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terça-feira, 28 de novembro de 2017

Aerosmith - Parte IV



Com um contrato milionário, o grupo volta a Columbia e passa por um período turbulento, com várias trocas por trás dos bastidores, e com Kramer sofrendo de depressão, chegando a ser substituído temporariamente por Steve Ferrone. 

Capa original de Nine Lives

Nesse turbilhão de problemas, registram Nine Lives, lançado em 1997 e com a produção de Kevin Shirley. O disco começa lá em cima, com a sensacional faixa-título, e possui momentos magníficos, como as pancadas "Crash" e "Something's Gotta Give",  o hardzão animalesco tendo a harmônica em destaque, e a pesada "Attitude Adjustment". A ótima "Taste Of India", utilizando o instrumento  sarangi, a cargo de Ramesh Mishra, e cordas misturados a muito peso, é fácil a melhor do disco. 

Nine Lives é marcado por mais alguns sucessos: "Falling in Love (Is Hard On The Knees)", embalada pelos metais arranjados por Tyler junto a David Campbell (músicos não citados); o rock grudento de "Pink", outra composição ao lado de Supa; a balada "Hole In My Soul", com um interessante arranjo de cordas por Elliot Scheiner. O álbum peca em ser um pouco longo, algo que era praticamente uma exigência da mídia CD na época, e daí vem "The Farm" e os 8 exagerados minutos da balada "Fallen Angels" (também composta em parceria com supa, e que o final meio "Kashmir" ainda vale), e que talvez seja o maior pecado aqui, o excesso de baladas, já que além de "Fallen Angels" e "Hole in My Soul", temos "Ain't That A Bitch", "Full Circle", e "Kiss Your Past Good-Bye",  todas muito similares entre si. 

Capa alternativa do álbum

Se desse uma enxugada, seria um disco melhor. Essas são as 13 faixas originais do disco. Aos completistas, há diversos formatos no mercado, com bônus diferentes. As mais notáveis são a japonesa, com as canções inéditas "Falling Off", cantada por Perry, e "Fall Together", e a brasileira, com os bônus "Falling Off" e "I don't Want To Miss A Thing". Cinco milhões em vendas no total, o que foi considerado um fracasso perante os 20 de Get a Grip

O nome é uma homenagem ao próprio grupo, que já tinha passado pelos altos e baixos, e sobrevivido como um gato (nos países de língua inglesa, o gato tem 9 vidas, e não 7 como aqui). A capa original acabou sendo substituída por conta de manifestações da comunidade hindu, que atribuiu a imagem de Lord Krishna (com cabeça de gato e peito feminino) dançando sobre a cabeça da cobra demônio Kāliyā, muito ofensiva, e assim, virou a do gatinho.  É considerado pelo site Ultimate Classic o pior disco da banda, o que acho um certo exagero, apesar de honestamente ele estar no meu Top 3 dos mais fracos do grupo.

O ao vivo A Little South of Sanity registra a fase mais bem sucedida do grupo

A banda embarcou em uma turnê de dois anos, registrada no ao vivo A Little South of Sanity (1998), ganhou um Grammy por "Pink" e finalmente, em 1998, conquistou seu primeiro (e único até hoje) number 1, com "I Don't Want to Miss a Thing", a qual merece um parágrafo a parte. Ela foi gravada exclusivamente para o filme Armageddon (1998), com participação de Liv Tyler, assim como "What Kind of Love Are You On" e uma nova versão para "Sweet Emotion". 

Single de "I don't Want Miss a Thing"
É uma composição de Diane Warren, e o seu single vendeu a incrível marca de 1 milhão e 200 mil cópias no Reino Unido, superando o 1 milhão de cópias do mercado americano. A marca de vendas pelo mundo superou 5 milhões, ou seja, o single vendeu o mesmo que o álbum antecessor. Por isso, a canção acabou sendo incluída na versão brasileira, apesar de que no estrangeiro, você só encontrará ela ou no single ou na trilha de Armageddon, o que faz da versão nacional (e a argentina também) um atrativo para os consumidores de fora do país.

Modernizando o som em Just Push Play

Depois de um período de três anos, em 2001 chega às lojas Just Push Play. Esse é um álbum um tanto quanto experimental em comparação ao seu antecessor, e apenas com 30% de baladas. 

Em um total de 12 canções, "Avant Garden", leve canção semi-acústica, "Fly Away From Here", com o belo piano de Jim Cox e a participação de Paul Santo nos teclados, "Jaded" e "Luv Lies" são as representativas da melosidade, com "Jaded" sendo o grande sucesso do disco. Porém, é o peso de "Beyond Beautiful", com um belo solo de Perry, e os eletrônicos que aparecem na faixa-título, canção na qual Tyler empunha também as seis cordas, e faz vocalizações em dialetos da Jamaica, que chamam a atenção. 

A capa dá indicativo de eletrônicos, com a versão robótica de Marilyn Monroe, e é na percussão principalmente que eles se sobressaem em algumas faixas, mais precisamente em "Drop Dead Gorgeous", que conta com Perry nos vocais, e as programações de Paul Caruso, "Under My Skin" e "Outta Your Head", uma faixa lunática com Tyler cantando como se fosse um rap, misturando batidas de hip hop e muita distorção. Curiosamente, essas são as músicas que mais agradam, junto de "Light Inside", canção crua, pegada e rocker na medida certa. 

Tom Hamilton, Brad Whitford, Steven Tyler, Joe Perry and Joey Kramer
of Aerosmith no Rock and Roll Hall of Fame, em 19 de março de 2001.
 

"Sunshine" e "Trip Hoppin'" são canções que pouco chamam atenção, a última com participação dos metais, a cargo da Tower of Horns e de Dan Higgins (clarinete e saxofone) e com bom embalo. Os arranjos de cordas de Just Push Play ficaram a cargo de David Campbell ("Beyond Beautiful", "Fly Away From Here", "Jaded") e Jim Cox ("Avant Garden", "Luv Lies", "Sunshine" e "Under My Skin"). Perry já atestou que acha esse o pior disco do Aerosmith, muitos fãs torcem o nariz, e entre mortos e feridos, realmente é uma das últimas opções que sugiro para os que não conhecem Aerosmith adquirir.

