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segunda-feira, 8 de outubro de 2012

Shows inesquecíveis: Paul Di'Anno (Porto Alegre, 18/11/2007)




Apesar da chuva forte que caiu durante todo um fim de semana em Porto Alegre, e da fraquíssima divulgação que teve, o show de Paul Di'Anno na capital gaúcha foi um dos momentos mais inesquecíveis na minha vida diante de palcos.

Lembro de tudo com precisão de detalhes que talvez não venham ao caso, mas alguns detalhes preciso narrar por aqui. Paul e banda chegaram à cidade por volta de 18h (duas horas antes do horário marcado para o show), no mesmo horário que a chuva parou. Eles vieram de van, direto de Curitiba.


Quando cheguei no local de show, o bar Manara, vários fãs já estavam aglomerados, a maioria na faixa dos 30 e poucos. Claro... O comentário maior entre a gurizada era sobre o show do Iron que iria ocorrer em março de 2008, e que eu já tratei dele aqui no blog


Passado das 20h, a fila já dobrava o quarteirão e nada das portas do bar se abrirem. Somente às 21h pudemos entrar no local. Tradicional ponto de encontro de bandas de pagode, o local caiu como uma luva para o show de Di'Anno. Palco pequeno, lugar apertado e uma acústica realmente de "boteco" fizeram com que, segundo o próprio Paul, relembrassem os primeiros anos de sua carreira ao lado de Harris e cia.



Di'Anno no Manara

Às 21:30, a banda local Ghaya subiu ao palco para animar o público. Muito inspirados em Viper, Angra e Shaman, o grupo mostrou um bom repertório. O destaque ficou por conta do cover de "Painkiller", entoado em uníssono por todos no bar.


Após quatro músicas, a Ghaya deixa o palco, e segui-se uma longa espera até o grande show da noite. A expectativa era grande, principalmente em relação ao repertório. "Será que rola um Charlotte The Harlot?", "Tem que rolar 'Prowler'", "Se rolar qualquer uma do Killers pra mim está bom" foram alguns dos comentários que lembro de ter ouvido na fila. 


O forte calor e a ansiedade eram amenizados com dois grandes ventiladores e muito R'N'R advindo das caixas de som espalhadas pelo local. Led Zeppelin, AC/DC, Motorhead, Rainbow, Kiss, Ozzy Osbourne, Deep Purple, entre outros clássicos podiam ser ouvidos.



"Remember Tomorrow"

Às 23:15 (três horas e quinze minutos de atraso) a banda de apoio subiu ao palco. Logo de cara detonam "Idles Of March". Paul subiu mancando muito com um problema no joelho esquerdo, mas em ótima forma vocal, já entoando as primeiras estrofes de "Wratchild". Na sequência veio "Prowler", uma das mais vibradas da noite. Após se apresentar ao público e cumprimentar a todos, duas surpresas: "Marshal Lokjaw" e "Murders In The Rue Morgue". O público estava enlouquecido. Essas pérolas do Killers não estavam na esperança de ninguém no bar.

Seguiram "The Beast Arises" (em homenagem a "My ex-wife, una putarana!!!") e "Children Of Madness", as quais acalmaram um pouco o ânimo do público. A paulada voltou com "Remember Tomorrow", causando emoção em muita gente! Paul mostrou estar em excelente forma vocal, porém fisicamente não conseguiu agitar tanto quanto nos velhos tempos. Mas isso é o de menos. Ver os berros acompanhados pela guitarra é algo indescritível. Fantástico é pouco! "Faith Healer" e "A Song For You" abriram espaço para os clássicos "Killers" (em homenagem "Ao maior assassino de todos os tempos, George Bush"), "Phantom Of The Opera" e "Running Free", todas cantadas do início ao fim pelas cerca de 600 pessoas que lotaram o bar.


Ingresso do show

Após um intervalo de quinze minutos, a competentíssima banda de apoio voltou aos gritos de "Di'Anno, Di'Anno" entoando "Transylvania". Destaque para o excelente Marlon Morlan nas guitarras. Incrível ver como uma instrumental torna-se uma música com vocal. Todos os solos foram cantados juntos pela galera. Arrepiante!!!!!


Paul subiu ao palco mais uma vez, e surpreendeu novamente, agora com "Blietzkrieg Bop" dos Ramones. "Sanctuary" encerrou a noite de forma totalmente satisfatória.


Após o show, Paul recebeu a imprensa especializada e alguns fãs. Obviamente fui conversar com ele. De muito bom humor, mas sentindo muito a lesão no joelho, o cantor me recebeu acompanhado de pizzas, frutas e muita água (ok.. era vodka, mas em garrafa de água).


Eu (ainda com cabelos) e Paul. O tempo passa ...
Com muitas risadas e uma incrível simpatia, Paul disse que está satisfeito com o atual momento de sua carreira. Apesar de fazer o show praticamente com músicas do Iron, sabe da importância que tem na história do heavy metal e se sente muito feliz em ver jovens e adultos cantando suas músicas.

Perguntei a ele o que achou do show, do público e da cidade. Ele disse que adorou, espera voltar mais vezes e pediu muitas desculpas por não conseguir agitar mais. Estava muito cansado da viagem de dezoito horas de Londrina para Porto Alegre. 



Eu e a banda de apoio de Di'Anno
Desculpar o que Paul? O show foi inesquecível! 

Deixo as palavras do guitarrista Marlon quando perguntei a ele sobre a sensação de estar tocando ao lado de um dos ícones da música. "Cara, é incrível quando algo que você sonha torna-se real. Achava que o máximo que veria Paul era em um DVD. E agora estou aqui, tocando com ele. Não tenho nada mais a dizer. Inesquecível!"


