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quarta-feira, 25 de dezembro de 2024

Cinco Músicas Para Conhecer: Homenagens À Rita Lee



No dia 31 de dezembro de 1947, nascia Rita Lee. A Rainha do Rock nacional, falecida em 8 de maio de 2023, vítima de câncer, teve uma carreira espetacular, que conquistou fãs não somente anônimos como este que vos escreve, mas também nomes importantes da cena musical nacional. Vários foram os artistas que prestaram sua homenagem à Tia Rita, a "mais bela tradução de São Paulo" na visão de Caetano Veloso, e desta forma, recolho aqui cinco destas homenagens.

"Rita Lee" - Mutantes [1969] (Mutantes)

A primeira banda que homenageou Rita foi o seu próprio grupo, logo no segundo álbum da banda. A faixa, intitulada simplesmente "Rita Lee", é mais uma das grandes amostras do deboche escrachado que o trio Rita, Sergio Dias e Arnaldo Baptista fazia no início de sua carreira. Rita surge como uma menina inocente de 20 anos, infeliz, que sonha em ser feliz e encontrar seu amor, uma letra infantil para uma música infantil, um rock comandado pelo piano de Arnaldo e os vocais de Serginho, mas engraçada e que faz (fez) toda a aura mutante ser enaltecida através dos anos. O deboche vocal e musical vai crescendo junto com a história "comovente" de Rita, que ao final, acaba encontrando o seu par, entre muitos beijos, risadas de felicidade e chamegos, onde outro destaque é o solo de Arnaldo no órgão. Grande faixa dessa fase inicial do trio, que também saiu como lado B num raro compacto promocional da Polydor, tendo "Banho de Lua" no lado A. 

"Rita Jeep" - Negro É Lindo  [1971] (Jorge Ben)

Esta homenagem de Jorge Ben (que havia sido revisitado pelos Mutantes com "A Minha Menina", no primeiro álbum da banda) trata Rita como uma mulher forte, terrivelmente feminina, a qual faz Jorge sentir-se fraco e pedir-lhe para fazer um trato de comunhão de bens. Aprofundando-se mais na letra simples de Jorge (como a maioria de suas músicas), é um atestado de defesa da força da mulher, em plenos anos 70, e que tem no nome de Rita a personagem principal, com ela representando todas as mulheres fortes de nosso país, e a referência do Jeep é uma homenagem a Charles, o Jeep Willys que era de Rita Lee, a qual se definia como uma jeepeira. Em suas próprias palavras para um podcast da Rádio 89 FM, em 2021, "Eu tinha uma afinidade tão grande com o Jeep, que eu via os outros carros eu achava os outros carros horríveis, sem estilo". Musicalmente, é mais um samba-rock de Jorge, com apenas duas mudanças de acordes (C e F na primeira parte, A e D na segunda), destacando uma gatinha manhosa que acompanha o embalo do violão e a voz manhosa de Jorge, mas que embala a casa facilmente, como toda boa faixa do carioca. Saiu como lado A de um compacto (com "Negro É Lindo" no lado B) e abre o álbum Negro É Lindo de 1971. 

"Quando" - Doces Bárbaros [1976] (Doces Bárbaros)

Um dos maiores projetos da música popular brasileira, os Doces Bárbaros uniu nada mais nada menos que Gilberto Gil, Gal Costa, Caetano Veloso e Maria Bethânia, em uma turnê repleta de complicações, mas que acabou resultando em um álbum duplo ao vivo sensacional, assim como um compacto de quatro canções. No show, uma das faixas traz seu apoio para Rita, "Quando", interpretada por Gil e os backing vocals de Gal. Explicitamente, a música começa citando o nome da artista, seguido pelos "tiu, tiu, ru, ru, ru" e riffs que Rita apresentou diversas vezes em sua carreira, passando por apenas mais uma breve frase, citando que "quando a governanta der o bode pode quer que eu quero estar com você, super estar com você", em alusões para as canções "Superstafa" e "Sucesso Aqui Vou Eu", da própria Rita, e a citação para Mônica Lisboa, a empresária que acabou, supostamente, sendo a responsável pelo fim da Tutti Frutti. A segunda parte da canção  exalta uma profecia onde uma mulher lê, na bola de cristal, "uma menina loira que virá de uma cidade industrial, de bicicleta, de bermuda, mutante, bonita, solta, decidida, cheia de vida etc e tal, cantando o yê, yê, yê", ou seja, a própria Rita cuspida e escarrada. Uma faixa rock 'n' roll direta, na linha Tutti Frutti, e que segundo Gil, "Rita era a nossa musa do desvio, do transvio". No ano seguinte, Gil e Rita saíram na turnê Refestança, e "Quando" acabou nunca mais sendo interpretada.

"Rita Lee" - Ponto & Vírgula  [1980] (Ponto & Vírgula)

Este grupo conheci por aqueles acasos da vida. Vasculhando um acervo de uma rádio, na qual fui levado justamente para pegar os discos que quisesse, encontrei este compacto e achei curioso que nunca tinha ouvido falar no tal grupo. Ao ler as informações na contra-capa, me deparo com um certo T. Maia na percussão, e uma faixa intitulada "Rita Lee". Peguei a bolachinha e para minha surpresa, é justamente Tim Maia quem está na percussão do mesmo, o qual tem justamente em "Rita Lee" sua melhor faixa. A faixa é um belo rock no estilo da Tutti Frutti, trazendo várias referências inclusive as canções de Rita ("A Minha Menina", "Arrombou A Festa", "Ovelha Negra" entre outros), e citando como o cantor ficou influenciado pelas performances de Rita, destacando os bons solos de guitarra de Riba. A dupla Ponto E Vírgula (Tukley e Marcelo Fasolo) lançou alguns compactos nos anos 70, tendo sido os responsáveis por criarem a frase "money que é good nóis não have", na faixa "Laika nóis Laika", frase que ficou eternizada posteriormente pelos Mamonas Assassinas, e deixou também eternizada esta justa homenagem para a Rainha do Rock.

"A Tal" - Ivan Lins [1986] (Ivan Lins)

Esta faixa, escrita por Ivan em parceria com Vitor Martins, está no álbum de 1986 do cantor, e tem em seus versos a declaração de amor dos artistas por sua musa, em frases como “Sempre provocante / quente, picante, tem sal / Sempre irreverente, sim / descaradamente sensual”. Um rock pesado, com a quadrada bateria dos anos 80, e o comando da guitarra de Heitor T. P. e importante participação dos instrumentos de sopro de Guilherme Dias Gomes. Apesar de não ser citada diretamente, a descrição acaba que é de Rita que Ivan fala na terceira estrofe, "Negra, sempre uma ovelha negra como desejara que ia ser ...". O próprio Ivan, quando soube do falecimento de Rita, prestou homenagem à Rita em seu Facebook/Twitter, dizendo que "Esse roquezinho foi feito em homenagem a ela em 1986, por mim e pelo Vitor. Sempre tivemos forte admiração por ela, grande mulher. Polêmica, inteligente e libertária, sempre foi uma voz essencial na defesa das mulheres". 


terça-feira, 21 de dezembro de 2021

Ouve Isso Aqui: Discos ao vivo de retorno lançados nos anos 2000


 Editado por André Kaminski

Tema escolhido por Mairon Machado

Com Daniel Benedetti, Davi Pascale, Fernando Bueno e Ronaldo Rodrigues


Os anos 2000 providenciaram o retorno, mesmo que por vezes apenas em um show, de grandes nomes do rock dos anos 60 e 70. Foram inúmeros grupos que trouxeram para uma geração do século XXI, ao vivo, aquele clímax que construíram quando eram bam-bam-bans na cena musical do auge de suas carreiras. Minha intenção aqui é discutir o retorno de cinco desses grupos, e pensar se realmente, o retorno aos palcos dos mesmos valeria a pena para uma série de shows e novos lançamentos, ou se esses retornos confirmavam que a nostalgia dos velhos bons tempos onde esses nomes eram tigrões, mas que a idade os fez se posicionar como tchuchucas, confirmavam que os nomes em questão não tinham motivos de seguir na ativa. Vamos as opiniões dos consultores para esses retornos de gigantes.

Led Zeppelin – Celebration Day [2007]

Mairon: O Led já havia feito alguns retornos depois da morte de John Bonham, mas foi somente o show no Ahmet Ertegun Tribute Concert em 10 de dezembro de 2007 que foi lançado para os fãs. Jimmy Page, Robert Plant e John Paul Jones, junto de Jason Bonham (filho de John), se uniram na O2 Arena de Londres lotada (os ingressos esgotaram rapidamente), e emocionaram aos presentes. Como grande fã de Led que sou, eu tinha grandes expectativas dessa apresentação, as quais foram frustradas. O repertório é excelente, cobrindo quase todos os discos da banda (apenas In Through The Outdoor ficou de fora) e em muitas faixas a coisa dá um tesão bom, como “No Quarter”, “Ramble On”, “Misty Mountain Hop”, “For Your Life”, “Trampled Underfoot” e a sempre demolidora “Kashmir”,onde Bonham dá um show a parte. Mas ouvir a diminuída de tom em faixas como “Good Times Bad Times”, “In My Time of Dying”, “Rock and Roll” ou “The Song Remains The Same” (coragem tentarem tocar essa) torna a coisa um pouco arrastada, tirando a energia que sempre foi o forte dos caras. Page está  totalmente fora de forma nos solos, principalmente “Since I’ve Been Loving You”, bastante decepcionante. “Dazed and Confused” chega a ser constrangedora. Plant é outro que há muito tempo não tem a mesma voz, o que fica provado em “Black Dog”, “Nobody’s Fault But Mine” e “Whole Lotta Love”, onde ele também apresenta estar perdidaço na letra. Até “Stairway To Heaven”, que apesar de continuar linda, mostra o desgaste da voz de Plant. Aliás, o solo de Page neste clássico eu prefiro não comentar … Por outro lado, Jones e Bonham estão perfeitos, em uma performance digna de suas histórias, e que sustenta bastante Celebration Day para fazê-lo passar por média. Led é Led e sempre será Led, é empolgante ouvir o disco de uma maneira nostálgica, mas entendo perfeitamente por que a banda não se reúne mais para tours. Celebration Day para mim serve como um comprovante para os fãs pararem de encher o saco dos caras em seguir tocando juntos.

André: Eu já ouvi gente dizendo há muitos anos que este show de retorno foi fraco e decepcionante. Sei lá, apenas inacreditável ouvir isso. Não acho que eu precise dizer do quanto, ao menos, a lendária banda junto ao filho do lendário falecido baterista é incrível mesmo após tantas décadas afastados. Mesmo que eles estivessem enferrujados ainda são melhores do que muitas bandas contemporâneas que nunca pararam. Pelo menos ficou um registro do que poderia ter sido a banda com o passar dos anos.

Daniel: Eu gosto deste disco. É claro que é possível de se questionar alguma mudança no repertório como a falta que sinto de “Heartbreaker” ou “Communication Breakdown”, mas o desfile de canções clássicas, em sequência, já são fiéis amostras do poderio do repertório do Led Zeppelin. Sem mais nada a provar, vejo este disco como um digno pertencente à discografia da banda, por mais que a ausência de John Bonham sempre seja sentida.

Davi: Ainda me lembro das conversas nas rodas de amigos durante minha juventude: “Por que os Beatles não voltam à ativa e colocam o Julian no lugar do John?”. “Se o The Who excursiona, de tempos em tempos, com outros bateristas, por que o Led Zeppelin não faz o mesmo”? As opiniões, claro, eram divididas. Havia quem defendesse, havia quem achasse uma heresia. No caso do Led, havia até a justificativa de “você viu o terror que foi o show do Live Aid“? Contudo, de tempos em tempos, a pergunta voltava à tona. Décadas se passaram, mas finalmente, teríamos a resposta de como um desses lendários grupos soaria em uma reunião, ainda que de maneira bem breve. E, graças à Deus, o resultado, dessa vez, foi muito bom. Sim, John Bonham é inimitável e é bem superior ao seu filho. Contudo, o garoto não fez feio. Segurou bem a bronca, conseguiu manter o espírito, digamos assim. (Inclusive, prefiro a performance dele aqui, do que a que realizou ao lado da Jason Bonham Band, no álbum In The Name Of My Father). Outra coisa que me deixava com a pulga atrás da orelha era o trabalho vocal de Robert Plant. Será que ele ainda daria conta do repertório do Led? Assisti ele e o Jimmy Page no Hollywood Rock e gostei bastante do resultado, mas já havia se passado uma década. E, sim, Plant mandou muito bem, obrigado. Claro, ele adaptou para sua nova realidade, cantou conforme sua idade permitia. Cantou mais na manha, fez algumas linhas vocais mais para baixo, recorreu ao falsete em alguns momentos, mas o resultado final ficou muito bom. O show é excelente. Pesado, muito bem tocado e com um repertório impecável, onde voltaram a tocar inclusive, “Stairway to Heaven”, depois de terem negado por décadas. É uma pena a reunião não ter ido adiante.

Fernando: De todos os da lista, acredito que esse tenha sido fruto do acontecimento mais esperado pela comunidade rocker por anos, por todas as circunstâncias e a importância que a banda tem na história. Também é o que teve maior caráter de celebração, homenagem, como o próprio nome do lançamento deixa claro. Até por tudo isso a execução acaba sendo apenas um detalhe que pouco importa. Acredito que fizeram o certo em fazer alguns shows apenas, lançar esse material e não retomarem as atividades. Fizeram uma aparição e se mantiveram como lendas sem desgastar essa imagem.

Ronaldo: Há muita dignidade do Led Zeppelin em ter se preservado de tantas ofertas para voltar aos palcos, sem seu baterista original. A inadequação de Robert Plant para o estilo vocal de sua juventude fica claro na opção da banda por ter baixado os tons das músicas, contudo, a adaptação soa honesta dentro de suas limitações. O disco já ganha pontos por incluir como abertura músicas fantásticas que praticamente não fizeram parte do repertório ao vivo da banda nos anos 60/70 – “Good Times Bad Times” e “Ramble On”; outro ponto positivo é Jimmy Page com sua Les Paul sem se render ao som dos guitarristas modernosos. Suas seções psicodélicas em “Dazed and Confused” e “Whole Lotta Love” são totalmente respeitáveis. De ponto negativo, triste reconhecer que os engenheiros de som atuais não sabem dosar o som do baixo e da bateria ao vivo, deixando o primeiro enterrado e sem agudos e o segundo entupido de graves embolados. O próprio John Paul Jones soa um tanto básico demais no baixo, não saindo nenhuma linha além do tradicional (e mesmo que saísse, seu esforço não apareceria no disco). Já nos teclados, sua elegância e técnica estão devidamente registradas. O repertório da banda dá uma passeada bem representativa por toda sua discografia (com exceção de In Through the Outdoor). “Whole Lotta Love”, “No Quarter” e “Misty Mountain Hop” tocadas nos tons original e com a banda afiada, são destaques.

