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quinta-feira, 6 de janeiro de 2022

Melhores de 2021


E vamos as tradicionais listas de Melhores do Ano. Depois de algum tempo sem conseguir acompanhar lançamentos com certa assiduidade, ou de conseguir curtir 10 álbuns para fechar uma lista digna de ser apresentada aos leitores, eis que 2021 trouxe o retorno aos estúdios de gigantes que eu admiro, e que acabaram fazendo com que eu ouvisse bastante os álbuns que aparecem abaixo, principalmente nos lançamentos do último trimestre (outubro, novembro e dezembro). Foi um ano difícil, muitas perdas, muitas tragédias, mas fica a esperança para 2022. Que ele não repita tudo de ruim que aconteceu em 2021, mas que possa trazer paz, saúde, e claro, lançamentos tão bons quanto os que curti. Vamos a lista.

1.  ABBA - Voyage

Podem me dizer o que quiserem, mas Voyage é disparado o melhor disco de 2021. Anos esperando um lançamento novo dos suecos, e eis que o quarteto detona. O melhor do pop para agradar qualquer fã do grupo, ainda mais com músicas maravilhosas como "Don’t Shut Me Down", "Just a Notion" " Keep An Eye On Dan" e "No Doubt About It". Benny e Björn criando faixas como se o tempo não tivesse passado para eles, e o mesmo pode se dizer das vozes de Agnetha e Frida. A turnê holográfica não me atrai, mas esse discaço está rodando direto nessa descoberta (que não gosto muito, mas é o que temos no momento) que foi o Spotify. Lançado em 05 de novembro.


2. Steve Hackett - Under a Mediterranean Sky

Que Steve Hackett sempre é capaz de nos surpreender, disso ninguém tem dúvida. Depois de bons discos com vocais nos últimos tempos, eis que ele largou a guitarra, pegou o violão e foi unir-se a Roger King (teclados e arranjos orquestrais) para se inspirar nos sons mediterrâneos em um fantástico disco de violão clássico, que mistura elementos desde o flamenco até o oriente médio. O épico que abre o álbum, "Mdina (The Walled City)" é uma das canções mais virtuosas que já tive oportunidade de ouvir advinda das mãos do cara. Certamente sabia que ele é muito talentoso, mas os dedilhados furiosos que ele faz ao violão aqui, são de cair o queixo. Outra surpresa foi o uso do trêmolo em "Adriatic Blue" e "The Memory of Myth", como é linda essa técnica, e como Hackett a faz tão bem. E claro, ao ouvir "Scarlatti Sonata" uma lágrima correu, me lembrando os bons tempos que estudei violão clássico. Composições lindas, na linha do que John Willians já havia feito há algum tempo atrás, que atestam como um grande músico sabe se reinventar, e não necessariamente ficar tocando sempre a mesma coisa por anos e anos. Há tempos não ouvia algo tão tocante relacionado a arte do violão clássico. Lançado em 22 de janeiro. 

3. Styx - Crash the Crown

Outro que tocou muito no Spotify. O Styx volta a fazer uma sonoridade próxima ao progressivo, e faixas como  “A Monster”, “Hold Back The Darkness”, "Long Live The King" e “Our Wonderful Lives” atestam por que o Styx é a melhor banda daquelas que foram consagradas pelo seu som perambulando entre o pop comercial e o rock progressivo, empregando elementos acústicos, pesados, orgãos de igreja e até trompete (!) com uma precisão impecável. Perguntinha: quando o Styx dará o ar da graça por aqui? Lançado em 18 de junho. 

4. Greta Van Fleet - The Battle at Garden's Gate

Como é bom ver jovens alunos evoluindo, conseguindo caminhar por conta própria, e prometendo dar muito orgulho aos seus professores. É o caso do Greta Van Fleet. Se o álbum anterior trouxe muitas comparações ao Led Zeppelin, em The Battle at Garden's Gate os irmãos Kiska (e o batera Daniel Wagner) praticamente limaram essa comparação. Os rapazes estão cada vez mais soberanos em suas criações, claro, trazendo influências Zeppelianas, mas com arranjos e harmonias puramente VanFleetianos. O álbum é uma paulada atrás da outra, mesmo nas baladas, e até nos momentos acústicos as canções conseguem te dar uma pancada no peito, que te sacode por inteiro. Grande destaque para os solos de Jacob, como esse menino evolui nas seis cordas, e também no uso do wah-wah, basta ouvir, e se emocionar, com o maravilhoso solo de "The Weight of Dreams". Outras grandiosas faixas são "Broken Bells", "Heat Above" e "Built By Nations". Ansioso para ver esses caras abrindo para o Metallica, o laço que vão dar nos velhinhos. Certamente, se seguirem nesse patamar, serão lembrados como a maior banda deste século. Lançado em 16 de abril. 

5. Jerry Cantrell - Brighten

Jerry Cantrell é um sobrevivente do rock. Todos os exageros da geração Seattle dos anos 90 não foram capazes de afetar sua capacidade de criar músicas sensacionais. Apesar de Brighten trazer canções que em pouco lembram Alice in Chains, como por exemplo "Prism of Doubt", há também faixas pesadas e empolgantes, como a faixa-título, "Had To Know", que me fazem pensar como seria bom se Layne Stailey estivesse ainda criando faixas ao lado de Cantrell. Ouvir "Siren Song" fez arrancar lágrimas imaginando os dois cantando juntos essa faixa. Belo disco! Lançado em 29 de outubro. 

6. Big Big Train - Common Ground 

Me aproximei mais do Big Big Train depois da entrada de Rikard Sjöblom na banda. Apesar de não curtir os vocais Neal Morseanos de David Longdon, é inegável a contribuição que o ex-Beardfish Rikard deu para a banda. Da Suécia, o rapaz trouxe sua genialidade ímpar para criar peças preciosas, e que bom que Longdon percebeu o talento do cara. Mesmo que Rikard tenha composto apenas uma canção, a linda "Headwaters", somente ao piano, suas contribuições com teclados e guitarra em faixas como "All The Love We Can Give" e na suíte "Atlantic Cable", verdadeiras teses de rock progressivo atual baseadas nos grandes trabalhos dos anos 70. Destaque total para "Apollo", fantástica faixa instrumental cria do batera Nick D'Virgilio, e indicada para quem curte Yes e afins. Lançado em 30 de julho. 

7. Stew - Taste

O Stew surgiu para mim através de um Test Drive que fizemos em 2019, e desde então, virou banda de audição constante com aquele álbum. Em novembro desse ano, veio Taste, mais uma bela paulada que mostra elementos de hard rock dos anos 70 surpreendentes. Novamente, o disco é curto (pouco mais de meia hora), mas o suficiente para quebrar pescoços e estourar cordas de air guitars mundo a fora, principalmente na pesadíssima "Earthless Woman", na rifferama de "Heavy Wings" e na trabalhada "Still Got the Time". Destaque também para a balada bluesy "When the Lights Go Out". Lançado em 12 de novembro.

8. Lucifer - Lucifer IV

Passei a prestar mais atenção ao som do Lucifer a partir do Melhores do Ano passado, onde a banda figurou nos dez mais. O som de Lucifer IV é pesado e ótimo de se ouvir com o som no talo. Os vocais de Johanna Sadonis estão cada vez mais sedutores e potentes, e as construções instrumentais mostram como o Black sabbath ainda influencia novidades, e é capaz de parir bisnetos tão tinhosos quanto foram suas composições originais, vide "Cold as a Tombstone", "Phobos", "Orion", "Wild Hearses", e com certeza, "Mausoleum", cuja introdução já colocou fácil esse álbum nesta lista. Essas faixas, que apesar do cheirão evidente do couro da jaqueta do bisavô Iommi, trazem todo um frescor do século atual. Lançado em 29 de outubro.

