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terça-feira, 14 de abril de 2020

War Room: Graham Bond Organization - There's A Bond Between Us [1965]





Com André Kaminski, Mairon Machado e Ronaldo Rodrigues

Voltamos hoje com mais um War Room, dessa feita, explorando um lançamento que irá completar 55 aninhos em novembro. Trata-se de There's A Bond Between Us, o segundo álbum de um dos primeiros super grupos da história, a Graham Bond Organization, que contava nada mais nada menos com Graham Bond (hammond, mellotron, vocais), Jack Bruce (baixo, vocais), Ginger Baker (bateria) e Dick Heckstall Smith (saxofones, flautas, instrumentos de sopro). Coloque o álbum para rodar e acompanhe a opinião faixa a faixa dos participantes, e não esqueça de deixar seu comentário também.


1. Who's Afraid Of Virginia Woolf?

Ronaldo: Só essa entrada triunfal do Hammond já vale a faixa. Isso é que eu chamo de "Swinging London"!
Mairon: O disco já abre com Ginger Baker mostrando ao mundo quem é Ginger Baker. Esses metais somados com os instrumentos de sopro é um delírio. Graham Bond era um baita tecladista, e seu solo nessa faixa de abertura é matadora.
André: Longo instrumental. Aliás, não teve vocais, mas começou muito bem

2. Hear Me Calling Your Name
Mairon: Swingzão massa da porra. Jack Bruce e sua voz inconfundível. Diferente do que podemos esperar para o Cream, por exemplo, mas dá para imaginar como seria isso com a guitarra do Clapton
Ronaldo: Essa segunda faixa já tem aquele temperinho do pop dos anos 60, aquele pop orquestral repleto de boas harmonias.
Mairon: O Organization de Graham Bond, foi assim, como os Yardbirds, um berçário de grandes músicos - nesse caso, revelou Jack Bruce, Ginger Baker e Dick Heckstall Smith (futuro Colosseum). É uma banda ímpar.
Ronaldo: Eu fico imaginando ter o Graham Bond, o Ginger Baker e o Jack Bruce na mesma banda...a treta devia ser feia nos ensaios! rs
Mairon: Diz que várias vezes o Bruce e o Baker quebraram o pau, jogando cadeira uns nos outros, e até instrumentos
André: Adorei como o sax no fundo dá uma embelezada na canção. Por sinal, é uma letra simples mas ganchuda.

3. The Night Time Is The Right Time
Mairon: Blues para colocar a casa abaixo, com toda uma pimenta soul para fazer a coisa ferver mais ainda. Esse clima gospel desse blues para mim é o ponto alto dessa faixa. Dá vontade de cantar junto;
Ronaldo: Essa faixa é um standard de primeira. Não me lembrava da versão deles. O interessante é como o som tem pegada rock mesmo sem guitarras! vale ressaltar que nos primórdios do rock o saxofone tinha mais protagonismo.
André: Aqui ele se destaca no baixo. Por sinal, me pergunto porque diabos ninguém ou quase ninguém monta uma banda com uma sonoridade nesse estilo anos 50/início dos anos 60, Com mais sax, baixo protagonista e tudo mais
Ronaldo: o Dick Heckstall-Smith é uma fera no sax e a batida do Ginger Baker é inconfundível; ele e o Jon Hiseman tocavam blues na bateria como ninguém mais.

4. Walkin' In The Park
Mairon: Essa música me lembra muito uma faixa que o Colosseum gravou depois, agora não lembro o nome, mas tá no ao vivo.
Ronaldo: Essa foi aproveitada pelo Colosseum também, com vários bpms a mais! sabe de quem é a autoria, Mairon? Eles lançaram com o mesmo nome, acho que no primeiro álbum deles.
Mairon: pois é, o Colosseum gravou isso né?
Ronaldo: Sim, é a faixa de abertura do primeiro álbum deles...mas a versão deles é bem mais rápida do que essa. Ambas muito legais!
Mairon: Ah sim, não lembrava do disco de estreia. É que o que eles fazem no ao vivo, com as vocalizações, é de tirar o chapéu.
André: Eu sinto que preciso ouvir mais este estilo de rock. Leve, sem frescuras, alto astral
Ronaldo: Solo de Hammond sensacional!
André: Olha o solo de Hammond, brilhante.
Mairon: Solo lindo de Hammond.
Ronaldo: E essa condução do Ginger Baker é maravilhosa...sou muito fã dele!
André: Conheço pouco do Colosseum para saber, vocês dois que são as autoridades progs do site que me iluminem.
Ronaldo: André, pode pegar tudo do Colosseum... é uma banda de primeira, musicalidade riquíssima...desenvolveu do blues até o progressivo sinfônico.
Mairon: Concordo com o Ronaldo sobre o Colosseum.

Heckstall Smith, Bruce, Baker e Bond

5. Last Night
André: Achei que iria começar um "Pretty Woman" hahahahahaha.
Mairon: Voltamos para os rocks dançantes baseados em linhas de blues. Ouvir a Graham Bond sempre me faz pensar como que muita gente acha que nos anos 60 só havia Beatles e Stones. Olha isso cara, que sonzeira.
Ronaldo: Esse tipo de base, essa linha de baixo, é muito comum no rock sessentista...vem do blues! Sonzeira total, diversão pura!
André: Pensem nos bailinhos de rock 'n' roll dos anos 50 e 60. Aquele povo sim sabia se divertir
Mairon: Ahã. Não tinham que ficar no whats à toa ...
Ronaldo: Hammond fritando!
André: Olha, mesmo as mais simples das canções tem solos magníficos. Que solo de Hammond, meu Deus.

6. Baby Can It Be True?
André: Essa é para dançar coladinho junto a guria e dançando devagarinho
Ronaldo: Eu acho curioso que o Ginger Baker já tinha muita assinatura desde esses primórdios. Vejo que o Jack Bruce desenvolveu mais (se comparar o material dele de 1965 e o de 1975, por exemplo), mas o Ginger Baker manteve mais ou menos a mesma abordagem em todos os seus trabalhos.
Mairon: Cara, Jack Bruce tem uma voz tão rouca para a idade dele. Esse cara devia fumar uns 15 maços de cigarro por dia. Baladaça!!
André: O pigarro do amor
Ronaldo: Que delícia de baladinha...puxou a pegada das big bands. E o que é esse orgão? Acho que o Jack Bruce treinava bastante pra isso também. O orgão também é maravilhoso. Não sei se vocês notaram, mas tem uma passagenzinha de mellotron ali... foi uma das primeiras aparições do instrumento em gravações.
Mairon: Lindo
André: Aquele sonzinho de fita magnética é inconfundível.
Ronaldo: Antes dos Beatles em "Strawberry Fields Forever".
[caption id="attachment_32854" align="aligncenter" width="484"] Dick Heckstall Smith, Jack Bruce, Ginger Baker e Graham Bond[/caption]

