terça-feira, 30 de agosto de 2011

Symphonic Music of Yes [1993]



Por Mairon Machado (Publicado originalmente no blog Consultoria do Rock)


Em 1993, o futuro do grupo britânico Yes estava muito obscuro. Após a bem sucedida turnê Union, que contou com oito dos 12 integrantes que já haviam passado pelo Yes no mesmo palco, as brigas e divergências pessoais entraram em erupção, fazendo com que todos se afastassem temporariamente.

Foi nesse clima que o guitarrista Steve Howe recebeu a proposta do amigo e maestro David Palmer para entrar em estúdio e recriar algumas canções do Yes com orquestra. Palmer já havia sido responsável pela esplêndida compilação A Classic Case (1985), a qual reune canções do grupo Jethro Tull ao lado da The London Symphony Orchestra, em um disco de muito bom gosto. Howe, por sua vez, já havia trabalhado com uma orquestra no seu álbum de estreia em carreira solo, o essencial Beginnings (1975), e topou a audaciosa ideia de Palmer na hora.


David Palmer

Amigo próximo do baterista Bill Bruford, que também tocou no Yes, Howe não exitou em chamá-lo para o instrumento, deixando a cargo de Palmer os critérios para seleção das músicas e da orquestra. Sabiamente, Palmer escolheu novamente a The London Symphony Orchestra, que além de A Classic Case, já havia feito regravações para diversos clássicos do rock com arranjo orquestral, bem como havia trabalhdo com Frank Zappa nos projetos London Symphony Orchestra Vol. I (1983) e London Symphony Orchestra Vol. II (1987). Porém, contatou ainda a The English Chamber Orchestra para participar de duas canções, e o The London Community Gospel Choir para colaborar com os vocais.


Alan Parsons

No meio do caminho, o músico e produtor Alan Parsons (que já havia trabalhado com o Pink Floyd) entrou em cena, fazendo todo o trabalho de produção orquestral e também trazendo com ele um importante convidado, o vocalista Jon Anderson. Assim, entraram em estúdio para recriar 10 canções da carreira do grupo britânico.

Steve Howe

O Yes já havia trabalhado com orquestra no álbum Time and a Word (1969), mas não da forma como se encontra em Symphonic Music of Yes, um álbum repleto de esplendor, momentos tocantes e muita técnica expressa tanto por Steve Howe e Bill Bruford como pelos membros das orquestras citadas. Com Howe e Palmer na produção, arranjos de Palmer e a colaboração de Tim Harries no baixo, Symphonic Music of Yes é um belo registro tanto para os fãs do Yes quanto para os fãs de música clássica.

O CD abre com o maior clássico da carreira do Yes, "Roundabout” gravada originalmente no álbum Fragile (1971). Metais fazem a parte dos teclados, trazendo Howe para fazer a tradicional introdução ao violão, seguido pelo baixo cavalgante de Harries, a bateria de Bruford e a orquestra fazendo a parte dos teclados, para Anderson começar a cantar em uma linha similar a versão original. O refrão apresenta os violinos fazendo a parte dos teclados, com Howe acompanhando os vocais de Anderson, e com destaque para Bruford, com uma levada única que somente seu cérebro consegue criar.

Flautas e metais repetem a melodia vocal, levando para a segunda sessão ao violão, cortando boa parte da versão original. Por exemplo, o famoso “sambinha” não aparece aqui. Mesmo assim, “Roundabout” não perde seu charme, e os solos de teclado e guitarra estão presentes, com Julian Colbeck sendo o responsável por tentar reproduzir as notas de Rick Wakeman (tecladista que gravou a versão original de "Roundabout"), encerrando esse clássico com Howe e Anderson dividindo os vocais, e tendo as vocalizações que levam para as notas de violão de Howe, até o longo acorde da slide guitar.

Steve Howe, Bill Bruford, Alan Parsons, Tim Harries e David Palmer

Os pássaros e percussões de “Close to the Edge” são ouvidos, e o ouvinte então depara-se com uma brilhante versão para essa incrível suíte, gravada originalmente no álbum de mesmo nome, em 1972. O arranjo de Palmer faz uma mescla das quatro partes da canção. Cortando o solo inicial de guitarra, a orquestra entra direto no tema central de “Solid Time of Change”, com Howe, Bruford e Harries acompanhando. Então, o que seria a letra é feito pelos violinos, com Bruford fazendo um ritmo inexplicável, mostrando por que ele é o verdadeiro baterista do Yes (me perdoem os fãs de Alan White, baterista que substituiu Bruford no Yes, mas somente Bruford consegue tocar “Close to the Edge” como ela tem que ser tocada).

Os metais fazem a parte dos vocais de “Total Mass Retain”, contando com a contribuição das cordas e do andamento complicado e intrincado de Bruford, destacando também a participação de sinos tubulares. A pesada ponte onde o nome da canção é entoado é feito pelos metais e pelos violinos, em uma sequência encantadora.

Os metais abrem “I Get Up, I Get Down”, com Howe dedilhando na guitarra a melodia vocal, acompanhado pela flauta, que imita a melodia, e pelos sintetizadores de Palmer. A flauta faz a continuação da letra, enquanto os metais emitem a melodia dessa parte da canção, chegando então em “Seasons of Man” com os metais entoando a melodia dos vocais, para o oboé fechar a melodia da letra junto com os violinos, deixando o poderoso naipe de metais concluir a canção com o imponente arranjo da versão original. De arrepiar!

Steve Howe

“Wonderous Stories” abre com os metais, para a flauta fazer a melodia vocal, acompanhada pelo belo arranjo orquestral e pela participação de Howe (reproduzindo fielmente as notas da versão original, gravada em Going for the One, de 1977) e de Bruford, fazendo o deleite daqueles que sempre tiveram a vontade de ouvir uma canção da era White interpretada por Bruford. Nem preciso comentar o que Bruford faz. Basta apenas dizer o de sempre: inexplicável. Howe também reproduz a melodia vocal na guitarra, mas sem expandir seu talento, e “Wonderous Stories” encerra fiel (a menos de Bruford) à sua versão original.