9. Robert Plant & Alison Krauss - Raise the Roof

Raising Sand, o primeiro álbum da dupla, é um álbum tão bom que ficamos na expectativa de como seria um segundo lançamento deles. Pois 14 anos depois, Plant e Krauss voltaram com Raise the Roof. Não é um disco tão impactante quanto seu antecessor, mas mesmo assim, muito belo. As canções parecem ser uma sequência natural da carreira de Plant ao lado da Sensation Space Shifters, porém aclimatadas pelo sempre excepcional vocal de Krauss. Faixas como "Go Your Way", "Searching for My Love" trazem belas harmonias vocais e instrumentais, e como Plant ainda está com a voz em dia, incrívelmente, como mostra também "High and Lonesome". Quando Alison tem o predomínio vocal, como "The Price of Love" e "It dont Bother Me", é de uma lindeza única. As melhores, "Quatro (World Drifts In)" e "Last Kind Words Blues", trazem elementos perfeitos para serem ouvidos enquanto nossos nervos são tocados pelas belezas emanadas dessas ótimas composições. Lançado em 19 de novembro. 

10. Caligonaut - Magnified as Giants

Estes noruegueses surgiram como indicação no Spotify, em virtude de eu ter ouvido bastante Wobbler esse ano, e fiquei encantado. É um progressivo mito bem feito, lembrando um pouco de Genesis mas trazendo também boas pitadas de peso, muito por conta da participação do membro do Wobbler  Lars Fredrik Frøislie (teclados, mellotron). A abertura com a linda "Emperor" já traz uma mistura incrível de elementos acústicos e elétricos, com teclados e baixo predominando entre os dedilhados de violão e guitarra. O trabalho de violão também é relevante em "Hushed" e na bela faixa-título. A suíte "Lighter Than Air" é uma das grandes joias desta década, em termos musicais. Quatro faixas apenas, mas muito boas para nos fazer esperar ansiosamente por mais um lançamento do Wobbler, e que o Caligonaut possa se manter na ativa, além de mostrar que a Escandinávia vem cada vez mais parindo as melhores bandas deste século em se tratando de progressivo. Lançado em 26 de fevereiro.

Menção Honrosa: Serj Tankian - Elasticity

O EP Elasticity trouxe o velho Serj Tankian para minhas audições. as cinco canções são uma moderna criação do que poderia ser o SOAD hoje em dia. Destaque em especial para "Your Mom" e "Electric Yerevan", pesadíssimas, e o piano com orquestra na sensacional "How Many Times?". Não entrou na lista dos dez melhores apenas por que é um EP. Ah se o SOAD voltasse ... 😔

Decepções: Iron Maiden - Senjutsu e Deep Purple - Turning to Crime

Que o Iron vem se repetindo há anos não é novidade. O problea central de Senjutsu é que as músicas longas estão cada vez mais sonolentas, e as mais curtas são um pastiche da carreira solo de Bruce Dickinson ou de composições de Adrian Smith. Disco modorrento, que não sei se irá me conquistar um dia. 

Turning To Crime é um disco triste. OK, o Deep Purple apresenta suas homenagens, mas falta uma vitalidade ao longo das canções. Mais uma banda que não há por que continuar na ativa, ao meu ver, e que deixei de acompanhar há algum tempo. Até tinha esperanças com Turning to Crime, mas foi uma grande decepção.

Vergonha alheia: The Metallica Blacklist 

Sério, quem foi o "gênio" que teve a coragem de lançar quatro horas de versões para algumas músicas do clássico "Black Album" do Metallica, em mais de 4 horas de duração? E sério, quem que se animou a comprar isso? Não me senti a vontade para ouvir o tal disco, até por que ouvir sete versões diferentes de "Sad But True" e "The Unforgiven", seis de "Enter Sandman", e doze (!) de "Nothing Else Matters" é ter muito tempo para ser perdido. Sério, que ideia de jerico isso aqui. 

sábado, 7 de agosto de 2021

Styx - Crash of the Crown [2021]



O último mês de junho viu nascer o décimo sétimo disco da carreira do Styx. Trata-se de Crash of the Crown, o qual já está na lista de melhores lançamentos de 2021 em disparado. O grupo atualmente conta com a dupla consagrada de guitarras e vocais, formada por James "JY" Young e Tommy Shaw, Lawrence Gowan (teclados e vocais), Todd Sucherman (bateria) e Ricky Phillips (baixo), acompanhados de Will Evankovich (violões, guitarras, mandolin, sintetizadores, vocais de apoio), mas está na ativa desde o início dos anos 70. E o que impressiona em Crash of the Crown é como o grupo envelheceu muito bem. Não parece que estão na estrada há 50 anos (sim, o tempo passa), mantendo um nível tão alto tanto em criatividade quanto na qualidade musical, renovando-se sem perder a essência que o tornou um dos maiores nomes do hard rock americano em toda a história da música. 

O álbum abre com os teclados futurísticos de "The Fight Of Our Lives", que parecem saídos de alguma faixa perdida do Vangelis, e aos poucos, os demais instrumentos vão surgindo, explodindo nos vocais repletos de harmonia que consagraram o grupo. A curta faixa cantada por Shaw traz aquelas referências de Queen que apareceram em outras obras da banda, e empolga de cara, estabelecendo uma espécie de prelúdio para a sequência do disco. "A Monster" possui um ritmo dançante que parece saído dos grandes salões de uma Europa Medieval. Pesada, a canção vai entrando em nossa cabeça como uma broca repleta de chicletes, grudando bastante, e com diversas variações, mostra as diversas qualidades do Styx, com destaque especial claro para as lindas harmonias vocais, os trechos de mandolin e também a alternância dos sintetizadores, ora hammond, ora mellotron, ora moog. Muito bom e progressivo. 

Foto divulgação do álbum

Os violões de "Reveries" mantém esse climão medieval, quebrado no explosivo refrão, perfeito para arenas entoarem em uníssono. Aqui destaca-se também os solos de JY e Shaw. Seguimos pela linda "Hold Back The Darkness", uma obra fantástica comandada pelos teclados de Gowan e o violão de Shaw. Ambos alternam-se nos vocais, e a canção desenvolve-se com um cheirão de Pink Floyd que certamente irá fazer muita gente coçar a cabeça. Linda faixa, lindo refrão, bastante diferente do que poderíamos pensar em termos de Styx. O clima prog é quebrado pelo piano de "Save Us From Ourselves", com referências ao famoso depoimento de Winston Churchill, e muito próxima pelo Styx clássico do final dos anos 70, principalmente pelos vocais de Shaw e os solos de guitarra. 

A faixa-título é aquele momento que todo fã do Styx adora adorar, quando JY assume os vocais. Sabemos que dificilmente JY canta uma música ruim, e "Crash of the Crown" é muito boa realmente. Não parece que essa canção possui apenas 4 minutos, tamanha a quantidade de mudanças. Ela começa com sua levada agitada e os vocais graves do músico, e então ua virada no mínimo curiosa durante o refrão, com a entrada dos vocais de Gowan e Shaw. Quem está mandando muito bem também é Gowan, que faz diversas estripulias nos teclados. Mais uma mudança surpreendente, trazendo de novo as referências ao Queen, encerrando outra bela faixa. "Our Wonderful Lives" e seus violões nos colocam direto em algum local entre The Grand Illusion e Pieces of Eight, ainda mais com a entrada dos vocais e do moog. Essa canção tipicamente Styx conta com a presença mais que ilustre do baixista Chuck Panozzo, que fez parte da banda em diversas formações, e também de Steve Patrick no belo solo de trompete. 