7. What'd I Say
Mairon: Cara, Ginger Baker é um monstro de ritmos. O que é isso que ele cria aqui? Uma espécie de samba, que misturado com o saxofone e com o Hammond sacodem até as paredes da casa. Mais uma sonzeira para curtir nas festas e nos pubs ingleses.
Ronaldo: Agitada! na mesma pegada de "I Feel Fine" dos Beatles... sóque aí é Ginger Baker na parada...então o bicho pega!
André: De fato, o Baker se destaca muito nessa faixa
Ronaldo: Esse Hammond dá um caldo maravilhoso na faixa!
André: Leves toques nos pratos. Até um glorioso cowbell hahahahaahaha.
Mairon: Eita solo de saxofone bom de se ouvir.
Ronaldo: Essa tirada no cowbell é realmente surpreendente! rs
Mairon: Como o Baker dizia, a GBO é a banda de jazz mais blues da história do rock britânico
Ronaldo: Tem razão... é nítida a transição entre os dois estilos!
Mairon: De sacolejar o esqueleto!
André: Aquela hora que acelera a bateria e finaliza de maneira apoteótica
Ronaldo: Termina como um bom bluesão.

Em sentido horário: Baker, Heckstall Smith, Bruce e Bond (pernas cruzadas)

8. Dick's Instrumental
Mairon: Melhor faixa do disco. Saxofone mandando ver, blues arrepiante, e um arranjo descomunal. Como que uma banda tão foda veio virar algo tão diferente, e igualmente poderoso, trocando dois membros e adicionando uma guitarra? Inacreditável
André: Muito bem, estou gostando bastante, Mairon. Pelo menos me acordou com um grande disco
Ronaldo: O que eu acho mais interessante é como essas bandas do blues britânico viraram e reviraram o blues americano do avesso pra criar coisas inovadoras como essa faixa. As outras faixas são muito divertidas e boas de se ouvir, mas essa foi além e traz várias ideias muito interessantes.
André: Pelo que diz na descrição do vídeo, a pergunta é como o Graham Bond teve a coragem de demitir o Baker e o Bruce.
Mairon: O Bruce pediu o boné por que não aguentava mais o Baker, e foi trabalhar com o John Mayall.
Ronaldo: O Eric Clapton disse uma vez que o Ginger Baker era um canalha, mas era dos melhores da área, então...rs
Mairon: A história é bem interessante. Eu to lendo o Crossroads ((biografia do clapton), e o trecho que é sobre a GBO é sensacional. Quando foram montar o Cream, o Clapton disse pro Baker: ou o Bruce ou nada, e o Baker engoliu.
Ronaldo: Fico só imaginando a treta!

9. Don't Let Go
Mairon: Outro rockzão anos sessenta, para levantar as meninas e girar pelo ar. Mais uma sonzeira.
Ronaldo: Muito groove nessa! também acho que tem mellotron nessa faixa (tocada de uma forma bem pouco ortodoxa).
André: Uma faixa diferente, mas interessante, o Hammond é muito diferente aqui.
Mairon: O mellotron para mim está como um acorde de fundo.
André: É o mellotron que faz esse sonzinho específico, Mairon?
Ronaldo: Esses ataques entre a voz parece ser o mellotron também... tenho quase certeza que sim.
Mairon: Parece.

10. Keep A'Drivin'
André: Isso é muito Jovem Guarda hahahahahahahaha
Ronaldo: Mais um bluezinho soft...na linha do que o Cream viria a fazer em "Hey Lawdy Mama".
Mairon: Mais um blues para agitar a galera. Bruce com sua voz roucaça, e a nítida impressão que já ouvi isso em outros discos do Bruce em sua carreira. A adição dos vocais femininos deu um up ainda mais saboroso para a faixa
Ronaldo: E com os vocais a la Doo-Wop.

11. Have You Ever Loved A Woman?
Mairon: Bah, nessa aqui o Graham Bond faz misérias. Acho que é a faixa mais conhecida deles né? Que baita blues
Ronaldo: O vocal do Bond nessa faixa está incrível!
André: É um cover do Freddie King, logo, não tem erro.
Mairon: Cara a categoria do Baker é acima do normal. Isso é 1965. Olha a diversidade de estilos que ele já tocou em pouco mais de meia hora.
Ronaldo: Não saberia dizer se é a faixa mais conhecida deles...acho que a banda é mais conhecida por nome (pelo conjunto da obra) do que por alguma faixa específica. O Baker realmente já era acima da média desde tempos imemoriais!
Mairon: Que solo de hammond. Jesus amado! Lindo
Ronaldo: Lindo demais...puro feeling.

12. Camels And Elephants
Mairon: Composição de Ginger Baker, então já sabem o que vem.
Ronaldo: Aqui surgem as doideiras!
André: Isso são as maluquices de bateria dele.
Mairon: Repito galera, 1965!!! Quem fazia algo assim nessa época? Pré-"Toad", pré-"Do What Your Like" e por ai vai. Que baita solo, que baita arranjo.
André: Quase ninguém fez depois também
Ronaldo: Outra característica marcante do rock entre 65 - 67 é a tentativa de incorporar escalas da música oriental (de diferentes locais) no meio do rock ou fundi-las com o blues.
Mairon: Exato Ronaldo. Acho que é um dos primeiros solos de bateria gravado por uma banda tida como de rock.
Ronaldo: Prenúncio dessas duas faixas, com certeza...como disse antes, o Baker já tinha uma assinatura desde antes de ser bem famoso.
Mairon: Nessa forma assim, que o Bonham copiou na cara dura em "Moby Dick", marcando o cymbal o tempo inteiro, até a sequência acho parecida, o crescendo e tal.
André: Uma música em que o protagonista é a bateria, quantas tem nos últimos 30 anos em grandes álbuns?
Ronaldo: Interessante esse detalhe, Mairon...não sabia dessa e nem me lembro de nada antes disso com solo de bateria.
Mairon: Só no jazz. E dessa forma, no rock, não lembro mesmo.
André: Só no jazz mesmo. Talvez alguma perdida no blues também.coragem para 1965 gravar algo assim.
Ronaldo: Pois é, André...de 80 em diante instrumentos além da guitarra perderam totalmente o protagonismo no rock.
André: No rock? Não lembro de nenhuma.
Mairon: Por isso Baker é Baker. E para quem acha que o solo de "Toad" é a origem, ouve isso!!! Destruindo as paredes aqui.
Ronaldo: Um dos maiores, sem dúvida nenhuma. Vejo alguns bateristas dizendo que ele não fazia nada demais, mas eu ignoro. Pra mim isso é inconteste.
Mairon: MONSTRO!!!!
André: Eu por exemplo se eu fosse músico, queria fundar uma banda em que o baixo fosse o protagonista. E eu seria o baixista é claro. Mas fica para outra vida
Ronaldo: Hahahaha!




