Mostrando postagens com marcador W.A.S.P.. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador W.A.S.P.. Mostrar todas as postagens

segunda-feira, 30 de setembro de 2024

20 Anos de The Neon God - Part II: The Demise


* Fotos retiradas deste site 

Hoje encerro a saga de Jesse James através da segunda parte de The Neon God, álbum que ante-ontem, 28 de setembro, completou 20 anos de seu lançamento. Na primeira parte fomos apresentados a história do menino que perdeu o pai, sofria abusos psicológicos da mãe e acaba em um orfanato, onde lá passa a ser abusado por uma das irmãs. Em busca de escapar daquele sofrimento, ele pula em um poço, tentando suicídio. Porém, acaba sobrevivendo, e mandado para uma enfermaria, onde conhece o mundo das drogas e percebe que talvez tenha poder de persuasão sobre as demais pessoas. Com 14 anos, Jesse foge do orfanato e vai viver nas ruas, onde conhece Judah Magic, um mágico capaz de ler as mentes das pessoas. Ambos se tornam os melhores amigos, criam uma espécie de seita (ministério) na qual Jesse torna-se o novo messias, o Neon God, com seguidores por todo o mundo. A história da primeira parte encerra-se justamente quando Jesse começa a se confrontar se ele realmente deveria estar fazendo suas falsas messianidades, iludindo as pessoas, e continuando com aquilo, ou seja, por que ele estava no mundo.

W. A. S. P. na The Neon God Tour *

The Neon God: Part 2 - The Demise conclui a saga de Jesse em busca deste sentido da sua vida. Na formação, Blackie Lawlees (voz, guitarra, baixo, teclados e percussão), Darrell Roberts (guitarra, vocais, percussão), Mike Duda (baixo) e Stet Howland (bateria e percussão). Frankie Banali, que havia participado na primeira parte, acaba ficando de fora aqui. Diferentemente de The Rise, The Demise não tem músicas que se passam por vinhetas. São nove canções, sendo oito delas entre 3 e 4 minutos, e uma com mais de 13 minutos que faz todo o gran-finale da história. Antes de começarmos a destrinchar as canções, vamos novamente adentrar no encarte do CD.

Começamos com a fala do próprio Lawless, o idealizador de tudo aqui: "Em meu questionamento para fazer as duas partes de Neon God, tive muito da busca pela alma. Eu estava muito crítico nos últimos anos nas minhas visões de religiões 'organizadas'. Parecia que minha única (alma) proposta para gravar discos era fazer as pessoas a pensar por elas mesmas. Não é importante o que eu penso ou acredito, mas o que você pensa de você mesmo. As pessoas me perguntam 'por que você tem estado tão crítico sobre religião organizada, você não acredita em um ser supremo?'. Eu creio em Deus, mas o que eu creio não é o assunto aqui, porém eu seria hipócrita em expandir minhas crenças pessoais por que seria culpado de fazer as mesmas coisas que eu critíco nos outros.

Nessa história, Jesse, embora seja uma vítima, serve como um grande símbolo de humanidade na qual ELE É a humanidade, tentando achar sentido em sua vida e, em resumo, buscando por redenção. Jesse conta a seus seguidores que é 'perigoso pendurar sua face (imagem) nas paredes', o que significa que nenhum homem está acima de outro, e que nenhum homem é Deus, e que ninguém deve ser enganado como tal. Se você sentir que não tem nenhuma proposta real em sua vida, então sirva aos outros. Você irá encontrar sua verdadeira proposta nisto. Se você já sabe onde está indo, então mostre ao resto de nós o caminho! Isto é tudo o que estamos trilhando ... O destino só depende de você!!!"

Palavras de Lawless sobre Neon God, no encarte do mesmo

Tendo então a apresentação por Lawless, vamos à sequência da história via encarte. Desta feita, são apenas três páginas para nos dizer o que irá acontecer na próxima uma hora de audição. Novamente, a tradução é livre. Tudo começa com uma citação ao livro da revelação: "Da minha boca veio o poder de mudar - Nosso ministério do amor pagão era agora a idolatria de mim". Vamos ao texto:

"Estávamos no meio do nosso maior avivamento mundial. Na Time-Square, no meio de Nova Iorque. Eu olhei para cima e lá, em uma tela gigante, estava eu. Meu rosto milhares de vezes maior do que minha vida. Irradiando eletronicamente como um grande cometa atravessando o céu. Brilhando como um grande farol. Lá estava eu. Sem mais fenômenos de culto, o dia do reconhecimento havia chegado. Eu era o Neon God. Minha mensagem estava sendo transmitida para televisões ao redor do mundo. O poder da mídia eletrônica está além da compreensão, especialmente quando você pode vender às pessoas a ideia de amor e imortalidade. Isto tudo parece uma droga com poder monstruoso que dopa as massas, e uma vez que você os fisga, você os têm pelo resto da vida. É verdade que 'o poder absoluto corrompe absolutamente'. Então eu era o Rei de todas as coisas corruptas.

Não era tanto a mensagem como mensageiro. Tudo estava na entrega. Era uma ideia simples realmente. Dê às massas falsas esperanças e retorne às massas dando amor ... e poder. Basicamente viciados em drogas negociando drogas. Eu dava para todos os discípulos novos nomes, com uma proposta dual. Primeiro, levá-los a acreditar que eram mais importante do que realmente eram, mas também dar a eles um sentido de renascer por um novo pai ... eu!

Texto com a parte final da história no encarte do álbum (Página 1)

Foi o pico do meu ministério! Mas em uma de nossas celebrações noturnas, alguma coisa capturou meu olho. Com a luz do palco diretamente onde eu estava, algumas vezes era difícil de ver a congregação, mas existia uma imagem metade na luz, metade na esuridão, que eu não podia claramente reconhecer. A imagem manteve-se atraindo minha atenção em sua direção. Parei de falar e foquei na imagem. Perguntei se poderia vir à frente e se apresentar. Lentamente, três homens e uma mulher, nús, vieram para a luz. Tinhamos uma nova seguidora. Eu não tinha visto sua face a aproximadamente 28 anos, mas ainda a conhecia. A última vez que vi seu rosto eu estava histérico, com medo e quando vi ela, o mesmo sentimento brotou sobre mim novamente. O rosto era da minha mãe. Ela tinha me abandonado todos aqueles anos, e agora voltou para clamar por seu filho. Eu era o pedaço rompido de seu filho. Um pequeno coração inocente, quebrado em dois, e deixado para curar-se por si mesmo. Nunca pensei que poderia ter minhas terminações nervosas expostas novamente. Mas elas tornaram-se vivas com cada pulsação. Foi o sinal de ver ela naquele estado pagão, ou apenas ver ela, que me enfureceu.

Aquele estranho rio de emoções opostas, ódio e amor, repulsão e atração, queria tocar seu rosto, mas apagá-lo para sempre de minha mente. Eu estava em um lugar seguro por muito tempo, mas mais uma vez ela veio e destruiu completamente meu mundo. Ela tentou colocar seu caminho novamente na minha vida. Após o choque inicial de ver ela novamente, eu vi ela pelo que realmente ela era ... lixo sem esperança de redenção. Perdida numa auto-estrada imaginária. Era uma visão precária de qualquer maternidade. Ela estava morta para mim por muitos anos, mas não mais do que agora. Ela me adorava como seu Deus? Oh mamãe, por que você veio? Ela deu-me a vida ao mesmo tempo. As vezes eu fantasiava de como iria reagir ao vê-la novamente, mas nunca é como você pensa que irá acontecer. Existem poucas emoções puras na vida ... ódio!

Após ela ir embora, nada parecia mais importar para mim. Por muito tempo eu soube que não era filho de Deus. Não era um profeta. Eu era uma farsa, um vigarista, um mentiroso que tinha medo de cada coisa no mundo.

Texto com a parte final da história no encarte do álbum (Página 2)

Passei semanas tentando fazer algum tipo de sentido na minha vida. Chamei meu círculo interno, Judah e os discípulos juntos, para falar que eu estava deixando aquilo e não era o Messias que eles acreditavam ser. Podia ver o olhar de descrença em seus rostos. Todos, exceto Judah. Ele foi o único cara que me sustentou por anos pelo mundo. Mas agora existia um problema. Esta coisa de 'nós' havia se tornado um grande negócio, e uma vez que você está nisso, está pelo resto da vida. Sua raiva comigo era enorme, e eles me apelidaram Neon Dion para expressar seu desprezo por mim. Uma espécie de zombaria sarcástica para exaltar um líder que fora idolatrado. Existia um problema, e o problema era eu.

Como eu não estava mais disposto a ser seu fantoche, eu representava um grande risco para o culto. Expôr a mim mesmo de qualquer forma derrubaria nosso castelo de cartas. Mas eu deveria saber que Judah era esperto para me deixar seguir muito à frente dele. Muito inteligente para deixar este império Neon se ir. Sua inquietação era grande. Eles planejaram minha morte para o mundo inteiro ver, mas não acreditavam que eu tinha conhecimento disso. Não era apropriado que tudo termine assim!

Há muito tempo desci a montanha onde a tormenta violenta trovejou. Ao contrário do arbusto ardente de Abraão, eu não recebi nenhum sinal. Eu perguntei a Deus: 'O que você quer de mim?' O silêncio foi ensurdecedor. Então, meu caminho estva claro. O grande caminho da montanha para agora. Por que então este conlito eterno ainda enfurece minha alma? Começo minha descida ao poder embriagante ainda atormentado com a pergunta eterna, em busca da Trilha Sagrada. Existe algo lá fora maior do que nós? Existe um Deus? Eu espero que sim ... por que eu não sou ele ..."

Texto com a parte final da história no encarte do álbum (Página 3)

Este é o texto que abre o livreto de Neon God, e diretamente vamos para a voz de Blackie Lawless entoando o nome de "Never Say Die", apresentando a segunda parte da história, em uma música pesadíssima, e claro, com grande destaque para o refrão, nas quais os discípulos clamam por Jesse, assim como Judah pergunta para Jesse qual será o caminho a ser seguido em busca do Sol de Neon (Neon Sun), ao paraíso. É o auge do ministério e do endeusamento de Jesse.

"Ressurector" é uma faixa mais hardeira, na qual Jesse se comunica com o ministério, pedindo para seus discípulos mostrarem seu amor submisso, que pintem o nome dele em suas faces, e dizendo que ele é o Deus que eles precisam. "Fall before me and bring me love in here we are all pagan naked celebrations ... show me your blind submissive love, paint my name accross your face in everlasting blood" ("Caiam diante de mim e tragam-me amor aqui somos todos pagães em celebrações nuas ... mostreme seu amor submissivo, pinte meu nome em seus rostos em sangue perpétuo"). Chamo atenção para a melodia vocal desta parte, pois ela irá retornar mais adiante, mas com uma temática diferente, e que fará um sentido muito interessante. Outro destaque vai para o belo solo de Roberts, bastante "fritado", e o andar cavalgante na euforia final da congregação, implorando por mudança em suas vidas.

O ministério está consolidado, e então, com acordes que ouvimos na abertura de The Rise, "The Demise" é o apogeu de Jesse. Diante da congregação, ele abençoa seus discípulos, dizendo ser o novo Messias, e retomando às falas já exaltadas na primeira parte através de Judah, mas agora por toda a congregação "Dying for you ... Our God is you ... Falling for you ... Our God is you" ("Morremos por você ... Nosso Deus é você ... Caímos por você ... Nosso Deus é você"). Musicalmente, o instrumental tem na bateria e nos teclados o centro das atenções, mas claro, os vocais de Lawless aterrorizam no papel de Jesse, carregados de peso "Come to me and see me in you can you feel it, oh I'm running through you ... Your new God, I feel it, believe it ... ("Venham à mim e vejam-me, você pode sentir isso? Estou correndo através de você ... seu novo Deus, eu sinto isto, acredite nisto ...").