Set list


1. Idles of March

2. Wratchild
3. Prowler
4. Marshal Lokjaw
5. Murders in the Rue Morgue
6. The Beast Arises
7. Children of Madness
8. Remember Tomorrow
9. Impaler
10. Faith Healer
11. A Song for You
12. Killers

Bis


13. Phantom of the Opera

14. Running Free

quarta-feira, 4 de julho de 2012

Shows inesquecíveis: Iron Maiden (Porto Alegre, 05/03/2008)



Existem shows que não podem ser desperdiçados a oportunidade de se ver, ainda mais quando ele irá ocorrer praticamente no quintal da sua casa. Esse foi o caso do Iron Maiden, em 05 de março de 2008, quando depois de 16 anos, o grupo voltou para uma única apresentação em Porto Alegre, durante a turnê Somewhere Back in Time, que resgatou clássicos do grupo desde a época de sua formação na década de 70 até o lançamento de Somewhere in Time, em 1986, fase essa que eu considero a melhor (e única) dentro dos mais de 30 anos de carreira dos britânicos.


Se ouvir petardos como "The Rime of the Ancient Mariner", "Wasted Years", "Hallowed be Thy Name", "Powerslave", "Revelations" entre outros já atiça os ouvidos de um fã, imagina ver Bruce Dickinson (vocais), Dave Murray (guitarras), Nicko McBrain (bateria), Steve Harris (baixo) e Adrian Smith (vocais), além do anexo e dispensável Janick Gers (guitarras) diante de seus olhos. Não pestanejei, e passei a angariar fundos (bem como arrumar trocas no trabalho) para ver esse que prometia ser o melhor show da minha vida; Prometia, pois na verdade, aconteceu tudo ao contrário do que eu esperava, e se tornou o pior show que Porto Alegre já sediou.


O palco da Somewhere Back in Time Tour ...
Os problemas começaram já na venda de ingressos. Centenas de pessoas passaram a madrugada para garantir seu lugar dentro do Ginásio Gigantinho, que em unanimidade, era dito por ser um erro na escolha, e sim um estádio como o Gigante da Beira-Rio, Passo d'Areia ou outro qualquer da capital gaúcha. A venda de ingressos, programada para as 8 horas da manhã, começou somente as 10 horas, mas pelo menos, garanti o mesmo.


Uma semana antes do show, no dia 29 de fevereiro, começaram os acampamentos de barracas em torno do Gigantinho. Pouco há pouco, centenas de fãs passaram a fazer parte do Maiden Camp, desfrutando dos lanches e do banheiro de uma lancheria próxima e só, o resto era cantar músicas do Iron dia e noite. Eu era um dos acampados, e trocava o meu horário do sono para garantir o meu lugar e de mais alguns amigos, que cuidavam da barraca enquanto eu trabalhava. Eu e meus amigos éramos os sextos na fila de entrada.

Faltando três dias para show, resolvemos organizar uma fila para os fãs poderem entrar no Ginásio. Parece estranho, mas existia uma fila, com ordem de chamada e tudo, para não haver furos na hora de entrar na fila de entrada do show, e isso evitaria qualquer confusão e injustiça com pessoas que, como nós, estávamos ali há algum tempo (sendo que 30 fãs foram sorteados para auxiliar na montagem do palco). Essa fila chegou a 2000 fiéis fãs do Iron, que estavam dispostos a tudo para assistir ao show, sendo muitos deles (mais de 800) que chegaram após a Walk Iron, uma caminhada que atravessou em Porto Alegre homenageando a Donzela.



No acampamento, passamos a noite conversando, ouvindo todos os álbuns e contando histórias de shows que fomos, como conhecemos tal música, além de revezar um violão com várias canções da atual turnê. Um dia antes do show, a ideia de organizar 3400 pessoas em uma fila parecia uma utopia. Nessas alturas, os seguranças do local já conheciam o pessoal da frente (eu entre eles), e o respeito entre os fãs que antes era pacífico, agora começava a se tornar uma briga forte com a chegada de fãs de Santa Catarina, São Paulo e Paraná.


Às 5:30 da manhã, os seguranças do Sport Club Internacional (responsáveis pelo Gigantinho) deram o toque de levantar as barracas. Por volta de 6:15, os portões do Parque Gigante foram abertos e, por incrível que pareça, a lista de chamada funcionou. Incrível! As pessoas respeitaram seu nome, sua ordem de chegada, em uma colaboração jamais vista (segundo a própria Polícia Militar) em um evento. Cerca de 4000 pessoas estavam esperando a entrada, e cada uma entrou na sua devida hora com toda calma e tranquilidade.

Ao chegarmos no Portão 3 do Ginásio Gigantinho construimos uma nova fila. Agora com as pessoas que haviam chegado nessa fila. Isso ajudaria o pessoal a ir em casa largar a barraca e dar uma descansada. 103 pessoas estavam nessa primeira lista e, a partir dai, outra lista foi criada. Não sei o número de pessoas que estavam nela, mas o certo é que tudo correu muito bem do lado externo. A organização foi elogiada por todos e, apesar de alguns furões terem se infiltrado depois dos 104 primeiros, nada de grave aconteceu, graças também a segurança do Sport Club Internacional que nos auxiliou com a presença de seguranças do clube, e a brigada militar, que ajudou a controlar os furos.



Uma das várias filas para entrar no Gigantinho

Mas, bastou a movimentação interna ao ginásio para abrir os portões, toda a organização foi pro espaço. Jamais vi tamanha obsessão e falta de bom senso quanto dos desesperados fãs de Iron Maiden, que além de invadirem os espaços antes estabelecidos e respeitados por todos, ainda xingavam, jogavam coisas em nós e ainda desprezavam o povo local, chamando os gaúchos de várias coisas impublicáveis. Lembro que fui agredido por um incontrolável fã quando disse que preferia o Killers ao Piece of Mind. O cara me empurrou e partiu para cima de mim, sendo contido pelo pessoal que estava na volta, mas mesmo assim, tive que ouvir frases como "Filho da put@! Gaúcho viado!" e outras ofensas mais.



Quando abriram os portões, a organização da Opinião Produtora começou a dar as caras. Muitas pessoas (inclusive eu) foram barradas por ter ingresso falso, sendo que eu tinha comprado o ingresso da própria Opinião (ou seja, o oficial). Após muita reclamação, consegui entrar e garantir um lugar próximo a grade. Tinha passado seis noites na fila para ficar na grade, para ver o show sem nenhum problema, mas agora já não dava mais. Era o começo da desilusão.

