terça-feira, 28 de agosto de 2012

Pink Floyd: The Wall - Immersion Box Set [2012]


A terceira parte da série "Why Pink Floyd ...?" trata de uma apetitosa versão do clássico The Wall, que chegou às lojas em 27 de fevereiro de 2012. Lançado originalmente em 1979, o disco narra a história do personagem fictício Pink. Uma estrela do rock que se tranca dentro de um muro imaginário criado por diversos tijolos (problemas pessoais) relacionados à sua vida como traição, ausência do pai, escolas ditatoriais, mãe defensora e outros. Um texto esmiuçando detalhes do álbum pode ser conferido aqui.


Na série "Why Pink Floyd ...?", The Wall sucede aos também clássicos Dark Side of The Moon e Wish You Were Here que tiveram seus relançamentos no ano passado neste mesmo formato. Dark Side of the Moon (primeira etapa, lançado em 26 de setembro) e Wish You Were Here (segunda etapa, lançado em 7 de novembro), foram divididos  nas fases Discovery (o álbum original remasterizado), Experience (material gravado ao vivo e/ou demos) e a Immersion (versão completa contendo todo o material das fases Discovery e Experience, além de material exclusivo como ensaios e gravações iniciais de cada álbum). Lembrando que a série Discovery saiu em uma caixa única, chamada Pink Floyd Discovery, contendo os quatorze álbuns de estúdio com nova remasterização.

Vamos tratar da versão Immersion de The Wall
a que contém mais atrações do ponto de vista musical. Afinal, traz as versões Discovery e Experience, acrescentadas de material raro em um conjunto com nada mais do que seis CDs de áudio e muitos, mas muitos mimos para os fãs. Além de um DVD trazendo o documentário Behind The Wall na íntegra e mais extras. Ou seja, um apanhando completo dessa magnífica obra gravada por Roger Waters (baixo, vocais), David Gilmour (guitarra, vocais), Nick Mason (bateria) e Rick Wright (teclados, vocais).
Rick Wright, Roger Waters, David Gilmour e Nick Mason

Nos CDs de áudio, temos a obra completa de The Wall em seu formato de estúdio (CD 1 e CD 2), o álbum Is There Anybody Out There? The Wall Live 1980-81 também completo (CD 3 e CD 4), trazendo a apresentação na íntegra de The Wall durante a The Wall Tour que foi lançado no ano de 2000, e ainda dois CDs (CD 5 e CD 6), chamados The Wall - Work in Progress Part I - 1979 e The Wall - Work in Progress Part II- 1979.
Esses CDs Work in Progress são verdadeiros achados para os fãs do grupo. Neles, somos apresentados às versões iniciais do disco, gravadas apenas por Waters. Logo de início, já demonstram que o resultado final realmente ficou muito parecido com o que Waters pensava. No CD 5, dividido em três partes, temos as Demos de Roger Waters em pequenos trechos de todas as canções do LP (Programme 1), as demos iniciais de gravação de The Wall só com Roger (agora em versões maiores) e com todo o Pink Floyd (Programme 2) e ainda gravações iniciais com todo o Pink Floyd (Programme 3). 


Todo o conteúdo de The Wall Immersion Box Set
O CD 6 é dividido em quatro partes: as demos de Roger Waters (Programme 1), demos da banda (Programme 2 e Programme 3) e as demos de David Gilmour para "Comfortably Numb" e "Run Like Hell" (Programme 4). A curiosidade é que essas duas canções em pouco lembram o que acabou ficando no vinil, tirando o refrão de "Comfortably Numb" (nas demos, batizada como "The Doctor").


Cds, bolas de gude e livreto

O que está no DVD acaba sendo um pouco frustrante. Apesar do bom documentário Behind the Wall, que narra como foi construído o projeto de The Wall (tornando claro que tudo surgiu da mente de Roger Waters) - e que foi ao ar na série Behind the Music da VH1 Channel no ano 2000 - temos uma pequena entrevista com Gerald Scarfe (criador das animações que foram apresentadas durante a turnê), o clipe de "Another Brick in the Wall Part 2" e uma rápida gravação de "The Happiest Days of Our Lives" ao vivo no Earl's Court, exatamente na turnê de promoção do álbum, deixando a frustração do lançamento de um DVD com a versão original da The Wall Tour na íntegra.

Cartões, manta, suportes para copos, desenhos e livro de fotos
Mas não pense que para por aí. Além de todas as novidades sonoras, a Immersion Box Set apresenta mimos inigualáveis. A começar pelo belíssimo booklet com 44 páginas trazendo as letras e muitas imagens inéditas dos shows da The Wall Tour e um livro somente com fotos dos integrantes da banda durante a mesma turnê, assim como da montagem de palco.



Poster gigante com as letras de The Wall

Uma gravura com o desenho da esposa de Pink (feito por Gerald Scarfe), quatro Collector's Cards com imagens relativas ao álbum, envoltos em envelopes personalizados, uma réplica do ingresso da turnê The Wall Tour, assim como do Backstage Pass, uma manta com o símbolo dos martelos, seis cartões com desenhos da montagem de palco, feitos por Mark Fisher, também com envelopes personalizados, três bolas de gude tendo como desenho simplesmente o muro, nove suportes para bebidas, cada um com uma das letras de PINK FLOYD, um pequeno livreto de oito páginas, dizendo quais são as canções dos seis CDs e mais o que está contido no DVD, e um gigantesco pôster com todas as letras de The Wall completam o pacote.