Linda versão transparente

A faixa mais longa de Crash of the Crown, "Common Ground", surge com o moog seguido por violões na melhor linha Styx progressivo, e dê-lhe harmonias vocais. Mas vejam, a mais longa dura apenas 4 minutos, onde Sucherman dá seu espetáculo em particular. Os toques acústicos se mantém em "Sound the Alarm", mais uma linda balada cantada por Shaw, e com o órgão de igreja muito presente, junto de diversas camadas de teclados. O ritmo frenético de "Long Live the King" choca pela mudança abrupta no que estávamos ouvindo anteriormente, mas continua com Crash of the Crown em alto nível. Refrão forte, boa presença dos teclados e mais uma canção bem diferente no que esperamos de Styx. Passamos pela vinheta "Lost at the Sea", cantada por Gowan acompanhado pelos teclados e uma base formada por baixo (novamente Panozzo), guitarra e bateria, e somos levados a tabla de Michael Bahan em "Coming Out The Other Side", uma canção mais amena, que nos prepara para a reta final do disco, celebrando um refrão para se cantar abraçado aos amigos, lembrando um pouco o Yes dos anos 90, ainda mais com o solo de slide (feche os olhos e imagine que é Steve Howe ali).

Chuck Panozzo, Ricky Phillips, Todd Schurmann, Tommy Shaw, James Young e Lawrence Gowan

Voltamos aos teclados e aos vocais em harmonia do início do álbum em "To Those", funcionando como o epílogo de Crash of the Crown, e se aqui o álbum encerra-se, seria redondinho, em um clima mais que perfeito. Mas há ainda uma breve vinheta, "Another Farewell", que leva para o dedilhado brilhante de "Stream", outra que nos remete a Pink Floyd, mas agora ao de Animals, com um belo solo de slide, e que conclui o álbum de forma surpreendente, ainda mais para cima, e que sugere uma espécie de continuidade ao que foi desenvolvido no disco. Fantástico!

O ponto negativo de Crash of the Crown é de que justamente quando estamos curtindo a canção, ela acaba. Mas por outro lado, ouvir o álbum na totalidade parece que na verdade ouvimos uma única suíte de 43 minutos. Temos então um disco que traz um conceito interessante para o pós-pandemia, mesclando os dias de luta, isolamento, repressão com a celebração da vida,  através da esperança de que teremos dias melhores em breve, mas principalmente, que o Styx ainda tem muita lenha para queimar.

Contra-capa do CD

1 The Fight Of Our Lives

2 A Monster

3 Reveries

4 Hold Back The Darkness

5 Save Us From Ourselves

6 Crash Of The Crown

7 Our Wonderful Lives

8 Common Ground

9 Sound The Alarm

10 Long Live The King

11 Lost At Sea

12 Coming Out The Other Side

13 To Those 3:01

14 Another Farewell 0:26

15 Stream 2:56

quarta-feira, 22 de abril de 2020

Cinco Músicas Para Conhecer: Parece, Mas Não É


Nos últimos tempos, tornou-se comum a brincadeira do reaction, onde se filma uma pessoa tendo reações ao ver um determinado vídeo ou ouvir uma música pela primeira vez. Baseado nessas experiências, o Cinco Músicas Para Conhecer de hoje simula uma espécie de reaction com alguém que irá ouvir as faixas escolhidas, pensando ser uma coisa, mas que na verdade, é outra.

Atomic Rooster - "Gershatzer" [1970]

Como é bom ouvir Emerson Lake & Palmer, que paulada já de cara. Esse órgão do Emerson, o baixão do Lake, e pô, Palmer soltando o braço. Sonzeira fudida hein? Olha essa rufada do Palmer, que espetáculo. Ei, que massa, Emerson demolindo o piano no seu solo. O cara tinha é uma técnica sensacional. Olha esse pulo para os teclados, e a velocidade. E agora vai para a sutileza do piano com uma simplicidade monstra! E essas loucuras assim é puro Emerson. Genial! Baita solo! É  da época do Tarkus? Só pode, pela inspiração! Voltou o riff, puro ELP. Que baita música, não conhecia. Ih rapaz, Palmer mandando ver no solo. Cara, como ele toca tanto? Monstro, olhada as rufadas, mão esquerda impecável, e o controle dos bumbos. Baita som. É de qual disco? O que? Não é ELP? É meu caro, isso é Atomic Rooster, um dos grandes power trios da história da música britânica, liderado pelo genial Vincent Crane nos teclados, e que por acaso revelou Carl Palmer ao mundo. Mas aqui, as baquetas estão a cargo do também fenomenal Paul Hammond. Está no excelente e fundamental segundo disco do grupo, Death Walks Behind You (1970) e em diversas coletâneas da banda. Para conhecer um pouco mais sobre a banda e a faixa, acesse aqui. 

Focus - "House of the King" [1970]

Violão fazendo acordes velozes, e eis que a flauta surge sobre um andamento rápido, linha de baixo complicada e uma bateria marcante.O sorriso toma conta, afinal, é o Jethro Tull quem está tocando. Como Ian Anderson toca bem, certamente isso é da fase Aqualung, uma sobra de Thick as a Brick no máximo. Por que será que nunca foi lançada? Epa, mas e essa virada? A guitarra do Martin Barre não tem esse timbre! Claro meu caro, é Jan Akkerman na guitarra, solando para um dos maiores clássicos do grupo holanês Focus. O flautista em questão é Thijs Van Leer, um dos maiores nomes do instrumento, claro, ao lado de Ian Anderson. "House of the King" é tão Jethro Tull, mas tão Jethro Tull, que certa vez um famoso lojista de Porto Alegre falou que "é a canção que Ian Anderson jamais gravou, mas com certeza deve ter composto". Exageros a parte, é uma magnífica faixa, que saiu originalmente nas versões americana e inglesa de Focus Play Focus (batizadas de In And Out of Focus), posteriormente em algumas das várias versões de Focus 3, e em diversos lançamentos em compacto, inclusive sendo responsável por manter o Focus na ativa, já que o fracasso de vendas de Focus Play Focus levava para o fim prematuro da banda, mas o sucesso da bolachinha fez com que Jan Akkerman (guitarras) e Thijs Van Leer (teclados, flauta, voz) reformulam-se a banda e seguissem na ativa, para conquistar o mundo no seu lançamento seguinte.

Mandrill - "Mandrill" [1970]

O som começa com uma tecladeira infernal, envolta por percussão rítmica avassaladora. Um naipe de metais entoa o riff da canção, e então surge a guitarra com wah-wah e carregadíssima de efeitos. Impossível não ser a trupe de Carlos Santana. A medida que a canção vai passando, o ritmo frenético da percussão e o solo de órgão só nos comprova cada vez mais que é Santana sim. Claro, a presença de flautas, vibrafones e metais, cria aquela pulga atrás da orelha, ainda mais quando a flauta passa a solar virtuosisticamente. Peraí, vibrafone tomando conta das caixas de som sobre o ritmo avassalador? Isso é Santana? Ah, esse solo avassalador de percussão faz minha pergunta cair por terra, agora tenho certeza que sim, é Santana o que sai das caixas de som. Mas não é minha leitora, meu leitor, você foi redondamente enganado por uma das bandas mais fantásticas da década de 70.  Um hepteto do brooklyn com uma boa discografia a ser descoberta. "Mandrill" está no álbum de estreia da banda, auto-intitulado, e em quatro compactos como lado A, tendo cada um no lado B as faixas "Peace And Love" (Espanha, que ilustra a matéria), "Revolucion Sinfonica" (México), "Warning Blues" (Estados Unidos) e "Hang Loose" (Reino Unido).