Blackie Lawless *

Chegamos então no momento de maior tensão da história, "Clockwork Mary". Durante sua fala para a congregação, eis que sua mãe aparece entre os discípulos, sendo reconhecida por Jesse. O dedilhado da guitarra é lindo, lembrando momentos de The Crimson Idol, enquanto Jesse fala para sua mãe "Oh mama where you gone ... claim me your son ... mama why'd you come ... you gave but taken my life" ("Ó mamãe onde você foi ... clame por mim, seu filho ... mamãe você veio ... você deu-me e tirou-me a vida"). Camadas de teclados entram, dando mais amargura para a voz de Lawless, e assim, Jesse desabafa "I born in your sin, Mary's lie cause I know all that you hide ... here in your naked grace" ("Nasci do seu pecado, mentirosa Maria, por que sei que tudo o que você esconde ... aqui em sua graça nua"), e então, repentinamente, guitarra, baixo e bateria estouram as caixas de som, para Jesse expurgar sua raiva contra a mãe "I'll kill the beast so to free my soul and smash the tears ... I curse the darkness impassioned plea ... to satisfy the vengeance in me" "Matei a besta e liberei minha alma, e esmaguei as lágrimas ... amaldiçoei a escuridão com um apelo apaixonado ... para satisfazer a vingança em mim"). Mais um belo solo de Roberts, e a faixa encerra-se com a dramática lembrança que Jesse queria apenas alguém para amá-lo "All I need was someone to love me" ("Tudo o que eu queria era alguém para me amar").

"Tear Down The Walls" é mais uma faixa veloz, muito boa, com a pancadaria comendo solta na bateria, e onde Jesse volta-se para a congregação, após o re-encontro com sua mãe, tentando convencê-los de que ele não é o Todo-poderoso. Percebendo o que estava acontecendo, Judah entra em ação durante "Come Back to Black", para manter Jesse como líder. Uma canção pesada, rocker, que chama a atenção novamente os vocais de Lawless mudando totalmente para interpretar o papel de Judah. Outro refrão poderoso aqui, relatando as falas dos discípulos e de Judah para Jesse, que se faz ausente de falas nessa bela faixa.

"All My Life" é uma espécie de confrontação de Jesse com ele mesmo. Ele percebe que perdeu toda a sua vida, vivendo num mundo de dor, sem ninguém para amá-lo ou ouvi-lo "all my life lost in a dream ... All my life no place for me ... I can't take it no more ... my pain is too much, no one hears me, there ain't no love" ("Toda a minha vida perdido em um sonho ... toda minha vida e nenhum lugar para mim ... Não posso seguir adiante ... minha dor é enorme, ninguém me ouve, não existe amor"), e volta ao passado, renegando aqueles que fizeram parte de sua vida dizendo para não tocá-lo (Sister Sadie, sua mãe, Judah e os discípulos), com a frase "please don't touch me" sendo balbuciada entre lágrimas. Novamente a guitarra surge limpa, apenas com efeitos de eco, e os vocais dramáticos de Lawless tomam conta, nessa que é certamente a faixa mais carregada de emoções de ambos os álbuns. O solo de teclado ao final é arrepiante (com uma sequência de notas que me lembra algo de The Crimson Idol), e "All My Life" funciona como "Hold on to My Heart" funciona para The Crimson Idol. Uma bela preparação para o grande finale que virá.

Darrell Roberts *

A pancadaria retorna em "Destinies To Come (Neon Dion)". Judah confronta Jesse, dizendo que há um novo mundo, mudanças, um novo tempo, e que Jesse não pode acabar com isso, chamando-o de cego, e que nada pode mudar os destinos das pessoas. Chegamos então aos 13 minutos de "The Last Redemption", a mais longa faixa da carreira do W. A. S. P. , e onde Jesse finalmente fala ao mundo. Tudo começa com exatamente os mesmos acordes que iniciaram "Overture" lá na parte I, e com Jesse gritando "Take me, shame me, I made you to lay my name on your tongues"  ("Tomem-me, envergonhem-me, eu fiz vocês colocarem meu nome em suas línguas") seguindo "Hate me, slay me, it's danger to hang my face on your walls" ("Odeiem-me, matem-me, é perigoso colocar meu rosto em suas paredes"). O desabafo é forte, e a canção vai ganhando força junto com os gritos de Lawless, até Jesse dizer "If I die for you will my life have counted, give me the truth, would it mean anything" ("Se eu morrer por vocês minha vida irá ter servido, dê-me a verdade, iria signigicar algo?").

Enquanto o ministério não acredita no que Jesse está dizendo, que quer morrer pelos discípulos, e ele segue, dizendo que mentiu para milhares, sendo um enganador, um Senhor para ninguém, um Messias de milhares mas com sangues aos pés, Messias de nada. A congregação grita incrédula "We're dying for you ... our god is you ... falling for you ... give us the truth" ("Estamos morrendo por você ... nosso Deus é você ... caímos por você ... dê-nos a verdade"), na melodia que citei anteriormente.


Um pouco mais de Blackie Lawless *

O desabafo de Jesse segue "I am no God of all your lost religions, prophet for love ... I was the chosen one" ("Eu não sou um Deus de todas as religiões, profeta do amor ... Eu era o escolhido"). É Jesse jogando na cara dos discípulos toda sua falsidade, sob um ritmo avassalador. "Take my name in vain ... I Messiah of nothing ... I wanna die" ("tome meu nome em vão ... eu sou um messias do nada ... quero morrer"), para então vir a emblemática estrofe "No don't came to me no don't believe in your God of love ... I can't deceive no more no don't believe ... Your God you see's all make believe Neon" ("Não venham a mim não acreditem no seu Deus do amor ... eu não posso enganá-los mais, não acreditem ... O deus que vocês veem é tudo um Neon de faz-de-contas").

Os discípulos se rebelam, e o clima fica tenso musicalmente, com acordes pesados. "You're fucked for life, die for us a Messiah please ... die so we'll all believe" ("Você fudeu pra vida, morra por nós um messias por favor ... morra e então acreditaremos"). O ritmo cavalgante retorna para a fala de Jesse "I Messiah nothing, why would you remember anymore if I die" ("Sou um messias do nada, por que vocês não irão lembrar de mim nunca mais se eu morrer"), e assim temos um curto trecho onde os teclados marcam presença, com um riff bem no estilo Iron Maiden feito pela guitarra. É um trecho épico, que leva para as falas finais de Jesse. Primeiro, sobre um dedilhado emocionante, ao mundo: "all I need was someone to love me ... there're no one who cares" ("Tudo o que eu necessitava era alguém para me amar ... aqui não tem ninguém que se importe"), repetindo vocalmente a melodia do dedilhado da guitarra, com uma voz chorosa. Depois, com a guitarra mandando ver em acordes abertos, grita para Deus: "tell me my Lord why am I here, surely not to live in pain and sorrow ... are we to hide inside and fear forever never ending road of tears" ("Diga-me meu Senhor por que estou aqui? Certamente não para viver em dor e desgraça ... escondendo-se com medo para sempre em uma estrada de lágrimas sem fim").

Mike Duda *

Retornando ao ritmo cavalgante, começa a discussão entre Judah e Jesse, num crescendo fantástico. O jogo de vozes aqui é arrepiante, com Lawless fazendo o papel de ambos os personagens, onde Judah tenta ainda persuadir Jesse, que fala agonizantemente. É um longo trecho, tenso, empolgante, épico, um dos melhores da carreira do W. A. S. P., que acontece aos 11 minutos da faixa (nem vimos que se passaram isso), para explodir na última fala de Jesse ao mundo, repetindo "no don't came to me no don't belive in your God of Love ... I can't deceive it no more ... no don't belive don't die for me, you're all deceived for love" ("Não venham à mim não acreditem em seu Deus do amor ... Eu nao posso enganar mais ... não acreditem não morram por mim, vocês todos foram enganados por amor"), fechando a história com uma belo solo de guitarra e longos acordes de teclados e guitarra, enquanto os pratos estouram as caixas de som. Fantástico!

Concluo estes dois textos com uma opinião pessoal. Ambos os álbuns não são meus favoritos do W. A. S. P., quiçá Top 5 (até me deu uma ideia para um Do Pior Ao Melhor da banda), mas é inegável que a criatividade de Blackie Lawless estava voando alto aqui. A história se desenrola muito bem entre as canções (com o auxílio do livreto), e musicalmente, há grandes momentos em ambos os álbuns. Depois de Neon God, o W. A. S. P. lançou bons discos, Dominator (2007), Babylon (2009) e o destaque para Golgotha (2015), além da recriação de The Crimson Idol no álbum Reidolized (The Soundtrack To The Crimson Idol) (2017). Nenhum dos três álbuns de inéditas consegue chegar ao nível musical e teatral realizado há 20 anos atrás. Os Neon God são discos para serem, ao menos, conhecidos por aqueles que apreciam Heavy Metal e álbuns conceituais!

Contra-capa do CD


Track list

1. Never Say Die

2. Resurrector

3. The Demise

4. Clockwork Mary

5. Tear Down The Walls

6. Come Back To Black

7. All My Life

8. Destinies To Come (Neon Dion)

9. The Last Redemption

sábado, 28 de setembro de 2024

20 Anos de The Neon God - Parte I: The Rise

No ano de 2004, o W.A.S.P., liderado pelo sempre genial (e genioso) Blackie Lawless, resolveu fazer seu projeto mais ambicioso: criar um álbum conceitual em duas partes, a serem lançadas ambas no mesmo ano. Essa é a origem do aniversariante que venho aqui apresentar hoje e depois de amanhã para vocês, os clássicos The Neon God Part I: The Rise e The Neon God Part II: The Demise.

Voltando no tempo, em 1992 Lawless já tinha criado uma obra-prima conceitual chamada The Crimson Idol, a qual relatei sua história aqui. A história de Jonathan Aaron Steele teve influências diversas, inclusive do The Who (homenageado por Lawless no encarte do vinil, à época), sendo que por diversas vezes temos algumas lembranças de Tommy ao ouvir esse fantástico disco. Pois se anos depois o Who ampliou as suas óperas-rocks através de Quadrophenia (1973), o W. A. S. P. fez algo similar com esses Neon God.

Genioso e genial: Blackie Lawless estampa suas paixões nos anos 2000


Contextualizando o período histórico da banda, pós-lançamento de The Crimson Idol, Lawless manteve o grupo como um trio, tendo Bob Kulick (guitarras) e Frank Banalli (bateria) no excelente Still Not Black Enough (1995), um álbum pesado, onde Lawless extravasa seus sentimentos soturnos e sombrios, que caracterizou o que alguns chamam de Gothic Metal, o que agradou muitos e desagradou outros tantos. Com isso, inesperadamente eis que Chris Holmes voltou para o grupo. O guitarrista loiro fôra um dos pilares do W.A.S.P. nos anos 80, gravando os primeiros e aclamados discos W. A. S. P. (1984), The Last Command (1985), Inside the Electric Circus (1986) e The Headless Children (1989), além do ao vivo Live ... in the Raw (1987), e acabou saindo do grupo por não concordar com a guinada "séria" que Lawless estava dando em suas composições.

Com o retorno de Holmes, houve uma reformulação no line-up do W. A. S. P., agora com Mike Duda (baixo, vocais) e Stet Howland (bateria, vocais). Nesse período, vieram o álbum de industrial metal Kill.Fuck.Die (1997), excelente por sinal, o festivo Helldorado (1990), e Unholy Terror (2001), além dos dois ao vivos Double Live Assassins (1998) e The Sting (2000), e então, Holmes pegou o boné (de novo!) para tocar blues (dizendo nunca ter tocado em Unholy Terror), e deixou Lawless novamente a ver navios.

Sem Holmes, e sob o drama dos eventos de 11 de setembro nos Estados Unidos, Lawless cria Dying for the World (2002), tendo na formação agora Darrell Roberts (guitarra e vocal), Mike Duda (baixo e vocal) e o retorno de Frankie Banali à bateria. Este mesmo time então vai para o estúdio registrar os dois Neon God (que ainda teve a participação de Stet Howland em uma única faixa, "Wishing Well"). Vamos então para o que a história de Neon God. Temos como personagem central Jesse Slane, um garoto órfão, abusado durante a infância pela mãe e em um orfanato, que descobre ter o poder de manipular pessoas, tornando-se assim um Messias para seus discípulos, os quais fazem parte do que Lawless chama de congregação.