Réplica do Backstage Pass, CDs, réplica do ingresso, cartões colecionáveis e
o desenho da esposa de Pink
Um investimento alto, mas muito valorizado para os fãs do rock progressivo, e principalmente, aos fãs de Pink Floyd. 
Contra capa de The Wall: Immersion Box Set

Track list
CD 1 (The Wall)

1. In the Flesh?

2. The Thin Ice

3. Another Brick in the Wall Part 1

4. The Happiest Days of Our Lives

5. Another Brick in the Wall Part 2

6. Mother

7. Goodbye Blues Sky

8. Empty Spaces

9. Young Lust

10. One of My Turns

5. Don't Leave Me Now

6. Another Brick in the Wall Part 3

7. Goodbye Cruel World
CD 2 (The Wall)

1. Hey You

2. Is There Anybody Out There?

3. Nobody Home

4. Vera

5. Bring the Boys Back Home

6. Comfortably Numb

7. The Show Must Go On

8. In the Flesh!

9. Run Like Hell

10. Waiting for the Worms

11. Stop

12. The Trial

13. Outside the Wall
CD 3 (Is There Anybody Out There? The Wall Live 1980-81)

1. MC: Atmos
2. In the Flesh?
3. The Thin Ice
4. Another Brick in the Wall (Part 1)
5. The Happiest Days of Our Lives
6. Another Brick in the Wall (Part 2)
7. Mother
8. Goodbye Blue Sky
9. Empty Spaces
10. What Shall We Do Now?
11. Young Lust
12. One of My Turns
13. Don't Leave Me Now
14. Another Brick in the Wall (Part 3)
15. The Last Few Bricks
16. Goodbye Cruel World


CD 4 (Is There Anybody Out There? The Wall Live 1980-81)

1. Hey You
2. Is There Anybody Out There?
3. Nobody Home
4. Vera
5. Bring the Boys Back Home
6. Comfortably Numb
7. The Show Must Go On
8. MC: Atmos
9. In the Flesh
10. Run Like Hell
11. Waiting for the Worms
12. Stop
13. The Trial
14. Outside the Wall
CD 5 The Wall Work in Progress Part 1 - 1979
Programme 1, Excerpts from Roger Waters' Original Demo
1. Prelude (Vera Lynn)
2. Another Brick in the Wall, Part 2
3. Mother
4. Young Lust
5. Another Brick in the Wall, Part 2
6. Empty Spaces
7. Mother
8. Backs to the Wall
9. Don't Leave Me Now
10. Goodbye Blue Sky
11. Don't Leave Me Now
12. Another Brick in the Wall, Part 3
13. Goodbye Cruel Worl
14. Hey You
15. Is There Anybody Out There?
16. Vera
17. Bring the Boys Back Home
18. The Show Must Go On
19. Waiting for the Worms
20. Run Like Hell
21. The Trial
22. Outside the Wall
Programme 2, Roger Waters Original Demo And Band Demos
23. Prelude (Vera Lynn) - Roger Waters Original Demo
24. Another Brick in the Wall, Part 1 - Band Demo
25. The Thin Ice - Band Demo
26. Goodbye Blue Sky - Band Demo
27. Teacher, Teacher - Band Demo
28. Another Brick in the Wall, Part 2 - Band Demo
29. Empty Spaces - Band Demo
30. Young Lust - Band Demo
31. Mother - Band Demo
32. Don't Leave Me Now - Band Demo
33. Sexual Revolution - Band Demo
34. Another Brick in the Wall, Part 3 - Band Demo
35. Goodbye Cruel World - Band Demo
Programme 3, Band Demos
36. In the Flesh?
37. The Thin Ice
38. Another Brick in the Wall, Part 1
39. The Happiest Days of Our Lives
40. Another Brick in the Wall, Part 2
41. Mother


CD 6 The Wall Work in Progress Part 2 - 1979

Programme 1, Roger Waters Original Demos And Band Demos
1. Is There Anybody Out There? - Roger Waters Original Demo
2. Vera - Roger Waters Original Demo
3. Bring the Boys Back Home - Roger Waters Original Demo
4. Hey You - Band Demo
5. The Doctor (Comfortably Numb) - Band Demo
6. In the Flesh - Band Demo
7. Run Like Hell - Band Demo - 3:06
8. Waiting for the Worms - Band Demo
9. The Trial - Band Demo
10. The Show Must Go On - Band Demo
11. Outside the Wall - Band Demo
12. The Thin Ice Reprise - Band Demo
Programme 2, Band Demos
13. Outside the Wall
14. It's Never Too Late
15. The Doctor (Comfortably Numb)
Programme 3, Band Demos
16. One of My Turns
17. Don't Leave Me Now
18. Empty Spaces
19. Backs to the Wall
20. Another Brick In The Wall, Part 3
21. Goodbye Cruel World
Programme 4, David Gilmour Original Demos
22. Comfortably Numb
23. Run Like Hell

quinta-feira, 23 de agosto de 2012

Maravilhas do Mundo Prog: Antonius Rex - Zora [1977]




Quando falamos no rock progressivo italiano é impossível não citar o nome do guitarrista e vocalista Antonio Bartocetti. Também conhecido como Antonius Rex, o rapaz foi fundador de um dos mais importantes nomes na cena italiana. Liderou diversos grupos que, pelo norte da Itália, ajudaram a caracterizar o som progressivo naquele país.

Suas origens musicais estão no excelente grupo Jacula, nascido no final da década de 60. Em 1969, meses após a fundação do grupo, ao lado de Fiamma Dallo Spirito (voz, violino e flauta), Doris Norton (bateria) e Charles Tiring (teclados), Antonius lançou o raríssimo In Cauda Semper Stat Venenum, o qual saiu em uma edição limitada de 300 cópias apenas, que valem pequenas fortunas no mercado musical. Baseado em composições voltadas para órgão de igreja e guitarras destorcidas - tendo apenas algumas frases soltas entoando poemas sinistros em determinadas canções e rápidas participações dos demais instrumentos - In Cauda Semper Stat Venenum é um verdadeiro achado arqueológico. Destacam-se preciosidades como "Ajtus", a quase metal "Triumphatus Sad" e o assustador e longo poema da  faixa-título.

A polêmica capa mostra uma imagem em preto e branco de um homem comendo um pedaço de um cadáver dentro de um cemitério. Como a tiragem foi muito pequena, poucos conheceram a mesma.