Triumph – Live at Sweden Rock Festival [2008]

Mairon: Depois de muitas brigas e discussões, eis que o mundo foi surpreendido pelo retorno do Triumph de Rik Emmett, Gil Moore e Mike Levine. Lembro da expectativa deste retorno, a possibilidade de uma turnê mundial, um novo disco, mas a guerra de egos foi maior que a grande capacidade dos canadenses criarem obras primas, o que por si só já indica o que foi este registro. Aliás, ele que foi minha inspiração para esse Ouve Isso Aqui. Quando o ouvi pela primeira vez, foi com um mixto de alegria e frustação. Alegria por que o disco começa muito bem, com Gil mandando ver em “When The Lights Go Down”, pesada, como nos bons tempos do Triumph. Tu vê o repertório e é perfeito, não há o que tirar, ainda mais para um show em um festival. Mas basta os primeiros acordes de “Lay It On The Line” para o nariz começar a ser torcido. Alguns tons abaixo e principalmente, um Rik que não tem mais a mesma voz dos anos 70 não conseguindo alcançar agudos de outrora, e tão pouco agudos atuais. É muito triste ouvir a voz de Rik falhando por diversas vezes, principalmente em “Never Surrender” ou “Magic Power”. Algo só mais lamentável que ter presenciado Ian Gillan não conseguindo cantar “Child In Time”, ou Geddy Lee fracassar ao longo de todo o show do Rush no Rio em 2010. Instrumentalmente, Live at Sweden Rock Festival é impecável, e claro, Rik ainda é um baita guitarrista. Ouçam o que ele faz na própria “Lay It On The Line”, “Blinding Light Show / Moonchild” e “Rock ‘n’ Roll Machine” por exemplo. Gil ainda é um baterista vigoroso e capaz de cantar muito bem, como atestam “Allied Forces” e “Rocky Mountay Way”, e Mike possui uma capacidade ímpar de aturar o ego de gigante dos dois colegas tocando com uma sobriedade e precisão raras. Mas honestamente, por mais que o instrumental seja perfeito, eu só iria curtir ver esse show se as vozes do Rik fossem substituídas por um vocalista que ainda consiga cantar aqueles agudos tão fascinantes. A reunião naufragou rapidamente, o disco ficou para a história como o último registro do Triumph, e infelizmente, um registro não digno da grandeza dessa banda fantástica!

André: Conheço menos do Triumph do que eu deveria. Então tirando algumas poucas músicas, assisti ao show quase que como ouvindo uma banda antiga desconhecida. Achei uma performance bacana e segura de uma banda de hard rock setentista. Acho que no caso da musicalidade deles, os anos prejudicam um pouco a questão de desempenho (principalmente em relação as faixas mais velozes), mas para uma banda veterana e experiente, foi um disco muito agradável. Deu mais aquele incentivo a ir atrás de mais discos deles.

Daniel: Sempre penso no Triumph como um grupo “criminosamente” subestimado. Basta ouvir o repertório presente neste álbum, com canções cativantes e com execuções bem fiéis aos originais presentes nos discos. Nunca havia ouvido e certamente vou voltar a este álbum.

Davi: Depois de aproximadamente 15 anos afastados do palco, o Triumph voltava à ativa. E aí? Será que funcionaria? Será que os músicos ainda dariam liga? E, sim, embora não tivessem tido muito cuidado com o visual (algo que fica claro para quem já assistiu ao DVD dessa apresentação), musicalmente a banda ainda tinha lenha para queimar. O show não tinha grandes novidades. Mike Levine, Rik Emmett e Gil Moore subiram ao palco, acompanhado de Dave Dunlop e relembraram os números mais marcantes de seu período auge. O repertório focava o período de 1977 a 1982. Ou seja, de Rock & Roll Machine  à Never Surrender. Na minha opinião, o melhor momento deles. Rik e Gil estavam com a voz em dia e a banda estava até que redondinha. Claro, não dá para comparar essa performance com a de Stages, nem a do US Festival, mas é um show bem agradável de assistir.

Fernando: Esse foi o que mais curti reouvir. Curto muito o Triumph, sempre achei ótima esse balanço que eles fazem com o hard rock e o progressivo, seus músicos são ótimos, grandes vozes, mesmos dando para perceber o óbvio declínio do que eram nos anos 80, mas nada que interfira muito na qualidade da execução. Achei ótima a versão de “Rocky Mountain Way” de Joe Walsh. Não costumo ouvir muitos discos ao vivo, porém esse vai acabar voltando ao som daqui uns dias.

Ronaldo: Não sou um grande conhecedor do repertório do trio canadense Triumph. Mas a primeira levada de bateria do disco já transporta o ouvinte para a década de 1980 e se essa é a intenção do ouvinte, a diversão está garantida. Tudo é  tocado com muito gás, bem cantado e executado. “Magic Power” tem aquele vocal agudo característico do rock de arena dos anos 80 e há ótimos momentos em todo o disco, que inclui uma boa versão de “Rocky Mountain Way” de Joe Walsh.

Mutantes – Barbican Theatre [2006]

Mairon: Outro retorno surpreendente. Creio que nem o mais esperançoso fã dos Mutantes (e eu me incluo entre eles) acreditava que um dia Arnaldo Baptista e Sergio Dias iam voltar a dividir o mesmo palco, ainda mais com Dinho Leme na bateria. Ok, Serginho fez uma jogada de mestre, pegou os (exímios) músicos que o acompanhavam em carreira solo, trouxe a voz de Zélia Duncan para substituir Rita, e assim foi para Londres em 2006 fazer um show sensacional. O repertório é perfeito, calcado essencialmente na fase Rita, e se aproveitando dos arranjos de Tecnicolor, o álbum que era para ter sido lançado na Europa, acabou não saindo nos anos 70, mas chegou ao mundo no início do século atual. Deste, ouvimos “Le Premier Bonheur du Jour”, “El Justiciero”, com uma linda introdução do violão de Sergio, “I’m Sorry Baby (Desculpe Baby)”, “I Feel A Little Spaced Out (Ando Meio Desligado) e “A Minha Menina”, todas ótimas, como manda o figurino Mutante. Somos surpreendidos com inesperadas apresentações para “Ave Gengis Khan”, “Cantor De Mambo”, com a engraçada apresentação de Serginho, e Arnaldo mandando ver nos vocais, “Ave Lucifer” e “A Hora e a Vez Do Cabelo Nascer (Cabeludo Patriota)”. É arrepiante ouvir a entrada com “Don Quixote” e “Caminhante Noturno”, parece que somos jogados aos anos 60. E claro, quando Arnaldo canta “Dia 36”, lágrimas correm pelo recinto. Tive a oportunidade de ver essa turnê em 2007, acho que foi o show que mais chorei em minha vida, e pena que o retorno durou pouco, mas o suficiente para fazer um grande registro, e uma grande turnê. Em tempo, Zelia não decepciona em nenhum momento, principalmente em “Baby” e “Fuga N° 2”, e Serginho ainda era (e é) o mais talentoso guitarrista que o Brasil já pariu! Grande disco!

André: Por mais que se elogie o esforço dos irmãos Dias de se aguentarem e voltarem a tocar juntos, não tem como desconsiderar o clima ruim dos bastidores desse retorno que viria logo depois a culminar na saída de Arnaldo no meio da turnê. Aliás, é triste ver ele ali sentado no teclado meio deslocado do restante, mesmo ocupando o centro do palco. OK, tem a questão da saúde e mesmo seus vocais não estarem lá em grande forma, mas porra, é o Arnaldo Baptista. Sinceramente, não consigo ver esse show e escutar estas gravações sem aquela sensação de incômodo. Aliás, não condeno o Sergio por essa tentativa. Apenas que foi a constatação definitiva que ele tem que levar a banda sozinho mesmo.

Daniel: Outro álbum que eu curti a audição. Sérgio Dias e Arnaldo Baptista capricharam na escolha do repertório e, mesmo que algumas execuções fujam dos originais, o resultado final me agradou. Gostei da presença do coral e se Zélia Duncan não é a Rita Lee, não chega a fazer feio. É outro álbum da lista que voltarei a ouvir em breve.

Davi: Assim como a do Led Zeppelin, essa foi uma reunião que me surpreendeu positivamente. Quando anunciaram que estariam fazendo esses shows, não botei muita fé. Ao contrário de muitos dos meus amigos, sempre preferi a fase tropicalista à fase progressiva, portanto, a figura da Rita Lee, era uma figura importante, para mim. E embora goste do trabalho da Zélia Duncan, me questionava se seria a cantora adequada para o projeto. Quando adquiri o CD e o DVD, lembro que fiquei bem impressionado. A banda estava com uma qualidade técnica muito alta e Zélia soube se adaptar ao projeto. Sua voz casou bem às canções. Eu, particularmente, sempre fui muito fã do Sérgio Dias. Para mim, trata-se de um dos melhores guitarristas do nosso país. E sua performance aqui é irretocável. Já Arnaldo, não tem como deixar de notar que estava bem debilitado. Principalmente, na parte vocal. Independente disso, a performance, como um todo, é excelente. Trata-se de um trabalho muito bem desenvolvido, com um ótimo repertório, que vale a pena você ter em sua prateleira. Trabalho que considero superior ao Mutantes Ao Vivo (1976), inclusive.

Fernando: Vamos lá … (deixa eu me preparar para as pedradas). Eu não tenho interesse nos Mutantes. Já ouvi bastante, até para tentar me habituar e por insistência encontrar o motivo de tanta admiração que muitos dos meus amigos vêem na banda. Eu não sei o que exatamente me incomoda, mas creio que a mistura de MPB e toda aura bicho grilo que a banda passa seja o motivo. Entretanto acho demais que lá fora o interesse por eles também tenha sido grande e achei uma pena não terem seguido mesmo com a grande aceitação que essa reunião teve na época.

Ronaldo: Ajudou o fato desse disco ao vivo dos Mutantes ser apoiado por um conjunto de músicos jovens e bem talentosos apoiando os veteranos irmãos Batista. Penso que se a coisa dependesse apenas deles em seus respectivos  instrumentos e vozes, o resultado ficaria bem prejudicado. Além disso, a banda não economizou nos playbacks e efeitos externos; temos aqui o registro de um espetáculo bem planejado e executado. Sergio Dias, nos momentos em que os holofotes lhe estão voltados, não decepciona e mostra sua envergadura técnica. Já Arnaldo Baptista, por sua condição de saúde, tem mais papel de figuração (tanto é que depois de algum pouco tempo, a banda prosseguiu sem ele apresentando o mesmíssimo show). Algumas adaptações dos efeitos psicodélicos dos discos da época para o palco ficaram muito interessantes e é louvável o esforço da banda nesse sentido. Como crítica, apenas a velocidade excessiva em algumas músicas e as adaptações para o inglês, que ficaram bem esquisitas. A nata do repertório tropicalista dos Mutantes está toda contida no disco, que é um trabalho agradável de se ouvir no geral.

Cream – Royal Albert Hall London May 2-3-5-6 2005 [2005]

Mairon: Grande retorno aos palcos de Ginger Baker, Eric Clapton e Jack Bruce, para mim é o melhor retorno destes cinco aqui apresentados, muito por conta de que o trio está em ótima fase. Uma curta série de apenas quatro shows em maio de 2005, no Royal Albert Hall  de Londres, foram compilados nesse excelente álbum.  Repertório é fantástico, e é incrível como os anos passam, mas ainda assim, Bruce parece querer engolir Clapton, enquanto Baker quer engolir os dois, e Clapton, vendo que está sendo engolido pelos colegas, tenta herculeamente se desgarrar dos dentes afiados dos mesmos. De cara, “I’m So Glad” já mostra uma bela jam, o que vai sendo ampliado em “Born Under A Bad Sign”, “N.S.U.”, “Sweet Wine” e essencialmente, a clássica “Sunshine of Your Love”. Como não viajar em “Sleepy Time Time”, “Politician, “Spoonful” e “White Room”? Bruce é para mim o centro das atenções, cantando como nunca (ou como sempre) em “Deserted Cities Of The Heart”, “Pressed Rat & Warthog”, mandando ver na harmônica de “Rollin’ And Tumblin’ “, e arrancando lágrimas de estátuas e almas na arrepiante “We’re Going Wrong”, que música linda, PQP!!!!!. As faixas onde Clapton canta são as mais fraquinhas, com exceção de “Stormy Monday”, que só a introdução já faz o c* cair da bund@ com mais naturalidade que uma manga madura caindo da mangueira. Potências sonoras para lembrar como o Cream foi uma banda incrível e revolucionária em sua época. Posteriormente ainda houveram shows nos EUA, mas este foi o último registro oficial do grupo, e que registro!

André: Esse show demonstra bem o que ocorre quando o coração dos caras não está ali naquela reunião. Eric e Jack não harmonizam direito as vozes, a bateria de Baker soa sem vida e o próprio Bruce não parecia estar nada bem neste dia, embora seu esforço seja visível. Como era de se esperar, a reunião foi para uns poucos shows e Baker e Bruce quebraram o pau novamente. Para ajudar, não sou lá grande fã de nenhum dos três. Embora tenham grandes músicas, sem um pouco que seja de consideração aos colegas com quem você toca, dificilmente essas reuniões funcionam. Caso desta aqui.

Daniel: De todos os álbuns da lista, este é o que eu mais ouvi – e aquele de qual mais gosto. As versões aqui apresentadas, por vezes estendidas, agradam-me muito. Bom, em resumo, um desfile de clássicos que fazem jus ao mito em torno da banda.

Davi: Quando foi anunciada essa reunião, lembro que fiquei bem empolgado. O Cream é uma banda que faz parte da minha formação musical e o Eric Clapton sempre tive como um ídolo. No entanto, quando o álbum foi lançado, lembro que fiquei bem decepcionado com o resultado final. Sim, Eric Clapton estava tocando como nunca e entregando um ótimo trabalho vocal. Jack Bruce estava bem no baixo, mas parava por aí. Infelizmente, a voz de Jack Bruce não era mais a mesma e o vigor dos músicos também não. Ainda que o repertório fosse excelente, e recheado de clássicos, as músicas soavam sem punch, sem vida. Toda aquela energia que tinham no passado, foi por água abaixo. (O Ginger Baker parecia que estava tocando bateria usando um par de cotonetes). É um trabalho que vale como item de coleção, apenas. É um show que valeu pela curiosidade.

Fernando: Foi curioso quando ouvi esse álbum pela primeira vez. Eu estava exatamente em uma fase de descobrir o Cream. Estava ouvindo muita coisa que eles tinham feito lá na época deles e quando surgiu essa reunião e o disco saiu foi como se para mim eles nunca tivessem se separado. Então, para mim, não teve o fator de grande espera e expectativa pela volta. Foi como se uma banda atual que eu gosto muito lançasse um álbum ao vivo. E é um grande álbum, repertório certeiro e execução sem críticas.

Ronaldo: Nem gosto de ouvir muito esse disco, porque minha decepção foi grande com esse material. Não julgo os caras por quererem voltar após tantos anos após o término da banda. Contudo, é nítido perceber que o trio perdeu o “timing” de fazer esse esforço. Tudo soa muito sem energia, cansado e desgastado, o que é particularmente frustrante para um repertório que em sua época soava tão fresco (e até hoje soa assim para meus ouvidos). A cozinha do Cream era uma explosão, química pura, e nesse disco soa como uma fagulha fraquejante. Eric Clapton, mesmo mais contido, ainda soa muito bem, mas o mesmo não se podia dizer dos já falecidos Ginger Baker e Jack Bruce.

