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quinta-feira, 29 de agosto de 2024

Erasure - ABBA-esque [1992]


Os britânicos Andy Bell (vocais) e Vince Clarke (sintetizadores) são conhecidos pelo seu enorme sucesso através do Erasure, banda que no final dos anos 80, início dos anos 90, tornaram-se gigantes do Synthpop através de mega-sucessos como "A Little Respect", "Star", "Blue Savannah", "Oh L'Amour", "Stop!", "Victim of Love", entre outros. Uma das grandes inspirações para o duo foi o grupo sueco ABBA (Agnetha Faltskog, Björn Ulvaeus, Benny Anderson e Anni-Frid Lyngstad), os quais constantemente apareciam em versões covers nas apresentações da banda, sendo que logo no primeiro single do grupo, "Oh L'Amour" (1986), o Erasure já traz uma versão para "Gimme! Gimme! Gimme! (A Man After Midnight)" no lado B da bolacha de 12" (e em edições posteriores em CD). O sucesso e retorno que os fãs davam a esses covers levaram Andy e Vince a pensar em algo maior, e assim nasce o álbum aqui resenhado hoje. 

Inicialmente planejado para ser lançado como um disco completo de tributo ao ABBA, ABBA-esque acabou saindo como EP em primeiro de junho de 1992, e logo o disquinho acabou se tornando o primeiro e único EP do duo a ser número 1 na terra Natal dos rapazes, onde permaneceu por cinco semanas consecutivas, assim como também foi o mais vendido na Áustria, Dinamarca, Finlândia, Grécia, Irlanda e Suécia.

Andy Bell e Vince Clarke. Erasure em 1992

As vocalizações de Andy apresentam "Lay All Your Love On Me", faixa que foi regravada até pelo Helloween (!), e que aqui, ganha toda uma camada de sintetizadores tipicamente Erasure. O cidadão que desconhece ABBA certamente irá pensar que é uma canção original do duo. Vince puxa o riffzão de "S. O. S.", com uma interpretação fiel de Andy para as doloridas falas de Agnetha na versão original. Toda a linha vocal é mantida, assim como as notas centrais deste clássico também se fazem presentes, porém através dos sintetizadores. 

Chegamos então em "Take a Chance On Me", faixa para cima, alegre, clássico absoluto, e que ganhou um hilário video-clipe promocional no qual Andy e Vince estão travestidos de Frida e Agnetha respectivamente (falarei mais adiante sobre os vídeos que saíram daqui). A faixa por si só contém ainda a participação de MC Kinky fazendo um rap em sua parte central, é uma das melhores do EP,  junto da seguinte, a inesperada "Voulez Vous". Os sintetizadores trazendo a fabulosa introdução desta pérola já são um grande atrativo. A partir do momento que Andy começa a entoar uma das letras mais audaciosas de Björn Ulvaes, a casa vem abaixo. Como o ABBA sabia compor faixas absolutamente fantásticas, e que felicidade de ver o Erasure adaptar algo tão grandioso para o seu estilo, sem perder a grandiosidade.

Vince "Faltskog" Clarke e "Andy-Frid Lyngstad" Bell.
Erasure travestidos de ABBA no clipe de "Take a Chance on Me"

As quatro faixas ganharam clipes promocionais, lançados no VHS ABBA-esque. "Lay All Your Love On Me" faz uma mistura de Bela Adormecida e Chapeuzinho Vermelho na qual a primeira é socorrida graças a uma ligação da segunda para Andy e Vince, que com motos voadoras (isso funcionava nos anos 90 como legal?), chegam até a floresta e, com um beijo de amor, Andy acorda e salva a Bela Adormecida. Em "S. O. S.", Andy surge executando tarefas diárias de um dono-de-casa (cozinhar, limpar, passar roupa, ir ao mercado, etc), enquanto lamenta a ausência da pessoa amada. O clipe de "Voulez Vous" tem Andy com uma roupa comum a Benny, e Vince com o famoso terno vermelho de Björn, fazendo a apresentação em um palco giratório. Simples demais para uma faixa tão boa. Por outro lado, a citada "Take a Chance On Me" é um dos melhores videos da carreira da dupla. Ver o sempre sério Vince Clarke fazendo as caras e bocas sensuais de Agnetha é de rolar de rir, e o clipe por si só resgata muito bem momentos do vídeo original dos suecos, inclusive o mural de quatro faces. Parabéns ao diretor Philippe Gautier (os demais vídeos ficaram a cargo de Jan Kounen). 

                                   


Uma das várias versões de Erasure-ish,
aqui emulando a capa de Arrival

Vale a pena citar que ainda em 1992, como uma espécie de "resposta" a ABBA-esque, o quarteto australiano Björn Again lançou Erasure-ish, EP que traz versões de dois sucessos do Erasure ("A Little Respect" e "Stop!") interpretados no estilo ABBA. No mínimo curioso, e com vídeos muito interessantes. 

ABBA-esque não contém nenhuma versão melhor ou igual a original, isso é fato. Posteriormente, saiu uma edição com versões Remix para as quatro faixas, obviamente chamada ABBA-esque  The Remixes, e com o Erasure tendo o pseudônimo "Club" inserido ao seu nome, mas essa é somente para os fanáticos desejosos de ter tudo de seu ídolo. Caso apenas queira curtir uma honesta homenagem à uma das maiores bandas Pop da história, e feita dignamente por um dos maiores nomes do Synthpop da história, vá de cabeça nesse EP que não terá erro!

Contra-capa do EP

Track List

1. Lay All Your Love On Me

2. S. O. S.

3. Take A Chance On Me

4. Voulez-Vous

sábado, 22 de junho de 2024

Ouve Isso Aqui: Casais

                                       


Tema escolhido por Mairon Machado

Com Andre Kaminski, Anderson Godinho, Davi Pascale e Marcello Zappelini


Sei que esse tema já rolou por aqui em um Consultoria Recomenda, mas aproveitando o mês dos namorados, quis trazer algumas obras que ficaram de fora daquele Recomenda, e que acho que merecem uma atenção dos meus colegas. Vamos às pedras! (Mairon)
Ike & Tina Turner – Come Together [1970]

Mairon: Disco de total mudança na carreira do casal Ike & Tina Turner. Lançado em abril de 1970, traz uma guinada forte na direção musical do casal, influenciados por sua turnê abrindo para o Stones (inclusive participando do conturbado Concerto de Altamont, como filmado em Gimme Shelter). Se seus discos anteriores eram caracterizados por uma potência sonora avassaladora, aqui o que prevalece é a voz soberana de Tina sobre os arranjos e criações de Ike. Daí temos soul com vocalizações gospel (a cargo das Iketttes) em “Keep On Walkin’ (Don’t Look Back)”, “Why Can’t We Be Happy”, “Unlucky Creature”, rock suave em “Too Much Woman (For a Henpecked Man)”, e as embaladas “Contact High”, “It Ain’t Right (Lovin’ to Be Lovin’)” e “Young And Dumb”. Além disso, a provocante “Doin’ It” é um encerramento excitante para um álbum fabuloso, cujos grandes destaques vão para as versões de canções surgidas havia pouco tempo. No caso, a ótima faixa-título (que os Beatles tinham lançado em outubro do ano anterior), que como diz meu irmão Micael, todas as músicas dos Beatles ficam melhores em suas versões por outros artistas, “Honky Tonk Women” (que os Stones lançaram um pouco antes, em julho), muito fiel ao original, apenas com adaptações na letra para que a personagem central seja a própria narradora, “Evil Man”, com um belo naipe de metais, sendo outra que teve alterações na letra, já que essa é a mundialmente conhecida “Evil Woman (Don’t Play Your Games With Me)”, que o Black Sabbath imortalizou no seu álbum de estreia de 13 de fevereiro de 1970 (dois meses antes desse), e que o Crow tinha lançado originalmente em agosto de 69, e a espetacular “I Want to Take You Higher”, a mais “velhinha” das três, que o Sly and the Family Stone tinha colocado no mundo em abril de 69, e que aqui está totalmente fiel ao original, inclusive com o naipe de metais e os “boom-shaka-laka-laka-boom” dos vocais. Para perder o preconceito e conhecer uma das grandes duplas da história da música.