Considerações finais
André: Sem considerações longas de minha parte hoje: discaço e ponto final.
Mairon: A Graham Bond era uma banda a frente do seu tempo. Esse segundo álbum é disparado o mais interessante, até pela presença do Baker. Me admira é que muita gente defende que só Beatles e Stones estavam na Inglaterra naquela época, e que inspiraram todo mundo. Bom, ouvir esse disco só me faz constatar que Beatles e Stones influenciaram muita gente, mas não esses gênios que criaram uma obra tão singular e sensacional
André: Orra, concordo e muito
Ronaldo: Já conhecia o disco (apesar de que fazia um bom tempo que não ouvia)...capta bem aquela pegada de blues e r&b que os mods ingleses ouviam e dançavam até cansar. Instrumental caprichado, um time de primeira qualidade, muito groove e músicas cativantes. É que nessa época a concorrência na Inglaterra era brabíssima, então, grupos como o GBO ficaram em segundo ou terceiro plano. Felizmente a obra fica para a posteridade e cá estamos nós, curtindo e dando o devido valor. Excelente escolha de disco, Mairon!
Mairon: Valeu pessoal. Um abraço!
Ronaldo: Tamo junto! Eu que agradeço.
André: Tranquilo, agradeço ao Mairon pela audição e a ambos vocês pela companhia. Abraços!

terça-feira, 8 de setembro de 2015

BBM - Around the Next Dream [1994]





As listas de Melhores de Todos os Tempos sempre propiciam boas discussões, muitas vezes fundadas na emoção e no gosto pessoal de determinado consultor, que recusa-se a aceitar ou entender a votação dos colegas e achincalha sem dó nem piedade discos que para ele, são simplesmente a reprodução da bost@ da mosca que circula ao redor da merd@ do cavalo do bandido. Eu mesmo sou um tarado na discussão. Quanta porcaria já rolaram nessas listas? A pior de todas com a enfadonha visão do RPM encabeçando a lista de Melhores de Todos os Tempos de 1985 (UOL Host, devolva nosso post!). Absurdos incomensuráveis, discos nada representativos, Maravilhas Prog abandonadas ao léu, enfim, o fato é que as listas são uma ótima diversão para nós que as escrevemos, e acredito, causa os mesmos transtornos em diversos leitores, mas sempre lembrando que as listas na maioria dos casos (para não dizer 100%) leva em conta simplesmente o gosto pessoal da criatura.


Em virtude da aproximação da lista de Melhores de 1994, venho de antemão me manifestar com esse petardo que DUVI-D-O-DÓ entre nos dez mais. Em um ano tão competitivo, com pelo menos três álbuns clássicos (Slayer - Divine Intervention, The Rolling Stones - Voodoo Lounge, e Pink Floyd - The Division Bell), algumas novidades surgiram no mercado, outras bandas novas consolidaram-se como fortes expoentes de sua geração, mas o mais marcante foi o renascimento de grandes nomes do rock, que perambularam como zumbis pop nos anos 80 e, depois de ter engolido muito cérebro com apenas dois neurônios, fizeram um tratamento de revitalização, saindo das tumbas com força e lançando discos muito bons, porém não tão aclamados assim.

Jack Bruce
Jack Bruce

E aqui entra Around the Next Dream, álbum lançado pelo magnífico trio Jack Bruce (baixo, piano, teclados e vocais), Ginger Baker (bateria, percussão) e Gary Moore (guitarra, violões, vocais), ou simplesmente BBM. Na época, a imprensa babou o ovo para o disco, mas os fãs fizeram um estardalhaço muito pequeno em comparação com as dimensões do álbum, que acabou atingindo o nono lugar nas paradas do Reino Unido, mas foi considerado um fracasso na parada americana.


Antes dessa reunião, os três vinham de carreiras solo que não estavam nada bem. Bruce, após sair do Cream por divergências com Baker, perambulou com participações especiais em discos de diversos artistas - Frank Zappa, Robin Trower, John McLaughlin, Jon Anderson, o próprio Gary Moore, entre outros - até enveredar pela World Music. Em 1993, ele havia lançado seu oitavo álbum de estúdio, Somethin' Else, que passou despercebido do grande público. Mas ainda naquele ano, em um encontro com Baker, a sua situação musical começou a mudar.
Jonas Hellborg e Ginger Baker, na época do Public Image Ltd.
Jonas Hellborg e Ginger Baker, na época do Public Image Ltd.

Baker foi outro nômade pós-Cream. Logo de cara, participou do super grupo Blind Faith (ao lado de Eric Clapton, Steve Winwood e Rick Grech), e na sequência, levou Steve Winwood para fundar a maravilhosa Ginger Baker's Airforce, que lançou dois excelentes mas desconhecidos trabalhos homônimos, ambos em 1970. Depois, foi viver na África, mais precisamente na Nigéria, onde apaixonou-se ainda mais pelos sons tribais africanos e lançou uma trinca de discos com o multi-instrumentista Fela Kuti. Depois do projeto Baker Gurvitz Armu, tocou com o Public Image Ltd. de John Lydon e com o Hawkwind, antes de montar o projeto Masters of Reality, que durou um elogiado álbum, Sunrise of the Sufferbus (1992), mas um verdadeiro fracasso, tendo vendido menos de 10 mil cópias em todo o mundo. Mas em 1993, a coisa mudou ...

Gary Moore
Gary Moore


Do trio, Moore é o que estava com sua carreira solo mais consolidada. O guitarrista irlandês já vinha de experiências bem sucedidas no Skid Row e no Thin Lizzy, duas das maiores bandas de sua terra natal, e seus discos vendiam regularmente bem. Em 1985, lançou seu álbum de maior sucesso comercial, Run for Cover, com forte sonoridade AOR, que se para os fãs antigos foi tratado com menosprezo, conquistou toda uma nova geração de seguidores. Porém, no início dos anos 90 Moore resolveu voltar as raízes do blues, lançado os belos álbuns After the War (1989), Still Got the Blues (1990) e After Hours (1992), ótimos discos em sua integridade, mas que não obtiveram sequer a sombra do sucesso de Run for Cover, apesar do single de "Still Got the Blues" ter ficado entre os 100 mais da Billboard. Eis que então chegou o ano de 1993.


