Mostrando postagens com marcador Bill Bruford. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Bill Bruford. Mostrar todas as postagens

quinta-feira, 6 de agosto de 2015

Bruford Levin Upper Extremities - Bruford Levin Upper Extremities [1998]



Existem discos e discos, todo mundo sabe disso, mas existem discos que nós ouvimos e gostamos automaticamente, mesmo sabendo (e considerando) isso praticamente impossível se levar em conta seu conhecimento e experiência com relação aos seus gostos pessoais.
Pessoalmente, eu sou um grande crítico do King Crimson pós-anos 80. A reformulação do grupo do guitarrista Robert Fripp, com a entrada do também guitarrista (e vocalista) Adrian Belew, ao lado da cozinha Bill Bruford (bateria) e Tony Levin (baixo), mudou totalmente a cara de uma das maiores bandas do rock progressivo da década de 70, lançando três álbuns idolatrados por muitos, odiados por outros, e que para mim, não trazem nenhum sentimento além de desperdício de agulha.

Chris Botti, David Torn, Bill Bruford e Tony Levin
Depois, o grupo seguiu nos anos 90 com mais alguns lançamentos que não me dizem nada, e eu praticamente parei de acompanhar a banda, apesar de seguir sempre fiel ao grande Bill Bruford, consumindo com voracidade tudo o que ele tocava, apenas para conhecer um pouco mais do seu já inquestionável estilo de improvisação.
Bill Bruford

Foi assim que conheci um disco incrível registrado pelo batera. Ainda na década de 90, Bruford e Levin resolveram montar um projeto altamente experimental, no qual o baterista assumiu também o papel de tecladista, e Levin pode mostrar ainda mais seus dotes com o sticker. Para complementar a experiência, agregaram o guitarrista David Torn e o trompetista Chris Botti, e assim, nasceu o Bruford Levin Upper Extremities, ou simplesmente B. L. U. E. , cujo primeiro álbum foi lançado em 1998. São doze canções, gravadas através de diversos improvisos que nasceram em ensaios nas casas de Bruford, Levin e Torn, e que culminaram com um álbum homônimo que pertence ao hall de melhores lançamentos da década de 90, e talvez, o melhor disco de 1998.


O trio Bruford, Levin e Torn já havia se encontrado no álbum Cloud About Mercury (1987), o segundo disco solo de Torn, cuja ideia é similar a apresentada nesse primeiro álbum do grupo, porém tendo a presença do trompetista Mark Isham no lugar de Botti, além de não soar tão impactant quanto Bruford Levin Upper Extremities.
Bill Bruford e Tony Levin (acima); Chris Botti e David Torn (abaixo)

"Cerulean Sea" surge com os agonizantes acordes de guitarra e efeitos sintetizados, comandados pelo sticker sempre presente de Levin, que repete-se por minutos e minutos enquanto Bruford rufa aleatoriamente sua caixa. A sensação dessa faixa de abertura é que estamos fazendo um tratamento hipnótico, tamanha a capacidade repetitiva e chocante da faixa, que encerra com um "Interlude" no sticker, levando a delirante "Original Sin", a qual foi a canção que me fez apaixonar pela banda, já que nela, está a essencial explicação para a diferença do B. L. U. E. e do King Crimson, no caso, o trompete de Chris Botti, que traz uma espécie de Miles Davis misturado às loucuras viajantes da guitarra e dos loops de David Torn, enquanto Bruford e Levin acompanham despretensiosamente, quebrando o ritmo como mágica, ou melhor, como apenas gênios conseguem fazer.


"Etude Revisited" começa com conversas misturadas, saltando para o animalesco duelo de guitarra e trompete entre o ritmo intrincado do sticker e da bateria de Bruford, que inventa ritmos e quebradas impossíveis de se imaginar. As influências de Miles Davis são evidentes no trompete de Botti, e essa faixa irá fácil voltar para a audição após o encerramento do álbum. Mas se você acha que o grupo irá fazer apenas experimentações com quebradeira, ouça "A Palace of Pearls (On a Blade of Grass)", uma peça seminal levada pelos sinos tubulares de Bruford e com passagens estonteantes de trompete e guitarra, que nos remetem aos momentos mais sombrios de Low (David Bowie), encerrada pelo "Interlude" de baixo e percussão.
A loucura doentia do sticker volta na magistral "Fin de Siecle", a canção que eu recomendo para o fã do King Crimson se aventurar primeiramente no conhecimento do B. L. U. E., já que é muito similar a algumas faixas da banda, dando uma lembrança de "Red" aqui e acolá, seja pela distorção da guitarra ou pela quebradeira de bateira e sticker, mas claro, o trompete faz toda a diferença, em outra canção que dará gosto rodar de novo nas caixas de som. "Drumbass" é exatamente o que o nome da canção diz, baixo e bateria fazendo um riff através de uma breve faixa, que nos traz a dolorosa presença do arco de violino arranhando o sticker na linda introdução de "Cracking the Midnight Glass", a mais arrepiante das canções de Bruford Levin Upper Extremities, com seu andamento arrastado que lembra "Kashmir" (Led Zeppelin), mas totalmente desconstruída pela guitarra e pela bateria. Bruford causa uma confusão mental que exige muito esforço para ser compreendido cada quebrada dada no ritmo, e Torn simplesmente esganiça a guitarra com sustains e riffs tirados de algum poço nas profundezas do inferno. Sinistra, arrepiante e encantadora são algumas das definições dessa grandiosa faixa.



David Torn, Chris Botti, Bill Bruford e Tony Levin

A vinheta "Torn Drumbass" apenas inclue o violão de Torn ao lado de Bruford e Levin, levando para a sinistra "Thick With Thin Air", construída sobre explorações do sticker de Levin, que bate nas cordas com o arco de violino e com os dedos, tendo ainda um estranho acompanhamento vocal ao fundo, transmutando-se para um suave blues acústico comandado pelo slide e loops de Torn. "Cobalt Canyons" retorna aos ritmos quebrados e intrincados de baixo e bateria, e agora, Torn explora sua guitarra no extremo das invenções, empregando distorções diversas para fazer os olhos (e os ouvidos) saltarem com a alucinante sequência final da canção, com uma aula de free jazz para John Coltrane aplaudir do alto de sua sapiência, complementadas por barulhos ao piano em mais um "Interlude".

Tony Levin

"Deeper Blue" é outra peça magnífica, com Levin deslizando seus dedos pelo baixo comoventemente, e o trompete criando aquela saborosa sensação de "Opa, temos uma raridade do Bitches Brew rodando nas caixas de som?". Que música fantástica e genial, com méritos ainda para o simples mas perfeito de Bruford com o brush, e o disco encerra com a divertida "Presidents Day", uma epopeia de viagens na guitarra e no trompete.
Aos que gostam do King Crimson pós-anos 80, recomendo fortemente a audição, e aos que gostam do King Crimson dos anos 70, recomendo mais ainda, pois a surpresa não será só minha. Em tempo, se o trompete é o responsável pela principal diferença na música, convém dizer que a ausência do chatérrimo Belew só faz B. L. U. E. ganhar ainda mais pontos. Ouça e tire suas dúvidas.