Antonio Bartoccetti em 1971
Três anos depois, Tardo Pede in Magiam Versus transformou-se no último lançamento do Jacula, seguindo uma linha diferente do primeiro. Contando com Norton agora nos vocais e sintetizadores, além de Tiring e da adição de Albert Goodman (bateria), este LP destaca mais a guitarra distorcida e o violino. Trazem como maior destaque as pérolas que compõem o lado A, que são "U. F. D. E. M." e "Praesentia Domini", onde as vocalizações de Doris são arrepiantes. Já o lado B é mais suave, destacando o lindo duelo de voz e flauta em "Jacula Valzer", bem como a emocionante "Long Black Magic Night" e a merecedora de ser chamada Maravilha Prog, "In A Old Castle", uma magistral canção somente com o órgão de igreja sendo o centro das atenções.

A polêmica capa de Tardo Pede in Magiam Versus

A capa de Tardo Pede in Magiam Versus é a mesma de In Cauda Semper Stat Venenum, porém no formato colorido. O LP foi lançado em uma tiragem maior, mas mesmo assim ainda pequena (pouco mais de mil cópias), e acabou causando muita revolta na Itália, sendo censurado.


O Jacula se desintegrou, mas Bartoccetti não parou, fundando o grupo Invisible Force, ao lado do eterno colega Charles Tiring, Elisabeth d'Esperance (voz) e Peter McDonald (bateria), com os quais lançou os singles "Morti Vident" e "1999 Mundi Finis", ambos em 1971. A linha é similar ao que apareceu no segundo disco do Jacula, sendo que "1999 Mundi Finis" é a versão original de "Praesentia Domini".


O Invisible Force mudou de nome, adotando Dietro Noi Deserto, trazendo Bartoccetti no baixo ao lado de Luciano Lura (voz, órgão), Luciano Quaggia (guitarra) e Mauro Baldassari (bateria), que lançou os singles "Dentro Me" e "Aiuto", canções mais voltadas para o rock clássico italiano do que para o progressivo. 


Capa de Neque Semper Arcum Tendit Rex
Em 1974, Antonio funda o grupo Antonius Rex, ao lado de Doris Norton (teclado, voz) e do ex-Jacula Albert Goodman (bateria), gravando aquele que é considerado seu primeiro álbum solo, Neque Semper Arcum Tendit Rex. Uma mera ampliação do que já havia sido feito nos tempos de Jacula, mas que não foi lançado na época. Tudo novamente por conta da arte da capa. Inicialmente, seria lançado pelo selo Vertigo, mas ao ver a capa contendo uma imagem em preto e branco de uma carta com mensagens satânicas, a gravadora negou-se a lançar o mesmo. Apesar das tratativas com o selo independente Darkness (de propriedade de Goodman), o álbum acabou não sendo lançado.

O grupo Antonius Rex: Albert Goodman, Antonio Bartoccetti e Doris Norton 

Somente em 1977 o grupo conseguiu sair da toca e ver seu primeiro LP nas prateleiras. Trata-se do espetacular Zora. Se para alguns esse é o álbum mais fraco da carreira de Bartoccetti, para outros é o que define de vez a carreira do guitarrista italiano. O álbum abre com "The Gnome", uma alegre faixa lembrando os rocks da fase "Invisible Force". Na sequência, "Necromancer", "Spiritualist Seance" é uma revisão sobre "Praesentia Domini". Já a faixa que abre o lado B recebe o honroso título da Maravilha Prog. Trata-se da faixa-título do álbum.


Antonio Bartoccetti em 1977
"Zora" abre com os sintetizadores e o órgão, que entoa o riff principal, acompanhado pela guitarra, baixo e bateria. Começa então o primeiro solo de piano elétrico em ritmo frenético. Entra em uma sequência de acordes que diminuem o tom, com viradas rápidas da bateria, levando ao lindo solo de sintetizador. A canção muda, ficando leve e viajante. 

Longos acordes de sintetizador acompanham a voz de Bartoccetti que entoa o poema da canção. O piano elétrico deixa o violão surgir com um emotivo dedilhado, que acompanha algumas notas do órgão. Sintetizadores surgem fazendo intervenções entre os dedilhados. Após seis notas do baixo, começa o veloz duelo entre violões e sintetizadores, trazendo a bateria, o baixo e os longos acordes de sintetizadores, levando a canção para seu encerramento.

Aqui, bateria e baixo comandam uma espécie de jazz, com um curto solo de piano elétrico. Acordes estranhos dos sintetizadores resgatam a voz de Bartoccetti que conclui o poema com a repetição do riff inicial feito por piano elétrico, guitarra, baixo e bateria, repetindo o solo inicial mais uma vez.

O LP encerra-se com "Morte al Potere", uma grandiosa faixa com duelos alucinantes de guitarra, voz e flautas, que mantém o clima sombrio que permeia quase todo o álbum.

Capa do relançamento de Zora
A capa de Zora também causou polêmica, mantendo a tradição. Tudo por que ela apresenta uma linda bruxa quase nua, com os seios de fora, chicoteando caveiras que estão tocando um concerto em um navio prestes a afundar. Para solucionar o problema, Zora foi lançado com uma capa diferente, tendo apenas uma pequena imagem de uma das caveiras. O resto, tudo em preto contendo apenas o nome da banda e do álbum.

O Antonius Rex seguiu sua carreira, mudando de formação e lançando mais três álbuns: Ralefun (1978), Anno Demoni (1979) e Praeternatural (1980). Na década passada, voltou a ativa, lançando mais dois álbuns: Magic Ritual (2005) e Switch on the Dark (2006). 

Bartoccetti em 2011

Em 2009, ano de lançamento de Per ViamZora recebeu um lançamento comemorativo, apresentando a inédita "Monstery" e resgatando a famosa capa da bruxa nua. No ano passado, Bartoccetti lançou Per Viam, resgatando o grupo Jacula das cinzas, mantendo os climas sombrios que ainda assustam os italianos e os descobridores de pérolas do rock progressivo.