Bill Bruford, Jon Anderson e a The London Community Gospel Choir

“I’ve Seen All Good People” apresenta apenas a parte “All Good People”, com Anderson e a The London Community Gospel Choir cantando a letra sobre o andamento original da canção, que ganhou um arranjo todo especial para as cordas, mas que mantém-se fiel ao que foi registrado em The Yes Album (1970), inclusive com Howe reproduzindo nota por nota de seu solo.

“Mood for a Day” traz Howe acompanhado pela The English Chamber Orchestra, e por incrível que possa parecer, ficou muito acima do esperado. Se a versão original de Fragile, apresentava Howe debulhando os dedos no seu violão, aqui ele ganhou um acompanhamento emocionante da orquestra, que deu uma cara toda nova para a canção. Howe manteve a melodia de seu solo, mas as intervenções das cordas irão timidamente arrancar uma pequena lágrima de seu olho, tamanha a beleza sonora registrada no CD. Fantástico é pouco para o arranjo produzido por Palmer para essa que é talvez a mais bela canção já composta por Howe para o violão.

Bill Bruford

“Owner of a Lonely Heart” é a que ficou mais estranha de todas. O tempero pop da versão original (de 90125, gravado em 1983), fora que nem Howe e nem Bruford participaram da mesma, acabou gerando um certo ar de oportunismo do sucesso da mesma para tentar alavancar as vendas desse CD. Bruford surge fazendo a quebradeira inicial, com Howe puxando o riff ao lado da orquestra, caindo no chiclete pop onde a melodia vocal é feita pelos violinos, contando com os metais para fazer as intervenções dos teclados. 

O refrão traz os metais fazendo a voz de Anderson, com o oboé fazendo a parte de Trevor Rabin (guitarrista que gravou a canção em 90125). Os metais cantam a segunda parte da letra, enquanto Bruford está fazendo o básico, mas complicado, ritmo. A terceira parte da letra é dividida entre metais e cordas, chegando ao que seria o solo de guitarra, o que aqui é reproduzido pelas cordas em uma maneira muito próxima a versão original, encerrando com metais e cordas entoando a melodia do nome da canção enquanto Howe sola na guitarra, mas em um estilo bem diferente do que estamos habituados a ouvir de seu instrumento.

David Palmer e The London Symphony Orchestra

O cheiro de oportunismo acaba com a bela inclusão de “Survival”, resgatando os primórdios da carreira do Yes. Essa linda canção do álbum de estreia também ganhou um belo arranjo. Excluindo a longa introdução, a canção aqui já começa com o violão e os metais próximos a entrada da letra. A melodia vocal é feita pelo violino, arrepiante, com o leve andamento de Harries, Bruford e os jazzísticos acordes de Howe. Violões, cordas e metais são adicionados aos poucos, para as trompas fazerem a melodia da segunda parte vocal, chegando ao belo refrão, onde a The London Community Gospel Choir canta a letra original. Howe então retorna a melodia da letra com o violão, acompanhado pela The English Chamber Orchestra, para as trompas repetirem seu tema, levando novamente ao refrão e encerrando essa magistral canção com o riff final feito por cordas, trompas e as escalas de baixo, guitarra e bandolim.


Bill Bruford

“Heart of the Sunrise” começa com as cordas e o baixo fazendo o pesado riff da canção, com as os teclados sendo tocados por Palmer e com Bruford quebrando a bateira em batidas intrincadas e irreproduzíveis. O crescendo inicial é fiel a versão de Fragile, e então os violinos fazem o tema da guitarra, estourando na incrível e pesada sessão com guitarra, baixo e bateria fazendo o tema central acompanhados pela orquestra, em um esplêndido volume sonoro de colocar a casa ao chão. 

Apesar de não ser tão longa quanto a versão original, ficou muito legal essa versão. Oboé e guitarra acompanham Howe fazendo a melodia vocal no violão, repetindo o tema central, agora acompanhado pelos metais, e voltando a melodia da letra novamente ao violão. O andamento do tema central é feito destacando a orquestra, com os violinos fazendo a melodia vocal, levando então para mais uma repetição do tema central, agora com guitara, violinos, metais, baixo e bateria. A modificação do ritmo de “Heart of the Sunrise” é feita por piano (tocado por Palmer) e as trompas, que fazem a melodia vocal, seguidas por flautas. O piano repete o tema dessa sessão da canção, seguido pelos metais e cordas, voltando então ao tema central da guitarra, baixo e bateria, para guitarra, cordas, baixo e bateria repetirem o tema da segunda parte, com os metais e as cordas dividindo a emocionante melodia vocal do encerramento, encerrando com guitarra e cordas reproduzindo o tema central. Novamente, fantástico!

Tim Harries


A suíte “The Gates of Dellirium”, do álbum Relayer (1975), está presente através da sua parte de encerramento, “Soon”, começando com teclados e Howe entoando as frases da versão inicial da letra, que não chegou a ser gravada em Relayer. Os metais e sinos tubulares dão espaço para as cordas e sintetizadores fazerem os delirantes acordes introdutórios, deixando Howe com o tema central  no slide, acompanhado pelas cordas. Howe então faz a melodia vocal no violão, acompanhado por piano, baixo e metais, em uma esplêndida sessão instrumental. As cordas acompanham a melodia do violão, para Howe empunhar o bandolim e seguir a melodia vocal na última parte da canção, com cordas e a steel guitar reproduzirem o lindo tema de encerramento, deixando os metais entoarem os arrepiantes acordes finais, que reproduzem fielmente as agonizantes vocalizações de Anderson, encerrando com belas notas das cordas. Outra para chorar de tão boa!

Por fim, “Starship Trooper” recebeu a versão orquestral para duas das três partes da mesma, gravada originalmente em The Yes Album. Começando com “Lifeseeker”, cordas, baixo, e guitarra trazem Bruford e os metais, fazendo a melodia do vocal. A sequência da letra é feita pelo oboé, acompanhado por cordas, baixo e a cadência rítmica de Bruford, voltando então para os metais que encerram “Lifeseeker”, com a guitarra abrindo “Würm”, nos mesmos acordes da versão inicial (reparem que "Disillusion", segunda parte de “Starship Trooper”, foi deixada de fora), com o crescendo feito por bateria, baixo e guitarra, para Howe criar um novo solo para a canção com sua guitarra, e Bruford dar uma pequena aula de como ser um acompanhante discreto mas muito eficiente na bateria.