Genesis – Live Over Europe 2007 [2007]


Mairon: A Turn It On Again: The Tour marcou o retorno do time trio do Genesis (Phil Collins, Tony Banks e Mike Rutherford) junto de Daryl Stuermer e Chester Thompson, aos palcos. A ideia era trazer o quinteto com Peter Gabriel e Steve Hackett, mas acabou sendo a formação da fase pop do grupo que perambulou pela América do Norte e pela Europa, onde foi registrado Live Over Europe 2007, e o DVD When in Rome. Assisti o DVD inúmeras vezes, então, ouvir Live Over Europe 2007 certamente remonta as imagens daquele show. O track list lembra bastante a sequência The Way We Walk, curiosamente os últimos ao vivos da banda antes desse, recolocando novamente o fã nas apresentações da banda na turnê de We Can’t Dance, mesclando os grandes sucessos dos anos 80 com alguns clássicos dos anos 70. Todos estão em excelente forma, e claro, os momentos das Longs são as que mais me chamam a atenção, com especial atenção para a trinca “In the Cage”/”The Cinema Show”/”Duke’s Travels”, a sensacional “Domino” e as duas partes de “Home by the Sea/Second Home by the Sea”. Gosto muito dos clássicos da fase pop, “No Son Of Mine”, “Turn It On Again”, “Land of Confusion” e “Mama”, e fiquei muito surpreso com a inserção de faixas mais obscuras, como a linda “Ripples” e a sensacional “Los Endos”, com a introdução “Conversations with 2 Stools” onde Collins e Thompson dão um show a parte solando apenas em duas banquetas. Incrível! Claro que as baladas melosas teriam que aparecer, foram grandes sucessos, mas confesso que não é o que mais admiro no grupo. Disco muito bom, para uma audição muito boa, que funciona como uma boa coletânea dos aos vivos da fase trio. Um detalhe, Live Over Europe 2007 acaba perdendo, em relação a When In Rome, toda a espontaneidade e diversão de ver Phil Collins falando em italiano durante as canções, assim como assistir o duelo nas banquetas é algo marcante. Mas isso é um mero detalhe. Pena que a banda não seguiu adiante com esse projeto. Teria sido muito bem vindo por aqui.

André: Mesmo eu também não sendo grande fã do Genesis, aqui eu tenho que tirar o chapéu para os caras. Apresentação incrível e divina, com Collins ainda cantando muito e a banda afiadíssima. Tony Banks eterno mestre dos teclados. Mesmo dando pouco valor ao prog do começo da carreira, acho que um fã da banda (principalmente da fase Collins) deve considerar muito em ouvir esta bela apresentação.

Daniel: O Genesis é bem provavelmente a minha banda favorita dentro do Progressivo, mas curto apenas a “fase Peter Gabriel”. Nunca havia escutado este álbum e ao pesquisar sobre o que se tratava vi que era uma reunião do conjunto, mas sem Peter Gabriel e Steve Hackett. Aí, de antemão, já não me empolguei muito para a tarefa. Resultado final: larguei na metade – não é pra mim.

Davi: O público do Genesis sempre foi dividido. Há quem prefira a fase prog de Peter Gabriel, há quem prefira a fase mais pop e radiofônica, com Phil Collins no microfone. Descobri o Genesis durante essa fase mais comercial. O primeiro álbum que ouvi deles foi o LP auto-intitulado, que tem “Mama” e “That´s All”. Vivi bastante essa fase. Portanto, nunca tive problemas com esses discos. Mais do que isso, realmente curto o trabalho que fizeram nesse período. E já que o cantor, nessa apresentação, era o Phil Collins, era justamente essa a fase que mais queria ouvir. Aqui, a banda deu uma mesclada no material trazendo músicas dos dois períodos, numa tentativa de querer agradar aos dois públicos. Tentativa frustrada. Acabou agradando mais o publico da segunda fase. Até porque não há nenhum momento de grandes ‘viagens’ por aqui. O resultado final é bom. O Genesis sempre teve uma qualidade técnica muito alta (mesmo no período mais pop) e Phil Collins ainda estava cantando muito bem. Sim, cantando de maneira mais suave, descendo um pouco o tom em alguns momentos, mas nada que prejudicasse ou frustrasse. Ainda que eu prefira os dois volumes do The Way We Walk, não tem como descer o cacete. É um trabalho muito bem feito. A única coisa é que, na mixagem, eu teria deixado o som do público com um pouco mais de evidência, mas isso é chatice minha, é claro.

Fernando: Tenho um sentimento dividido por esse disco. De um lado, seria um sonho poder assistir à esse show, ver esses caras que eu admiro tanto. Já vi em vídeo e fico me imaginado lá no local. Seria incrível!!! Porém, para um disco ao vivo de uma grande banda é ruim quando ela foca praticamente em apenas uma fase de sua história. Eu gosto de ouvir os discos dos anos 80, não sou fã purista que abandonou a banda por conta de uma mudança de direcionamento. Porém, gosto tanto dos discos progressivos que é uma pena que tenham abandonado aquele repertório. Aliás, nessa época o Genesis perdeu a chance de ter sido a única grande banda de prog dos anos 70 a se reunir com sua formação clássica. Eles eram os únicos a poder fazer isso e agora, com as limitações físicas de Phil Collins, isso já não é mais possível.

Ronaldo: O apuro técnico do Genesis manteve-se intacto mesmo durante suas incursões na música pop a partir do fim dos anos 70. Não é diferente neste registro de 2007; há muito que se admirar em termos técnicos de música. A audição é agradável e a qualidade de gravação é formidável. Os poréns residem no repertório, no qual os fãs do Genesis progressivo quebram a cara, já que o lado pop tem maior destaque (o disco é uma coletânea de diferentes shows na Europa) e, mesmo as músicas do repertório prog adquirem uma roupagem mais polida, particularmente pelos teclados e pela bateria mais econômica. Engraçado que se nas bases e na sonoridade a banda economiza, há um desperdício de notas no icônico solo de guitarra de “Firth of Fifth”, que soa sem alma quando comparado ao original. Se por um lado, é compreensível que a banda valorize mais o repertório com o qual passou a lotar estádios e tocava em FMs ao redor do mundo, por outro lado é duro perceber que o Genesis chegou onde chegou rodando a estrada de um outro estilo e isso não pode ser apagado de sua história.

segunda-feira, 7 de setembro de 2020

Livro: A Divina Comédia dos Mutantes [1995]



Nada mais justo que hoje, dia da "Independência do Brazil", trazer aqui um texto sobre a maior banda que o país pariu em seus 520 anos de "descoberta", Os Mutantes. Há quase um ano, escrevi sobre o livro Rita Lee - A Autobiografia, lançado pela eterna ex-Mutante em 2017, e desci um pouco a lenha no livro, por diversas situações que você pode conferir aqui. Naquele livro, Rita, entre críticas diversas a pessoas diversas, critica também Carlos Calado, autor da biografia A Divina Comédia dos Mutantes, lançado primeiramente em 1995, e que até hoje, já recebeu uma segunda edição em 1996, e uma terceira em 2012.

Claro, o livro tem quase 25 anos, então é natural haverem outras edições, mas honestamente, para mim esse é uma das melhores biografias lançadas em nosso país sobre um artista legitimamente brasileiro. Com 360 páginas, 22 capítulos mais Prefácio por Mathilda Kóvak, Agradecimentos, Índice Remissivo, Discografia, Bibliografia e Crédito das diversas imagens raras que aparecem ao longo do livro, A Divina Comédia dos Mutantes é um prato cheio para quem quer conhecer a história da banda mais importante da história do Brasil, e por que não, uma das maiores do mundo.


O livro começa relembrando a tragédia que envolveu Arnaldo Baptista, quando o mesmo jogou-se, no dia 31 de dezembro de 1981 (aniversário de Rita), do terceiro andar do Hospital do Servidor Público de São Paulo, narrando todo o drama da recuperação de Arnaldo, e depois, em ordem cronológica, conta a formação dos Mutantes de forma envolvente e de fácil leitura, fazendo com que o texto passe rapidamente por nossos olhos. A infância e adolescência dos irmãos Sergio, Arnaldo e Claudio (o quarto Mutante) Baptista, bem como de Rita, são os primeiros capítulos, destacando as primeiras bandas e apresentações dos mesmos, até chegarem ao grupo O'Seis.

Nesta passagem, muito bem detalhada, destacam-se a criação do Six Sided Jazz, que mudou rapidamente para Six Sided Rockers, e então O' Seis, as apresentações dos Rockers na TV (Programas Jovem Guarda, Show em Si-monal, Papai Sabe Nada e Almoço Com as Estrelas), a primeira gravação com um Mutante (o compacto "Pertinho do Mar" e "O Meu Bem Só Quer Chorar Perto de Mim", de Tony Campello, acompanhado pelas Teenage Singers, que tinham Rita nos vocais), e a gravação do raríssimo compacto do O'Seis.


No limbo pós debandada geral dO'Seis, surge Ronnie Von, responsável por acolher o trio Rita, Arnaldo e Sergio, além de batizá-los, e levá-los para a TV, cuja estreia foi no dia 15 de outubro de 1966, no programa O Pequeno Mundo de Ronnie Von. Surgem as participações no Quadrado E Redondo da TV Bandeirantes, Divino Maravilhoso da Tupi, os encontros com Gilberto Gil e Caetano Veloso, e os Mutantes participando (e chocando) nos grandes festivais nacionais da segunda metade dos anos 60. Novamente, Calado preenche o texto com muitos detalhes, o que torna a leitura bastante atrativa, e ainda traz informações pertinentes e raras, como a participação do grupo no filme As Amorosas, o registro de Tropicália ou Panis et Circensis, disco símbolo do tropicalismo, contando com o trio,  o inflamado discurso de Caetano no TUCA em 1968, durante o FIC daquele ano, e a esperada (e elogiada) estreia de 1968, no álbum homônimo que hoje é aclamado como um dos Melhores Lançamentos nacionais da história. Outro ponto interessante, e bastante desconhecido até então, foi o festival organizado por Caetano na boate Sucata, contando com os Mutantes, que acaba levando a conturbada prisão (e deportamento) de Caetano e Gil em 27 de dezembro de 1968.

Com o status de grande banda alcançado logo no primeiro lançamento, chega então Mutantes, o segundo disco, e a estreia de Dinho "I Du Rancharia" Leme na bateria. O autor traz a primeira passagem do grupo pela Europa, apresentando-se no MIDEM, em Cannes, França (1969), onde ganharam muitos elogios da imprensa francesa, apresentações em Portugal, e ainda uns dias de férias nos EUA, onde viram Janis Joplin, que deixou-os de boca aberta, e decepcionaram-se com os Mothers de Frank Zappa. 




Como novidade não-musical para os fãs da banda, Calado traz detalhes da participação da banda como convidados da Feira de Utilidades Domésticas de São Paulo, em abril de 1969, com o desfile Moda Mutante, apresentando as coleções masculina e feminina da Rhodia, com os Mutantes como atração central, em um evento que durou quase três semanas, e a peça de teatro Planeta dos Mutantes, espetáculo que estreou em julho de 69, escrito e idealizado pelo trio, e que chocou a pauliceia desvairada com cenas bastante bizarras, e que acabou resultando em certo prejuízo financeiro ao grupo. Porém, é aqui onde a sonoridade dos Mutantes começa a mudar.

Essa mudança aparece em A Divina Comédia Ou Ando Meio Desligado, que contou com a fundamental colaboração do amigo Élcio Decário nas composições, Liminha, fã dos Mutantes desde adolescente, no baixo e participações de Naná Vasconcelos e Raphael Vilardi. Arnaldo mergulha nos teclados, influenciado pelo que viu e ouviu na Europa, e começa a ter suas primeiras brigas e separações com Rita, levando inclusive a uma breve "estacionada" dos Mutantes, já no final de 1969, com Rita passeando pela Europa e Arnaldo viajando de moto pela América Latina. Essa separação acabou sendo boa visualmente para Rita, que acabou sendo convidada para ser protagonista dos shows-desfiles Nhô-Look e Build Up, outra grande novidade para os fãs do grupo, e também lançou seu primeiro álbum solo, Build Up, com participações dos demais membros da banda.


Com a chegada dos anos 70, os Mutantes mudam-se para a serra da Cantareira. Novamente, a banda vai à Europa, agora para uma temporada de shows no Olympia francês. Voltam ao Brasil para fazer parte do elenco do programa Som Livre Exportação, da Rede Globo, e com muitos ácidos europeus na mente, registram Jardim Elétrico, disco com canções de um álbum inicialmente planejado para ser lançado na Europa (Technicolor), mas que acabou ficando engavetado por quase 30 anos, e mais algumas novidades. Os detalhes que Calado nos apresenta até aqui são muito reveladores não só da intimidade mutante, mas da importância e pioneirismo do grupo em ser um dos primeiros nomes nacionais a conseguir conquistar o mercado europeu com shows lá no Velho Continente, destacando ainda mais a relevância do nome Mutantes para a música mundial.

Envolvidos pela fácil e repleta de informações leitura, chegamos em 1972, e no capítulo 17, com os Mutantes lançando seu quinto álbum, e metendo-se em uma empreitada fantástica: uma turnê itinerante por pequenas cidades do país, começando por Guararema, onde foram saudados pelo prefeito local. Sobre Mutantes e Seus Cometas no País dos Baurets, brigas com a censura e a exploração instrumental da faixa-título são os destaques. Com a casa na Cantareira, a banda passa a cada vez mais fazer ensaios e improvisos, culminando com uma forte guinada para o rock progressivo britânico de Yes e ELP (principalmente). Rita e Arnaldo separam-se novamente, com Rita indo para a Inglaterra, e na sua volta, gravam Hoje É O Primeiro Dia do Resto das Suas Vidas, segundo disco de Rita, mas que na verdade, é um álbum totalmente Mutantes.


Da Inglaterra também veio Mick Killingbeck, que mudou totalmente a cabeça dos rapazes da banda, tornando-se um guru de Arnaldo (e um affair de Rita). Ele é um dos principais influenciadores de "Mande Um Abraço Pra Velha", última canção com Rita na banda, já que logo em seguida, após declarar "estar cansada de ser o Jon Anderson", a ovelha negra havia sido demitida (ou convidada a deixar a banda) por Arnaldo. Esse é o ponto mais delicado de A Divina Comédia dos Mutantes. Calado coloca o dedo na ferida, e acaba sendo sensato, atribuindo a separação para os dois lados em termos de culpa (uma Rita que queria ser estrela e um grupo de rapazes que queriam ser a melhor banda do país).

O ano de 73 começa com o grupo vivendo a fase Uma Pessoa Só. Calado nos apresenta as gravações de O A E O Z e diversas apresentações da banda naquele ano, com o show Mutantes com 2 Mil Watts de Rock, para a época, o maior espetáculo sonoro que o país já vira. Calado também apresenta a (única) apresentação das Cilibrinas do Èden, banda formada por Rita e a amiga Lucia Turbull, na Phono 73, e os graves problemas de Arnaldo com as drogas, culminando com sua saída da banda (ele mesmo se demite) por tentar impor uma apresentação gratuita em São Lourenço, Minas Gerais, o que foi descartado pelos colegas de forma unânime. Arnaldo foi sozinho para Minas, e ali entrou em derrocada na carreira, enquanto Rita monta a Tutti Frutti e começa sua longa carreira solo de sucesso. Ah, o álbum Loki! também é narrado por Calado, em um clima de muita dor e emoção.