Jefferson Airplane - Parte II


Após Grace recuperar-se da sua cirurgia, em abril de 1969, começam as sessões de gravação para o novo álbum do grupo. Com os bolsos forrados de dinheiro, usam uma mesa de 16 pistas, tornando o som mais potente, alavancando a fúria do grupo contra a sociedade, a política e as guerras. Crescem as polêmicas envolvendo o grupo com drogas, e também sobre as brigas internas. 

Para piorar, o conteúdo das letras do álbum, basicamente criticando o governo norte-americano, a Guerra do Vietnã e profanidades como a defesa do anarquismo, causou um atrito entre a gravadora e os líderes do Jefferson Airplane, já que a gravadora achava as letras demasiadamente pesadas. O próprio nome sugerido para o LP, Volunteers of Amerika, já era uma ironia contra o povo dos Estados Unidos. Então, começa uma longa batalha entre grupo e gravadora para ter o álbum lançado.


Visão traseira do palco de Woodstock durante o show do Jefferson Airplane

Enquanto isso, a fama do Jefferson Airplane não para de crescer. Em junho de 1969, recebem a proposta para fechar a segunda noite do festival de Woodstock, pouco depois de terem feito um show ao ar livre no New York Central Park . No início de agosto, são uma das principais atrações do Atlantic City Pop Festival, e na manhã do dia 18 de agosto, sobem ao palco para fechar a noite do dia 17, pouco depois do sol nascer, naquela que Grace Slick classificou como "A manhã maníaca da música". 

O show do grupo em Woodstock acabou acontecendo na manhã do domingo (terceiro dia do festival) devido aos inúmeros atrasos ocorridos na noite de sábado, e sob os olhares de milhares de pessoas, o hepteto (agora com a adição do pianista Nicky Hopkins) mandou ver em uma das melhores apresentações de sua carreira. Fontes não confirmadas afirmam que Jimi Hendrix (responsável por encerrar o festival) ficou com tanta inveja do show do Jefferson Airplane que pediu para os organizadores do festival atrasarem seu show até a manhã do dia seguinte, afim de conseguir o mesmo efeito conseguido pelo Airplane sob o nascer do sol.


Airplane em Woodstock

Com a famosa apresentação em Woodstock, tornam-se atração no Dick Cavett Show, onde sob os olhares incrédulos do apresentador, Joni Mitchell, David Crosby e Stephen Stills, o hepteto fez uma estonteante apresentação de dezessete minutos, nos quais apresentam duas canções do novo álbum ("We Can Be Together" e "Volunteers of America") e uma longa jam session em cima de "Somebody to Love", não deixando ninguém mais falar até o final do programa, mesmo com as tentativas frustadas de Dick. Para "piorar" a situação, o hepteto interpretou a letra original de "We Can Be Together", entoando palavras como "Motherfucker" e "Fuck" em pleno horário nobre. 

Em outubro, Kantner é preso no Havai por porte de maconha, sendo liberado após pagar fiança de 350 dólares. Em novembro, um polêmico show no Fillmore East, no qual Slick apresentou-se vestida de Hitler, e Rip Torn fez o papel de Richard Nixon, atiçou os ouvidos dos fãs para o novo álbum.

Volunteers, o melhor disco do Jefferson Airplane
Finalmente, o último álbum da formação clássica então é lançado no final de novembro de 1969, após muitas tratativas, e tendo Nicky Hopkins como um dos principais nomes deste que considero o melhor disco do grupo. Com a participação de diversos músicos convidados, Volunteers é pesado, gritador e inovador, sendo um divisor de águas na carreira do Airplane. A partir dele, as psicodelias deram lugar à letras conscientes e canções complexas, começando pela faixa de abertura, a sensacional “We Can Be Together”, trazendo o riff inicial, executado pelo piano, violão e baixo, com intervenções de notas rasgadas de Kaukonen, que passa a solar em cima da melodia que acompanha os vocais do trio Slick, Kantner e Balin. O riff inicial retorna, com mais intervenções de Kaukonen, e o trio solta a voz dizendo que "We are all outlaws in the eyes of america”, em uma letra que fala sobre o anarquismo nos Estados Unidos e como o preconceito atinge a população. 

O riff pesado e os solos de intervenção de Kaukonen continua, e os vocais então nos levam para a segunda parte da canção, através de lindas vocalizações acompanhadas por piano e percussão. Kaukonen despeja distorção na guitarra, com baixo, piano e bateria acompanhando o peso da parte central da canção, e os vocais mandando ver a canção de protesto, para então, retornar ao riff inicial, gritando “Up against the wall motherfucker, turn down the wall”, simbolizando um manifesto contra o muro do preconceito, em uma das melhores canções do Jefferson Airplane, e que teve esse "Motherfucker" escondido sob a palavra "Fred", mesma palavra que entrou no lugar de "Fuck". O riff inicial é repetido, com mais solos rasgados de Kaukonen e vocalizações do trio ordenando “Everybody together”, trazendo o início da letra, que entoa o nome da canção emotivamente, sofrendo, para encerrar essa magistral faixa com Hopkins solando ao piano, enquanto as vozes gritam “Turn down the Wall!”. Sensacional! 

Violões nos levam para a tradicional “Good Shepherd”, tendo o arranjo de Kaukonen e com um riff chupinhado pelo Uriah Heep na clássica “Magician’s Birthday”, e intervenções do wah-wah de Kaukonen. Cantada por Balin, essa canção mistura elementos do country, e sem muitas variações, o maior destaque fica pela presença marcante dos violões e para o belo solo de Kaukonen. 


Jerry Garcia, invandindo uma reunião do Airplane
Os violões também estão em “The Farm”, que aparece com o pedal steel guitar de Jerry Garcia, Grace Slick ao piano, além de baixo e bateria executando um gostoso country cantado por Slick e Kantner, destacando o grudento refrão. Essa canção conta com a participação especial do grupo feminino The Ace of Cups nas vocalizações.