Anderson: Uma regravação muito forte e que traz o clássico dos Beatles para a praia do Soul e o R&B. A versão ficou muito energética e animada na voz da maravilhosa Tina Turner. Interessante, também, ficaram os arranjos e a guitarra funkeada de Ike em várias músicas como na ótima versão de “Too Much Woman”. Outro destaque, agora pela interpretação de Tina, é “Unlucky Creature” que conta com uma dramaticidade intensa enquanto a música em si faz uma ambientação para a atuação da artista. Destacaria também a intensidade da versão de “Honky Tonk Women” e a animação de “Contact High”. Por outro lado, esperava um pouco mais da versão do clássico “Come Together”, a versão é bem fiel à original, mas, uma vez que a proposta da reinterpretação ocorreu poderiam ter sido mais inventivos na proposta. Talvez o receio de mexer em um clássico tenha pesado. Por fim, gostei muito da versão de “Don’t it” que fecha o material muito bem. Com certeza é um material especial que merece a lembrança.

André: É um disco um tanto dolorido de ouvir em se tratando de contexto pelo fato de Tina ter sofrido horrores na mão de Ike Turner. É necessário “desligar a chavinha mental do contexto ruim entre eles” para apreciar uma dupla que fazia rocks com uma qualidade estupenda. Os covers também ficaram ótimos. Gosto mais dessa Tina Turner mais blues do que a pop dos anos 80 e 90. Ike também é um grande compositor e guitarrista. Um disco sem erros e excelente.

Davi: Todos conhecem a história conturbada do casal Ike e Tina Turner. Sendo assim, não é preciso dizer que Ike não era a melhor pessoa do mundo. É por essas e outras que precisamos separar a pessoa do artista. Afinal, não há como negar seu talento enquanto compositor e esse disco é uma prova disso. Misturando soul e rock, o LP mistura composições próprias com regravações e brilha tanto com a voz do furacão Tina Turner, quanto na qualidade do repertório. Entre os covers, a maior curiosidade fica por conta de “Evil Man”, originalmente lançada com o nome de “Evil Woman” pelo Crow (sim, aquela mesma que o Black Sabbath regravou), que ganha um singelo naipe de metais. A versão de “Come Together” não traz muitas novidades e a gravação não tem a mesma magia que tem a do fab four. Tem uma história de que certa vez, Ike Turner apontou uma arma para que Keith Richards demonstrasse como havia tocado na gravação de “Honky Tonk Women”. A faixa aparece aqui e dá para ver que ele foi muito bom aluno, só que assim como acontece com a versão dos Beatles, a música não chega nem perto da versão gravada pela trupe de Jagger e Richards. Entre as composições próprias, minhas preferidas estão no lado A: “Too Much Woman”, “Unlucky Creature” e “Young and Dumb”. Para a garotada que estiver lendo esse texto: ouça esse LP prestando atenção no (fabuloso) trabalho vocal de Tina e repare que muitos dos maneirismos vocais que Joss Stone faz hoje, já apareciam aqui. Será mera coincidência?

Marcello: O casal mais disfuncional dessa lista, como ficou provado pela autobiografia de Tina. Entretanto, musicalmente falando, como se davam bem! O talento inacreditável de Tina, aliado à guitarra, aos arranjos e produção de Ike Turner, gerou muitas coisas boas ao longo dos anos, e este Come Together não é exceção. O duo (que participara com B. B. King da turnê dos Stones em 1969) tinha começado a se distanciar um pouco do soul e rhythm & blues, gravando material mais rock, como atestam “Honky Tonk Women”, a faixa-título e “Evil Man”, que as pessoas conhecem da versão do Black Sabbath baseada no original do Crow (e, aliás, a versão dos Turner é mais parecida com a do Sabbath do que com a original), “Evil Woman”. Há ainda uma versão para “I Want to Take You Higher”, do Sly & The Family Stone, em que as Ikettes têm cada uma sua chance de brilhar e as outras oito músicas são de Ike. Dentre estas, os destaques vão para “It Ain’t Right (Lovin’ to be Lovin’)”, “Too Much Woman (For a Henpecked Man)” – conta outra, Ike: você quer que a gente acredite que era dominado pela Tina? – e “Keep on Walkin’ (Don’t Look Back)”. Apesar de tentarem conquistar o público mais rocker, Ike & Tina Turner não foram muito bem-sucedidos na empreitada, pois o álbum só chegou ao 130º lugar na parada geral da Billboard – ainda que tenha sido 13º na de soul. Mas o álbum seguinte, Workin’ Together, trouxe a enérgica versão de “Proud Mary”, que ganhou um Grammy e levou o LP ao 25º lugar na parada geral da Billboard.


Paul Kantner & Grace Slick – Sunfighter [1971]

Mairon: Esse disco foi o que me baseou para este Ouve Isso Aqui. De imediato, o tema que pensei seria “Somos Nós, Mas Com Outro Nome”, só que o fato de ser o mês de junho me remeteu aos casais e como não são todas as músicas que os parceiros do casal Kantner / Slick participam (a saber Spencer Dryden e Joey Covington na bateria, Jorma Kaunonen nas guitarras, Jack Casady no baixo e Papa John Creach no violino), Sunfighter entrou de qualquer jeito. Os pombinhos haviam acabado de parir a pequena China Wing Kantner, que teve uma linda canção em sua homenagem, levada pelo piano e os vocais dramáticos da mamãe, após pouco mais de 1 ano de relacionamento (lembrando que Grace já tinha tido um affair com o Dryden), e lançou esse álbum sensacional tendo além dos colegas da Jefferson Airplane uma série de convidados, que passam por Jerry Garcia, Graham Nash, David Crosby, entre outros, como o novato guitarrista Craig Chaquico (que veio a fazer parte da Jefferson Starship anos depois), mandando ver na pesada “Earth Mother”. O disco já abre com a pancadaria comendo solta em “Silver Spoon”, tratando sobre veganismo (algo incomum para a época) com destaque para o peso do baixo de Casady, o insinuante violino de Papa e os vocais hipnóticos e gritados de Slick, paulada que mostra o que o Jefferson Airplane estava fazendo desde Volunteers, e que se estende até o derradeiro Long John Silver. Esse estilo se mantém na espetacular faixa-título, dedicada ao ex-parceiro de Airplane, Marty Balin, com o casal dividindo os vocais como nos bons tempos de “Volunteers” e “We Can Be Together”, na alucinógena “Million”, onde Jerry Garcia abrilhanta na guitarra junto do piano de Slick, e também na longa “Holding Together”, outra a contar com a marcante guitarra de Garcia. Crosby e Graham são peças centrais na ótima “Look at the Wood” e na linda demais “When I Was a Boy I Watched the Wolves”, com uma introdução acústica incrível e variações muito interessantes, e ambas com uma excelente harmonia vocal. E tente não se assustar com a recriação do que seria o Titanic afundando em “Titanic”, ou com o enigmático piano de “Universal Copernican Mumbles”, acompanhado de barulhos muito soturnos e um vocal ainda mais tétrico por Kantner. Assombroso em um disco assombrosamente ótimo!

Anderson: Não poderia faltar algo psicodélico pra valer e cá estamos. O álbum possui uma atmosfera criada tanto pelos vocais de Grace quanto pela instrumentação que vai de pianos/teclados, distorções de guitarra que achei um tanto excêntricas, violões e diferentes influencias como folk ou jazz em algumas passagens. As músicas não são, no geral, muito extensas mas demandam parar para absorver tudo que está acontecendo, vale o tempo disposto nesse trabalho. Quem curte um som intenso e complexo vai gostar. Particularmente me atraíram a primeira música: “Silver Spoon” com seus quase seis minutos (minha melhor experiência), curiosamente a, também extensa, “When I was a Boy I Watched the Wolves” me agradou bastante. No geral, não me agradou como os demais trabalhos da lista, me falte mais coisas dessa época na cabeça para poder contextualizar melhor o material. Assim de bate pronto, não me chamou muita atenção.

André: A riqueza instrumental é grande, há caras fodas como David Crosby e Graham Nash tocando, mas o casalzinho do Airplane não andava muito inspirado por aqui. Sinto falta de composições mais marcantes como faziam no Jefferson Airplane (e mesmo no Jefferson Starship) que aqui parecem mais sobras e lados B de ambas as bandas, mas com o acréscimo de mais instrumentos. A que eu gosto mais é a faixa título “Sunfighter”, com o restante bem abaixo do que todo esse time de músicos já produziu na vida. Não é um disco ruim, mas um menor na discografia particular do casal (que juntos, pelo que eu saiba só lançaram este mesmo).