Naquele ano, Bruce estava comemorando cinquenta anos de vida, e para celebrar o momento, realizou dois shows especiais na cidade de Colônia, Alemanha, nos dias 02 e 03 de novembro. O espetáculo contou com a presença de diversos artistas convidados, dentre eles Baker e Moore, que como trio, arrasaram com a plateia em versões foderosíssimas de quatro clássicos do Cream: "N. S. U.", "Sitting on Top of the World", "Politician" e "Spoonful". Essas preciosidades foram registradas no álbum duplo Cities of the Heart (1994), contendo toda a apresentação de Colônia e fazendo parte da discografia de Bruce. A apresentação foi tão impactante que catalisou a continuação do trio, e assim nasceu o BBM.

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Cities of the Heart

contendo os primeiros registros do trio BBM
Em pouco tempo, Around the Next Dream já estava pronto, sendo lançado em maio de 1994. O álbum já abre com a pancada "Waiting in the Wings", chapando o ouvinte e colocando-o diretamente em 1968, mais especificamente nos estúdios de gravação do aclamado Wheels of Fire, com a diferença que empunhando as seis cordas e pisoteando o wah-wah está Gary Moore, e não Eric Clapton. É impossível para qualquer fã do Cream não sentir o aroma e as nuances de "Tales of Brave Ulysses" ou "White Room" nessa faixa, seja pelo vozeirão de Bruce ainda estar intacto, pelo baixo cavalgante de Bruce, ou por que Moore é um guitarrista de mão cheia, e a forma como ele pisoteia o wah-wah sem dó durante o solo é muito similar a Clapton em tal faixa, principalmente pelas intervenções durante as frases de Bruce.


É impossível não ouvir o início do álbum pensando nos saudosos e inquestionáveis álbuns do Cream, e quando "City of Gold" surge nas caixas de som, continuamos viajando pela discografia da banda, partindo para Fresh Cream com as clássicas linhas de "Rollin' and Tumblin'", mas o experiente trio não vive só do passado, e faz uma surpreendente balada flower power, "Where in the World", com os vocais marcantes de Moore acompanhados por violão e sintetizadores aqui, a cargo de Tommy Eyre, além da percussão de Arran Ahmun, nessa que para alguns pode ser a única baixa do LP, mas na verdade, é uma singela peça musical oitentista entre a ótima agressividade sessentista que permeia todo o disco, com destaque para o refrão tendo os vocais divididos entre a dupla Moore e Bruce.
Gary Moore, Jack Bruce e Ginger Baker
Gary Moore, Jack Bruce e Ginger Baker
Moore também assume os vocais do gigante blues "Can't Fool the Blues", ótimo para ser ouvido regado por um velho uísque quinze anos, e mostrando que Moore além de um guitarrista de mão cheia, é um vocalista excepcional. Por mais que seja irlandês de nascença, sua voz soa como dos velhos africanos negros que influenciam gerações e gerações de cantores até hoje, em uma das melhores performances vocais de sua carreira. Além disso, o solo que é elaborado para essa faixa simplesmente é uma aula de como se construir um solo de blues simples mas recheado de feeling, e certamente aqui você irá se levantar da poltrona para brincar de air guitar.


O clima acalma em outro blues, "High Cost of Loving", com a marcante presença do órgão e do piano, sem gerar comparações com o Cream, lembrando talvez um pouco da carreira solo de Stevie Ray Vaughan, mas com uma performance irretocável do trio, fechando o lado A.
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Encarte


O lado B abre com "Glory Days", uma canção muito próxima ao que Moore registrou na sua fase AOR, contando com o trompete de Morris Murphy principalmente em Run for Cover, seguida da melhor canção do disco. Só ela já vale a aquisição do álbum, principalmente pela quantidade de arrepios e lágrimas que ela irá causar em você. Trata-se da emocionante "Why Does Love (Have to Go Wrong)". Com um início que nos lembra "We're Going Wrong" (Disraeli Gears, 1967), a canção passeia em sua mente por quase nove minutos que vão da dor agonizante de Bruce implorando a sua amada por uma explicação para os problemas de relacionamento entre ambos, até o solo de Moore, onde as portas do paraíso abrem-se para receber a majestosta virada que o guitarrista faz na canção. Que momento fantástico, em uma pegada fulminante que fecha os três últimos minutos da canção e simplesmente o coloca de queixo caído diante da vitrola, dizendo "Sério que foram seres humanos quem registraram essa belezura?".


Depois do desbunde feito pelo trio em "Why Does Love (Have to Go Wrong)", sobra pouco espaço para surpresas, mas elas ainda irão surgir, começando pela leveza da tocante "Naked Flame", uma ótima ode para o descanso após a intensa orgia musical propiciada na faixa anterior. A voz de Moore enche as caixas de som no boogie de Albert King "I Wonder Why (Are You So Mean to Me?)", destacando outro belo solo de Moore. Por fim, a balada "Wring Side of Town" encerra o LP com Bruce no baixo acústico e muito sintetizador, em uma dolorida canção de despedida do trio, que saiu em uma turnê de regular sucesso pela Europa e Estados Unidos, mas acabou fechando as atividades no ano seguinte, novamente por conta das divergências entre Baker e Bruce.
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As canções do álbum
Around the Next Dream recebeu um relançamento em CD em 2002, com quatro faixas bônus: "Danger Zone", "World Keeps on Turning", 13. "Sitting on Top of the World" (Live) e "I Wonder Why (Are You So Mean to Me?)" (Live). O trio nunca mais se reuniu, virando mais uma pedra no muro de supergrupos que nasceram para o sucesso, mas naufragaram nos oceanos do desconhecimento e do descaso.


Curiosamente, nesse mesmo ano, Eric Clapton abandonou a pieguice explícita dos terríveis August e Journeyman, e finalmente encontrou-se com as raízes no belíssimo From The Cradle, mas isso é papo para outra rodada de ceva.


PS: Duvido também que From the Cradle fique entre os dez mais ..
.
b Back
Contra-capa de Around the Next Dream

Track list 

1. Waiting in the Wings 
2. City of Gold 
3. Where in the World 
4. Can't Fool the Blues 
5. High Cost of Living 
6. Glory Days 
7. Why Does Love (Have Go Wrong) 
8. Naked Flame 
9. I Wonder Why (Are You So Mean To Me) 
10. Wrong Side of Town

segunda-feira, 29 de abril de 2013

DVD: Uli Jon Roth - Live at Castle Donington [2007]



Por Mairon Machado

Sabe aquele DVD que quando você menos percebe ele já acabou e quando olha em sua volta está tudo revirado como se um furacão estivesse ocorrido em seu quarto e você nem se dá conta do que aconteceu até colocar o DVD na caixinha e ver que o que acabou de passar realmente era algo fora do comum? Esta foi minha experiência ao assistir o DVD Legends of Rock at Castle Donington do guitarrista alemão Uli Jon Roth.

