguiram unir toda sua proficiência melódica e toda sua ambição conceitual em um disco que tem algumas das melhores linhas melódicas já compostas pelo grupo (como nas baladas “Strangers, “Get Back in the Line” e “This Time Tomorrow”), mas o grande destaque é, obviamente, o peso cadenciado de “Lola”, uma música romântica de um homem que se vê apaixonado por uma mulher transexual. Começando leve e bem humorada, a música vai ganhando power chords e vocalizações emocionais com uma evolução natural e um cuidado tão esmerado que o resultado não poderia ser diferente: um clássico instantâneo e hino do rock setentista.
Alexandre: É evidente que os estilos musicais de preferência do Bernardo e o meu são bem díspares. Desta maneira, antes de tudo é um grande aprendizado passear por esta lista, talvez mais do que de vários outros consultores. Assim, optei por não fazer considerações acerca de que este ou outro determinado disco poderia ou não estar na lista final, pois provavelmente seriam pouquíssimos os citados. Melhor fazer uma análise pura e simples. Nesse propósito, gostei do que ouvi, em especial do uso de instrumentos como violões do tipo National Steel, banjos, timbres de teclados mais tradicionais e pianos. A sonoridade e a atmosfera do rock dos do fim dos anos 1960 e primeira metade dos anos 1970 está latente e é bem vinda. E é até surpreendente, pois associava a banda a um estilo mais antigo, já que o pouquíssimo que conhecia deles vinha de regravações cover (em especial "You Really Got Me", em versão matadora do Van Halen). Bons vocais, backings, bom instrumental, nada fora do lugar. Um álbum que hoje em dia pode soar um tanto genérico, apesar do cuidado em ter letras voltadas a um mesmo conceito (críticas à indústria fonográfica), mas é agradável. Destaco as faixas "Get Back in Line", "Powerman" e, especialmente, "Got to Be Free".
André: Vejo muita gente louvando este disco, mas confesso que o considero apenas um bom álbum do Kinks. Sim, eu sinto saudades dessa época, mas acho que o Kinks já tinha dado o seu melhor entre três e cinco anos antes deste disco ser lançado. Tem lá boas sacadas de teclado, como em "Top of the Pops", mas já me soa como um disco de banda veterana fazendo apenas álbuns sem aquela gana do iniciante. Ou fazendo músicas mais piadinhas, como "The Moneygoround". Sim, eu sei que alguns podem me malhar nos comentários, mas me perdoem e pensem "ele não sabe o que faz".
Christiano: Mais um grande disco lançado em 1970. Para o ouvinte desavisado, Lola Versus Powerman... pode parecer uma colcha de retalhos, tamanha a variedade de estilos explorados pela banda. Na verdade, este álbum é um ótimo exemplo da passagem dos anos 1960 para a década posterior. “Get Back In Line”, por exemplo, traz um clima que pode lembrar nomes como The Beach Boys. “Rats”, por sua vez, tem uma pegada mais próxima do hard rock setentista. Como o The Kinks era uma banda muito acima da média, esse ecletismo tem como resultado um álbum musicalmente muito rico, que cresce a cada nova audição. Definitivamente, indispensável.
Davi: Ótima lembrança. Gosto muito do Kinks e este LP é realmente um clássico. Em termos de sonoridade, ele mistura as guitarras do hard rock com o violão do folk. A faixa de abertura, “The Contenders”, mostra bem essa mistura. Quem gostava daquela sonoridade mais suja dos britânicos, como em “You Really Got Me” ou “All Day and All of the Night“, se identificará com “Top of the Pops”, “Rats” e “Poweman”. Entre os momentos mais “calmos”, também temos ótimas faixas como “Get Back in Line”, “This Time Tomorrow” e o clássico “Lola”.
Diogo: Os Kinks pertencem àquele grupo de bandas britânicas que não morreram (criativamente ou encerraram atividades) no fim dos anos 1960, fazendo uma boa transição para a década seguinte, mostrando crescimento, perspicácia e ambição, sem abrir mão do típico senso de humor. A banda escreve a sério sem se levar tão a sério, resultando em muito boas canções, como "Lola" e "Top of the Pops", que brincam na temática e na interpretação, mas mostram esmero instrumental e conquistam pelo ouvido. Dave Davies tem a chance de brilhar com sua voz na pesada "Rats" (hard setentista pra ninguém botar defeito) e em "Strangers", balada que encontra par em "Get Back in Line" e mostra a variedade do álbum, que ainda assim soa homogêneo em sonoridade e qualidade. Destaco ainda as duas canções que encerram o disco, "Powerman" e "Got to Be Free". Não posso dizer que morro de amores pelos Kinks, mas a banda acertou a mão em Lola... e fez por merecer o espaço.
Fernando: Não conheço o Kinks da forma que eles merecem. Sei que a partir de Face to Face (1966) até este aqui está o crème de la crème do grupo, mas eu sempre fiquei mesmo no disco de 1969, Arthur (Or the Decline and Fall of the British Empire). Toda vez que me dá vontade de ouvir a banda, é nele que eu vou. Sei que é um pouco de comodismo da minha parte, mas é a verdade. Tentarei me redimir. Aos mais sabidos aí, me respondam: não encontrei uma segunda parte: ela existe ou não? Deve haver alguma história por trás disso.
Flavio: Ao ouvir outro disco do mesmo ano, mesmo entendendo que a proposta é totalmente diferente, vejo uma produção um pouco melhor que a de Fun House. Há presença de banjos, pianos, vocais dobrados em um western rock 'n' roll que agrada em boa parte da bolacha. O vocal cumpre bem o papel antenado com o estilo. Gostei de "Denmark Street", "Got to Be Free" e quase todas desceram bem. A apontar como negativo, um momento ou outro um pouco mais lento, como em "Strangers", soando enfadonho. Apesar de não surpreender, Lola... é um disco agradável sem ser um destaque do ano e merecer aparecer por aqui.
Mairon: Conheço pouco de Kinks e sempre ouvi falar bem deste álbum conceitual. Foi-me surpreendente o que ouvi, principalmente pelas melhores faixas, com a harmônica e o piano destacando-se em "The Contenders", as guitarras hardonas e os vocais gritados de "Rats", "Powerman" e "Top of the Pops" (as melhores do disco), a linda "A Long Way From Home", que poderia estar facilmente em Beggars Banquet (The Rolling Stones, 1968) e aquele delicioso órgão de "Get Back in Line". Ainda temos a sutil "Strangers", o bom arranjo vocal da veloz "This Time Tomorrow", também com uma ótima participação do órgão, e a clássica "Lola", faixa que com certeza você já deve ter ouvido alguma vez na vida, bem como as inspirações country de "Got to Be Free" e "Denmark Street". Esqueça as piadas "Apeman" e "The Moneygoround", nada acrescentam ao disco. O ano de 1970 foi bem concorrido, mas apesar de a lista ter permitido a entrada de dois discos que não aprecio tanto assim (Déjà Vu e All Things Must Pass, este último de George Harrison), não sei se Lola conseguiria um lugar.
Ronaldo: Creio que os Kinks foram uma espécie de The Who do segundo escalão, pois fizeram a mesma migração do som mod adolescente para uma maturidade musical construída em cima de histórias conceituais. E também com o mesmo senso aguçado para criar músicas grudentas e com poucas firulas. Neste caso, as batidas de violão e os acompanhamentos de piano dão um tom mid-tempo a todo o trabalho, que não é eloquente por esbanjar decibéis, mas sim por se gastar em melodias detalhadamente esculpidas.
Ulisses: Bem tocado, bem produzido, com boa variação de sonoridade e que flerta com vários outros gêneros, sendo bastante sólido e consistente do começo ao fim. Não é lá uma audição impressionante, mas a predileção da banda por arranjos espertos e agradáveis a faz descer suficientemente bem.

Caetano Veloso - Transa (1972)
Bernardo: Cercado por alguns dos melhores músicos do Brasil à época – Jards Macalé, Tutti Moreno, Moacyr Albuquerque e Auréo de Sousa – o Caetano de Transa faz, segundo ele mesmo, seu primeiro disco de grupo, gravado durante seu exílio em Londres e apresentando o auge da sua maturidade artística. A Tropicália aqui recebe os habituais banhos de rock psicodélico e samba, mas dessa vez de maneira bem mais introspectiva, como reparamos no confessional reggae “Nine Out of Ten”, nos nove minutos de “Triste Bahia”, que vai do lamento acapella ao delírio percussivo, e na abertura provocante, “You Don’t Know Me”. Em um álbum no qual inglês e português competem espaço, a regravação do samba “Mora na Filosofia” faz uma ponte entre gerações e transforma o samba de desilusão romântica de Monsueto Menezes em um semi-rock que provoca todo o establishment político-social brasileiro sem mudar uma letra da música. Ainda soa tremendamente rebelde. Transa é o verdadeiro disco rock and roll de Caetano, através do qual ele perdeu os próprios limites e virou artista do mundo, artista de música, sem bandeira, sem gênero.