Davi: Esse álbum é basicamente um trabalho solo de Paul Kantner com a participação de Grace Slick. Na maior parte das músicas, a voz dela fica em segundo plano, o que realmente é uma pena já que eu gosto muito mais da voz dela do que da dele. O disco captura bem aquela sonoridade San Franciso, com violões folk e arranjos sutis, e impressiona pelo time de convidados que contou, com nomes de peso como Graham Nash, David Crosby e Jerry Garcia. O disco é bom e deve agradar aos fãs de Jefferson Airplane. Contudo, para mim, o grande destaque é mesmo a faixa de abertura onde temos Grace Slick comandando a música que fez para provocar seus vizinhos vegetarianos que queriam doutriná-la. A letra era tão forte que muitas pessoas pensavam (e ainda pensam) que era uma ode ao canibalismo. Interessante…

Marcello: Grace Slick e Paul Kantner iniciaram um relacionamento ainda nos anos 60, quando ela ainda estava casada com o primeiro marido (Jerry Slick) e tivera um caso com o segundo baterista do Jefferson Airplane, Spencer Dryden Os dois tiveram uma filha, China Wing Kantner (que nome mais era de Aquário!), que aparece na capa. Paul já gravara um disco com ela e os amigos da cena de San Francisco antes, “Blows Against the Empire”, e convidou a turma toda novamente neste álbum (Jack Casady, Jorma Kaukonen, Papa John Creach, Spencer Dryden e Joey Covington, do Jefferson Airplane; Jerry Garcia, do Grateful Dead; David Crosby e Graham Nash; o futuro guitarrista do Jefferson Starship, Craig Chaquico; e mais um monte de gente), que abre com a voz poderosa de Grace na excelente “Silver Spoon”. Kantner assume o vocal solo em “Diana Part 1” e “Sunfighter” (que traz Steven Schuster e parte da turma do Tower of Power nos sopros). “When I Was a Boy I Watched the Wolves” e “Earth Mother” são ótimas músicas que não fariam feio num álbum do Airplane. “Million” traz Jerry Garcia para formar uma espécie de Grateful Airplane em outro destaque do disco. Em “China”, Grace mais uma vez assume o vocal solo e homenageia a bebê do casal. “Universal Copernican Mumbles” é levada nos teclados, numa música diferente das demais, mas não menos interessante. A música mais longa do LP, “Holding Together”, encerra o álbum com brilho. Grace e Paul ainda colaborariam no álbum “Baron von Tollbooth & The Chrome Nun”, com David Freiberg e outros colegas de San Francisco, e, por anos, no Jefferson Starship. O relacionamento entre os dois durou até 1975, e Grace casou-se novamente no ano seguinte; quando Paul trouxe o Jefferson Starship de volta, ela colaboraria com o ex-companheiro, mas desde o início dos anos 90 ela se mantém afastada da música. Kantner, infelizmente, morreu em 2021.


Wings – Venus and Mars [1975]


Mairon: O casal Paul e Linda McCartney formaram o Wings, tendo como álbum cultuado Band on The Run. Porém, penso que é em Venus And Mars que Linda conseguiu mostrar algum talento para estar ao lado de um gigante musical como Paul. A técnica da garota era ínfima, mas pelo menos aqui ela aprendeu a ser “um pouco” mais instrumentista e fazer música. Os seus acordes no sintetizador na faixa-título já são uma pequena demonstração disso. Ela traz intervenções precisas do sintetizador em faixas como “Love Song”, “Medicine Jar”, e principalmente, além dos sintetizadores, nos vocais de apoio em “Magneto and Titanium Man”. Sua contribuição nos teclados e vocais de “Listen to What the Man Said” dão um charme a mais para essa boa faixa. Curto bastante o clima alegre de “Rock Show”, que também tem um sintetizadorzinho interessante ao seu final, o rock lisérgico de “Spirits of Ancient Egypt”, cantada por Denny Laine, e também com boa participação de vocais e sintetizadores por Linda, e a delicadeza de “Treat Her Gently – Lonely Old People”, que fecha muito bem esse belo disco. E para os fãs xiitas dos Fab-4, divirtam-se com “Call Me Back Again”, “Letting Go” e “You Gave Me The Answer”. Comentar sobre o trabalho de Paul aqui é desnecessário, já que nos anos 70, o cara ainda estava em alta criativamente. Joguem as pedras, mas para mim esse é o melhor disco da carreira de Paul, inclusive junto aos Beatles.

Anderson: Os anos 70 são incríveis, sempre me surpreendo com a qualidade e diversidade de coisas. Não conhecia o Wings que, liderado pelo Paul McCartney, faz um som Rock and Roll, com uma sonoridade pop em vários momentos. Talvez, pudesse enquadrar alguma coisa de soul, mas muito sutil no meu entender. O material começa fervendo com a ótima intro “Venus and Mars” casada com “Rock Show”, pegada que aparece em “Medicine Jar” só que aqui de modo mais pesado. Dentre outros destaques coloco “Magneto and Titanium Man”, música dinâmica, criativa e animada que me lembrou, por algum motivo, o que Queen faria posteriormente. Já “Letting Go” me chamou a atenção pela mescla de instrumentos que apontam um tanto para o soul, só que mais lento, algo que é presente nos Rolling Stones. Teclado, metais, guitarras na medida certa. Pra não me estender, poderia falar das baladas do álbum mas vou destacar a ótima “Call me Back Again” que me lembrou o Joe Cocker pela estrutura ascendente da música. Recomendadíssimo esse disco!

André: Confesso, nunca fui lá grande fã nem do McCarta solo e nem do Wings. Fui escutar esse disco sem nenhuma expectativa e me surpreendi positivamente com o que ouvi. Entre os besouros, o meu favorito ainda é o Harrison e sim, gosto mais do Ringo solo do que do Mac. Mas ele subiu alguns degraus no meu conceito apresentando uma sonoridade rica e classuda, diferente daquela coisa mais juvenil dos Beatles (que gosto tanto). Linda aparece legal aqui com seus backing vocals e colaborando nas composições e instrumentais. Me animei a ir atrás de outros discos do baixista canhoto, devo ter escutado os álbuns errados.

Davi: Paul McCartney é sobrenatural. Depois de ter feito parte dos Beatles (uma das maiores bandas da história do rock), ele criou mais um grupo de primeiríssima linha: os Wings. Venus and Mars é o quarto registro do grupo e mais um grande trabalho com a assinatura de Macca. O disco, que traz composições de Paul McCartney e sua esposa, a sua ‘gatchinha’ Linda (como ele gostava de dizer em suas passagens pelos Brasil), tinha a tarefa ingrata de suceder o brilhante Band On The Run. E não é que eles conseguiram entregar um trabalho à altura? O álbum é bem variado e demonstra muitas das facetas de Paul. O lado A, iniciando com “Venus and Mars/Rockshow” e encerrando com “Letting Go”, é simplesmente perfeito. Nenhuma música descartável. No lado B, temos como destaques; o blues “Call Me Back Again”, o single “Listen What The Man Said”, além de “Treat Her Gently – Lonely Old People”. Um dos grandes álbuns do sir Paul McCartney e o melhor dessa lista, sem sombra de dúvidas.