Anos depois, o Yes novamente iria namorar a música clássica nos álbuns Magnification (2001) e na incrível turnê desse álbum, a qual passou por diversos países sempre tendo a companhia de uma orquestra para interpretar grandes clássicos do grupo, e que foi registrada nos essencias CD e DVD Symphonic Live (2002).

Symphonic Music of Yes é um pequeno achado na carreira de Steve Howe, Bil Bruford e London Symphony Orchestra, com grandes méritos para David Palmer (atualmente, Dee Palmer). Se você curte Yes, não perca. Se você gosta de música clássica, compre já. Se você quer ouvir um dos melhores CDs de arranjos orquestrais para canções do rock, esse é o CD mais indicado!

Contracapa de Symphonic Music of Yes
Track list:

1. Roundabout
2. Close to the Edge
3. Wonderous Stories
4. I've Seen All Good People
5. Mood for a Day
6. Owner of a Lonely Heart
7. Survival
8. Heart of the Sunrise
9. Soon
10. Starship Trooper

domingo, 28 de agosto de 2011

Novos Baianos - Parte II

                    

A saída de Morais Moreira para seguir carreira solo, fez com que o Novos Baianos mudasse seu curso. A partir de então, Pepeu Gomes capitaneou o barco para águas cada vez mais intrincadas, onde através de muito virtuosismo, técnica e inovação, o grupo se manteve por mais quatro anos. Morais ainda contribui com algumas composições, estando sempre próximo aos ex-colegas.


O primeiro passo foi cada um ir morar no seu lugar (cada macaco no seu galho), permitindo privacidade para as famílias e fugindo da vida que levavam antigamente. O segundo passo foi acertar as contas e controlar os gastos. O dinheiro que entrava para o Novos Baianos sumia facilmente, pois isso não era uma preocupação inicial. Com o crescimento das crianças, Baby, Pepeu, Paulinho e os instrumentistas do que tornaria-se o A Cor do Som perceberam que precisavam de verdinhas para comer, e elas vinham exatamente das vendas de discos e também de shows.

O primeiro disco sem Morais Moreira

Por fim, voltaram para a Som Livre, onde, depois de um breve período de composição, lançam o excelente Vamos pro Mundo, em 1974. Talvez o melhor LP, depois de Acabou Chorare, Vamos Pro Mundo é um espetáculo sonoro, levado pelo cavaquinho elétrico de Jorginho e a ácida guitarra de Pepeu.

O álbum abre com a faixa-título, onde o cavaquinho entra em uma velocidade bem rápida, puxando o samba do bumbo e baixo, além das vocalizações de Paulinho, com Baby cantando a letra e Paulinho cantando o refrão, em uma letra que parece ter saído das composições de Morais, com palavras cortadas e quase sem sentido.

“Guria” apresenta uma bonita introdução com cavaquinho, bandolim e baixo fazendo o tema principal, trazendo a doce voz de Baby acompanhada por baixo e violão. A lenta canção criada por Morais e Galvão, desenvolve-se em um andamento muito bonito do cavaquinho, violão e baixo. Cavaquinho e bandolim voltam a executar um novo tema juntos, para Baby repetir a letra no mesmo andamento da primeira parte da canção, encerrando com o tema inicial de cavaquinho, bandolim e baixo, com Baby fazendo vocalizações na mesma melodia.

A versão para “Na Cadência do Samba”, de Ataulfo Alves e Paulo Gesta, possui uma bela introdução do cavaquinho e do violão fazendo a melodia do refrão sobre o andamento do violão e do baixo, com vocalizações cantando o refrão. Paulinho assume os vocais na primeira parte da letra, em um gostoso samba que segue a linha original da canção, com todos cantando o refrão. Baby assume os vocais na segunda parte da letra, voltando ao refrão, novamente cantado por todos. A introdução é repetida, assim como a letra da canção por Paulinho e Baby, destacando as belas escalas de Pepeu interferindo nas frases cantadas pela dupla.

O grupo grava novamente “Tangolete”, aqui um tango-rock com a bateria e o baixo fazendo o ritmo do tango e a guitarra fazendo o tema repleto de distorção. Paulinho canta a dramática letra da canção, com o andamento marcado do tango-rock inovador, destacando o solo de guitarra de Pepeu.

A instrumental “América Tropical” segue o LP, com a guitarra distorcida, baixo e bateria em uma enlouquecida sessão rítmica que parece ter saído de algum álbum do Santana no início de carreira, seguido pelo solo de Pepeu com sua distorção característica. O solo é repetido, agora com guitarra distorcida e o cavaquinho também com distorção, em escalas e acordes velozes, com um tema muito belo. A percussão santaniana aparece para fazer seu curto solo, assim como Dadi, que sola por alguns segundos, para guitarra e cavaquinho repetirem o solo inicial. Encerrando com mais um solo percussivo. Belísima canção.

Outra canção instrumental conclui o lado A, “Chuvisco”. Mais um samba que lembra a época de Acabou Chorare, com cavaquinho, bandolim , baixo e percussão puxando o ritmo para o solo de bandolim e cavaquinho, mantendo a boa linha de composição dos Novos Baianos.



Os Novos Baianos em 1974

“Escorrega Sebosa” abre o lado B seguindo a linha manhosa do Novos Baianos de Morais, que colaborou com a letra. Paulinho canta um leve samba, mas sem palavras cortadas ou algo do tipo, com um pequeno solo de cavaquinho, encerrando com vocalizações e muitas percussões, como em um jogo de capoeira.

“O Menina” tem na introdução cavaquinho e violão apresentando a voz de Baby, misturando sílabas que formam as palavras da canção, em outro samba leve que conta com o nome de Morais entre os compositores. O cavaquinho repete a melodia vocal, para Baby repetir a letra da canção, com um bom ritmo percussivo.

A instrumental “Um Dentro do Outro” possui uma pesada introdução de guitarra, baixo e bateria comandando uma canção que pode se dizer perto do heavy metal. Dadi e Jorginho fazem uma cozinha furiosa para Pepeu solar, com um espetáculo sonoro da bateria, e depois de uma bela sequência de escalas gêmeas, um tema mais cadenciado leva para a empolgante levada de bateria e baixo, onde Pepeu solta os dedos em escalas muito velozes, mas mantendo a ginga baiana na forma de solar, sacolejando as cordas e fazendo manhosos vibratos. O peso inicial volta, com a quebradeira pegando na bateria, encerrando com acordes marcando o tempo junto com a bateria.