O pessoal começou a entrar e logo se viu que havia mais gente do que o Gigantinho suportava. O informado é que haviam 15 mil pessoas (o próprio Bruce falou que estava cantando para esse número). Como o palco do Iron ocupou boa parte do ginásio, e conheço bem o mesmo, caberiam umas 12 mil apertadas. Se tinha 15 mil, imaginem o inferno que foi, só que na realidade, não haviam 15 mil, e sim 18 mil pessoas!!! 

Como ainda não violaram as leis da física, o calor dentro do Gigantinho tornou-se insuportável (junto com os diversos odores dispersados por aqueles que ficaram dias sem banho para garantir seu lugar na fila, e que se misturavam na massa de seguidores do Iron Maiden), e muita gente começou a passar mal. Só que, a desilusão começou a aumentar. Os seguranças da Opinião maltratavam os fãs que não se sentiam bem, dizendo para ir ao fundo, que tinha mais é que estar morrendo para ser atendido. Quando pegavam alguém do meio do público que estava mal, saiam xingando, dizendo para parar de beber e, principalmente: "Isso é o que dá ouvir esses rocks, se fosse pagode não iam passar isso". Poxa, eram seguranças, tinham mais que ajudar, e não zombar do pessoal. 

Em um dos mini-consultórios disponibilizados dentro do Ginásio, depois que sai da grade como narrarei daqui há pouco, pude contar 40 pessoas na fila de atendimento, e uns cinco lá dentro passando (e muito) mal. Muita gente na grade pedia para os seguranças trazerem alguém para vender água, só que os panacas dos seguranças que estavam na nossa frente, bebiam a água deles tranquilamente, sem auxiliar em nada à meninas e mulheres (principalmente) que realmente necessitavam de um refresco, e claro, malhando o rock.

Lauren Harris
Quando a gostosinha da filha do Harris entrou no palco, às 20:00h, a galera se animou. A guria teve uma boa presença de palco, mas não tem voz. Ainda bem que foram poucas músicas, não por ela, mas pelos fãs que já não estavam aguentando a pressão na grade e o calor, e começavam a brigar entre si, sendo que de novo fui agredido, dessa vez com um cotovelaço no olho por que falei que a Lauren Harris estava cantando igual ao Bruce Dickinson quando era criança, e de novo, ouvi poucas e boas.


De repente, a discussão que havia começado se tornou em agressão, quando um panaca com um prego (ou agulha, sei lá), começou a picar quem estava na frente. Identificado com uma camisa do Eddie trajando uma camisa do Palmeiras, o cidadão levou uma coça das boas, sobrando alguns socos para uns que outros (eu metido no meio), mas o ambiente continuou carregado, e achei melhor sobreviver do que tentar ver Adrian Smith e companhia de perto. Nessas alturas, eu já era mais um dos que precisavam de atendimento médico. 


Tentando sair da grade, era empurrado para a frente, para os lados, mas não para um local que eu pudesse respirar, até que cheguei no fundo do Ginásio, cambaleando. Quando consegui respirar e colocar minha cabeça no lugar, percebi que as minhas noites dormindo mal tinham ido por terra, suor e imbecilidade de fãs fanáticos, que brigavam entre si só para estar mais perto de Bruce Dickinson, um Deus soberano para muitos que estavam ali. 

Passei muito mal, mas consegui me recuperar. Aonde eu estava, percebi queo problema na grade não era só na grade, mas em toda a pista. Haviam dois corredores com circulação de ar e nelas, dezenas de pessoas atiradas ao chão, mulheres chorando, e alguns realmente em estado muito mal. O calor e a quantidade de gente respirando o mesmo ar (com varias substâncias sendo exaladas por corpos e cigarros de erva desconhecida) eram simplesmente de matar. 

Achei um local entre a arquibancada e a pista, onde consegui me escorar, e de onde só podia ver parte de um dos telões disponibilizados. Ali encontrei uma menina com quem tinha feito amizade na fila, e lembro dela falando: "Eu estive lá na frente, passei muito mal. Os caras do Opinião disseram que era pra ir embora. Não fui. Vou ficar aqui! Pelo menos estou ouvindo bem e vejo o telão, mas me arrependo de ter ficado na fila, e espero que o show seja bom". Pensei a mesma coisa ...

Quando as luzes se apagaram e o som de "Doctor Doctor" do UFO passou a ser entoado mais forte, trazendo os acordes de "Transylvania", os fãs começaram a entrar em guerrilha, e bastou "Aces High" ser entoada pelo Iron em cima do palco para a pauleira pegar não só na canção, mas entre os fãs. Uma guerra desesperada por ficar próximo ao palco, que eu assistia apavorado, sem jamais imaginar que um ser-humano pudesse passar tanta brutalidade apenas por um grupo de metal, apesar de ler em diversas revistas que os fãs do Iron Maiden são os mais fanáticos de todos.



Palco e a superlotação do Gigantinho
Veio "2 Minutes to Midnight", "Revelations", "The Trooper" (único momento que vi algo do palco com decência, que era Bruce carregando a bandeira do Reino Unido) e o som, apesar de chegar bem aonde eu estava, mostrava que a voz de Bruce ao vivo já não era mais a mesma dos tempos de Live After Death, fora as várias atravessadas da guitarra (Quem?? Não vi). 


O melhor momento veioa seguir, quando Bruce encontrou um celular perdido no show e ali improvisou uma conversa direta com sua mãe, dizendo que estava tocando em Porto Alegre paramais de 15 mil pessoas, e que "sabia que poderia ter sido um médico, um advogado, mas que agora não adiantava mais chorar pelos anos desperdiçados", e assim, Smith soltou o riff principal de "Wasted Years", atorado  vergonhosamente pela entrada errada do baixo.

As brigas acalmaram, mas o número de pessoas passando para o atendimento só aumentava. "The Number Of The Beast" e "Can I Play With Madness" antecederam o segundo melhor momento, "The Rime of the Ancient Mariner", não só pela música em si, mas por que naqueles treze minutos da canção, os fãs pararam de sacolejar, e finalmente eu pude ver as decorações do palco através do telão. Eu podia estar lá na frente, vendo tudo de perto, mas a violência me afastou daquilo. Enfim ...