Styx - "Mademoiselle" [1976]

Um acorde de teclado, baixo marcante, guitarra e bateria juntinhos, uma voz em francês, solo de guitarra com efeitos e uma vocalização aguda e marcante. Opa, é Queen! Mas peraí, quem está cantando? Brian May? Bom, o instrumental é Queen, deve ser o May sim. Pô, isso é Queen, só pode ser Queen. Ouve essas linhas de guitarra, essas vocalizações. Cara, com certeza é Queen. Ah velho, está brincando, isso é Queen sim!! Não meu caro, isso é uma das obras atemporais que o Styx lançou no excepcional Crystal Ball, de 1976, quando o Queen havia acabado de conquistar o mundo. Nunca foi comprovado se o Styx se inspirou no Queen para fazer "Mademoiselle", mas com certeza, os elementos de vocalizações e efeitos na guitarra que Brian May usou na banda inglesa apareceram em diversas outras faixas da banda antes mesmo do Queen pensar em existir como tal, como "After You Leave Me" (1972) ou "Earl of Roseland" (1973). "Mademoiselle" é um exemplo mais recente na obra do Styx, mas eu poderia ter escolhido vários outros. Trouxe essa faixa do SEXTO disco da banda, e de um belíssimo compacto com a sensacional “Lonely Child” no lado B, para ver se causo uma polêmica por aqui. E também existe um compacto com “Light Up” no lado B.


Greta Van Fleet - "Lover, Leaver" [2018]

Epa, é uma versão nova de "Whole Lotta Love"? Opa, não é nova não, é a original. Deve ser ensaios de gravação né? Mas a letra tá diferente. Eita, o Bonham devia estar gripado esse dia, mas o Plant e o Page estão afiadíssimos. Por que o baixo do Jonesy tá tao baixo? Eita, Plant canta pra caralho nesses agudos hein? Sonzeira. É uma versão inicial de "Whole Lotta Love"? A letra tá bem diferente ... Eita, Page e sua Les Paul, baita solo. Bah, os caras tavam flertando com orquestrações antes do Led III, eu sabia!! O que? Isso é um bando de garotos americanos dessa década? Tás de brincadeira!! O Greta Van Fleet é o verdadeiro caso do Ame ou Odeie, muito mais por um preconceito infantil e besta, Tirando a paixão clubística de lado, os caras entregam faixas memoráveis, claro que sugadas diretamente da fonte Zeppeliana, mas com toda uma vitalidade moderna que cai muito bem aos dias atuais. "Lover, Leaver" é um exemplo claro disso. Todas as referências ao Led estão lá, mas o comportamento geral da canção mostra que há muito mais criatividade do que inspiração na obra dos americanos. Está no seu primeiro full lenght, de 2018, e foi lançada no mesmo ano para download no site oficial da banda, através do single que ilustra a postagem.

sábado, 21 de julho de 2018

Consultoria Recomenda - Álbuns de Estreia



Discos de estreia geralmente são álbuns que marcam a carreira de um artista. Hoje, um grupo de sete consultores recomenda sete álbuns de estreia que fazem parte de suas audições rotineiras, com um apanhado desde a década de 60 até os dias atuais.



Cream - Fresh Cream (1966)
Recomendado por Ronaldo Rodrigues

Talvez um dos primeiros casos da história do rock em que havia especulação da crítica musical sobre o que aconteceria com um disco. Se o compacto de estreia da banda tratava a questão com irreverência, o disco completo que traz a estreia do supergrupo Cream não deixa nada a desejar. O som da banda acendeu a fagulha que catalisou a conversão do blues britânico naquilo que viria a ser o rock pesado dos anos seguintes. Eric Clapton, Ginger Baker e Jack Bruce escreveram, a toque de caixa, parte importante da história do rock e Fresh Cream é seu prólogo.

Mairon: Os cientistas, através da teoria do Big-Bang, conhecem perfeitamente como o universo surgiu a partir de 10^{-34} segundos após a grande explosão que criou tudo o que há hoje em dia. Entre o tempo zero e o tempo 10^{-34}, nada se sabe. Felizmente, em termos do rock pesado, a coisa é diferente, já que temos aqui o Big-Bang da guitarra, bateria, baixo e vocalizações despejadas com potência sonora para quebrarmos pescoços. A voz de Jack Bruce (baixo) casa muito bem com a do chapadaço Eric Clapton (guitarra), recém saído das fraldas do Yardbirds, e doido para causar um rebuliço. Não à toa ele recebe o apelido God, pois é ele quem cria praticamente toda a rifferama e escalas de solos que Hendrix, Gibbons, Lee, Iommi e outros usariam a partir de então. Na bateria, uma locomotiva Ginger Baker que só não faz chover durante "Rollin' and Tumblin'", mas causa terremotos e tsunamis durante a espetacular "Toad", aula inicial para todas as outras bandas saberem como se faz um solo de bateria. É muita energia para ser emanada através das caixas de som, e clássico em cima de clássico, principalmente através de "I Feel Free" e "I'm So Glad", os maiores expoentes de Fresh Cream. As melhores para mim são o grandioso blues de "Sleepy Time Time", e "Sweet Mine", cuja versão posterior, lançada pela Ginger Baker's Airforce é a definitiva. Fecham o track list deste que talvez seja o principal disco de estreia de todos os tempos, a pancada "N. S. U." e a instrumental "Cat's Squirrel". Fresh Cream peca apenas na fraca versão de "Four Until Late" (original de Robert Johnston) e em "Dreaming", balada com clima anos 50 e totalmente injustificável perto de tantas canções fortes. Grandiosa e essencial recomendação.

Davi: Tiro certeiro. Banda clássica. Álbum emblemático. Isso aqui não tem erro, né? Power trio de primeiríssima. Três gênios. “I Feel Free”, “N.S.U.” e “Spoonful” são clássicos absolutos. Ginger Baker dava uma aula de bateria em “Toad”. Eric Clapton já roubava a cena em faixas como “Sleepy Time Time”, “Sweet Wine” e “Cat´s Squirrel”. Jack Bruce era outro louco. A única tristeza que bate em ouvir esse álbum é notar a qualidade das bandas e dos discos que se faziam nessa época e comparar ao que o pessoal tem feito hoje possuindo equipamentos melhores, técnicos com mais estudo, salas de gravação mais preparadas, recebendo instrumentos de ponta como patrocínio das melhores marcas. O que aconteceu?

Fernando: Já escrevi uma discografia comentada do Cream aqui para a Consultoria do Rock. A junção de três músicos fantásticos tinha que acertar logo de cara. Imagine um disco ruim de caras tão conhecidos. Acredito que isso fez com que várias versões de músicas de outros artistas fossem usadas e que não tenham dado tanta importância para as letras das canções próprias. São ótimas faixas no geral, mas considero esse disco apenas como um cartão de visita, já que eles acertaram a mão mesmo no seu sucessor.

Nilo: Introduzir o Cream e seus integrantes me parece desnecessário a esta altura. Tamanha a fama, chega a ser redundante afirmar que trata-se de uma estreia "jogo ganho": eram músicos de alto calibre, já com certa rodagem e com plena ciência do que estavam fazendo. Os moldes do blues rock não permitiam plena desenvoltura técnica de cada um, tampouco era necessário. O básico, executado de maneira competente e convincente. Mas convenhamos que, se Fresh Cream vive "na sombra" de Disraeli Gears, não é injustiça - a atmosfera lisérgica deste forneceu maior liberdade criativa ao trio. Na verve bluezeira, creio que a estreia do Bluesbreakers (com o Clapton, lançada meses antes no mesmo ano) é mais interessante.