“Um Bilhete Pra Didi” mantém a linha pesada da canção anterior, começando com baixo e bateria marcando o tempo para as guitarras solarem, com mais um espetáculo à parte da bateria de Jorginho, mostrando que ele era um talentoso instrumentista tanto no cavaquinho quanto com as baquetas nas mãos. As agudas notas das guitarras e o tema marcado da bateria abrem espaço para o duelo entre guitarra e cavaquinho, com uma velocidadae absurda das notas e tendo o andamento ora rápido, ora bluesy de baixo e bateria. 

As escalas da guitarra são fantásticas, e a alteração entre rock e blues, com um tempero nordestino, gera um sabor único na sonoridade do rock mundial. O baixo fica sozinho, com Dadi solando com um arco de violino, executando as mesmas notas do solo das guitarras, tendo o acompanhamento da bateria e da marcação das guitarras, as quais surgem fazendo outro solo, levando para uma pesada sessão marcada entre baixo, guitarra e bateria, seguida pelo solo de bateria, com muitas rufadas em grande velocidade, viradas nos tons e bumbos e agressivas batidas nos pratos, encerrando com as guitarras repetindo o tema inicial de seus solos. Outra excepcional faixa!

Cavaquinho e bandolim elétricos puxam a marchinha de carnaval de “Preta Pretinha no Carnaval”, para o cavaquinho entoar a melodia da letra de “Preta Pretinha” acompanhado pelo ritmo da marchinha de carnaval. Genial e sem-igual. Vocalizações então cantam a letra da canção original, e a marchinha de carnaval encerra esse fantástico álbum com um bonito solo de cavaquinho.

O Trio Elétrico Novos Baianos em ação

Porém, a nova sonoridade do grupo acabou não agradando aos fãs, levando a Som Livre dispensar o trabalho do grupo. Porém, foi através de uma inovação, o Trio Elétrico Novos Baianos. Em 1976, o trio elétrico Novos Baianos estreou com a participação de Paulinho e Baby, que eram os cantores do grupo, e Pepeu, que era o maestro mas, fazia o vocal. Incorporaram-se ao trio elétrico uma mesa de som, três microfones e caixas de som.

Com Pepeu no bandolim e guitrarra, Jorginho no cavaquinho, Dadi no baixo, Baixinho na bateria, Charles nos pratos, Bola no bumbo e mais quatro caixas e três bumbos,  o trio elétrico fez um som com personalidade, ficando conhecido pelo público pela característica desenhada por todas as áreas do trabalho, cordas, voz e percussão.

Depois, o trio elétrico Novos Baianos lançou o teclado, contratando o músico Luciano Alves. Então, o trio Novos Baianos foi responsável pela evolução do som que passou das estridentes cornetas-mamão para as sofisticadas caixas de som, instalações de mesa de 16 canais e microfones que possibilitaram a presença dos cantores. Tudo isso viabilizou o atual estágio do trio elétrico que hoje conta com uma infinidade de carros do gênero, graças também a estrutura de produção montada pelos blocos.

O melhor LP do grupo, depois de Acabou Chorare

O grupo então asssinou um contrato de dois nos com a gravadora Tapecar, e assim, lançou, ainda em 1976, Caia na Estrada e Perigas Ver. A formação do grupo havia sofrido uma pequena modificação, com Dadi dando lugar a Didi no baixo, e também com Pepeu pilotando um órgão hammond. Esse é para mim, depois de Acabou Chorare, o melhor álbum do grupo.

O LP abre com “Beija-flor”, onde cavaquinho e bandolim fazem o tema introdutório, apresentando um baião-samba cantado por Paulinho e por vocalizações, neste que foi o maior sucesso de Caia na Estrada e Perigas Ver. “Ziriguidum” começa apenas com notas de cavaquinho e bandolim, explodindo em um samba fenomenal que lembra muito a clássica “Brasileirinho”, com uma divina interpretação vocal de Baby. Depois de um breve solo de cavaquinho, vocalizações cantam a primeira estrofe da canção acompanhadas por uma fantástica sessão percussiva, que encerra a canção.

“Se Chorar Beba A Lágrima” tem uma psicodélica introdução com vocais e barulhos, trazendo a guitarra distorcida de Pepeu, e com Baby cantando, em um rock tipicamente feito pelos Novos Baianos, com muito virtuosismo de Pepeu, Didi e Jorginho, esse último lembrando Narada Michael Walden nos tempos de Mahavishnu Orchestra, com uma performance espetacular.

“Na Banguela” mantém a linha rock, com outra boa introdução de guitarra, baixo e bateria, pesada e com intrincadas pasagens marcadas entre os instrumentos. Pepeu faz um breve solo, trazendo o vocal de Paulinho acompanhado pelo dançante ritmo percussivo e do baixo. A percussão aparece com mais relevância, em mais uma boa canção, destacando a participação do hammond durante o solo central, e que deixa claro a solta das amarras que prendiam os Novos Baianos à Morais Moreira. A sequência é repetida, encerrando a canção com o belo solo de Pepeu e muito órgão hammond ao fundo, além de outra fantástica performance de Jorginho.

A instrumental “Biribinha nos States” abre com o bandolim introduzindo em um interessante tema que será ouvido durante toda a canção, trazendo a percussão e o baixo, para então o cavaquinho repetir o tema junto ao bandolim, deixando a canção mais Acabou Chorare correr solta, com improvisos no bandolim e no cavaquinho, sempre solando como dois amigos a prosear.

“Sensibilidade da Bossa” como o nome diz, é uma típica canção da Bossa Nova interpretada por Paulinho e tendo Pepeu no violão e Baby na percussão. A letra é cantada duas vezes, de forma semelhante, com diferença apenas em algumas notas inventadas por Pepeu para acompanhar a melodia vocal.

O Lado A encerra com a vinheta “Porto dos Balões”, composta e cantada por Riroca, a qual é apenas a menina cantando com o acompanhamento de Pepeu, em uma divertida audição da viagem que passa na cabeça da pequena (sabe-se lá o que está passando na cabeça da criança nesse momento).