Chegamos na reta final do livro, com Sergio tocando o Mutantes e suas diversas formações, seja com Manito, Túlio Mourão ou Luciano Alves nos teclados, o batera Rui Motta e Antonio Pedro e Paul de Castro no baixo. É a época dos shows lotados, músicas longas e viajantes, das gravações de Tudo Foi Feito Pelo Sol - curiosamente, até então, o álbum do grupo que mais havia vendido - e Ao Vivo, de uma turnê pela Itália, e o fim de uma das bandas mais importantes da história da música nacional. A tentativa frustrada de unir o trio original em 1992, em um show de Rita, é tratada rapidamente por Calado, que conclui o livro dando um panorama atual (na época) de cada membro que passou pela banda.


Sergio, Arnaldo e principalmente Rita desceram a lenha no livro sem exagero algum. Tudo bem, o autor pode ter se passado em algumas informações bastante pessoais (principalmente nos casos amorosos e extra-conjugais do trio), mas esse tipo de fofoca é pouco perto da grandiosidade de pesquisa (foram quase 2 anos de trabalho e mais de 200 entrevistas) e informações que A Divina Comédia dos Mutantes traz. Para quem é um fã da banda, é uma ótima pedida de investimento. E para quem está a fim de aprender muito sobre uma época que não volta mais, e de todo o pioneirismo de Arnaldo, Claudio, Rita, Sergio, Liminha e Dinho, terá em mãos uma ótima escolha. 

domingo, 29 de setembro de 2019

Livro: Rita Lee - Uma Autobiografia [2017]


Em janeiro de 2017, através da Globo Livros, chegou às lojas o alaranjado livro Rita Lee - Uma Autobiografia, trazendo a história da Rainha do Rock nacional, Rita Lee Jones, narrada pela própria. Para os fãs da cantora que fez sucesso ao lado de Mutantes, Tutti Frutti e principalmente, do marido Roberto de Carvalho, Rita conta sua vida como uma vovó sentada diante dos netos comendo bolinho de chuva e tomando chá, e apresentando muitas fotos pessoais (algumas ilustrando essa matéria).

A facilidade na escrita de Rita torna a leitura fácil e rápida. Através de diversos mini-capítulos, e tentando seguir uma ordem cronológica, a autora narra desde sua infância cheia de peripécias ao lado das irmãs no casarão da Vila Mariana em São Paulo, sob os olhares severos e rígidos do "General" papai Charles, até o presente momento, quando decidiu aposentar-se de vez do brilho dos holofotes e viver a vida ao Deus dará. Isso sem jogar muita merda no ventilador, inclusive do seu próprio. O tom depreciativo em termos de diversos nomes citados ao longo do texto, e da própria família de Rita (a qual ela chama de Família Buscapé) pode ser até engraçado de início, mas não convém para um livro de tão importante relevância, já que estamos tratando do maior nome feminino do rock nacional.


Com o pai Charles e o filhote de jaguatirica Guna

Mas voltando as merdas na vida de Rita, uma delas é o fato de ter "perdido a virgindade" com um técnico da máquina de costura Singer que foi consertar a máquina de sua mãe e enfiou uma chave de fenda em sua vagina, isso quando ainda era criança. Nessa mesma época, a menina Rita ficou tão nervosa em sua primeira apresentação em público, tocando piano, que acabou se urinando em pleno palco. Outros grandes problemas surgem ao longo do livro, como a sua conturbada relação com o álcool, que a levou a ser internada por diversas vezes em clínicas de reabilitação. Ainda, Rita trata sem rodeios do acidente que esfacelou o seu maxilar e quase a impediu de cantar em meados dos anos 1990, justamente por conta da bebida, e de várias de suas operações (mastectomia, hemorroida, cordas vocais, retirada da vesícula) e da suspeita de Mal de Parkinson. Ou seja, toca na própria ferida sem medo de sentir dor.

Em termos de carreira musical, Rita apresenta primeiramente sua fase junto aos Mutantes, com a fusão das Teenage Singers (grupo vocal que contava com Rita entre os membros) com os Wooden Faces (que contava com o que Rita chama de triumvirato dos mano: Sergio Dias na guitarra, Arnaldo Baptista no baixo e Cesar Baptista na bateria) no grupo O'Seis. As participações nos programas de Ronnie Von, Quadrado e Redondo, Divino Maravilhoso, Astros do Disco, bem como os festivais da época, e até a peça de teatro O Planeta dos Mutantes, estão presentes sem muitos detalhes, assim como comentários muito breves sobre os cinco discos que Rita lançou junto ao grupo.


Rita no final dos anos 60

De interessante, ficam a seção de fotos para a capa de A Divina Comédia ... Ou Ando Meio Desligado, realizadas na cada dos Baptista, e que segundo a autora, por terem sidos pegos nus na cama da mãe Baptista, foi o estopim para que a mãe de Rita obrigasse o casamento entre ela e um dos irmãos, mesmo ela namorando um flautista chinês chamado Thomas O. Lee, a passagem do grupo pela Europa, com Rita afirmando ter ficado constrangida com o lançamento de Technicolor (álbum intencionalmente gravado para lançar o grupo no Velho Continente, em 1970, mas que só viu a luz do dia nos anos 2000), os dias na Cantareira, período em que gravaram Jardim Elétrico, e claro, o desbunde com o fim do grupo, quando repentinamente, segundo Rita, durante um ensaio, Arnaldo falou: "A gente resolveu que a partir de agora você está fora dos Mutantes porque nós resolvemos seguir na linha progressiva-virtuose e você não tem calibre como instrumentista" ... "Uma escarrada na cara seria menos humilhante". Será? Vale citar que nesse ponto do texto, Rita já se vangloreia do seu álbum de estreia, Build Up, na qual o maior destaque, "José", foi uma música que ozmano detestaram, e que ela tinha muito orgulho.

No limbo entre Mutantes e Tutti-frutti, Rita traz uma viagem lisérgica para a Inglaterra, o dia em que conversou com Jimmy Page na Bahia, o jantar ao lado de Eric Clapton, quando convidou uma "amiga mala" que literalmente acabou com a noite, a formação da Cilibrinas do Éden, ao lado de Lúcia Turnbull, e como ela roubou as cobras de Alice Cooper (Mouchie e Angel) durante a turnê do americano pelo Brasil em 1973, isso com a ajuda do roadie (e novo affair) de Rita, Andy Mills.


No paraíso, com o marido e filhos

Da família ao lado do marido Roberto de Carvalho, há as histórias de seu início de relacionamento, o medo de Roberto não querer assumir ser o pai do primogênito Beto Lee, o nascimento dos três filhos, um aborto por conta de uma gestação extra-uterina, que a artista se condena até hoje, os sucessos dos discos lançados no final dos anos 70, início do 80, quando a rotina disco-show torna-se tão exaustiva que Rita, frustrada com lançamentos pouco inspirados, acaba decidindo parar com as turnês, e curtir muitas férias em lugares paradisíacos.

Também aparecem comentários sobre o programa Radioamador, que Rita apresentou na Rádio 89 FM, o programa TVLeeZão da MTV, e o sucesso da turnê Bossa 'n' Roll, que Rita fez ao lado de Alex, já que Roberto estava morando nos EUA na época da turnê (início dos anos 90). Também é comovente o relato da viciada Rita sobre seus conturbados problemas com o álcool, que quase acabaram com a família e a levou por diversas vezes à clínicas de reabilitação, além de uma queda feia que fraturou o maxilar e deixou Rita sem falar por alguns meses.


Uma das várias participações do "Ghost Writer"

Para trazer dados importantes que a autora esqueceu, o livro usa de um "ghost writer", o fantasminha Phantom (na realidade Guilherme Samora, um dos maiores colecionadores da vida de Rita no país), e que entrega diversas informações importantes ao leitor. Dentre elas, destacam-se: a primeira gravação das Teenage Singers, no raríssimo álbum autointitulado de Prini Lorez (1964); a estreia dos Mutantes no programa de Ronnie Von em 15 de outubro de 1966; O sucesso de Fruto Proibido (1975), que Rita diz que foi apenas um "disquinho bacana"; o inesquecível show de Ribeirão Preto, pós-prisão, quando os fãs subiram ao palco e arrancaram pedaços da roupa dela, enquanto ela seguia cantando, mesmo grávida; ...

Algumas pessoas recebem subcapítulos especiais, no caso Hebe Camargo, que ajudou a promover a carreira solo de Rita, Elis Regina, que tirou Rita da cadeia, onde ela ficou presa, grávida, por porte de maconha, algo que ela confessa ter sido uma grande injustiça, Ney Matogrosso, o cupido entre ela e seu marido, Roberto de Carvalho, João Gilberto, que convidou Rita para uma participação especial da Globo, e gravou a canção "Brazil com S", e Thomaz Green Morton, o Homem do Rá, que praticamente destruiu (segundo Rita) com a apresentação dela e do marido na apresentação do Rock in Rio de 1985. Até Yoko Ono é citada, sendo esta responsável por vetar canções/versões que Rita iria registrar no álbum Aqui, Ali Em Qualquer Lugar.

Mas nem tudo é uma maravilha no livro. Para começar, em diversos momentos Rita se perde divagando na sua relação com seus animais de estimação (cachorros, cobras, tartarugas, gatos e até onça), festas particulares e presenças de ilustres, como Bill e Hillary Clinton, e não traz detalhes das gravações de seus discos, seja com os Mutantes, seja com o Tutti Frutti. Sobre as gravações de seus principais clássicos com Roberto, Rita fala que "eram momentos de pura criação após grandes noitadas de sexo", e apenas isso. Parece que só uma boa trepada é o suficiente para criar um clássico.


Imagens do livro

O pior é quando fica extremamente chato de estar se lendo o livro e do nada, uma citação menosprezando Arnaldo aparecer. Parece amor retraído, ou então, necessidade de aparecer. Rita realmente coloca toda sua mágoa com o ex-mutante em diversos momentos, dentre eles, quando insinua que ele apenas está fingindo sequelas da famosa queda do terceiro andar do hospital psiquiátrico lá em 1982. Para quem não sabe, Arnaldo foi internado em um hospício e de lá, jogou-se na tentativa de escapar, ficando em coma durante um bom tempo e tendo sequelas gravíssimas até hoje.

Segundo Rita, Arnaldo resolveu jogar-se no dia do aniversário dela, de uma clínica meia-boca para "esquisitinhos" depois de ter queimado o piano da mãe. Rita foi avisada por uma fã de "Loki" que ele estava internado como um indigente. Graças a ela e Roberto, transferiram ele para o Hospital Samaritano, aos cuidados da fã (Lucinha, atual esposa de Arnaldo), que usava "cabelo vermelho e franjinha no melhor estilo Rita Lee". Tempos depois, ela ligou para Arnaldo fingindo ser uma secretária de Kurt Cobain, e ele falou fluentemente e sem gaguejar em inglês. É de um tremendo mal caratismo expor isso de tal forma, e principalmente, afirmar isso. Ainda, relata que durante seu casamento, "Arnaldo comia todas, enquanto eu dava umas voltas com Danny (cachorro de Rita) e fingia não saber nada". Muita mágoa e insinuações criminosas para pouco proveito de leitura ...


No quarto bordel da Rua Pelotas

Antes, ela já destrói a família Baptista. Liberal para sua época, "todos sofriam de renite, respiravam pela boca, babavam muito e cuspiam quando falavam". "Serginho, o caçula gordinho, nunca leu um livro na vida, raramente escovava os dentes, ..., o Sancho Pança do mano mais velho". Sobre Arnaldo, "das vezes que tentamos transar, foi broxante, eu sentia nojinho das babadas dele, que confessou que comigo era bem menos emocionante do que com uma boneca inflável". Se essas informações são verdadeiras, qual a necessidade dessas informações ao leitor? Sejamos honestos ... Ainda, Rita também relata que durante a turnê de Bossa 'n' Roll, tentou fazer um show de reunião com ozmano, mas que acabou não vingando justamente no momento que Arnaldo viu Sergio no palco, ficando revoltado e dizendo que não tocaria com alguém que usa Fender e não Gibson, na velha rivalidade transistorizados x valvulados. "Loki saiu indignado junto da fã-esposa-clone-da-rita-lee e eu, a bruxa que condenou os mutas ao ostracismo, fiquei lá, posando de paisagem".

Primeiro, Mutantes no ostracismo?? Segundo, para que insistir em chamar Lucinha de "clone de Rita Lee"??? É muita pretensão, exibicionismo, ou amor enrustido através de ciúmes mesmo? E digo ciúmes por que quando ela mesma se chama de A Lôka, com essa grafia, já no final do livro, não tem como não sentir uma pontinha grande de saudades do ex-marido ...


Pelada na praia

Para completar, e por que não, dar uma de advogado de defesa, esse parágrafo entrega o que eu tento dizer. Ao falar sobre a mudança que o trio Mutante passa do primeiro para o segundo disco: "Não que ozmano (n. r. Sergio e Arnaldo) fossem desimportantes dentro dos Mutas, muitíssimo pelo contrário, a virtuosidade de Sergio era fato inegável, apenas sua técnica instrumental se mostrava inversamente proporcional ao talento como compositor. De nós, era o que cantava melhor, apesar da mania de imitar Paul McCartney, o que eu considerava vergonhoso. Arnaldo tinhas ótimas ideias, tocava piano e baixo legal, em matéria de ousadia estava anos-luz à frente. Quanto a mim, não tocava nem cantava porra nenhuma". Ou seja, é muita auto-depreciação sem necessidade.

Todos sabemos como os Mutantes foram importantes para o mundo da música, tanto que recentemente, um canal russo elegeu o grupo como o segundo grupo brasileiro mais importante de todos os tempos, atrás apenas do Sepultura, e como nomes como David Byrne e Kurt Cobain, entre outros, babam pelo som dos caras. Então, esse tipo de declaração é no mínimo sem sentido, para não dizer outra coisa. Na obra definitiva sobre sua vida e carreira, que ficará para a eternidade e gerações pesquisarem quem foi Rita Lee, é triste ler tanto ódio e rancor.


A bebê Rita ao lado dos pais e irmãs


A analogia da turma do Bolinha e do Mágico de Oz com os colegas de MPB da época é tão ridícula e pedante quanto a citação que Rita faz para Chico Buarque (no baile, Rita avacalha também com Elis, Aninha, Edu Lobo, Geraldo Vandré e Sérgio Ricardo, além do grupo MPB-4). Outra que sofre nas mãos de rita é a "governanta-empresaria" Mônica Lisboa, que apesar de não ter o nome citado no livro, aparece por diversas vezes, sendo acusada de responsável por acabar com a carreira do Tutti-Frutti, e de usar do nome Rita. Durante as gravações de Entradas & Bandeiras, a mixagem foi totalmente realizada por Luis Carlini, que deixou o álbum "um festival de guitarras atropelando voz, vocais, teclados, baixo ... virou um disco do moço". Com isso, Rita se considera a mocinha ingênua de uma novela colombiana, ludibriada pelo cartel de Medellin (composto por Luis e da Governanta).