Um pouco mais da superlotação do Ginásio
"Powerslave", seguida por "Heaven Can Wait" (esta última contando com a presença de trinta sortudos que cantaram com a banda em cima do palco), "Run to the Hills" e "Fear of the Dark" (a mais cantada por todos, e única que não faz parte do período citado no início do texto), alegravam e salvavam nossas almas do purgatório gerado dentro do Ginásio, até que veio o fato mais lamentável da noite.


... e a minha visão do palco.
Diante da aglomeração de pessoas, da enorme confusão que era o mar de gente indo e vindo em direção ao palco, Bruce parou o show e falou: "Estamos muito felizes de estar aqui em Porto alegre, depois de dezesseis anos, mas espero que dá próxima vez não aconteça o que estou vendo daqui de cima. Quem sabe a gente toca ano que vem em um estádio? Tem um aqui do lado!". Pra que. Os imbecis não entenderam que Bruce estava falando em tocar em um local maior, e tão pouco se referiu ao Estádio Beira-Rio por ser o estádio do time dele, e sim por que era o estádio que ele conhecia naquele momento.


Gremistas imbecis meteram uma vaia maior do que o Gigantinho em Bruce, enquanto gritavam "Grêmio! Grêmio!", e os colorados, tentando não deixar por menos, passaram a gritar "Inter! Inter!", em uma ridícula demonstração de amor pelo seu time que não cabia naquele momento. Puto, e muito puto, Bruce passou o xixi em todos, e falou: "Não estou falando em jogar futebol em um estádio, estou falando em tocar em um estádio, vão se foder".


Indignado, apresentou "Iron Maiden", e nessas alturas, começou a briga pelas palhets, baquetas e outras recordações que os músicos jogavam aos fãs. "Moonchild", a maior surpresa da noite, veio após uma brincadeira entre Murray e Dickinson, seguida de "Clarvoyant", duas que mais da metade do Ginásio parecia desconhecer. Só "Hallowed Be Thy Name" levanou a plateia novamente, e o show se encerrou com mais palhetas, baquetas, peles de baterias e outras recordações sendo jogadas a plateia, e mais empurrões, esmagamento de gente na grade, brigas e discussões entre os fãs por causa das mesmas.


Pouco a pouco, o Gigantinho foi esvaziando-se, enquanto o chão do local mostrava celulares quebrados, carteiras de identidade amassadas, roupas rasgadas e incontáveis pessoas atiradas. Já quem viu das cadeiras e arquibancada, saiu com a sensação de um bom show, e nada mais, e apavorados com as cenas bizarras que aconteciam nos empurra-empurras da pista.

Vendo o show posteriormente, em um famoso DVD pirata que rodou país afora, deu para perceber que o que aconteceu em cima do palco não foi tão ruim quanto na hora, mas fora do palco, a confusão, o esmagamento e toda a histeria dos fãs do grupo fizeram desse show realmente inesquecível. Afinal, se eu somente ouvi mal e porcamente "The Rime of the Ancient Mariner", e se desde aquele dia eu fico com receio de conversar sobre Iron Maiden com medo de ser agredido mais uma vez, é por receio desse que sem dúvidas, foi o pior show da minha vida.

Capa do famoso DVD pirata deste Show Inesquecível
Detalhe, desde aquele dia, o Iron esteve mais duas ou três vezes no Brasil, e jamais colocou os pés em Porto Alegre. De qualquer forma, Up The Irons!

Set list


1. Aces High
2. Two Minutes to Midnight
3. Revelations
4. The Trooper
5. Wasted Years
6. The Number of the Beast
7. Can I Play With Madness
8. The Rime of the Ancient Mariner
9. Powerslave
10. Heavn Can Wait
11. Run to the Hills
12. Iron Maiden
13. Fear of the Dark


Bis


14. Moonchild
15. Clarvoyant
16. Hallowed be Thy Name

segunda-feira, 7 de novembro de 2011

Shows Inesquecíveis: R.E.M. (Porto Alegre, 6 de novembro de 2008)



Por Mairon Machado (Publicado originalmente no blog Consultoria do Rock)

O dia em que comemoramos aniversário é uma data extremamente especial. Afinal, é quando vemos que o tempo aos poucos está passando, que estamos amadurecendo, e que vencemos os desafios que apareceram até então, nos preparando para os próximos que com certeza aparecerão.

Muitos gostam de comemorar o aniversário sozinho. Outros, preferem dar uma grande festa de aniversário, regada a bebidas, bolos, salgadinhos, etc. Entre o mundo feminino, é comum a comemoração dos 15 anos, com esplendores e diversos aparatos que simbolizam a transformação da menina em mulher. 

Eu nasci em 07 de novembro de 1982, na cidade de Pedro Osório, no antigo bairro Cerrito (hoje cidade de Cerrito), Rio Grande do Sul, em um domingo de Gre x Nal, onde o Internacional ganhou por 3 x 0 com três gols do centroavante Geraldão, e por pouco, meu pai não colocou meu nome de Geraldão (não era Geraldo, era Geraldão mesmo!), mas acabei ficando conhecido como Mairon.

Michael Stipe: extremamente carismático
Lembro de muitos aniversários. Quando criança, eram muitos os amigos que se juntavam para comer os bolos enfeitados que minha mãe fazia. Depois, na adolescência, os anviersários eram comemorados na rua, à base de cerveja e violão. Com a fase adulta, e consequente mudança para a capital Porto Alegre, os aniversários viraram símbolo de união entre a turma de estudantes de pós-graduação do IF-UFRGS.

Mas, em 2008, a coisa foi diferente. Meu aniversário foi comemorado durante um fim de semana inteiro, graças a dois shows que eu sempre quis ver, mas não tinha tido oportunidade. O segundo deles foi o do grupo Nenhum de Nós, tradicional no rock gaúcho, e que apresentou um espetáculo bem intimista no maravilhoso Teatro São Pedro, de forma acústica e com muitos clássicos que marcaram minha vida. Joguem as pedras, mas esse show, realizado exatamente no dia 07 de novembro de 2008, foi muito bonito e, principalmente, muito legal da parte dos músicos por receber com muita atenção aos fãs nos camarins.