Entram na Hall of Fame do Rock 'n' Roll em 2001, exatamente quando "Jaded" alcançou a primeira posição nas paradas americanas. Algumas coletâneas saíram nessa época, em especial Young Lust: The Aerosmith Anthology (2001), Classic Aerosmith (2002) e O, Yeah! Ultimate Aerosmith Hits (2002), esse último com a inédita "Girls of Summer", mais uma para entrar na lista de baladas do grupo.

O álbum de covers Honkin' on Bobo

Passados mais três anos e Honkin' on Bobo (2004) é lançado. Esse é um álbum de covers das raizes bluesísticas do quinteto, acompanhado de Paul Santo (piano, piano elétrico, órgão), e trazendo onze versões muito particulares para canções do blues que marcaram época.  Há participações especiais de Tracy Bonham (vocais em "Back Back Train", dividindo com Perry, e "Jesus Is on the Main Line", um coral tradicional acompanhado pela steel guitar de Perry), Johnnie Johnson (piano em "Shame, Shame, Shame" e "Temperature") e The Memphis Horns (metais em "Never Loved a Girl"). 

As faixas que mantiveram a linha blues foram "Back Back Train", com a já citada dupla vocal de Perry e Bonham, "Eyesight to the Blind", com um show de Tyler na harmônica, "Never Loved a Girl", com Tyler ao piano e o marcante órgão de Santo, e "Temperature", mais um espetáculo da harmônica de Tyler. "I'm Ready" e "Road Runner" são versões amenas e de pouco destaque no contexto geral. Já as versões mais legais são de "Shame, Shame, Shame", que virou um rockzão dos bons, a pegadaça "Baby Please don't Go", a totalmente reinventada "You Gotta Move" e a surpreendente recriação do clássico de Peter Green no Fleetwod Mac, "Stop Messin' Around", cantada por Perry e com uma introdução fabulosa da harmônica e guitarra duelando. 

O bom ao vivo Rockin' the Joint

Além das covers, vale pela inédita "The Grind", uma bela balada bluesy. No geral, é mais essencial e agradável que seus dois antecessores, e seu posterior também. Na sequência desse disco, foi registrado no Hard Rock Joint de Las Vegas o CD e DVD ao vivo Rockin' the Joint (2005), trazendo canções de diversas fases da banda, e é o último ao vivo da banda até o momento. 

O grupo volta ao Brasil para uma única apresentação no Morumbi, em 2007. Antes, Tyler passou por uma cirurgia na garganta, Hamilton saiu temporariamente para um tratamento para câncer de garganta, sendo substituído nos shows por David Hull, a coletânea Devil's Got a New Disguise: The Very Best of Aerosmith, trazendo duas novas faixas ("Devil's Got a New Disguise" e "Sedona Sunrise"), tudo isso em 2006. Em 2008 lançam a versão do game Guitar Hero: Aerosmith, a primeira exclusiva para uma banda.

Aerosmith em Porto Alegre, 2010

Um fato interessante e lamentável foi que Tyler chegou a sair da banda no final da primeira década do século XXI. Tudo começou em agosto de 2009, quando o vocalista caiu do palco durante "Love In An Elevator" em um show em Buffalo Chip, nos EUA, com Tyler quebrando o ombro e cancelando parte dos shows do Aerosmith. Começou uma briga interna entre ele e Perry, que inclusive chegou a ter um anúncio extra-oficial de Lenny Kravitz como novo vocalista do Aerosmith, o que nunca se confirmou. 

Felizmente, tudo se resolveu e em 2010, ao Brasil para shows em Porto Alegre e São Paulo, na turnê Cocked, Locked, Ready to Rock Tour, que também passou pela Colômbia e Perú, onde o grupo pisou pela primeira vez. O grupo voltou ao Brasil diversas outras vezes nessa década. Veio mais uma coletânea, Tough Love: Best of the Ballads, em 2011, e finalmente, o novo álbum no ano seguinte.

Último álbum da banda até o momento

Somente após 8 anos, depois de muitos intempéries, o grupo conseguiu finalmente lançar seu décimo quinto álbum de estúdio, o primeiro em 11 anos. Em Music from Another Dimension! há uma quantidade grande de participações especiais, das quais vou destacar três apenas: Julian Lennon, fazendo os backing vocals da pesada "Luv XXX"; Rick Dufay fazendo a guitarra base em "Shakey Ground"; e Johnny Deep, fazendo os backing vocals de "Freedom Fighter". É um álbum que tenta resgatar o estilo de compor da época de Pump e Get a Grip, mas trazendo aquelas inspirações Zeppelianas dos anos 70. Claro, as baladas Aerosmithianas também estão nele, na verdade, em quase 50% do material. 

Elas são "Another Last Goodbye", com Tyler ao piano e um arrepiante violino, "Can't Stop Lovin' You", um dueto de Tyler com a cantora de country Carrie Underwood, "Closer", "Tell Me" (Tyler ao mandolim), a grudentíssima "What Could Have Been Love" e a linda "We All Fall Down", fácil uma das canções mais belas que o grupo gravou. 

O grupo nos anos 2010

Os rocks com inspirações setentistas estão em "Lover Alot", lembrando um pouco o estilo de "Draw the Line", "Oh Yeah", "Out Go The Lights", essa exagerando nas vocalizações femininas, e no hammond de "Something", cantada por Perry e com Tyler na bateria. O estilo de Tyler cantar "Beautiful", quase como um rap, remete-nos aos anos 80, sendo que nessa ele também toca guitarra. As melhores faixas são a viajante "Legendary Child", com fortes referências ao Led, o peso de "Freedom Fighter", outra com os vocais de Perry, e a pancada "Street Jesus", veloz e arrebatadora. A versão em vinil vermelho transparente, acompanhado de um CD, é muito bonita, e vale a pena a aquisição para a coleção.

Bela versão em vinil vermelho transparente do último álbum


O grupo vem divulgando notícias de uma turnê de aposentadoria. Desde 2012, foram realizadas várias turnês, mas nada de novo foi lançado. Fica a expectativa para o que pode acontecer nos próximos meses, e a certeza de que essa é uma das discografias mais valiosas e vendidas na história da música mundial.

domingo, 26 de novembro de 2017

Aerosmith - Parte III




Continuamos com a Discografia Comentada do Aerosmith, agora abrangendo de Done With Mirrors (1985) até Music from Another Dimension! (2012). É o período onde o Aerosmith retorna com sua formação clássica, tendo Steven Tyler (vocais, piano, harmônica), Joe Perry (guitarra, vocais), Brad Whitford (guitarra, vocais), Tom Hamilton (baixo) e Joey Kramer (bateria). 