Texto de apresentação feito por Blackie Lawless no livreto de Neon God


Vamos ao encarte de Neon God para, nas palavras do próprio Lawless, entender o que estará acontecendo nos dois discos (em tradução livre): "Oh tell me my Lord, why am I here? Esta foi a única questão que a história inteira de Neon God foi construída. Embora esta (parte I) narre a ascensão de um falso Messias, ele é quase majoritariamente baseado nesta ideia que está na maioria do pensamento de todos. Por que de nossa existência? O que ela significa? Existe uma razão real para cada um de nós aqui afinal? Existe alguma grande proposta em nossas vidas? Somos bons ou maus, ou apenas peões em um jogo sem nenhum significado? Quem eu sou, ou eu sou o todo?"

Seguimos nas palavras de Lawless: "Esta é a história de Jesse Slane, este é seu questionamento. Ele pergunta-se sobre sua vida. 'Irá minha vida significar algo quando eu morrer?' É uma pergunta que todos nós fazemos, maioria das vezes em silêncio, quando sozinhos. É a mais sombria das perguntas que raramente falamos sobre com alguém. Está sempre lá ... aquela vozinha em todos nós ... que nunca se vai". Encerrando a fala "Espero que aqueles que ouvirem esta gravação encontrem seu próprio significado na jornada que estão percorrendo. Certamente esta gravação não irá encontrar usto para você, mas talvez ajude a pensar sobre. Que O Senhor guie à nós todos".

Vale lembrar que Lawless ainda não havia se convertido ao cristianismo, mas estava estudando bastante sobre a Bíblia e temas religiosos no período de composição de Neon God (Lawless se converteu no final da década 00). No encarte de The Rise, nada mais nada menos que 10 páginas são dedicadas a relatar a vida de Jesse James. Ele conta sua história em primeira pessoa, e farei um resumo, em tradução livre (deixando em inglês pontos que são nomes de músicas), do que é contado ali. O texto, na íntegra, deixo nas imagens abaixo.

Páginas iniciais da história


Jesse se apresenta dizendo que veio de um lugar onde os sonhos da juventude são quebrados, o terreno baldio onde jovens corações são largados para morrer. Sigo nas palavras de Jesse (e fazendo um geral, pois o texto é realmente muito longo). "Meu pai era Robert. Não me lembro muito dele por que ele morreu quando eu tinha 6 anos. O que guardei dele é a Bíblia que ele me deu no meu aniversário de 6 anos ... Milhares de vezes imaginei como minha vida teria sido diferente se eu tivesse tido mais contato com ele. Minha mãe era Mary e eu sempre me senti muito distante dela. Ela me teve, mas eu não tive ela. Depois da morte do meu pai, ela se afundou em álcool, heroína e crack se tornando uma viciada. Por um ano e meio, ela teve um homem diferente a cada noite, e todo o dinheiro que sobrou do meu pai ela gastou em álcool e cigarros. Seu vício fez perder nossa casa e viver em abrigos. Passei a viver como um escravo, preso aos seus abusos, e gritos de 'você não é nada, você nunca será nada'.

Ela passou a acreditar que eu era o diabo, e com os dias contados, ela me abandonou no orfanato The Sisters of Mercy Boys Home, quando eu tinha 8 anos. Suas últimas palavras para mim foram 'Nunca discutirei com um diabo'. Fui oferecido ao sacrifício para os deuses pagães do vício. Saí das correntes de sua escravidão para um novo mundo de escravidão. Era um orfanato católico, e aquilo para mim era o inferno na Terra relatado na Bíblia. Era um complexo em parceria com o estado, com uma parte sendo o orfanato e outra sendo um hospital de doentes mentais. Não era permitido que as crianças fossem no hospital, mas existiam relatos de que algumas foram parar lá. Ninguém sabia se era verdade.

A vida lá era horrível, nunca vi nada igual. Frio, úmido, feito de tijolos velhos e sem cor, de um cinza escuro. Um prédio enorme, de seis andares e cerca de 100 metros de comprimento. Eu ouvia sons de choros vindos de lá. Lembro de entrar e ficar tremendo. Nunca tinha visto uma freira tão de perto, e elas pareciam o Drácula de Bram Stoker. Elas tinham uma presença militar, como se fossem o próprio Deus. Depois compreendi que isso era feito para intimar, e acabei usando disto mais tarde. Os primeiros meses foram de agonia. Cada coisa, cada pessoa, era tudo muito estranho. Todos pareciam me olhar perguntando: 'de onde você veio'. Eu não conhecia ninguém.

Da janela ao lado da minha cama eu olhava para o pátio e via um velho poço que era usado antes de a propriedade ter água corrente, conhecido como Poço dos Desejos (Wishing Well). Havia rumores de que mais de uma criança havia realizado 'seu desejo' se afogando ali, o que para alguns era a única saída. As crianças não gostavam de alguém novo, pois consideravam qualquer novato um concorrente para adoção. Morávamos juntos. Havia agressores, tratados de forma diferente, pois trabalhavam para as freiras. Se uma das crianças normais saísse da linha, as freiras usariam os valentões para aplicar a ação disciplinar, ou seja, eles iriam te dar uma surra. Era assim que a ordem era mantida por elas, menos uma: Sister Sadie!





Mais algumas páginas com a história


Ela era Deus, a Governante Suprema, também conhecida como Santa Cruella. A Puta responsável. Dirigia o lugar com mão de ferro e ninguém questionava sua autoridade. Enorme, com cerca de um metro e noventa, pesando uns 120 quilos, parecia mais um homem do que uma mulher, causando medo em qualquer criança que a olhasse. Ela andava com um uniforme preto, carregando uma porra de uma régua o tempo todo, parecendo um general nazista da SS, por ironia, Sister Sadie. Fiz o melhor possível para não ser notado por ela. Comia sozinho, nunca fiz parte de um grupo, aprendi a usar a imaginação e criatividade no meu próprio mundo de amigos imaginários, dos quais eu era o líder, o Invisible Circus.



Aos 11 eu comecei a ficar rebelde e sem respeito a qualquer autoritarismo. Eu tinha me tornado uma espécie de animal. Um dia fui pego roubando algo da cozinha por um dos guardas, que me levou para uma das irmãs, para eu pagar meus pecados. Quando resisti à penitência pelos meus pecados e recusei a confissão, dizendo que estava com muita fome, a irmã ficou horrorizada. Considerado insubordinado, tomaram medidas apropriadas me levando para Sister Sadie. Uma vez considerado insubordinado, apenas uma limpeza oficial iria colocar a criança novamente no caminho certo, e variava de criança para criança. Para mim, foi uma eternidade de um ano.


Sister Sadie me levou para um prédio separado, longe do prédio principal, onde minha limpeza seria administrada três vezes por semana, sempre de noite. Ela me segurou com força pela nuca e me conduziu pela única porta daquele lugar esquecido por Deus, para uma sala escura e pequena. Eu senti um cheiro familiar em seu hálito que eu não sentia desde a última vez que estive com minha mãe: álcool. Ela bateu a porta e acendeu uma pequena luz vermelha, que iluminava muito pouco. A sala havia sido uma instalação de detenção (ou prisão) para o hospital manter e transferir pacientes com doenças mentais. Tinha enormes vigas no teto, e na viga central havia um antigo sistema de polias ... Era feito com uma corrente de aço e um grande gancho na ponta para içamento. Ela amarrou minhas mãos atrás das costas, e amarrou meus pés com velhos fios elétricos, me fez deitar no chão e pegou o gancho, prendendo-o na corda que segurava meus pés.


Isso aconteceu em quase todas as noites, mas algumas noites eram diferentes. Às vezes, enquanto eu estava pendurado, ela simplesmente me batia. A bengala dela tinha uma longa haste de metal que era usada de várias maneiras. A favorita dela era aquecer em uma vela e depois bater em mim. Outras noites ela me abusava sexualmente de formas que nem consigo falar. O tormento continuou com ameaças de que que se eu contasse a alguém, ninguém acreditaria em mim. Um dia eu não suportei mais, e procurei Sister Ann Marie, responsável pelo centro médico. Contei todo o horror que eu estava suportando. Sister Sadie foi confrontada por ela, que determinou que eu deveria ir para o sanatório, já que estava perturbado mentalmente, e nenhuma criança racional faria tais alegações. Como ninguém ousava questionar sua autoridade, antes que pudesse ser levado, corri para o pátio e num salto desesperado, pulei no Poço dos Desejos. Meu desejo era deixar aquele lugar para sempre. Nunca mais vi a irmã Sadie em carne e osso. Mas ela estaria para sempre em meus pensamentos e sonhos.


Fiquei três dias em coma por conta do impacto com a queda. Durante dias, ao acordar, comecei a ter visões de quem eu realmente era. Revelações do meu verdadeiro destino e vislumbres de quem e o que eu acabaria por me tornar. Enquanto era vigiado 24 horas por dia, já que Sadie havia dito que eu era 'potencialmente perigoso, delirante e possivelmente suicida', fiquei em uma sala para novos pacientes por cerca de dois meses, até que determinaram que eu não representava mais perigo para mim mesmo. Assim, parei na enfermaria de adolescentes pelos próximos dois anos, chamada Asylum #9. Era um quarto retangular com 22 camas e grades nas janelas. Lá conheci 'Spazmo', cujo nome verdadeiro era Teddy, e com 13 anos, foi preso por estrangular a avó. Com o cérebro deteriorado pelas drogas que havia tomado antes e depois de chegar ali, ganhou o apelido de 'Spazmo'. Este cara trabalhava para outro cara, chamado Billy. William Samuel Sims, também conhecido como 'Serial Sam'. Mais um negligenciado pelos pais. Um cara tranquilo, inofensivo e muito bem educado.

Páginas finais


Os pais de Billy eram ricos, e mandavam muito dinheiro, o qual Billy convertia em qualquer coisa que quisesse, inclusive drogas, e 'Spazmo' era seu 'serviçal', recebendo valium, percodina, codeína e ecstasy, especialmente 'X'. O lugar era um inferno, e a única maneira de sobreviver lá era ficar fodido todo o tempo. Contei minha história para eles, que me contaram que haviam outras duas crianças que contaram a mesma história que eu. Uma morreu misteriosamente e a outra cometeu suicídio por overdose. Passei dois anos lá em coma de ectasy auto-induzido, e ao menos não sentia dor. Foi então que soubemos que Sadie havia sido encontrada morta, e com isso, Ann Marie me mandou de volta para o orfanato. Agora ela estava no comando. Para comemorar, decidimos fazer uma festa.


Havia um quarto separado, onde costumávamos ficar chapados, que chamávamos "Red Room of the Rising Sun". Era o lugar mais legal que já vi, passávamos a maior parte do tempo lá, e acabei me tornando muito próximo de Billy. Porém, naquela noite, na festa de despedida, nós três ficamos muito chapados. Spazmo já havia desmaiado no chão. Billy me entregou um bilhete e disse que queria que eu lesse, porque ele iria dormir. Quando comecei a ler, Billy agarrou minha mão e ficou claro por que ele queria que eu lesse o bilhete. O bilhete dizia: 'Estou feliz por você finalmente estar saindo deste inferno e ter a chance de ter uma vida real. Mas para mim só há uma maneira de sair daqui. Você foi o único amigo verdadeiro que já tive e nunca terei outro. Não ficarei mais aqui. Assinado: 'Seu amigo para sempre, Billy'. Quando olhei, seus olhos estavam fechados e senti suas mãos escaparem das minhas. Encontrei ao lado de Billy um frasco vazio de pílulas para dormir. Ele havia tomado todas. Nunca mais tive outro amigo como ele.