Este é o terceiro DVD da série de três DVDs divulgadas pela Hellion Records em homenagem ao ex-guitarrista do Scorpions. Os dois primeiros foram The Electric Sun Years Vol. I e The Electric Sun Years Vol. II, compilados em um único DVD. Os dois primeiros traziam um apanhado de shows nas duas fases da banda solo de Uli (a Electric Sun). Este contém a apresentação de Uli como headliner do festival de Castle Donington, o Rock & Blues Custom Show de 2001.


Acompanhado por seu companheiro de Electric Sun Clive Bunker (bateria), Don Airey (teclados) e Barry Sparks (baixo), Uli está em excelente forma e brinda a platéia com um espetáculo musical de extremo bom gosto.


O DVD começa com a instrumental "Trail in the Wind" mostrando uma coletânea de vídeos do show, bem como os músicos que participam do espetáculo, para o apresentador animar a plateia e dar as boas vindas à Uli Jon Roth.

Uli Jon Roth e sua Sky Guitar

Com a noite começando a baixar sobre as milhares de pessoas presentes no lugar, o guitarrista detona os primeiros acordes da linda "Sky Overture", trajando sua tradicional faixa na cabeça e empunhando a famosa Sky Guitar. Com um arranjo clássico que ganhou muito com a participação de Airey, as escalas de Uli são complicadíssimas. Mostra para os Malmsteen's da vida como empregar notas rápidas, alavancadas e bends no tempero certo, alternando momentos rápidos e outros lentos. Tudo isso sempre com um sorriso no rosto, como se fosse natural executar aquelas intrincadas peças.

O show continua com um arranjo para o início do segundo movimento do Concerto de Aranjuez, de Joaquín Rodrigo, popularmente conhecido como "Adagio". Uma das coisas que me irrita muito é alguém que diz adorar esse concerto, mas só conhece este início do segundo movimento. Originalmente elaborado para violão e orquestra tem nessa segunda parte, chamada aqui de "Aranjuez", um duelo entre oboé e violão. Airey faz novamente um belo trabalho executando as parte da orquestra enquanto Uli brinca na guitarra fazendo os lindos temas do oboé e do violão.


"The King Returns" mantém a linha clássica de Uli. Novamente acompanhado por Airey, tem como ponto máximo o belíssimo dueto de órgão e guitarra.

Após essa apresentação inicial de sua carreira solo, o músico chama ao palco os membros do UFO (grupo briitânico que estará em turnê pelo país agora em maio, com shows em São Paulo (11), Porto Alegre (12), Rio de Janeiro (14) e Goiânia (16)) Pete Way (baixo), Phil Moog (vocais) e Michael Schenker (guitarras). Aí começa a pauleira! Moog anuncia que vão voltar no tempo e "Let It Roll" é detonada nos amps. Sparks agora toca guitarra, enquanto Way corre por todo o pequeno palco. O duelo entre Uli e Schenker é fantástico! A parte lenta começa com o solo do gordíssimo Schenker, mas que está tocando como nos anos 70 com a sua Flying V. As intervenções de Uli tornam o solo de Schenker ainda mais bonito e é impossível não se arrepiar com a qualidade sonora apresentada quando começa a alternância dos solos. A sequência final é de chorar com ambos os guitarristas tocando as notas juntos e trazendo a pauleira novamente.

Uli, Phil Mogg e Pete Way

Mais uma canção do UFO é apresentada. Agora, a clássica das clássicas, "Rock Bottom". Aqui a minha air guitar começou a fazer efeito no meu quarto. Schenker executa o riff principal, seguido por Uli, enquanto Way pula feito um garoto no palco. É impressionante como o velhinho não perdeu a forma. Moog não está na melhor forma vocal, mas mesmo assim, é o cara ideal para cantar uma das melhores músicas de todos os tempos.
Uli acompanha a melodia vocal da parte antes do solo. A prova clara da influência do UFO sobre Steve Harris. Joguem as pedras, mas imaginem Paul Di Anno cantando os "Where do we go?" da letra.
O que vêm a seguir é matador. Se o solo de Schenker sozinho já era fenomenal, imagine os dois juntos! Pois bem! Schenker começa o solo no seu melhor estilo, abusando de feeds e notas longas, mas claramente sem muita inspiração. Uli faz seu primeiro solo, também sem muita inspiração, empregando bastante escalas clássicas. O que Schenker faz na guitarra a seguir é indescritível! Uma sequência incrível de arpejos e notas rápidas, contrastando com a segunda sequência de Uli. O dueto dos dois no tema final do solo é de chorar! Notas reproduzidas igualmente vão ganhando corpo, Uli destrói as cordas da guitarra para encerrar a sequência de solos com um solo magistral de Schenker quase ajoelhdo em frente aos amplificadores. Todos da banda sorriem, felizes pelo resgate deste grande guitarrista que já passou por poucas e boas em sua carreira. O único porém é que Bunker não é Andy Parker. E assim, o acompanhamento de bateria ficou aquém do que poderia ser...
O debulhe de notas do encerramento do solo é executado idênticamente por Uli e Schenker. Moog e Way puxam a platéia com os gritos de "Rock Bottom" voltando então ao riff principal e ao encerramento da letra e da canção com Way apontando seu baixo para o público como se fosse uma metralhadora (outra das inspirações de Steve Harris), tirando a corrente do baixo e jogando o mesmo para cima, alucinado.

Michael Schenker

O público delira, mas o show não pode parar. Uli chama a lenda do rock Jack Bruce e diz que é um prazer voltar aos anos 60 para tocar alguns de seus sons favoritos. O primeiro deles: "Sunshine Of Your Love". Não houve ensaio entre Bruce e a banda de Uli. Então, não se sabia o que esperar da apresentação do ex-baixista do Cream.
Bruce brinca no baixo por alguns segundos e Uli puxa o riff deste clássico, como um bom power-trio. Que me perdoem os conhecedores e apaixonados por Clapton. O timbre de Uli Jon Roth está idêntico ao do Deus da Guitarra. Colocando para um desavisado, certamente ele vai dizer que é o Cream que está tocando. Principalmente por que o vocal de Bruce continua o mesmo dos anos 60. O guitarrista dá o seu tempero para o solo, enquanto Bruce está alucinando pelo palco, girando e pulando com seu baixo sempre com aquele balanço de cabeça que o caracterizou.
E minha air guitar surge outra vez. O solo é fantástico! Com Bruce solando junto, tentando engolir cada nota de Uli, enquanto Bunker se vira em 1000 para acompanhar o duelo dos dois. Jon Roth sola rindo com a empolgação de Bruce, que de olhos fechados caminha por todo o palco, e cede espaço para o baixista executar um pequeno solo antes de encerrá-la de forma primordial.
A alegria estampada na cara de Uli é mantida para a execução de outro clássico, "White Room". Agora contando com Airey nvovamente! Novamente é impossível não dizer que é o Cream que está tocando. O guitarrista abusa do wah-wah como se o aparelho fosse uma jovem garotinha. Bruce rasga a garganta como nos bons tempos.
É impressionante como o timbre da Sky Guitar está diferente. Isso fica comprovado no solo, onde novamente os dois gigantes lutam como gladiadores famintos pelo sangue do adversário. O que Bruce está fazendo no baixo é assustador. Tocando o instrumento como se fosse uma guitarrra. Notas altas, notas baixas, bends e muito feeling. De tirar o chapéu! O sorriso nos rostos dos músicos é marcante. A prova clara do prazer de estar no palco. Não pelo dinheiro, mas pelo amor a música.