Pôster da turne Back in the Saddle

O mais marcante, é que aqui o grupo retorna ao auge, conquistando toda uma nova geração de fãs, e principalmente, consegue livrar-se das drogas e bate recorde de vendas em todo o mundo, além de fazer parte da trilha sonora do filme Armageddon (1995), o que ajudou ainda mais a colocar o Aerosmith no status de um dos maiores nomes do rock da história.

O início desse retorno se dá com a Back in the Saddle Tour, a qual foi registrada no álbum Classics Live! II (1987). O primeiro disco dos americanos pela Geffen Records é o que considero o mais fraco. 

Capa original, lançamentos internacionais

Done With Mirrors começa muito bem, com a ótima "Let the Music Do the Talking", uma regravação de uma canção do primeiro álbum solo de Perry, com nova letra e melodia, onde o slide guitar de Perry lembra "In My Time of Dying' (Led Zeppelin), e tem em "Gypsy Boots" a sua melhor faixa, pegada, lembrando os bons tempos dos anos 70. 

Mas depois, desliza entre canções apáticas e de pouca inspiração ("Shame on You" e "Shela"), e faixas animadas que relembram bem os anos 70 ("She's on Fire", com um ótimo trabalho de slide ao violão, e "The Hop", trazendo a harmônica de Tyler). No meio disso, "The Reason a Dog" está na lista de piores canções que o grupo fez, e se quer chega a ser percebida pelo ouvinte. Ainda escapa-se, com poucas sobras, o duelo vocal de Perry e Tyler em "My Fist Your Face". 

Capa na versão brasileira
A capa original do LP lançado lá fora é diferente da brasileira, que foi lançada invertida, com o nome aparecendo de forma "correta". Além disso, o LP brasileiro incluiu "Darkness", ótima faixa com um grande trabalho de piano por Tyler, e que lá fora, só saiu no CD e k7. Perry, Kramer e Whitford já traçaram alguns comentários ácidos para Done With Mirrors, muito em virtude do som cru que foi registrado por Ted Templeman, em uma tentativa de capturar a banda "sem frescuras de estúdio". Mas, há um grande grupo de fãs que o veneram, dos quais não faço parte, e que conquistou apenas ouro nos Estados Unidos.

Porém, voltam aos palcos, e recebem um inusitado convite para gravar "Walk this Way" junto ao grupo de rap Run-DMC. O single com a nova versão, lançado em 1986, alcançou a 4 posição em vendas na América, e foi o  prenúncio de uma nova era para a banda. Ainda em 86, é lançado Classic Live!, com canções registradas ao vivo entre 1978 e 1984, algumas delas tendo a presença de Jim Crespo e Rick Dufay, além da inédita "Major Barbra", a qual ficou de fora de Get Your Wings. Uma raridade para os fãs hoje em dia.

Tyler e Perry com a galera do Run-DMC
Com o sucesso de vendas de "Walk this Way", e finalmente livre das drogas, Tyler e cia. conseguem juntar forças para adquirir inspiração, e criar um álbum emblemático. É com Permanent Vacation (1987) que o grupo começa novamente sua caminhada para o topo das maiores bandas de todos os tempos. 

Permanent Vacation - retornando ao sucesso

Foram cinco milhões de cópias vendidas nos Estados Unidos (platina quíntupla), e um marco para o retorno definitivo dos americanos. Além do inédito auxílio de compositores externos (Desmond Child, Jim Vallance e Holly Knight), aqui também marca o início da parceria com a produção do aclamado Bruce Fairbairn (Bon Jovi, INXS, Poison, Van Halen, ...), que durou três álbuns. Até por isso, é possível perceber uma modernizada no som do grupo, vide "Magic Touch" e "Girl Keeps Coming Apart" (apresentando um naipe de metais citado na sequência), que afastou os fãs mais antigos, mas conquistou toda uma nova geração de fãs.

"St. John" é uma espécie de jazz, com clima de filme dos anos 40, e é a única canção composta exclusivamente por Tyler nesse disco. Por falar em filme, a instrumental "The Movie" é uma viagem de filme sci-fi bem diferente do que estamos acostumados a ouvir nos discos do quinteto. "Girl Keeps Coming Apart" foi a única composta apenas por Tyler e Perry, que aliás, está em ótima forma, como demonstram os solos de "Heart's Done Time" e da faixa-título, cuja letra é engraçada pacas, e contando com a percussão de aço de Morgan Rael. 

Encarte de Permanent Vacation

Os grandes clássicos do álbum foram três. O principal é "Rag Doll", um boogie sacolejante embalado pelo slide de Perry e o naipe de metais formado por Tom Keenlyside (clarinete e saxofone tenor), Ian Putz (saxofone barítono) e Bob Rogers (trombone), além da presença do órgão de Jim Vallance. O naipe também participa de outro grande clássico, "Dude (Looks Like a Lady)", com seu refrão hiper-grudento.  O terceiro clássico é a baladaça "Angel", com Tyler ao piano e a presença essencial do mellotron de Drew Arnott emulando cordas, e um refrão para acender os celulares (antigamente, os isqueiros) nas arenas.

Ambas aproveitaram a modernidade da MTV, e ganharam clipes que rodaram direto na telinha.Curto bastante faixas que ficaram esquecidas devido a esses grandes clássicos, as quais são a veloz "Simoriah", novamente com o órgão de Vallance, e o blues de "Hangman Jury", com uma ótima apresentação da harmônica de Tyler. Ainda há o cover para "I'm Down" (The Beatles), na mesma linha do original. Fácil fácil Top 3 dessa segunda parte da discografia do Aerosmith. Em 1988 chega ao mercado a coletânea Gems, e o grupo saiu em uma gigantesca turnê abrindo para o Guns N' Roses, preparando material para o seu maior sucesso nos anos 80.

Álbum marcante nos anos 80

Com sete milhões de cópias vendidas só nos Estados Unidos, e um dos grandes discos dos anos 80, assim resume-se Pump. Quem viveu o início dos anos 90 pegou a febre que esse álbum causou nas rádios e na TV. O clipe de "Janie's Got a Gun", contando a polêmica história da garota que sofreu abusos sexuais do pai, foi um sucesso na MTV. Foi ranqueado entre os 100 melhores clipes de todos os tempos pela Rolling Stone, ganhou o prêmio de melhor vídeo do ano e ajudou muitas meninas e mulheres a terem mais uma arma para se defender nesse assunto que tristemente ainda existe. A música é mais um clássico da carreira da banda, e honestamente, é foda pra caralho, seja pelas orquestrações de Fairbairn, pelos solos de Perry ou pela interpretação sensacional de Tyler. 