Alexandre: Em minha opinião, e eu realmente não sei se o considero o melhor álbum de Caetano, apesar de ser praticamente uma unanimidade entre a crítica, mas dentro desta lista ele sobra, e fácil. Gosto bastante das faixas conhecidas dos álbuns da volta de Veloso ao Brasil, nos anos 1970, mas tenho certa dificuldade de ouvir seus discos na íntegra. O que mais me chamou atenção neste trabalho, e não sei se isso é algo subjetivo e muito da minha interpretação, mas me pareceu que a saudade do Brasil (e da Bahia, talvez mais especificamente em "Triste Bahia") transbordou dos sentimentos do cantor para o vinil. A mistura entre os idiomas inglês e português durante várias faixas e a citação explícita aos elementos de suas raízes brasileiras corroboram essa interpretação. O disco vai muito bem até a quinta faixa, "Mora na Filosofia", que aparece em uma regravação emocionante e com belo arranjo por Caetano e banda. As primeiras faixas compostas majoritariamente em inglês ("You Don’t Know Me", "Nine out of Ten" e "It’s a Long Way") também me agradaram. O final neolítico do álbum passou um pouco do ponto pra mim.
André: Sempre acharei Caetano Veloso um porre. E agora é um porre cantando em inglês. Mas como metaleiro acéfalo, aceito que me enviem o link dele lá me chamando de burro.
Christiano: Escutar este disco foi um exercício curioso. Não suporto Caetano Veloso, mas tive boa vontade para tentar esquecer minha resistência. Musicalmente, é interessante. Tem uma banda muito boa e composições bem inventivas. O grande problema, pra mim, é a voz de Caetano, que azeda as músicas em dois idiomas, mostrando que o cara é chato por essência. Mesmo assim, não tem como ignorar faixas como “It’s A Long Way” e “You Don’t Know Me”, dois dos melhores momentos do disco.
Davi: Caetano é, sem dúvida, um dos melhores letristas/compositores do Brasil. Apesar de não concordar com algumas de suas posições, sou um admirador de sua obra. São poucos os erros (tudo bem que alguns graves, como o torturante Araçá Azul, de 1973) e muitos acertos. Transa é um belo álbum, criado no período em que o músico ainda vivia seu exilio em Londres. Ele mistura inglês com português, sonoridade inglesa com brasileira, citações de Beatles e Edu Lobo. Não esperava vê-lo nesta série e fiquei feliz com sua menção. Faixas preferidas: “You Don't Know Me”, “Triste Bahia” e “It's a Long Way”.
Diogo: Mais que um cantor, músico e compositor, Caetano tornou-se um personagem da cultura nacional. É difícil ignorá-lo, seja em sua música, suas declarações e posições políticas. Talvez esse primeiro item seja, atualmente, o menos comentado pelo grande público. Da minha parte, nunca me dei ao trabalho de explorar sua carreira (esta é a primeira vez que escuto um álbum seu na íntegra), mas o que ouvi até hoje não me causa rejeição, algo que poderia ocorrer considerando meu background. Minha simpatia por sua valorização da norma culta já era um bom começo, que ficou ainda melhor ao dar play na canção que abre Transa, "You Don't Know Me", mesclando português e inglês de uma maneira que eu gostaria de ver mais gente fazendo (com qualidade, por favor) e soando difícil de rotular. Além dela, "Triste Bahia", "It's a Long Way" e "Mora na Filosofia" mostram não apenas Caetano, mas uma banda no caminho certo rumo a uma música brasileira de compreensão universal.
Fernando: O início do disco, com Caetano cantando em tons mais baixos, nem parece o baiano, mas quando ele eleva os tons vem aquele timbre de sua voz com o qual estamos acostumados. Acredito que tenha sido gravado durante ou logo após seu exílio na Inglaterra, explicando as letras se revezando do português para o inglês. Algo que nunca li foi sobre esse período que ele esteve na Inglaterra. A única coisa que me lembro dessa fase é “London London” porque eu a conheci pelo RPM. O que tenho curiosidade é saber se ele teve uma carreira real lá, se chegou a tocar, qual a recepção que teve dos ingleses, etc. Sobre o disco: ouvi sem problemas, mas não é para mim.
Flavio: Como quase qualquer brasileiro, conheço parte do repertório e da carreira de Caetano, e pelo período suponho que aqui esteja uma parte importante da fase internacional do cantor, pois, com o exílio, surgiram as canções londrino-brasileiras. Deixo claro que essa "mistureba" deve fazer sentido para uma "galera", inclusive o Bernardo, pela escolha como um disco esquecido. Bom, sinto dizer que pra mim não agrada. Não gosto do efeito da mistura, nem da pronúncia de Caetano, então, apesar de curto, o disco desceu "a fórceps". Vou salvar com muita boa vontade a brasileira "Mora na Filosofia" e olhe lá.
Mairon: Este álbum foi eleito aqui na Consultoria como um dos dez melhores discos brasileiros da década de 1970. Sofrendo do "Uol Host Incident", o comentário que fiz naquela feita foi perdido, então vamos comentar novamente. Gravado praticamente todo em uma mistura de frases em inglês e português, é um dos últimos grandes discos de Caetano, e com uma banda afiadíssima, na qual Jards Macalé só não faz chover com a guitarra. É um disco sensacional, trazendo o embalo suingado de "Nine Out of Ten" e "It's a Long Way", um show de mistura de inglês e português por Caetano, a psicodelia alucinante de Araçá Azul já começando a dar o ar da graça em “Neolithic Man” e o blues sutil, curtinho, mas encantador de "Nostalgia (That's What Rock 'n' Roll Is All About)", com a participação de Gal Costa. Falando nela, destaque principalmente para a linda "You Don't Know Me", com participação da cantora (que também vivia uma fase sensacional) e citações a "Reza", e a perfeita “Triste Bahia”, misturando elementos do candomblé e da capoeira com o rock e o samba em um crescendo de deixar sem fôlego, que foi eleita por Caetano a melhor música do LP, o que não é mero exagero de pai coruja. Porém, para mim, “Mora na Filosofia” é a melhor do disco, também com um crescendo fantástico, saindo de uma dolorida balada para uma empolgante levada, com aquele som peculiar da bateria brasileira dos anos 1970 e uma interpretação magnífica de Caetano. Uma baita lembrança do Bernardo, mas em uma lista que teve Yes, Sabbath, Purple, Bowie, Stones, Jethro Tull, Gentle Giant, Captain Beyond, Neil Young e Stevie Wonder, a concorrência era muito difícil. Mas caberia bem no lugar de Harvest e Talking Book, pelo menos para meu gosto.
Ronaldo: O sumo mais refinado da musicalidade e do lirismo de Caetano Veloso. Suas transições inglês-português e sua salada miscigenada de estilos são os principais charmes dessa transa.
Ulisses: Música bilíngue e multicultural que entrelaça MPB, bossa nova, rock, reggae e baião. A audição é interessante não só por trazer uma musicalidade rica e extensa, mas também porque sua execução é precisa e criativa; "Triste Bahia", com seu jeitão de roda de capoeira, mas trazendo um instrumental cuidadoso e arrasador por trás, é o melhor exemplo disso. Boa indicação.

Bob Dylan - Blood on the Tracks (1975)
Bernardo: Quem não tem um fraco por discos confessionais? Só sei que eu tenho. Ainda que Dylan negue que os escreva e que tenha ironizado em entrevistas de rádio que pessoas gostavam do disco por “gostar desse tipo de dor”, a fase inspirada do artista – o segundo momento iluminado da sua carreira, que recuperava o momento revolucionário entre The Freewheelin’ Bob Dylan (1963) e John Wesley Harding (1967) – estava de volta, que ainda renderia a obra-prima Desire (1976). Menos bem cuidado e mais sangue nos olhos que seu sucessor, Blood on the Tracks exorciza demônios pessoais de Dylan através de música – seja no lamento de “Tangled Up in Blue”, a raiva épica e um tom acima, cheio de versos cortantes de “Idiot Wind” (“nós somos idiotas, querida/é um mistério que ainda saibamos nos alimentar”) e nas mais suaves “Shelter From the Storm” e “You’re Gonna Make Me Lonesome When You Go”. Para muitos, pode soar um tanto homogêneo; para mim, é um artista no auge da sua sensibilidade nos convidando para uma jornada sem volta pelos lados mais escuros, feios e frágeis de seu coração.
Alexandre: Nunca fui um grande admirador de Bob Dylan, apesar de reconhecer seu mérito indiscutível como compositor. Ainda assim, a tendência era que eu desaprovasse o álbum. No entanto, posso atestar que Blood on the Tracks até soou bem em boa parte, embora não tenha propriamente me entusiasmado. O disco é tido como o crème de la crème, um dos “masterpieces” do compositor, mas para mim o grande mérito dele é não abusar dos tons altos e anasalados e ter poucos momentos de gaita, dos quais eu normalmente não gosto. Destaco "Idiot Wind" e "Tangled Up in Blue". "Simple Twist of Fate" tem a mais bonita harmonia do álbum, poderia ter menos gaita. Os belos timbres de violão durante todo o disco também me agradaram bastante.
André: Este é um belo disco de Dylan. Folk delicioso, espontâneo, de uma qualidade ímpar. Vai dizer que "Tangled Up in Blue" não é uma das melhores canções que ele gravou na carreira? O cara faz chover com um violão na mão. O menino Bernardo mandou muito bem aqui.