Marcello: Paul & Linda McCartney, mais Denny Laine, Jimmy McCulloch e Joe English (em algumas músicas, Geoff Britton): Wings em 1975, perto do auge da popularidade, e tentando ser uma banda de verdade, não um veículo para Paul. Quando recebi a lista, pensei comigo: por que esse disco e não Ram, creditado ao casal? De minha parte, nada contra: gosto muito de Ram, mas Venus & Mars sempre esteve perto do topo na minha lista do melhor que Macca fez em toda a sua vida. As músicas são creditadas a Paul e Linda (mas, honestamente, não sei o que Linda efetivamente contribuiu), à exceção de “Medicine Jar” (de McCulloch e Colin Allen; o guitarrista se encarregou do vocal principal) e “Crossroads Theme”, vinheta que encerra o disco, de autoria de um certo Tony Hatch. Os dois lados do álbum começam com a linda faixa-título, forte candidata ao posto de minha balada favorita de Paul. “Rock Show” é uma das músicas mais roqueiras de Paul, e daria nome ao filme que documentou a turnê mundial de 1976 do Wings. “Call Me Back Again” e “Letting Go” são mais bluesy, algo não muito comum na obra de Macca, “Listen to What the Man Said” e “Magneto and Titanium Man” são aqueles rocks descompromissados típicos dos anos 70 (a segunda, uma música ótima para uma letra ridícula), e ainda tem a curiosa “Spirits of Ancient Egypt” (com vocal de Denny Laine), a bela “Love in Song” e a linda “Treat Her Gently – Lonely Old People” – espere sentir o peso da idade para ver se você não se emociona com ela. Vou me estender nessa que é minha música favorita do disco; a balada mistura uma declaração de amor ao reconhecimento de que a velhice traz o fantasma da solidão. O truque genial foi seguir a música com o tema da mais popular soap opera da época na Inglaterra, “Crossroads”: Macca imaginou um casal de idosos assistindo à novela na TV. Ainda que inferior ao excelente Band on the Run, Venus & Mars prova que Macca poderia ter sido o melhor dos quatro na carreira solo – se tivesse tido saco para tentar provar isso. Confesso que quando soube da morte de Linda, achei que Paul não se recuperaria – mas ele continua ativo e excursionando.


ABBA – The Album [1977]

Mairon: Todo mundo sabe que o ABBA era constituído não por um, mas por dois casais. O que poucos sabem é que The Album é o último de Bjorn Ulvaeus e Agnetha Faltskog (o outro casal era Benny Anderson e Anni-Frid Lyngstad) juntos. As consequências para a separação de Bjorn e Agnetha, após quase 8 anos juntos (6 como casados), são diversas. A insegurança familiar de Agnetha, os excessos de viagens, e também, o fato de Bjorn e Benny buscarem sempre uma perfeição tanto para fãs quanto para a imprensa. Aqui, a dupla alfa tentou calar a boca de muitos críticos, que em pleno 1977, com o nascimento do punk, alegavam que os suecos não eram capazes de compôr “música séria”. Foi com essa expressão em mente que nasceu obras-primas como a progressiva “Eagle”, que ganhou anos depois, entre outras, uma pesada versão feita por Sargant Fury, além do grupo punk Leatherface recriá-la de forma muito interessante, o rockaço “Hole In Your Soul”, que me remete muito ao que Styx faria anos depois, e claro, a suíte “The Girl With The Golden Hair”. Dividida em três partes (originalmente, a suíte era composta por quatro partes, apresentadas somente ao vivo, e que podiam superar facilmente os 25 minutos), é “inspirada” nas carreiras de Agnetha e Frida (o que teria sido mais um motivo para a separação do casal), e teve sua primeira parte como um dos grandes sucessos do grupo, a delicada “Thank You For The Music”. Porém, são nas outras duas partes que vejo os méritos dessa suíte. Afinal, o que Frida faz com a voz em “I Wonder (Departure)” é embasbacante, mas nada, nada supera a violência progressiva musical que Benny e Bjorn construíram para “I’m a Marionette”. É indescritível, só colocar as caixas de som no talo e admirar o solo de guitarra, as orquestrações e a harmonia vocal perfeita das meninas aqui. Uma pena a banda não ter registrado em estúdio “Get On The Carousel” (a quarta parte citada), que concluía a história muito bem, o que não impede do encerramento com “I’m A Marionette” ter sido no mínimo brilhante. Aos que já estão torcendo o nariz, saibam que nada mais nada menos que o Ghost fez uma versão para essa faixa, e ao meu ver, bem menos assustadora do que a original. Seguindo, naquilo que o ABBA era exclusivo em fazer, que era pop de melhor qualidade, nasceu a atemporal “Take a Chance On Me”, com sua inesquecível harmonia vocal de introdução, e as passagens de sintetizadores permeando as vozes de Agnetha e Frida. Se “I’m A Marionette” foi coverizada pelo Ghost, saiba que “Move On”, linda faixa com inspirações andina, teve uma versão feita por Rob Rock (que também regravou “Eagle”) com Tobias Sammet nos vocais (!). Um dia irão dar valor as baladas do ABBA como fazem com Fleetwood Mac por exemplo, já que o arranjo de “One Man, One Woman”, que já traz em sua letra indicios de que a coisa não estava bem entre Agnetha (voz principal) e Bjorn, ou então a suave soul de “The Name of the Game”, com seu complexo e fantástico arranjo vocal inspirado nos Beach Boys, mas que aqui é feito com um trabalho hercúleo de encaixe de vozes impossível de se reproduzir, e que como o próprio Bjorn atestou, somente Agnetha e Frida seriam capazes de fazer. Não é o melhor disco da banda, o que atribuo ao seguinte, Voulez-Vous, papo para um Recomenda ou Ouve Isso Aqui Discos de Separação, mas The Album é um disco a ser descoberto!

Anderson: Os suecos do ABBA são uma grande unanimidade dentre a geração Boomer e entre muitos dos Mileniuns, fato. Particularmente meu conhecimento não passa dos clássicos ouvidos pelos meus pais. Ao ouvir (pela primeira vez diga-se de passagem) um material completo da banda ficou um sentimento ambíguo de que realmente não é a sonoridade que me cativa, mas que foi uma audição agradável. Apesar de algumas coisas conhecidas como a, insuportavelmente animada, “Take a Chance on Me”, a sem sal “Eagle” ou a sonolenta “Thank You fot the Music” me chamou muito mais atenção as românticas “One Man, One Woman” e “I Wonder” (que com um solo no estilo Primal Fear em Tears of the Rage ficaria interessante). Porém, as que mais gostei foi a surpreendente “Move On” com uma sonoridade e ambientação muito gostosa em que percussão e instrumentos de sopro (ao que parece gravados com sintetizadores e teclados) proporcionam uma experiência diferente no álbum, e ainda a melhor do álbum: “I’m a Marionete” que traz um som orquestrado muito poderoso. No geral, particularmente, é um ótimo material de pop em sua concepção, mas me soa bem datado, não me empolga apesar de saber de sua importância para a música.

André: Sei que o Mairon ama essa banda, acho eles legaizinhos também, mas nunca me fizeram querer botar roupas coloridas e mostrar meus passos de dança por aí. É um disquinho divertido, com as vocalistas suecas cantando muito bonitinho, mas sem aquela coisa que me empolga. Mas isso sou eu em uma época não muito bem humorada de minha parte. Acho que eu mudaria de opinião se eu ouvir este disco uns anos depois.

Davi: Embora seja um dos grandes nomes da música pop, e eu seja um admirador de música pop, ainda não me aprofundei na discografia do Abba como deveria. Tenho alguns discos deles em minha coleção, mas não tenho tudo ainda. Esse é um dos que me faltam, sendo assim, ouvi ele pelo Spotify e a primeira impressão foi de um bom disco, mas não espetacular. O disco começa maravilhosamente bem como a belíssima “Eagle”, emendando no divertido hit “Take a Chance on Me” e nas bonitas “One Man, One Woman” e “The Name of the Game” (mais um grande hit do grupo sueco), mas o nível cai em “Move On” e a partir daí, a única que me chamou realmente a atenção foi “I´m a Marionette”, responsável por fechar o LP. É indiscutível a qualidade dos músicos e a influência deles na música pop, mas eu provavelmente teria indicado álbuns como Arrival ou Abba. De todo modo, foi bacana vê-los por aqui.