Contra-capa do álbum


1.  Cerulean Sea
2. Original Sin
3. Etude Revisited
4. A Palace of Pearls (On a Blade of Grass)
5. Fin de Siecle
6. Drumbass
7. Cracking the Midnight Glass
8. Torn Drumbass
9. Thick With Thin Air
10. Cobalt Canyons
11. Deeper Blue
12. Presidents Day

quinta-feira, 24 de novembro de 2011

Maravilhas do Mundo Prog: Anderson Bruford Wakeman Howe - Brother of Mine [1989]




Encerrando essa sequência de matérias sobre as maravilhas do mundo prog lançadas por membros e ex-membros do Yes fora do grupo britânico, e também encerrando a sessão nesse ano de 2011, vamos narrar um pouco a história do projeto Anderson Bruford Wakeman Howe, o qual durou apenas dois anos, no final da década de 80, mas que foram significantes para o retorno do Yes ao progressivo.

Depois do lançamento dos álbuns 90125 (1983), 9012-Live (1985) e Big Generator (1987), o Yes, na época formado por Jon Anderson (vocais), Chris Squire (baixo, vocais), Trevor Rabin (guitarra, vocais), Alan White (bateria) e Tony Kaye (teclados) estava absorvendo o sucesso inesperado. Afinal, o grupo havia conquistado seu nome na década de 70 como um dos maiores do rock progressivo, e invadiu os anos 80 com uma sonoridade mais pop, influenciada principalmente pela entrada de Rabin, levando o grupo ao estrelato com canções como "Owner of a Lonely Heart" (de 90125) e "Love Will Find a Way" (Big Generator).

Ex-membros do Yes, reunidos sob um novo nome:
Anderson Bruford Wakeman Howe
Porém, Anderson sentia-se pouco a vontade com sua participação no grupo. Antes, ele era um líder (ao lado de Steve Howe, guitarras), criando letras e canções mirabolantes, e que simbolizavam um dos principais momentos da história da música. Agora, ele estava relegado a segundo plano, com Rabin sendo o centro das atenções e compondo as principais canções do grupo.

Foi assim que Anderson, indignado com a sonoridade que o Yes havia seguido, decidiu seguir em carreira solo. Alegando ter mais interesse em música do que em dinheiro, ele sai do Yes em 1988, pouco depois do término da turnê de Big Generator, e lança ainda em 1988 o fraco In the City of Angels

Enquanto isso, o ex-tecladista do Yes, Rick Wakeman, também naufragava em uma carreira solo repleta de imperfeições. Desde sua saída do Yes, em 1979, o tecladista não havia mais conquistado o espaço que por hora havia sido seu: o de principal tecladista do rock. Apesar do respeito dos fãs, uma série de álbuns sem sucesso, e também composições para trilhas sonoras de filmes (The Burning, 1981; Crimes of Passion, 1985), e a Copa do Mundo de 1982, (G'ole) , entre outros álbuns de menor expressão, não foram suficientes para manter Wakeman entre os artistas mais comentados da década de 80.

Poster de divulgação
da turnê do grupo
Já o guitarrista Steve Howe vinha de um esplendoroso e ao mesmo tempo decepcionante projeto: o GTR. Depois de fazer sucesso com o Asia, um dos principais nomes do AOR, Howe teve ao seu lado o guitarrista Steve Hackett (ex-Genesis), fundando o GTR, o qual tinha tudo para ser um estrondoso sucesso. Porém, ao invés de seguir o esperado, com uma sonoridade progressiva que prioriza-se as guitarras de Howe e Hackett, o som do grupo era um pop meloso que não agradou nem aos próprios músicos, durando menos de um ano e lançando apenas um álbum, o colecionável GTR (1986).

Por fim, o baterista Bill Bruford (também ex-membro do Yes) era o único que estava satisfeito com o que estava fazendo. Depois do término do King Crimson, em 1984, Bruford passou a investir no jazz rock, montando o Earthworks e lançando o ótimo Earthworks, em 1987. 

Mas, como o mundo da voltas, naquele final de 1988 Anderson trabalhava em mais um disco solo, quando convidou Wakeman para participar do mesmo. Wakeman trouxe com ele Howe, e assim, passaram a criar a ideia de um novo projeto musical. Isolados na europa, Anderson, Wakeman e Howe decidiram que era possível fazer um álbum juntos, após anos sem se falar. Para isso, faltava um baterista.

O primeiro nome que veio à cabeça de Anderson foi o de Bruford. De certa forma chateado com os ex-colegas do Yes (que ficaram morando nos Estados Unidos), Anderson pensou que trazendo Bruford para o novo grupo, significaria trazer novamente o som do verdadeiro Yes, e não o Yes de Rabin, Squire, Kaye e White. Bruford não aceitou de imediato, mas com o tempo, as coisas foram mudando.

Capa alternativa de Anderson Bruford Wakeman Howe
As especulações e boatos da nova banda passaram a circular fortemente na mídia especializada, que não demorou para batizar o Yes original de Yes-West (já que os membros do Yes viviam no lado oeste do planeta), enquanto o novo grupo que surgia na europa era batizado de Yes-East. Como os direitos autorais do nome Yes pertenciam a Squire, o verdadeiro Yes permanecia nos Estados Unidos.

Assim, depois que Bruford finalmente aceitou participar do projeto, uma pequena sessão de entrevistas anunciava ao mundo o nascimento de um novo grupo: Anderson Bruford Wakeman Howe. O estardalhaço gerado foi o de um tsunami. O planeta inteiro esperou ansiosamente o trabalho do que os membros do Anderson Bruford Wakeman Howe diziam ser o retorno ao rock progressivo dos anos 70.

A concepção do LP foi feita com cuidado. Ao Yes-East, agregaram-se o baixista Tony Levin, o tecladista Matt Clifford, o guitarrista Milton McDonald e mais uma série de vocalistas, como a filha de Jon Anderson, Deborah Anderson, Tessa Niles, Carol Kenyon, Frank Dunnery e Chris Kimsey. O grupo começou os ensaios em Paris, fazendo as gravações em Montserrat, onde gravaram também com a Emerald Community Singers. Os trechos finais foram feitos em Londres, onde o LP/CD também foi mixado.

Single de "I'm Alive", uma das
partes de "Quartet"
No dia 13 de junho de 1989, chegou às lojas Anderson Bruford Wakeman Howe. Apesar da grande expectativa, e resgatando as belas capas de Roger Dean (que trabalhou nas capas do Yes no auge do sucesso do grupo, entre 1971 e 1975), o som do álbum não reflete os grandes momentos de destaque do Yes nos anos 70. Analizando friamente, o álbum soa como uma espécie de mistura das carreiras solo de cada um dos integrantes do quarteto, tendo mais relevância para o trabalho de Jon Anderson. Inclusive, uma das canções, "Let's Pretend", é uma canção que ficou de fora do último álbum feito pelo projeto Jon & Vangelis, entre o vocalista do Yes e o tecladista Vangelis, projeto esse que teve três álbuns lançados no início dos anos 80, e posteriormente, um em 1991. 

Rick Wakeman, Jon Anderson, Bill Bruford e Steve Howe
As canções mais curtas, como a citada "Let's Pretend", apenas com Anderson nos vocais e Howe nos violões, a bela faixa de abertura "Themes", onde Bruford mostra seus dotes com a bateria eletrônica, "Birthright", com um espetacular trabalho de violão feito por Howe, e "The Meeting", somente com Wakeman e Anderson, são os momentos mais apreciáveis, onde podemos ouvir resquícios do que um dia foi o quarteto trabalhando como Yes (apenas lembrando que os quatro, mais Chris Squire, são os responsáveis por compor e gravar dois álbuns essenciais do progressivo: Fragile, de 1971, e Close to the Edge, de 1972). Por outro lado, existem canções inexplicáveis, como a péssima "Teakbois", com seus ritmos caribenhos, ou as cansativas "Order of the Universe" e "Quartet", que apesar de possuirem bons momentos, não são de todo completamente satisfatórias em suas audições. Isso se deve principalmente pela mixagem feita por Anderson e o produtor Chris Kimsey, que limou muitas partes feitas pela guitarra e pelo teclado, as quais podiam ter dado uma nova cara para o álbum. Uma prova disso é a versão de "Fist of Fire" que econtra-se no box In a Word, lançado em 2002, a qual apresenta uma mixagem feita por Howe.