Alisson: O time era inegavelmente lendário, apenas as três maiores referências em seus instrumentos. O problema da estreia é o grupo ainda estar engessado demais no blues rock da época e precisar mostrar serviço em conjunto. A técnica está acima de qualquer suspeita, as composições, porém, não vão muito além do que era produzido no período (muitas vezes de qualidade até inferior). Se hoje é visto como sombra do clássico Disraeli Gears, não é por falta de motivos.

Adrian: Baita disco de uma banda acima da média. “I Feel Free” vicia logo de primeira. O sempre excelente Eric Clapton em seu “debut” como protagonista de uma banda, mostrou para o que veio, sem claro deixar de mencionar Jack Bruce e Ginger Baker (o que é aquilo em “Toad”?). Ah, um disco com “I’m so Glad” sempre vai ser ótimo.



Moby Grape - Moby Grape (1967)
Recomendado por Mairon Machado

Várias poderiam ter sido as recomendações de álbuns de estreia que eu poderia fazer. Algumas até foram escolhidas aqui. Mas o nome que me veio à mente de cara foi essa obra-prima do rock flower-power norte-americano. Praticamente uma coletânea de sucessos de uma banda que teve tudo para ser a maior de todos os tempos (três guitarristas, um deles, um monstro chamado Jerry Miller, além de duelo de guitarras, inexistentes em 1967, trabalhos vocais e quatro vocalistas espetaculares, apoio de uma grande gravadora, a criatividade do gênio Skip Spence, entre outros), mas acabou pecando pelos excessos, isso em uma época onde se falar em excessos era apenas uma que outra aventura amorosa com a prima adolescente (Jerry Lee Lewis #Modeon). Mesmo os momentos amenos de "8:05", "Mr. Blues", "Someday", "Naked, If I Want To" mostram extremas qualidades para 1967. Moby Grape, o álbum, inspirou uma galera mundo a fora, com suas influências de country, blues, jazz e muita, mas muita psicodelia. Um deles, principalmente, foi um carinha loiro, chamado Robert Plant, que ao ouvir faixas espetaculares, velozes e destruidoras, como "Changes", "Fall On You", "Hey Grandma", "Lazy On Me", "Omaha" e a viajante "Sitting by the Window", simplesmente pirou. Tanto que gravou "8:05" e "Naked If I Want To" como singles, em 1993, e nunca cansa de citar o Grape como sua principal influência. Admire o country rock de "Ain't No Use", as vocalizações precisas de "Come in the Morning" e "Indifference", enfim, tudo o que há aqui. Os excessos já começam na polêmica capa, com o batera Don Stevenson estancando o dedo médio para o mundo, um pôster gigante promocional da banda que acompanhava a edição original, e a festa de lançamento do álbum, com prisões que abalaram o resto da carreira do grupo, através do boicote que o empresário Matthew Katz e a gravadora Columbia Records fizeram. É um disco para se ouvir com toda a curiosidade de quem quer conhecer algo novo, e se maravilhar com faixas fantásticas lançadas em um ano fundamental para a história da música. Mais sobre essa joia aqui.

Ronaldo: A estreia do Moby Grape é cheia de vitalidade e rebate para o clima árido da California o lado mais cru do som dos Beatles. Guitarras espertas, composições funcionais e ótimos vocais. Apesar da lisergia reinante a partir de 1967, o som do Moby Grape vai direto ao ponto, sem delongas. Acima de tudo, um delicioso disco de rock sessentista.

Davi: Banda bem interessante da cena de San Francisco. Esse trabalho foi lançado no ano de 1967, no meio da efervescência da cena flower power. Como não poderia deixar de ser, a sonoridade do álbum é repleta de psicodelia, o que já fica claro na faixa de abertura “Hey Grandma”. “Fall On You” e “Come In The Morning” trazem um belo trabalho de harmonia vocal nos backing vocals. Também gosto de quando fazem um som mais basicão como ocorre na ótima “Mr. Blues”. As baladas cruzavam elementos do folk com o country rock, conforme podemos notar em músicas como “Naked, If I Want To” e “Lazy Me”. Discaço! Gostei bastante.

Fernando: Já havia ouvido O Moby Grape quando estava descobrindo essas bandas do final da década de 60. Porém, por algum motivo que não sei dizer, acabei não ouvindo mais. Assim, foi quase como se tivesse conhecendo uma banda nova. O som é o esperado e o que nos acostumamos das bandas californianas do período. Muita melodia nas vozes, belos arranjos dos instrumentos e uma energia bastante positiva. Gostei de revisitar uma banda que há muito tempo não ouvia.

Nilo: Faz jus à capa. Outro disco sem grandes ambições além de juntar os amigos e fazer música, e tal proposta é bem cumprida. São 13 faixas de rock raiz, que olham tanto para o lado elétrico do blues como para a calmaria acústica do folk. É daqueles LPs pra se ouvir na vitrola do coroa, sentado numa cadeira de balanço no fim da tarde. Um acento psicodélico ronda os pouco mais de 30 minutos aqui, e pelo visto já servia como sinal para o que o estado metal do vocalista Alexander Spence....

Alisson: A ambição passa longe do objetivo do primeiro disco do Moby Grape (diferente do que skip Spence faria sozinho), mas como muitos discos de estreia, a ideia era mais se estabelecer com um disco coerente ou entregar um produto interessante para a gravadora. Nisso, esse disco cumpre os objetivos, mas não consegue ir além disso.

Adrian: Outra banda que não conhecia (não me julguem, ainda estou aprendendo rs). Mas é um rock’n’roll sessentista muito agradável de se ouvir. Como guitarrista (frustrado), algo que sempre presto mais atenção são os riffs e solos, e aqui tá recheado, portanto excelente, assim como os outros elementos da banda.



The Doors – The Doors (1967)
Recomendado por Davi Pascale

Quando foi jogado o tema, esse foi um dos primeiros álbuns que me veio à cabeça. Normalmente, procuro trazer para essa brincadeira álbuns não muito manjados, mas quando o tema foi disco de estreia, me pareceu obvio que seria interessante indicar alguém que conseguiu quebrar tudo já no primeiro disco. Tem muito artista que demora para criar uma identidade. O grupo de Jim Morrison foi o contrário. O primeiro disco já trazia um retrato de tudo que a banda representa. Textos elaborados, vocal hipnótico, teclados se sobressaindo, longas jams, flerte com outros gêneros. Inclusive, "Break On Through" foi inspirado na nossa bossa-nova (a levada de bateria, algo já reconhecido pelos músicos). Mais do que já ter uma identidade definida, diria que esse é seu trabalho definitivo. Embora goste dos demais álbuns produzidos na era Jim (em especial, Waiting For The Sun e Strange Days), se tivesse que indicar um álbum do grupo para quem nunca ouviu nada deles, entender o que significam, seria esse aqui. Como não bastasse, o repertório é repleto de clássicos como “Light My Fire”, “The End”, “Soul Kitchen”, “Back Door Man”, além da já citada “Break On Through”. Não tem nenhuma faixa ruim nesse disco. Trabalho perfeito. Clássico do The Doors, clássico do rock, clássico dos anos 60. Enfim, um álbum definitivo.