Uli e Jack Bruce

O DVD dá um salto no tempo e entra em uma homenagem ao seu maior ídolo, Jimi Hendrix. Assim, ele apresenta para nós "All Along The Watchtower", acompanhado apenas por sua banda. Uli canta a letra de Dylan. Seu ponto forte nunca foi os vocais, e sim a guitarra. O que ele faz em "All Along ..." é para Hendrix dizer amém! E a air guitar continua fazendo efeito.
A prova final vêm na segunda homenagem a Hendrix, a pérola "Little Wing". Em um ritmo um pouco mais rápido que a original, executa o riff introdutório de forma impecável. Com a adição dos teclados de Airey, a canção ganha um clima bem flower-power. Quem é fã de Hendrix, segure as lágrimas! Cada nota de Uli solando com a ajuda do botão de volume é emocionante até mesmo para o guitarrista. Um dos raros momentos do show em que esconde seu sorriso para um momento de concentração total.
Os integrantes do UFO voltam para a magistral "Doctor Doctor". A introdução ocorre acompanhado por Airey no piano e seguido por Schenker. O riff principal é executado e novamente temos Way pulando no palco e Moog liderando o vocal. Segure a perna para não dançar por toda a casa e pagar mico para os vizinhos. Certamente os gritos de "Doctor Doctor" serão ouvidos pelos mesmos. O som encerra com a platéia alucinada, gritando o nome de Uli e UFO.
O melhor de tudo ainda estava por vir. O guitarrista sai do palco enquanto um dos apresentadores começa a instigar a plateia dizendo que ainda restam dois minutos para o encerramento do festival. Aos berros de Uli! Uli! Uli!, volta ao palco e começa a elaborar um pequeno improviso sob os aplausos dos fãs. Do nada Bunker, Airey e Bruce retornam ao palco. O que temos a seguir é um verdadeiro resgate dos tempos de Cream, chamada de "Fireworks Jam". É o momento de encerramento do festival onde fogos são lançados para a platéia desfrutar o momento.
Se no Cream, Clapton ficava sério em seu canto tentando provar que era o máximo, aqui, Bruce encontrou um ótimo parceiro que abre sorrisos para o baixista e cede seu espaço por vários momentos, enquanto os fogos explodem no céu. Os dois minutos que o apresentador havia concedido acabam se tornando em uma deliciosa jam de quase 13 minutos contando com passagens pelo tema de "Norweggian Wood" (Beatles) e um retorno ao tema de "Sunshine Of Your Love" que se encerram somente pela intervenção de um dos organizadores do evento que sobe ao palco e grita nos ouvidos de Uli que está na hora de parar. Fato que deve ter sido muito frustante, pois a alucinação de todos no palco é enorme. Todos estavam de olhos fechados, com tímidos sorrisos e não dando a mínima bola para o tempo. Somente curtindo cada segundo do que estão fazendo.
Uli despede-se. A platéia, aplaude encantada com o que acabou de ver. No meu quarto já não resta mais nada em pé. O braço da minha air guitar derrubou tudo o que havia por perto. Ainda tem os bônus. Mas antes, "Atlantis", na versão de Transcedental Sky Guitar apresenta os créditos do DVD.

Nos bônus, duas canções que ficaram de fora da sequência. A primeira é "Midnight Train", a qual foi executada apenas pelos integrantes do UFO, juntos de Bunker e Airey, onde o destaque novamente é a energia de Way e os riffs de Schenker. A segunda é nada mais, nada menos do que "Spoonful" com Bruce cantando outro grande clássico imortalizado pelo Cream ao lado de Uli e Bunker. De quebra, temos fotos da apresentação e a história de como ocorreu o espetáculo (em inglês).
Pode ter faltado uma ou outra canção, como "Hiroshima", e principalmente clássicos do Scorpions como "Hell Cat", "Fly To The Rainbow" e "Polar Nights". Agora... Um DVD que traz uma variedade que vai do UFO para o Cream, coloca juntos Uli Jon Roth e Michael Schenker, com certeza tem que estar na prateleira de todo colecionador. E em uma posição de fácil localização, para ser colocado no aparelho quase todos os dias. Apenas controle sua empolgação com a air guitar e deixe que os mestres da guitarra façam o trabalho nas guitarras de verdade. Nota 10 em 10!
Track list
1. Trail in the Wind (intro)
2. Sky Overture
3. Aranjuez
4. The King Returns
5. Let It Roll
6. Rock Bottom
7. Sunshine of Your Love
8. White Room
9. All Along the Watchtower
10. Little Wing
11. Doctor Doctor
12. Fireworks Jam
13. Atlantis
bonus tracks:

14. Midnight Train
15. Spoonful

segunda-feira, 12 de julho de 2010

West, Bruce & Laing


Para entender o que Jack Bruce fez após o fim do Cream, é preciso primeiro narrar rapidamente a história de um dos pioneiros do hard setentista, o power-trio Mountain.

Formado em 1969, o grupo tinha em sua formação Leslie West (guitarras, vocais), N. D. Smart (bateria, vocais) e Felix Pappalardi (baixo, vocais), sendo que este último havia sido o produtor do Cream nos álbuns Disraeli Gears, Wheels Of Fire e Goodbye. O som do Mountain era muito similar ao Cream, tendo como destaque justamente o poderoso baixo de Pappalardi e a potência vocal de West. O grupo participou do festival de Woodstock e pouco depois, Smart foi substituído por Corky Laing. Com a adição de Steve Knight nos teclados, lançaram os espetaculares Climbing! (1970), Nantucket Sleighride (1971) e Flowers of Evil (1971), além do essencial ao vivo The Road Goes Ever On (1972). O nome do grupo veio justamente da união de Smart, Pappalardi e West para a gravação do álbum solo de West, Mountain, lançado em 1969.
Mountain: Laing, Pappalardi, West e Knight

Porém, o curto tempo na estrada foi o suficiente para destruir as estruturas do grupo. No palco, eles tocavam tão alto que Pappalardi acabou ficando com problemas de audição. Além disso, o abuso de drogas e álcool por parte de West e Laing deterioraram as condições físicas de ambos, além do cansaço pela sequente sucessão de shows. Resultado, o Mountain separou-se em 1972, com Pappalardi voltando aos trabalhos por trás das mesas de som, indo produzir várias bandas, além de gravar com os japoneses do Creation o álbum Creation with Felix Pappalardi de 1976.