Porém, mesmo em um disco bem irregular, seria impossível que Jon Anderson, Bill Bruford, Rick Wakeman e Steve Howe fossem capazes de não gravar nenhuma maravilha prog, e claro, isso não aconteceu. Na terceira faixa do lado A, dividida em três partes que foram compostas pelo quarteto em parceria com o tecladista Geoffrey Downes (também ex-Yes), "Brother of Mine" é a canção que representa o que estaria fazendo o Yes se assim o grupo fosse batizado, mesclando as sonoridades de cada integrante em uma canção que encaixa-se perfeitamente no mundo progressivo, apesar de sua sonoridade extremamente moderna.

Single de "Brother of Mine"
Tudo começa com "The Big Dream", onde gongo e harpa trazem os teclados de Wakeman e a cristalina voz de Anderson, acompanhada por dedilhados da guitarra. Baixo, sintetizadores, bateria e guitarra criam o lento andamento extremamente AOR, com Howe fazendo um pequeno solo, e destacando as intrincadas linhas do baixo de Levin. Anderson passa a cantar a linda letra da canção sobre esse andamento, com Bruford dando um show a parte em variações lentas mas extremamente quebradas. Chegamos na segunda parte, batizada de "Nothing Can Come Between Us", onde vocalizações acompanham a voz de Anderson cantando "Nothing can come between us", enquanto Anderson canta que "You're a brother of mine".

Uma agitada ponte leva para o belo solo de piano de Wakeman, com um andamento muito leve, e com mais uma pequena participação do solo de Howe. Após a repetição da agitada ponte, Anderson repete os versos finais de "Nothing Can Come Between Us", destacando bastante o nome dessa parte da canção junto das vocalizações e diversas viradas nos tons de Bruford, para então, repetir as frases iniciais de "The Big Dream". 

Contra-capa de Anderson Bruford Wakeman Howe
As diversas repetições dessas frases vão crescendo, explodindo no melodioso solo de Howe, abusando de longos bends e arpejos, em um crescendo muito bonito. Bruford conduz a canção nos pratos, e assim, Wakeman cria um lindo tema no sintetizador, duelando com o baixo de Levin, enquanto Howe sola sobre o complicadíssimo andamento de Bruford, trazendo as vocalizações e palmas de "Long Lost Brother of Mine", a parte final de "Brother of Mine". 

Relançamento de
Anderson Bruford Wakeman Howe,
com faixas bônus
A quebradeira repete-se, agora para o solo de Wakeman,  e então, as vocalizações retornam, em um ritmo dançante e envolvente, chegando a um momento mais leve, onde teclados e vozes duelam, para a quebradeira voltar enquanto Anderson canta o encerramento da letra. Voltamos ao final dos anos 70, com Going for the One (1977) e Tormato (1978), os últimos discos lançados por Wakeman com o Yes, e então, as vocalizações de Anderson cantando o nome da última parte da mini-suíte levam para outro lindo solo de piano de Wakeman, com mais um show de Bruford, e com Howe fazendo um belíssimo dedilhado, fechando a canção com uma complicada escala feita por piano, guitarra, baixo e a bateria de Bruford acompanhando tudo. Tão genial quanto podia ser algo vindo desses monstros do progressivo!

Anderson Bruford Wakeman Howe ficou em trigésimo lugar nos Estados Unidos, e décimo quarto na Inglaterra. Ele foi relançado em uma edição limitada em março de 2011, trazendo um CD bônus com diversas faixas inéditas. Apesar de oscilante, é uma boa adição para os fãs do Yes, sendo melhor do que 90125 ou Big Generator na opinião deste que vos escreve, e também, bem melhor do que o Yes viria a fazer depois com Union (1991), o pomposo projeto que uniu oito de doze membros que haviam passado pelo Yes somente no palco, e que não funcionou em estúdio.

O essencial ao vivo de Anderson Bruford Wakeman Howe
Nove das treze canções de Union foram compostas para o segundo álbum do Anderson Bruford Wakeman Howe, o qual nunca saiu. Detalhes sobre o processo da gravação desse álbum podem ser conferidos nessa matéria feita aqui no blog. Antes do lançamento de Union, a turnê de Anderson Bruford Wakeman Howe foi de extremo sucesso. Nos palcos, o quarteto (acompanhados de Tony Levin no baixo, Julian Colbeck nos teclados e Milton McDonald nas guitarras) resgatavam sucessos do Yes, além de apresentar as canções do LP. O último show dessa turnê foi lançado no essencial CD/DVD An Evening of Yes Music Plus (1993), tendo como baixista Jeff Berlin (ex-colega de Bruford no grupo Bruford). Esse álbum vale principalmente por ser o único registro oficial do Anderson Bruford Wakeman Howe, trazendo versões preciosas para "Heart of the Sunrise", "And You And I", "Starship Trooper", "Roundabout" e claro, "Brother of Mine", a não única, mas melhor maravilha prog gravada por membros do Yes, mas não sob o nome de Yes!

Palco da turnê de Anderson Bruford Wakeman Howe
O Maravilhas do Mundo Prog encerra suas atividades esse ano, mas volta em fevereiro do ano que vem, resgatando pérolas do progressivo que encantam apreciadores do estilo desde a década de 60 até os dias de hoje. 

Um forte abraço, boas festas de fim de ano para todos e nos vemos nessa viagem pelo progressivo no ano que vem!

quinta-feira, 10 de novembro de 2011

Maravilhas do Mundo Prog: Bruford - The Sahara of Snow [1979]





O segundo membro a sair do Yes foi o tecladista Tony Kaye. A sua falta de técnica não era o suficiente para acompanhar o nível que o resto do grupo estava alcançando, e assim, Kaye foi convidado a sair, sendo substituído por Rick Wakeman. Enquanto Kaye passou a integrar o Flash de Peter Banks (ex-colega de Yes), e depois gravou com o Badger os bons One Live Badger (1973) e White Lady (1974), com Wakeman nos teclados, o Yes chegou na sua formação clássica, consistindo do próprio Wakeman, Jon Anderson (vocais), Steve Howe (guitarras, vocais), Chris Squire (baixo, vocais) e Bill Bruford (bateria). Esse quinteto gravou dois álbuns fundamentais para os aprendizes e amantes do rock progressivo: Fragile (1971) e Close to the Edge (1972), mas, durante a turnê de Close to the Edge, Bruford sentia-se deslocado e limitado dentro do Yes.

Decidido a ampliar seus horizontes, Bruford saiu do Yes e foi parar no King Crimson. Junto de Robert Fripp (guitarras), John Wetton (baixo, vocais), David Cross (violinos) e Jamie Muir (percussão), veio outro álbum extremamente importante: Lark's Tongues in Aspic (1973). Aos poucos, o King Crimson foi ruindo, mas mesmo assim, lançando álbuns excelentes, os quais são Starless and Bible Black (1974), já sem Muir, e Red (1974), já sem Cross. 

Bill Bruford, no King Crimson

O King Crimson acabou em 1975, e então, Bruford ingressou como músico convidado no Gong, onde ficou poucas semanas de 1975, passando para o Genesis, por onde participou da turnê dos álbuns A Trick of the Tail e Wind and Wuthering, ambos de 1976, e que foi parcialmente registrada no ao vivo Seconds Out (1977), já que Bruford saiu do Genesis exatamente no início da turnê em 1977, partindo para uma carreira solo.