Single de "Janie's Got a Gun"
Mas não é o único sucesso, pois "Love in an Elevator", a letra que Gene Simmons afirmou que gostaria de ter escrito, também ganhou um ótimo clipe, repleto de mulheres lindas, e arregaçou gargantas com os "oohh-ohh yeah" e o naipe de metais dos The Margarita Horns, formado por Bruce Fairbairn, Henry Christian, Ian Putz e Tom Keenlyside. Outro sonzaço, que ainda tem como novidade Hamilton nos backing vocals, junto de Bob Dowd. 

Mais um grande sucesso foi a baladaça "What It Takes", Esses clipes foram lançados em um VHS chamado Things That Go Pump in the Night, que tornou-se platina nos EUA, com mais de 100 mil cópias vendidas. Os caras estavam inspiradíssimos, e trouxeram para os fãs petardos fulminantes em "Young Lust", "Monkey On My Back" - mais um show particular de Perry ao slide -, "Voodoo Medicine Man" e "My Girl". Ainda há aquelas faixas que são típicas do Aerosmith nessa nova fase, investindo em riffs fortes e refrões grudentos, no caso "F. I. N. E.",  "Don't Get Mad, Get Even" e a sensacional "The Other Side", outra com a participação do naipe de metais, e com uma maluca introdução apenas com violões, percussão e voz, chamada "Dulcimer Stomp", que traz inspirações indígenas e não há nada igual nos discos do grupo. 

Aliás, foi ideia de Fairbairn as vinhetas de introdução de algumas faixas ("Goin Down" em "Love In An Elevator", "Water Song" em "Janie's Got a Gun" e "Hoodoo" em "Voodoo Medicine Man"), para trazer uma ideia de continuidade ao disco. O sucesso foi tão grande que um documentário chamado Making of Pump foi lançado em VHS no ano seguinte.

Em 1992, no auge do sucesso, com os atores de Wayne's World

O grupo estava no auge. Uma turnê de 12 meses percorreu o mundo a partir de então. Viram atração no programa Wayne's World em 21 de fevereiro de 1990, levando o programa ao cume dos programas mais assistidos na América naquela noite, e gravam o Unplugged para a MTV em agosto de 90, praticamente estreando o formato no canal, e destacando a ótima versão para "Love Me Two Times" (The Doors). 

No ano seguinte, estão no seriado The Simpsons (1991) e no filme de Wayne's World (Quanto Mais Idiota Melhor) em 1992. Nesse meio tempo, sai o box Pandora's Box, que cobre a discografia da banda desde suas origens como The Strangeurs e Chain Reaction, até Rock in a Hard Place. O Box tem diversas raridades dentre faixas inéditas, versões ao vivo, entre outros, lançado em 1991. 

Aerosmith no programa The Simpsons

Ainda houve uma remixagem e um clipe para "Sweet Emotion", bem como uma regravação e clipe para "Dream On", essa feita especialmente para os dez anos da MTV, contando com uma linda orquestração de Michael Kamen. Como diz o famoso narrador: "Que fase!", mas aqui, no melhor dos sentidos.

O último disco com a mão de Fairbairn é Get a Grip, de 1993, que também conquistou marcas consideráveis em vendas, além de ter sido o álbum que trouxe o grupo pela primeira vez ao Brasil, em uma apresentação inesquecível no Hollywood Rock de 1994. 

20 milhões de cópias vendidas. Sucesso!

Em uma época onde tudo era liberado, o traseiro da lindona Liv Tyler, e da super lindona Alicia Silverstone (a e "the Aerosmith chick"), apareciam com força nas telinhas da MTV, através do clipe de "Crazy", que alucinou muito marmanjo na época, e conquistou a 24a posição na lista de melhores vídeos de todos os tempos pela VH1. 

Já no clipe de "Cryin''", é o umbiguinho maravilhoso de Alicia quem chama a atenção. Desnecessário citar muito sobre elas (falo das músicas), além de que ambas as faixas são clássicos absolutos na carreira dos americanos. Outras duas canções que brilharam no álbum foram a ótima "Livin' on the Edge", creio que a música que me fez tornar fã da banda, e a última balada do disco a contar com Alicia no clipe, "Amazing", a qual confesso não sou tão fã, e é uma parceria com o ex-guitarrista Richard Supa. "Crazy" e "Amazing" ganharam bastante com a adição orquestral de David Campbell, e os teclados de Desmond Child e Richard Supa, respectivamente. A última ainda tem a participação de Don Henley nos backing vocals. 

Alguns momentos de Alicia Silverstone nos clipes do Aerosmith

Perry volta a cantar uma canção em um disco do Aerosmith, a boa "Walk On Down". Aquelas canções puramente Aerosmith, cheias de groove e com Perry debulhando na guitarra, obviamente estão presentes através de "Flesh", "Get a Grip", "Gotta Love It" e "Line Up", essa com os backing vocals de Lenny Kravitz. Gosto da agressividade de "Can't Stop Messin'" e "Eat the Rich", a última trazendo  os tambores de fenda de Melvin Liufau, Wesey Mamea, Liainaiala Tagaloa, Mapuhi T. Tekurio e Aladd Alationa Teofilo, do ritmo pegado de "Fever", com um belo solo de harmônica por Tyler, e de "Shut Up And Dance", ótima faixa para sair pulando pela casa enquanto gritamos o seu nome, e com um baixo poderoso de Hamilton. 

Ainda temos a vinheta de introdução "Intro" e a pequena instrumental "Boogie Man". A participação dos metais ficaram a cargo de Paul Baron e Bruce Fairbairn (trompetes), Tom Keenlyside (saxofone), Ian Putz (saxofone barítono) e Bob Rogers  (trombone) e John Webster fez os teclados. Foram 7 milhões vendidos nos EUA, e mais de 20 milhões ao redor do mundo, um marco até hoje não superado pelo grupo.