O lado A encerra-se com a longa e viajante “Hey Frederick”, que inicia com o riff marcado entre bateria, piano, baixo e guitarra. Slick canta despojadamente, e acompanhada apenas pelo piano, transforma a canção para uma linda balada, com Kaukonen pisoteando o wah-wah e a cozinha baixo, bateria piano fazendo um arrepiante acompanhamento. Hopkins fica sozinho, trazendo o riff inicial, agora com o baixo carregado de distorção, e Slick segue a letra, repetindo a mesma ordem em termos musicais, retornando portanto a bonita balada, e assim, Slick encerra a letra, entrando em uma alucinante sessão instrumental, na qual Kaukonen e Balin executam um grandioso duelo de guitarras, com mais de cinco minutos de duração, em um crescendo arrebatador, esbanjando bends agudíssimos e notas velozes, alternando entre ritmos mais sacolejantes e outros mais vagarosos, enquanto, piano, baixo e bateria comandam a locomotiva sonora que ajuda a destruir o quarto, neste solo que certamente inspirou outro sensacional solo de guitarra, aquele feito pelo Lynyrd Skynyrd em “Free Bird”, encerrando . Assim como “We Can Be Together”, outra maravilhosa faixa, que também figura entre as melhores da carreira do Airplane. 


Lado A de Volunteers

“Turn My Life Down” tem a honrosa tarefa de abrir o lado B, após a loucura sonora de “Hey Frederick”, trazendo os violões para mais um country simples, com destaque para os vocais de Kantner e a participação de Stephen Stills no órgão, bem como Joey Covington nas congas, além do curto solo de Kaukonen, o qual nos leva para outra sensacional canção de Volunteers, a linda cover de “Wooden Ships”. 

Criada pela dupla Crosby/Stills, em parceria com Paul Kantner, essa linda e arrepiante balada aparece no LP com o barulho de um navio em alto mar, entre uma tempestade que nos apresenta os acordes de piano, percussão, violões e a manhosa guitarra de Kaukonen. Balin canta a primeira estrofe da letra, deixando a segunda para Slick. Kantner então canta a terceira estrofe, e então, a percussão explode para o trio cantar o emocionante refrão, com a guitarra de Kaukonen acompanhando a melodia vocal, voltando para a sequência da letra, primeiro com Balin, acompanhado pelas vocalizações de Slick, e depois, com o trio cantando as demais frases da letra, para voltar ao refrão, e Kaukonen rasgando a guitarra ao meio com suas notas agudas. 

Os violões e o piano acompanham o breve solo de Kaukonen, e as vocalizações cantam novamente o refrão, destacando Slick com longos gritos, para Kaukonen fazer um emocionante solo, acompanhado de um embasbacante crescendo percussivo, que nos leva para a última repetição do refrão. Vocalizações então cantam a melodia do refrão, entre o wah-wah de Kaukonen e gritos de Slick, Balin e Kantner, que encerram outra magistral canção. 

“Eskimo Blue Day” resgata os momentos psicodélicos de Surrealistic Pillow, começando com a guitarra de Kaukonen e as marcações de piano, baixo e bateria, criando um ritmo veloz. A flauta de Slick surge, trazendo sua voz, que tem a guitarra e a flauta como guardiões, além do ritmo criado pelo piano, bateria e baixo, lento e hipnotizante. Joey Covington aparece novamente com as congas, e a canção causou polêmica pela inclusão da palavra "Shit" por diversas vezes.

Hopkins e seu piano são o centro das atenções em “A Song for All Seasons”, outro leve country, dessa vez cantado por Kaukonen, Balin, Kantner e Slick, e com Bill Laudner sendo o vocalista principal, seguida pela curta vinheta “Meadowlands”, apenas com Slick executando algumas notas no sintetizador. O LP encerra-se com “Volunteers”, a qual começa com o riff da guitarra de Balin, Kaukonen e Hopkins detonando e Kantner soltando a voz em uma agitada canção, enquanto Slick e Balin fazem vocalizações gritando “Got the Revolution”, encerrando com um breve solo de Kaukonen.

Este foi o último álbum da formação clássica do Jefferson Airplane. Um dos discos mais vendidos do grupo, alcanço a décima terceira posição nos Estados Unidos, e entrou na lista da Rolling Stone entre os 500 Melhores Álbuns de Todos os Tempos, na posição 370. 

Em seis de dezembro, são atração principal (ao lado do Rolling Stones) no festival Altamont Free Concert, em Altamont. Famoso pelo assassinato de um jovem negro (Meredith Hunter) pelos Hell Angel's durante a execução de "Under My Thumb" pelos Stones, e se tornou a única banda a participar dos três maiores festivais dos anos 60 (Monterey, Woodstock e Altamont). Durante a apresentação do Airplane, Balin foi agredido por um Hell Angel em pleno palco, enquanto tentava acalmar uma confusão generalizada que se formou com integrantes da plateia e os seguranças dos Hell Angel's durante a canção "The Other Side of This Life", o que pode ser conferido no documentário Gimme Shelter, lançado pelo Rolling Stones anos depois.


Registro do incidente em Altamont
Após o incidente, o grupo decide tirar férias, e em fevereiro de 1970, despede por unanimidade Spencer, principalmente pelo incidente em Altamont. Dryden vai parar no New Riders of the Purple Sage, sendo substituído por Joey Covington. O grupo então continua excursionando, além de lançar o single "Have You Seen the Saucers?" / "Mexico".

O grupo entrou em um período obscuro, onde cada um saiu para realizar projetos pessoais., com exceção da participação como grupo principal (ao lado do Led Zeppelin) no famoso festival de Bath, durante o mês de junho. Slick foi cuidar de sua família, enquanto Kaukonen e Casady tocaram o Hot Tuna em diante, lançando o primeiro álbum do grupo, o essencial Hot Tuna (1970). 

Kantner lançou, em outubro de 1970, seu primeiro álbum solo, o ótimo Blows Against the Empire, que narra uma epopeia de ficção científica, gravada com a participação de membros do Jefferson Airplane (Grace Slick, Joey Covington e Jack Casady), David Crosby, Graham Nash, Jerry Garcia, Bill Kreutzmann e Mickey Hart (os três últimos do Grateful Dead), e lançada como Paul Kantner / Jefferson Starship.