Christiano: Sempre achei que Bob Dylan é letra demais e música de menos, mas esse não é o caso de Blood on the Tracks, um disco que traz coisas tão bonitas como “You’re a Big Girl Now”, “Tangled Up in Blue” e “Buckets of Rain”. É inegável que um ar melancólico percorre boa parte das faixas, o que, neste caso, torna o álbum ainda mais belo.
Davi: Bob Dylan é sempre genial. Acredito que este talvez seja o álbum mais confessional de sua carreira. As letras deixam claro o momento turbulento pelo qual passava a relação com sua esposa, Sara. O próprio Jakob Dylan (líder do Wallflowers e filho do cantor) já afirmou publicamente que, quando ouve este LP, a imagem que vem à sua mente é a de seus pais. As gaitas dos tempos de The Freewheelin' Bob Dylan voltam a aparecer em faixas como “You're Gonna Make Me Lonesome When You Go” e “Lily, Rosemary and the Jack of Hearts”. Depois de ter realizado vários álbuns apoderado de sua guitarra, como o antecessor Planet Waves (1974), Dylan volta a explorar os violões nos arranjos. Faixas como “Tangled Up in Blue”, “You're a Big Girl Now” e “Meet Me in the Morning” destacam-se durante a audição.
Diogo: Entre todos os álbuns aqui mencionados pelo Bernardo, Blood on the Tracks é o único que incluí em listas minhas. Após o quase perfeito período de 1963 a 1969, seguido por alguns discos de qualidade bem abaixo da média, ele significou uma retomada em alto estilo, desfilando composições intensas que pouco ou quase nada devem para os melhores momentos de Highway 61 Revisited (1965) e Blonde on Blonde (1966), suas obras máximas. Não me importa se ele viveu ou não as emoções representadas em suas canções, o que importa é que a autenticidade é inquestionável. A vontade que tenho é de empilhar destaque sobre destaque, pois a sequência de ótimas faixas vai quase do início ao fim do álbum, sendo "Meet Me in the Morning" a única quebra mais evidente. As quatro primeiras tiram o fôlego por completo, enquanto o country de "Lily, Rosemary and the Jack of Hearts" termina de derrubar o cidadão. Sei que Bob Dylan recebeu um bom espaço em nossa série, especialmente em suas primeiras edições, mas a citação a Blood on the Tracks é justa. Gosto um pouco mais dele do que de Desire, que também citei e deu as caras na lista dedicada a 1976.
Fernando: Bob Dylan é um daqueles artistas que me faz ter vontade de aprimorar meu inglês. Consigo me comunicar, ler e me viro bem quando viajo, mas entender poesia ou mesmo absorver literatura ainda não consigo completamente. Falo isso porque sua música é simples, basicamente voz e violão, com a adição eventual de algumas camadas de outros instrumentos, e é totalmente focada na mensagem que ele está passado. Quando a mensagem é recebida de forma truncada, acredito que perdemos muito do ato de ouvi-la.
Flavio: Vou (novamente) "ir contra a maré" aqui e me expor ao "linchamento público" ao dizer que nunca entendi essa idolatria a Bob Dylan. Tá, ele foi um grande representante do movimento da contracultura, em defesa dos mais fracos e da filosofia paz e amor da virada dos anos 1960/70, e há algumas boas composições na sua carreira, principalmente no aspecto lírico, mas pra mim é só. Não conseguiria montar um boa coletânea de 60 minutos do artista. Ao me depararar com este álbum de 1975, além de manter tudo exposto, ainda o vejo como dono de um som datado até para a época, já carente de outro panorama. Particularmente, soam bem desagradáveis as inserções de gaita e vocal, em alguns momentos até semitonando. Enfim, daqui não vou destacar nada e mantenho minha posição de afastamento em relação ao repertório do cantor. Passo!
Mairon: Cara, quando ouvi Blood on the Tracks pela primeira vez, através de um amigo meu fã de Dylan, ele me avisou: "Preste atenção nas harmonias instrumentais e nas letras". Bom, isso é o básico para se ouvir Dylan, mas em especial aqui está o fato de que ele está despejando todo o seu sentimento por conta da separação de sua esposa Sara. Sendo assim, as letras assumem um teor pessoal tão dolorido que fica difícil pensar como ele conseguiu gravá-las sem chorar. Claro, ele sempre afirmou que o disco não tem nada a ver com sua vida pessoal, mas essa lenda irá perdurar para sempre, principalmente ao ouvirmos joias tão lindas como "Simple Twist of Fate", "Idiot Wind" e a mais clássica do disco, "Shelter From the Storm". Dylan solta a voz no longo country de "Lily, Rosemary and the Jack of Hearts" e ainda se dá ao luxo de voltar aos tempos de trovador solitário em "You're Gonna Make Me Lonesome When You Go", em que a nostalgia come solta. Como não se maravilhar com "Buckets of Rain", "Tangled Up in Blue", as linhas bluesy de "Meet Me in the Morning" e segurar a emoção no dedilhado de violão da tocante "You're a Big Girl Now" e na doloridíssima "If You See Her, Say Hello". Tinha certeza que este disco entraria na edição dedicada a 1975, por isso tirei-o na última hora para que entrasse Wish You Were Here (Pink Floyd) na minha lista. E não é que Dylan ficou de fora? Entraria fácil no lugar de Bruce Springsteen e de Neil Young, quiçá até do Rainbow. Um dos melhores discos do norte-americano prêmio Nobel de literatura, essencial para qualquer pessoa que goste de música em geral.
Ronaldo: Um feliz casamento entre letra e música. As férias forçadas que Bob Dylan teve no início dos anos 1970 lhe fizeram um bem danado. Sua música voltou oxigenada com um novo lirismo e seu violão encontra-se cada vez mais particularizado e posto em um quadro sonoro caprichado. Só ouço acertos em Blood on the Tracks.
Ulisses: Musicalmente, Bob Dylan nunca me disse nada, é apenas razoavelmente agradável de se ouvir, e não é Blood on the Tracks que vai mudar isso. Liricamente, a história sempre é diferente com o bardo: a prosa é bastante pessoal e vívida, detalhando turbulências de relacionamentos e separações. Acompanhando as ótimas letras e sabendo a história por trás de seu casamento, a audição fica bem mais apreciável.

Jorge Ben - África Brasil (1976)
Bernardo: Jorge Ben é um titã da música brasileira. Do nível de Chico, Caetano, Tim Maia, você nomeie. Aprimorando seu inimitável “samba soul” disco a disco, África Brasil tem o título perfeito: une a sonoridade tradicional africana com o caldeirão brasileiro de maneira impressionante, no que a crítica chamou de um disco de “samba rock”, cheio de guitarras vigorosas mas também cheio de percussões pesadas, viradas impressionantes e de chacoalhar a alma e um baixo que ronca como um trovão. “Ponta de Lança Africano (Umbabarauma)” é daquelas entradas que chegam derrubando tudo e te mostra em alguns segundos a razão de ser um clássico instantâneo, os clássicos “Taj Mahal” e “Xica da Silva” embalaram gerações em sua celebração da história além-Ocidente, e ainda tem outras pérolas como “Hermes Trimegisto Escreveu”, “Meus Filhos, Meu Tesouro” e a autorregravação furiosa de “África Brasil (Zumbi)”, que já havia aparecido mais suave em A Tábua de Esmeralda (1974), encerrando o álbum com o peso de mil hard rocks e heavy metals que penam para igualar a intensidade da sessão rítmica de Jorge. Rei é rei, né, mores?
Alexandre: Os discos brasileiros desta lista estão entre os que mais me agradam. Não tenho uma (salve) simpatia absoluta pelo estilo proposto por Jorge Ben, mas o álbum passou bem durante as várias vezes que o pus pra tocar enquanto pretendia analisá-lo. O cantor está muito bem acompanhado de músicos como Marcio Montarroyos, Dadi e José Roberto Bertrami, por exemplo, que estiveram em bandas como A Cor do Som e Azymuth. É um senhor predicado, sem dúvida, pois o instrumental é de qualidade, sem qualquer questionamento. Dentro desse instrumental, Ben vai divagando acerca de suas viagens entre reinados africanos e partidas de futebol. Em alguns momentos, a viagem me parece além da compreensão, mas o álbum entrega várias faixas conhecidas até para o menos informado sobre a carreira do músico, entre elas "Xica da Silva", "Ponta de Lança Africano (Umbabarauma)", algumas regravações, como "Taj Mahal" e "O Camisa 10 da Gávea", a minha favorita, já que sou rubro-negro confesso e feliz acompanhador da melhor fase do Flamengo e do seu maior ídolo, Zico. O disco é tido e conceituado por ser pioneiro em trazer algo da black music, do soul e, principalmente, o tal samba rock em sua essência, e pela troca do violão pela guitarra pelo próprio Jorge, trazendo mais suingue para um som recheado de elementos percussivos. A questão do uso da guitarra (sutilmente temperada com alguns efeitos, como o phaser – acredito que seja o Phase 90 da MXR) não é o que mais me chama atenção, e, apesar de perceber que isto serviu para modernizar a sonoridade à época, prefiro entender o uso do instrumento como um coadjuvante entre os demais elementos da mistura na busca do estilo pretendido.
André: É, definitivamente, este é um dos caras que realmente conseguiu misturar samba e rock e criar discos no mínimo interessantes, mesmo que não goste do estilo dele. Não me é marcante, mas dá para curtir uns grooves legais como em "Ponta de Lança Africano (Umbabarauma)" e a clássica e conhecida "Taj Mahal" (pena que tem cuíca, eu realmente não gosto de cuíca).