Voltei ao orfanato no dia seguinte, e fugi menos de uma semana depois. Tinha 14 anos. Durante dois anos dormi em prédios antigos abandonados, em qualquer lugar que me desse abrigo. Lá conheci os indesejáveis, os descartáveis ​​da sociedade, todos viciados de algum tipo, procurando escapar da dor. Era um tipo diferente de inferno e muitas noites eu dormia pensando que tudo que precisava era alguém que me amasse. Conheci muitas crianças que foram abusadas sexualmente, e se prostituíram para alimentar seus hábitos de consumo de drogas. Fui para cidades diferentes, mas era tudo praticamente igual, até que um dia conheci alguém que mudaria minha vida em todos os sentidos.

W.A.S.P. ao vivo em Milão em 2004


No centro de uma cidade, vi um grupo de umas cem pessoas vendo a mágica de um artista de rua, que parecia hipnotizar as pessoas. Ele era bom, muito bom. Foi então que ele, no meio da multidão, me chamou para auxiliar em uma próxima tarefa. Ele me entregou um envelope lacrado e perguntou se nos conhecíamos, o que afirmei não ser verdade. A tarefa foi pedir o número para três pessoas diferentes, e então, ao final, o valor somado deu exatamente o que estava no papel dentro do envelope lacrado (14026). Todos ficaram chocados. Depois de mais alguns truques, e o encerramento da apresentação, enquanto guardava suas coisas, me aproximei e perguntei: 'como você fez isso?'. Ele sorriu, falou que procurava alguém que não iria o confrontar e se apresentou: 'Meu nome é Judah Magic'. Conversamos muito.


Ele havia estudado e também sabia que tinha um dom desde a infância, que era o de sentir as energias das pessoas, e me perguntou se eu queria continuar com ele. Como estava interessado nessas coisas há muito tempo, Judah se tornou meu mentor. Ele era um cara intenso, não muito grande, mas agressivo mentalmente. Tinha uma energia que você podia sentir, uma daquelas pessoas com uma presença incrível, e as pessoas tinham medo dele por causa disso. Ele também não tinha onde morar e ficou órfão muito jovem, então criamos um vínculo instantâneo. Houve uma atração magnética entre nós e nos tornamos amigos inseparáveis.


Ficamos muitas vezes chapados juntos, e conversávamos sobre a vida, religião e pessoas. Sob efeito do ácido, tinhamos conversas profundas sobre o conceito de Céu e Inferno e do Bem e do Mal em todas as pessoas. Ambos sabíamos que a maioria das pessoas poderia ser manipulada de alguma forma. Alguns mais do que outros. Nós dois sabíamos que o mundo iria te matar se você deixasse. Decidimos que mataríamos o mundo... juntos! Passamos a viajar de cidade em cidade durante o ano seguinte, e comecei a ler sobre metafísica e ocultismo. Sempre soube que tinha fortes habilidades de percepção incomuns e estava trabalhando duro para desenvolver minhas habilidades físicas, desde que cai no Poço dos Desejos.


Minha personalidade e presença tornaram-se mais fortes que as de Judah e, onde quer que íamos, as pessoas eram atraídas por mim. O aluno se tornou o Mestre. Passamos a 'recrutar' indivíduos para fazer parte do nosso grupo, pessoas fortes mas sem rumo, raivosas mas frágeis, bem como crianças que nunca conheceram o amor, mas procuravam uma 'razão para existir', que era eu. Eu queria que o mundo soubesse meu nome. Tudo começou basicamente como uma gangue. Vieram Robbie Taylor, JoJo Stone e Mad Max Morrison, todos eram ladrões, traficantes de algum tipo e com talento para alcançar a grandeza, mas não acreditavam em si mesmos. Eu era o líder deles, lhes dei novos nomes e me referia a eles como meus 'discípulos', para reforçar a crença deles em mim. Com um título como esse e com controle mental e drogas; eles fariam qualquer coisa que eu mandasse. Eles acreditavam que eu tinha o poder de curar e que podia ler seus pensamentos.


Haviam duas meninas, Lucy e Mary, também fugitivas de infância, prostitutas adolescentes, e mais ladrões e mendigos... todos implorando por amor e um lugar ao qual pertencer. Eles faziam qualquer coisa para agradar, roubavam comida e cozinhavam, limpavam nossas roupas e traziam outras meninas de vez em quando para nossas celebrações pagãs. Essas aconteciam aos sábados. Eu falava sobre amor e liberdade de espírito. Os alucinógenos (LSD e Ecstasy) eram uma parte importante dessas celebrações, e durante elas aconteciam orgias ritualísticas. Nessas orgias, uma garota era escolhida como sacrifício. Não ser sacrificada mortalmente, mas sexualmente e por vontade própria."


Durante uma dessas celebrações, fiquei visivelmente ausente. Quando apareci havia uma pequena pomba morta. Tudo parou quando soprei nas narinas da pomba e ela levantou e voou para longe. Os discípulos se sentaram, eu peguei uma faca e gravei a palavra deus na minha testa. Lucy e Mary lamberam o sangue do meu rosto enquanto eu transava com elas. Os demais caíram de joelhos e começaram a me adorar como o novo Messias. O último rosto que vi naquela noite foi o de Judah ... sorrindo para mim.

Palhetas da turnê de Neon God


Passamos a viajar de um lado para outro, como ciganos, e em todos os lugares haviam pessoas para me ouvir falar e realizar milagres, além de novos convertidos. Montamos nossa própria tenda coberta que acomodava mil pessoas, e eu pregava sobre amor, celebração e liberdade da mente. Curava pessoas de doenças e enfermidades pela cura pela fé. Com o passar do tempo, a tenda coberta foi substituída por arenas, e filmes meus foram vendidos em vídeos e DVDs, com Judah sendo meu braço direito. O mundo me amava... mas agora éramos um grande negócio.


A magnitude do nosso ministério tornou-se verdadeiramente assustadora, e passei a ter pequenos vislumbres de mim mesmo, e do que estava fazendo aos que me rodeavam, especialmente Judah. Surgiu um círculo vicioso de perguntas (Teria eu sido colocado na Terra para fazer o que estava fazendo? Eu era Deus? Um profeta? Ou apenas um homem com minha própria mensagem nascida sem amor? Eu sou mau? Eu sou o grande enganador? Deus sabe que eu existo?) se tornou uma tortura viva. Eu estava no Jardim do Éden? Se eu fosse, qual era eu?"


Encerro aqui a "tradução" da longa história desenvolvida nas páginas iniciais do encarte de Neon God Part I, e de antemão, peço desculpas ao leitor. Mas é crucial termos a noção de quem é Jesse, pois somente com a leitura do texto, as canções que virão passam a fazer sentido dentro da história. Tendo então este resumo em mente (lembrando que o texto vai bem mais que isso), podemos agora passar para as músicas de Neon God, desenvolvendo a história, a qual apresento com algumas traduções livres e interpretações que, caso você discorde das mesmas, é só usar os comentários com respeito, sempre.


Lançado em 6 de abril de 2004, The Neon God Part I: The Rise é um disco que, para o fã do W. A. S. P., vai rapidamente trazer similaridades à The Crimson Idol. Seja pela excelente qualidade musical, seja pelas faixas curtas que lembram vinhetas, seja pela bateria endiabrada de Banalli. O todo da obra acaba sendo diferente do álbum de 92 devido principalmente as performances de Lawless, que estava cantando como nunca, e de Roberts, que por mais que seja um grande guitarrista, fica um pouco aquém da de Kulick.

Setlist e pass All Access da Neon God Tour


A primeira faixa do álbum, “Overture” se inicia por uma entrada épica, com teclados e metais, trazendo guitarra, baixo e bateria para apresentarem alguns dos principais riffs que irão surgir ao longo dos dois álbuns. A presença dos metais já me remete diretamente a Quadrophenia, mas os mesmos não surgem por muito tempo, e o que predomina é um amplo resumo de Neon God. Violões trazem a voz rasgada de Blackie Lawless no papel de Jesse, perguntando a Deus por que veio ao mundo ("Oh Lord, why I am here? Lost in all our pain and sorrow. Are we to live in pain and fear? Oh Lord, why I am here” - "Oh Senhor, por que estou aqui? Perdido em toda a nossa dor e tristeza. Devemos viver com dor e medo? Oh Senhor, por que estou aqui"), na breve "Why Am I Here", e então começa a pauleira de "Wishing Well".


A letra retrata um Jesse revoltado com os abusos e sua vida infeliz no orfanato, implorando a Deus para acabar com seu sofrimento, que o leve de uma vez. O instrumental é uma pancada que facilmente remete a The Crimson Idol, com grande destaque para a bateria, violentíssima, e os gritos eufóricos de Lawless. A faixa passa rápida, levando ao riff pegado de “Sister Sadie (And the Black Habits)” (que já havia sido apresentado em "Overture") na primeira das faixas mais tensas do álbum. Aqui é o início dos relatos de abuso que Jesse sofre no orfanato. Enquanto Jesse desabafa que "I don't believe, I don't deceive, I don't conceive at all" ("Eu não acredito, não me engano, não concebo nada"), Sister Sadie adota uma postura autoritária e agressiva.


A virada que a canção dá a partir dos 4 minutos é surpreendente, com a guitarra tornando-se pesada, e os vocais rasgados e longos de Lawless interpretando o papel de Sister Sadie são arrepiantes. Nesse trecho, a irmã fala: "What I do to thee is what was done to me ... And do you feel there's a God for real. Your only God is me" ("O que eu faço com você é o que foi feito comigo... E você sente que existe um Deus de verdade. Seu único Deus sou eu"). Grande destaque para o solo de Roberts, e novamente a canção muda. Riffs tensos trazem os gritos de Jesse, e sua raiva é extrapolada em altos e rancorosos vocais diante da irmã Ann-Marie "Are you mad, I'm going fast, habits in black no coming back. No Mercy me the hell is real. Why me ya seee she's here killing me" ("Você está louca, estou indo rápido, hábitos de preto não tem volta. Sem misericórdia, o inferno é real. Por que a mim, você vê, ela está me matando"), para encerrar com a repetição do refrão. Claramente, a freira sádica e pedófila tem em seu título uma referência ao Marquês de Sade, cujo nome originou a palavra sadismo. Após os quase 8 minutos dessa incrível e polêmica (pela letra) faixa, estamos imersos na história.


Voltamos então ao riff inicial de "Overture", inclusive com os metais, e o início da viagem religiosa de Jesse, diante do Circo Invisível (Invisible Circus), Jesse fala "Welcome to my world to my kingdom of make believe, I'm your new Messiah you'll worship at my feet" ("Bem-vindo ao meu mundo, ao meu reino de faz de conta, sou seu novo Messias, você me adorará aos meus pés"), seguindo para sua conclamação diante do Circo Invisível, onde eles clamam por Jesse. Aqui é Jesse vislumbrando o seu futuro status como Messias, e começando a pensar sobre usar este poder sobre as pessoas.


Violões e teclados resgatam o Jesse em discussões com Deus na segunda vinheta do álbum, "Why Am I Nothing", perguntando porque nunca foi nada, objeto do amor de ninguém, para então, uma guitarra com efeitos de eco trazer o dedilhado de "Asylum #9". Jesse é levado para a enfermaria, e eis que surge um novo personagem, Doctor D, retratado com voz rouca por Lawless. Ele e as enfermeiras auxiliam Jesse a se curar pós-tentativa de suicídio. As enfermeiras entoam o nome da canção em alto e bom som. Uma música veloz, frenética, com frases grudentas tanto das enfermeiras ("You're here for life ... gimme your life ... I'll give you life ..." - "Você está aqui por sua vida... me dê sua vida ... eu te darei a vida") quanto do doutor ("I'll fix ya right ... It's all you gonna do, I'll Make it right ... I wanna welcome you. Are you in pain or just merely misguided?" - "Eu vou te ajudar... É tudo que você vai fazer, eu vou ajudar... Quero te receber. Você está com dor ou apenas equivocado?") Jesse surge ao final da canção, choroso, lembrando do pai ("I saw my father and me no pain in the Well of Sights .. I wanna die ... my well where wishing dies" - "Eu vi meu pai e eu, sem dor no Poço das Vistas .. Eu quero morrer ... meu poço é onde o desejo morre"). Como a voz de Lawless muda tão drasticamente na forma de cantar é algo incrível, e que ele aprimorou ainda mais em relação a The Crimson Idol. Dois belos solos de encerram a faixa, e vamos para "The Red Room of the Rising Sun", trazendo mais um novo personagem, Billy.