West, Bruce & Laing

Mas West não queria ficar abandonado, e decidiu tornar um sonho real. Desde a primeira vez que ouvira o Cream, West se encantou pelo talento de Bruce. O fácil contato de Pappalardi com o baixista, sendo que Pappalardi produziu e tocou no primeiro álbum solo de Bruce, Songs for a Taylor (1969), fizeram com que West e Bruce se tornassem bons amigos.

Bruce vinha de 3 álbuns solos: o já citado Songs for a Taylor, Things We Like (1970) e Harmony Row (1971), onde manteve o status de grande compositor e músico. Porém, sentia faltava de um "algo a mais" vindo de seu som, o que acabou encontrando na guitarra afiada de West. Foi o corpulento guitarrista que convidou Bruce para participar do Mountain. Bruce topou, mas como era muito amigo de Pappalardi, pediu que não adotasse o nome Mountain, mas sim um novo nome. Surge então, na primavera de 1972, mais um grande power-trio, o West, Bruce & Laing.

A ideia inicial do trio não era gravar discos, mas sim, tocar e tocar até a exaustão. A estreia oficial ocorreu em abril de 1972, com um show na cidade de Cleveland no dia 21, seguido por um show em Nova Iorque no dia 24 e em Boston no dia 27.

Porém, a Windfall, gravadora do Mountain à epóca, viu no novo trio a possibilidade de ganhar um dinheiro com o lançamento de um LP. Desta forma, assinam o contrato para a gravação do álbum, e entram em estúdio para gravar em poucos dias o primeiro e excelente disco de estreia.



Why Dontcha - Ótima estreia

Misturando o blues do Cream com o hard cru do Mountain, Why Dontcha foi lançado em novembro de 1972, e apresentava um Jack Bruce muito mais técnico do que nos tempos de Cream, pilotando dinamicamente piano, teclados e também baixo e voz.

O disco abre com a faixa-título, onde o riff de West apresenta a canção que é cantada pelo corpulento guitarrista, com um ótimo acompanhamentode Bruce e Laing, onde o destaque vai para as belas linhas de baixo de Bruce.

"Out In The Fields" vem a seguir, com Bruce ao piano acompanhado apenas pelos pratos, carregando uma bonita balada onde Bruce mostra seus dotes nos teclados. Acompanhado por vocalizações femininas, Bruce solta a voz, tendo no refrão uma marcante interpretação seguido por um interessante solo de West.

A clássica "The Doctor" é comandada por West, que canta forte enquanto gasta seu slide na guitarra. O acompanhamento de Laing e do baixão de Bruce, que também acompanha em algumas frases vocais, dão ainda mais peso ao som. Bruce faz uma sequência rápida de escalas, levado ao solo de slide feito por West, retornando a letra de uma das melhores canções do trio. As rápidas escalas de Bruce aparecem novamente, com West solando ao slide e Laing destruindo a bateria, em uma viajante sessão que leva ao final da canção com a repetição do refrão.

"Turn Me Over" lembra Cream, com Bruce tocando harmônica em um estilo similar a "Rollin' and Tumblin'". Essa é uma canção rara, já que é Laing quem comanda os vocais de um blues rápido levado pelo slide de West onde Bruce faz o solo principal na harmônica.

O lado A encerra com a cover de "Third Degree", de Eddie Boyd e Willie Dixon. Um fantástico e embriagante blues, com Bruce fazendo um duelo entre piano e baixo enquanto West solta notas rasgadas em sua guitarra. O solo de West parece ter saído dos primeiros discos do Led Zeppelin, tornando a faixa perfeita para um afundamento em um copo de uísque, enquanto se entorpecemos com os gritos de Bruce e com a guitarra de West. No encerramento da faixa, uma surpresa, a canção transforma-se em um visceral rock onde Bruce sola muito no baixo.



O trio em ação
"Shake Ma Thing (Rolling Jack)" abre os trabalhos no lado B, novamente com Bruce ao piano e dividindo os vocais com West. O solo do gordinho é feito novamente com o slide, pegando fogo com o enlouquecido acompanhamento de Bruce e Laing.

A balada "While You Sleep" surge com o piano seguido por um violão. West toca o que o grupo chamou de violin guitar, e é o vocalista da canção. Detalhe interessante é que Laing é o responsável por tocar o violão, e também para o bonito coral de vozes feito por Bruce no refrão.

Já "Pleasure" apresenta um riff característico feito por West, com Bruce no piano, baixo e vocais. As escalas de Bruce no baixo são impressionantes, tocando de forma rápida ora acompanhando a melodia vocal, ora o rif da guitarra. West sola sobre o rápido acompanhamento da cozinha e do piano, deste que é mais um grande som do West, Bruce & Laing.

"Love Is Worth Blues" é a paulada fundamental para os aprendizes do grupo. Muito similar as canções do Mountain, abre com West cantando emotivamente. A medida que a letra se desenrola, West vai cantando-a de forma cadenciada, até que a canção se transforma em uma ótima sessão instrumental, onde sequências de acordes em terça são a cama para West solar com muito pique. O encerramento se dá com West solando sozinho na guitarra, depois do pau ter pego geral no fantástico solo criado pelo trio.

Por fim,"Pollution Woman" fecha o vinil, com o baixo sendo inicialmente acompanhado apenas pelo cymbal, trazendo o pesado riff da canção. Bruce surge com os vocais, acompanhado por vocalizações femininas e tendo o ritmo feito por violões. No refrão, Bruce usa sintetizadores, enquanto West acompanha com frases vocais e intervenções da guitarra, naquela que para mim é a mais fraca do álbum.

"The Doctor" teve ampla divulgação nas rádios, tornando-se a carro-chefe do álbum e sendo uma das mais pedidas nos shows ao vivo. O LP ficou na vigésima sexta posição na parada da Billboad, e até hoje é reconhecido como um dos grandes álbuns de estreia em todos os tempos.

Sobre o disco, Laing comentou em uma entrevista para o blog da Poeira Zine:
Eu tenho que dizer que esses são os discos preferidos de toda a minha carreira. Eu costumo dizer que esses álbuns são meus filhos (risos). O Why Dontcha certamente foi um dos discos mais rapidamente compostos e gravados da história do rock. Tudo ali esbanjava urgência. Literalmente colocamos nossas tripas pra fora neste álbum de estréia."
Após o lançamento do LP, o trio partiu para uma turnê pelos Estados Unidos, tocando em Nova Iorque (06/11/1972), Boston (10/11/1972) e Dallas (29/11/1972). Dão uma pausa para as festas de final de ano, e voltam a ativa em fevereiro de 1973, já pensando em um segundo álbum, com a harmonia e alto-astral lá em cima e visualizando mais shows.