O grupo no MTV Muic Awards de 1994

Mantendo a saga de auto-promoção, gravam "Deuces Are Wild" para o álbum The Beavis and Butt-head Experience, aparecem nos jogos Revolution X e Quest for Fame, tocam na versão de 1994 do Woodstock, e abrem seu próprio clube, o The Mama Kin Music Hall, em Boston. O sucesso com os álbuns da Geffen é compilado em Big Ones (1994), que traz como novidade duas canções inéditas, "Blind Man" e "Walk on Water". 94 também foi o ano de lançamento do incrível Box of Fire. Aos completistas, em 95 saiu a coletânea Pandora's Toys, trazendo o melhor da Pandora's Box. A versão limitada foi feita em uma caixa de madeira que traz como extra o documentário "Story of Aerosmith", narrado por Chris Barrie e lançada em somente 10 mil cópias. Em dois dias, o resto da discografia da banda.

terça-feira, 14 de novembro de 2017

Aerosmith - Parte II



Depois do hiper-sucesso de Toys in the Attic, o Aerosmith começa a ganhar a segunda metade da década de 70 como uma das maiores bandas de todos os tempos, e para isso, seu quarto disco, lançado em 1976, é o principal álbum da fase inicial do Aerosmith. 


Rocks, álbum de cabeceira de muitos gigantes do rock dos anos 80

De Rocks saíram três singles de extremo sucesso, que colocaram os americanos no Top 3 da Billboard: "Back in the Saddle", pesada faixa cujo refrão é para jogar o ouvinte na parede, tamanha sua violência, e cujo final é um momento de pura ode à Jimmy Page por parte de Perry, responsável também pelo baixo de seis cordas dessa faixa, a baladaça "Home Tonight", mais uma vez atestando que o Aerosmith sempre soube fazer baladas desde suas origens, com Tyler abrindo a garganta acompanhado pelo piano, e com um show de Perry na lap steel guitar, e "Last Child", cuja introdução engana muita gente, já que a leve balada vira um funk suave e cheio de groove com destaque para o grandioso solo de Whitford, mostrando que ele estava muito além de ser um mero guitarrista base. 

Vale citar que essa canção traz a presença do banjo de Paul Prestopino, de forma bastante experimental. Aliás, as experimentações rolam solta, basta ver que em "Sick as a Dog" Hamilton assume a guitarra, enquanto Perry vai para o baixo, o que em nada prejudica a harmonia da banda, e pelo contrário, cria mais um clássico. Ainda temos mais faixas que nos remetem indiretamente ao Led, como "Combination", com os vocais dobrados de Tyler e Perry, "Nobody's Fault", cuja semelhança não fica apenas no nome", e que para Kramer é sua melhor performance musical - o que considero uma boa possibilidade - e "Lick and Promise", bela pancada para acordar aquele vizinho pagodeiro, com pinceladas punk mas com fortes influências zeppelianas na guitarra de Perry. 


Tyler refrescando-se no RFK Stadium, em 30 de maio de 1976

Porém, não é uma cópia pura e simples, existe uma incrementação musical ao som do Led que diferencia bastante o aspecto geral dessas canções, tornando o Aerosmith inovador, seja nas passagens viajantes de guitarra, na levada sempre truculenta e pesada de Hamilton e Kramer, mas acredito que, principalmente, na performance vocal de Tyler, um vocalista bastante injustiçado nas listas de melhores, e que assim como Perry e Kramer, nessa época estava vivendo seu auge musical. 

As faixas rockers também marcam presença, e esse espaço aqui é dedicado para a excelente "Rats in the Cellar", rockzão endiabrado para sacudir o esqueleto, na linha da pancada que foi "Train Kept a Rollin'" no disco anterior, inclusive com Tyler abrilhantando a presença da harmônica, e o boogie regado de malícia em "Get the Lead Out", também com a presença da harmônica.  O disco que alcançou platina logo de seu lançamento (e hoje é platina quádrupla), é influência certa para muitas das bandas do hard rock e até mesmo do heavy metal nos anos 80. 

Slash considera esse seu disco de cabeceira, Vince Neil já afirmou que esse é o disco que fez ele virar músico, e muitos outros nomes da década de 80 - Testament, Metallica, Anthrax, ... - babaram ovo para Rocks, então, não preciso falar mais nada. Apenas que foi aqui que o excesso de drogas e álcool começou a surtir efeito no grupo, com a imprensa apelidando Tyler e Perry "toxic twins", e que viria a ter efeito anos depois. Mas antes, outro grande disco chegaria ao mundo.


O melhor disco, para mim, dos americanos

Draw the Line, lançado em 1977, é o meu preferido de todos os discos do Aerosmith, é assim que defino esse álbum. Poucos discos do final da década de 70 se dão ao luxo de não ter nada para corrigir, e esse com certeza é um deles. Começando pela faixa-título, um dos riffs mais sujos que Perry e Whitford criaram, já sabemos que o quinteto veio para arrasr o quarteirão, seja pelo abuso dos slides por Perry, ou simplesmente, por que o baixo de Hamilton está socando a cara do ouvinte sem piedade. 

Depois, somos conduzidos por uma mutação stoniana incansavelmente deliciosa chamada "I Wanna Know Why", com o piano de Scott Cushnie sendo o centro das atenções, ao lado do saxofone de Stan Bronstein, piano presente também na homogeneidade sonora do viajante boogie "Critical Mass", onde junto com baixo, harmônica, vozes e muitas guitarras causa uma sensação de hipnose que fará seu corpo balance por vários minutos, ainda mais por que na sequência, o Aerosmith traz mais um daqueles hards-funks que abre o sorriso na boca do pessoal da Motown, com o nome de "Get It Up", em mais uma assombrosa coleção de notas musicais em uma mesma canção, contando com a participação dos vocais de Karen Lawrence. 


Curioso compacto de "Draw the Line", no qual a
capa apresenta uma foto invertida dos músicos
Por fim, encerrando esse incrível lado A, "Bright Light Fright" é uma faixa punk com o saxofone rasgado de Bronstein e que é a primeira canção a contar com os vocais exclusivos de Perry. Mas calma, estamos apenas no lado A. "Kings and Queens" resgata o banjo de Paul Prestopino e o piano de Tyler, bem como apresenta o produtor Jack Douglas ao mandolin, em uma balada amarga e pesada que está longe das açucaradas canções dos anos 90, e com um riffzão poderoso, bem como uma virada em sua segunda metade, a qual leva para o solo de Perry através de um baixo altíssimo, que arrepia até os cabelos do suvaco, ainda mais com os longos acordes de sintetizadores. Que baita música. 