Os riffs espaciais da guitarra soam bem diferentes de tudo o que ouvimos até então na obra do W. A. S. P., para representar o clima viajandão de Billy, o colega de Jesse que o faz viajar pelas "maravilhas" que ele enxerga no mundo vermelho (não à toa, a capa deste volume 1 é vermelha). "Trails of rainbows round, lost asylums of forgotten sons, will you rise up will you touch your God, the sky's slip into the rising seas and drown your Neon One" ("Trilhas de arco-íris redondas, asilos perdidos de filhos esquecidos, você se levantará, você tocará em seu Deus, o deslizamento do céu para os mares crescentes, e afogue seu Neon One").


Esta sala vermelha, na cultura norte-americana, significa uma sala onde ocorrem crimes como assassinatos, torturas e estupros. É Billy quem incentiva Jesse a seguir com sua ideia de se tornar um Messias "Open the doors to your mind and hide in your dreams. The Red Room is laughing, the Red Sun is happy. ... The Red Room is crying ... Touch the faces of God and roll on into the Red Room and free your Neon One" ("Abra as portas da sua mente e esconda-se nos seus sonhos. A Sala Vermelha está rindo, o Sol Vermelho está feliz. ... A Sala Vermelha está chorando ... Toque os rostos de Deus, entre na Sala Vermelha e liberte seu Neon One"). Surge então o Deus Neon, com o clima todo da canção muito psicodélico, e repito, diferente de qualquer coisa que você já ouviu antes no grupo.


Uma bela faixa, que leva aos teclados e a voz chorosa de Billy em seus últimos momentos de "vida", durante "What I'll Never Find", linda faixa, com outro excelente solo de Roberts. Na letra, Billy pede para Jesse segurar sua mão enquanto ele vai para "o outro lado", pós-festta alucinógena de Jesse, Billy e Spazmo. As palavras finais de Billy são emocionantes: "Can you feel the pain slowly leaving me, will you hold my hand and ease me to the other side ... Can you hear me in the night? ... Can you feel me say goodbye?" ("Você pode sentir a dor me deixando lentamente, você pode segurar minha mão e me levar para o outro lado ... Você pode me ouvir durante a noite? ... Você pode me sentir dizendo adeus?). Tocante!

Pôster da turnê americana da Neon God Tour


Após o ato dramático da morte de Billy, a vinheta “Someone to Love Me” retorna ao Jesse depressivo, que lamenta sua solidão "All I need was someone to love me ..." ("Tudo o que eu precisava era alguém para me amar"), com a voz de Lawless chorosa sobre camadas de teclados e um singelo riff de guitarra, e rapidamente vamos para “X.T.C. Riders”, hardzão clássico dos primeiros tempos de W. A. S. P., com muita velocidade e claro, XTC sendo também uma sigla para ecstasy. O personagem se afunda no ecstasy, em um caminho sem volta, ao mesmo tempo que encontra Judah, o qual é representado pela voz carregada de eco. "You'll be so far out of control, you'll be out of your mind. you'll feel nothing, it's taking a hold of you, won't ya leave all your pain behind ... You'll feel my X is taking control" - "Você estará tão fora de controle, você estará fora de si. Você não sentirá nada, isso está tomando conta de você, você não vai deixar toda a sua dor para trás ... você irá sentir meu X tomando o controle"). O papel de Judah na vida de Jesse vai muito mais do que ser responsável pela introdução ao mundo das drogas, já que ele é o incentivador de Jesse a se tornar um Messias, e aqui é importante novamente citar que as informações centrais não estão somente nas letras, mas principalmente no encarte apresentado acima. 


A acústica “Me & the Devil" é a última vinheta, e apenas repete o nome da faixa por alguns segundos, para então chegarmos a "The Running Man”, no qual Jesse depois de se auto-conclamar o novo Messias para seus discípulos, percebe que não é nada daquilo, enquanto Judah não o deixa fazer isso. A faixa é veloz e agressiva, e destaco frases como "take your love away from me” ("tire seu amor de mim"), que me remete muito a "Love reign o'er me", do Quadrophenia, na forma como Lawless canta), e principalmente, "you're the only God they know" ("você é o único Deus que eles conhecem")


A primeira parte de The Neon God encerra-se com “Raging Storm“, faixa em que Jesse pede, novamente, amor, dizendo "Give me love to rage in me, can you see, only love is saving me" ("Dê-me amor para me enfurecer, você pode ver, só o amor está me salvando"). Arrastada no seu início, onde Jesse clama por este amor perdido para Deus, a canção vai ganhando força, para explodir na imploração pelo amor "Give me love to rage in me can you see? Only love is savin me, give me love, oh love that rage in me" ("Dê-me amor para me enfurecer, você pode ver? Só o amor está me salvando, dê me amor, oh o amor que me enfurece"). Jesse encerra este pedaço de sua história da mesma forma que começou: triste e carente, porém implorando por redenção "Holy war for my soul, scars of memories remains ... tel me why am I here, storms of crossroads and rage" ("Guerra santa pela minha alma, cicatrizes de memórias permanecem... diga-me por que estou aqui, tempestades de encruzilhadas e raiva").


Neon God Part I atingiu a 26 posição na Finlândia e 14 nos charts britânicos de Rock & Metal, além da 87 posição na parada alemã. Depois de amanhã, trago o encerramento de Neon God, com o aniversariante do dia de hoje, 28 de setembro: The Neon God Part II - The Demise.

Contra-capa do CD


Tracklist


1. Overture


2. Why Am I Here


3. Wishing Well


4. Sister Sadie (And The Black Habits)


5. The Rise


6. Why Am I Nothing


7. Asylum #9


8. The Red Room Of The Rising Sun


9. What I’ll Never Find


10. Someone To Love Me


11. X.T.C. Riders


12. Me & The Devil


13. The Running Man


14. Raging Storm

sábado, 8 de junho de 2024

W. A. S. P. - The Crimson Idol (Reissue Edition) [1998]

Há algum tempo, trouxe aqui aqui uma resenha detalhada sobre um dos maiores lançamentos da década de 90, The Crimson Idol. O quinto disco da carreira do W. A. S. P. , que completa hoje exatamente 31 anos de seu lançamento, é um álbum conceitual narrando a ascensão e queda do astro do rock Jonathan Aaron  Steele, e não vou entrar nos detalhes centrais do disco, deixando para o leitor acompanhar a matéria citada acima.

CD single de “Hold On To My Heart”, trazendo as bônus “When The levee Breaks”, “Hold On To My Heart” (acústica) e “The Idol” (Acústica)

Musicalmente, temos uma paulada do início ao fim. Comandado pelo baixista, vocalista, guitarrista, compositor, produtor e faz tudo Blackie Lawless, o W. A. S. P. tem aqui sua obra definitiva, na qual o rapaz está acompanhado de Bob Kulick (guitarras), fazendo talvez a melhor performance de sua carreira, assim como o batera Frankie Banalli (outro baterista, Stet Howland, também se faz presente). O álbum gerou quatro singles, a saber “Chainsaw Charlie (Murders in the New Morgue)”, “The Idol”, "Hold On To My Heart" e “I Am One”, os quais foram relativamente bem sucedidos nos charts.

Para os colecionadores, o W. A. S. P. é uma banda que sempre traz novidades em seus lançamentos de singles, e não foi diferente com os da época de The Crimson Idol. O primeiro deles, de “Chainsaw Charlie (Murders in the New Morgue)”, saiu em uma tiragem limitada de um pacote contendo três mídias, chamada The Chainsaw Pack, assim como uma versão 12". A The Chainsaw Pack é constituída de uma pasta plástica com 3 bolsas, uma para cada um dos lançamentos individuais, os quais foram: um compacto de 7″ Picture Disc; Um compacto de 7″ etched com uma mensagem gravada a mão no vinil, feita por Lawless; e o CD single. Como novidades musicais, temos "Phantoms In The Mirror" (presente na versão 12", CD single e no 7" etched) e a faixa "The Story Of Jonathan (Prologue To "The Crimson Idol") Part 1" (presente na versão 12" e CD single), a qual narra a primeira parte da história presente no encarte que acompanha o Vinil e CD originais.

Versão Vinil Escarlate de “The Idol” (acima), trazendo a segunda parte de “The Story Of Jonathan (Prologue To The Crimson Idol)”; Versão Shaped de “The Idol”, tendo a inédita “The Eulogy” no lado B

"The Idol" recebeu versões em 12" e dois compactos 7" (vinil vermelhovinil vermelho e vinil shaped). A versão 12" traz a segunda parte de "The Story Of Jonathan (Prologue To "The Crimson Idol")" e a inédita "The Eulogy", as quais estão, de forma separadas, em cada um dos compactos 7". "Hold on to My Heart" saiu em uma tiragem trazendo uma versão editada desta incrível balada, acompanhada de uma versão para "When The Levee Breaks" do Led Zeppelin e versões acústicas para "The Idol" e "Hold On To My Heart". Já o single de “I Am one” saiu em uma versão 10" com a faixa  gravada ao vivo na espetacular apresentação da banda no Monsters of Rock Festival de 1992, assim como mais três faixas daquele show: "Wild Child", "Chainsaw Charlie" e "I Wanna Be Somebody". O resto do show foi levado para os fãs através da edição em CD do compacto de "I Am One", com a mesma faixa junto de "The Invisible Boy", ""The Real Me" e "The Great Misconception Of Me".

Vinil 10″ de “I Am One”, com quatro faixas ao vivo no Monsters of Rock de 1992

Obviamente que um colecionador do grupo irá desejar (e eu particularmente me falta só o CD de "I Am One", como mostram as imagens ao longo do texto, retiradas da minha coleção) ter todos esses itens diferentes, mas para quem não é colecionador, mas gostaria de ter todas as músicas, em 1998 saiu uma edição remasterizada de The Crimson Idol, dupla, apresentando além de The Crimson Idol na íntegra, todas as canções bônus citadas acima.  A formação nessa apresentação de Donington é de Lawless (guitarra, vocais), Doug Blair (guitarra, vocais), Stet Howland (bateria) e Johnny Rod (baixo, vocais), e pode ser encontrada na íntegra no Youtube. Mesmo com qualidade baixa na visão, o som é ótimo, sendo que quase todo The Crimson Idol é interpretado. E é o grande atrativo desta reedição.


The Chainsaw Pack, trazendo três diferentes formatos (CD single, 7″ etched e 7″ picture”) para a clássica faixa “Chainsaw Charlie” (Murders In the New Morgue)”, trazendo como novidade “Phantoms In the Mirror” e a primeira parte de “The Story Of Jonathan (Prologue To The Crimson Idol)”


Afinal, conferir a complexidade das canções ao vivo é bem interessante. Apesar de algumas falhas, a mais gritante em uma entrada totalmente atravessada de um acorde dos teclados durante "I Am One", a pancadaria come solta, e ouvir "The Great Misconception Of Me" ao vivo é de tirar o chapéu. Esta reedição, originalmente lançada no Japão e Reino Unido, posteriormente teve uma nova adaptação, em 2007, também no Reino Unido e Alemanha. Em 2012, foi a vez da Argentina, através do selo Icarus, relançar a obra nesse formato, e ano passado, a Hellion Records trouxe essa fantástica edição para o Brasil, acompanhada do lançamento oficial em nosso país do álbum ao vivo Double Live Assassins, originalmente lançado em 1998, fazendo o registro da turnê de Kill Fuck Die, álbum que marcou o retorno do guitarrista Chris Holmes para a banda. Mas isso já é papo para outro post, ficando este como uma forma de comemorarmos os 32 anos de The Crimson Idol, e uma indicação de aquisição agora possível de ser feita sem passar por taxações e/ou perdas através das compras internacionais via Discogs, Ebay e afins. Vale muito a pena!