Ronaldo: Uma das estreias mais marcantes de toda a história do rock. O rock ficando cada vez mais ousado, ameaçador e misterioso. O som do órgão Vox, por influência de Ray Manzarek, seria a partir daí usado extensivamente no próximo par de anos, a delinquência e a afronta passariam a fazer parte cada vez mais do cardápio dos crooners e as escalas do blues continuariam sendo o passaporte para as viagens da psicodelia. Musicalmente há muitas inovações - harmônicas, rítmicas, em sonoridades e nas letras. Nem o próprio Doors conseguiria produzir algo tão importante depois dessa estreia.

Mairon: Aqui estão três grandes clássicos do rock, chamado "Break on Through (To The Other Side)", "Light My Fire" e "The End". Só por essas três faixas, o álbum já merece a recomendação. Mas há mais em The Doors. Canções como "I Looke at You", "Soul Kitchen" e "Twientieth Century Fox", marcaram o som dos teclados de Ray Manzarek como um dos mais relevantes para a comunidade flower-power, e as letras singelas, mas contagiantes, de Morrison. As baladas "End of the Night" e "The Crystal Ship" são feitas para arrancar lágrimas do busto roubado de Jim Morrison. "Alabama Song" e "Take it as it Comes" são para sair pulando pela casa, sem medo de bater em paredes ou derrubar as coisas. A versão de "Back Door Man" é pura chapação! Enfim, uma estreia fulminante, matadora, e que escrevi mais sobre essa obra-prima aqui. Belíssima recomendação!!!

Fernando: Aqui sim foi uma estreia de respeito. O Doors iniciou a carreira de forma arrasadora com clássicos atemporais como “Break On Through (To the Other Side)”, “Light My Fire” e “The End”. E não ficou só nisso, pois tem ainda músicas até esquecidas como a linda “Crystal Ship”. O nível ficou tão alto que fez a banda suar para manter o nível. E logo na capa o rosto em destaque de Jim Morrison mostrava quem era a figura central do grupo.

Alisson: A estreia do Doors sai do lugar comum em diversos sentidos. Ela vai na contramão ao entregador conteúdo completamente autoral, diferente dos vários covers de músicos blues que discos britânicos colocavam em seus discos. Segundo, que ele já deixa a marca registrada da banda de maneira definitiva, com seus longos ensaios improvisados, a sonoridade fortemente psicodelica e o lirismo acima da média de Jim Morrison. Até hoje não é meu favorito, mas sem esse, Strange Days (que ocupa esse posto) e os inúmeros seguidores do grupo, simplesmente não existiriam.

Nilo: Existe algo que ainda não tenha sido dito sobre este disco? Tenho preguiça da persona boêmio-messiânica do Morrison e, mesmo que os arranjos de Ray Manzarek amarrem os instrumentos (interessante notar que o teclado é tão etéreo quanto sustentação aqui) de forma eficiente, os timbres são magrinhos demais.Todavia, ninguém são vai negar que este é o início de uma das 3 bandas mais influentes do rock dos EUA. Outra delas também estreou em 1967, e até preferia que tivesse sido escolhida para tecer comentários mais elaborados aqui.

Adrian: Um digníssimo disco de estreia que bem parece uma coletânea de tão bom. Se “Break on Through” e “Light My Fire” que são as mais conhecidas pelo público já chamam a atenção, a excelente “Alabama Song”, a melancólica “Crystal Ship” e a épica “The End” também tem seu destaque, lançando ao mundo, o mito Jim Morrison.


Styx - Styx (1972)
Recomendado por Fernando Bueno



A primeira vez que ouvi o Styx foi um choque. O interesse pela banda foi pelo seu nome, já que a imagem de um rio do inferno é de algo tenebroso, misterioso, carrancudo e sisudo. Porém é exatamente o oposto da música do Styx e foi uma surpresa excelente. Conheci a banda pelo ótmo site Progarchives e também esperava algo mais sinfônico e o que ouvi foram excelentes músicas como muito apelo pop. A música da banda até chegou a ser um pouco mais pomposa ao longo do tempo, mas esse disco de estréia é um belo exemplo do que a banda fez, e muito bem, em sua carreira.

Ronaldo: Os primeiros minutos do disco de estreia do Styx podem passar a impressão de estarmos diante de um trabalho de hard rock tal como era a marca registrada do "early 70's" - guitarras fortes, riffs inteligentes e uma cozinha poderosa. Contudo, a faixa de abertura mostra-se como uma suíte com construção inusitada, cheia de recortes e com uma boa dose de pompa e circunstância. Seu final traz todos os temperos progressivos daquela mesma época e o protagonismo dos teclados. O restante do disco passa por toda a riqueza musical do período, mostrando uma banda repleta de talentos instrumentais e com um faro enorme por melodias assobiáveis.

Mairon: Banda fantástica, renegada por muitos por conta das baladas que marcaram sua carreira, vide "Babe", "Come Sail Away" e "Don't Let It End") ou de faixas mais pops, como "Blue Collar Man (Lonely Nights)" e "Too Much Time on My Hands". Aqui é o Styx raiz, hardão setentista de primeira, misturado com progressivo a partir de uma cozinha fabulosa montada pelos irmãos Chuck (baixo) e John Panozzo (bateria), e com as guitarras de John Curulewski e James Young fazendo estripulias mágicas junto aos teclados de Dennis DeYoung. Há um certo ar de Deep Purple e Uriah Heep nas canções, mas nada que não traga uma originalidade animadora para 1972. Pelo contrário, "Right Away" parece ter sido uma força influenciadora do Purple para algumas faixas de "Stormbringer", enquanto "Best Thing", e os seus acordes de violão misturados com órgão, guitarra e altas vocalizações, eram um prenúncio - ou um contraponto - ao gigantismo de Magician's Birthday. "After You Leave Me" poderia ser a balada do álbum, apesar de estar longe de ser algo se quer próximo disso - somente a melosa letra nos faz pensar assim - pois James Young e as vocalizações fazem brotar na cabeça aquela sensação de "coisa boa estar conhecendo algo novo". "What Has Come Between Us" nos surpreende pelas variações (um início pesado, uma balada ao violão, um refrão grudento cheio de vocalizações e belos solos de guitarra). Falando em peso, "Quick is the Beat of My Heart" despeja potência sonora pelas caixas de som, sendo impossível não fazer um air keyboard durante o solo de hammond por DeYoung. O grande destaque é a sensacional suíte "Movement for the Common Man", a qual ocupa quase todo o Lado A e é dividida em quatro partes, que já apresentam os vocais marcantes que consagrariam a banda anos depois, principalmente de DeYoung. Vocais estes que aliás, estão presentes em quase todo o álbum. Ótima indicação, e uma das minhas bandas favoritas.

Davi: Essa é uma banda que eu curto, mas nunca me aprofundei. Esse álbum mesmo, vergonhosamente, nunca havia escutado. A primeira faixa, “Movement For The Common Man” é espetacular. Gosto das mudanças de andamento, desde o início com uma sonoridade hard rock guiada pelas guitarras, passando por uma colagem de sons e chegando em uma passagem mais experimental na parte final. O solo de guitarra dessa canção é fantástico. “Right Away” também é muito boa, com uma pegada mais longe do progressivo e mais próxima do southern. Me remeteu um pouco às baladas do Lynyrd Skynyrd, mas é a única com essa atmosfera no álbum. A introdução de “What Has Come Between Us” me lembrou muito o Yes, a levada funky rock por trás de “Quick Is The Beat of My Heart” foi uma grata surpresa, assim como a versão de “After You Leave Me” do músico George Benson. Belo disco!