Um dia antes, o Nenhum de Nós já havia se apresentado, porém, em um espaço de dimensões bem maiores que o São Pedro, e em uma oportunidade única. O local é o Estádio Passo D'areia, conhecido também como o Estádio do Zequinha (apelido do time São José, ao qual o estádio pertence). A oportunidade: nada mais nada menos que abrir para a mais importante banda de pop rock dos Estados Unidos desde a década de 80, o R. E. M.

Porém, o show do R. E. M., no dia 06 de novembro, além de ter como atrativo para mim ser um dia antes de meu aniversário, também tinha uma complicação a mais. Exatamente na mesma época, o Sport Club Internacional estava disputando as quartas de final da Copa Sul-Americana, e naquele dia, iria decidir a vaga para a Semi-Final da Copa Sul-Americana com o Boca Juniors da Argentina, no mesmo horário do show.

Micael, eu e Lucas, diante do palco do show
Sou um fanático torcedor colorado, e por vezes, pensei em não ir ao show. Afinal, o R. E. M. para mim era um bom grupo, com canções interessantes, mas certamente iriam voltar ao Brasil e poderia ver em outra data. Graças a um amigo meu, essa ideia não foi a que vingou. Lucas Nicolao, colega da pós-graduação em Física, foi quem me alertou da importância do show, dizendo que ia ser histórico, e que prometia bastante principalmente pelo lado emocional, e assim, eu comprei o ingresso e fiquei com o coração partido entre ver o jogo pela TV em um boteco qualquer ou ir para o Estádio e assistir a um show de rock. Dias antes do show, o meu irmão Micael Machado já estava na mesma situação que eu. Colorado também, decidiu que iria levar o rádio de pilha para o show, e assim, acompanhar o jogo ao mesmo tempo que acompanhava o show. 

Chegou 06 de novembro. Lucas e eu estavamos ansiosos, e nos encontramos em um determinado local para irmos juntos ao show, pouco depois de eu ter encontrado o Micael. Fomos de ônibus até boa parte do local, comentando sobre a expectativa de o que que iria rolar de som, e sob um belo fim de tarde, caminhamos até o Estádio, onde a movimentação era intensa. Depois da famosa cerveja Polar descer pelas gargantas secas, entramos no estádio, onde o imenso palco já chamava a atenção.

Cenas estonteantes no telão do R. E. M.
Curiosamente, bastou entrar no estádio para soprar um vento, que talvez, veio me dizer que os momentos a serem vividos ali a partir de então, seriam inesquecíveis. E assim o foram. Dentro do estádio, que foi sendo ocupado aos poucos, encontramos amigos, conhecidos e muita, mas muita gente que estava lá só para ouvir a clássica "Losing My Religion". O total de público foi de 18 mil pessoas, e não dá para negar que pelo menos umas 15 mil estavam ali só por causa dessa canção. Eu mesmo não posso negar que também era um dos que estava lá perdido. Da discografia do R. E. M., conhecia bem apenas a fase de auge do grupo (Out of Time, de 1991; Automatic for the People, de 1992; e Monster, de 1994), então, "Losing My Religion", sem dúvida o maior clássico dos americanos, era uma das que eu queria que eles tocassem.

Momento Obama:
Stipe levanta cartaz do público em
homenagem ao presidente americano
As 20 horas, o Nenhum de Nós subiu ao palco, e em quarenta minutos, fez um show energético, entoando clássicos e mais clássicos com guitarras, baixo e bateria mandando ver (bem diferente do acústico do dia seguinte). Depois de aquecer a galera, era a vez dos roadies entrarem no palco e arrumar tudo para o grande nome que iria mudar o Estádio do Zequinha a partir de então.

Formado em 1979, o R. E. M. estava com quase 30 anos de carreira na época. Maduros e com muito sucesso, o grupo tinha acabado de lançar o ótimo Accelerate, décimo quinto álbum de estúdio do grupo, e contava com Michael Stipe (vocais), Peter Buck (guitarras) e Mike Mills (baixo, teclados, vocais). Infelizmente, o baterista Bill Berry se aposentou em 1997, e desde então, o grupo seguiu com Bill Rieflin (bateria) e também Scott McGauhey (guitarras). Essa foi a formação que entrou no palco por volta das 22 horas, sendo que pouco depois o Micael já me anunciava que o jogo do Inter havia começado.

O Lucas encontrou a namorada, e sumiu no meio da multidão. O Micael estava com um ouvido no radinho e outro no show, e aos poucos, foi afastando-se de mim. Eu, no meio da multidão, olhava encantado para o belo telão de fundo, enquanto Michael Stipe entoava a letra de "Living Well is the Best Revenge". Descrever o show a partir de então é difícil. Cada música era uma aula de interpretação no palco, e principalmente, do carisma que Stipe tem. 

Stipe, no meio dos gaúchos em "The One I Love"
Não foram poucos os momentos em que ele parava diante do público e falava como estava encantado por estar em Porto Alegre. Claro, essa frase é manjada e tal, mas a forma como Stipe fazia, cativava. Era realmente emocional, e não apenas da boca para fora. As mensagens pró-Obama também apareceram diversas vezes. Esse foi o primeiro show do grupo após a eleição de Obama, e dentre as manifestações, inclusive um cartaz do público, saudando o atual presidente americano, foi levado até o palco à pedido do próprio Stipe, que durante "The One I Love", jogou-se no meio dos fãs e ficou cantando de mãos dadas com os que estavam na frente do palco.

Musicalmente, apesar de o som ter começado baixo, depois que se equilibrou, tudo ficou perfeito. Foi possível ouvir com nitidez cada instrumento, e como a maioria das pessoas não conhecia as canções, podíamos ouvir cada canção com perfeição. Vários foram os momentos que fiquei de boa aberta. O telão alaranjado de "Orange Crush", com cores vibrantes que balançavam automaticante a pupila, o emocionante momento acústico de "Let Me In", a sombriedade de "Drive", as amalucadas agitações de Stipe durante "What's the Frequency Kenneth?", mas nada, nada se comparava a sensação de paz, do carisma e da sensibilidade com que o R. E. M. estava tratando e emocionando o público.