Grace Slick e Janis Joplin
Ainda em outubro, no dia 05, o grupo fez um concerto em homenagem a Janis Joplin, que havia falecido de overdose um dia antes, fazendo uma apresentação no Winterland Ballroom, em San Francisco, sem a participação de Balin, que amigo próximo de Janis, recusou-se a subir no palco. O ano encerrou com o Airplane fazendo o Concerto da Virada de Ano no Fillmore East, que tornou-se o último show do Airplane contando com Balin na formação, assim como o lançamento no mesmo mês da coletânea The Worst of Jefferson Airplane, a qual alcançou a décima segunda posição nos Estados Unidos.

O ano de 1971 começou conturbado. Slick e Kantner já não eram apenas colegas de banda, mas também companheiros na cama, ao mesmo tempo que nascia o primeiro filho do casal, a atriz e apresentadora China Wing Kantner. Em março, Balin anunciou sua saída do grupo, desgostoso com os caminhos que o Airplane tinha adotado, saindo do mundo do rock e conservando-se como um estudioso da yoga, sem consumir álcool ou drogas (influenciado principalmente pela morte de Janis). O Hot Tuna lançou seu segundo disco, o também essencial First Pull Up, Then Pull Down (1971) em junho daquele ano. 

Um mês antes, no dia 13 de maio Slick sofreu um grave acidente de carro, colidindo o mesmo contra uma parede em um túnel próximo a ponte Golden Gate, de San Francisco. Ela foi salva por Kaukonen (que também estava com ela no carro), mas sua recuperação demorou meses, o que atrasou o lançamento do novo álbum e também causou o cancelamento dos shows. 

Capa original de Bark

O jeito era tentar gravar o novo álbum, mesmo com Slick sem estar 100%. Em setembro, Bark chegou às lojas, com o Jefferson Airplane apresentando um álbum mais leve, sem tantos conteúdos políticos e com a guitarra de Kaukonen não em tanto destaque quanto em Volunteers. Esse é o único álbum do grupo como um quinteto, tendo Grace Slick (voz, piano), Paul Kantner (guitarras, violões, voz), Joey Covington (bateria, voz), Jorma Kaukonen (guitarras, vocais) e Jack Casady (baixo, vocais), e também conta com a participação de diversos convidados, destacando Papa John Creach (violino), Bill Laudner (vocais), Will Scarlett (harmônica) e a dupla do Santana Carlos Santana (guitarras) e Michael Shrieve (bateria).

O LP começa com o violão e o piano apresentando o violino de Papa em "When the Earth Moves Again", seguido por um breve solo de guitarra, para Kantner, Kaukonen e Slick cantar uma tímida canção, mantendo a linha de composição do Jefferson Airplane, com vocais cantados por um trio e a guitarra de Kaukonen solando enlouquecidamente ao fundo. 

O piano introduz "Feel So Good", trazendo percussão, guitarra e baixo. Kaukonen faz um breve solo, responsável pelos vocais quase funk da canção, que contém um ótimo solo do guitarrista, o qual torna-se cada vez mais peça importante para o som do Jefferson Airplane.  Slick e seu piano são as atrações na linda balada "Crazy Miranda", outra na qual a guitarra de Kaukonen sola ao fundo, mas não consegue superar a beleza que é a dolorida voz de Slick nessa canção, destacando também a agitada ponte instrumental com piano e muitos efeitos na guitarra.

Papa John Creach, Carlos Santana e Michael Shrieve participam de "Pretty As You Feel", outra linda balada, mais bluesística, a qual começa com a guitarra de Santana, seguido pelo ritmo de Kantner e Kaukonen, bem como a percussão da dupla Shrieve e Covington. Kantner, Slick e Kaukonen canta a canção entre batidas leves na bateria e notas do violino, e então Kaukonen canta a canção acompanhado pelo leve andamento da canção, a qual desenvolve-se sempre com o mesmo ritmo viajante. 

A linda instrumental "Wild Turkey" encerra o lado A, começando com o riff de Kantner e as intervenções de Kaukonen, abrindo espaço para um boogie meloso, com Kaukonen solando sem carregar nas distorções. Papa John Creach entra com o violino na segunda estrofe, rasgando as cordas de seu instrumento com o arco, e fazendo um grandioso solo enquanto o boogie domina ao fundo, cedendo espaço para mais um solo de Kaukonen, agora com o wah-wah sendo o centro das atenções, levando para o segundo solo de violino, centrado mais em notas velozes e escalas muito rápidas, nas quais Papa demonstra todo seu virtuosismo, e então, Kaukonen executa seu terceiro e último solo, soltando bends agudos, e finalmente, Papa passa a solar junto com a guitarra, em um maravilhoso duelo, nos quais ambos são vencedores, em uma canção excelente.

Lado B de Bark, já pelo selo Grunt
O Lado B abre com "Law Man", tendo o piano de Slick como atração central, trazendo as viradas de Covington e o ritmo de baixo, guitarra e piano. Slick canta com a companhia do solo de Kaukonen ao fundo, em uma canção sem maiores destaques, seguida por "Rock and Roll Island", a qual possui também o piano de Slick como atração principal de uma embalada  canção, cantada por Kantner, Kaukonen e Slick, com muitos gritos vocais de Slick. 

Vozes, violão e a harmônica de Will Scarlett introduzem a country "Third Week in the Chelsea", trazendo o belo dedilhado de violão feito por Kaukonen, trazendo os vocais de Kaukonen em destaque, permeados pelas vozes de Slick e Kantner, além da constante participação da harmônica.

A história do acidente de Slick pode ser conferida na canção "Never Argue With a German If You're Tired", a qual começa com a flauta de Slick e o baixo distorcido de Casady acompanhando os vocais de Slick, cantando como que contando uma história. Sintetizadores e piano aparecem ao fundo, acompanhando o lento andamento dessa bonita canção, sendo os sintetizadores os responsáveis pelo solo da canção. Piano e vocalizações apresentam a voz de Covington em "Thunk", uma fantástica canção na linha Beach Boys, cantada a capella por Kaukonen, Covington e Kantner, mostrando que além de excelentes músicos, também são excelentes cantores. 