O grupo estava tão solto que é impossível descrever o que eles criaram em "The Hand That Feeds", uma espécie de disco music com guitarras distorcidas, que nunca ouvi nada similar, e com belos solos de guitarra. Voltamos aos hard-funks em "Sight for Sore Eyes" - mais uma canção que nos remete aos Stones, e Draw the Line encerra com o cover para "Milk Cow Blues" (de Kokomo Arnold), boogiezão agitado que fecha com chave de ouro o álbum mais cru, mais punk, mais heavy, mais bom de ouvir que o grupo fez, em toda sua integridade, e que foi bastante criticado pela imprensa quando de seu lançamento, por não ser tão genial quanto Rocks. Que se ralem, o disco é duca, e mesmo tendo apenas conquistado platina dupla nos EUA, deve ser ouvido sem medo.




O famoso Live! Bootleg (acima); Aerosmith no filme de Sgt. Pepper's (centro)
e o álbum trilha sonora do filme (abaixo)

Da longa turnê de promoção do álbum pelos Estados Unidos nasce Live! Bootleg, o primeiro ao vivo da banda lançado em 1978. No mesmo ano, o grupo participou do filme Sgt. Pepper's Lonely Hearts Club Band, bem como da trilha do mesmo, registrando uma versão impecável de "Come Together" que ficou tão famosa quanto a original do The Beatles.


Considerado o mais fraco disco do Aerosmith nos anos 70

Em meio há muita turbulência, chega às lojas o sexto álbum da banda, Night in the Ruts, lançado em 1979. Nesse período, Tyler tomava drogas desde o café da manhã até a ceia, e estava com grandes dificuldades de compôr. Além disso, as baixas vendas de Draw the Line fizeram com que a gravadora da banda os obrigasse a sair em turnê mais uma vez, com o objetivo que conseguir ressarcir os gastos da gravação. 

Essa turnê gerou ainda mais brigas internas, com os músicos praticamente separando-se de suas esposas. Perry foi o que mais sofreu com isso, e consequentemente, o resultado final foi um atraso de dois anos no lançamento de Night in the Ruts. Esse longo período acabou afetando o processo de conclusão das canções, com o grupo tendo que apegar-se a três covers para fechar um track list bastante curto, que originalmente, sem as covers, ficaria com apenas vinte minutos. 

Encarte do último álbum de Perry com o grupo

O grande sucesso do disco foi a baladaça "Mia", com a participação de Richard Supa nas guitarras, substituindo Perry (conforme explico a seguir) e trazendo Tyler ao piano para dar um tapa na cara daqueles que insistem em dizer que a banda só fez baladas pós-Pump. Aliás, dentre as covers, há mais uma balada, "Remember (Walking in the Sand)", de George Mothon, um grande sucesso das The Shangri-las e que aqui ganhou um singelo mas belo solo de Perry, além de uma exímia interpretação vocal de Tyler e da participação de uma das Shangri-las nos backing vocals, no caso Mary Weiss. 

Os outros covers são o sensacional blues de Jazz Gillum, em parceria com Joe Bennett e Lester Melrose, "Reefer Head Woman", com um maravilhoso solo de harmônica por Tyler, e a versão para "Think About It", na mesma linha do último registro oficial dos The Yardbirds, até com Perry encarnando Page e aumentado ainda mais sua paixão pelo Led. Aliás, falando em Led, Three Mile Smile", poderia tranquilamente estar presente em Presence (Led Zeppelin), enquanto o slide guitar de "Cheese Cake" sempre me remete à "In My Time of Dying", mas com um refrão grudento para diferenciar dos deuses britânicos.

Há os rocks sujos que consagraram os americanos, como a ótima "No Surprize" (com Z mesmo), tendo também a participação de Supa no lugar de Perry, o ritmo dançante mas pesado da quase disco "Chiquita", com muita distorção nas guitarras e uma importante participação do naipe de metais de George Young (saxofone alto), Lou Delgotto (saxofone barítono), Lou Marini (saxofone tenor) e Barry Rogers (trombone), bem como as explícitas referências disco em "Bone to Bone (Coney Island White Fish Boy)" (certamente o The Clash deve ter ouvido essa faixa para fazer algumas de suas canções fase Combat Rock e Sandinista!. 

Aerosmith com segunda formação: Kramer, Hamilton, Tyler, Jimmy Crespo e Whitford
O nome do disco é um trocadilho com Right in the Nuts (direto nas bolas), e em termos de vendas, conquistou platina apenas em 1994, tendo como ponto máximo de colocação a 14a posição na Billboard.

Perry acabou deixando a banda no meio das gravações de Night in the Ruts, e por isso Supa ocupou seu lugar, mas não por muito tempo, já que para a turnê de divulgação do álbum, Jimmy Crespo foi o escolhido. Foi um tiro na perna para os fãs da geração antiga, já que Crespo possuía um visual bastante "colorido" e diferente, exibindo bastante seu corpo jovem e cheio de pêlos, o que atraiu a mulherada, mas mandou embora muito dos fãs antigos. Durante essa turnê, em 1980, Tyler teve um colapso em pleno palco, no que ficou conhecido como o Incidente de Portland. 

Steven Tyler, desmaiado em Portland

O Aerosmith estava no fundo do poço, e a solução encontrada pela gravadora Columbia, detentora dos direitos do grupo, foi lançar a coletânea Greatest Hits, que vendeu mais de 11 milhões de cópias somente nos Estados Unidos. Quando parecia que o gupo voltaria ao normal, Tyler sofreu um grave acidente de moto no outono de 1980, ficando hospitalizado durante dois meses. 

Decepcionado, Whitford abandonou a barca grupo, surpreendendo o mundo ao formar o Whitford / St. Holmes ao lado de Derek St. Holmes, pouco depois das gravações iniciais do novo álbum começar. Para seu lugar, o francês Rick Dufay foi o homem escolhido, devido principalmente pelo bom trabalho no seu álbum solo, Tender Loving Abuse (1980), e também pelo visual ser muito similar ao de Crespo. Era uma nova era que começava para o grupo.