Contra-capa da edição inglesa de The Crimson Idol Reissue Edition

Track list


1-1 The Titanic Overture

1-2 The Invisible Boy

1-3 Arena Of Pleasure

1-4 Chainsaw Charlie (Murders In The New Morgue)

1-5 The Gypsy Meets The Boy

1-6 Doctor Rockter

1-7 I Am One

1-8 The Idol

1-9 Hold On To My Heart

1-10 The Great Misconceptions Of Me

1-11 The Story Of Jonathan (Prologue To The Crimson Idol)


2-1 Phantoms In The Mirror

2-2 The Eulogy

2-3 When The Levee Breaks

2-4 The Idol (Live Acoustic)

2-5 Hold On To My Heart (Live Acoustic)

2-6 I Am One (Live Donnington 1992)

2-7 Wild Child (Live Donnington 1992)

2-8 Chainsaw Charlie (Murders In The New Morgue) (Live Donnington 1992)

2-9 I Wanna Be Somebody (Live Donnington 1992)

2-10 The Invisible Boy (Live Donnington 1992)

2-11 The Real Me (Live Donnington 1992)

2-12 The Great Misconceptions Of Me (Live Donnington 1992)

sábado, 10 de setembro de 2022

Rompendo O Lacre: W. A. S. P. - The Idol [1992]



Vídeo apresentando o deslacramento do single "The Idol", lançado pelo W. A. S. P. em 1992, e que chegou intacto até 2022. Confira!!





domingo, 17 de julho de 2022

W. A. S. P. - The Crimson Idol [1992]

Um dos grandes discos da história do rock no início dos anos 90 veio de um momento inesperado. The Crimson Idol, quinto álbum dee estúdio do W. A. S. P. (We Are Sexual Perverts), surgiu justamente quando o grupo, liderado pelo vocalista, baixista, tecladista e guitarrista, além de compositor Blackie Lawless, perdia sua maior referência nas guitarras, Chris Holmes. Os fãs ficaram em choque com a saída de Holmes (à época), que estava insatisfeito com os caminhos "mais sérios" que a música do grupo estava tomando a partir do excelente The Headless Children (1989), disco que mudou totalmente a sonoridade festiva e provocativa dos três primeiros discos do grupo (a saber W. A. S. P. de 1984, The Last Command de 1985 e Inside the Electric Circus, de 1987, além do ao vivo Live ... In The Raw, de 1987). Além disso, o relacionamento de Holmes com a nova namorada, Lita Ford, bateu de frente com a linha dedicada que Lawless estava cobrando de sua banda.

Resultado, o W. A. S. P. desmoronou em 1990, e assim, Lawless decidiu viajar o mundo para começar uma carreira solo. Porém, a pressão da gravadora Capitol (e também dos fãs), fez com que o músico voltasse com a ideia de continuar com o W. A. S. P.. Assim, ao lado de Bob Kulick (guitarras) e Frankie Banalli (bateria), além de Doug Aldrich (guitarra em "Arena of Pleasure", não creditado no álbum) e Stet Howland (bateria), Lawless colocou nos sulcos de vinis e CDs aquela que por muitos é considerada ainda hoje como sua obra-prima.

Lawless (esquerda) e Bob Kulick (direita) na época de gravação de The Crimson Idol


Foram três anos investindo na criação deste álbum conceitual, uma ópera-rock que narra a história de ascensão e queda de Jonathan Aaron Steele, um rock star que viveu do sexo, das drogas, e que se perde em um mundo de famas, muito por conta de seus traumas do passado, onde sonhava pelo amor dos pais. Muitos acharam que era uma espécie de autobiografia de Lawless, outros compararam a história como uma adaptação à Tommy (do The Who, banda que inspirou muito Lawless), mas o fato é que The Crimson Idol é um disco magnífico, com composições únicas e poderosas, empregando ainda a teatralidade que consagrou o grupo nos anos 80. Lançado em 8 de junho de 1992, completando portanto 30 anos em 2022, é sem dúvidas um dos grandes discos conceituais da história.


É fundamental começar com o encarte de The Crimson Idol. Nos agradecimentos, Lawless já mostra sua devoção à Pete Townshend, onde afirma que Townshend "exorcisou um grande demônio em mim, encorajou, inspirou, e deu a convicção para criar o disco. Ele é meu mentor e espero que esteja orgulhoso de mim". Essa inspiração será sentida ao longo do disco, tanto pela história, que por vezes lembra Tommy, quanto pela performance assombrosa da bateria, muito influenciada pelas endiabradas performances de Keith Moon. No mesmo encarte, e após mais diversos agradecimentos, há um longo texto chamado Narração, que conta a história de Jonathan Aaron Steel, de um ponto de vista autobiográfico.


A narração da história de Jonathan, retirada do encarte da edição em vinil brasileira

Havia pensado em traduzir esse texto, mas preferi colocar o mesmo em formato de imagem (acima), e resumir a história. Filho de uma família de classe média, composta pelos pais William (Big Red) e Elizabeth Steel, fervorosos religiosos, e o irmão mais velho Michael (Little Red), Jonathan percebeu desde pequeno que não era o preferido de seus pais, considerando-se a ovelha negra da família, constatando que o vermelho e o preto não se misturavam. Agressões eram constantes, e apesar da dor desta violência, Jonathan amava o pai e o irmão. Os irmãos eram diferentes como o dia e a noite, o que fazia com que Jonathan pensasse que fosse filho de pais diferentes, mas mesmo assim, eram muito próximos. Foi Michael quem encorajou Jonathan em sua vida, contando que quando ele nasceu, um anjo voou sobre a cama do bebê e com uma varinha mágica disse: "Você é o cara!", o que Jonathan só foi entender a medida que foi crescendo. Além disso, Jonathan ficava horas diante do espelho, perguntando-se por que aquilo acontecia, buscando o que estava errado com ele.


A relação com a mãe também era difícil, já que ela era teimosa, má-educada, preconceituosa e arrogante. Mas Jonathan admirava sua beleza, e as mulheres que teve quando adulto sempre foram o oposto da sua mãe. Durante a juventude, o garoto passa a lidar com depressão, medo, ódio e raiva, as "Quatro Portas das Perdição" que se tornam a força orientadora e controladora da vida de Jonathan. No aniversário de 14 anos, a vida de Jonathan muda totalmente. Michael é morto em um acidente de carro por um caminhoneiro bêbado. Em choque, Jonathan acaba não participando do funeral, e isso irá abalá-lo profundamente a partir de então, passando a viver mais na rua do que no "inferno" de sua casa. Na rua, descobre o sexo, o álcool e as drogas. Uma vida excitante, maravilhosamente perigosa, que ele não conhecia. Nesse mundo, em determinado dia, já com 15 anos, bêbado, Jonathan acaba pasando em frente à uma loja de músicas, onde depara-se com uma linda guitarra vermelha carmesim (Crimson Red, como o pai), que se torna seu instrumento de paixão e obsessão.

O jovem Jonathan diante do espelho (irmão Michael ao fundo)


Ele rouba a guitarra, e com o instrumento e a música, o menino encontrou a fuga para suas dores. Com 16 anos, e cansado do lema "viva, trabalhe e morra" dos pais, Jonathan fugiu de casa em busca do sucesso. Na cidade grande, a "Arena dos Prazeres" ofereceu à ele o contato com Charlie "The Chainsaw", um ex-advogado que tornou-se presidente de uma das maiores companhias de gravação do mundo. Tempos depois, Lawless afirmou que esse personagem era uma alusão ao dono da Capitol Records. O lema do personagem era que o necrotério (Morgue em inglês) era o mundo da música, onde todos se vendem. Charlie apresentou o mundo da música de uma maneira que Jonathan nunca havia visto, e também Alex Rodman, um jovem empresário, que se torna seu novo mentor.


Dias antes de Jonathan lançar seu primeiro álbum, uma cigana surge na vida do rapaz. Ela lê nas mãos dele todo seu passado de dor com a família, o presente de sucesso que o aguardava, e pára antes de contar sobre o futuro. Ao contrário da fama e riqueza desejada pelo agora artista, a cigana vê um herói caído, e avisa que Jonathan deve tomar cuidado com seus desejos (algo que Lawless afirmou durante o lançamento e promoção do álbum, em diversas entrevistas, ser a principal mensagem de The Crimson Idol, ou seja, pense bem naquilo que você deseja, pois às vezes isso irá se tornar real, e não será bom). Aquilo assombrou Jonathan, que clamou por ser "o ídolo de milhões de olhos". O sucesso chegou à vida do jovem, e quanto mais discos foram vendidos, mais excessos surgiam - amigos, mulheres, dinheiro, carros, casas. Em um dos seus devaneiros com o sucesso, ele acaba voltando a ver um velho amigo, através do traficante The Doctor Rockter, que lhe coloca novamente diante do espelho, mas agora o espelho onde Jonathan consome cocaína e outras drogas, vivendo em um mundo atípico.

Jonathan e a cigana


No auge da carreira, o ídolo, The Great Crimson Idol, tem tudo o que quer, menos o que sempre quis de verdade, a aceitação de seus pais, os quais ele não via desde que tinha fugido. Cada vez mais afundado nas drogas, Jonathan é encontrado por Alex durante uma festa em sua casa. Alex acaba com tudo, se afasta de Jonathan e o larga na berlinda. Só e refletindo durante seu momento de "chapação", Jonathan resolve ligar para casa, com esperança de que, após ter chegado à fama, ao sucesso, os pais iriam finalmente aceitá-lo. Mas a mãe foi fria, trocando poucas palavras, sendo as últimas "não temos nenhum filho". A grande estrela, o ídolo, caía em autodestruição, e o grande final então chega, ficando para o fã acompanhar a uma hora de audição e entender o que irá acontecer com Jonathan.


Aqui encerra-se a Narração, que no relançamento em CD de 1998, surge como uma faixa-bônus intitulada "The Story Of Jonathan (Prologue To The Crimson Idol)", a qual é a mesma narração do texto do encarte, e também virou um vídeo/filme que auxilia na compreensão da história (algumas imagens acima). Apesar de eu ter alguns pés atrás com o enredo de The Crimson Idol, e com citações bem inspiradas em Tommy (a cigana, o espelho, o doutor, entre outros), é através da combinação das letras e músicas criadas pelo genial cérebro de Lawless que tudo fará sentido. A história de Jonathan é uma tragédia de um garoto que nunca teve amor, um abraço, um carinho, e que perdeu-se em um mundo cruel, o mundo da música. A tradução que fiz na narração, e que farei sobre as letras das canções, é livre, podendo ter outras interpretações. Caso você leitor discorde dessa interpretação, é só comentar. Vamos ao álbum!

Blackie Lawless, o gênio criador de The Crimson Idol


The Crimson Idol abre com "The Titanic Overture". O dedilhado da guitarra ao fundo nos traz a voz de Jonathan: "I look at my face in the mirror and I don't understand. Don't feel like a boy and it's not getting clearer, but I don't feel like a man" ("Olho minha face no espelho e não entendo. Não me sinto como um garoto, mas não está claro, eu não me sinto um homem"). Teclados e violões passam a dar ritmo para a faixa, deixando apenas o violão entoando uma sequência de acordes que irá surgir diversas vezes ao longo do álbum. Bateria e baixo surgem com muito peso, e é impressionante já de imediato a potência e velocidade que a bateria entrega. Então, começa a pancadaria, com a guitarra mandando ver na sequência de acordes junto com o teclado, e o pau pegando na bateria. Essa faixa é incrível, com um instrumental fantástico. Os teclados brilham, os riffs da guitarra apresentam o que virá na obra, e a bateria é avassaladora. Voltam então os dedilhados, e Jonathan é agora um jovem. "I'm seventeen and I'm somebody's son. My dad don't know where I stand cause when he looks at me, he don't like what he sees. He don't know what I am" ("Tenho 17 e sou filho de alguém. Meu pai não sabe onde eu estou, por que quando ele me olha, ele não gosta do que vê. Ele não sabe quem eu sou").