Marcello: Como alguém que cresceu ouvindo Rolling Stones, Led Zeppelin, Deep Purple, Black Sabbath, Uriah Heep, Pink Floyd e Emerson, Lake & Palmer, eu fui musicalmente educado para desprezar o quarteto sueco. Ao longo dos anos, passei a respeitar os dois casais (Anni-Frid, Benny, Agnetha e Bjorn), mas continuou não gostando; admito que são bons cantores, que a banda de apoio era ótima, que Benny e Bjorn são mestres em compor músicas que grudam no ouvido da gente, mas não adianta, não são para mim. Anos atrás, ouvi o catálogo completo do grupo, e o deixei de lado; ao reouvir esse The Album, fiquei surpreso com a pomposa “Eagle”, mas músicas como “Take a Chance on Me” e “One Man, One Woman” passam muito longe do meu gosto e me lembraram das razões para não gostar do ABBA. “The Name of the Game” me soou meio reggae, um ritmo que pouquíssima gente associaria à Suécia; atestando a versatilidade do grupo. “Move On” impressiona pelos vocais, em especial pela voz solo da bela Agnetha, mas é apenas um aperitivo para “Hole in Your Soul”, melhor música do disco, na minha opinião – apesar de, curiosamente, deixar a desejar no quesito vocais, o ponto forte do quarteto. O álbum se encerra com as três partes de “The Girl with the Golden Hair”, “Thank You for the Music”, “I Wonder (Departure)” e “I’m a Marionette”, que, com mais de doze minutos, mostra que o ABBA buscava fugir um pouco da sua fórmula consagrada. The Album acompanhou The Movie, filme sobre a banda lançado mais ou menos na mesma época, liderou a parada inglesa e chegou ao 14º lugar na Billboard – prova do massivo sucesso do grupo, até hoje uma das bandas que mais vendeu discos na história. O ABBA tem seu lugar na história do rock, mas nunca me atraiu e provavelmente nunca me atrairá.


Elis Regina – Transversal do Tempo [1978]

Mairon: Esse aqui vai trazer discussão, certeza que geral vai torcer o nariz, mas foda-se. O papel de Cesar Camargo Mariano neste disco é fantástico. Ele comanda os arranjos para a esposa Elis desfilar a sua técnica, que aqui estava perfeitamente mais que perfeita. Logo de cara, ele já manda ver no seu mais novo brinquedinho, um moog, introduzindo “Fascinação”, na qual Elis arrebenta acompanhada pelo piano sempre emotivo. Mas vem mais: o piano dá o tom dramático de “Sinal Fechado”, uma das obras mais complexas de Chico Buarque, que Elis canta numa naturalidade invejável. E então entra a bandaça formada por Nathan Marques (guitarras), Crispin Del Cistia (guitarra, teclados), Dudu Portes (bateria) e Fernando Sizão (baixo), para interpretar versões apocalípticas de “Deus Lhe Pague”, intrincadíssima e progressiva para abrir um sorriso na cara amarrada de Robert Fripp, Os arranjos de Cesar desconstróem clássicos da MPB do porte de “Boto” (Tom Jobim), com acordes tensos no piano elétrico, “O Rancho Da Goiabada” (João Bosco e Aldir Blanc), mandando ver no piano elétrico e acrescida com uma monumental “Construção” (Elis se rasgando em tristeza aqui, e que arranjo sombrio), tendo apenas a vinheta da polêmica inserção de “Gente” (Caetano veloso), e até a “Saudosa Maloca” de Adoniran Barbosa, aterrorizante o que Cesar e Elis fazem nessa. O auge da dramaticidade, soturna e desconstrução musical vai para “Meio Termo / Corpos”, com um show a parte do violão e da guitarra de Nathan, e canções de letras pesadas que Elis e Cesar jogam na cara dos fãs com um descomunal desprezo aos arranjos originais. Fecham o play versões depressivas (e belas) de “Cão Sem Dono” e “Querelas do Brasil”, mas com um forte tom de que “a vida continua” através da empolgante “Cartomante” de Ivan Lins. O casal permaneceu juntos, entre brigas, idas, vindas e o temperamento sempre “apimentado” de Elis Regina, por mais 2 anos, criando no mínimo mais duas grandes obras (Elis … Essa Mulher, e Saudades do Brasil). O show Transversal do Tempo percorreu e foi aclamado pelo mundo, e também recebeu fortes críticas justamente por seu teor complexo e pesado. Já o álbum Transversal do Tempo peca por ter as músicas “cortadas” do nada muitas vezes, mas ainda hoje, 20 anos depois de ouvir ele pela primeira vez, ainda me choca. Quem sabe um dia lancem a obra em sua totalidade.

Anderson: Realmente uma lista complexa e diferente esta proposta pelo nosso querido Mairon! Elis Regina é uma referência em muitos sentidos e, mesmo sem conhecer sua obra a fundo, imagino que esse ao vivo é uma prova de seu gigantismo como artista. Pois bem, é impressionante o que essa mulher canta! Não gosto de material ao vivo, não ouço quase nada dessa categoria, mas fiquei realmente abismado com esse disco. Logo de cara “Fascinação” já eleva o nível a um patamar altíssimo. Feita a aposta, na sequência “Sinal Fechado” continua intensamente!! Extremamente emocionante a canção de Paulinho da Viola, mas que com a voz de Elis se torna algo surreal. Todavia não para por aí, a terceira é “simplesmente” “Deus lhe Pague” do Chico Buarque que traz um arranjo agressivo e icônico, e, novamente, Elis deita e rola! Ela destrói tudo por meio de uma interpretação que faz jus a cada palavra da música. Esse começo arrebatador da espaço para experiências em um degrau mais abaixo, porém ainda assim muito bom! Após um “intervalo” com o pot-pourri de O “Rancho de Goiabada” e uma breve interpretação de “Construção”, entra uma bossa nova de “Saudosa Maloca”. Creio que a ideia não é uma resenha, mas é difícil de não comentar todas as músicas. Vou parar por aqui destacando, ainda, as versões lindas de “Boto”, e o ótimo pot-pourri de “Meio Termo/Corpos”, lembrando que todas as músicas ficaram fenomenais.

André: Cara, acho que esse é o disco mais “pesado” da Elis que eu já ouvi na vida. Tem guitarras aqui. Guitarras de verdade, com overdrive e tudo mais. O baterista Dudu Portes batendo forte, com viradas e tudo mais. Uma interpretação intensa, forte, não sei o que o César Camargo Mariano fez com ela, mas eu gostei. Discaço hein Mairon, acertou em cheio aqui.

Davi: Elis é considerada, por muitos, a maior cantora da música brasileira e ouvindo esse álbum dá para entender o porquê. Nessa apresentação gravada no Teatro Ginástico (Rio de Janeiro), a pimentinha transborda emoção em cada uma das interpretações, além de ter uma invejável técnica vocal. Embora eu goste muito de seu trabalho inicial, é indiscutível que sua obra toma outro nível quando seu marido César Camargo Mariano assume as rédeas. Todo esse cuidado com o arranjo também é perceptível no show. O concerto não está completo. Inicialmente seria lançado um volume 2 com as outras faixas, mas o projeto acabou sendo abortado. Sabendo da importância da Elis e do barulho que causou na época, se eu trabalhasse na gravadora, nem teria corrido esse risco, teria lançado um álbum duplo de uma vez. Voltando ao álbum em questão, colocaria como destaque os clássicos absolutos “Fascinação” e “Querelas do Brasil”, além de “Sinal Fechado” e “Cartomante”. Se você tem interesse na música brasileira, além do rock/metal, diria que essa é uma audição obrigatória.

Marcello: Gravado ao vivo em apresentação da turnê do mesmo nome, realizada em 1977, Transversal do Tempo traz a melhor cantora da história recente da MPB – ao menos na minha opinião – ao lado do marido tecladista, produtor, arranjador, diretor musical, o que mais você quiser, César Camargo Mariano. Se o ABBA eu desprezava, Elis – e toda a MPB – eu não me interessava. E não me interesso, admito. Por isso não posso comparar esse disco com a produção da cantora, ou as versões de músicas conhecidas com outras. Abrindo com a linda “Fascinação”, com Elis soltando toda a extensão de sua voz privilegiada, o disco traz outro clássico da música brasileira (“Saudosa Maloca”), bem como “Sinal Fechado”, que mostra que só um talento como o de Elis consegue fazer você ouvir uma música do Paulinho da Viola sem sentir saudades do autor. “Querelas do Brasil” é outro destaque absoluto, com um acompanhamento fantástico dos músicos de apoio em um arranjo quase jazzístico. César Camargo Mariano é um tecladista de mão cheia e a banda é excelente, e o desempenho de Elis é impecável (só não curto muito a voz dela na versão de “Deus Lhe Pague”). O álbum se encerra com “Cartomante”, uma aula de domínio de voz no autor Ivan Lins (não entendam errado, o cara canta bem, mas Elis é covardia). Diferentemente do ABBA, este aqui eu vou ouvir mais vezes no futuro.

quinta-feira, 17 de fevereiro de 2022

Minha Coleção: ABBA


No minha coleção, apresentamos a coleção de alguma banda/artista de um de nossos consultores. Começamos com ABBA, e os discos que Mairon Machado tem da banda. Curiosidades, versões diferentes, e muito mais. Aproveite para inscrever-se em nosso canal, e compartilhe com quem você sabe que aprecia música.



quinta-feira, 6 de janeiro de 2022

Melhores de 2021


E vamos as tradicionais listas de Melhores do Ano. Depois de algum tempo sem conseguir acompanhar lançamentos com certa assiduidade, ou de conseguir curtir 10 álbuns para fechar uma lista digna de ser apresentada aos leitores, eis que 2021 trouxe o retorno aos estúdios de gigantes que eu admiro, e que acabaram fazendo com que eu ouvisse bastante os álbuns que aparecem abaixo, principalmente nos lançamentos do último trimestre (outubro, novembro e dezembro). Foi um ano difícil, muitas perdas, muitas tragédias, mas fica a esperança para 2022. Que ele não repita tudo de ruim que aconteceu em 2021, mas que possa trazer paz, saúde, e claro, lançamentos tão bons quanto os que curti. Vamos a lista.