As amalucadas danças de Stipe
Vários foram os momentos que ouvi um que outro "participante" do show comentar sobre o jogo do Inter, que o time estava ganhando e tal, mas eu, eu estava embriagado com a música do grupo, e me concentrava em entender cada uma delas, que eram praticamente desconhecidas. "The One I Love" com certeza foi sensacional, e inesperada também. Ver Stipe, no meio do público, era algo que eu só podia ver nos antigos vídeos do R. E. M., quando nem eram tão famosos assim, e ele estava fazendo ali, a poucos metros de mim.

A primeira parte do show encerrou com uma das canções que eu mais gosto, a dificílima "Is the End of the World as We Know It (I Feel Fine)", e então, nos preparamos para a segunda parte. Aqui, já se sabia que o Inter estava ganhando do Boca na Bombonera, que a linda noite de lua cheia estava começando a ter nuvens ameaçadoras de chuva, e que o show do R. E. M. havia deixado todos de boca-aberta, mas não era o suficiente.

Mills, com a camisa da seleção brasileira, e Stipe, ao vivo em Porto Alegre
O trio (mais a dupla acompanhante) voltou ao palco com "Supernatural Superserious", e com Mills vestindo a camisa da seleção brasileira, e depois, "Losing My Religion" arrancou as palavras dos 15 mil que só conheciam aquela canção, e que eu, sinceramente, não consegui cantar, pois a sensação de estar envolto pela música do grupo prendia minha voz. Eu só conseguia ouvir e viajar com o show. Veio ainda "Cuyahoga", antes de Stipe agradecer à todos e finalmente cantar "Everybody Hurts". Foi impossível segurar as lágrimas aqui. Se minha voz não falava, meu coração falou por mim. Alguém um dia disse: "Quem nunca chorou com Everybody Hurts é por que nunca ouviu a mesma", e é verdade. Uma das melhores canções do melhor disco do grupo, o já citado Automatic for the People, ela é muito especial, e ao vivo, com os celulares fazendo as vezes dos antigos isqueiros, com Stipe carregando cada pessoa do estádio para ouvir a canção, as lindas palavras da mesma, formaram um complô que arrancaram lágrimas não só de mim, mas de todos que lá estavam. Era só olhar pro lado e ver todo mundo chorando, se abraçando, e um clima de paz que foi refletido no palco, onde os cinco membros se abraçaram, para encerrar o show com "Man on the Moon", onde novamente Stipe voltou para o meio do público, se despedindo de nós já no dia 07 de novembro, e que para mim, tinha começado o aniversário tendo como presente a audição de "Everybody Hurts".

Peter Buck
Fomos para casa, eu e o Micael, anestesiados e quase sem falar um com o outro, principalmente pela embasbaquez que estavamos. Assim eram todos os que estavam no ônibus conosco. Ninguém falava com ninguém, mas todo mundo se olhava e apenas expressava um leve sorriso. O jogo do Inter parecia que não havia ocorrido, o que significava que naquele momento, a música havia ganho a batalha da paixão entre ela e o futebol. No dia seguinte, fui ver o Nenhum de Nós no São Pedro, e no sábado, dia 08, fomos numa churrascaria eu, o Micael e mais alguns amigos, para comemorar o aniversário. Por incrível que pareça, nós dois ainda estavamos um pouco anestesiados do show do R. E. M., e quase nem conversamos com os demais presentes.

Dois anos depois, exatamente no dia do meu aniversário, assisti Paul McCartney no Beira-Rio, outro momento inesquecível, mas que comparado ao que foi o show do R. E. M. em termos de apresentação carismática, não foi superável. Tanto que hoje, tenho toda a coleção do grupo em vinil e em CD, além de diversos singles que fazem parte de um acervo no qual venho admirando há três anos, conhecendo cada vez mais detalhes muito interessantes de uma das melhores bandas da história, a qual sabia como tratar seu público.

O telão durante "Orange Crush"
Infelizmente, em setembro último, o R. E. M. anunciou seu fim. Ao mesmo tempo que lamentei o término do grupo, me senti honrado de ter visto os mesmos ao vivo naquela quinta-feira de 06 de novembro de 2008, um dos dias inesquecíveis que eu vivi, e que agradeço ao Lucas e ao Micael por terem vivido aqueles momentos comigo, e para Stipe, Buck e Mills por terem me dado o melhor presente de aniversário daquele ano, mesmo sem saber.

Set list.


1. Living Well Is The Best Revenge 
2. I Took Your Name 
3. What's The Frequency, Kenneth? 
4. Animal 
5. Drive 
6. Disturbance at the Heron House 
7. Man-Sized Wreath 
8. Ignoreland 
9. Hollow Man 
10. The Great Beyond 
11. Electrolite 
12. Imitation Of Life 
13. Walk Unafraid 
14. Let Me In 
15. Find the River 
16. Horse To Water 
17. The One I Love 
18. Bad Day 
19. Orange Crush 
20. It's the End of the World as We Know It (And I Feel Fine) 

Encore:


21. Supernatural Superserious 
22. Losing My Religion 

23. Cuyahoga 
24. Everybody Hurts 
25. Man on the Moon 

quinta-feira, 19 de maio de 2011

Shows Inesquecíveis: Yes - Porto Alegre, 19 de maio de 1998


Por Mairon Machado  (Publicado originalmente no blog Consultoria do Rock)



O tempo passa, o tempo voa... Como a propaganda do banco Bamerindus profetizava, realmente isso acontece, e já faz 13 anos que lembro praticamente todas as noites de um fato inesquecível na minha vida, quando realizei o sonho de ver meu maior ídolo da guitarra ao vivo, na minha frente. Esse cara é nada mais nada menos que Steve Howe, do Yes, Asia, GTR e Anderson Bruford Wakeman Howe.