Christiano: Acho Jorge Ben um cara menosprezado. Talvez isso aconteça por conta dos rumos que sua carreira tomou já no fim dos anos 1970. África Brasil é uma amostra do quão original um artista pode ser: já nos primeiros segundos da primeira faixa, “Ponta de Lança Africano”, é possível identificar um tipo de sonoridade muito própria cunhada pelo futuro Sr. Benjor. É aquela história de assinatura musical muito particular. Ao longo do disco, o que temos é um desfile de ótimas músicas, com um clima meio despojado, brincalhão e original. Destaque para “Xica da Silva” e “Hermes Trismegisto Escreveu”, grandes momentos deste grande álbum que, ao lado de Força Bruta (1970)está entre os meus preferidos da carreira do grande Jorge.
Davi: Clássico da música brasileira e um marco na carreira de Jorge Ben. Foi a partir daqui que ele abandonou de vez os violões, assumindo a guitarra como seu principal instrumento. Fundiu a música negra brasileira com a música negra norte-americana. Ou seja, mistura seu samba rock com funk e soul, criando uma sonoridade cativante. O LP apresenta alguns hits, como “Ponta de Lança Africano (Umbabarauma)”, que os mais jovens vão conhecer pelo Soulfly, e “Taj Mahal”. Outros momentos marcantes ficam por conta de “Meus Filhos, Meu Tesouro” e “Xica da Silva”.
Diogo: A presença de Tábua de Esmeralda na edição dedicada a 1974 foi uma das maiores (e mais desnecessárias) polêmicas desde que a série teve início, se não a maior de todas. Pergunto-me, caso este álbum desse as caras duas edições depois, e Tábua de Esmeralda nunca houvesse aparecido, qual seria a reação. Particularmente, considero África Brasil um disco superior, mais gostoso de ouvir, com um trabalho de baixo, bateria e percussão mais envolvente. Apesar da inegável brasilidade do trabalho, Jorge promove uma fusão muito natural da música negra brasileira com a norte-americana e, não fossem instrumentos tipicamente nossos trabalhando forte na percussão, seria muito fácil encaixar suas bases em pancadões soul/funk lançados pelas gravadoras Stax e Motown. As letras são dotadas de um lirismo todo particular, que pode soar estranho a muita gente, mas que eu curto. Respeito Jorge por ter criado um estilo próprio não apenas em sua música, mas em suas letras também. Pouca gente consegue fazer isso.
Fernando: Quando as músicas ficam apenas nas partes instrumentais me lembra o funk setentista, mas basta as vozes aparecerem para me desanimar com o som. Não gosto da interpretação de Jorge Ben, essa “malandragem” que ele passa na voz não me agrada.
Flavio: Jorge Ben em talvez o seu álbum de maior sucesso, com pelo menos quatro músicas clássicas, se não me engano. Eu, que me lembro vagamente da época no Brasil, recordo-me de seu sucesso. Foi uma experiência interessante reouvir o disco, com olhar mais criterioso, anos depois. Ouvir os sucessos "Xica da Silva" e a homenagem ao craque Zico, em "Camisa 10 da Gávea", foi agradavelmente nostálgico. Percebe-se claramente a influência soul (na época um sucesso importado dos EUA) no samba rock de Ben. O disco soa leve com os tons irônicos, folclóricos e futebolísticos das letras. Não dá para ficar alheio à importância da bolacha e encontrar boas qualidades nas composições. Boa produção, com bastante presença de elementos percussivos, como cuíca, chocalhos, surdos, apitos, além da guitarra elétrica quase sempre com função de base, e poucos solos aqui e ali, acertada para o estilo, com a procura pop que trouxe maior sucesso para a carreira de Jorge. Como não gosto de Ramones nem de Bob Dylan, o encaixaria tranquilamente na edição da série dedicada a 1976, mas vejo outros que o substituiriam tranquilamente nesse ano, inclusive o Judas Priest, com Sad Wings of Destiny, sugerido pelo Ulisses.
Mairon: Jorge Ben ter entrado na lista abordando 1974 foi um dos maiores absurdos da série. Já em 1976, com África Brasil, o brasileiro não figurou entre os dez mais, até porque, como eu disse na edição dedicada ao Ulisses, 1976 foi um baita ano. África Brasil me foi mais simpático que A Tábua de Esmeralda logo de cara, pois começa com a sensacional "Ponta de Lança Africano (Umbabarauma)", uma das melhores canções da carreira de Jorge Ben, com vocalizações femininas e um embalo sensacional. As outras canções clássicas, "Taj Mahal", "Xica da Silva" e "África Brasil (Zumbi)", também soam muito agradáveis. Agora, o grande mérito de África Brasil é a banda que está acompanhando Jorge Ben. A metaleira em "Hermes Trismegisto Escreveu" e "A História de Jorge" (essa ainda com uma baita tecladeira) é de primeira, e a cozinha Dadi Carvalho (baixo) e Gustavo Schroeter (bateria) faz misérias nos ritmos suingados, criando um groove contagiante do que podia ser um belo disco, além de Dadi ser o centro das atenções na agitadérrima "Cavaleiro do Cavalo Imaculado". Mas daí veio a choradeira desafinada de "O Filósofo", "Meus Filhos, Meu Tesouro" e, putz, só a cozinha mesmo se salvou, pois isso me traz as piores lembranças de A Tábua de Esmeralda. A cuíca na simpática "O Plebeu" e na homenagem a Zico em "Camisa 10 da Gávea" também não me soou nada bem. Não entraria na edição dedicada a 1976 nem a pau, nem na lista de melhores brazucas da década de 1970.
Ronaldo: Este disco é como se fosse Jorge Ben saindo do campo de grama para o futebol de salão. Seu swing ficou ainda mais acentuado na guitarra elétrica, embalando seus contos hilários. Um discaço caricaturalmente brasileiro em tudo – no balanço, nos arranjos, na temática. Golaço com as camisas rubro-negra-tricolor-alvinegra-cruz-maltina.
Ulisses: Conheço bem pouco da música de Jorge Ben (além de África Brasil, só ouvi Tábua de Esmeralda e Samba Esquema Novo, de 1963), mas o som desse cara sempre me pareceu algo bem curioso e inventivo, e tão divertido quanto inovador. Não sei como anda o som dele atualmente, mas África Brasil segue provocando impressões positivas, ainda, quatro décadas depois, com seu samba rock que traz, de bandeja, funk e psicodelia.

Talking Heads - Remain in Light (1980)
Bernardo: Mistura de punk com afrobeat, de jazz com disco, de rap com fluxo de consciência, Remain in Light é a prova que “geração perdida” é o escambau quando se fala de década de 1980, pois é quando os Talking Heads lançaram sua obra-prima, um discos mais ambiciosos do pop e do rock em geral, desconstruindo concepções básicas de rock, dando independência a instrumentos, criando ritmos inacreditáveis, um bate-estaca tão envolvente quanto imprevisível, como dá pra ouvir nos dois hinos do disco “Born Under Punches (And the Heat Goes On…)” e “Once in a Lifetime”.
Alexandre: Bem, a New Wave me passou longe nos anos 1980, absorto que eu estava naquela catarse de grupos de hard rock e metal que invadiram e arregaçaram o Rock in Rio de 1985. Curioso a ser forçado aqui a ouvir mais do estilo New Wave, esperava algo mais calcado no gênero em si, mas foi colocar o disco pra tocar e perceber uma mistureba embrionária de world music, cheia de atabaques africanos e sons eletrônicos, com um vocal chato às vezes falado, às vezes com linhas vocais até interessantes, mas que se repetem demais. Confesso, eu estava entregando o jogo... Aí vieram dois solos de guitarra (em especial o segundo) na faixa "The Great Curve" com um timbre “animal” e muito fora da curva. Saí da letargia e fui ver quem era esse guitarrista, pois ele lembrava Adrian Belew. Triste a constatação, pois era o próprio, convidado da banda. Ou seja, do grupo em si eu não gostei de muita coisa. É como eu já citei, algumas linhas vocais, por exemplo em "Crosseyed and Painless", mergulhadas nessa world music sem muita variação de acordes durante as canções. A banda, recheada de convidados (em especial o próprio Belew), cresce bastante durante as apresentações ao vivo da turnê subsequente, mas como a análise é sobre o álbum em si, eu vou contabilizar mais contras que prós. No entanto, a proposição por tentar entender os caminhos que o grupo percorreu até chegar a este Remain in Light me deixa em aberto a possibilidade de fazer uma pesquisa mais apurada sobre a totalidade de sua obra.
André: Uma daquelas bandas ditas como "inclassificáveis", visto a variedade de estilos que usam. Tem quem goste (e são muitos), mas não é para mim. Mas gostei da faixa "The Great Curve", que possui uma melodia de baixo, bateria e teclado bem carismática.
Christiano: Depois de escutar este disco, senti-me um E.T. Tanta gente elogia o Talking Heads, destacando a importância da banda, de David Byrne etc. Mas eu só achei chato. Foi uma tortura ter que escutar até o fim. Tudo bem que é um troço diferente, meio experimental, mas é chato de doer, sem pé nem cabeça, repetitivo. Não entendi.