Bark encerra-se com "War Movie", a qual começa com os sintetizadores trazendo o ritmo dos violões, fazendo um pesado acompanhamento para Slick, Kaukonen, Kantner e Bill Laudner cantar uma fantástica canção-manifesto em um estilo muito similar ao de "We Can Be Together", porém tendo apenas o violão como instrumento de acompanhamento na parte inicial, destacando o órgão e o baixo na segunda parte. Lentamente, percussão, piano e guitarras passam a acompanhar os vocais, explodindo no maravilhoso refrão, com uma pegada pesada, para Kaukonen solar entre as delirantes vocalizações de Slick. Kantner canta entre as notas da guitarra e os gemidos de Slick, e então, a pauleira pega, com o piano comandando as marcações dos vocais. Batidas marciais nas cordas do baixo e da bateria, seguido pela repetição da primeira parte da letra, acompanhada por piano e violões, levam a repetição do refrão, e o LP encerra-se com os acordes iniciais do sintetizador. 


Capa interna de Bark


O álbum alcançou a décima primeira posição nos Estados Unidos, com o single de "Pretty as You Feel" chegando na posição 60 na Billboard. Algumas canções que já haviam sido gravadas com Balin foram deixadas de fora, as quais são "Mexico", "Have You Seen the Saucers?", "You Wear Your Dresses Too Short", "Emergency" e "Bludgeon of a Bluecoat". Esse foi o último lançamento do grupo pela RCA, sendo ao mesmo tempo o primeiro da gravadora Grunt Records, fundada pelo grupo. 




Encarte (acima e meio) e contra-capa (abaixo) de Bark

Na capa original da RCA, o LP vinha embalado em uma espécie de papel-cartão, imitando os papeis de embrulho de uma mercearia, trazendo as letras JA estampadas. Dentro do papel de embrulho, uma capa normal, apresentando um peixe com dentes humanos. 


Apesar do sucesso de Bark, o grupo decidiu não excursionar naquele ano. Somente em abril de 1972 retornam para a gravação de um novo álbum, com John Barbata (ex-Turtles) substituindo Covington na bateria, ao mesmo tempo que o Hot Tuna lança seu terceiro LP, Burgers. Porém, o LP acaba contando com a participação de três bateristas diferentes: Barbata, Covington e Sammy Piazza.
Capa original de Long John Silver


Lançado em julho daquele ano, Long John Silver reflete o fato de que a maioria dos músicos já estava se dedicando à outros projetos, principalmente Kaukonen, Casady e Papa John Creach, concentrados com o Hot Tuna, além de que as brigas internas fizessem com que praticamente cada músico gravasse sua parte individualmente.




O álbum abre com a faixa-título, uma embalada canção composta por Casady, e com os maravilhosos vocais de Slick. O baixo aparece com destaque durante toda a canção, e a guitarra de Kaukonen soa mais leve, sem tantas distorções ou a participação do wah-wah. Kantner e Kaukonen participam fazendo as vozes nas pontes centrais das estrofes, e durante o solo, Kaukonen despeja sua fúria no wah-wah, com um solo espetacular. A canção modifica-se após o solo, tornando-se mais pesada, voltando ao seu ritmo natural e a repetição das primeiras estrofes da letra, encerrando essa boa faixa de abertura com mais outro solo de Kaukonen, pisoteando o wah-wah.


Guitarra, piano, baixo, bateria e violino apresentam a balada "Aerie (Gang of Eagles)", cantada por Slick e com participação efusiva do violino de Papa John Creach durante a canção, com um rasgadíssimo solo de Kaukone, seguida por "Twilight Double Leader", a qual conta com Joey Covington na bateria e que nos remete ao verão do amor de 1967, principalmente pela pegada da canção. A participação do violino, assim como o belo arranjo para o trio vocal Kantner, Kaukonen e Slick, fazem dessa uma das minhas preferidas no LP.

O violino introduz “Milk Train”, outra grande canção cantada por Slick, com uma pegada hardeira da guitarra e do baixo. O riff marcado do violino acompanha os gritos agudos de Slick, e a canção desenvolve-se diferente do que estamos acostumados ao ouvir nos discos do Jefferson Airplane, principalmente pela presença não tão marcante da guitarra de Kaukonen, que faz um curto solo antes do encerramento dessa pérola hard obscura na carreira do grupo. 

A épica “The Son of Jesus” acalma os ânimos, lembrando bastante as canções de Bark, com um andamento arrastado, destacando o wah-wah e o violino, bem como o arranjo vocal do trio Kantner, Kaukonen e Slick, além de uma polêmica letra que teve a frase "Bastard son of Jesus" podada pela gravadora. Covington é o responsável pela bateria dessa canção, que encerra o lado A de Long John Silver sem muita empolgação, sendo uma prévia do que vem no lado B.
Lado A de Long John Silver
O lado B deixa a desejar em relação ao lado A, composto mais por baladas do que pelas agitadas canções que ouvimos antes. “Easter?” abre o mesmo com o piano de Slick, seguido por uma breve passagem de violino, trazendo o lento andamento dessa bonita balada, seguida pelos violões country de “Trial By Fire”, cantada por Kaukonen e com um interessante solo do guitarrista, além da participação do baterista Sammy Piazza. 

O clima leve continua em “Alexander the Medium”, cantada por Kantner e Slick, com um bonito arranjo musical e um emotivo solo de violino, mas muito repetitiva em geral, e o LP encerra-se com “Eat Startch Mom”, a única faixa do Lado B que vale a pena, com Slick declamando furiosamente os versos da canção, quase como um rap, e como riff da guitarra, baixo e violino fazendo jus para a pegada hard da canção. Slick está cantando muito nessa faixa, e o duelo de solos entre violino e guitarra é muito empolgante, mas o que chama mesmo a atenção é a incrível performance vocal de Slick, encerrando com dignidade um álbum muito bom no lado A, mas precário de emoção no lado B.