Nessa carreira solo, Bruford decidiu misturar elementos de jazz, progressivo, e também inspirações de diferentes estilos, como blues, sons africanos, música eletrônica, etc. Assim, formou o que batizou de Bruford, tendo como companhia Dave Stewart (teclados), Jeff Berlin (baixo, e que já havia tocado com Patrick Moraz em Story of i, de 1976), Allan Holdsworth (guitarras) e Annette Peacock (vocais). A estreia do Bruford foi em 1978, com o ótimo Feels Good To Me. Contando, além do quinteto citado, do saxofonista Kenny Wheeler, Bill Bruford apresentou ao mundo uma sonoridade mezzo-fusion, mezzo-rock, onde o destaque era realmente as individualidades dos competentes Stewart, Berlin e Holdsworth, além de todas as técnicas e performances que o baterista consegue demonstrar em pouco mais de quarenta minutos. As misturas de jazz com eletrônicos agradou aos fãs do músico, e principalmente, levou Bruford a integrar outro importante nome do cenário progressivo britânico, o U. K..

No U. K., Bruford teve a companhia de Eddie Jobson (teclados), John Wetton (voz, baixo) e de Holdsworth (guitarras), gravando apenas um disco, que não preciso reforçar, é essencial. U. K. foi lançado em 1978, e foi aclamado por público e crítica. Mas o insatisfeito Bill Bruford não sentia-se confortável, e retomou seus trabalhos com seu grupo solo, trazendo novamente Holdsworth, Berlin e Stewart.

Dave Stewart, Bill Bruford, Allan Holdwsorth e Jeff Berlin
Então, como um quarteto, o Bruford entrou nos estúdios em 1979, e registrou uma obra belíssima, digna de um músico como Bill Bruford. One of a Kind é sem sombra de dúvidas o mais complexo disco que tem a mão do baterista no processo de composição. Canções como a faixa-título, "Hell's Bells", "Five G" e "Fainting in Coils" extrapolam os limites de um baterista comum, além de ter Jeff Berlin em uma forma fantástica. O que esse cara faz nessas canções não é pouco, sendo uma boa amostra para os que afirmam que Jaco Pastorius foi o responsável pela revolução no baixo. A briga entre Berlin e Pastorius é grande (Pastorius tocava no mesmo período que Berlin, porém, com o grupo Weather Report).

Dentre todas as canções de One of a Kind, "The Sahara of Snow" é a mais representativa do trabalho do Bruford nesse grupo, e por outro lado, é a que Berlin menos aparece. Dividida em duas partes, ela abre com os teclados de Stewart tomando conta do quarto em uma entrada longa e soturna, trazendo as agressivas notas do piano na medida que o volume aumenta. Stewart executa um complicado tema, e Bruford surge com um ritmo quebrado na bateria, enquanto baixo e xilofone fazem o tema central. A canção vai ganhando corpo, e Holdsworth cria um tema na guitarra que é diferente de todo o andamento da canção, desenvolvendo seu solo sobre a quebradeira de xilofone, baixo, piano e bateria.

O solo explode em uma maravilhosa virada de Bruford, chegando em uma sessão apenas com sintetizadores, em acordes trêmulos, de onde xilofone, baixo, piano e bateria brotam, desta vez para o xilofone solar, com muita velocidade, retornando ao estranho tema da guitarra. O que Bruford faz na bateria é indecifrável. As batidas na caixa em contra-tempos, as viradas,  o prato levando o ritmo correto, é perfeição pura.

A parte dois de "The Sahara of Snow" surge com os sintetizadores e percussão, em um ritmo marcial, onde piano e guitarra surgem aos poucos, para Holdsworth solar manhosamente, e mesmo assim, exalando virtuosismo. O clima oriental do piano é preenchido pela entrada do órgão, e o ritmo suave leva essa pérola ao seu encerramento, com outro show de Bruford, para Holdsworth voltar ao tema de seu solo, que conclui mais um essencial álbum da carreira de William Scott Bruford com os sinistros acordes de órgão da introdução.  

Jeff Berlin, John Clarke, Dave Stewart e Bill Bruford
O grupo Bruford ainda lançou mais dois álbuns: Gradually Going Tornado (1980), com mais experimentações eletrônicas e com John Clarke no lugar de Holdsworth, e The Bruford Tapes (1980), esse gravado ao vivo durante o período inicial do grupo. Depois, Bruford voltou para o King Crimson, peregrinando tanto com o grupo de Robert Fripp quanto por sua carreira solo, ao lado do grupo que batizou de Earthworks, o qual conta com uma vasta coleção de álbuns ligados ao jazz. Além disso, gravou diversas participações em álbuns de outros artistas, sempre mostrando o talento de um gênio da bateria, que passou simplesmente por algumas das mais importantes bandas da história do rock progressivo e sempre deixando sua marca, seja no Yes, seja no King Crimson, seja no Genesis, seja no U. K., ...

terça-feira, 30 de agosto de 2011

Symphonic Music of Yes [1993]



Por Mairon Machado (Publicado originalmente no blog Consultoria do Rock)


Em 1993, o futuro do grupo britânico Yes estava muito obscuro. Após a bem sucedida turnê Union, que contou com oito dos 12 integrantes que já haviam passado pelo Yes no mesmo palco, as brigas e divergências pessoais entraram em erupção, fazendo com que todos se afastassem temporariamente.

Foi nesse clima que o guitarrista Steve Howe recebeu a proposta do amigo e maestro David Palmer para entrar em estúdio e recriar algumas canções do Yes com orquestra. Palmer já havia sido responsável pela esplêndida compilação A Classic Case (1985), a qual reune canções do grupo Jethro Tull ao lado da The London Symphony Orchestra, em um disco de muito bom gosto. Howe, por sua vez, já havia trabalhado com uma orquestra no seu álbum de estreia em carreira solo, o essencial Beginnings (1975), e topou a audaciosa ideia de Palmer na hora.


David Palmer

Amigo próximo do baterista Bill Bruford, que também tocou no Yes, Howe não exitou em chamá-lo para o instrumento, deixando a cargo de Palmer os critérios para seleção das músicas e da orquestra. Sabiamente, Palmer escolheu novamente a The London Symphony Orchestra, que além de A Classic Case, já havia feito regravações para diversos clássicos do rock com arranjo orquestral, bem como havia trabalhdo com Frank Zappa nos projetos London Symphony Orchestra Vol. I (1983) e London Symphony Orchestra Vol. II (1987). Porém, contatou ainda a The English Chamber Orchestra para participar de duas canções, e o The London Community Gospel Choir para colaborar com os vocais.


Alan Parsons

No meio do caminho, o músico e produtor Alan Parsons (que já havia trabalhado com o Pink Floyd) entrou em cena, fazendo todo o trabalho de produção orquestral e também trazendo com ele um importante convidado, o vocalista Jon Anderson. Assim, entraram em estúdio para recriar 10 canções da carreira do grupo britânico.

Steve Howe

O Yes já havia trabalhado com orquestra no álbum Time and a Word (1969), mas não da forma como se encontra em Symphonic Music of Yes, um álbum repleto de esplendor, momentos tocantes e muita técnica expressa tanto por Steve Howe e Bill Bruford como pelos membros das orquestras citadas. Com Howe e Palmer na produção, arranjos de Palmer e a colaboração de Tim Harries no baixo, Symphonic Music of Yes é um belo registro tanto para os fãs do Yes quanto para os fãs de música clássica.