1.  ABBA - Voyage

Podem me dizer o que quiserem, mas Voyage é disparado o melhor disco de 2021. Anos esperando um lançamento novo dos suecos, e eis que o quarteto detona. O melhor do pop para agradar qualquer fã do grupo, ainda mais com músicas maravilhosas como "Don’t Shut Me Down", "Just a Notion" " Keep An Eye On Dan" e "No Doubt About It". Benny e Björn criando faixas como se o tempo não tivesse passado para eles, e o mesmo pode se dizer das vozes de Agnetha e Frida. A turnê holográfica não me atrai, mas esse discaço está rodando direto nessa descoberta (que não gosto muito, mas é o que temos no momento) que foi o Spotify. Lançado em 05 de novembro.


2. Steve Hackett - Under a Mediterranean Sky

Que Steve Hackett sempre é capaz de nos surpreender, disso ninguém tem dúvida. Depois de bons discos com vocais nos últimos tempos, eis que ele largou a guitarra, pegou o violão e foi unir-se a Roger King (teclados e arranjos orquestrais) para se inspirar nos sons mediterrâneos em um fantástico disco de violão clássico, que mistura elementos desde o flamenco até o oriente médio. O épico que abre o álbum, "Mdina (The Walled City)" é uma das canções mais virtuosas que já tive oportunidade de ouvir advinda das mãos do cara. Certamente sabia que ele é muito talentoso, mas os dedilhados furiosos que ele faz ao violão aqui, são de cair o queixo. Outra surpresa foi o uso do trêmolo em "Adriatic Blue" e "The Memory of Myth", como é linda essa técnica, e como Hackett a faz tão bem. E claro, ao ouvir "Scarlatti Sonata" uma lágrima correu, me lembrando os bons tempos que estudei violão clássico. Composições lindas, na linha do que John Willians já havia feito há algum tempo atrás, que atestam como um grande músico sabe se reinventar, e não necessariamente ficar tocando sempre a mesma coisa por anos e anos. Há tempos não ouvia algo tão tocante relacionado a arte do violão clássico. Lançado em 22 de janeiro. 

3. Styx - Crash the Crown

Outro que tocou muito no Spotify. O Styx volta a fazer uma sonoridade próxima ao progressivo, e faixas como  “A Monster”, “Hold Back The Darkness”, "Long Live The King" e “Our Wonderful Lives” atestam por que o Styx é a melhor banda daquelas que foram consagradas pelo seu som perambulando entre o pop comercial e o rock progressivo, empregando elementos acústicos, pesados, orgãos de igreja e até trompete (!) com uma precisão impecável. Perguntinha: quando o Styx dará o ar da graça por aqui? Lançado em 18 de junho. 

4. Greta Van Fleet - The Battle at Garden's Gate

Como é bom ver jovens alunos evoluindo, conseguindo caminhar por conta própria, e prometendo dar muito orgulho aos seus professores. É o caso do Greta Van Fleet. Se o álbum anterior trouxe muitas comparações ao Led Zeppelin, em The Battle at Garden's Gate os irmãos Kiska (e o batera Daniel Wagner) praticamente limaram essa comparação. Os rapazes estão cada vez mais soberanos em suas criações, claro, trazendo influências Zeppelianas, mas com arranjos e harmonias puramente VanFleetianos. O álbum é uma paulada atrás da outra, mesmo nas baladas, e até nos momentos acústicos as canções conseguem te dar uma pancada no peito, que te sacode por inteiro. Grande destaque para os solos de Jacob, como esse menino evolui nas seis cordas, e também no uso do wah-wah, basta ouvir, e se emocionar, com o maravilhoso solo de "The Weight of Dreams". Outras grandiosas faixas são "Broken Bells", "Heat Above" e "Built By Nations". Ansioso para ver esses caras abrindo para o Metallica, o laço que vão dar nos velhinhos. Certamente, se seguirem nesse patamar, serão lembrados como a maior banda deste século. Lançado em 16 de abril. 

5. Jerry Cantrell - Brighten

Jerry Cantrell é um sobrevivente do rock. Todos os exageros da geração Seattle dos anos 90 não foram capazes de afetar sua capacidade de criar músicas sensacionais. Apesar de Brighten trazer canções que em pouco lembram Alice in Chains, como por exemplo "Prism of Doubt", há também faixas pesadas e empolgantes, como a faixa-título, "Had To Know", que me fazem pensar como seria bom se Layne Stailey estivesse ainda criando faixas ao lado de Cantrell. Ouvir "Siren Song" fez arrancar lágrimas imaginando os dois cantando juntos essa faixa. Belo disco! Lançado em 29 de outubro. 

6. Big Big Train - Common Ground 

Me aproximei mais do Big Big Train depois da entrada de Rikard Sjöblom na banda. Apesar de não curtir os vocais Neal Morseanos de David Longdon, é inegável a contribuição que o ex-Beardfish Rikard deu para a banda. Da Suécia, o rapaz trouxe sua genialidade ímpar para criar peças preciosas, e que bom que Longdon percebeu o talento do cara. Mesmo que Rikard tenha composto apenas uma canção, a linda "Headwaters", somente ao piano, suas contribuições com teclados e guitarra em faixas como "All The Love We Can Give" e na suíte "Atlantic Cable", verdadeiras teses de rock progressivo atual baseadas nos grandes trabalhos dos anos 70. Destaque total para "Apollo", fantástica faixa instrumental cria do batera Nick D'Virgilio, e indicada para quem curte Yes e afins. Lançado em 30 de julho. 

7. Stew - Taste

O Stew surgiu para mim através de um Test Drive que fizemos em 2019, e desde então, virou banda de audição constante com aquele álbum. Em novembro desse ano, veio Taste, mais uma bela paulada que mostra elementos de hard rock dos anos 70 surpreendentes. Novamente, o disco é curto (pouco mais de meia hora), mas o suficiente para quebrar pescoços e estourar cordas de air guitars mundo a fora, principalmente na pesadíssima "Earthless Woman", na rifferama de "Heavy Wings" e na trabalhada "Still Got the Time". Destaque também para a balada bluesy "When the Lights Go Out". Lançado em 12 de novembro.

8. Lucifer - Lucifer IV

Passei a prestar mais atenção ao som do Lucifer a partir do Melhores do Ano passado, onde a banda figurou nos dez mais. O som de Lucifer IV é pesado e ótimo de se ouvir com o som no talo. Os vocais de Johanna Sadonis estão cada vez mais sedutores e potentes, e as construções instrumentais mostram como o Black sabbath ainda influencia novidades, e é capaz de parir bisnetos tão tinhosos quanto foram suas composições originais, vide "Cold as a Tombstone", "Phobos", "Orion", "Wild Hearses", e com certeza, "Mausoleum", cuja introdução já colocou fácil esse álbum nesta lista. Essas faixas, que apesar do cheirão evidente do couro da jaqueta do bisavô Iommi, trazem todo um frescor do século atual. Lançado em 29 de outubro.