Davi: Banda extremamente cultuada, mas na qual nunca consegui ver muita graça. O álbum com o qual sou mais familiarizado deles é Talking Heads: 77 (1977), já tive que tocar “Psycho Killer” na noite, e também tenho em casa um ao vivo chamado The Name of this Band Is Talking Heads (1982). Ouvi o disco e, mais uma vez, não foi algo que tenha me tocado profundamente. Bem produzido, bem tocado, mas as composições são bem chatinhas. “Crosseyed and Painless” é a melhor do disco, na minha opinião.
Diogo: Deste álbum, conhecia apenas o quase sucesso "Once in a Lifetime", que é uma música inteligente, imprevisível, magnífica e curiosamente memorável. Escutei o restante do disco e nenhuma delas me soou tão bem quanto ela, mas a impressão geral foi boa. Como fã do King Crimson de Discipline, lançado dois anos depois, fica evidente a inspiração que Robert Fripp encontrou no Talking Heads, um sinal de grandeza que poucos músicos com sua bagagem se dão ao luxo de demonstrar. As canções baseiam-se bastante na repetição de determinados temas, mas isso felizmente não as torna enfadonhas, pois o grupo sabe trabalhar muito bem os arranjos e as melodias (e as não-melodias) vocais sobre esses temas. Não é o tipo de som que pretendo escutar com grande frequência, mas me estimulou a conhecer melhor a carreira do Talking Heads. Consiste, sem dúvida, em uma indicação muito superior e mais importante que outras que deram as caras na série em se tratando na nossa popular "cota alternativa".
Fernando: Muita gente considera o Talking Heads uma daquelas bandas "one hit wonder" por conta de “Psycho Killer”, que TODAS as bandas covers de TODOS os bares tocam. Conheço algumas pessoas que gostam do grupo e sei que a música citada nem sempre é considerada entre as melhoras deles, mas quase nada além dela me agradou. Ouvi o disco todo esperando mudar de ideia, mas é isso mesmo.
Flavio: Um disco revolucionário para a época, com destaque absoluto do guitarrista Adrian Belew, que, pelo que vi, nem era da banda, sendo portanto um convidado. O uso de repetições de segmentos, frases musicais, predomina na bolacha toda, determinando o início do estilo eletrônico, que é prenchido com bastante percussão, em estilo tipicamente africano. Não sou fã do timbre de David Byrne, apesar de entender a influência do seu trabalho no Talking Heads naquilo que viria depois, como o eletrônico e todos os seus afiliados. Podem ser destacados os bons vocais dobrados e a produção, que acerta em cheio o objetivo de fazer um álbum inovador. Não destaco música em especial: em geral não é um disco que me agrada, já que o estilo não é o meu predileto. Ficou a referência do trabalho para a entrada de Adrian Belew no King Crimson, o que por si só já é um ponto positivo.
Mairon: Assim como o The Police, o Talking Heads é outra banda que não consigo curtir. David Byrne é um cara genial, disso não duvido, mas as músicas da banda são muito "experimentais" para minha cabeça. Neste caso, o grupo parece estar fazendo um embrião do que veio a ser o King Crimson meses depois, até porque a presença do malucaço Adrian Belew nas guitarras junto da loucura magnífica de Brian Eno é a união da fome com a vontade de comer. Soma-se a isso toda a capacidade criativa de Byrne e temos um disco muito diferente do usual. Instrumentos africanos perambulam aqui e acolá, batidas ritmadas para ficar na mente da criatura, mas falta algo que me dê um tesão na audição. É muita repetição de frases na mesma música, o ritmo não muda, sei lá, não consegui achar nada de bom aqui. Em um bom dia, acho que apreciaria somente "The Overload", por conta da sua soturnice. Portanto, sem chances de entrar na lista dedicada a 1980.
Ronaldo: Uma espécie de pop irreverente que se tornou muito influente no pós-punk e New Wave, mas que, assim como quase 100% do estilo, carece de um pouco mais de imaginação. Quase todas as músicas do disco parecem apostar todas suas fichas em um único e pequeno fragmento musical, repetindo-o infinitas vezes. As canções terminam exatamente como começam e apenas a voz consegue trazer algo que te faça achar graça. Destaque para a faixa "Once in a Lifetime"; ainda que apoiada sobre a mesma premissa do restante do disco, o faz com bons ganchos.
Ulisses: Não vou negar que o som New Wave do álbum, banhado em ritmos africanos e funk, é deveras chamativo em um primeiro momento. Porém, no decorrer da audição, ficou bastante claro que, embora apresente uma boa diversidade de ritmos e climas, Remain in Light não possui quilate para ser algo mais que um registro interessante de experimentação sonora.

The Jesus and Mary Chain - Psychocandy (1985)
Bernardo: Uma muralha intransponível de ruídos. Muitos mencionarão isso como um defeito, mas, para ser sincero, minha alma sofre um novo abalo sempre que ouço “Just Like Honey”, “The Living End”, “The Hardest Walk”, “My Little Underground” e tento entender como eles fizeram essa mescla de pop onírico com atmosfera perturbadora; enquanto o melhor do noise/shoegaze cerca nossos ouvidos, Jim Reid sussurra de maneira quase sessentista, quase como se The Jesus and Mary Chain fosse a bad trip dos Beatles e dos Beach Boys, sendo românticos em uma terra de pesadelo. Disco com o peso de um sussurro e a leveza de uma bigorna.
Alexandre: Bem, como eu só conhecia a banda de nome, fui “providenciar” o álbum e achei que havia errado de arquivo, porque o que estava ouvindo era uma fita demo gravada no estúdio caseiro daqui de perto. E gravado em 1985, ou até antes, porque hoje nem o estúdio caseiro grava algo com um som tão tosco como esse. Tentei outras fontes, a barulheira continuava. Ou seja, era isso mesmo, era esse o arquivo sim... “Holy mother of reverbering vocals!!!!”, diria o menino prodígio para o homem-morcego. Mas a primeira música ainda não era o pior em qualidade de som. Quando começou a segunda faixa, com o apropriado nome "The Living End", saíram os guitarristas, entraram um bom punhado de apiários e um sem-número de enxame de abelhas que ficaram até o fim do álbum. Como se não bastasse, o produtor declarou guerra às frequências graves e resolveu deixá-las de fora do álbum, fazendo com que o baixista, cujo nome atende por Douglas Hart, tivesse de promover uma rebelião para que pelo menos os seus timbres pudessem dar as caras por aqui. É seu o melhor (?) momento do álbum, lá pra perto dos dois minutos da faixa "The Hardest Walk", em que as abelhas ficaram no “mute” e da bateria restou o bumbo. Pena que são apenas cerca de dez segundos. De resto, foi puro sofrimento em 39 minutos intermináveis. Pior disco da lista.
André: Sem chance, acho essa banda e esse estilo vocal de rock alternativo enfadonhos. Mais sussurro do que canto. Eles pelo menos têm o mérito de possuir um pouco mais de energia, a exemplo de "Cut Dead", mas me dou o direito de desgostar mesmo de bandas consagradas e consideradas importantes quando se trata de um estilo que me desagrada.
Christiano: The Jesus and Mary Chain é uma banda bem esquisita e Psychocandy (1985) é indicado por muitos como um dos melhores momentos de sua carreira. Não é um tipo de som muito fácil de ser assimilado, por conta do uso excessivo de recursos como microfonia e barulhos meio caóticos, mas era uma proposta bem inovadora para a época. Além disso, as composições são boas, têm um clima interessantemente claustrofóbico. Acho que a banda é um tipo de versão suja do The Church, só para citar uma fonte de comparação, e isso é bom.
Davi: Lembro-me de ver alguns vídeos deles nos anos 1980 e também no início dos anos 1990, sem que nunca me chamassem atenção. Escutei o disco e realmente não me cativou. Influência latente de Joy Division e Velvet Underground. Dois artistas dos quais nunca gostei. Definitivamente, não é minha cara. Sem momentos de destaque para mim.
Diogo: Os caras pegaram aquilo de que menos gosto na psicodelia californiana sessentista e adicionaram um mar de microfonia e um oceano de ambiência tipicamente oitentista. Muito difícil gostar disso. Ouvir música é como degustar um prato de comida: não adianta desafiar o convencional e tentar criar algo original se o resultado não apetecer, seja ao paladar ou à audição. A mim, Psychocandy não apeteceu. Há boas melodias cá e lá, a proposta é inovadora e bem executada, mas não há nada que me faça querer ouvir o álbum novamente, pelo menos a curto e médio prazo. É uma peça importante para entender alguns rumos que a música tomaria algum tempo depois, mas, assim, como um artefato bélico em um museu, é melhor que permaneça como uma memória do que seja novamente colocado na ativa.
Fernando: Depois do grunge e de aprender as origens do movimento da cidade de Seattle, busquei conhecer os precursores do chamado rock alternativo. Encontrei Pixies, Sonic Youth, The Jesus and Mary Chain, entre outros. Porém, eu nunca consegui gostar deles como gostava de Nirvana, Pearl Jam, Soundgarden etc. “Just Like Honey” tem uma sonoridade etérea que engana no começo e, a partir de “The Living End”, a barulheira causada pela distorção saturada começa e chega no seu auge em “You Trip Me Up”. Serviço de utilidade pública: não ouçam com fone de ouvidos! 