O CD abre com o maior clássico da carreira do Yes, "Roundabout” gravada originalmente no álbum Fragile (1971). Metais fazem a parte dos teclados, trazendo Howe para fazer a tradicional introdução ao violão, seguido pelo baixo cavalgante de Harries, a bateria de Bruford e a orquestra fazendo a parte dos teclados, para Anderson começar a cantar em uma linha similar a versão original. O refrão apresenta os violinos fazendo a parte dos teclados, com Howe acompanhando os vocais de Anderson, e com destaque para Bruford, com uma levada única que somente seu cérebro consegue criar.

Flautas e metais repetem a melodia vocal, levando para a segunda sessão ao violão, cortando boa parte da versão original. Por exemplo, o famoso “sambinha” não aparece aqui. Mesmo assim, “Roundabout” não perde seu charme, e os solos de teclado e guitarra estão presentes, com Julian Colbeck sendo o responsável por tentar reproduzir as notas de Rick Wakeman (tecladista que gravou a versão original de "Roundabout"), encerrando esse clássico com Howe e Anderson dividindo os vocais, e tendo as vocalizações que levam para as notas de violão de Howe, até o longo acorde da slide guitar.

Steve Howe, Bill Bruford, Alan Parsons, Tim Harries e David Palmer

Os pássaros e percussões de “Close to the Edge” são ouvidos, e o ouvinte então depara-se com uma brilhante versão para essa incrível suíte, gravada originalmente no álbum de mesmo nome, em 1972. O arranjo de Palmer faz uma mescla das quatro partes da canção. Cortando o solo inicial de guitarra, a orquestra entra direto no tema central de “Solid Time of Change”, com Howe, Bruford e Harries acompanhando. Então, o que seria a letra é feito pelos violinos, com Bruford fazendo um ritmo inexplicável, mostrando por que ele é o verdadeiro baterista do Yes (me perdoem os fãs de Alan White, baterista que substituiu Bruford no Yes, mas somente Bruford consegue tocar “Close to the Edge” como ela tem que ser tocada).

Os metais fazem a parte dos vocais de “Total Mass Retain”, contando com a contribuição das cordas e do andamento complicado e intrincado de Bruford, destacando também a participação de sinos tubulares. A pesada ponte onde o nome da canção é entoado é feito pelos metais e pelos violinos, em uma sequência encantadora.

Os metais abrem “I Get Up, I Get Down”, com Howe dedilhando na guitarra a melodia vocal, acompanhado pela flauta, que imita a melodia, e pelos sintetizadores de Palmer. A flauta faz a continuação da letra, enquanto os metais emitem a melodia dessa parte da canção, chegando então em “Seasons of Man” com os metais entoando a melodia dos vocais, para o oboé fechar a melodia da letra junto com os violinos, deixando o poderoso naipe de metais concluir a canção com o imponente arranjo da versão original. De arrepiar!

Steve Howe

“Wonderous Stories” abre com os metais, para a flauta fazer a melodia vocal, acompanhada pelo belo arranjo orquestral e pela participação de Howe (reproduzindo fielmente as notas da versão original, gravada em Going for the One, de 1977) e de Bruford, fazendo o deleite daqueles que sempre tiveram a vontade de ouvir uma canção da era White interpretada por Bruford. Nem preciso comentar o que Bruford faz. Basta apenas dizer o de sempre: inexplicável. Howe também reproduz a melodia vocal na guitarra, mas sem expandir seu talento, e “Wonderous Stories” encerra fiel (a menos de Bruford) à sua versão original.


Bill Bruford, Jon Anderson e a The London Community Gospel Choir

“I’ve Seen All Good People” apresenta apenas a parte “All Good People”, com Anderson e a The London Community Gospel Choir cantando a letra sobre o andamento original da canção, que ganhou um arranjo todo especial para as cordas, mas que mantém-se fiel ao que foi registrado em The Yes Album (1970), inclusive com Howe reproduzindo nota por nota de seu solo.

“Mood for a Day” traz Howe acompanhado pela The English Chamber Orchestra, e por incrível que possa parecer, ficou muito acima do esperado. Se a versão original de Fragile, apresentava Howe debulhando os dedos no seu violão, aqui ele ganhou um acompanhamento emocionante da orquestra, que deu uma cara toda nova para a canção. Howe manteve a melodia de seu solo, mas as intervenções das cordas irão timidamente arrancar uma pequena lágrima de seu olho, tamanha a beleza sonora registrada no CD. Fantástico é pouco para o arranjo produzido por Palmer para essa que é talvez a mais bela canção já composta por Howe para o violão.

Bill Bruford

“Owner of a Lonely Heart” é a que ficou mais estranha de todas. O tempero pop da versão original (de 90125, gravado em 1983), fora que nem Howe e nem Bruford participaram da mesma, acabou gerando um certo ar de oportunismo do sucesso da mesma para tentar alavancar as vendas desse CD. Bruford surge fazendo a quebradeira inicial, com Howe puxando o riff ao lado da orquestra, caindo no chiclete pop onde a melodia vocal é feita pelos violinos, contando com os metais para fazer as intervenções dos teclados. 

O refrão traz os metais fazendo a voz de Anderson, com o oboé fazendo a parte de Trevor Rabin (guitarrista que gravou a canção em 90125). Os metais cantam a segunda parte da letra, enquanto Bruford está fazendo o básico, mas complicado, ritmo. A terceira parte da letra é dividida entre metais e cordas, chegando ao que seria o solo de guitarra, o que aqui é reproduzido pelas cordas em uma maneira muito próxima a versão original, encerrando com metais e cordas entoando a melodia do nome da canção enquanto Howe sola na guitarra, mas em um estilo bem diferente do que estamos habituados a ouvir de seu instrumento.

David Palmer e The London Symphony Orchestra

O cheiro de oportunismo acaba com a bela inclusão de “Survival”, resgatando os primórdios da carreira do Yes. Essa linda canção do álbum de estreia também ganhou um belo arranjo. Excluindo a longa introdução, a canção aqui já começa com o violão e os metais próximos a entrada da letra. A melodia vocal é feita pelo violino, arrepiante, com o leve andamento de Harries, Bruford e os jazzísticos acordes de Howe. Violões, cordas e metais são adicionados aos poucos, para as trompas fazerem a melodia da segunda parte vocal, chegando ao belo refrão, onde a The London Community Gospel Choir canta a letra original. Howe então retorna a melodia da letra com o violão, acompanhado pela The English Chamber Orchestra, para as trompas repetirem seu tema, levando novamente ao refrão e encerrando essa magistral canção com o riff final feito por cordas, trompas e as escalas de baixo, guitarra e bandolim.


Bill Bruford

“Heart of the Sunrise” começa com as cordas e o baixo fazendo o pesado riff da canção, com as os teclados sendo tocados por Palmer e com Bruford quebrando a bateira em batidas intrincadas e irreproduzíveis. O crescendo inicial é fiel a versão de Fragile, e então os violinos fazem o tema da guitarra, estourando na incrível e pesada sessão com guitarra, baixo e bateria fazendo o tema central acompanhados pela orquestra, em um esplêndido volume sonoro de colocar a casa ao chão. 