9. Robert Plant & Alison Krauss - Raise the Roof

Raising Sand, o primeiro álbum da dupla, é um álbum tão bom que ficamos na expectativa de como seria um segundo lançamento deles. Pois 14 anos depois, Plant e Krauss voltaram com Raise the Roof. Não é um disco tão impactante quanto seu antecessor, mas mesmo assim, muito belo. As canções parecem ser uma sequência natural da carreira de Plant ao lado da Sensation Space Shifters, porém aclimatadas pelo sempre excepcional vocal de Krauss. Faixas como "Go Your Way", "Searching for My Love" trazem belas harmonias vocais e instrumentais, e como Plant ainda está com a voz em dia, incrívelmente, como mostra também "High and Lonesome". Quando Alison tem o predomínio vocal, como "The Price of Love" e "It dont Bother Me", é de uma lindeza única. As melhores, "Quatro (World Drifts In)" e "Last Kind Words Blues", trazem elementos perfeitos para serem ouvidos enquanto nossos nervos são tocados pelas belezas emanadas dessas ótimas composições. Lançado em 19 de novembro. 

10. Caligonaut - Magnified as Giants

Estes noruegueses surgiram como indicação no Spotify, em virtude de eu ter ouvido bastante Wobbler esse ano, e fiquei encantado. É um progressivo mito bem feito, lembrando um pouco de Genesis mas trazendo também boas pitadas de peso, muito por conta da participação do membro do Wobbler  Lars Fredrik Frøislie (teclados, mellotron). A abertura com a linda "Emperor" já traz uma mistura incrível de elementos acústicos e elétricos, com teclados e baixo predominando entre os dedilhados de violão e guitarra. O trabalho de violão também é relevante em "Hushed" e na bela faixa-título. A suíte "Lighter Than Air" é uma das grandes joias desta década, em termos musicais. Quatro faixas apenas, mas muito boas para nos fazer esperar ansiosamente por mais um lançamento do Wobbler, e que o Caligonaut possa se manter na ativa, além de mostrar que a Escandinávia vem cada vez mais parindo as melhores bandas deste século em se tratando de progressivo. Lançado em 26 de fevereiro.

Menção Honrosa: Serj Tankian - Elasticity

O EP Elasticity trouxe o velho Serj Tankian para minhas audições. as cinco canções são uma moderna criação do que poderia ser o SOAD hoje em dia. Destaque em especial para "Your Mom" e "Electric Yerevan", pesadíssimas, e o piano com orquestra na sensacional "How Many Times?". Não entrou na lista dos dez melhores apenas por que é um EP. Ah se o SOAD voltasse ... 😔

Decepções: Iron Maiden - Senjutsu e Deep Purple - Turning to Crime

Que o Iron vem se repetindo há anos não é novidade. O problea central de Senjutsu é que as músicas longas estão cada vez mais sonolentas, e as mais curtas são um pastiche da carreira solo de Bruce Dickinson ou de composições de Adrian Smith. Disco modorrento, que não sei se irá me conquistar um dia. 

Turning To Crime é um disco triste. OK, o Deep Purple apresenta suas homenagens, mas falta uma vitalidade ao longo das canções. Mais uma banda que não há por que continuar na ativa, ao meu ver, e que deixei de acompanhar há algum tempo. Até tinha esperanças com Turning to Crime, mas foi uma grande decepção.

Vergonha alheia: The Metallica Blacklist 

Sério, quem foi o "gênio" que teve a coragem de lançar quatro horas de versões para algumas músicas do clássico "Black Album" do Metallica, em mais de 4 horas de duração? E sério, quem que se animou a comprar isso? Não me senti a vontade para ouvir o tal disco, até por que ouvir sete versões diferentes de "Sad But True" e "The Unforgiven", seis de "Enter Sandman", e doze (!) de "Nothing Else Matters" é ter muito tempo para ser perdido. Sério, que ideia de jerico isso aqui. 

terça-feira, 7 de dezembro de 2021

ABBA - Voyage [2021]



40 anos depois, o mundo foi surpreendido por um dos retornos mais inesperados da música. Muito se especulou sobre a reunião de Agnetha Faltskog, Benny Anderson, Bjorn Ulvaeus e Anni-Fryd Lingstad, ou simplesmente o ABBA, a maior banda pop de todos os tempos. Até uma oferta de 1 bilhão de dólares, no ano 2000, o quarteto sueco recusou para voltar aos palcos, o que praticamente descartou qualquer possibilidade dos ex-casais voltarem a se apresentar juntos, quiçá gravar um novo disco.

Björn, Agnetha, Frida e Benny

Porém, a Terra Plana dá voltas. Em 2017 Benny havia falado da possibilidade de uma turnê holográfica do grupo, nos moldes do Elvis: The Concert, mas isso passou quase despercebido entre os fãs. Então, em abril de 2018, o quarteto anunciou que o show iria realmente ocorrer, além de terem voltado aos estúdios para registrarem duas novas canções, "I Still Have Faith in You" e "Don't Shut Me Down". A pandemia veio, e então, o projeto ficou em banho-maria, até que simplesmente do nada, em 26 de agosto deste ano, o website ABBA Voyage foi lançado, e no dia 2 de setembro, os quatro músicos fizeram uma conferência de imprensa para anunciar o retorno aos palcos, de forma holográfica, seguido também de um lançamento de um novo álbum.

No dia 26 de outubro saiu o segundo single, "Just a Notion", e então, Voyage, o qual chegou às lojas e streamings no dia 5 de novembro deste ano, e rapidamente, se espalhou pelas casas do mundo como uma obra atemporal, que mostra como as mãos de Bjorn e Benny continuam sendo guiadas por uma genialidade ímpar no mundo da arte, e como as vozes de Agnetha e Frida permanecem aveludadas e sensuais como há 50 anos. Acompanham o quarteto Jan Bengtson (saxofone, flauta), Pär Grebacken (clarinete, saxofone), Per Lindvall (bateria, percussão), Lasse Jonsson (guitarras), Lasse Wellander (guitarra) e Margareta Bengtson (harpa).

A faixa que abre Voyage é "I Still Have Faith In You", cantada por Anni-Frid. As orquestrações aparecem trazendo a marcante voz da cantora, e de cara somos lançados nos anos 70. O complemeto vocal de Agnetha arranca os primeiros arrepios, e essa leve faixa vai crescendo, em uma ode a amizade e a capacidade de sobreviverem como amigos mesmo após as separações, em uma bonita balada típica do ABBA. O estouro final, com a entrada da guitarra, baixo e bateria, e os vocais explodindo, é fascinante, e já percebemos que ao longo de Voyage, estaremos realmente viajando no tempo. O vídeo da canção resgata imagens da banda no fim dos anos 70, além dos ABBAtares, e foi visto por 4 mihões e meio de pessoas ao redor do mundo em menos de 24 horas, tornando-se o terceiro vídeo mais assistido em menos tempos. Seguimos com "When You Danced With Me", canção com um embalo celta muito gostoso, comandado pelas flautas e mandolin, além das vozes esplêndidas de Agnetha e Frida. 

A canção natalina "Little Things", que acabou de sair no formato de single, vem na sequência, cantada por Agnetha, e sendo tipicamente uma faixa para acalorar os gelados Natais da Escandinávia. A presença do coral de crianças da Stockholm International School certamente irá fazer você se lembrar de "I Have A Dream". Mais uma sacada genial do grupo. 

Harpa e Agnetha introduzem "Don’t Shut Me Down", uma das melhores faixas de Voyage, começando lenta e depois tornando-se dançante como todo fã da banda aprecia. Não à toa a faixa alcançou o primeiro lugar nos charts de diversos países. O refrão é sensacional, de sair cantando e dançando pela casa, com uma sequência de palavras que automaticamente são gravadas e reproduzidas em nossa cabeça, ainda mais pelos acompanhamentos cadenciados do piano. Faixa fantástica, cujo clipe teve mais de 1 milhão e 400 mil visualizações em menos de 24 horas. 


Voyage versão Picture

Se você achava que o ABBA ia parar de impactar e te colocar nos anos 70, acalme-se, por que "Just a Notion" fará isso com ainda mais vigor. O piano, as batidas de mãos, as vocalizações de Agnetha e Frida, caraca, é de arrepiar. O que essas duas estão fazendo aqui é de chorar. Como o tempo pode não ter passado para elas? E o piano de Benny? E as harmonias vocais criadas por Björn. Se catar. Esse quarteto é o suprassumo da criação do pop. Gênios!!!  Ok, ok, ela foi criada lá em 1979, para Voulez-Vous, e já tinha aparecido de uma maneira um pouco diferente como parte de "Abba Undeleted", na coletânea Thank You For The Music, então, fica um descontinho. O baixista Mats Englund participa da dolorida balada "I Can Be That Woman", faixa onde os vocais de Agnetha e o piano de Benny são mais oitentistas, e com traços ABBA na linha de álbuns como The Visitors e Super Trouper, pegando a fase final do grupo.