O álbum ficou marcado por sua capa, o qual trazia (na sua versão original) uma reprodução de uma caixa de charutos, que quando o fã abria, encontrava a capa interna constituída por vários charutos com a inscrição JA. O álbum alcançou a vigésima posição nos Estados Unidos, mostrando que mesmo apesar da crise interna, o grupo ainda tinha reputação no país.

Capa interna de Long John Silver

Com a saída de Covington, e a entrada do vocalista David Freiberg (ex-Quicksilver Messenger Service), o Jefferson Airplane começou uma turnê de divulgação de Long John Silver, durante o verão de 1972, sendo estes os primeiros shows em mais de um ano. Destaque nessa turnê para a apresentação no Central Park, na qual o Jefferson Airplane tocou gratuitamente para mais de 50 mil pessoas.

Em setembro, apresentam-se na Costa Oeste (San Diego, Hollywood e Albuquerque), encerrando a turnê com dois shows no Winterland Ballroom em San Francisco, nos dias 21 e 22 de setembro. Na última noite, Balin subiu ao palco para interpretar "Volunteers" e "You Wear Your Dresses Too Short". Este acabou tornando-se o último show do Jefferson Airplane.

Capa de Thirty Seconds Over Winterland
Terminada a turnê, Casady e Kaukonen anunciam oficalmente suas saídas do Airplane, seguindo carreira com o Hot Tuna e lançando o ótimo The Phosphorecent Rat . Nesse mesmo ano, David Freiberg, Paul Kantner e Grace Slick lançaram o raro Baron Von Tollboth and the Chrome Nun, o qual traz a participação de diversos artistas, dentre eles os ex-Airplane Casady, Kaukonen e Papa John, além de Jerry Garcia e David Crosby. Esse álbum foi lançado em maio, um mês após o lançamento do álbum ao vivo Thirty Seconds Over Winterland, registrando a turnê de Long John Silver, tendo John Barbata na bateria. Em 1974, sai a coletânea Early Flight, a qual traz material não lançado oficialmente em vinil, com destaque para "Mexico" e "Have You Seen the Saucers?", que só haviam saído em compactos.


Ainda em 1973, Slick lançou seu primeiro álbum solo, Manhole, enquanto Kantner decidiu retornar com o seu projeto solo. Quatro anos depois de Blows Agains the Empire, lançado como Kantner & The Starship, Kantner funda o grupo Jefferson Starship, nada mais do que uma reformulação do Airplane, com Kantner, Slick, Barbata, Papa John, Freiberg, Craig Chaquico (guitarras) e Pete Sears (baixo, piano e órgão). O grupo lançou seu primeiro trabalho sob o nome Jefferson Starship ainda em 1974, no caso, Dragon Fly, que conta com a participação de Marty Balin na faixa "Caroline".



O grupo permaneceu na ativa a partir de então, com diversas formações e lançando vários álbuns e tendo as atividades encerradas em 1984. Em 1985 Kantner, Balin e Casady formaram o KBC Band, lançando o álbum homônimo em 1986, do qual saiu o famoso hit "America". A partir dessa reunião de Casady com a dupla Balin e Kantner, as portas abriram-se para uma nova reunião do Jefferson Airplane. Em 04 de março de 1988, durante uma apresentação do Hot Tuna em San Francisco, tendo como convidados Paul Kantner e Papa John Creach, Grace Slick deu as caras, e finalmente, após um pequeno período de conversas, o Jefferson Airplane voltou com sua formação clássica, ou seja, Slick, Kantner, Casady, Kaukonen e Balin, a exceção de Dryden, que decidiu ficar fora da reunião.


Jefferson Airplane em 1989: Jorma Kaukonen, Jack Casady, Paul Kantner,
Marty Balin e Grace Slick
Essa formação lançou Jefferson Airplane, em 1989. representa bem o que era o som mundial na virada dos anos 80 para os 90, com uma participação destacada de piano e sintetizadores. O início com "Planes" anima o ouvinte. Principalmente pelo piano de Nicky Hopkins, que também participa na linda balada bluesy/flamenca "Freedom". "Common Market Madrigal" é aceitável, apesar do excesso de sintetizadores. "Solidarity" apresenta uma sonoridade oitentista que não agradam ao fã mais xiita, mas destaca-se no arranjo vocal. Assim como em "Madeleine Street", cuja levada da bateria não me agrada. 

Outras difíceis de ouvir são a balada "Summer of Love" (melosa demais para um apreciador da banda), "True Love" (composição de Steve Porcaro que ficaria melhor se gravada pelo Toto) e "Now Is The Time" (trazendo uma letra de revolução que não serve mais para o ano em que o álbum foi lançado). Os fãs de AOR podem colocar o LP direto em "Ice Age". "The Wheel" é a mais apreciável do LP, com um estilo bem similar ao de "Planes" e uma letra genial. Outro destaque é a pequena instrumental "Upfront Blues". Uma aula de Kaukonen, dessa vez tocando um blues empolgante. "Too Many Years" e "Panda" complementam o álbum sem adicionar muito na discografia do grupo. Apesar de ter feito relativo sucesso, não garantiu o retorno definitivo do Jefferson Airplane, se tornando o último disco de inéditas. É também o mais fraco da carreira!

Em 1996, o Jefferson Airplane foi induzido na Rock and Roll Hall of Fame, com Balin, Casady, Dryden, Kantner e Kaukonen participando da premiação. Slick não pode participar por problemsa médicos. Já em 2004, o documentário Fly Jefferson Airplane foi lançado, contando a história do grupo entre 1965 e 1972, com muitas entrevistas com os membros da banda, além de treze canções completas.

O Jefferson Starship permanece na ativa, mas o Jefferson Airplane aposentou-se em 1990, após a turnê de Jefferson Starship. Um grande grupo, talvez o maior que os Estados Unidos já pariu, e sem dúvidas, o mais influente da geração californiana.
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