Flavio: Bom, aqui a coisa desanda: o The Jesus and Mary Chain faz um disco por vezes muito lento, com um vocal sussurante, com aquela guitarrinha limpa bem "basicona", ou às vezes puxada para o punk, com o uso de um timbre de overdrive insuportável. O resto da banda compõe sem melhorar o panorama. O desepero foi aumentando quando vi que haveria quinze músicas, e o alívio quando acabava cada uma era maior. Não posso destacar nada aqui. Desculpe-me, Bernardo, mas esse vocal foi de matar, onde gravaram isso? Dentro de uma tubulação de gás com uma britadeira em compressão? Minha esposa perguntou que ruído é esse que entrou sem querer no disco e por que não tiraram? Para finalizar, gostei do título da última música, que reflete o meu sentimento ao ouvir o disco:  "It's So Hard".
Mairon: Essas bandas do pós-punk não me causam uma impressão muito forte. Claro que admiro e respeito a história de grupos como o Jesus, mas não consigo ouvir um álbum inteiro sem pensar que o que está ali é uma ampliação piorada do que o punk propôs uma década antes. Tem momentos bons ("My Little Underground", "The Living End", "Never Understand", "Something's Wrong" e "The Hardest Walk", que me lembrou Pixies), momentos que não fedem nem cheiram ("Taste of Cindy" e "You Trip Me Up") e momentos que poderiam nem existir ("Taste the Floor", "Inside Me",  "It's So Hard" e "In a Hole", que parece ter sido o avô do Nirvana). Ou seja, é mais sem gosto que sopa de nabo. Gostei do estilo Lou Reed de "Cut Dead", a melhor do disco. Ah, e quando pintou "Just Like Honey" e "Sowing Seeds", juro que ouvi a voz de Raul dizendo: "Um dia, numa rua da cidade, eu vi um velhinho sentado na calçada, com uma cuia de esmola e uma viola na mão". É um disco legalzinho, mas mesmo com RPM em primeiro em 1985, não entraria de nenhuma maneira na lista dedicada àquele ano.
Ronaldo: Para quem conhece bem o rock psicodélico norte-americano dos anos 1960, o tipo de som do The Jesus and Mary Chain neste disco não surpreende. Nada aqui é novidade em termos de construção sonora e primitivismo musical. A roupagem, esta sim, totalmente oitentista, é que é a impressão digital do trabalho. E isso não é um predicado positivo neste caso, porque aqui se encontram em abundância os piores lugares-comum daquela década – som abafado, timbres horríveis de bateria, guitarra e teclados e vocais entendiantes, apáticos, sem um pingo de pegada.
Ulisses: Eu estava com essa banda há algum tempo no meu PC e esta lista foi o empurrão necessário para que eu a ouvisse propriamente, pois eu já havia lido vários comentários positivos em relação a ela. Trata-se de um pop rock encoberto por uma grossa camada de reverb, microfonia e distorção que, embora dê vida a um resultado inegavelmente engenhoso, não escapa de soar repetitivo e pouco refinado, dando a entender que os caras haviam desenvolvido mais o conceito sonoro do que as composições que fariam parte dele. Entretanto, logo de cara fica marcada a (óbvia) influência deste registro para bandas posteriores, que souberam trabalhar melhor esse tipo de sonoridade.

Primal Scream - Screamadelica (1991)
Bernardo: Os Stones foram pra Manchester na época do filme “A Festa Nunca Termina” (2002), trocaram a heroína por ecstasy e resolveram fazer Screamadelica. Só isso explica. Brincadeira. Na verdade não: é fruto da mente insana do ex-baterista do The Jesus and Mary Chain Bobby Gillespie. O sujeito pegou o blues rock e misturou com o batidão da nascente cena dance, pegou andamentos de dub para a cozinha e fez um dos discos mais viajados e rebeldes de sua época, com uma justa homenagem ao rebelde eterno Peter Fonda em um trecho de áudio no início de “Loaded”, no qual reproduz sua fala do filme “Os Anjos Selvagens” (1966) em que prega liberdade e chapação. Por isso, a simpática “Movin’ on Up” pode até soar atraente, mas nada te prepara para o literal “rock de rave” de “Slip Inside this House”, as duas partes de “Higher than the Sun”, na qual tudo é vertido em uma viagem digna do Funkadelic em sua obra-prima Maggot Brain (1971), entre outros momentos de puro brilhantismo. Que discão da porra. Continua tão despirocado, rebelde eanticonvencional quanto era na época. É tão característico mas não ficou datado um dia. Como diria uma das próprias canções… “Don’t Fight It… Feel It”.
Alexandre: É uma questão de estilo, provavelmente. Até que a primeira música não é de todo ruim, uma mistura de "Sympathy for the Devil" e o coral gospel de "Oh! Happy Day". Entraram a bateria eletrônica e todos os elementos mais eletrônicos no álbum e eu invariavelmente comecei a torcer o nariz. A tal questão de estilo. A voz de Bobby Gillespie, por vezes um “fiapinho” frágil, também não contribuiu para alguma melhoria na avaliação. Uma mistura de Rolling Stones e The Black Crowes com sons mais pasteurizados. As músicas são um tanto genéricas e também não me chamaram atenção, a despeito do arranjo mais modernoso. Quanto mais eletrônico, pior, como em "Higher than the Sun". A coisa descamba para o tal estilo “dub” de "Inner Flight" e isso é quase o fundo do poço. Entra "Freedom '90", eu me lembro do saudoso George Michael, mas aí descubro que não é a faixa solo do cantor inglês de ascendência grega e sim "Loaded". Desculpe-me, Bernardo, quando eu trouxer uma boa saraivada de álbuns de hard e metal, você pode dar o troco. Este ficou difícil.
André: Mais uma banda que venera drogas e que provavelmente gravou o álbum sob o efeito das tais. Mais vocais arrastados. Mais chatice. Mais florzinha. Mais hippies. Mais... Paro por aqui.
Christiano: Outro disco bem conceituado no meio da galera mais “descolada”. Outro que me fez sentir desconfortável. Só achei chato, cheio de barulhinhos engraçadinhos e bobos, que servem para ornamentar músicas muito mais ou menos. Uma tortura.
Davi: Início dos anos 1990, as raves e os ácidos tomavam conta da noite e parecem ter feito a cabeça dos músicos do Primal Scream. Resolveram se afastar um pouco do rock e entrar de cabeça na música eletrônica que começava a ditar moda. Há quem considere este álbum um clássico, mas sempre o considerei um disco de mediano para baixo. Extremamente confuso e bastante cansativo. “Movin' on Up”, com sua pegada Rolling Stones, é uma ótima canção e é, de longe, a melhor do disco. “Slip Inside this House”, embora já esteja na pegada da house music, ainda agrada. Outro momento interessante é a balada “Damaged”, na qual Bobby Gillespie volta a encarnar Mick Jagger. O resto do álbum é bem chatinho.
Diogo: Mudanças podem ser muito positivas. Como a que Bobby Gillespie fez ao deixar de ser baterista do supracitado The Jesus and Mary Chain para assumir a linha de frente de sua própria cria, o Primal Scream. Não que eu tenha achado Screamadelica uma maravilha (longe disso), mas se trata de uma expressão artística bem mais audível que Psychocandy. O álbum tem geografia e temporalidade bem estabelecidas – Grã-Bretanha da virada dos anos 1980 para a década seguinte –, isto é, trata-se de algo bem datado; mas quantos discos ainda mais datados idolatramos sem restrições? Não vejo problema nisso. Screamadelica parece ter sido concebido tendo em vista as pistas de dança, explorando bem alguns ganchos vocais e instrumentais e estendendo as faixas a durações mais longas que o normal (às vezes demais, como em "Come Together"). "Don't Fight It, Feel It" é um ótimo exemplo disso, assim como "Jaded". Na boa, eu nunca fui muito chegado em casas noturnas "alternativas" (de nenhum tipo, na realidade) e pistas de dança me são territórios hostis, mas é muito, muito melhor ouvir músicas de grupos como o Primal Scream (e EMF, The KLF...) nesses ambientes do que aquele indie rock pau molenga pós-Strokes que infesta esses ambientes há muitos anos. Há momentos que destoam disso, como a surpreendente "Inner Flight" e "Damaged", uma totalmente diferente da outra e remetendo a épocas distintas.
Fernando: Da mesma forma que o The Jesus and Mary Chain é um precursor do grunge, podemos dizer que o Primal Scream é antecessor do britpop. Mas aqui a coisa já é diferente. Começa totalmente calcada em um som setentista, tem melodia e um trabalho vocal bastante agradável. Porém, é muito variado ao longo do tracklist. Tem uma mistureba que, se em algumas músicas vai bem, em outras não. “Come Togheter” (que poderia ter uns três minutos a menos) é daquelas músicas que todos já ouviram, mas quase a totalidade não faz ideia de quem seja o artista.