Apesar de não ser tão longa quanto a versão original, ficou muito legal essa versão. Oboé e guitarra acompanham Howe fazendo a melodia vocal no violão, repetindo o tema central, agora acompanhado pelos metais, e voltando a melodia da letra novamente ao violão. O andamento do tema central é feito destacando a orquestra, com os violinos fazendo a melodia vocal, levando então para mais uma repetição do tema central, agora com guitara, violinos, metais, baixo e bateria. A modificação do ritmo de “Heart of the Sunrise” é feita por piano (tocado por Palmer) e as trompas, que fazem a melodia vocal, seguidas por flautas. O piano repete o tema dessa sessão da canção, seguido pelos metais e cordas, voltando então ao tema central da guitarra, baixo e bateria, para guitarra, cordas, baixo e bateria repetirem o tema da segunda parte, com os metais e as cordas dividindo a emocionante melodia vocal do encerramento, encerrando com guitarra e cordas reproduzindo o tema central. Novamente, fantástico!

Tim Harries


A suíte “The Gates of Dellirium”, do álbum Relayer (1975), está presente através da sua parte de encerramento, “Soon”, começando com teclados e Howe entoando as frases da versão inicial da letra, que não chegou a ser gravada em Relayer. Os metais e sinos tubulares dão espaço para as cordas e sintetizadores fazerem os delirantes acordes introdutórios, deixando Howe com o tema central  no slide, acompanhado pelas cordas. Howe então faz a melodia vocal no violão, acompanhado por piano, baixo e metais, em uma esplêndida sessão instrumental. As cordas acompanham a melodia do violão, para Howe empunhar o bandolim e seguir a melodia vocal na última parte da canção, com cordas e a steel guitar reproduzirem o lindo tema de encerramento, deixando os metais entoarem os arrepiantes acordes finais, que reproduzem fielmente as agonizantes vocalizações de Anderson, encerrando com belas notas das cordas. Outra para chorar de tão boa!

Por fim, “Starship Trooper” recebeu a versão orquestral para duas das três partes da mesma, gravada originalmente em The Yes Album. Começando com “Lifeseeker”, cordas, baixo, e guitarra trazem Bruford e os metais, fazendo a melodia do vocal. A sequência da letra é feita pelo oboé, acompanhado por cordas, baixo e a cadência rítmica de Bruford, voltando então para os metais que encerram “Lifeseeker”, com a guitarra abrindo “Würm”, nos mesmos acordes da versão inicial (reparem que "Disillusion", segunda parte de “Starship Trooper”, foi deixada de fora), com o crescendo feito por bateria, baixo e guitarra, para Howe criar um novo solo para a canção com sua guitarra, e Bruford dar uma pequena aula de como ser um acompanhante discreto mas muito eficiente na bateria.

Anos depois, o Yes novamente iria namorar a música clássica nos álbuns Magnification (2001) e na incrível turnê desse álbum, a qual passou por diversos países sempre tendo a companhia de uma orquestra para interpretar grandes clássicos do grupo, e que foi registrada nos essencias CD e DVD Symphonic Live (2002).

Symphonic Music of Yes é um pequeno achado na carreira de Steve Howe, Bil Bruford e London Symphony Orchestra, com grandes méritos para David Palmer (atualmente, Dee Palmer). Se você curte Yes, não perca. Se você gosta de música clássica, compre já. Se você quer ouvir um dos melhores CDs de arranjos orquestrais para canções do rock, esse é o CD mais indicado!

Contracapa de Symphonic Music of Yes
Track list:

1. Roundabout
2. Close to the Edge
3. Wonderous Stories
4. I've Seen All Good People
5. Mood for a Day
6. Owner of a Lonely Heart
7. Survival
8. Heart of the Sunrise
9. Soon
10. Starship Trooper

quinta-feira, 3 de março de 2011

UK

O grupo UK (abreviatura para United Kingdom) surgiu com o status de super grupo. E não era por menos. Na época, início de 1977,  três deles haviam passado pelo King Crimson de Robert Fripp. Esses músicos eram nada mais nada menos que John Wetton (baixo, vocais, com passagens por grupos como Wishbone Ash e Uriah Heep), Eddie Jobson (violino elétrico, violino, teclados, sintetizadores, programações e piano, que havia passado pelo Curved Air e foi o substituto de Brian Eno no Roxy-Music) e Bill Bruford (bateria).

Bruford começou sua carreira de grande sucesso quando passou a integrar o Yes em 1967, Ao lado de Chris Squire e cia, gravou apenas cinco álbuns, sendo que nos dois últimos (Fragile – 1972; Close to the Edge – 1973), ao lado de Rick Wakeman (teclados), Steve Howe (guitarras, vocais), Jon Anderson (vocais) e o já citado baixista Squire, formou uma das mais importantes encarnações do grupo, registrando clássicos eternos como “Roundabout”, “Close to the Edge”, “And You And I” e “Heart of the Sunrise”.

Bruford abandonou o Yes por sentir-se muito limitado musicalmente, e então, juntou forças a Robert Fripp no King Crimson, onde não deixou por menos, e registrou excelentes trabalhos como Lark’s Tongues in Aspic (1973) e Red (1974), além do ao vivo USA (1975). Antes de formar o UK, Bruford teve uma rápida passagem pelo grupo Gong, e ainda esteve no Genesis, acompanhando o grupo na turnê de excursão do álbum A Trick of the Tail (1976), o que foi registrado no sensacional ao vivo Second’s Out (1977).

Bruford em ação com o Genesis

Com o final da primeira fase do King Crimson em 1975, Bruford passou a consolidar em sua cabeça a ideia de criar uma banda onde ele iria ser o líder, buscando então músicos que personificassem o que estava na genial mente do baterista. Poucas semanas bastaram para que ele encontrasse os parceiros desejados, os quais eram dois antigos colegas: um deles era o próprio Wetton, que já estava de saída do Uriah Heep. O outro, Rick Wakeman, que estava recuperando-se de um infarto ocorrido pelos diversos problemas surgidos na turnê Arthur on Ice.

Estava formado o embrião do UK. O trio passou a ensaiar e compor músicas, e diversas gravações foram feitas. Porém, a gravadora de Wakeman (A & M Records) não conseguiu chegar a um acordo com a gravadora de Bruford, e então o projeto acabou não avançando. Mesmo assim, Bruford acabou montando sua própria banda, o grupo Bruford, que merecerá um destaque especial dentro de algumas semanas.

Jobson e Holdsworth (ao vivo em 78)


Faziam parte do Bruford: o próprio, Dave Stewart (teclados), Jeff Berlim (baixo) e Allan Holdsworth (guitarras). Holdsworth havia passado por grupos como Soft Machine, Gong e Tempest, consolidando sua carreira com um estilo único de tocar guitarra, incrementando escalas velozes dentro da linha jazzística que consagrou posteriormente Jon Abercrombie como um dos melhores no ramo, e havia acabado de lançar seu primeiro álbum solo, Velvet Darkness (1976).

Após o lançamento do primeiro álbum do Bruford, Feels Good to Me (1977), Wetton contatou o baterista para resgatar o projeto que não tinha dado certo com Wakeman. Jobson surgia como o promissor tecladista que seria o responsável pelos solos principais das canções que Bruford e Wetton haviam composto. Porém, com uma visão sempre à frente, Bruford aceitou o convite, e levou com ele Holdsworth. Surgia então a primeira e mais importante formação do UK, com Bruford, Wetton, Jobson e Holdsworth.


O essencial U. K.

Logo, o quarteto passou a ensaiar, resgatando canções ainda da fase com Wakeman, e não demorou muito para que surgisse o primeiro álbum. U. K. foi lançado em março de 1978, e logo foi considerado como um dos melhores trabalhos progressivos do ano, com a imprensa rotulando o UK como o novo King Crimson. 