As lembranças desse show são tamanhas que eu poderia passar horas escrevendo, mas vou tentar simplificar o texto para não torná-lo maçante. Conheci o Yes quando tinha nove anos, através de um programa chamado Hollywood Rock in Concert, que era exibido na TV Bandeirantes todo sábado. Esse programa sempre mostrava um VHS de uma banda famosa, não na íntegra, apenas partes, o suficiente para deixar um curioso atiçado em busca de material de tal banda.

Nele eu conheci grupos como Genesis, Supertramp, Mötley Crüe, Firehouse, Asia, Dire Straits e Def Leppard, entre tantos outros. Em um determinado dia, a Bandeirantes anunciou o show Around the World in 80 Dates, do Yes. Lembro de, sentado à frente da TV do quarto, assistir a abertura com as capas de disco do Yes passando ao som da introdução de "Lift Me Up", além da primeira imagem do show, a de um senhor cabeludo com uma gigantesca guitarra Gibson semiacústica fazendo os acordes de "Yours Is No Disgrace". Paixão à primeira vista!

Esse senhor era Steve Howe, e "Yours is No Disgrace" foi a primeira de muitas canções do Yes que eu ouvi repetidamente, até saber de cor cada detalhe de qualquer um dos instrumentos presentes na canção. Desesperado, eu saí atrás de tudo que fosse ligado ao Yes, mas achar vinis da banda era algo difícil em Pelotas, única cidade que vendia discos na região de minha terra natal, Pedro Osório. 




Parte da minha coleção do Yes

Foi graças ao Micael, meu irmão, que já morando em Porto Alegre, começou a "importar" das lojas da Capital os discos do Yes. Primeiro veio Classic Yes, por conter "Yours is No Disgrace", "Roundabout" e "And You And I", três das minhas favoritas. Mas daí, surgiu o problema: Classic Yes também conta com "Heart of the Sunrise", então não tive escolha, o seguinte foi Fragile.

Vieram 90125, Union, Going For the One, Yes, Yessongs, Time and a Word e Yesshows, quando conheci "Ritual" e "The Gates of Dellirium". Meu mundo caiu. Essas duas suítes eram muito melhores do que tudo o que eu pensava se tratar de suíte até então (lembrando que eu tinha cerca de 11 anos nessa época, e conhecia as suítes "Atom Heart Mother", "Echoes", "Supper's Ready" e "Lizard"). Bah, não parei enquanto não adquiri Tales from Topographic Oceans e Relayer, o que veio quando completei 12 anos (presentes de aniversário e natal em 1994, respectivamente). Com a aquisição de Close to the Edge logo em seguida, eu me tornei um aficcionado por Yes, que achava Steve Howe o maior guitarrista da história, e largava meu lado metal do Possessed, Sepultura, Slayer e Black Sabbath, com o qual convivi durante muito tempo, para apreciar aquelas maravilhas.

Em março de 1998, Micael já trabalhava em uma grande firma da região metropolitana de Porto Alegre, e com um bom salário (para a época), desfrutava da vida. Eis que surgiu o anúncio mais que inesperado: o Yes tocaria em Porto Alegre com uma de suas formações consagradas. 

Apenas para ressaltar, ao que eu lembre essa informação surgiu em um jornal local. Na época, internet era algo raríssimo. Tudo o que se adquiria de informação era ou da revista Rock Brigade, ou da revista ShowBizz. Em março de 1998, completou-se cinco meses do último album do grupo, Keys to Ascension 2, que conta com Howe, Jon Anderson (vocais), Alan White (bateria), Chris Squire (baixo) e Rick Wakeman (teclados).


Open Your Eyes, o álbum da turnê de um show inesquecível


Cara, quando eu recebi a carta do Micael avisando do show, vibrei de alegria, e implorei para pai, mãe, padrinho, a cadela da vizinha, todos, para conseguir ir. Na mesma carta, fiquei sabendo que havia um novo álbum, Open Your Eyes, saído há pouco, cujas informações a seu respeito eram escassas. Mas, a princípio, era a formação de Keys to Ascension que tocaria em Porto Alegre.

Através da interferência monetária do Micael, os ingressos, que custaram caríssimos 50 reais, foram adquiridos. Pela mão de meu pai, a passagem de ida e volta para Porto Alegre (uma bagatela de 30 reais, que hoje custa 110 reais) me foi propiciada. Larguei sozinho de Pedro Osório para Pelotas, com 15 anos, e já em Pelotas fui direto em uma banca comprar um jornal para saber notícias a respeito show.


Steve Howe, Billy Sherwood, Chris Squire, Jon Anderson, Alan White e Igor Khoroshev (1999)


No Segundo Caderno de um famoso jornal local, estava estampada a foto do Yes que abre esse artigo, com seis integrantes, sem Wakeman e com a formação de Open Your Eyes, ou seja, Howe, White, Squire e Anderson, mais Billy Sherwood (guitarra) e Igor Khoroshev (teclados). Lembro que na hora em que li a manchete, fiquei triste por não ver Wakeman, mas por outro lado, achei curioso o fato do jornal citar o Yes como uma das primeiras bandas a lançar em um novo formato que começava a chegar as lojas americanas, o DVD. Afinal, eu não tinha nem ideia do que era um DVD, e CD era artigo de luxo em Pedro Osório.

Às 16 horas saí de Pelotas. Ainda lembro de um cidadão que precisava ir para Porto Alegre naquele horário, e não tinha mais passagem. O cara ofereceu o dobro do valor da passagem, e eu pensei duas vezes, mas por diversas questões, fui às 16 horas mesmo. Chegando em Porto Alegre, lá estava o Micael. Comemos algo na rodoviária e nos mandamos para o Bar Opinião, local do show.

Lembro direitinho do trajeto e da chegada no Opinião, com uma fila de senhores onde eu parecia um bebê. O Micael encontrou algum conhecido, mas no fim das contas, dentro do local, fomos para o segundo piso, já que a ideia era que, na pista, eu não veria nada, e como esse era o meu primeiro show, ainda mais do Yes, eu precisava ver.