Flavio: O disco começa com a animada pop "Movin' on Up", obviamente influenciada pelos Stones, recheada de vocais femininos em tom gospel, acompanhada de um solo de guitarra que poderia entrar em qualquer disco da banda influenciadora.  Entretanto, esse panorama neo-Rolling Stones não prossegue no restante da bolacha. O disco traz em seu "core" elementos de pop/techno/dance/lounge/eletrônica, misturando instrumentos tradicionais com o uso extremo de sintetizadores e samplers. Apesar de não ser adepto do estilo, encontro bons elementos harmônicos em Screamadelica e entendo-o como um disco influenciador até para artistas que não se ambientavam nesses elementos citados, como Madonna em Erotica (1992) ou mesmo o U2 (muitos anos depois) em Pop (1997). O vocal de Bobby Gillespie é agradável e funciona bem no estilo. Há momentos mais interessantes, como o solo em "Damaged" e o baixo em linha simples, mas agradável, em "Higher than the Sun", e outros nem tanto, como a chata "I'm Comin' Down". Enfim, um bom disco, influenciador, porém um pouco longo demais, o que cansa um pouco no fim.
Mairon: Screamadelica foi o primeiro contato que tive com o Primal Scream, há algum tempo. A versão de "Slip Inside this House" (original do The 13th Floor Elevators) já mostra que os escoceses gostavam de beber na psicodelia, adicionando samples e batidas de acid house, enquanto "Come Together" (não a dos Beatles, e em sua versão editada, porque a completa é um saco) e a clássica "Loaded", com a levada de "Sympathy for the Devil", tocavam direto nas rádios FM do Rio Grande do Sul, então era fácil saber quem estava ali. É interessante perceber que apesar de usar samples de muitas canções antigas, os guris estavam bem influenciados pelos nomes em voga no cenário musical, como George Michael na gospel "Movin' On Up", um pouco de R.E.M. em "Damaged" e até o Depeche Mode de Violator (1990) misturado com um pouco de Genesis na sensacional "Higher than the Sun". Mérito nesse caso, claro, para a produção de The Orb, que dá um ar ainda mais nostálgico sobre a década de 1990. Cara, na época se criticava isso para quem era fã do hard setentista, mas o amadurecimento das pessoas faz perceber que, pôxa, os caras fizeram algo bem significativo para a música. Curti a psicodelia simpática de "Shine Like Stars", a ousadia de misturar eletrônicos e sintetizadores de forma simpática na instrumental "Inner Flight", que soa como um "bem vindo, Pet Sounds, aos anos 1990", as percussões e o saxofone na intimista "I'm Comin' Down". Desnecessária mesmo só "Higher than the Sun (A Dub Symphony in Two Parts)" e a tosca "Don't Fight It, Feel It", com Denise Johnson nos vocais, tornando Screamadelica um disco longo demais, mas nada que destrua este álbum que marcou época e poderia realmente ter entrado por conta de sua importância no lugar do Death. Teria sido muito bem visto.
Ronaldo: Na década de 1990, houve um salutar resgate de sonoridades mais orgânicas e o Primal Scream é um expoente desse tipo de releitura. Ainda que usando francas novidades ao sabor da época, como as batidas eletrônicas, as bases usam bem pianos e violões acústicos e se valem de belos backings vocals. Suas melodias buscam reler o soul e o funk dos anos 1960/70 de forma muito autêntica, incorporando frases do reggae-pop e da disco music, em uma fusão bastante rica. Algumas faixas são desnecessariamente longas ("Come Together" é de uma chatice inacabável), mas compreensíveis no contexto de uma pista de dança.
Ulisses: Dentre os caminhos sonoros que o rock noventista explorou, o do Primal Scream é um dos mais chamativos: a sonoridade nebulosa do disco é resultado de um amalgáma de rock britânico com música eletrônica e psicodelia. Há momentos mais dançantes ("Don't Fight It, Feel It") e outros mais suaves ("Damaged"), garantindo que o registro entretenha o ouvinte de várias formas. Apesar da forte (e representativa) lista do ano de 1991, vejo que havia espaço para o Primal Scream no lugar do Teenage Fanclub ou do U2, por exemplo.

Tom Waits - Bone Machine (1992)
Bernardo: Um disco para os amigos da série odiarem: o esquisitão Tom Waits em uma vibe meio rock, meio folk, meio country, meio... Industrial. Isso aí. Seja no peso absurdo e ridiculamente “machão” de “Goin’ Out West”, a apocalíptica dobradinha de abertura composta por “Earth Died Screaming” e “Dirt in the Ground”, no proto-punk resmungão de “I Don’t Wanna Grow Up” (que você já ouviu com os Ramones) e até o quase-gospel “That Feel”.  Dá até pra entender por que o sujeito fica tanto tempo sem lançar disco: o esmero, a ambição e a pretensão poética, a mentalidade anticonvencional para pegar a música tradicional e desconstruir ela do jeito mais esquisito possível… Sim, ainda é aquele Tom Waits piradaço de Rain Dogs (1985), que se afastou do jazz para tornar maluquice musical uma marca registrada, mas provando que mesmo a música moderna não estava a salvo do seu olhar acurado, outsider e singular.   
Alexandre: A segunda música até passa, mesmo a voz super bêbada de Waits se adequou ao instrumental belo de "Dirt Ground". Há outros poucos momentos bonitos, em especial "A Little Rain (for Clyde)", um blues com bonito piano e acentuações de pedal steel guitar. O restante do álbum, quase que inteiramente mergulhado na esquisitice que atende pelo nome de música experimental/alternativa e nos brinda com ruídos estranhos, elementos de percussão desagradáveis e vocais de gosto pra lá de duvidoso, eu passo, serve para entrar no rol de premiações sem sentido do Grammy. É melhor que Mule Variations, de 1999, além do fato de ter quase 20 minutos a menos que aquele, o que pra mim é um bônus, mas é evidente que isso não pode ser considerado um mérito.
André: Mais um disco que apenas fortalece meu desgosto pelo Tom Waits.
Christiano: Um disco complicado. Tem alguns momentos interessantes, como “A Little Rain”, “Black Wings” e “Who Are You this Time”, mas a maioria das faixas é cheia de ruídos e altamente fragmentada. Não é o tipo de coisa que me agrada.
Davi: Toda vez que escuto um disco desse cara tenho a sensação de que ele está tirando uma com a minha cara. Pelo menos, serviu para ressaltar que os Ramones eram mesmo geniais. Os caras pegaram uma brincadeira de mau gosto, nesse caso “I Don't Wanna Grow Up” (me recuso a acreditar que ele fez aquele trabalho vocal a sério) e transformaram em uma ótima faixa punk rock em seu álbum de despedida ¡Adiós Amigos! (1995). O trabalho vocal dele soa como o de um bêbado raivoso (esse cara não canta, ele grunhe), os arranjos são piores do que os da Yoko Ono (achei alguém que conseguiu a proeza). Meu Jesus cristinho. Papai do céu, se assim me permitir, quando tiver um tempinho, por favor, me explique o culto em cima de Tom Waits. Amém!
Diogo: Há de se admirar Tom Waits em pelo menos um aspecto: o cara faz o que quer. Vai pro estúdio, convida uma penca de gente e os une em prol de sua música maluca e peculiar. Ainda por cima sustenta-se muito bem, obrigado, com sua arte e tem uma grande quantidade de admiradores, muitos dele o considerando um verdadeiro gênio musical. Da minha parte, Bone Machine não é algo que escuto ou pretendo começar a escutar em casa, mas não consigo achar seu trabalho ruim ou qualquer coisa do tipo. Tom tem estilo próprio, faz seus experimentos parecerem muito naturais e de vez em quando sai alguma coisa da qual eu até consigo gostar, como "Who Are You", "A Little Rain"e "Whistle Down the Wind", honestamente melancólicas.
Fernando: Toda vez que ouço Tom Waits eu fico me perguntando se existe mesmo alguém que chega em casa e pensa em ouvir alguma coisa dele. Sinceramente, eu duvido. Diz muito sobre um disco de um cantor e compositor quando as melhores partes são as que não têm voz, não é? Algumas partes me lembraram o Morphine. “Who Are You” me parece uma música cantada por alguém com uma forte dor de barriga. Fico me imaginando o cara se sentindo um gênio enquanto compunha um troço chamado “In the Colosseum”. Uma coisa que ficou na minha cabeça é que se Bruce Springsteen um dia perder a voz e gravar um disco com uns 90 anos soaria desse jeito. Sei que vai ter gente aí que vai citar um bar enfumaçado e um copo de whisky, mas, sinceramente, esse é um bar em que eu nunca iria.
Flavio: Tom Waits, reaparecendo cinco anos depois de seu disco anterior, traz em Bone Machine uma mistura forte de elementos percussivos e sons processados (vocais, guitarras) para "experimentalizar" o tradicional blues rock, modernizando-o para os anos 1990. Novamente, é uma mistura para os adeptos do rock alternativo e suas vertentes.  Para mim, ao realizar essa mistura há a perda do vocal e da base natural blues, descaracterizados pelos efeitos aplicados. Em alguns momentos, há o aparecimento de elementos de forma mais natural, como em "Who Are You" e "Jesus Gonna Be Here", mas essa não é a tônica da bolacha.  Enfim, o restante do experimentalismo todo não ajuda a tornar o estranho vocal de Waits agradável ou o álbum em si como interessante para a edição abordando 1992.
Mairon: Tão de brincadeira. Isso aqui é música? Achei que esta nova parte da série fosse para os discos bons que faltaram aparecer, e não os álbuns que ainda bem que não apareceram. Que coisa bem horrorosa, não se aproveita nada, nem o Keith Richards cantando em "That Feel", que tô para dizer, é uma das coisas mais terríveis que já ouvi neste ano. Tem louco para tudo...