Contestado na época, hoje reconhecido como ótimo disco

Depois de muita água passar por debaixo da ponte nesse período, e com a entrada oficial de Jimmy Crespo e Rick Dufay, o grupo entrava em um período reciclado, que culminou em um disco bastante contestado e depreciado pelos fãs. Porém, como muitos outros, aos poucos o pessoal vem entendendo as qualidades de Rock in a Hard Place, um disco sensacional, lançado em 1982 com muita força, que mostra que mesmo a base de drogas pesadíssimas, ainda eram capazes de criar obras atemporais como a violenta "Jailbait", a swingada e pegada "Bolivian Ragamuffin", uma das melhores faixas do Aerosmith nos últimos 35 anos, com um show de Crespo no slide. 

A presença dos teclados na bizarra vinheta "Prelude to Joanie", e principalmente em "Lighting Strike's" dá um ar oitentista ao som da banda, sendo que na última temos a única participação de Whitford. O prelúdio de Joanie leva para "Joanie's Butterfly", faixa trabalhada em um clima oriental e trazendo como convidados John Lievano nas guitarras e nos violões e o violino de Reinhard Straub. 

Formação em 1982: Hamilton, Kramer, Tyler, Dufay e Crespo

Como sempre, umas referências ao Led tem que rolar, e elas aparecem em "Jig Is Up", assim como uma baladinha, e novamente o grupo se apega para um cover, fazendo uma emocionante interpretação bluesy para "Cry Me a River" (Arthur Hamilton), onde a interpretação de Tyler é de tirar o chapéu e comê-lo sem sal, já que suas lágrimas irão temperar o chapéu com esse gosto, blues esse que embriaga a casa na chapante "Push Comes to Shove", outra faixa seminal de um disco impecável. 

Ainda temos a pegada Aerosmith de sempre em "Bitch's Brew", apresentando um enganador dedilhado de violão, e da sensacional faixa-título, com a presença do saxofone de John Turi. Vale destacar que Dufay não participou de nenhuma faixa do disco, apesar de ter sido creditado no mesmo, pois quando ele foi oficializado como o quinto membro, o disco já havia sido concluído.  Considerado o maior fracasso comercial da banda (o único disco que conquistou apenas ouro em termos de vendas), Rock in a Hard Place está aí para ser ouvido por novas mentes dispostas a superar o preconceito e deparar-se com uma incrível obra, a qual considero um Top 3 na discografia da banda. Sua turnê não foi das melhores, com Tyler novamente passando problemas durante uma apresentação em Worcester. 

A Columbia despediu o grupo, e o fim era a saída mais óbvia. Mas, como uma Fênix, em 14 de fevereiro de 1984, Perry e Whitford voltaram ao grupo, o que veremos em quinze dias como o grupo volta ao cenário mundial com toda a força, conquistando uma nova geração de fãs e se tornando uma das bandas mais vendidas de todos os tempos, gerando mais uma penca de álbuns essenciais. 

domingo, 12 de novembro de 2017

Aerosmith - Parte I



Uma das grandes bandas de todos os tempos, nascida nos anos 70 e que conseguiu sobreviver aos anos 80 com certa relutância dos fãs, mas que tomou novamente o topo do mundo nos anos 90 e nunca mais saiu de lá até os dias de hoje. Assim podemos resumir a longa carreira dos americanos do Aerosmith, para muitos, a "Maior Banda de Rock 'n' Roll da América". Com 15 álbuns de estúdio, e alguns ao vivo, o Aerosmith éo grupo americano que mais vendeu em toda a história, com mais de 150 milhões de álbuns vendidos ao redor do mundo, sendo 70 milhões somente nos Estados Unidos.

Além disso, vinte e uma músicas no Top 40 da Billboard Hot 100 e nove músicas no topo do Hot Mainstream Rock Tracks. Quatro Grammy Award, dez MTV Video Music Awards, membros do Rock and Roll Hall of Fame, 25 discos de ouro, 18 discos de platina e 12 de multi-platina. Um breve resumo de uma discografia cheia de altos e muitos altos (bem como alguns baixos), que você acompanha a partir de hoje, aqui na Consultoria do Rock, em duas partes.


Steven Tyler (o primeiro da esquerda para direita) na Chain Reaction (1967)

O Aerosmith surge em 1969, a partir da união dos grupos Chain Reaction, do qual fazia parte Steven Tyler (vocais, harmônica, piano) e Jam Band, de Joe Perry (guitarra, vocais) e Tom Hamilton (baixista). O Chain Reaction havia sido formado em 1964, com o nome de Sttrangeurs, e da qual era baterista e vocalista. Em setembro de 69, a Jam Band chegou à Boston, Massachussets, com a finalidade de encontrar um novo baterista, Joey Kramer, o qual vinha de Nova Iorque. 

O nascimento do Aerosmith ocorre por acaso. Perry trabalhava em uma lanchonete de Sunapee, em New Hampshire, e tinha como cliente Tyler. Quando o último viu a Jam Band em ação, interpretando a faixa "Rattlesnake Shake" (Fleetwood Mac), surgiu o embrião do Aerosmith, em outubro de 1970.


Joe Perry (centro) com a Jam Band

A formação da banda é concluída com Ray Tabano (guitarras) e Joey Kramer (bateria). O primeiro show ocorre em 06 de novembro de 1970, mas Ray não durou muito, sendo substituído por Brad Whitford logo no início de 1971, o que dá origem a uma das formações mais clássicas da história do rock. Foi Kramer quem batizou o grupo, usando uma palavra que ele gostava de escrever nos seus cadernos da escola, inspirado no disco Aerial Ballet, de Harry Nilsson.

Com diversos shows locais, chamam a atenção da Columbia Records, com quem assinam um contrato de 125 mil dólares em meados de 1972. Na sequência, surge a estreia do quinteto, lançado em janeiro de 1973. 


Versão americana de Aerosmith

Aerosmith é daqueles discos para chamar a galera pra curtir junto. Afinal, como resistir a pegada bluesy de "Somebody", trazendo um interessante solo de Perry, ou "Write Me" e "One Way Street", ambas com a presença marcante da harmônica de Tyler, e as três com riffs fáceis de grudar na cabeça, baseados no mais puro e honesto rock 'n' roll. O que chama a atenção para quem ouve Aerosmith só há algum tempo é como a voz de Steven Tyler era diferente, mais grave e rouca do que atualmente. 