O LP abre com a marcação de baixo, bateria e guitarra apresentando o riff de teclados feito por Jobson, começando "In The Dead of Night", onde viradas de Bruford são seguidas pelo ritmo do baixo de Wetton. Wetton começa a cantar a canção, com Bruford fazendo suas marcações estranhas e complicada, e o refrão surge entoando o nome da canção, tendo então um tema central executado por baixo e guitarra, acompanhado pela marcação de Bruford após um curto solo de Jobson.

Temos a segunda estrofe da letra, chegando a repetição do refrão e dos temas anteriores. Wetton faz a marcação no baixo enquanto Bruford cria uma complicada marcação para Holdsworth solar sobre os acordes dos teclados de Jobson. O refrão é repetido, bem como o tema central, e então entramos em "By The Light of Day".
 
Efeitos de sintetizadores formam um viajante arranjo para acompanhar os vocais de Wetton, e então, o nome dessa parte da canção é entoado na mesma melodia do refrão de "In the Dead of Night". O UK surge por trás dos vocais de Wetton, e Jobson sola no violino elétrico sobre as vocalizações. Mais uma estrofe é cantada, e Jobson entra em outra viajante sequência de sintetizadores, acompanhado pelas rufadas de Bruford, para então executar um solo inicialmente acompanhado por todo o UK, e depois sozinho, recheando seu solo com longos e viajantes acordes, levando então para "Presto Vivace and Reprise".

A matadora entrada de Bruford é seguida por um intrincado tema dos teclados, lembrando muito canções de Frank Zappa, enquanto Wetton e Bruford executam um tema muito complicado e totalmente diferente ao fundo. Holdsworth passa a acompanhar o tema de Wetton e Bruford, enquanto Jobson viaja nos teclados, e assim, voltamos ao início de "In the Dead of Night", com Wetton retomando a letra e repetindo o refrão com as frases "By the Light of Day, In the Dead of Night", encerrando essa primorosa faixa com o imponente tema central.

"Thirty Years" vem a seguir com sintetizadores e violino elétrico apresentando acordes tristes e um bonito solo de Holdsworth. Wetton começa a cantar acompanhado apenas pelos acordes de Jobson, e aos poucos, Bruford vai adicionando pratos aos acordes de Jobson, enquanto Wetton segue cantando a letra com a voz característica que marcou sua carreira.
 
Então, a longa sessão lenta transforma-se para Jobson solar com os sintetizadores sobre um andamento marcado de Bruford e Wetton. O andamento muda, agora com o baixo e a guitarra fazendo o mesmo tema enquanto Bruford inventa batidas impossíveis de serem reproduzidas. Jobson e Holdsworth passam a solar de forma alternada, ambos esbanjando virtuosismo, e assim, Wetton retorna a letra, com o andamento tornando-se mais simples e com a canção encerrando em um belo tema executado por guitarra e violino, onde Bruford destaca-se com suas viradas e batidas impressionantes.

O virtuosístico Eddie Jobson

O lado B abre com "Alaska", onde acordes de sintetizadores fazem o tema inicial em uma longa e viajante introdução, até Bruford entrar, seguido por Wetton e Holdsworth, para a pauleira pegar de vez entre Jobson e Holdsworth, alternando acordes pesados e marcados, com Bruford e Wetton sendo os mediadores do duelo entre teclados e guitarra.

Então, a doideira pega geral, e entramos em "Time to Kill", a qual abre com os vocais de Wetton, em um andamento dançante, com destaque para as intervenções de piano feitas por Jobson. Após o refrão, Jobson começa seu solo de violino sobre a marcação de guitarra e baixo, com Bruford alternando as batidas nos pratos, bumbo e caixa. O solo ganha peso junto com as batidas de Bruford, voltando então para o refrão, que encerra a faixa com a sequência que abre a canção.

"Nevermore"surge com Holdsworth esbanjando virtuosismo no violão, acompanhado por acordes de sintetizadoers e fazendo um curto tema. Bruford surge com marcações no cymbal, e Wetton começa a cantar, com o moog acompanhando a melodia do vocal. Bruford faz uma virada e passa a comandar o ritmo da canção, dessa vez sem muitas invenções.
O baixo de Wetton se destaca durante os solos de Holdsworth e Jobson, onde a alternância entre guitarra e teclado cria um clima ótimo e dançante junto a marcação quebrada e a pegada de Bruford e Wetton. Holdsworth e Jobson fazem o mesmo tema, e Wetton grita o nome da canção, retornando a letra na melodia deste último tema, levando assim para a viajante sessão somente com sintetizadores, com muitos eletrônicos.

Wetton passa a cantar sobre os acordes de Jobson, enquanto Bruford, em um mundo paralelo, faz diversos rolos, levando ao solo de Holdsworth, que encerra a canção com mais um show a parte feito por Bruford.

Formação clássica: Jobson, Bruford, Wetton e Holdsworth

O LP encerra com "Mental Medication", onde os acordes jazzísticos da guitarra, bem como sintetizadores, apresentam os vocais de Wetton na mesma melodia desses acordes. Bateria e baixo surgem dando ritmo para a canção, acompanhados pelas intrincadas sessões de teclados, com Bruford fazendo misérias na bateria. Essa parte recheia o tema central da canção, antecedendo o virtuoso solo de Holdsworth, onde novamente Wetton e Bruford se destacam com um andamento dançante e swingado, e ao mesmo tempo extremamente complicado.

O mesmo acompanhamento está presente no solo de violino feito por Jobson, levando ao encerramento da canção com as frases iniciais de Wetton, e com sintetizadores e guitarra repetindo a melodia inicial.

O UK partiu para uma rápida turnê pela europa, mas, apesar de todo o sucesso do LP de estreia, Bruford e Holdsworth decidiram retornar as atividades com o Bruford, deixando Wetton e Jobson na mão. Jobson, cada vez mais virtuoso e auto-didata, convenceu Wetton de que não era necessário uma guitarra para a banda, que o que eles estavam precisando era de um baterista e nada mais. Depois de muitas audições, Terry Bozzio asumiu o comando dos bumbos.

Bozzio era um proeminente garoto que tinha no currículo uma excelente participação trabalhando ao lado de Frank Zappa, registrando álbuns como Zoot Allures (1976) e In New York (1978).

Famosa foto do UK sob um dia nevoso

Então, entre novembro de 1978 e janeiro de 1979, passam a trabalhar na Air Studios, onde registram uma famosa foto com casacos de lã em um embranquiçado dia de neve (similar a outra famosa foto do grupo Emerson Lake & Palmer). As alterações no UK mostravam que o grupo tinha adquirido uma nova personalidade. Apesar da sentida ausência, principalmente de Bruford, em alguns momentos, o UK inovava na utilização dos sintetizadores, e Jobson tornava-se cada vez mais especialista no violino elétrico, tirando sons que seriam copiados por sintetizadores diversos durante toda a década de 80. Além disso, Bozzio trouxe mais peso e velocidade ao ritmo do UK, o que para os fãs da primeira encarnação, acabou soando não tão bem.


A estreia do UK como trio

Em março de 1979 era lançado o álbum de estreia da nova formação do grupo. Danger Money apresentava o que já vinha sendo conferido nas apresentações e ensaios que o UK estava fazendo: peso e virtuosismo empregados em doses perfeitas para o fã de rock progressivo.

O álbum abre com a faixa-título. “Danger Money” começa com os sombrios acordes de teclados e das batidas de Bozzio empilhando viajantes acordes que diminuem o tom até Wetton começar a cantar o nome da canção na melodia do tema principal, feito por teclados e baixo. A letra desenvolve-se em um interessante duelo vocal de Wetton com ele mesmo, em uma canção que pode se dizer precursora do estilo AOR que marcaria a carreira de Wetton anos depois ao lado de grupos como Asia e Phenomena II.