Por fim, têm informações muito complicadas de se acreditar. Primeiro, no capítulo Nojinho, ela afirma ter nojo das coisas, que não gosta de dar selinho e coisa e tal. É estranho no mínimo essa informação, já que no dia do lançamento deste livro, Rita distribuiu selinhos aos montes, e no próprio livro ela se auto-elege a criadora do selinho da Hebe ... Mas a pior delas é a pior delas é a de uma Bad Trip ao lado de um amigo (Baratão), no Rio de Janeiro, quando os dois pegaram meio quilo de cocaína e ficaram cheirando durante três dias sem parar. Qualquer um que acompanha programas de investigação criminal ou polícia sabe que meio quilo de cocaína é MUUUUUUUUUITA cocaína, e que se cada um tivesse consumido 250 gr de cocaína em três dias, com certeza não teriam durado para contar a história. É ler e fingir acreditar ...


No lançamento de seu livro


Enfim, o livro é tranquilo de ler, principalmente para quem quer uma linguagem "jovem", mas a ausência de informações pertinentes com uma carreira musical tão ampla, a quantidade de comentários azedos e pouco acrescentadores de conteúdos, e principalmente, o excesso de informações pessoais totalmente inúteis, tornam Uma Autobiografia aqueles casos que você lê uma vez e nunca mais pega novamente. E vamos agora reler o (também) criticado A Divina Comédia dos Mutantes, que para Rita, o autor apenas deveria ter ficado Calado (Carlos Calado é o autor do livro).

terça-feira, 22 de março de 2016

Na Caverna da Consultoria: Mairon Machado



Por Ronaldo Rodrigues
com colaboração de Fernando Bueno
Eis que chega o momento de conhecermos um pouco mais do mais profícuo escriba da Consultoria do Rock. Nosso "Na Caverna" de hoje traz Mairon Machado, o cara do Baú (não o da felicidade, mas quase isso), das Maravilhas (não o Bonde), das Notícias Fictícias que Queríamos que Fossem Reais e daquelas resenhas super esquadrinhadas, que tanto alegram e entretem nossos leitores.  Não precisa nem de estatística para saber que Mairon Machado detém a maioria dos textos já publicados pela Consultoria do Rock e, se hoje temos algum sucesso, muito disso se deve ao estilo apaixonado (e por oras polêmico) de sua escrita. Muitas histórias, muitos discos e curiosidades desse craque das letras e da física é o que você lerá abaixo!