Nilo: Dentro do leque desta seleção, a maior qualidade da estreia do Styx é mostrar como uma banda pode evoluir. Embora não seja fã da mistura de AOR e progressivo que os consagrou nos discos seguintes, ao menos tal sonoridade exibe segurança; algo do tipo "É brega e pomposo? Sim, e azar o seu, vai ouvir na AM até enjoar!". Dá pra dar um desconto e dizer que neste álbum aqui, poucas canções têm a assinatura dos integrantes. Não chega a aliviar a má impressão que fica após aguentar a faixa de abertura, com 13 minutos e recheada de cacoetes do prog, e nem dos sons hard rock mais curtos que seguem - igualmente insípidos.

Alisson: Não sei quem eram os músicos envolvidos no Styx na época, mas começar com um primeiro disco onde a primeira música possui 13 minutos de duração é corajoso. Enquanto não sendo uma das referências do AOR, o Styx emulava os principais chavões do hard rock e do progressivo do período, já com um pé no pop, bem evidente no foco excessivo nas melodias. Tudo redondinho, inofensivo, e nada memorável.

Adrian: Rock’n’Roll com boas doses de Progressivo, de boa qualidade (logo de cara uma faixa de 13min em um disco de estréia!!). Nunca dei muita atenção ao Styx, mas fiquei curioso em saber mais da banda. O instrumental é ótimo, com boas melodias e o vocal também me agradou. Aprovado!


Sarcófago – INRI (1987)
Recomendado Nilo Vieira

Creio que o maior mérito de grandes álbuns de estreia é conseguir traduzir o frescor da energia original do artista, independente de imaturidade artística ou condições técnicas desfavoráveis. Nesse sentido, não há melhor exemplo que INRI. A produção é precária. As letras são blasfêmias juvenis traduzidas em inglês raso. O instrumental é tão bruto que fica difícil classificar. E mesmo assim, não há como contrariar quão inovador e legítimo é o resultado final: quatro pé rapados de BH, logo após o fim da ditadura militar, criaram na raça uma música híbrida, que caiu como uma bomba na época. Um trabalho com muito mais atitude que a maioria dos discos nacionais elogiados daquela década, seu legado ainda ecoa forte Brasil afora. Ouso dizer que é o LP mais influente feito aqui nos anos 80, dada a repercussão internacional - até o Dead (Mayhem) tinha camiseta!

Ronaldo: Uma das coisas mais mal gravadas que já ouvi em toda a minha vida (e não foram poucas). Qualquer outro característica, positiva ou negativa, que o disco tenha fica nublada frente a uma gravação tão tacanha. Se isso foi de alguma forma proposital, meu desprezo por esse som aumenta em progressão geométrica.

Mairon: Um brasileiro que causou impacto no mundo inteiro é raro, ainda mais na cena metálica. I. N. R. I. é o bisavô de quase todo o black metal, com fortes influências de Celtic Frost e Slayer ("Nightmare" e "Ready to Fuck"), ou Possessed e Sodom ("Christ's Death", "Desecration of Virgin", "The Last Slaughter" e a faixa-título) mas com o diferencial de não ter tanta técnica quanto os citados, Wagner "Antichrist" é o cara que consegue se destacar musicalmente, com um bom gutural. Acho a bateria muito mal tocada, e infelizmente, a produção abafou demais baixo e guitarra (pelo menos no link que peguei). De qualquer forma, é notável o estilo dos guris, principalmente "Deathrash", "Satanic Lust" e "Satanas". Não é algo que hoje eu aprecie, mas teve sua importância em 1987.

Davi: Essa é uma banda que a galera morre de amores e nunca consegui compreender a razão. Esse disco é o exemplo clássico de tudo o que havia de amadorismo na primeira cena de heavy do Brasil. Sem dúvida, existiam as exceções, mas eles não faziam parte desse território. Disco extremamente mal gravado, bateria martelada e sem a menor criatividade, trabalho vocal ruim, as letras são risíveis. Desde o texto tentando soar malvado, mas aparentando ter sido escrito por uma criança de 3 anos, até pela nítida falta de domínio da língua inglesa. É um marco dentro da cena (não sei como, mas conseguiu o feito), mas é um trabalho que vale conferir apenas pelo seu contexto histórico mesmo porque o trabalho musical, olha...

Fernando: Vou começar uma briga com os fãs do Sárcofago. Gosto muito do Laws of Scourage, já até escrevi sobre ele aqui na Consultoria do rock, mas os outros discos, mais diretos e sem o esmero que esse disco que citei tem, acho puro barulho. Sei que muita gente vai citar a já falada influencia que a banda teria sobre as bandas realmente importantes lá nos países nórdicos. Será que a importância foi tão grande assim?

Alisson: Antes de criticar a falta de esmero técnico e as letras simplórias (para não dizer amadoras) do primeiro disco do Sarcófago, é bom que se coloque em perspectiva o mundo em que esse disco saiu. Basicamente quatro adolescentes revoltados recém saídos de um duro regime militar com muita vontade de se fazerem ser notados. Essa vontade é sentida durante o disco todo. O que falta em técnica, sobra em brutalidade e chucrice, já que o som é tão básico e simples que soa enérgico e, por vezes, até sombrio. Se na época o disco era blasfemo desde a capa, servindo de influência até para a galera da Noruega, hoje ele soa mais como um grito de rebeldia e a vontade de uns garotos de fazer a diferença através da música.

Adrian: Nunca fui tão fã do Sarcófago, mas tenho que reconhecer o clássico e a importância da banda e desse disco para o Metal Brasileiro (e mineiro). Bruto, direto e sem frescura.


Demilich - Nespithe (1993)
Recomendado por Alisson Caetano

Um registro singular dentro da historia do Death metal, Nesphite permanece influenciando gerações, mesmo que nada se assemelhe em qualquer nível com o que está registrado neste que acabou sendo a única mostra de genialidade do grupo. Usando tempos estranhíssimos e dissonâncias de guitarra sem preocupações, Nesphite cria uma musicalidade abstrata, intensa e imersiva em níveis nunca vistos antes no estilo. Os vocais (que o encarte faz questão de ressaltar que foram feitos na raça, sem uso de efeitos digitais) aumentam o grau de estranheza enquanto as letras saem do lugar comum do gore tradicional para proferir histórias bizarras e surreais. Obra ímpar na história do estilo, continua irretocável, mesmo com anos de seu lançamento e tantas tentativas (muitas frustradas) de inovações de outras bandas.

Ronaldo: Do ponto de vista instrumental, o disco dos finlandeses do Demilich traz elementos bem interessantes e originais, aplicando atonalismos nos riffs, usando e abusando de muitas variações rítmicas de andamento e compasso. Mantém-se as características tétricas do heavy metal extremo, mas com um senso de urgência e uma matriz mais expandidas de climas e tensões nas músicas. Como de praxe nesse tipo de som, o disco é pessimamente gravado e todos os instrumentos parecem distantes do ouvinte. Mas nada se compara ao espanto causado pelo vocal, que realmente é horroroso e nos dá a impressão de que não deve ser nem levado em consideração.

Mairon: O bom de participar do Recomenda é que sempre aparece um disco que você dúvida que realmente foi lançado. Essa é daquelas bandas cujo logo você não consegue identificar o nome, e que faz um Death Metal bastante competente instrumentalmente. Realmente, as guitarras e a bateria são empolgantes. O problema é o vocal, o qual parece um lagarto falando, e não um ser humano cantando (talvez um ser humano arrotando seja uma boa descrição). Desculpe ao consultor, mas o nível mental para entender essa obra não foi alcançado por mim ainda ...