O refrão entoando o nome da canção é repetido, e o duelo vocal segue, para então, mais uma vez surgir o tema central, chegando ao solo de Jobson, onde primeiramente ele apenas marca o tempo com o sintetizador enquanto faz um estranho tema com outro sintetizador. Wetton e Bozzio acompanham os acordes de marcação de Jobson, e aqui claramente percebemos a ausência de Bruford, já que o andamento de Bozzio é muito convencional, não saindo das batidas bumbo-caixa, enquanto que Bruford estaria fazendo grandes peripécias com seu kit.

O tema central retorna, e Jobson dá sequência aos seus acordes, retomando o tema principal e Wetton encerrando a letra, sem antes deixar de repetir o refrão, com o sombrio iníio completando a canção.

“Rendezvous 6.02” vêm a seguir, com piano elétrico, baixo e cymbal apresentando outra canção na linha do Asia na fase inicial, principalmente pela melodia vocal de Wetton. O tímido refrão apenas entoa o nome da canção, e após mais uma breve estrofe, temos o solo de piano de Jobson, com Wetton fazendo boas escalas no baixo e onde Bozzio finalmente se apresenta para os fãs do UK, com boas e rápidas viradas, voltando então para o refrão e ao encerramento da canção com mais uma estrofe da letra de Wetton.

O lado A encerra-se com a pérola “The Only Thing She Needs”, que começa com um ótimo solo de Bozzio. Marcações de baixo, bateria e teclados, trazem o tema principal, com a canção virando uma dançante faixa comandada pela marcação de Wetton e Bozzio, onde Jobson sola utilizando violino e sintetizadores. O tema dos teclados aumenta de velocidade, e então Wetton passa a cantar sobre o andamento dos teclados, baixo e bateria, com Bozzio novamente fazendo uma boa performance.

Mais um curto solo de Bozzio e voltamos ao início da canção, para Wetton seguir a letra. Bozzio executa uma rápida virada que leva ao início dos solos de Jobson, primeiramente ao piano elétrico, e tendo apenas a companhia de intervenções de Bozzio. Wetton então passa a marcar o tempo enquanto Bozzio e Jobson travam uma batalha particular, chegando ao clímax da canção no delirante solo de violino, que antecede os ritmos oitentistas que apareceriam em diversas bandas posteriormente, com uma pegada fantástica de Bozzio e Wetton, além do próprio Jobson fazendo acordes no seu órgão hammond, que são seguidos por um virtuoso solo no mesmo instrumento.

Um crescendo dos acordes, onde o destaque vai para as escalas de Wetton, e essa excelente faixa encerra-se com longos acordes do baixo e dos sintetizadores, entre rápidas viradas executadas por Bozzio.

Segunda formação do UK: Jobson, Wetton e Bozzio

“Caesar’s Palace Blues” abre o lado B com longos acordes de violino entre batidas de Bozzio e marcacão de Wetton. Bozzio novamente trabalha muito bem, e Jobson apresenta o intrincado tema central nos teclados, seguido pelo baixo e pela marcação de Bozzio. Violinos surgem trazendo o vocal de Wetton, entoando o nome da canção entre as intervenções do violino. Aliás, essa é a canção da carreira do UK onde Jobson mais utiliza esse instrumento, que também irá aparecer bastante nas duas faixas seguintes. O solo que Jobson faz aqui, utilizando-se de escalas similares as de Darryl Way (Curved Air) é sensacional, levando então para o encerramento da canção.

“Nothing To Lose” já possui um andamento bem mais oitentista, recheado de teclados e com a marcação cavalgando lentamente pelo baixo e bateria. Temos claramente um embrião de Asia, recheado de vocalizações que entoam o nome da canção, e em um andamento que só não é mais parecido com o Asia primeiramente por que ele ainda não existia, e segundo pela ausência das guitarras de Steve Howe. Essa canção é perfeita para os amantes do estilo, e facilmente poderia ter se transformado em trilha de propaganda de cigarros. Destaque para mais um interessante solo de violino feito por Jobson.

O LP encerra-se com mais uma jóia. Sintetizadores vagarosamente introduzem “Carrying No Cross”, acompanhados de muitos eletrônicos, até Wetton começar a cantar. Resquícios de King Crimson surgem na melodia vocal de Wetton, que está acompanhado apenas pelos sintetizadores. A bateria aparece, e o climão viajante de canções como “Starless and Bible Back”, “The Night Watch” e “Exiles” (todas do King Crimson) toma conta do recinto a partir dos teclados e do violino.

Wetton segue a letra da canção, e assim, começa a sequência de solos de Jobson. Para os que consideram o tecladista/violinista apenas um mero coadjuvante nas bandas por onde passou, essa é a canção que ele precisava para demonstrar suas habilidades e gravar seu nome como um dos principais nomes do rock progressivo. Com o piano elétrico, Jobson começa a solar acompanhado pela forte marcação de Wetton e Bozzio. Intrincadas intervenções do hammond modificam a canção, que ganha um ritmo veloz com Bozzio utilizando bastante os dois bumbos, além de viradas precisas que se encaixam perfeitamente com o que Jobson está fazendo no piano elétrico.

Wetton passa a fazer uma marcação que dita o ritmo da sequência da canção, enquanto Jobson delira nos sintetizadores e Bozzio cria um ritmo totalmente insano para acompanhar a doideira de Jobson e a marcação de Wetton. Jobson salta como Keith Emerson para o hammond, fazendo um dos melhores solos de sua carreira, para então, com os sintetizadores, executar os acordes que Wetton permanece incansavelmente executando. Jobson ainda executa um virtuoso solo com o piano, que então o leva para a utilização de diversos eletrônicos, enquanto Bozzio destrói atrás do bumbo.

Finalmente, a canção ganha uma cadência que leva para o solo de violino, com a melhor canção de Danger Money encerrando-se tendo apenas Wetton cantando o final da letra acompanhado pelos eletrônicos de Jobson. 

O derradeiro álbum ao vivo

O UK partiu para uma excursão mundial, passando por países como Alemanha, Inglaterra, França, Estados Unidos e Japão, onde as apresentações no Sun Plaza e no Seinen Kan de Tóquio foram registradas no álbum Night After Night (1979), com o grupo lançando duas canções inéditas: “Night After Night” e “As Long As You Want Me Here”.

Após o lançamento desse álbum ao vivo, o UK encerrou suas atividades, com os músicos partindo para projetos individuais, onde Wetton foi montar o Asia ao lado de Steve Howe, Geoff Downess (teclados) e Carl Palmer (bateria), Jobson integrando o Jethro Tull e Bozzio criando a banda Missing Persons, ao lado de Dale Bozzio (esposa do baterista) nos vocais, Patrick O’Hearn (baixo, que havia tocado com Bozzio na banda de Frank Zappa) e Warren Cucurullo (guitarra, também ex-membro da banda de Zappa).
Em 98, saiu o CD Concert Classics Vol. 4 – UK, trazendo uma apresentação do grupo com a formação original em 1978. Wetton e Jobson lançariam ainda o álbum Legacy , trazendo como convidados músicos como Bruford e Steve Hackett (Genesis), mas que acabou sendo abortado.

Fundado por alguns dos maiores nomes do cenário progressivo mundial, o UK obteve em sua curta carreira o respeito e a admiração do público e da crítica especializada, apresentando uma sonoridade que associava as novas tendências do rock progresivo  e também utilizando-se da formação jazzista de seus integrantes, culminando com o surgimento do estilo que ficou conhecido como Adult Oriented Rock (AOR).
Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...