Contra-capa de Caia na Estrada e Perigas Ver

O Lado B abre com a arrepiante faixa-título, onde a introdução do bandolim com notas pesadas e tristes, traz a percussão para vocalizações cantar o nome da canção. O afoxé surge, cantado por Paulinho e Baby, sempre com intervenções da guitarra e do bandolim, em uma composição muito bem trabalhada, destacando o arranjo vocal entre Paulinho e Baby.

Baby também dá show em “Brasileirinho", que começa como um leve samba, onde Pepeu e Jorginho fazem a famosa melodia vocal no bandolim e no cavaquinho. Baby surge cantando na velocidade dançante e de fácil assimilação esse clássico de Waldir Azevedo, fazendo uma boa interpretação para essa complicada letra. Algumas sessões repetem-se e então Baby fica sozinha,soltando a letra a capela em uma velocidade impressionante, para baixo, bateria, guitarra e percussão acompanharem a incrível velocidade vocal de Baby, mostrando dotes que estavam escondidos até então, encerrando a canção com gritos, vocalizações e um espetáculo de Didi, Jorginho e Pepeu.

“Barra Lúcifer” é um rockzão recheado de distorções, com uma viajante introdução onde Pepeu faz escalas velozes, puxando o riff da canção, para Didi e Jorginho soltarem o ritmo de outro grande som, com Paulinho cantando de forma mais rockeira, arranhando a voz e, assim como Baby, mostrando dotes que ainda eram desconhecidos do grande público. A letra é repetida, e o destaque vai para o solo de Pepeu, com guitarra e bandolim elétrico fazendo notas juntas e muito velozes.

“Rockarnaval” é mais uma canção instrumental, que começa com a intrincada sessão entre bateria, baixo e guitarra, muito pesada e marcada por tempos quebrados, além da participação do hammond novamente, fazendo escalas junto da gutiarra. Jorginho solta o braço na bateria, e com um Didi enoluquecido em uma marcação absurdamente veloz, Pepeu sola com escalas ainda mais velozes, enquanto Jorginho destrói a bateria, encerrando com a intrincada sessão inicial. Sonzaço!

O início bluesístico de “Eu Não Procuro Som” apresenta Didi fazendo escalas para acompanhar o vocal de Baby, enquanto Pepeu brinca na guitarra e as percussões fazem sua parte. Jorginho entra puxando um leve ritmo, embalando a canção no refrão, onde o hammond se faz presente com acordes viajantes. Pepeu sola sobre o andamento blues de Didi, e então Paulinho passa a cantar a letra, repetindo a ordem do que Baby havia feito.

Por fim, os violões aparecem em “Suor do Sol”, outra que lembra bastante Acabou Chorare, acalmando os ânimos da fúria que foi o lado B com mais uma linda canção onde Baby canta suavemente, acompanhada pelo violão de Pepeu, tendo intervenções do bandolim.

O Novos Baianos seguiu sua carreira, mas começou a sofrer com problemas internos. Pepeu, Paulinho e Baby já pensavam mais em uma carreira solo do que no grupo, assim como o A Cor do Som surgia com seu primeiro álbum, carregado pelo baixo de Dadi e pela guitarra de Armandinho, e conquistando rapidamente o posto que era originalmente do Novos Baianos em termos da fusão samba-rock-carnaval.

O último disco pela Tapecar

O Trio Elétrico Novos Baianos também manteve-se na ativa, e graças a ele, surgiu a inspiração para o novo álbum. Lançado em 1977, Praga de Baiano tornou-se o segundo LP do grupo pela Tapecar. O álbum abre com a faixa-título, com a percussão inicial trazendo o vocal de Paulinho de um sambão cantado por Paulinho e vocalizações, com uma letra interessante.

“Vassourinha” é a versão definitiva desse clássico do Forró nordestino, composto por Matias da Rocha e Joana Ramos, com Pepeu solando a famosa melodia da canção na guitarra repleta de distorção, acompanhado por Didi e por uma animada sessão percussiva, mantendo o ritmo de carnaval de sua faixa antecessora.

“O Clube do Povo” é uma homenagem ao futebol, em mais um frevo, mas que não empolga como “Vassourinha”, enquanto “Haroldinho Filho e Peixe” apresenta uma linda melodia do cavaquinho elétrico e guitarra na sua introdução, com as marcações de Didi e Jorginho, virando uma bela marchinha de carnaval com Jorginho e Pepeu solando no cavaquinho e na guitarra respectivamente, executando sempre as mesmas notas primeiro sobre um leve andamento, depois sobre a agitada sessão rítmica de baixinho, Charles, Bola, Jorginho e Didi. Os solos repetem-se, mantendo o veloz ritmo desse grande frevo instrumental.

“O Petróleo É Nosso” tem na introdução a guitarra fazendo a melodia vocal com o wah-wah é seguida pela voz de Baby, em uma marchinha de carnaval sem graça. Por fim, “Caia na Estrada e Perigas Ver” é a versão praticamente instrumental para a faixa-título do álbum anterior, abrindo com a sinistra introdução da guitarra e baixo tendo o ritmo do frevo de Jorginho e Baixinho, com as vocalizações cantando o nome da canção, seguido pelo espetacular solo de cavaquinho elétrico de Jorginho, mesclado com as notas de guitarra de Pepeu, encerrando o Lado A com o virtuosismo conhecido do trio.



Contra-capa de Praga de Baiano
O Lado B abre com “Campeão dos Campeões”, uma marchinha em homenagem ao E. C. Bahia composta por Zé Pretinho da Bahia, B. Silva e Raquel, considerada por Galvão como o segundo hino do clube, mantendo a linha frevo do lado A e sem agradar (a não ser aos apaixonados pelo tricolor da boa terra). “O Patrão É Meu Pandeiro” é um samba venerando o carnaval, com cavaquinho e violão fazendo a introdução, seguido pelo vocal de Paulinho e por vocalizações cantando a letra da canção, recheada por percussão, apitos e o andamento agitado que homenageia a festa do mês de fevereiro.

“Pegando Fogo” começa com a guitarra distorcida de Pepeu fazendo o tema da canção junto do baixo, tendo no andamento mais uma levada de frevo feita por Jorginho e Baixinho, em outra canção instrumental onde Pepeu e Jorginho assam os dedos e as palhetas com a velocidade de suas notas na guitarra e no cavaquinho elétrico.