OK COLEÇÃO 2
OK BOXES IOK BOXES II
OK COLEÇÃO 5
Coleção em geral e alguns dos Boxes que Mairon possui
Mairon Machado, ídolo da torcida dos Consultores do Rock, nosso craque da camisa 9. Fale um pouquinho sobre você, o que faz, sua rotina e como consegue descolar tempo para nos brindar com tanta quantidade e qualidade de textos. 
Mairon Machado (MM): Poxa meu caro, muito obrigado pelas palavras. Bom, tenho 33 anos, nasci em Pedro Osório, uma cidade de quase 10 mil habitantes no sul do Brasil, sou professor de Física com mestrado em Física e Doutorado em Ciências, na área de Física Teórica (isso não serve para nada, mas pelo menos dá um grau ao vivente aqui, risos). Atualmente exerço a função de coordenador do Curso de Licenciatura em Física do Instituto Federal Farroupilha, Campus São Borja, nota 4 CAPES, onde a nota máxima é 5 (a propaganda é a alma do negócio). Esposo da Bianca, pai do Iago e, por tabela, também do Bruno, um apaixonado por música desde pequeno, metido a escritor e um torcedor Xavante até o fim (apesar de também ter uma queda grande pelo Colorado dos Pampas). Bom, minha vida é bastante agitada, pois além de professor, o tempo como coordenador também exige que eu me dedique para a profissão, fora que amo minha família, e estou sempre dedicando atenção para minha esposa e meu enteado/filho, principalmente nos fins de semana. Como ela trabalha, por vezes acaba que fico sozinho em casa, e nesse tempo, dedico-me para as audições de discos. As vezes, no trabalho, preciso fazer algo que  necessita de atenção, e eu só me concentro com música. Então, coloco um disco para ouvir, e enquanto vou fazendo o serviço que tem que ser feito, vou rascunhando mentalmente um texto. Depois, é só sentar e colocar no wordpress,  além de catar as fotos.
Na real, como professor de uma disciplina considerada difícil como Física, largo para os alunos a tarefa de escrever tetos sobre bandas que eles nunca ouviram falar, e isso gera alguns pontos para eles. Existe um padrão no qual eles só vão adicionando adjetivos, nomes das músicas e algumas informações que só existem na cabeça deles, mas que vai para o ar e todo mundo acha que é verdade. O Mairon na verdade nem existe, é apenas um fake de um dos caras que comenta no site, mas que não posso revelar o nome nesse momento, mas tem um apelido bem carinhoso pelo pessoal do grupo (risos).
ELIS REGINA IELIS REGINA II
ELIS REGINA III
Coleção de Elis Regina
Como foi sua entrada para a Consultoria do Rock? O seu blog pessoal (Baú do Mairon) surgiu antes ou depois do seu ingresso no time de colaboradores?
MM: Eu entrei na Consultoria no final de 2010, através de um convite do Daniel (Sicchierolli). Vou ser bem sincero Ronaldo, por que tenho isso na garganta, e acho que é um momento propício para isso.  Naquela época, estávamos todos muito chateados com o que aconteceu com a Collectors Room. O dono daquele site, Ricardo Seelig (Cadão), havia praticamente largado o então blog em meados de 2008, e graças a Fernando Bueno, Daniel Sicchierolli, Eu e o Maurício Rigotto, o blog se manteve na ativa, e começou a gerar muitos acessos. Conseguimos novos colaboradores (você inclusive, foi um que passou a participar mais) e tudo estava indo muito bem. Ficamos como "donos" do negócio por um ano e pouco, e então, o Cadão decidiu voltar a ser o chefe, mas de uma forma muito ditatorial, barrando textos nossos, entre outras coisas. Quando os guris criaram a Consultoria, eles me convidaram logo em seguida. Eu relutei de início, mas pela insistência, resolvi lançar um texto que havia enviado para o Cadão (sobre o Moody Blues) e que ele havia negado, por ser um pouco longo. O pessoal publicou, e o Cadão simplesmente ficou puto comigo. Ele me mandou um e-mail cheio de desaforos, me insultou pelo Orkut (na época) e me expulsou da Collectors Room. Então, fiquei direto na Consultoria, mas como tinha um pequeno conhecimento da bipolaridade do Cadão, pedi para ele se podia copiar minhas matérias, pois no período que ficamos de "donos do blog", escrevíamos direto no editor de texto do blogger, e não havia salvo nada (tinha medo que ele apagasse minhas matérias). Em princípio, ele não se negou, e assim, nasceu o Baú do Mairon, como uma espécie de backup do que eu tinha na Collectors. O problema foi que em seguida que criei o Maravilhas do Mundo Prog, e novamente baixou a pomba-gira no dono da Collectors Room, que me insultou de novo. Então, sem avisar, ele simplesmente deletou todas as minhas matérias da Collectors, tudinho. Isso foi no início de 2011, e como eu estava terminando o doutorado na época, não tive tempo de copiar todas as matérias. Perdi muita coisa, como textos pessoais sobre bandas que nunca mais consegui ter a mesma capacidade (aquela espécie de inspiração) de escrever, como A-ha, Deep Purple, David Bowie, entre outros. Tentei entrar em contato com ele, pedindo que ele pelo menos recuperasse as matérias e me enviasse, mas nunca ele me respondeu. De qualquer forma, ele pelo menos tem o mérito, indiretamente, de com uma expulsão generalizada, ser o responsável por criar uma das coisas que mais gosto de fazer, que é a Consultoria.
Frank Zappa IFRANK ZAPPA II A223578_10200727802822488_9515114_n
FRANK ZAPPA IV
Coleção de Frank Zappa
Você tem um estilo bem próprio de escrever sobre discos e canções, descrevendo-as em muitos detalhes. Nosso colaborador Marco Gaspari até achou um neologismo pra isso - "maironmachadear". Como você desenvolveu essa forma de escrever? Como é seu processo de resenhar os discos?
MM: Bom, a culpa disso é do Marco. Ele foi o cara que me inspirou a escrever de um jeito que pudesse passar as informações o mais preciso possível para o leitor. Eu não tenho formação de escritor, mas sempre gostei de ler muito e também de escrever. Meus textos iniciais para a Collectors, eram curtos, com informações básicas. Foi depois que li uma matéria do Marco sobre a Flower Travellin' Band, uma das bandas que mais gosto, e mais difíceis de achar informação em português, na revista Poeira Zine, que percebi que um fã não quer saber mais do mesmo, ele quer saber algo diferente. Pode ser quantos shows a banda fez em uma dada turnê, qual a posição que o disco alcançou, quem era o integrante que saiu para entrar outro, qualquer informação adicional que não seja a tradicional. Foi então que decidi que, se ia escrever sobre algo, iria me aprofundar nisso. Passei a ler mais sobre música, buscar fontes confiáveis, assistir documentários, e principalmente, ouvir os discos, sentir o que cada música passa, e transmitir através de palavras o que eu penso sobre as mesmas. Foi assim que o Maravilhas do Mundo Prog ganhou dimensões de suíte (risos) mas também outros textos que acabaram nascendo. Por vezes, penso que é demasiado o que escrevo, e tento diminuir, mas infelizmente para os leitores, me acostumei com isso, e não acho legal fazer uma matéria curtinha onde eu não consiga trazer nada de novo. Mas repito, a culpa é toda do Marco (e do Machado de Assis também).
OK HARD 70
OK KEITH JARRETT E DUKE ELLINGTON
OK JAZZ
OK METAL
OK VIOLÕES
Do hard setentista ao heavy metal oitentista, passando pelo violão clássico e o jazz de Duke Ellington, Keith Jarrett, Miles Davis, John Coltrane e outros. Ampla variedade de estilos na coleção de Mairon
Outra característica marcante dos seus textos é a imensa variedade de temas e de diferentes estilos nos quais você se aventura a escrever. De free-jazz à música pop, da música experimental ao heavy metal. De onde surgiu esse seu ecletismo? 
MM: Velho, acho que isso vem de berço. Meu pai sempre estava ouvindo música em casa, e isso ia desde tangos e boleros até sambões e chorinhos, passando pelos grandes da Era do Rádio e música gauchesca, além de pop e um pouco de rock nacional. Só aí já dá para sentir que a absorção de estilos tão diferentes é bem profunda. Com o meu irmão, Micael, a coisa também foi sendo bastante abrangente, ou o que ele ouvia desde Pet Shop Boys e A-ha até Sepultura e Metallica no mesmo dia, passando por Rush e Legião Urbana, encerrando o dia com Ramones e Exploited. São formações diferenciadas, e isso vai sendo absorvido naturalmente. Como tive uma banda de World Music, meus dois colegas de banda tinham também estilos muito diferentes, mas éramos obrigados a ouvir o que cada um gostava para tentar chegar em um consenso do que iríamos (e podíamos) tocar. Foi aí que conheci o jazz e todas as suas subdivisões, assim como a música clássica e experimental, mas também tive contato com o death metal e o funk de raiz, os quais são ótimos de tocar na guitarra. Então, acabei curtindo de tudo um pouco, e como sei que não conheço nem um quinto do que muita gente que conheço conhece, e essa gente não conhece nem um quinto do que muita gente que só vejo em sites conhece, estou apronto para ouvir coisas novas. As vezes me surpreendo com bandas da nova geração, mas a velharia obscura dos anos 60 e 70 são as que mais me surpreendem, além dos clássicos como Chopin, Paganini, Beethoven, Mozart, Liszt entre outros, que sempre trazem novidades para os ouvidos.
Ao longo da trajetória da Consultoria do Rock, sempre existiram discussões conceituais, das quais você foi protagonista. Especialmente com relação aos limites do rock e a abertura do site para escrever sobre coisas fora do estilo. Qual a sua visão a respeito do que é rock? Qual a importância que você dá para este termo, de fato?
MM: Pergunta difícil. Rock significa pedra, então, pode ser algo duro. Mas "to rock" significa embalar, e então, poderíamos dizer que o rock é uma música que embala o corpo. Mas que tipo de embalo? Um jazz do Miles Davis certamente irá fazer você balançar a perna com um belo uísque em suas mãos, ao mesmo tempo que os Bee Gees e o ABBA embalaram (e ainda embalam) os sábados de muita gente. O funk gostoso de Sly & The Family Stone é embalador até da alma do vivente, e como não embalar a cabeça com as pancadarias do Possessed? Será que tudo então é rock? O nome Consultoria do Rock é bastante genérico, por que nos diz que nosso principal tema é o rock 'n' roll, mas na verdade, somos "consultores" do embalo, do que você leitor irá curtir (ou não), e damos dicas de coisas legais para ouvir, que farão você sentir-se embalado e feliz, e acho que é isso o que o rock pode fazer, seja qual rock você escutar.  Na real, acho que isso significa pouco perto do que é a música e sua capacidade de mexer com os sentidos do ser humano (e dos seres vivos em geral).
DAVID BOWIE 1DAVID BOWIE 2
DAVID BOWIE 3
David Bowie
Você também tem formação musical e é violonista. Conte-nos um pouco a respeito e como isso alterou a forma como você ouve e aprecia música.
MM: Na verdade eu não cheguei a fazer um curso para ser músico. Como disse acima, eu tinha uma banda. Montamos a mesma quando eu tinha 14 anos. Na época, achávamos que éramos capazes de fazer World Music (estilo que mistura ritmos diversos) e então, estudamos muita música e criação de música, mas tudo de uma forma muito amadora. Chegamos a conclusão de que a banda que mais podia nos ajudar a aprender a tocar era Rush. Então, começamos a "tirar" músicas como "YYZ", "La Villa Strangiatto", "The Camera Eye", "The Trees", "2112", "Cygnus X-1: Book Two - Hemispheres", entre outras. Quando vimos que aquilo já era banal nos ensaios, começamos a compor, e criamos músicas que até hoje eu gosto bastante, mas que infelizmente, não tiveram a oportunidade de ver a luz de um CD, afinal, apoio para cultura em uma cidade pequena, é impossível. Saímos cada um para um lado, mas eu não me afastei da música. Com um filho pequeno, fiquei com meu violão como um consolo, e então, decidi aprender violão clássico. Estudei bastante a obra de Andrés Segóvia, um dos maiores gênios da música (e considero poucos como gênios), além de John Williams, Julian Bream, Carlo Domeniconi, Sor, Turíbio Santos e Agustin Barrios. Quando vi Kazuhito Yamashita pela primeira vez, meu mundo caiu. O japinha detonando "Pictures at an Exhibition" fazendo tudo o que o Emerson Lake & Palmer fazia com apenas um único violão me fez cair no chão, e perceber que a música é muito mais do que meras notas extraídas do instrumento. Foi com a música clássica que passei a dar mais valor a composição e a criação, que unidas com uma letra bem feita, gera uma canção perfeita. Infelizmente, o violão tornou-se um hobbie muito distante , mas de vez em quando ainda brinco com ele. Quanto a banda, essa acabou há 12 anos ...
Quais as principais alegrias e tristezas que você teve nesses cinco anos de Consultoria do Rock (relacionado ao site)
MM: Alegrias são várias. Ter conhecido pessoalmente pessoas como Marco Gaspari, Daniel Sicchierolli, Diogo Bizzotto, José Leonardo, Pablo Ribeiro, você, o qual tive o privilégio de entortar várias cervejas, em um boteco sensacional na Urca, além de ter um contato praticamente diário com Fernando Bueno, Davi Pascale, André Kaminski, Bruno Marise, Reis, pessoas que fazem parte (ou fizeram) do consultoria, resgata aquela sensação dos anos 90, quando os amigos se reuniam para ouvir o novo álbum encontrado de uma determinada banda. O retorno dos leitores também é muito legal, seja pelos comentários com elogios ou quando um te reconhece em um show. Poxa, a sensação é muito boa, de saber que alguém que você nunca viu na vida chega e diz "eu li seu texto". O fato de ter a Consultoria como uma segunda família é uma realidade, e gostaria de ter mais tempo para poder conhecer  pessoalmente todos os que estão envolvidos com a história do site. Tristezas eu tive quando houveram as dissidências, com a saída do Daniel, do Thiago, do Eduardo, do Bruno, do Pablo e do Bernardo, mas principalmente, com a porcalhada que a Uol Host fez conosco. Mesmo como Baú do Mairon, o fato de trabalhar 40 horas não me permitiu passar tudo o que fiz para a Consultoria para o meu blog. Então, perdi muita coisa (novamente, já não chegou a vez da Collectors), e são textos que, por mais simples que fossem, traziam o sentimento daquele momento. Foi história jogada no lixo, ou melhor, desprezada pelos sem cultura de um provedor nada profissional.
BETO GUEDES E MILTON NASCIMENTOELOMAROK PROG NACIONALROCK NACIONAL
ROCK GAÚCHO
Várias gerações do rock nacional
Qual a matéria que você mais gostou de ter feito para o site?
Escolher apenas uma única matéria é complicado, mas posso dizer que minhas quatro preferidas são a que resgatei a história de Antônio Adolfo e a Brazuca, que me exigiu muita dedicação e pesquisa, já que essa foi uma das matérias que fiz para a Collectors e que o Cadão jogou no lixo, e então, tive que retomar muitas fontes e contatos para reescrever como merecia, debulhar a história de "2112" no Maravilhas do Mundo Prog, já que essa é uma  das músicas mais marcantes que ouvi, e cuja história eu acho fascinante, e as duas matérias que fiz para o Selos Lendários, aliás uma seção que você criou, contanto a história da ECM Records, especializada no lançamento de jazz, e da nossa brasileiríssima Fábrica de Discos Rozenblit, a qual me foi tão gratificante de fazer que, quando fui em Recife, conversei com alguns locais sobre a mesma, e tive a grata felicidade do pessoal de lá me elogiar por prestar uma homenagem para algo que até mesmo os pernambucanos desconhecem. Entrevistar Arnaldo Baptista foi a realização de um sonho de fã, já que eu o acompanho desde que eu era pequenininho, e para mim, é um dos maiores gênios da música mundial. Outra matéria que eu fiquei satisfeito e me emocionei em realizar foi resgatar a longa discografia de Elis Regina. Tenho uma admiração enorme pela pimentinha, e vejo que muitos menosprezam a cantora mas conhecem apenas algumas canções que circularam quando ela estava viva. A carreira dela é brilhante e muito variada, e isso merece ser descoberto aos poucos, não com pré-conceitos, mas sim como um aprendiz de cozinha, que vai descobrindo a forma de misturar temperos, sabores e aromas, para preparar uma comida de primeira. É  uma obra que tenho orgulho de conhecer, ter praticamente completa, mas ainda, de ter tido a oportunidade de passar essas informações para outros amigos, e isso, eu agradeço e muito aos colegas do site, que não barraram uma artista não ligada ao rock e permitiram a sua entrada tranquilamente durante seis domingos. Pena que a Uol  Host acabou deletando tudo ...
Você criou algumas colunas que tiveram grande reputação, como o Podcast, A Little Respect e principalmente o Maravilhas do Mundo Prog. Há algum projeto de trazer novas colunas para o site?
Ideias sempre tem, o problema agora é tempo. O trabalho tem me levado boa parte das 24 horas que tenho,  tem ficado difícil trazer para o papel aquilo que passa em mente. Por exemplo, eu queria fazer algo que destacasse mais o rock brasileiro feito nos  anos 90. Muita música boa foi feita naquela que é considerada a pior década da música nacional, mas tanto no progressivo quanto no metal, muitas bandas de qualidade lançaram discos excelentes, os quais ficaram relegados ao ostracismo. Também queria fazer uma série dedicada aos grandes nomes do synthpop, como Depeche Mode, Tears For Fears, Erasure, não nos moldes do A Little Respect, mas tipo o Maravilhas do Mundo Prog - algo como o Maravilhas do Synthpop - só que isso exigiria muita pesquisa, já que não há praticamente um site dedicado para o estilo como temos no caso do progressivo e do metal. Mas são projetos, que sabe um dia a coisa venha à tona.
MUTANTES
RITA LEE
NEY MATOGROSSONOVOS BAIANSO E SECOS E MOLHADOS
RAUL SEIXAS
Mutantes e afins, Arnaldo Baptista, Rita Lee, Ney Matogrosso, Secos & Molhados, Marco Antonio Araujo, Novos Baianos e Raul Seixas
O que você caracteriza como principal característica do Consultoria do Rock, que o torna um diferencial nos demais sites de música?