No segundo andar, paramos perto da grade de proteção, apenas com um gigante e repórteres a minha frente. Apesar de uma ou outra confusão, eu estava embasbacado com a pressão. Nunca tinha visto tanta gente em um lugar tão pequeno. Eu estava esmagado. Dizem que havia 1,8 mil pessoas no Opinião, mas pelo que acabei conhecendo do lugar depois que passei a morar em Porto Alegre, acredito que havia mais.

O show começou com a clássica "Opening: Firebird Suite", e o Yes já veio detonando "Siberian Khatru". Eu fiquei quieto o tempo inteiro, achando que era mentira, já que estava ouvindo a sequência de abertura de um dos meus álbuns ao vivo favoritos, o Yessongs, ali, na minha frente. O primeiro solo de Howe, que não por menos entrou com a mesma semi-acústica de quando eu conheci o Yes na TV Bandeirantes, foi como o primeiro beijo da mulher amada. Aquilo me acalmou, e eu cantei as vocalizações finais da canção.

O Opinião vibrou, e então vieram mais e mais clássicos, onde eu me surpreendi diversas vezes, como em "Owner of a Lonely Heart" (com Sherwood se destacando), "America" (essa eu lembro que cantei inteira com um cara reclamando que tinha ido ao show para ver o Jon Anderson cantar, não eu) e "And You And I", onde eu descobri como uma música pode te fazer chorar.


White, Squire e Sherwood


Os momentos mais marcantes foram três. O primeiro deles, quando "Heart of the Sunrise" começou a ser tocada, e Squire chegou na frente do palco, com seu baixo empunhado, pedindo para a galera cantar o solo junto com ele, enquanto Howe, quietinho no seu canto, fazia o tema central. Lembro de Khoroshev com os braços abertos tocando dois teclados ao mesmo tempo, algo que eu achava que somente Wakeman fazia (quanta inocência).


Steve Howe


Depois, foi o solo de Steve Howe ao violão. O Opinião inteiro em silêncio quando ele começou a tocar "Mood For a Day". Me senti no paraíso. Para tornar tudo ainda mais especial, no começo da canção o responsável pelo canhão de luz jogou a luz direto no rosto de Howe. Ele seguiu tocando e visivelmente desconfortável, começou a correr pelo palco tocando ao mesmo tempo uma das mais lindas peças que já cômpos. Cara, aquilo foi demais. O Opinião vibrava como em uma final de futebol. Depois, Howe deu a xingada do ano no cidadão, mas o estrago já havia sido feito, ele tocou uma das peças mais lindas de toda sua carreira correndo pelo palco. Uma "barbada"!! Depois foi a vez de levantar a gauchada com "The Clap", em um dos momentos mais legais, onde Howe agradeceu ao público pelo carinho e por ter acompanhado a canção com palmas.

Por fim, o solo de Squire foi algo digno de se registrar eternamente em um DVD. Squire, com camisa e calça preta, começou "The Fish" da mesma forma do que está registrado no LP Yessongs, ou seja, após "Long Distance Runaround". A partir de então, vieram as conhecidas linhas de "Whitefish", e quando chegou em "Amazing Grace", se ajoelhou em frente a Alan White, em posição de reverência, e White soltou o braço em um longo solo. Depois do solo de White, Squire se levantou, e junto com Howe e Khoroshev, interpretaram algumas linhas de "Ritual". Eu lembro de ficar parado e do Micael me gritando: "Viu, 'Ritual', viu!!!".


Igor Khoroshev
Outro momento que me marcou bastante foi o solo de Khoroshev. Como ele começou a solar depois de "Wonderous Stories", a expectativa era de que ele seguisse o álbum Going for the One, comandando-se "Awaken", mas tudo não passou mesmo de expectativa, já que o tecladista russo enveredou por outros campos e não passou nem perto da melhor canção que o Yes gravou depois de 1975.


O show acabou com "I've Seen All Good People", quando Anderson apresentou os membros conforme o álbum Classic Yes, e "Roundabout". Ficou aquela frustração por nem "Close to the Edge", nem "Awaken" terem sido tocadas, além do fato de que em "And You And I" Howe não usou a guitarra de dois braços que costumava usar nos anos 70. Mas mesmo assim, o impacto do show foi tão grande que depois de toda a viagem de volta para Pedro Osório (mais de cinco horas de ônibus), eu lembrava do repertório na ordem que foi tocado, e tenho até hoje comigo o mesmo anotado nos meus papéis referentes à carreira do Yes.
Jon Anderson


Infelizmente, naquela época câmera fotográfica digital era coisa de outro mundo, e também não fiquei com o ingresso do show, que foi recolhido pela produção logo na entrada. A única recordação material do show é a camisa da turnê, comprada por absurdos 25 reais (lembro que o Micael tentou um desconto, pois aquele valor era muito caro mesmo). Entretanto, em compensação, a cada dia que eu ouço Yes e fecho os olhos, parece que um CTRL+F surge no meu cérebro, e lá ele encontra os mpegs do show de 1998, com Howe de camisa azul e calça negra dando os seus pulinhos tradicionais pelo palco, Anderson e seu carisma mais que conquistador, Khoroshev se distribuindo em braços para fazer as canções de Wakeman, Sherwood praticamente estático no canto direito do palco, Squire sorrindo muito para o público e White jogando as baquetas para o pessoal que estava no gargarejo do Opinião, além da emoção de ter visto aquele que musicalmente até hoje foi o melhor show da minha vida, e que eu agradeço e muito ao Micael por ter me propiciado, sendo o primeiro de muitos shows que posteriormente curtimos juntos.

O bolha com a camisa do show
Set list:

1. Firebird
2. Siberian Khatru
3. Rhythm of Love
4. America
5. Open Your Eyes
6. And You and I
7. Heart of the Sunrise
8. Mood For a Day
9. The Clap
10. Wonderous Stories
11. Khoroshev Solo
12. Long Distance Runaround
13. Whitefish
14. Amazing Grace
15. Excerpts from 'Ritual'
16. Owner of a Lonely Heart


Bis:

17. I've Seen All Good People
18. Roundabout
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