“Luzes do Chão” é mais uma canção instrumental, tendo um início psicodélico com distorção no baixo, órgão, guitarra e cavaquinho, transformando-se em mais um frevo. Diferente de “Pegando Fogo”, aqui não temos tanto virtuosismo, apesar de Jorginho e Pepeu ainda estarem tocando muito.

O LP encerra-se com um “Pout-Pourri” instrumental entre cinco clássicos da música nacional e internacional, começando com “Refazenda” (Gilberto Gil), onde cavaquinho e guitarra fazem a imponente introdução, para o cavaquinho elétrico fazer a melodia vocal da canção, passando para “Frevo da Lira” (Waldir Azevedo e Luis Lira) após um breve solo de guitarra, com o cavaquinho elétrico e a guitarra fazendo a melodia do vocal em um ritmo agitado de baixo, bateria e percussão, no melhor estilo baile de carnaval. Vocalizações abrem “Os Mais Doces Bárbaros” de Caetano Veloso, que é levada pelo maravilhoso duelo entre guitarra e cavaquinho elétrico entoando a melodia da letra da canção, passando então para “Show Me the Way”, com Pepeu carregando na distorção, assim como Jorginho, em uma bela versão samba para esse clássico de Peter Frampton, arrepiando no famoso refrão da canção, e encerrando esse medley com a versão rock-frevo de “Severina Xique-Xique”, com vocalizações e instrumentos carregados em distorção entoando a melodia da letra de João Gonçalves e Genival Lacerda, fechando o baile carnaval com a famosa marchinha de abertura de muitos carnavais do país afora.

Depois de Praga de Baiano, Pepeu e Baby lançaram seus dois primeiros álbuns solos: Geração do Som (Pepeu, 1978) e O Que Vier Eu Traço (Baby, 1978). Paulinho motivou-se a lançar sua carreira solo, e o Novos Baianos perdeu força. Apesar do sucesso do Trio Elétrico Novos Baianos, em vendas o grupo não alcançava o mesmo sucesso, e a Tapecar acabou encerrando o contrato. 


O último LP do grupo


Nesse clima que registram o último álbum do grupo. Lançado em 1978 pela gravadora CBS, Farol da Barra não está no nível dos grandes álbuns do grupo, mas mesmo assim, apresenta bons momentos, principalmente no lado instrumental.

“Farol da Barra” abre o LP, com violão e cavaquinho, trazendo a voz de Baby no suave andamento das canções clássicas de Acabou Chorare. O Novos Baianos volta ao estilo do auge da sua carreira, em uma linda canção, próxima a Bossa Nova.

“Isto Aqui O Que É?” faz uma revisão para o clássico de Ary Barroso, em ritmo de samba, aqui cantado por Paulinho e vocalizações, sem empolgar, e contando ainda com uma linha de metais que não agrada. Nessa canção, Jorginho é o responsável pelo baixo. “Straight-Flush” é uma bela balada, com piano, baixo e bateria fazendo o delicioso ritmo jazzístico para Baby cantar, suavemente.

“Samba do Sociólogo Louco” é um samba clássico, cantado por Paulinho, na linha dos sambas que o grupo compôs anteriormente, sem apresentar novidades. “99 Vezes” é outra bela canção, com vocalizações acompanhando o ritmo da viola, sendo a primeira canção do grupo a contar com Pepeu fazendo o vocal principal, seguido por vocalizaçõs e encerrando-se com a guitarra solando com muita distorção.

Pepeu também canta “Welcome”, levada pelo piano e resgatando o clima jazz de “Straight-Flush”, com um belo acompanhamento de Didi e Jorginho, mostrando que eles sabem tocar muito bem diversos estilos, enquanto Pepeu sola na guitarra, fazendo vocalizações que imitam as notas que estão sendo tocadas pelo instrumento, em algo parecido com o que Sérgio Dias faz em “Mutantes e Seus Cometas no País do Bauretz” (Mutantes). Didi faz um breve solo, e Pepeu volta ao centro das atenções, para encerrar a canção.

O Lado A encerra com a versão para “Lá Vem a Baiana”, de Dorival Caymmi, onde a introdução no clarinete é seguida pelo vocal de Paulinho, retornando para os sambas do Novos Baianos, sempre com a intervenção do clarinete.
Baby Consuelo

“Alibabá Alibabou” abre o lado B no ritmo do violão e  do afoxé, trazendo as vocalizações de Paulinho e do grupo, em uma espécie de samba-rock cuja letra é apenas variações com o nome da canção, contando com metais fazendo o solo principal.

“Na Fogueira” retorna aos agitados frevos de Praga de Baiano, com guitarra e baixo fazendo o tema marcado da introdução, para o peso comer solto na entrada dos vocais de Baby, em uma paulada metálica onde Pepeu toca demais, destacando também as interessantes linhas de baixo de Didi.

“Vende-se Sonhos” abre com o acordeão de Severo, baixo e triângulo, fazendo um baião nordestino cantado por Paulinho, que apesar da letra inspirada de Galvão, Jorginho e Pedro Raimundo, não acrescenta muito à discografia do grupo. “O Tico-Tico Mapiou” apresenta cavaquinho elétrico e guitarra fazendo o tema introdutório, em mais uma canção nordestina, com Paulinho e Baby dividindo os vocais, sem ter um destaque maior.

“Boogie Woogie do Rato”, de Denis Brean, é um samba carioca levado pelos metais e cantado por Paulinho, em uma animada sessão musical que lembra muito o estilo de “Brasileirinho”, com Paulinho cantando muitas palavras em uma velocidade rápida, quase sem respirar, encerrando com uma citação ao rock’n’roll, com guitarra, baixo, piano e bateria acompanhando a repetição da letra no seu ritmo original, contando com vocalizações de Baby e Pepeu imitando os metais. O LP encerra com “Sugesta Geral”, onde o dedilhado do violão e percussões abre espaço para Paulinho e Baby dividirem os vocais de um embalado samba-rock.

O compacto do trio elétrico Novos Baianos
O Trio Elétrico Novos Baianos ainda lançou um compacto, cobiçado hoje entre os colecionadores em 1979, mas o grupo acabou logo após isso, com cada membro seguindo uma carreira solo de relativo sucesso (a menos dos músicos na parte instrumental). 