MM: Acho que a principal diferença é a camaradagem que rola nos bastidores. Quem vê o site com postagens a cada dois dias, não sabe o que temos de organização no nosso grupo. Apesar das brigas e buscas por matérias, as vezes de última hora, todo mundo se respeita, e não tem uma distinção de "ah, o fulano não pode publicar isso", ou "o beltrano só vai publicar sobre aquilo se mudar tal coisa". Essa camaradagem abre espaços para que novos consultores se agreguem à nós. Estou feliz que o Ulisses, o Alisson e o André tenham entrado para o grupo. Eles fazem textos que trazem bandas das quais os antigos consultores talvez se quer imaginassem que existam, e isso é mais um diferencial, a ampla variedade de estilos e bandas que rolam pelas nossas páginas. Não somos o melhor site do mundo, claro que não, mas dentro do limite que temos, de sermos todos amadores, com exceção do Diogo, acho que estamos muito bem.
Como você avalia essas matérias colaborativas que é um diferencial do site? 
MM: Quando surgiu a ideia de fazermos matérias com mais de um consultor colocando sua opinião, achei que não ia dar certo. Porém, com o passar dos tempos, as colunas relacionadas a isso (Melhores de Todos os Tempos, Consultoria Recomenda e War Room, por exemplo) funcionaram muito bem. Eu gosto muito de participar das mesmas, e principalmente, de ler os comentários dos colegas depois. Parece que flui uma conversa, uma relação entre as pessoas, que pode ser ampliada nos comentários. Acredito que todos aprendem bastante, além de se divertir e ter a oportunidade de conhecer e divulgar novas bandas para os amigos. Posso estar errado, mas acredito que a Consultoria é o único site de música que faz algo nesse estilo. Gostaria muito que o War Room voltasse, por que ele registrava a espontaneidade de nossas conversas, mas com o tempo da gurizada cada vez mais escasso, não sei quando ele voltará a ação, mas também é outro colaborativo que só nós temos (valeu Daniel).
OK DEEP PURPLE
OK DEEP PURPLE RELATIVESOK RAINBOW
OK TRAPEZEWhitesnake
CAPTAIN BEYOND
Coleção relacionada ao Deep Purple: Discos da banda, artistas ligados ao grupo, Rainbow, Trapeze, Whitesnake e Captain Beyond
Internamente temos uma discussão infinita sobre bandas velhas x bandas novas, acompanhar as novidades ou focar nas obscuridades da época de ouro, heavy metal x outros estilos, etc. O que você pensa sobre isso?
MM: Discussão infinita pacas, as vezes nada divertida, principalmente quando começam a defender demais o heavy metal. Como o Bruno já disse em uma entrevista anterior, o que vale é a música boa versus a música ruim. Podemos encontrar uma ótima banda velha fazendo um som novo, assim como uma excelente banda nova fazendo um som velho. Obscuridades existem em todos os níveis, seja nos anos 60 e 70, como agora, assim como quando ouvimos uma banda como Cromagnon, de 1969, mas com um som tão inverso do esperado para uma banda de rock, ela acaba gerando a novidade. Acredito que muitos que se dedicam a ouvir obscuridades hoje em dia estão realmente em busca de algo novo, não importa a época da banda. Quanto ao Heavy Metal versus outros estilos, por mais que eu curta o Metal, ainda prefiro descobrir novas bandas no jazz, no progressivo, em outros estilos. O Metal para mim é muito parecido em termos gerais. Quando temos uma banda de destaque, como Black Sabbath, Metallica e Slayer por exemplo, ela se torna uma referência, óbvio, mas quando ouço bandas nova e vejo que eles não tem muito o que acrescentar na obra prima que esses gigantes fizeram nos anos 70 e 80, acabo não criando um vínculo afetivo com aquilo. Por isso, acho que o Metal para mim já não serve mais, não esse metal moderno.
Vamos passar pra sua coleção de discos. A quantas anda?
MM: Nesse momento, consegui terminar de catalogar meus discos. Estou com exatos 2043 vinis, 372 CDs, 212 DVDs e 51 Boxes (onde esses boxes contém 211 CDs, 22 DVDs e 17 LPs). Não é uma coleção muito grande, mas acho ela bem bonitinha (risos).
BEATLES E AFINSOK ROCK 60ROLLING STONES 1
ROLLING STONES 2
Beatles e afins, Rock anos 60 e The Rolling Stones
Pelos números da sua coleção está claro que você prefere os LPs aos CDs. Você tem explicação para isso? Você conseguiu aproveitar a época que todos estavam vendendo seus LPs por quase nada para trocar por CDs? E com essa volta dos LPs com preços bem mais altos que os CDs, como você vai fazer?
Bom, eu sempre fui um defensor do vinil. Mesmo na época que ele andou em baixa, eu sai em defesa do LP. Consegui muita coisa boa por preços inacreditáveis hoje, como por exemplo, o Iron Maiden Live at Donnington - triplo - por R$ 1,50, discos que chegavam as lojas como lançamento, e colocavam em saldão, por 1 real, cinquenta centavos a maioria. Peguei muita coisa que hoje custa fortunas, como No QuarterCoverdale / PageFate of NationsZooropaBlack Tie White NoiseDecade of AgressionFear of the Dark, os A Real Live e A Real Dead do Iron Maiden, 1916, alguns Peter Gabriel, era um bom período, e me arrependo de não ter pego mais por não ter o conhecimento na época de que aquilo iria se tornar valioso. Um exemplo claro de disco que passou pela minhas mãos por 50 centavos e eu não peguei foi o Se o Rádio Não Toca, do Raul, lançado em 1994, e que hoje custa quase mil reais. Aproveitei esse período e a transição quando o LP começou a valer mais, e durante muito tempo, a maioria dos discos que pagava no máximo 10 reais. Lembro quando comprei os Mutantes, quase tudo de uma vez só, que o CD custava 20 reais e o LP 8. Acho o som do vinil melhor, fora que o fato de manusear, cheirar, abrir a capa, é algo que te faz parar para quilo, é um carinho, uma troca de sentimento, que só um bolha consegue sentir. Hoje, com os preços lá em cima, fico chateado de que muito material sem qualidade acaba batendo na casa dos 30, 50, e por que não , 100 reais. Esperar baixar o valor acho que não adianta mais, pelo contrário, acredito que a tendência dos preços dos vinis é se manter em alta, mas vez ou outra, surgem raridades em sebos. O jeito é garimpar, e esperar o momento certo. Por outro lado, fico feliz de ver que uns 60% dos vinis que comprei por preço de banana hoje não sai por menos de 50 reais. Minha família vai lucrar bastante quando eu for assistir a Janis Joplin em outra encarnação (risos).
Colecionar discos, apesar de parecer um hobby solitário, sempre rende ótimas histórias e amizades. Conte-nos sobre situações bacanas ou curiosas que aconteceram envolvendo sua coleção de discos. 
MM: Cara, tem muitas. Vou contar três curtinhas aqui, que me marcaram bastante. A primeira foi de uma temporada que passei no Rio de Janeiro, durante meu doutorado. Fiquei um mês na cidade, em um albergue que ficava próximo a três sebos de Copacabana (além da antiga Modern Music, uma das melhores lojas de discos que conheci na minha vida). Nesse mês, eu fiz um curso no Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas, na Urca, e todos os dias, passava pelos sebos e pelas lojas para ver as novidades. Depois de um mês, voltei para Porto Alegre (onde morava na época) com mais de 200 vinis. Foram três malas só de discos. O pessoal do albergue se apavorava cada dia que eu chegava lá, sempre com uma sacola carregada nas mãos. Até hoje, fico sempre no mesmo albergue, e o pessoal lembra daquilo (foi em 2008). Infelizmente a Modern e dois dos sebos fecharam, mas um deles ainda se mantém na ativa, apesar de não ter mais tanta mercadoria para fornecer (ou eu que já estou com disco demais em casa). Nessa mesma temporada, minha passagem de volta para Porto Alegre estava marcada para o sábado de tarde. Pela manha, acordei com a sensação de que tinha que ir em um determinado sebo (cheio de disco, e ainda queria mais). Fui. Por lá, vasculhei todos os discos, e não encontrei nada. Na minha cabeça, rolava a terceira parte de "Eyes of the Heart", obra prima que o Keith Jarrett gravou no disco homônimo, o famoso álbum duplo de três lados, e que eu buscava há algum tempo. Vasculhei a loja com aquela canção na cabeça, e como não encontrei nada, resolvi perguntar para a dona: "Chegou algo novo?". Ela já me conhecia (um mês indo lá praticamente todo dia, não tinha como não conhecer) e ela respondeu: "Tem umas coisinhas que ainda não coloquei preço, acabou de chegar". Era um lote de jazz maravilhoso, e no meio dele, estava o bendito "Eyes of the Heart". Gelei na hora, e perguntei o preço. Ela olhou o vinil e disse: "Esse é 6 reais, por que não tem um lado". Levei ele e mais um Thelonius Monk e dois Duke Ellington por 20 reais, e fechei a temporada com chave de ouro. Outra história que me marcou foi na primeira ida para a Europa. Não tinha nem ideia das restrições nos voos da Ryan Air, uma empresa que vende passagens muito baratas, mas que impõe limites de peso e tamanho das bagagens. Você precisa pagar em euro por quilo de bagagem que superar o limite de 10 kg algo em torno de 50 reais, e eu, viajando da Grécia para a França, estava com no mínimo uns 20 kg de bagagem só em discos, fora roupas. Era o fim de verão na Europa, mas para não pagar as taxas (que seriam um absurdo), vesti todas as roupas que tinha levado. Devo ter ficado pesado uns 150 kg, mas como na mala só tinha vinis, e a mesma coube no limitador de espaços que  a empresa oferecia, nem chegaram a pesar a mesma. As caras dos seguranças vendo eu andando com uma jaqueta enorme no meio de um calorão desgraçado era bisonha, mas tudo deu certo, e os discos chegaram sãos e salvos, sem taxas, para as prateleiras que os aguardavam sedentos. Existem outras envolvendo vários artistas com quem conversei, mas posso deixar para os comentários, caso perguntem.
CURVED AIR E GONGFOCUSPFM SUPERTRAMPPROG EUROPA
SBB
Um pouco do progressivo europeu
Quais são suas principais lembranças de quando começou a ouvir música? Você ainda tem o primeiro disco que comprou ou ganhou de presente?
MM: Como disse acima, minhas principais lembranças são da minha infância, com meu pai, que nos incentiva bastante a ouvir música e o Micael - que também é colaborador do site - é o responsável pela minha formação musical. Ele que me mostrou o que eu gosto e o que eu não gosto, não por conta de que aquilo que ele comprava eu gostava, mas por que, como ele ouvia muita música, e era o irmão mais velho, ele tinha acesso a amigos que tinham as grandes bandas. Foi ele quem me apresentou ao BRock, ao Thrash Metal e ao grunge, dos quais a maioria eu não curti, mas também ao progressivo do Pink Floyd e do Genesis, que ele não gostou, mas eu adorei de cara. Se não fosse o Micael, e dependesse da minha irmã, talvez hoje eu fosse fã de Zezé di Camargo & Luciano (risos). Sempre fui um curioso musical também, e com as revistas Bizz, Rock Brigade e Top Rock (que o Micael comprava, lógico), eu lia sobre bandas como Yes, Janis Joplin, Santana, The Band, Bob Dylan, etc. Quando ia em uma loja, na época que podia ouvir discos, ouvia um deles, e então, se curtia, levava para casa. A primeira lembrança real que tenho uma data é 1989, quando "Stairway to Heaven" era trilha na novela global Top Model. Lembro que uma vez uma rádio passou a música, que eu já curtia na novela, inteira, e me encantei pelo solo. Naquele momento, minha formação musical começava a ser feita. Tinha seis anos, mas lembro disso claramente, e melhor, dias depois passou o clipe de "Vogue" no Fantástico. Me apaixonei pela Madona, a qual durante muito tempo, foi minha ídola maior. Meu primeiro disco foi minha mãe que me deu, no Natal de 1989, que foi o "Like a Virgin", o qual me desfiz quando virei um rebelde abobado que só ouvia progressivo. O primeiro LP que comprei foi o The Song Remains the Same. Isso foi em 1990. Trabalhei com minha mãe auxiliando na organização dos salgadinhos que ela fazia para fora (ela me deu esse valor pelo trabalho que levo até hoje), e ganhei alguns trocados. Fomos em uma loja em Pelotas e lá, pedi para o dono o disco que tinha a música "Stairway to Heaven". Ele me mostrou o Led Zeppelin IV e o The Song Remains the Same. Quando eu vi que o The Song Remains the Same tinha uma música de 26 minutos e 58 segundos, pirei na batatinha, e comprei aquele duplo, que era mais caro 50 mil cruzeiros, mas valeu a pena. Tenho ele até hoje, bem chatinho de tanto que ouvi, mas valeu muito a pena. O resto é história.
A partir de qual idade você considera que se tornou um colecionador?
MM: A partir do momento que comecei a ganhar meu próprio dinheiro. Isso foi mais ou menos com quinze anos, quando comecei realmente a trabalhar com a minha mãe, agora não mais organizando, mas  fazendo salgadinhos, e também com bicos como catador de lixo reciclável, professor particular de Matemática e Física, cobrador, funcionário de locadora de video-games, enfim, o que aparecia e que desse uns trocados. Foi quando comecei a comprar de verdade (antes, eram coisas específicas), através do Micael, que já morava em Porto Alegre, e que tinha contato com as lojas de lá. Nessa leva estavam principalmente os discos do Yes, que acabou se tornando o primeiro a ter a coleção construída. Depois vieram Led (Zeppelin), Genesis, Sabbath, Queen, Purple, Floyd, ELP, Iron Maiden, King Crimson, Metallica, Slayer, as bandas mais tradicionais, as quais consegui os principais discos por preços que hoje são considerados piadas (o mais caro dessas bandas aí devo ter pago 10 reais). Lembro que uma vez vi o Hoje É O Primeiro Dia do Resto de Suas Vidas por 8 reais, e não comprei ... . Mas foi somente quando realmente eu tinha um emprego (no caso, a bolsa de mestrado), que decidi investir mais em discos. Afinal, já tinha um salário fixo, e então, dava para separar um pouco para garimpar nas lojas e no Mercado Livre. Foi aí que fui morar em Porto Alegre, e consegui os discos do Van der Graaf  Generator, Raul Seixas, Gentle Giant, Premiata Forneria Marconi, Scorpions, Uriah Heep, UFO, Jethro Tull, Supertramp, David Bowie, entre outros que os álbuns não são tão comuns, todos com preços de no máximo 40 reais, que era o que eu podia pagar. Com o doutorado, aumentou a bolsa e também vieram viagens para outros países. Tive a sorte de viajar com dólar em baixa, e também aproveitei para usar e abusar do cartão de crédito na Amazon e no Ebay. Ali realmente me tornei um garimpeiro, e até hoje, continuo assim, apesar de não com a mesma intensidade de dedicação nos sites para comprar, devido principalmente ao trabalho, que agora me toma tempo fixo.
Yes - CDsYES 1YES 2YES
RICK WAKEMAN
Yes e afins
Quais são seus artistas favoritos e qual a banda que você tem mais itens na sua coleção?
MM: Dizer quais são meus artistas favoritos iria tomar muito tempo de leitura dos amigos, mas posso citar alguns que eu realmente coleciono, os quais são: Elis Regina, Frank Zappa, Yes e afins (Asia, GTR, as carreiras de Bill Bruford, Jon Anderson, Patrick Moraz ...) , David Bowie, U2, R. E. M., Led Zeppelin e afins, Queen, Black Sabbath e afins, Pink Floyd, UFO - e o que puder ligado a Michael Schenker - , Styx, Scorpions - e o que puder ligado a Uli Jon Roth -, King Crimson, Genesis, Triumph, Rush, família Purple (Deep Purple, Trapeze, Glenn Hughes solo, Captain Beyond, Tommy Bolin, Whitesnake, Rainbow, ...), Los Hermanos, progressivo nacional da década de 70 e Madonna. Desses, o que aparecer na frente e que eu não tenha, certamente deverá parar em casa (desde que eu tenhas os pilas para levar, hehehe). A banda que eu tenho mais itens é o Yes. Ao todo, são 81 itens, com 24 LPs, 42 CDs, 13 DVDs e 2 Boxes. Incluindo discos solos e afins, esse número aumenta para 132, com mais 46 LPs e 5 CDs. Depois vem David Bowie, com 76 itens distribuídos entre 50 LPs (incluindo alguns compactos e EPs), 17 CDs (também contando alguns singles), 3 DVDs, 3 Boxes e 3 livros; Frank Zappa, com 59 itens distribuídos em 48 LPs, 10 CDs e 1 DVD; e Elis Regina, com 56 itens distribuídos em 50 LPs (incluindo discos de festivais e/ou participações especiais), 2 CDs, 1 DVD, 1 Box e 2 livros. Todos são originais, e a maioria primeira edição, o que torna os itens mais valiosos (os Zappa, inclusive, 90% são importados). Não é muito, mas eu tenho um carinho bastante especial por cada disquinho desses.
Que outras bandas / artistas tem destaque na sua coleção?
MM: Em termos de números, UFO, com 23 LPs, U2, com 12 LPs e 28 CDs que trazem versões originais e especiais para os lançamentos pós-Zooropa, além de vários singles, R. E. M., com 17 LPs e mais 30 CDs entre lançamentos especiais pós-Out of Time, assim como vários singles. O pessoal curte as coleções completas (dos lançamentos oficiais) em vinil de Queen, Supertramp,  Rush, Led Zeppelin, Uriah Heep, Rainbow, Renaissance, Black Sabbath, Rolling Stones, Wings, Pink Floyd, Iron Butterfly, Moby Grape, It's A Beautiful Day, Jefferson Airplane, The Doors, Traffic, Triumph, ZZ Top, Vanilla Fudge, Arnaldo Baptista, Mutantes, Novos Baianos, Raul Seixas, Rita lee, Ney Matogrosso, Secos & Molhados, Styx, Beto Guedes, Captain Beyond, Grand Funk Railroad, The Allman Brothers Band, Van der Graaf Generator, Gentle Giant, Focus, Genesis, Santana, King Crimson, Emerson Lake & Palmer, Metallica, Slayer, Janis Joplin, Kansas, The Who, e a discografia do Elomar, que apesar de curta, eu sei que é bem cobiçada, ainda mais por que são os originais, com aqueles encartes maravilhosos que a gravadora Rio do Gavião fez. Alice Cooper, Jimi Hendrix, Keith Jarrett, Wishbone Ash, Duke Ellington, John Williams e Bob Dylan também tenho uma boa coleção, mas esses são mais difíceis de completar. Tem nomes que citei que as coleções são pequenas (como o Arnaldo e o Novos Baianos, por exemplo), mas que os discos hoje são bem procurados e difíceis de encontrar, e eu tive a sorte de adquirir eles em uma época que o vinil ainda não era tão valorizado assim.
 REM CDS
REM IU2 CDS
U2
CDs e LPs do R. E. M. e do U2
Como você organiza sua coleção?
MM: Tento manter um padrão em termos de estilos. Por exemplo, bandas de rock progressivo ficam todas juntas, assim como as de metal, califórnia, cantoras, cantores, etc. Os artistas brasileiros tem um local só para eles (até por que são artistas que estou adquirindo com frequência, coleções que comecei há pouco), e tento manter nessa ordem a questão do tempo. Portanto, thrash metal e pop, que tem a maioria das bandas na década de 80, estão juntos. Todos os LPs estão catalogados com nome de música e tudo, e os CDs estão catalogados apenas em números (assim como DVDs e Boxes). É dessa planilha que tirei os dados acima.
Você já manifestou através de seus textos que tem um gosto peculiar para certas coisas, defendendo suas opiniões com muita ênfase. O que todo mundo gosta e você não consegue gostar? O que só você gosta e não consegue acreditar que a maioria não dá valor?