"The Invisible Boy" vem na sequência. Somos apresentados musicalmente então à Jonathan, o garoto indesejado, irmão do filho querido, do qual Jonathan falecia nas sombras. A angústia se torna mais clara no refrão, onde ele suplica ao pai: "Red, Crimson Red, am I the Invisible Boy?" ("Red, Crimson Red, eu sou o garoto invisível?"), relata as agressões: "Feel the strap, cross my back" (sinto a cinta atravessando as minhas costas), pergunta: "The orphan son you would never need?" ("Sou o filho órfão que você nunca necessitou?") e afirma: "I'm the boy only the mirror sees" ("sou o garoto que apenas o espelho vê"), relatando as dores, a sensação de injustiça, suas ilusões e pensamentos diante do espelho, de onde ele se enxerga como uma vergonha.

Jonathan sendo agredido pelo pai. As marcas da cinta nas costas


A música aqui é mais pancadaria. O riffzão da guitarra e do baixo, e a quebradeira Mooniana da bateria, são a base para Lawless rasgar sua voz cantando as frases acima. Os efeitos sonoros da cinta enquanto Jonathan sente ela nas costas, são sentindos em nossos ouvidos, e o refrão é matador. Sonzeira pegando nas caixas de som, com muita velocidade e fúria, e é apenas o início desta obra-prima sensacional. Aliás, Lawless também faz muito bem o casamento entre o que a história está contando e a harmonia musical, sendo que a mudança que ocorre no disco, da fúria para o desespero de Jonatan, é algo mais do que fantasticamente impressionante, e digno de ser estudada. A interpretação vocal dele, fazendo as vozes de Jonathan e do espelho, é muito legal, e o solo de Kulick aqui é animalesco. Baita faixa, que encerra com o pensamento de Jonathan: "Some people never go crazy. What truly boring lives they must lead. Is there no love to shelter me? Only love, love sets me free" ("Algumas pessoas nunca enlouquecem, que vida verdadeiramente chata devem viver. Não há amor para me abrigar? Somente o amor me libertará"). É a apresentação da frase mais emblemática de The Crimson Idol, que também me remete um pouco ao Tommy (as repetições de "See Me, Feel Me, Touch Me, Heal Me" ao longo daquele disco tem uma certa similaridade aqui), revelando a dor de Jonathan por não ser amado. Apenas o violão faz a tal sequência de acordes citada anteriormente, e podemos sentir a dor de Jonathan através da magnífica interpretação de Lawless.


"Arena of Pleasure" apresenta Jonathan fugindo de casa e descobrindo as aventuras e prazeres da noite. Com dezessete anos, ele foge do pesadelo de sua vida na "terra prometida", onde viveu com fogo e raiva nos olhos. "Mama, I'm running for my life ... I'm outta here" ("Mamãe, estou correndo por minha vida ... estou aqui fora") são os desabafos de Jonathan à mãe, e agora, ele decide não desperdiçar suas lágrimas pelos anos perdidos. Irá viver um novo mundo, como uma estrela do Rock. É uma faixa pesadíssima, começando com o riff da guitarra, trazendo a voz sussurrante de Lawless. Os teclados são marcantes, e o ritmo é forte, estourando no refrão. Outra grande faixa com instrumental e interpretação impecáveis. Os gritos de Lawless fazendo os desabafos de Jonathan e demonstrando sua raiva, são arrepiantes, e claro, a performance de Kulick na guitarra é mais uma vez animalesca.

Frankie Banalli (esquerda) e Lawless (direita)


O triste dedilhado do violão introduz o ouvinte a "Chainsaw Charlie", e o contato de Jonathan com a realidade das gravadoras. O barulho da moto-serra abre mais uma pancada. Vamos a história. Sedutoramente, Charlie conquista Jonathan: "Here's your deal, will you gamble your life? ... It's is the one you've waited for all your life" ("Aqui está o seu contrato, você irá apostar com a sua vida? .... Aqui está aquilo que você esperou por toda a sua vida"). Fascinado, Jonathan aceita o contrato, pois "It feed my hunger ... I'll will my throne away, to a virgin heir and Charlie's slave" ("Isso alimenta minha fome ... irei tirar meu trono, para um herdeiro virgem e escravo de Charlie"). Então, Jonathan entra no mundo de Charlie, um mundo onde "He'll make ya scream for the cash machine down in Chainsaw Charlie's Morgue" ("Ele irá fazer ouvir os gritos da máquina da fama debaixo do necrotério de Charlie Motosserra").

Single de "Chainsaw Charlie (Murders in the New Morgue)". Versão 7" Picture Disc. Uma das três partes de um pacote especial sobre a canção (VER TEXTO).


O novo pupilo é incentivado a ser um grande guitarrista: "Strap on your sixstring and feed our machine" ("toque suas seis cordas e alimente nossa máquina"). A voracidade de Charlie torna-se agressiva. "Welcome to the morgue boy, where the music comes to die, ... I'll cut you throat just to stay alive" ("Bem-vindo ao necrotério, garoto, onde a música morre ... Eu vou cortar sua garganta, apenas para permanecer vivo") e segue "I'm the president of showbiz ... the new morgue's our factory, to grease your lies, our machine is hungry, it needs your life ... I've never had a heart but I'll make you a star" ("Eu sou o presidente do showbiz ... o novo necrotério é a nossa fábrica, que engraxa nossas mentiras, nossa máquina está faminta, ela precisa de sua vida ... nunca tive coração, mas irei fazê-lo uma estrela").


É um desabafo forte de Lawless em relação às gravadoras. Eis aqui, uma das maiores canções da história do W.A.S.P., sem sombra de dúvidas. Pancada forte no estômago das gravadoras, e nos ouvidos dos fãs. A genialidade está principalmente nas variações que a música possui para ilustrar cada um dos personagens. Charlie é representado por um instrumental e vocal velozes, realmente agressivos como o personagem da história, enquanto Jonathan surge com uma melodia mais afável, inocente, de um garoto maravilhado pelas novas descobertas e pela possibilidade da fama, inclusive com acordes longos, sem muita velocidade.

Outro single do mesmo pacote (VER TEXTO). Essa é a versão 7", com mensagem gravada por Lawless no selo do vinil


O refrão dessa canção talvez seja um dos mais conhecidos da carreira do W. A. S. P. (ao lado claro de "I Wanna Be Somebody"), e é impossível não balançar a cabeça e rasgar a voz cantando "Murders, murders in the Rue Morgue". O momento em que Charlie dá as boas vindas ao garoto é assustadoramente assustador. A voz de Lawless está muito endiabrada, e o solo de Kulick, veloz e carregado de alavancas, é fantástico. A virada que a canção dá então faz de "Chainsaw Charlie" um épico. Velocidade e pancadaria para qualquer adimirador de Metal abrir um sorriso enorme na face. O encerramento já é com o público nas mãos de Jonathan, entre as explosões de fogos e a plateia entoando os "o o o o o" que emulam a melodia do refrão da canção. Perfeito!! Mais uma faixa incrível!!


E eis que surge a cigana que irá ler seu futuro. O lado A entra em sua reta final com "The Gipsy Meets The Boy". A personagem me remete a Acid Queen de Tommy (The Who), tanto que na letra da canção ela surge como The Gypsy Queen. Mas esta cigana tem um contexto mais forte em relação ao personagem central de The Crimson Idol do que a de Tommy. Ela diz para Jonathan "Be careful what you wish, cause it may come true" ("Cuidado com o que você deseja, por que poderá tornar-se realidade"). Jonathan vê o Ídolo Carmesim voar alto, mas então cair mais rapidamente ainda. Mesmo assim, ele implora à cigana que "I Just wanna be the Crimson Idol of a million eyes" ("Eu apenas quero ser o Ídolo Carmesim de milhões de olhos").


O dedilhado do violão e os teclados são a base para o momento de revelação da cigana para Jonathan. Os quatro acordes voltam a aparecer, em uma faixa suave, onde a voz sussurrada de Lawless mostra sua conversa com a cigana, passando por mais um momento tenso. A canção ganha peso e resgata os acordes anteriores, e então, Jonathan revela seu desejo de ser o ídolo de milhões de olhos.

O single de "Charlie Chainsaw" com a mensagem gravada por Lawless (VER TEXTO)


Isso nos leva ao fim do lado A com "Doctor Rockter". "He's the king of sting, Mr. Morphine" ("Ele é o rei da picada, o Senhor Morfina") o cara que "I'll help son but ya gotta buy this time" ("Eu irei ajudá-lo filho mas você precisa comprar desta vez"). E Jonathan se afunda nas drogas. M. D., cocaína, codeína, 714 (a famosa Lemmon 714) são alguns dos materiais que Docktor Rockter entrega à Jonathan, que usa-as sobre "the mirror ... that's on the table feeding me little white eyes" ("o espelho ... está sobre a mesa alimentando meus pequenos olhos brancos"). Uma faixa pulsante e pesadíssima, que traz lembranças de clássicos como "Animal" e "Wild Child". Outro refrão magnífico, mais uma performance incrível da bateria, mais um solo matador de Kulick, e os teclados brilhando entre a pancadaria que come solta. E assim é concluída a primeira meia hora (sim, colocaram 28 minutos e quarenta e seis segundos em um lado do vinil) da ópera rock.

O single de "I Am One"


Vamos ao avassalador e tenso lado B. Enquanto a genialidade conturbada de Jonathan era construída no lado A, é agora que a coisa irá chegar no seu ápice, e também cair vertiginosamente. Estamos em "I Am One", uma das melhores canções do grupo. "I've become the one" ("eu me tornei o cara"). A frase do irmão Michael torna-se real. Jonathan vira o ídolo de multidões, como apresentado logo no início da canção, onde o mundo está aos pés do artista. "Hello, New York City! Hello, Dallas! Hello Los Angeles, California! Tokyo! Paris! Rome! Chicago! Rio de Janeiro!", e, tantas outras cidades, são anunciadas! Os "o o o o o o o" da plateia (que irão aparecer no refrão da canção) são entoados a plenos pulmões "pelos fãs", e segue a pancadaria na linha do que havíamos ouvido no início do lado A.


A fama chega para um jovem de apenas 18 anos, que ainda não consegue esquecer o passado."Long live to King of Mercy ... Oh I am one, love I am one, I got something to prove and nothing to lose" ("Longa vida ao Rei da Misericórdia ... Oh eu sou o cara, amor eu sou o cara, eu tenho algo a provar e nada a perder"). Jonathan está afundado no ego de excessos e na cegueira do vício. Ele lembra da mãe "Mama, look what I've become" ("mamãe, veja o que me tornei"), e das dores de cada ano que se passa "18 bloody roses, each year that bleed my soul" ("18 rosas sangrentas, cada ano que sangra minha alma"). Durante as crises das drogas, ele começa a ver seu futuro "Will he take me down to the gallows and kill the boy inside the man" ("Será que ele me levará para a forca, e matará o menino dentro do homem?"). A amargura de Jonathan aumenta quando ele percebe que "I don't see my face in the mirror any more why am I the chosen one" ("eu não vejo mais minha face no espelho, por que eu sou o cara?"), ao mesmo tempo que ele se auto-declara "I'm the crimson man ... long live the king of mercy" ("eu sou o homem carmesim ... longa vida ao rei da misericórida").


A música é veloz, nos mesmos moldes que "The Invisible Boy", com mais um refrão marcante, e a garganta de Lawless sendo dilacerada em gritos impiedosos e raivosos. Os trechos onde ele traz a marcante frase "Is there no love shelter me? Only love, love set me free" são amenos no vocal, chorosos, mas tensos no instrumental, e segue a pancadaria, onde Banalli destrói na bateria.

Single de "The Idol"


Entre barulhos de conversas, garrafas quebrando, mulheres e risadas, o empresário Alex Rodman encontra Jonathan destruído, rodeado pelas drogas e pelas podridões da fama. Alex abandona Jonathan, que ainda entorpecido, faz uma ligação, enquanto o coração bate forte (esse momento é muito bem retratado instrumentalmente). Então, uma voz feminina atende o telefone. O dedilhado da guitarra e as alavancadas trazem a dor que aquele telefonema causou para Jonathan. Ele reflete "Will I be alone this morning, will I need my friends? Something just to ease away my pain. No one ever sees the loneliness behind my face. I am just a prisoner to my fame" ("Estarei eu sozinho esta manhã? Precisarei de meus amigos? Alguma coisa para aliviar a minha dor. Ninguém percebe a solidão por detrás de minha face. Eu sou apenas um prisioneiro da minha fama").