Em 1987, Baby, Pepeu e Paulinho se reuniram em uma apresentação única no Teatro Castro Alves, que fez bastante sucesso. Em 1990, ocorreu a reunião completa entre Baby, Paulinho, Pepeu e Moraes Moreira, isso em um trio elétrico que passou pelas ruas de Salvador. Nesse mesmo ano, Pepeu e Moraes gravam um trabalho juntos, o bom álbum Moraes e Pepeu, que inclusive levou-os a uma apresentação no Japão no mesmo ano, de onde saiu o álbum Moraes e Pepeu no Japão.

Reunião de 1997


A banda também se reuniu em meados da década de 1990 para uma apresentação com Marisa Monte, que apoiou o retorno do grupo aos estúdios. Assim, em 1997, lançam o disco duplo Infinito Circular, gravado ao vivo e trazendo diversas canções inéditas. Apesar da expectativa, nenhum material saiu depois disso.

Em 2009, durante o carnaval de Salvador, Paulinho, Baby e Pepeu  reuniram-se para duas apresentações abordo do trio elétrico intitulado "Os Novos Baianos", que percorreu o circuito do Campo Grande até a praça Castro Alves arrastando inúmeros fãs . O trio contou, ainda, com a participação das filhas de Baby o grupo SNZ, e de seu filho Pedro Baby. Ainda em 2009, o grupo se apresentou na Virada Cultural em São Paulo. O show foi visto por um milhão de pessoas no dia 03 de maio. A apresentação contou com Baby do Brasil, Pepeu Gomes, Luis Galvão e Paulinho Boca de Cantor, da formação clássica. Moraes Moreira não tem se apresentado mais com o grupo Novos Baianos.

Paulinho, Moraes, Baby, Galvão e Pepeu


Nesse ano, no último mês de julho, o filme Admirável Mundo Novo Baiano chegou aos cinemas, contando um pouco da história desse que é um dos principais nomes do rock nacional.

terça-feira, 23 de agosto de 2011

Notícias Fictícias que Gostaríamos que Fossem Reais: The Trinity Festival Tour



Por Mairon Machado (Publicado originalmente no blog Consultoria do Rock)

Notícias Fícticias que Gostaríamos que Fossem Reais é uma sessão da Consultoria do Rock onde apresentamos notícias fictícias, mas que poderiam se tornar reais em algum momento de nossas estadas aqui na Terra. A intenção não é gerar polêmcias ou controvérsias sobre determinados fatos, mas apenas incitar a discussão sobre o que ocorreria se o mesmo fato chegasse a acontecer.

O sonho de muito marmanjo tornou-se realidade na noite do último domingo, 21 de agosto, na Inglaterra. Diante de mais de 100 mil pessoas, em um Wembley Stadium tomado por jovens, velhos e admiradores do rock em geral, que saíram de suas casas praticamente carregando toda a família, foi dada a largada para aquele que está sendo considerado o maior festival da história do rock, o The Trinity Festival, o qual reúne nada mais nada menos que três bandas consideradas as maiores da década de 70, e que formam o que hoje é considerada a santíssima trindade do heavy metal: Led Zeppelin, Black Sabbath e Deep Purple.

Os três grupos reuniram-se depois de muitas especulações. Afinal, o Led Zeppelin acabou em 1980, após a morte do baterista John Bonham, e mesmo com as diversas reuniões, jamais voltaram a fazer uma excursão. Por outro lado, o Black Sabbath também passou por diversas pendengas, sendo que a última vez que seu nome foi citado foi através do extinto Heaven and Hell, o qual contava com o baixinho Ronnie James Dio nos vocais (falecido em 2010). Por fim, o Deep Purple, apesar de ainda estar na ativa, há alguns anos marca a rivalidade entre Ian Gillan (vocais) e Ritchie Blackmore (guitarras), que praticamente não se falam havia quase duas décadas.

Tony Iommi e Ian Gillan, na conferência de imprensa pré-show


Mas os tempos passaram, e graças a diversos promotores, entre eles Bob Geldof (famoso por organizar os festivais Live Aid, em 1985, e Live 8, em 2005), bem como o apelo emocional, o trio pesado foi reunido para fazer uma turnê mundial que arrecadará fundos para ajudar vítimas de atentados terroristas e também crianças necessitadas ligadas à grupos não governamentais com sustento da ONU.

Dessa forma, o Led Zeppelin foi reunido com Jimmy Page (guitarras), John Paul Jones (baixo), Robert Plant (vocais) e Jason Bonham (bateria), sendo essa a mesma formação que participou do último show do grupo, em dezembro de 2007. O Black Sabbath veio com Ozzy Osbourne (vocais), Tony Iommi (guitarras), Geezer Butler (baixo) e Eric Singer (bateria), já que Bill Ward, o baterista original, passa por alguns problemas de saúde.

Wembley Stadium durante apresentação do Captain Beyond

O caso mais emblemático foi o Deep Purple. Os promotores queriam a formação mais famosa, com Gillan e Blackmore dividindo o mesmo o palco. A birrenta dupla não topou, e a solução foi apresentar o Deep Purple com dois line-ups diferentes, onde os primeiros cinquenta minutos competem à seguinte formação: Ian Gillan (vocais), Roger Glover (baixo), Ian Paice (bateria), Don Airey (teclados), Jon Lord (teclados) e Steve Morse (guitarra). Já os últimos cinquenta minutos foram reservados para a formação que conta com Ian Paice, Jon Lord, Don Airey, Ritchie Blackmore, Glenn Hughes (baixo, vocais) e David Coverdale (vocais).

A insanidade dos fãs para conseguir um ingresso foi tamanha que as vendas bateram recordes, sendo os 100 mil ingressos vendidos em menos de cinco minutos. No último domingo, às 16 horas, os portões do estádio se abriram para uma noite memorável.