MM: Velho, geral me xinga por que eu defendo uns discos bastante menosprezados. Como diria o poeta, a unanimidade é burra. Amo de paixão Hot Space (Queen), Pop, (U2) Never Say Die (Black Sabbath), Brother Were You Bound (Supertramp), The Elder e Dynasty (Kiss), Civilian (Gentle Giant), Nostradamus (Judas Priest), Two Virgins (John Lennon e Yoko Ono), Metal Machine Music (Lou Reed), e a fase experimental do Zappa, e sinceramente, você disse tudo: não acredito por que ninguém parou para dar valor ainda. Esses discos são sensacionais, e claro, não foi de imediato que gostei deles, mas com as histórias de cada disco acompanhadas de uma audição dedicada, vi que eles são espetaculares. Podem até dizer que "nem as bandas gostam desses discos", mas daí pergunto: "Será que não gostam ou precisam colocar o pão na mesa e preferem largar eles de mão?". Quanto ao que todo mundo gosta e eu não consigo gostar, isso vai desde Nirvana até a maioria das bandas de metal pós-anos 90. Nirvana é para mim a mais complicada. Ah, todo mundo gosta de Tábua de Esmeraldas, mas eu, tô fora (risos)!
ALICE COOPERKISSMADONNA
Van Halen
Alice Cooper, Kiss, Madonna e Van Halen
Fale sobre aqueles itens que causariam estranheza para alguém que vá olhar o conteúdo das suas prateleiras. 
MM: Sempre que vou em um país diferente, procuro comprar um LP regional de lá. Então, tenho algumas coisas "diferentes" da Grécia (um álbum de bouzoki, instrumento típico de lá, que é lindíssimo), Itália, Argentina, Bélgica, Chile e Espanha. Um amigo meu do Panamá me presenteou com um LP do presidente da Guarda Nacional Omar Torrijos, que confesso é bastante bizarro, com ele incitando o exército para a luta armada entre outras coisas, e que também veio acompanhado de outros LPs de músicos famosos nas ilhas do Caribe, os quais não ouço com frequência, mas são interessantes por serem coisas que não encontramos no Brasil. Tenho também uns discos gauchescos, para de vez em quando acompanhar um churrasco, mas acho que o mais "estranho" mesmo é ver a coleção da Madonna e do Erasure lado-a-lado com as coleções do Saxon e do Slayer (risos).
Você é um frequentador assíduo de shows. Conte-nos sobre os mais impactantes e as maiores loucuras que já fez para estar próximo dos artistas que admira. E responda aquela pergunta - um disco ou um show?
MM: Meu primeiro show foi em 1998, graças a meu irmão, Micael, que desembolsou a bagatela - na época caríssimos - 50 reais para o ingresso do Yes na turnê do Open Your Eyes. Eu tinha 15 anos, viajei 600 km sozinho da minha cidade Natal (ida e volta) até a capital, e vi, totalmente espremido, Steve Howe há menos de 10 metros do meu nariz, tocar "Mood for a Day" caminhando pelo palco do Opinião. Aquilo foi o êxtase, e ali eu entendi por que um show é tão bom de assistir. Depois, vi o Kiss em 1999, formação mascarada, original, com abertura do Rammstein. Aquele dia é inesquecível, por que fui do inferno ao paraíso. Eu estava viciado em Kiss, e sai de uma excursão de Pelotas (cidade que fica 60 Km de Pedro Osório) para ver o que se prometia ser o maior espetáculo que Porto Alegre já viu. Esse show tem muita história boa, mas duas delas para encurtar a entrevista: na época, celular era um tijolão para poucos. Meu pai me emprestou o dele para eu ligar para o Micael e nos encontrarmos por lá. No meio de 50 mil pessoas, eu com o tijolão no bolso, eis que o Micael me liga, e a gente se encontrou! Hoje, isso é uma banalidade, mas em 1999, era praticamente impossível. Depois, quando começou o show do Rammstein, foi apavorante. Os caras colocaram tudo abaixo, tanto que muitos dizem até hoje que o Rammstein deu de relho no Kiss. O vocalista entrou pegando fogo, eram flechas de fogo jogadas na plateia, e o pior de tudo foi quando o vocalista pegou o tecladista, colocou de quatro e, com um pênis de borracha, fingiu "fazer sexo anal" com o mesmo, ali, diante de um monte de gente apavorada. Não satisfeito, o vocalista fez com que seu penis ejaculasse na própria boca. Cara, até hoje me apavoro daquilo. Depois veio o Kiss, com show 3D, e acalmou os ânimos - considero esse até hoje o melhor show da minha vida. Em maio de 2010, fiz uma indiada munaia. Em menos de três dias, assisti três shows. No domingo, vi ZZ Top em Porto Alegre. Sai do show, tomei um banho e peguei um avião para São Paulo, onde vi o UFO. Lá, fiquei sabendo que havia ganho um ingresso para assistir o Aerosmith em Porto Alegre. Debaixo de muita chuva, vi a turma de Steven Tyler na terça-feira, e quando cheguei em casa, estava podre de cansado, mas valeu muito a pena. Nesse mesmo ano, consegui encaixar na minha primeira viagem à Europa um show do Ozzy em Paris. Esse é outro que tem muita história. Fui com um amigo de doutorado que morava por lá na época, e no caminho do metrô, detonamos uma garrafa pet de uísque. Quando o show começou, os franceses estavam tudo assistindo quietos, e só nós agitando. Chegou ao ponto de alguns nos olharem com aquela cara de "bando de loucos", mas foi divertido pacas. Teve também as idas e vindas para o show dos Stones nesse ano de 2016. Ih, histórias não faltam, passaria o dia contando, mas não vou encher o saco da gurizada. Mas posso dizer que tenho a sorte de ter conhecido e conversado com muitos artistas que sou fã. E entre um show e um disco, putz, fico com o show, já que é a oportunidade de conferir o artista ao vivo e a cores executando a sua obra, e isso é impagável.
 OK INGRESSOSLOS HERMANOS
Viper
Ingressos, palhetas e baquetas, oleção do Los Hermanos e do Viper
Qual o artista que você já assistiu ao vivo mais vezes? Quantas foram? 
MM: Vão me matar, mas o artista que já assisti mais vezes na verdade é uma banda, Los Hermanos. Assisti a sete shows deles, desde 2003, e olha, se puder, assistirei mais, basta eles terem interesse em retornar por um dinheiro que eu estarei lá. Mas para confortar os xiitas, dentre os grandes já assisti a Ozzy Osbourne quatro vezes. O velhinho é foda no palco. Passamos vergonha, por que ele não para. Tenho certeza que dão uma dose grande de adrenalina nele, por que o bicho simplesmente enlouquece, e é difícil acompanhar o ritmo do cara.
Qual o item mais raro de sua coleção?
MM: Velho, não tenho nenhuma grande raridade. Tem colecionador aí que tem umas coisas bem cobiçadas. Eu tento buscar essas raridades, mas falta $ e tempo para pesquisar. De qualquer forma, em termos de LPs, me orgulho de alguns itens originais, como os quatro primeiros da Elis Regina (hoje, o Poema de Amor, o Ellis Regina e O Bem do Amor valem quase tanto quanto o Viva a Brotolândia), As Crianças da Nova Floresta (Recordando o Vale das Maçãs), Depois do Fim (Bacamarte), Racional Vol. 1 (Tim Maia), os originais de Auto da Catingueira e Dos Confins do Sertão (Elomar), bastante cobiçados lá fora, os boxes originais da turnê de John Coltrane pelo Japão em 1966 (que me custaram um bom preço), o Metal Box do PIL, alguns bootlegs do Pink Floyd e do Led Zeppelin, uma coletânea russa do Black Sabbath, o original do 666 (Aphrodite's Child), os Arnaldo Baptista com a Patrulha, alguns álbuns de bandas da Europa / Estados Unidos  no auge do hard setentista, discos de bandas flower power que não são tão comuns, como Quicksilver Messenger Service e It's A Beautiful Day, por exemplo, ou a versão original de Wow (Moby Grape), com uma faixa de 78 rpm inserida entre as faixas de 33 1/3 rpm, as versões originais de Virgin Killer e Taken By Force (Scorpions), discos de bandas da Argentina e de Portugal, alguns europeus - nada que se compare ao Marco, por exemplo - e o Magnum Opus (Magnum Opus), que só saiu 32 cópias.
Styx - Paradise TheaterTenho um picture shaped do David Bowie que nunca mais vi para vender, assim como uma coletânea japonesa do camaleão, que consegui completinha, com obi e tudo. A minha discografia do Zappa também tenho apreço, principalmente nos discos da década de 80, que são mais raros (como os London Symphony Orchestra ou o Francesco Zappa, por exemplo, ou os boxes do Thing-Fish e Shut Up 'n Play Yer Guitar por exemplo). Tenho alguns pictures do Styx, UFO, Pink Floyd, que também não sei se verei novamente, principalmente a versão original do Paradise Theater, com uma impressão transparente no vinil que só pode ser vista contra a luz, assim como o picture original do primeiro Curved Air, o Air Conditioning, que muitos dizem ser o primeiro picture da história. Mas nada demais, como disse acima. Com os relançamentos em 180 gr, ficou muito fácil conseguir um disco raro, por isso, privilegio essas edições originais. Em CDs, certamente uma caixa do Queen, em formato de porta-joias, toda revestida em veludo, com várias apresentações da banda desde seu início até 1986, é o mais valioso.  Box de 22 CDs do SBB, chamado Anthology, também não é tão comum. Ah, tenho todos os Mutantes da década de 60 e 70 originais em LP. Para muitos, isso é ouro (risos). Álbuns autografados também tenho alguns, como Wishbone Ash, Focus, Scorpions, Glenn Hughes, Viper, O Terço, O Terno, Ney Matogrosso e Mutantes.
 MODDY BLUES QMSPOCO CREEDENCE HUMBLE PIEQUEEN RAROQUEEN
Queen Compactos
Coleções de Quicksilver Messenger Service, Moody Blues, Creedence Clearwater Revival, Humble Pie, Poco, Queen e Styx, além da caixa em veludo chinês do Queen
Coleções de Quicksilver Messenger Service, Moody Blues, Creedence Clearwater Revival, Humble Pie, Poco, Queen e Styx, além da caixa em veludo chinês do Queen
Cite cinco itens que, se você tivesse que vender sua coleção, não venderia de jeito nenhum.
MM: Pela questão do valor emocional e da dificuldade de se encontrar novamente, seriam:
SBB - Anthology (Box Set)
Bacamarte - Depois do Fim (autografado pelo Mário Neto e pela Jane Duboc)
Public Image Ltd. - Metal Box
John Coltrane - Coltrane in Japan
UFO - Live (Picture Disc)
Onde você adquire itens para sua coleção atualmente? Já comprou discos em lojas fora do país? Quais as dicas você passaria pros leitores?
MM: Hoje em dia, a internet é uma fornecedora de discos. Se você tem dinheiro e tempo para pesquisar, há inúmeras lojas que oferecem material de qualidade. Claro, ebay, discogs e mercado livre são os mais atraentes (a Pop Market e a Amazon foram fornecedoras por um bom tempo, mas a questão do frete que eles cobram acabou eliminando eles da lista, pelo menos por enquanto). Aqui no Brasil, tem páginas de venda de discos, e tenho alguns lojistas que fazem bons preços, dos quais posso citar o Roberto Carvalho (Woodstock, de Poços de Caldas), o pessoal da Gato Preto (Paraná) e claro, o Siri da Gaita, do nosso querido Marco, que tá sempre me assaltando e causando problemas com a mulher. Já tomei uns tufos nessas páginas, mas nada que me causasse um pânico. Quanto a lojas foras do país, sempre que visito um novo país eu faço uma busca pelas lojas de discos. Posso afirmar sem dúvidas, os melhores locais para comprar são na Europa. Aqui na América do Sul, conheci lojas no Chile e na Argentina. Os hermanos são muito parecidos com brasileiros, meio desorganizados e sem dar valor suficiente ao produto (que honestamente, é de baixa qualidade). No Chile, há muitas lojas, principalmente em Santiago, e o mais interessante é que 90% delas vende apenas material novo, ou seja, LPs de 180 g. Há muitos LPs que só saem lá, meio piratão mesmo, mas com uma qualidade muito boa, e os preços são bons. Por outro lado, estive na Holanda e na Bélgica e quase infartei por não ter espaço na mala. Os discos que você procura certamente você irá achar lá (só precisa ter grana para comprar). Grécia e Espanha também são excelentes lugares para pesquisar raridades, e com preços bastante acessíveis em relação aos da Holanda e da Bélgica, mas são menos lojas, então, tem que dar uma boa caminhada pelas ruas e ter a sorte de encontrar uma. Foi assim que achei a Zakarias na Grécia, localizada em uma pequena galeria perto do Palácio do Presidente, e a Metralleta, em Madrid, uma loja gigante que fica num subsolo de  edifício-garagem (!). Na Itália e em Paris há muitas lojas, mas os preços são bem mais caros. Enfim, se você for viajar para o exterior e tá afim de comprar discos, as dicas que posso dar são: 1° Não converta; se você converter, não irá comprar nada. Pense que está comprando em reais, e depois, garanta a alegria. 2° Dinheiro na mão não é vendaval; Se você pagar em dinheiro vivo, o desconto é muito bom, e os europeus valorizam isso; 3° Garanta um espaço na mala, ou melhor, uma mala inteira; ir para lá e comprar só um LP não é recomendado. Esbalde-se, e junte uma boa grana para isso, mas com certeza, você não irá se arrepender.
IRON BUTTERFLY ITS A BEAUTIFUL MOXYJEFFERSON AIRPLANEMoby GrapeSANTANA
THE DOORS
Moxy e clássicos de San Francisco: Iron Butterfly, It's a Beautiful Day, Jefferson Airplane, Moby Grape, Santana e The Doors
Quais os dez melhores discos da década de 60?
MM: Complicadíssimo, mas sem uma ordem específica:
Big Brother & The Holding Company - Cheap Thrills
David Bowie - David Bowie
Duke Ellington & John Coltrane - Duke Ellington & John Coltrane
Janis Joplin - I Got dem 'Ol Kosmic Blues, Again Mama!
Jeferson Airplane - Volunteers
Moby Grape - Grape Jam
Pink Floyd - Atom Heart Mother
The Beach Boys - Pet Sounds
The Yardbirds - Little Games
The Yardbirds - Roger the Engineer
 RenaissanceEMERSON LAKE & PALMERVDGG GENTLE GIANTPINK FLOYDKING CRIMSONJETHRO TULL 2
JETHRO TULL 1
Gigantes do rock progressivo britânico: Renaissance, Emerson Lake & Palmer, Gentle Giant, Van der Graaf Generator, Pink Floyd, King Crimson e Jethro Tull
Quais os dez melhores discos da década de 70?
MM: Eu inventei essa, e agora vou sofrer para fechar essa lista. Com a dor de deixar muita coisa boa fora. Mas enfim, essa em ordem:
Led Zeppelin - Physical Graffitti
Yes - Tales from Topographic Oceans
Genesis - The Lamb Lies Down on Broadway
UFO - UFO 2: Flying
David Bowie - Low
Jefferson Airplane - Long John Silver
Armageddon - Armageddon
Captain Beyond - Captain Beyond
Led Zeppelin - Presence
Black Sabbath - Never Say Die!
 ACDCBLACK SABBATHCREAM E AFINSLED ZEPPELINOZZY E DIO
URIAH HEEP
Clássicos: AC/DC, Black Sabbath, James Gang, Cream e afins, Led Zeppelin, Ozzy Osbourne, Dio e Uriah Heep
Quais os dez melhores discos da década de 80?
MM: A década maldita, mas com muita coisa boa. Em ordem:
Queen - Hot Space
Bacamarte - Depois do Fim
Slayer - Reign in Blood
Elomar - Fantasia Leiga Para Um Rio Seco
Kiss - Music from "The Elder"
Possessed - Seven Churches
Madonna - Like a Prayer
Quaterna Réquiem - Velha Gravura
Whitesnake - 1987
Queen - The Miracle
IRON MAIDENJUDAS PRIESTMETALLICASAXON
Slayer
Um pouco de Heavy Metal: Iron Maiden, Judas Priest, Metallica, Saxon e Slayer
Quais os dez melhores discos da década de 90?
MM: A década mais fácil de fechar
U2 - Zooropa
U2 - Pop
Bacamarte - Sete Cidades
Pandelis Benetatos, Yiorgos Fakanas & John Stavropoulos - Stand-Art
Queen - Innuendo
Os Mutantes - O A E O Z
Los Hermanos - Los Hermanos
Jeff Buckley - Grace
Black Sabbath - Dehumanizer
R. E. M. - Automatic for the People
JANIS JOPLIN E BOB DYLANJeff BeckJIMI HENDRIX
MAHAVISHNU SHAKTI JOHN MCLAUGHLIN
Grandes artistas solo: Bob Dylan, Janis Joplin, Jimi Hendrix, Jeff Beck, John McLaughlin e alguns nomes do blues
Quais os dez melhores discos dos anos 2000 (de 2001 até agora)?
MM: Sem ordem específica
David Bowie - The Next Day
El Efecto - Pedras e Sonhos
Los Hermanos - 4
Los Hermanos - Ventura
Los Hermanos - Bloco do Eu Sozinho
Massahara - Massahara
Naxatras - Naxatras
Ney Matogrosso - Interpreta Cartola Ao Vivo
Van Züllatt - Van Züllatt
Cite dez discos que você levaria para uma ilha deserta.
MM: Se pudesse ser dez mil (risos). Vamos a eles, mais pelo prazer audiófilo e da saudade que dá do que por serem "os melhores de todos os tempos"
Aphrodite's Child - 666
Yes - Tales from Topographic Oceans
David Bowie - Low
Arnaldo Baptista - Lóki!?
The Rolling Stones - Beggars Banquet
Los Hermanos - 4
Supertramp - Paris
The Allman Brothers Band - Live at Fillmore East
Mutantes - E Seus Cometas no País dos Bauretz
Elis Regina - Falso Brilhante
RUSHTRIUMPHVANILLA FUDGE
ZZ Top
Rush, Triumph, Vanilla Fudge e ZZ Top
Cite dez itens que deveria ter nessa ilha deserta para completar o prazer de estar com esses dez discos.
MM: Uma boa vitrola
Eletricidade
Geladeira com cerveja mode infinite
Churrasqueira com picanha mode infinite
Vara de pescar
Livros mode infinite
Cama Extra King
Internet para baixar os outros discos que não pude levar
Computador para guardar os discos
Um jeep para dar umas bandas ouvindo os discos que baixei
Há um fim para a sua coleção?
MM: Já pensei nisso, e até fiz promessa de que encerraria minha coleção quando tivesse todos os discos oficiais do Zappa e da Elis Regina. Acho que essa é uma missão impossível, então, não há (risos). Na verdade, com a oportunidade que a internet nos fornece de descobrir novas bandas a cada dia, e com o DNA avançado de acumulador impregnado dentro de mim, fica difícil não querer ter materiais de seus artistas preferidos e também de artistas que você está conhecendo. A facilidade de compra pela internet também é uma dentro para quem faz coleção, basta ter um tempo para pesquisar e o valor para adquirir. Talvez um dia eu encha o saco (ou não tenha mais espaço em casa para guardar discos), mas enquanto minha esposa aguenta, vamos indo (risos). Porém, já estabeleci uma meta que me ajuda a manter mais uns anos de atividade, que será quando completar a coleção do Bob Dylan, o que é bem difícil.
UFO
SCORPIONSTHE ALLMAN BROTHERS BAND
THE WHO
UFO, Scorpions, The Allman Brothers Band e The Who
Alguma coisa mais que gostaria de passar para nossos leitores?
MM: Quero agradecer por acompanharem o site há cinco anos. Sem vocês, não teríamos por que escrever e dedicar nosso tempo há isso. Creio que jamais seremos um site como o Whiplash, até por que nunca ninguém aqui teve essa pretensão, mas ter o retorno, por menor que seja, nos comentários, ou com pessoas em shows que dizem "bah, tu és da Consultoria", já é um pagamento enorme. Desculpem pela grande quantidade de imagens e as pelas respostas longas, e muito obrigado.
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