Três grandes clássicos saíram daqui, começando por "Mama Kin", rockzão na linha Stones que foi eternizado pelo Guns N' Roses no álbum Lies, com destaque para o baixo de Hamilton e a presença do saxofone de David Woodford, a baladaça "Dream On", que ganhou fama nos anos 90 com uma nova gravação com orquestra, mas que na versão original, é uma arrepiante faixa onde a guitarra dolorida de Perry casa perfeitamente com os vocais agonizantes de Tyler, responsável também por pilotar o mellotron na canção, e "Walkin' the Dog", sucesso de Rufus Thomas que tornou-se um dos riffs mais marcantes de Perry e Whitford, na linha de "Come Together" (The Beatles), mas com muito peso e sujeira exalando das caixas de som. 


Versão britânica

Destaco ainda a sensacional "Movin' Out", pesada faixa inspiradíssima nos riffs afiados de Paul Kossoff no Free, e a pancada "Make It", com uma levada peculiar da bateria de Kramer em uma das introduções mais foderosas do grupo. Com certeza, não é para as menininhas que adoram "Cryin'" ou "Crazy", pois é pancada comendo praticamente o tempo inteiro.


A estreia do logo alado

Uma grande série de shows veio na sequência, e já em 1974, chega o segundo disco da banda, Get Your WingsEste é mais um belo disco dos americanos, praticamente o que os levou a consagração, conquistando a platina tripla em seu país. Aqui surge o famoso logo alado que virou marca consagrada da banda, bem como é o início da grande parceria com o produtor Jack Douglas. 

O disco é mais trabalhado do que seu antecessor, como atestam a presença do piano - a cargo de Tyler - na dançante "Lord of the Thighs", os efeitos de ventos assustadores na viajante "Seasons of Wither", a qual pode se dizer ser a balada do álbum, apesar de estar longe de ser isso, e os efusivos metais na clássica "Same Old Song and Dance" e no groove de "Pandora's Box", metais esses a cargo de Michael Brecker (saxofone tenor em ambas), Michael Brecker (saxofone barítono em ambas), Jon Pearson (trombone) e Randy Brecker (trompete) em "Same Old Song and Dance". "S. O. S. (Too Bad)" é uma faixa próxima ao punk, com as guitarras sujas sendo o centro das atenções, em um ritmo empolgante.


Compacto de "Train Kept A Rollin'"

Quando o quinteto resolve soltar a mão, apresentam faixas emblemáticas, com o peso de "Spaced" fazendo atiçar os ouvidos para similaridades Zeppelianas, . Ponto alto para a longa "Woman of the World", com sua grandiosa introdução e um show de Perry na guitarra e de Tyler na harmônica, e a foderástica versão para "Train Kept a Rollin'", a canção original de  Tiny Bradshaw, imortalizada pelos Yardbirds e que com o Aerosmith, virou uma surpreendente faixa swingada, que transforma-se violentamente para quebrar o pescoço sem piedade, tendo as participações de Steve Hunter e Dick Wagner nas guitarras. Vale destacar que quando ocorre a mudança para a pancadaria, surgem gritos como se a faixa fosse gravada ao vivo. 

Na verdade, Doulgas resolveu usar um overdub do álbum The Concert for Bangladesh, apesar de que originalmente, a banda queria mesmo ter registrado a faixa ao vivo. "Same Old Song and Dance", "Train Kept A-Rollin'" e "S.O.S. (Too Bad)" foram lançados em hoje cobiçados singles, mas não emplacaram nos charts americanos. Apesar disso, o caminho do Aerosmith já estava traçado para o sucesso a partir daqui.

O multi-platinado Toys in the Attic

Depois de garantido o sucesso, o Aerosmith veio com aquele que para mim é um dos melhores discos de sua carreira. A começar pela faixa-título, uma violenta avalanche de riffs extraídos por Perry e Whitford, e um refrão perfeito para gastar a garganta gritando em shows, Toys in the Attic é o álbum clássico que deve servir para apresentar uma determinada banda à alguém. 

Afinal, aqui estão os grandes hits "Walk This Way", união seminal do rap com o rock, de forma como poucas bandas conseguiram fazer, e "Sweet Emotion", com um riff dançante similar ao de "Walk This Way", mas bem mais sujo, destacando o uso do vocoder por Perry, para criar efeitos impressionantes, além do baixão de Hamilton ficar hipnotizando a cabeça do ouvinte por dias, bem como a presença de Jay Messina na marimba,  Mas o álbum não vive só delas, afinal, como resistir ao rockzão de "Adam's Apple", mais um show de guitarras pela dupla Perry / Whitford, ou o peso descomunal da violentíssima "Round and Round", uma das melhores faixas da banda, praticamente obscurecida pela grandiosidade dos hits que citei anteriormente, e que seria um adicional interessante no atual set list da banda, já que é daquelas faixas que surpreendem na primeira audição (quem diria que a banda que gravou essa bigorna de 300 toneladas veio a fazer melosidades como "Cryin'" ou "I don't Wanna Miss a Thing" anos depois?). 

Aerosmith nos anos 70: Tom Hamilton, Brad Whitford, Steven Tyler, Joe Perry e Joey Kramer

Nas faixas mais amenas, como "Uncle Salty" e "No More, No More", predomina uma interpretação segura de uma banda que conseguiu atingir sua maturidade, criando seu próprio estilo onde os riffs rockers e os refrões grudentos serviram de inspiração para várias bandas dos anos 80 (Guns n' Roses, Skid Row, Ratt e por aí vai). A segurança do grupo era tamanha que eles foram capazes de recriar o jazz embalado de "Big Ten Inch Record" (original de Fred Weismantel) sem deixar a peteca cair, com Scott Cushnie ao piano, Tyler na harmônica e a presença dos metais, dirigidos por Michael Mainieri, que também é reponsável pela orquestra na baladaça "You See Me Crying", um tapa na cara daqueles que acham que a banda só veio a fazer balada melosa nos anos 90. 

A diferença é que nessa época, as baladas ainda tinham pitadas hard para serem absorvidas pelos fãs que admiravam a pegada rocker do grupo, mas claro, a voz chorosa de Tyler já servia para molhar calcinhas ao redor do planeta. O disco chegou na décima primeira posição na Billboard, conquistando platina óctupla nos Estados Unidos (oito milhões de vendas), e teve como singles "Sweet Emotion", "Walk This Way" e "You See Me Crying" / "Toys in the Attic". 

Quer conhecer a banda, vá direto aqui, e não irá se arrepender, apesar de muitos atribuírem ao seu sucessor os méritos para tal, como veremos daqui há dois dias.


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