Partem então para a europa, onde realizam uma série de shows pelo velho-continente nos meses de março e abril, começando por Copenhagen (Dinamarca - 28/03), Viena (Áustria - 04/04), Paris (05/04), Munique (13/04), Kaiserslautern (Alemanha - 14/04), Frankfurt (16/04), Manchester (22/04) e encerrando a turnê em Newcastle (24/04).



A engraçada capa de Whatever Turns You On

O próximo passo foi entrar nos estúdios e concluir os trabalhos do segundo álbum, o qual foi lançado em julho de 1973. Com uma capa divertidíssima, contando os principais vícios de cada integrante (West com a comida, Bruce com bebidas e Laing com mulheres), Whatever Turns You On manteve o bom nível de Why Dontcha, apesar de não ter sido recebido tão bem pela crítica.

O disco abre com o riffzão de "Backfire", seguido por pequenos solos de West acompanhado pela cozinha. Bruce comanda os vocais de um ótimo rock'n'roll recheado pelos solos de West e as espetaculares escalas de Bruce.

"Token" vem a seguir, com a guitarra repleta de efeitos seguida por batidas na bateria. West canta sobre uma cadência bem hardiana, dividindo os vocais com Bruce em algumas partes. Bruce também é o responsável por alterar o ritmo da canção, tornando-a um agitado blues onde as escalas do baixo são o principal destaque junto com a sequência de solos de West eBruce.

A triste "Sifting Sand" possui participação apenas de Bruce no piano, baixo e órgão, contando com um lindo arranjo instrumental, encerrando o lado A com a paulada "November Song". Bruce começa cantando sozinho ao piano, tendo um violão ao fundo, que passa a acompanhar a letra junto com o órgão. Bruce solta a voz, em um raro momento onde o baixista canta calmamente. Finalmente, surge o solo de West, encerrando a canção com um leve andamento do piano.
A poderosa e barulhenta dupla de frente West / Bruce

"Rock and Roll Machine" abre o lado B com outro grande riff de West acompanhado por solos de slide, gravando mais um hard para a carreira do trio. Destaque para a ótima sessão de teclados, onde Bruce declama um poema, antes de encerrar a canção com um curto solo de West enquanto o nome da canção é gritado pelo gordinho.

"Scotch Crotch" trás Bruce ao piano, baixo e vocais, em outro animado blues onde West surge apenas para fazer um rápido solo sobre o andamento do paixo e do piano, levando a "Slow Blues".

Como o nome diz, é um blues arrastado, com Bruce ao piano e com West fazendo intervenções com a guitarra. Bruce canta muito nessa faixa, além de executar um ótimo solo ao piano duelando com West, e levando a "Dirty Shoes", uma paulada, começando com a bateria que dita o ritmo do piano e da guitarra, bem como os vocais de West. A canção vai ganhando volume, e então, Bruce e West passam a cantar juntos, embaladaços pelo acompanhamento visceral de Laing na bateria. West sola com slide, dando ainda mais pegada ao boogie feito pelo trio.

O disco encerra com "Like A Plate", onde harmônicos de violão introduzem a canção, para West soltar seu vozeirão acompanhado por violão, bateria e baixo. No refrão, as vocalizações femininas do primeiro álbum se fazem presentes, e o destaque vai para o bonito solo de órgão feito por Bruce.

"Whatever ..." ficou na posição 87 da Billboard, e não fez tanto sucesso quanto a estreia de Why Dontcha. Sobre o álbum, falou Laing: "Falando como baterista, gravar com um baixista como Jack Bruce foi uma experiência única e inesquecível. Ele é um mestre em seu instrumento e isso ficou mais latente ainda neste segundo registro. Tive sorte de estar junto desses caras e gravar álbuns como este.”

 

O derradeiro ao vivo

O grupo continou excursionando, fazendo shows por Europa e Estados Unidos. Da turnê, registram gravações que culminariam no fantástico álbum Live 'n' Kickin, lançado em 1974, que trás nos sulcos uma poderosa versão para "Play With Fire" dos Rolling Stones, além de inspiradas versões para "The Doctor", "Politician" (originalmente gravada pelo Cream) e a inédita "Powerhouse Sod".


Porém, antes do lançamento do disco ao vivo, o trio se separou por problemas internos e também com a gravadora Columbia, que era a chefe da Windfall e que não aceitou a quebra de contrato do Mountain, mesmo com o West, Bruce & Laing fazendo muitos shows e vendendo relativamente bem. Em 1973, a Columbia lançou a coletânea The Best Of Mountain, incentivando Pappalardi a voltar com o Mountain, o que ocorreu em 1974, com o lançamento do ao vivo Twin Peaks, gravado durante a turnê japonesa do Mountain em 1973.


O Mountain não duraria muito tempo, encerrando as atividades ainda em 1974, após o lançamento de Avalanche. Em 17 de abril de 1983, a esposa de Pappalardi, Gail Pappalardi, matou o marido, baixista e produtor, por questões de ciúmes, sendo condenada a apenas 4 anos de prisão, os quais cumpriu e depois se isolou na Califórnia.


Em 1985, o Mountain retornaria com Laing, West e Mark Clarke (ex-Colosseum e Uriah Heep) no baixo, registrando o álbum Go For Your Life (1985) e Man's World (1996). A dupla continou excursionando ora com o nome de Mountain, ora como West Band, tendo inclusive o excepcional Noel Redding (Experience) no baixo, e nos anos 2000 lançou dois álbuns: Mystic Fire (2002) e Masters of War (2007).


Já Jack Bruce seguiu sua carreira solo, além de participar de álbuns de artistas como Frank Zappa e John McLaughlin. Tocou ao lado de Bruce e Gary Moore no BBM, com quem lançou o disco homônimo em 1994. Um ano antes, esteve presente na reunião do Cream para o Rock 'n' Roll Hall of Fame (ao lado de Clapton e Baker) e também foi atração no retorno do grupo em 2005, com os shows em Londres e Nova Iorque.



West, Bruce Jr. & Laing

Em 2009, o filho de Bruce, Malcolm Bruce, convidou West e Laing para fazer uma série de shows com o nome West, Bruce Jr & Laing, que foi amplamente massacrada pela imprensa especializada, acusando Bruce de copiar o pai. O trio fazendo poucos shows durante o mês de janeiro de 2010, encerrando as atividades e o legado de um dos mais verdadeiros power-trios do rock.
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