Entramos em "The Idol", outro grande momento de The Crimson Idol, e que também traz citações à Tommy. Jonathan começa se perguntando "If I could only stand and stare in the mirror, could I see one fallen hero with a face like me? And if I scream, could anybody hear me? If I smash the silence, you'll see what fame has done to me" ("Se eu pudesse permanecer e olhar no espelho iria ver um herói caído com a minha face? E se eu gritasse, poderiam me ouvir? Se eu quebrasse o silêncio, vocês iriam ver o que a fama fez comigo?", lembrando o cego surdo e mudo menino Tommy) e no auge de sua dor, reflete que "I'll never know if love's a lie" ("nunca saberei se o amor é uma mentira"), e com muita melancolia e dor no coração, começa a gritar a dolorida e mais famosa frase de The Crimson Idol: "Where is the love to shelter me? Give me love, love set me free" ("Onde está o amor para me abrigar? Me dê amor, o amor me tornará livre").


"The Idol" é uma baladaça que muda totalmente o direcionamento do disco. Enquanto as canções anteriores eram fortes, velozes e avassaladoras, aqui, o peso cai nas costas de Jonathan, e através da dolorida voz de Lawless que faz a famosa pergunta e reflexão sobre o amor com muita amargura. O solo de Kulick é para colocar a casa abaixo, lembrando David Gilmour em "Comfortably Numb". Lágrimas sempre brotam em meus olhos, e as vezes despencam mesmo, enquanto eu canto junto de Lawless "Where is the love to shelter me only love set me free". Lindo demais!

Single de "Hold on to My Heart"


Após a dolorida confissão da falta de amor, Jonathan busca pelo conforto em seu coração, que pulsa forte. É hora do show. A plateia clama por Jonathan, e então, no fundo de sua alma, Jonathan reflete sobre o que passou. Surge a baladaça "Hold On To My Heart". Muitos acham que é uma canção de amor, mas não mesmo. Aqui é um lamento de Jonathan sobre todos os seus sentimentos e aflições. É aqui que ele irá perceber que terá que tomar a mais difícil decisão de sua vida, diante do próximo palco que irá se apresentar. Isso vem da chama que está em seu coração, que nenhuma chuva pode apagar ("There's a flame, flame in my heart, and there's no rain, can put it out"). Com um tom choroso, Jonathan implora: "just hold me, hold me, hold me, take away the pain inside my soul" ("apenas me abrace, me abrace, me abrace, tire essa dor de dentro da minha alma"). E finalmente, temos uma premonição na fala de Jonathan: "I'll make it through the night, and I'll be alright" ("farei isso durante a noite e ficarei bem"). Nossa, isso é forte demais. Impossível segurar as lágrimas novamente.


Balada linda levada pelo violão, e com Lawless mais uma vez cantando como nunca. A entrada aos poucos da bateria vai dando ritmo para esse belíssimo trabalho. O choro vocal de Lawless será sentido pelas paredes de sua casa, e o refrão irá destruir com qualquer possibilidade de controlar as lágrimas aqui. Que música sofrida, mas linda, puta que pariu! O solo é fantasticamente casado com camadas de teclados encantadores. Uma canção que representa um desafio para o Ídolo Carmesim, de naquele momento único que ele tem diante de sua plateia, brilhando no palco, saber se aquilo é o que realmente ele quer?

Linda versão em vinil carmesim


Para concluir essa obra-prima, e a história, vem a magistral e épica "The Great Misconceptions of Me". É uma faixa de dez minutos, tensa, raivosa, simplesmente uma paulada. Começando com os violões, Jonathan sobe ao palco e dirige-se para a audiência: "Welcome to the show the great finale's finally here I thank you for coming into my theatre of fear ... you're all witnesses you see a priviledged invitation to the last rights of me" ("Bem-vindos ao show o grand finale finalmente aqui. Agradeço vocês por virem no meu teatro do medo ... vocês são todos testemunhas, verão, de um convite privilegiado para minha extrema-unção").


Então começa a sequência mortal de desabafos. Primeiro para sua mãe: "Remember me? You can't save me. Mama you never needed me" ("Se lembra de mim? Você não pode me salvar. Mamãe, você nunca precisou de mim"), volta-se novamente à plateia "I don't wanna be The Crimson Idol of a million" ("Eu não quero ser o Ídolo Carmesim de milhões") e continua: "I am the prisoner of the paradise I dreamed, The idol of a million lonely faces look at me" ("Sou um prisioneiro do paraíso que sonhei, o ídolo de um milhão de faces solitárias olhando para mim"), chamando pelo Rei da Misericórida: "Long Live to King of Mercy" ("Vida longa ao Rei da Misericórdia").

Mais de Blackie Lawless


Então o ídolo entrega-se: "There is no love to shelter me, only love set me free" ("Não existe amor para me abrigar, só o amor irá me libertar"), faz uma última retrospectiva de sua vida: "I was the warrior ... the idol of eight thousand lonely days of rage" (Fui um guerreiro, o ídolo de oito mil solitários dias de raiva), confronta seu pai: "Red, Crimson Red, am I the inivisible boy? The strap on my back ... Only one crimson son no it never was me" ("Red, Crimson Red, eu sou o garoto invisível? A cinta nas minhas costas ... somente um filho carmesim e ele nunca foi eu"), e então comete seu ato final diante de seu público: "I was dying in the shadows and the mirror was my soul. It was all I ever wanted, everything I dreamed, but the dream became my nightmare and no one could hear me scream" ("Eu estava morrendo nas sombras e o espelho era minha alma. Era tudo o que eu queria, tudo o que sonhei, mas o sonho tornou-se um pesadelo, e ninguém pode me ouvir gritar"). Num ato de desespero, vem o último suspiro de Jonathan: "With these six-strings I make a noose to take my life, it's time to choose. The headlines read of my suicide" ("Com estas seis cordas faço uma forca para tirar minha vida, é a hora da escolha. As manchetes noticiarão meu suicídio").


É indescritível o que se passa nesses dez minutos de "The Great Misconceptions of Me". Saímos de momentos acústicos para pancadaria generalizada, a guitarra aguda e intermitente de Kulick furando nossos ouvidos como uma brocadeira, a bateria de Banalli como uma locomotiva levando tudo que enxerga pela frente, o ritmo cavalgante do baixo, as camadas de teclados, e as diversas retomadas de trechos da história, tudo construído e encaixado perfeitamente por uma mente brilhante como a de Lawless. É o encerramento 100% ideal para um disco mais que perfeito!


Jonathan encontra a paz, falando para o Rei da Misericórdia:"Oh sweet silence, where is the sting, I am no idol, no crimson king ... I don't wanna be the crimson idol of a million" ("Ó doce silêncio, onde está a picada? Eu não sou um ídolo, nenhum Rei Carmesim? ... Eu não quero ser o Ídolo Carmesim de milhões") deixando como legado a célebre frase "No love to shelter me, only love set me free" ("Nenhum amor para me abrigar, só o amor me libertará"). Apenas com teclados e violões, a morte chega através das mesmas cordas das guitarras que levaram o garoto a ser ídolo, e como um símbolo final, são os riffs das cordas da guitarra que fazem o encerramento instrumental de The Crimson Idol com os mesmos riffs que abriram o disco, e a mesma pancadaria comendo solta na bateria, e os mesmos acordes de teclados, e a frase "No love to shelter me only love set me free" sendo entoada à plenos pulmões, ou seja, o mundo é nada mais do que uma repetições de ciclos impiedosos! Incrível!!

Imagens da turnê de The Crimson Idol


E assim, encerra-se a profecia de um ídolo que saiu do inferno de uma vida familiar, conquistou a fama entre excessos, e deixou de existir buscando pelo verdadeiro amor, que ele perseguiu a vida toda. Como diria Artaud, "Ninguém alguma vez escreveu ou pintou, esculpiu, modelou, construiu ou inventou senão para sair do inferno", e esse foi Jonathan, um artista que criou sua música para sair do inferno de não ser amado, e entrou em um inferno maior ainda.


O disco foi bem recebido pelos fãs e imprensa em geral, mas ao meu ver, merecia muito mais reconhecimento principalmente do pessoal que curte Heavy Metal e discos conceituais. Se há algumas questões sobre "por que os colegas de Jonathan permitiram sua morte", ou "não ter o amor dos pais é o suficiente para se tirar a vida no auge do sucesso e tão jovem", também podemos confrontar essas perguntas com "os colegas de Jonathan estavam tão chapados que nem perceberam que o ato era real?" e ainda, e talvez o principal em termos conceituais, dos males que a depressão pode fazer para uma pessoa. Por outro lado, não há o que se questionar da qualidade musical de The Crimson Idol. Lawless realmente estava inspirado aqui, e mesmo tendo feito mais dois álbuns conceituais (os The Neon God), e regravado The Crimson Idol em 2017, ainda prefiro a versão original.

Imagens da banda em Donington, 1992


Falando em regravações, vale lembrar que em sua edição remasterizada, dupla, de 1998, The Crimson Idol conta com a citada "The Story of Jonathan (Prologue To The Crimson Idol)", três canções inéditas ("Phantoms In The Mirror", "The Eulogy" e "When The Levee Breaks"), regravações acústicas para "The Idol" e "Hold on to My Heart", além de sete faixas gravadas ao vivo em Donnington, no ano de 1992, sendo seis delas de The Crimson Idol. É uma reedição bem interessante de se adquirir. A formação nessa apresentação é de Lawless (guitarra, vocais), Doug Blair (guitarra, vocais), Stet Howland (bateria) e Johnny Rod (baixo, vocais). A apresentação deste show pode ser encontrada na íntegra no Youtube, e mesmo com qualidade baixa na visão, o som é ótimo, sendo que quase todo The Crimson Idol é interpretado.

O single de "Chainsaw Charlie" na versão em CD, fechando o pacote (VER TEXTO)


Três singles foram lançados: "Chainsaw Charlie (Murders in the New Morgue)", "The Idol" e "I Am One", os quais foram relativamente bem sucedidos nos charts (posições décima sétima, quadragésima primeira e quinquaségima sexta nas paradas britânicas, respectivamente). Para os colecionadores, o primeiro deles, de "Chainsaw Charlie (Murders in the New Morgue)", saiu em uma tiragem limitada de um pacote contendo três mídias, chamada The Chainsaw Pack. Ela é constituída de uma pasta plástica com 3 bolsas, uma para cada um dos lançamentos, os quais foram: um compacto de 7" Picture Disc; Um compacto de 7" com uma mensagem gravada a mão no vinil, feita por Lawless (apresentados acima); o CD single. Do show de Donington citado na versão do relançamento, saiu o single de "I Am one" (apresentado acima).


Vale também lembrar que The Crimson Idol foi eleito pela revista Metal Hammer como um dos 20 melhores álbuns conceituais de todos os tempos. Nas palavras de Lawless, “Este álbum deve ser apreciado com muita calma e cuidado, pois não criei um fast food para os ouvidos”. Não lembro quando foi a primeira vez que ouvi The Crimson Idol, mas lembro do soco na cara que tomei com tanta musicalidade e a impressionante fúria exalada pelas canções deste magnífico álbum, o qual com certeza, serve e MUITO para aqueles que têm um pé atrás com o W. A. S. P., comprovar que a banda é diferenciada positivamente. Depois veio outra ópera rock, The Neon God, mas aí é papo para outra resenha.

Contra-capa de The Crimson Idol


Track list


1. The Titanic Overture


2. The Invisible Boy


3. Arena of Pleasure


4. Chainsaw Charlie (Murders in the New Morgue)


5. The Gypsy Meets the Boy


6. Doctor Rockter


7. I Am One


8. The Idol


9. Hold on to my Heart


10. The Great Misconceptions of Me

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...