Lee Dorman, baixista do Captain Beyond


O show de abertura foi com nada mais nada menos que uma das melhores bandas do hard rock setentista. Geldof e os demais produtores trouxeram do limbo Rod Evans (vocais), Bobby Caldwell (bateria), Larry "Rhino" Reinhardt (guitarras) e Lee Dorman (baixo), e, depois de quase 30 anos, o Captain Beyond voltou à cena. Com uma apresentação impecável de pouco mais de 45 minutos, o grupo interpretou seu álbum de estreia, lançado em 1972. O espetacular Captain Beyond foi tocado na íntegra, e o Captain Beyon ainda fez uma bela revisão para um dos hinos da primeira formação do Deep Purple: "Hush".

Um emocionado Rod Evans (vocalista da Mark I do Deep Purple) anunciou a primeira das grandes bandas da noite. O Deep Purple entrou em cena com Gillan detonando "Highway Star". Na sequência vieram "When a Blind Man Cries", "Ted the Mechanic", "Smoke on the Water", "Black Night", "Perfect Strangers", "Woman from Tokyo", "Maybe I'm a Leo" e encerraram com a surpreendente "No No No". Destaque para os sensacionais duelos entre Airey e Lord.

O Deep Purple saiu do palco, mas Gillan continuou. Com a plateia enlouquecida, Gillan contou que era um prazer estar ajudando diversas pessoas ao redor do mundo ao mesmo tempo que estava alegrando as dezenas de milhares de pessoas no Wembley, na primeira data de uma longa turnê, partindo então para o anúncio de "uma das bandas que eu mais admiro em minha vida. Com vocês: Black Sabbath".

Ozzy Osbourne


Iommi, Butler e Singer entraram no palco soberanamente, e, para surpresa geral, soltaram os acordes de "Trashed", canção que abre o álbum Born Again, gravado pelo Black Sabbath em 1983, que conta com Gillan nos vocais. Depois, Ozzy assumiu o microfone, dividindo os vocais com Gillan em "Zero the Hero". Lágrimas rolaram no estádio. A sequência do Black Sabbath contou com "War Pigs", "Black Sabbath", "Never Say Die", "It's Alright", "Paranoid", "Sabbath Bloody Sabbath", "Sleeping Village", "Wicked World", "Children of the Grave" e "N.I.B.". No final do show, Ozzy lembrou Ronnie James Dio, e dedicou a última canção daquela apresentação do Black Sabbath a ele. Assim, chamou ao palco Glenn Hughes, para então interpretarem uma arrepiante versão de "Heaven and Hell".

O público não parava de gritar e chorar. A emoção era total. Hughes deu boa noite para a galera, agradecendo ao Black Sabbath por aquela sensacional apresentação.

David Coverdale


Logo após, com todo seu carisma, Hughes disse: "Chegou a hora de reencontrar velhos amigos. Quanto tempo não subimos em um palco tão grande como esse. Nossa estreia foi praticamente assim. Ritchie, David, Ian, Jon, Don, por favor, venham cá". Debaixo de uma enxurrada de aplausos, a Mark III do Deep Purple estava novamente reunida, com a adição de Don Airey, e a segunda parte da apresentação do grupo foi ainda melhor que a primeira.

Glenn Hughes



O grupo começou com "Burn", que fez tremer o último tijolo do estádio. Na sequência, vieram "You Fool No One", "Stormbringer", "Lady Double Dealer", "A-200", "Mistreated", "Soldier of Fortune" e a linda homenagem a Tommy Bolin com "You Keep on Moving". Blackmore esteve impecável, e os duelos com Airey e Lord mostravam que mesmo velhinho, o guitarrista manda ver. Mesmo assim, o músico não perdeu a pose dos setenta, e manteve-se todo o tempo no lado direito do palco, sem se quer chegar perto dos colegas de apresentação, a não ser naquele que talvez tenha sido O MOMENTO do show.

Ritchie Blackmore


Com o Wembley Stadium em  comoção, e em um dos raros momentos da história, Blackmore foi ao microfone de Hughes, e dedicou algumas palavras aos amigos Cozy Powell e Ronnie James Dio, considerado por ele o maior gênio da voz do heavy metal. Blackmore contou que a perda dos ex-companheiros de Rainbow ainda era sentida por ele, e como certamente ambos estavam observando aquela apresentação, uma pequena homenagem seria feita. Então, o guitarrista completou: "Paice, agora é com você", e após uma contagem de "one, two, three, four", Paice detonou a pancada introdução de "Stargazer", uma das principais canções do Rainbow, onde Blackmore, Dio e Powell tocaram juntos, e que foi cantada por Hughes e Coverdale com uma perfeição cirúrgica. Para fechar a apresentação do Deep Purple, Rod Evans voltou ao palco, e ao lado de Coverdale, cantou "River Deep, Mountain High".


O público estava alucinado. Muitos não sabiam para onde olhar. Depois de um intervalo de 40 minutos, as luzes se apagaram, e então, Page, Plant, Jones e Bonham (o filho), começaram as duas horas do show do Led Zeppelin com "Rock and Roll". A partir de então, o grupo desfilou clássicos e mais clássicos: "Celebration Day", "The Song Remains the Same", "The Rain Song", "Stairway to Heaven", "Kashmir", "Achilles Last Stand", "Over the Hills and Far Away", "We're Gonna Grove", "Whole Lotta Love", "Dazed and Confused", "Out on the Tiles", "No Quarter", "Since I've Been Loving You" e "Black Dog" foram cantadas em uníssono. O quarteto saiu do palco, voltando para o bis com mais duas canções: "All My Love" e "Thank You", cantada por Plant, Coverdale e Ozzy.


Led Zeppelin em ação


Por fim, todos subiram ao palco e agradeceram aos fãs, que foram para casa depois da maratona de mais de seis horas de apresentação, a qual está saindo da Inglaterra em direçao à Itália. Depois, o The Trinity Festival passará por Alemanha, Espanha, França e Dinamarca, fazendo praticamente um show a cada duas semanas, tendo ainda quatro datas na Ásia (duas no Japão, uma na China e uma na Índia), duas na África do Sul, seis datas nos Estados Unidos, duas datas no Canadá e mais cinco datas na América do Sul (três no Brasil, uma na Argentina e uma no Chile), encerrando as 25 datas programadas justamente com uma apresentação na reabertura do Maracanã, programada para janeiro de 2013, e prometendo uma grande surpresa para a banda de abertura em cada local dos shows, inclusive no Brasil.

Façam suas apostas, mas principalmente, preparem o coração. Essa turnê é algo com o qual sempre sonhamos!
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