Davi: Cara… De vez em quando vocês desencantam cada coisa que vou te contar. Não vou nem ficar citando música porque, para mim, todas as faixas possuem os mesmos defeitos. Mudança de andamento além da conta. Parece que os músicos estavam mais preocupados em demonstrar que sabiam tocar do que escrever algo realmente cativante. Ou então não conseguiram definir sobre o que trabalhar e o que não trabalhar na canção. Tenho que reconhecer que o guitarrista e o baterista, embora pentelhos, são bons músicos. A qualidade de gravação é meia bomba. O bumbo da bateria tem som de peido. E esse vocal chega a ser cômico. O cara quis soar como o demônio, mas parecia que estava arrotando uma lata de coca-cola. Muito fraco no gutural. Uma das piores coisas que já ouvi na vida.

Fernando: Nunca fui um fã de death metal. Só mais recentemente comecei a ouvir algumas bandas de black ou de thrash mais extremo que beiram o death. Mas alguma coisa nas bandas mais tradicionais dos estilos não me agrada. Outra coisa que costuma atrapalhar minha audição é quando associado aos termos e classificações de metal tem as palavras technical, math, crust entre outras. Parece que cria uma mensagem em meu cérebro dizendo de antemão que não vai me agradar. Porém o instrumental não se aproxima do nível que eu costumo não gostar e o que atrapalha aqui é mesmo a voz. O gutural do vocalista Antti Boman é tão propositalmente cavernoso que chega a ser até cômico. Imagino que deve ter feito bastante sucesso entre os fãs do estilo, mas me estranha em ser o único álbum da banda.

Nilo: O primeiro e último disco dos finlandeses é uma peça rara no death metal. Guitarras em afinação absurdamente baixa (em Lá, pra ser exato), vocais cavernosos profundos, riffs dissonantes, letras sobre experiências bizarras (incluindo relato sobre sentir vontade de vomitar e perceber que seu sistema digestivo, de repente, criou vida própria)... sábio o comentário que diz que "se você imaginar que são os integrantes da banda na capa, tudo fará mais sentido". Permanece entre os trabalhos mais originais e copiados do estilo. Obrigatório para entusiastas do metal extremo!

Adrian: Não conhecia a banda, mas por esse álbum, gostei do que ouvi, apesar do vocal não me agradar muito, os riffs insanos e impossíveis de guitarra e instrumental bem tocado, compensam a audição. (Se os nomes gigantes das músicas foram feitos para dar aquelea descontraída, foi uma boa sacada! Haha) Porrada na orêia!


Akashic - Timeless Realm (2000)
Recomendado por Adrian Dragassakis



De longe, o álbum mais recente de todos da lista (e até meio fora da curva), mas trata-se de um álbum de estreia de uma banda gaúcha que infelizmente não vingou. O som remete bastante ao Prog Metal do Symphony X, mas com grande personalidade. “Heaven’s Call” abre o disco já mostrando esse lado, enquanto “Dove” é uma das mais belas baladas que já ouvi. “Veiled Secrets” conclui o álbum, quase que como uma ponte para o álbum sucessor (A Brand New Day, que abre com a faixa “Revealed Secrets”). Ah, o guitarrista é o Marcos de Ros, hoje, youtuber e professor de guitarra.

Ronaldo: Eu cultivo uma teoria de que discos de estreia são interessantes, em sua maioria, por retratar toda a trajetória do músico antes dele ser de fato músico. É possível imaginar que para a maioria dos casos, as composições de um disco de estreia foram gestadas ao longo de toda a adolescência, durante muitos anos, até encontraram os elementos humanos e a estrutura necessária para sairem do campo das ideias e chegarem até um disco. Esse frescor se perde quase que imediatamente após o primeiro disco, no qual muitos outros fatores entram em jogo. Ao ver que essa banda brasileira foi fundada em 1988 e lançou a estreia apenas em 2000 essa imaginação fica ainda mais forte. O trabalho tem seus trunfos e um brilho especial no cenário do prog metal, apesar da produção modesta e do som abafado. Musicalmente, é um disco muito trabalhado e o instrumental virtuoso se acopla muito bem nas composições - existe uma coerência entre intenção e execução.

Mairon: Prog Metal não é o tipo de Heavy Metal que eu gosto, com excessos de virtuosismo e variações no estilo "orquestrais" dos sintetizadores. O vocalista lembrou muito Tony Martin, e me surpreendeu saber que a banda é daqui do Rio Grande do Sul, mais precisamente de Caxias. Apesar de não ser algo que eu aprecio, vejo qualidade musical dentro do estilo, principalmente no guitarrista Marcos de Ros. Se não fossem os teclados, seria bem melhor. De qualquer forma, um disco surpreendente!

Davi: O Akashic lançou esse debut no início dos anos 2000 e, na época, era considerado uma das grandes promessas da cena heavy brasileira. A jogada do Akashic era prog-metal, estilo que estava em destaque na época. A grande diferença entre os demais grupos brasileiros é que, enquanto seus colegas sonhavam em ser a versão brazuca do Dream Theater, eles queriam ser a versão brazuca do Symphony X. Marcos de Ros é considerado um dos destaques da cena brasileira atualmente e, aqui, já demonstrava um enorme domínio nas seis cordas. O trabalho vocal de Rafael Gubert não tinha a mesma força do vocal do Russell Allen, mas era satisfatório. Além de De Ros, o grande destaque do álbum fica por conta do tecladista Eder Bergozza e o ponto baixo fica pelo baterista Maurício Meinert (bem fraquinho). Era um grupo ok, mas faltava um pouco de personalidade e canções mais fortes. Faixas de destaque: “For Freedom”, “Salvation” e “Gates of Firmament”.

Fernando: Não conhecia a banda, nem de nome. As surpresas ficaram por conta do tempo que isso foi lançado, que era uma banda brasileira e com o Marcos De Ros na guitarra. Gostei muito do som, apesar de ter ouvido apenas uma vez, e achei bem na linha do que o Symphony X faz. Na época do lançamento eu era muito ligado ao metal progressivo e melódico e mesmo assim não fiquei sabendo dessa banda. Talvez tenha faltado um pouco mais de divulgação e acredito que esse motivo é que fez com que a banda tenha acabado 10 anos atrás. Muito potencial com pouca exposição.

Nilo: Me parece um trabalho que, acima de tudo, buscava cavar espaço na crescente cena prog nacional (uma demo homônima foi gravada no ano anterior). E não o faz com a intenção de reinventar a roda, o que pode não ser ruim. Pra quem é fã do estilo e/ou acha que o principal componente para boa música é a veia melódica, cá está um prato cheio. Caso contrário, fuja: tudo aqui é tão limpo (mesmo a distorção da guitarra é comportada) e correto (exceto as letras, em inglês bem básico - algo muito criticado no outro integrante br desta seção) que enjoa. Vocais melodramáticos estilo Symphony X e teclados muito plásticos à la Stratovarius na mix são os principais entraves. Inegável que são rapazes estudados e composições trabalhadas, mas não saberia apontar diferenciais perante outros grupos famosos e contemporâneos do estilo.

Alisson: Coincidentemente liberado no auge de interesse pelo metal progressivo nos anos 2000, Timeless Realm é só um monte de cacoete burocraticamente executado sem grande inspiração. Vale ressaltar que, se você é conivente com as letras desse disco, você não possui argumentos suficientes para criticar o INRI, do Sarcófago. Enquanto aquele ainda entrega algo blasfemo em tentativas inocentes, esse aqui só entrega algumas letras bobas de temática mais que rasa. Não sei como anda a situação da banda, mas espero que o guitarrista Marcos De Ros esteja se saindo melhor como youtuber do que como músico.
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