Ronaldo: Algo capaz de estragar a semana de qualquer um.
Ulisses: Tom Waits trafega por caminhos tortuosos e indefiníveis, e em Bone Machine isso não é diferente. Acho as baladas "Who Are You" e "A Little Rain" até bem aceitáveis, porém o restante do álbum é uma espécie de blues primitivo e percussivo assombrado que causa grande estranhamento. Louvo a criatividade bizarra de Waits, mas o som é avant-garde demais (ou talvez nem isso) para meus ouvidos frescurentos. Até agora, das vezes em que a Consultoria me obrigou a ouvi-lo, ele só me agradou naquele álbum de 1985 (Rain Dogs), quando seu som era mais de boteco e menos de pesadelo monolítico.

Nick Cave and the Bad Seeds - Let Love In (1994)
Bernardo: E pra fechar, Let Love In, a magnum opus de Nick Cave lançada em uma crescente qualitativa em que combinou ambição artística com acessibilidade midiática, se tornando um ícone dos “cults” e “independentes”. O australiano alcançava a maturidade musical incorporando o mais sombrio dos blues do delta do Mississippi ao seu característico pós-punk gótico. Indo fundo em temas sombrios e desconfortáveis, pega pesado em “Jangling Jack” e “Thirsty Dog”, evoca uma atmosfera legitimamente soturna e assustadora em “Red Right Hand” (uma música para te fazer acreditar no sobrenatural), explode em intensidade em “Do You Love Me” e na ambiciosa letra e interpretação rasgada de “Loverman” e cheio de lamentos à beira da melancolia em “Nobody’s Baby Now”, “Ain’t Gonna Rain Anymore” e “Lay Me Low”. Se quer saber, este pode não ser o disco “raiz” de Nick (aí você tem que ouvir a porrada desgovernada que é Your Funeral… My Trial, de 1986), mas é o seu maior clássico para o público ao lado de Tender Prey (1988) e Henry’s Dream (1992). Quem acha que década de 1990 se resumiu a Seattle ou L.A. não sabe o que está perdendo: um dos maiores compositores do século XX, com seu universo todo próprio à volta com fé, amor, luto, sexo e violência… E às vezes tudo isso de uma vez só.
Alexandre: Bem melhor que o outro disco do projeto Cave e banda que ouvi, The Boatman’s Call, de 1997. Aquele entrou na lista final, este não. Se eu pudesse, trocava. O que não gosto são dos timbres mais bêbados de Nick. Quando ele se mantém nos registros graves e tem como aliadas boas melodias, a coisa funciona. Ao vivo é outro assunto, muito mais delicado, portanto vou me ater ao que ouvi aqui. Acho interessante o começo do álbum, com "Do You Love Me?" e "Nobody’s Baby Now". A versão de "Loverman" é melhor no Metallica, mas não chega a comprometer e tem o mérito de ser a original. "Right Red Hand" poderia ter um solo de órgão menos óbvio ou então com menos espaço dentro da canção, mas de resto funciona. A acelerada "Thirsty Dog" também passou bem. "Ain’t Gonna Rain Anymore" talvez seja a que mais me agradou, em especial a orquestração sutil no refrão em contraponto aos timbres graves de Nick. No fim do álbum, em especial em "Lay Me Low", o vocal passou dos níveis alcoólicos desejáveis e parece que estamos ouvindo um cantor de karaokê que "encheu o pote". Nesta lista, Let Love In não é nenhuma maravilha, mas se salva.
André: Ufa, finalmente uma banda da qual gosto, pensei que ficaria restrito ao Kinks. Gosto dos teclados deste disco, dos ótimos arranjos e da doce voz de Nick Cave, como em "Nobody's Babe Now". É uma banda que sabe possuir a atmosfera de "exótica" ao mesmo tempo que produz faixas em que usa essa estranheza a favor do ouvinte, embora não seja lá fácil de digerir logo de primeira. Bem, fico aliviado que pude elogiar mais de um disco nesta edição ou eu me sentiria o mala da rodada.
Christiano: Denso, mas muito interessante. Nick Cave é uma figura soturna, e isso fica muito evidente em boa parte dos discos que lançou. De fato, Let Love In está entre os melhores que já escutei de sua longa carreira. As músicas são densas, mas possuem uma beleza melancólica. As faixas mais interessantes são justamente as mais introspectivas, que são a maioria neste bom disco. Pessoalmente, prefiro o álbum posterior, Murder Ballads (1996), mas gostei da indicação.
Davi: Lembro de ouvir a bacaninha “Red Right Hand” no filme "Débi e Lóide" (1994), estrelado pelo hilário Jim Carrey. Por algum motivo, a música acabou não entrando na trilha do filme, assim como aconteceu com a faixa do The Cowsills e a do Apache Indian. "Bacaninha" também é um termo que serve para definir o disco. Sua audição não é uma tortura, mas também não é algo emocionante e inesquecível. Além da já citada “Red Right Hand”, colocaria como destaque as simpáticas “Nobody's Baby Now” e “I Let Love In”. Interessante, nada mais.
Diogo: Estivesse eu vivendo uma fase mal resolvida em relacionamentos amorosos, talvez gostasse muito mais de Let Love In. Como não estou, a identificação é menor e a apreciação também, mas isso não me impede de destacar o bom trabalho levado a cabo por Nick e seus asseclas. Faixas como "Do You Love Me?" (as duas partes), "Nobody's Baby Now", "Loverman" e "I Let Love In" são bem interessantes e interpretadas com honestidade, algo que faz muita diferença nesse tipo de canção. Assim como Tom Waits, Nick desenvolveu um estilo muito peculiar e trafega bem sobre esse terreno, oferecendo obras únicas, que não remetem a esse ou aquele artista. Isso sempre é um mérito. Talvez a médio prazo dedique um tempo a explorar melhor sua discografia.
Fernando: O vozeirão de Nick Cave nunca me agradou muito. Mas logo de cara, com a faixa “Do You Love Me”, rompi essa premissa e achei legal. “Nobody's Baby Now” também surpreendeu com seu piano bem evidente. Pelo que eu lembro de outros discos, achei este um pouco diferente do habitual. Não é algo pelo qual morri de amores, mas posso voltar a ouvir de novo sem problemas.
Flavio: Pra finalizar, Nick Cave and The Bad Seeds trazem em Let Love In um disco de rock básico sem muitas novidades, porém às vezes lento demais. Podemos destacar a produção simples e limpa que mantem o som básico cozinha+guitarra/piano bem ajustadinho. Encontrei músicas interessantes como "Do You Love Me" e "Nobody's Baby Now", mas quando Nick foge da linha vocal mais calma ou mesmo limitada e se aventura ou a abrir um falatório ou cantar de forma mais vigorosa, percebe-se que há muitas limitações no seu vocal, que começa a fugir da afinação ou trazer desagradáveis timbres, como em "Jangling Jack" e "I Let Love In", muitas vezes cobertos com backing vocals na tentativa de salvar a evidente falha. Apesar da banda ser ajustadinha, o resultado começar a "ir para o vinagre" nesses momentos. Novamente, não vou aprovar o trabalho como uma boa escolha.
Mairon: Clássico álbum da década de 1990, regado a muita psicodelia e sonoridades envolventes na linha que vai de Bowie a Joy Division. Nick Cave é um nome que ou me agrada ou me provoca ódio, e este álbum em especial gostei de ouvir. Adorei escutar as canções acessíveis, que são a balada "Nobody's Baby Now", linda por sinal, a sutil "I Let Love In", com uma bela performance vocal de Nick, o rock pegado de "Jangling Jack" e "Thirsty Dog" e a forte explosão de emoção de "Lay Me Low". Mas foi nas faixas mais incomuns que me encontrei em Let Love In, seja na voz sofrida e explosiva durante o refrão da primeira parte de "Do You Love Me?", o andamento arrastado de "Red Right Hand" e a pancadaria ignorante do refrão de "Loverman". Mesmo não tendo apreciado algumas músicas, no caso a segunda parte de "Do You Love Me?" e "Ain't Gonna Rain Anymore", este álbum teria feito uma bela parceria com Grace (Jeff Buckley) e eliminado pelo menos uma das várias absurdices que inventaram na edição abordando 1994, mas não votaria nele de jeito nenhum.
Ronaldo: Nick Cave tem uma voz de cantor country de raiz, o que dá um tempero bem interessante para o pop rock esquentado de sua banda. Algumas passagens são climáticas e mais pesadas, outras vão ao ponto direto demais e se tornam esquecíveis. Mas há momentos em que a banda casa belas linhas vocais com arranjos espertos e o resultado fica bastante apreciável.
Ulisses: Tenho um problema com os chatérrimos momentos em que o cara dá uma de roqueirão agitado ("Jangling Jack", "Thirsty Dog" e partes de "Loverman") mas, tirando coisas assim, o restante do álbum revela-se banhado em arranjos lentos, sensuais e blueseiros, que demonstram efetividade em tragar o ouvinte nesse clima. É interessante o suficiente para não se tornar uma audição tão cansativa quanto parecia ser. O registro tem seus méritos e entrega sua mensagem com solidez, mas ainda não estou nem um pouco mais próximo de me interessar, em geral, pela música de Nick Cave.
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