Versão em vinil branco

Após essa pequena amenização, sintetizadores nos preparam para o orgasmático climax de "Keep an Eye on Dan". A faixa começa lembrando um pouco "S. O. S.", com um I de "I'm a Marionette". Então, os vocais vão aumentando a apreensão junto de batidas percussões, explodindo no refrão para se cantar em plenos pulmões! E dê-lhe sintetizadores, e dê-lhe vocalizações, e dê-lhe mais uma canção do ABBA para ficar na história, e mais uma lembrança de "S. O. S." no encerramento, com uma citação do riff de piano. Flautas a la "Fernando" aparecem em "Bumblebee", outra canção com muita orquestração, trazendo os vocais de Frida, e que acaba sendo o ponto mais baixo do álbum, talvez por aparecer depois de uma paulada como "Keep an Eye on Dan". 

Não há explicações para "No Doubt About It". Como que Benny e Björn criaram essa obra-prima, com um riff de banjo elétrico (?), a doce voz de Frida, um refrão poderoso, em uma faixa que apenas tem que deixar rolar, sentir ela conduzir seu corpo e dançar junto. Mais um ponto positivo para Voyage, que está na reta final, para ser concluído com "Ode to Freedom", faixa suave, com muita orquestração, com os vocais dos quatro membros, e que encerra com muita grandeza a carreira de uma banda gigante em uma espécie de despedida, celebrando com alegria a liberdade da separação, e deixando para trás aquela sensação triste que ficou marcada a despedida da banda em The Visitors

ABBA em primeiro no Reino Unido

Voyage debutou na posição número 1 do United World Chart, com mais de 750 mil cópias vendidas logo na primeira semana, fato causado por atingir o primeiro lugar em 15 países (Reino Unido entre eles, onde tornou-se o álbum mais vendido do ano, e o décimo do grupo a atingir a  primeira posição) e segundo no Canadá e Estados Unidos, mostrando como o nome ABBA ainda rende, e muito. E o disco realmente é ótimo, merecendo todas as honras que tem recebido. Ele foi lançado em diversos formatos, destacando a versão em CD Deluxe, com pôster e adesivo, bem como as colecionáveis versões limitadas em CD e K7 trazendo cada uma o rosto de um dos membros da banda ("Putz, como não me dei conta disso antes? [HARRIS, S. 2021]) e versões em LP branco, verde, azul, laranja, picture com a capa original e picture com capa alternativa (algumas versões nessa matéria). 

Bjorn e Benny divulgando entrevista no programa Child In Need, da BBC One


O show ABBA Voyage trará ABBAtares (apelido dado aos avatares do quarteto) como eles eram na segunda metade dos anos 70, e irão ocorrer no ABBA Arena, local que está sendo especialmente construído no Queen Elizabeth Olympic Park, em Londres, a partir do dia 27 de maio de 2002. A empresa Industrial Light & Magic, fundada pelo mago dos efeitos especiais George Lucas, foi a responsável pela captura e criação dos hologramas, e que já tem as datas disponibilizadas para vendas, prometendo ser um grande sucesso, e quem sabe, contar com mais surpresas até lá. Disco do ano, para fechar com chave de ouro um 2021 bem conturbado, e prepara o terreno para um 2022 que promete. Boas festas à todos!

ABBA em estúdio

Track list

A1 I Still Have Faith In You

A2 When You Danced With Me

A3 Little Things

A4 Don’t Shut Me Down

A5 Just A Notion

B1 I Can Be That Woman

B2 Keep An Eye On Dan

B3 Bumblebee

B4 No Doubt About It

B5 Ode To Freedom


sábado, 8 de agosto de 2020

Livro: ABBA - O Que Há Por Trás De Cada Canção [2012]



Que o ABBA é uma das maiores bandas da história do pop mundial isso ninguém discute. Lançamentos como Abba, Arrival, Album, Voulez-Vous e Super Trouper estouraram nas paradas do mundo inteiro, e fizeram de Aghneta, Anne-Frid, Björn e Benny a dupla de casal mais bem sucedida no mercado fonográfico em todos os tempos. Os suecos conquistaram os anos 70 com sucessos do porte de "Waterloo", "Dancing Queen", "S. O. S.", "Mamma Mia", "The Winner Takes It All", "Chiquitita", "Fernando" e por aí vai.


Essas e todas as outras canções que o quarteto gravou são narradas por Robert Scott em ABBA - O Que Há Por Trás De Cada Canção, lançado no Brasil em 2012 pela editora Lafonte. Com textos no The Guardian, Elle, e apresentação de programas na BBC e Sky News, Scott é um pseudônimo de Chris Roberts, especialista em música que já fez biografias para Lou Reed e Michael Jackson, mas que se destacou mesmo com Idol Worship, livro que foi aclamado pelo New York Times. O autor manja bastante de música, e isso transparece ao longo das 240 páginas de livro.

Afinal, ele entra de sola quando não aprecia uma composição ou melodia da banda, mas por outro lado, exalta todas as virtudes daquilo que lhe agrada. E isso acaba incomodando bastante na leitura de O Que Há Por Trás De Cada Canção. Ele se torna bastante pessoal, com Roberts implicando o tempo todo com as vozes masculinas, enaltecendo todas as virtudes sensuais de Agnetha e trazendo uma Anne-Frid que parece ser apenas um adorno do marido Benny do que realmente um membro fundamental na banda.


Bom, mas vamos ao livro. São 16 capítulos divididos em 240 páginas, incluindo Prefácio, Introdução, Cronologia, Discografia Básica, Bibliografia, Índice Analítico e Créditos de Fotografia, que aliás, são várias. O autor não se prende somente em analisar as canções, mas também vai fazendo um resgate da história da banda, além de um breve resumo da vida pessoal de cada membro do ABBA antes da banda. Assim, passamos pelos relacionamentos, glórias, fracassos, shows, gravações e muito mais de forma bastante tranquila, em uma leitura fácil, onde Roberts sempre dá seu pitaco, para o bem ou para o mal.

Assim ficamos sabendo que fora dos palcos, Agnetha e Anne-Frid quase nem conversavam. Que a primeira, uma musa sexual para todo o mundo, detestava as turnês, e preferia muito mais o lado materno, o que acabou levando a sua separação de Björn. Que os homens do quarteto eram fascinados por gravar um musical, o que só foi realizado de fato após o fim do ABBA. Que todos tinham uma carreira considerável antes do ABBA, fazendo sucesso principalmente no norte europeu. Que as participações no Eurovision ajudaram e muito a moldar a banda, entre outros diversos detalhes bastante curiosos para um fã não-iniciado na história dos suecos.


Essa parte do livro é boa, mas as análises das músicas, bom, aí é outra história. Roberts deixa transparecer que para ele, o que o ABBA fazia de bom era só a música disco. Elogia muito os sucessos "Dancing Queen", "Mamma Mia" e "Money Money Money", além de todas as faixas dançantes que o grupo fez. Mas por outro lado, critica veementemente os rocks da banda ("Watch Out", "Rock Me" ou "Rock 'n' Roll Band", por exemplo), a tentativa (em minha opinião bem sucedida) de fazer uma mini-ópera rock com The Girl With the Golden Hair, e claro, essa com bastante razão, detona as criações reggae de "Tropical Loveland" e "Sitting in the Palmtree", facilmente as piores músicas dos suecos. Roberts também não poupa letras tolas e infantis como "Bang-a-Boomeran", "Dum Dum Diddle", "Two For The Price of One" ou "Suzy-Hang Around", mas sabe reconhecer a grandiosidade de composições como "The Winner Takes It All" e "One of Us", duas das melhores letras que foram gravadas pela banda.

Enfim, para quem quer conhecer um pouco da história e das letras de uma das bandas mais importantes do mundo da música, ABBA - O Que Há Por De Trás De Cada Canção é um achado, ainda mais que ele está barato em diversas lojas do ramo. Mas, se você quer realmente se aprofundar na história dos suecos, então busque obras mais refinadas como A Biografia, de Carl Palm, que outro dia trarei por aqui

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