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sábado, 26 de maio de 2012

Vanilla Fudge - Parte II



Passado o estouro de Renaissance, era a vez da Europa ser conquistada pelo Vanilla Fudge. Inglaterra, Alemanha, França, Suíça e Itália foram alguns dos países que receberam o grupo, sendo que na Itália, o Vanilla Fudge ganhou o prêmio Gondola de Ouro como melhor performance vocal (no caso, "You Keep Me Hangin' On", apresentada durante um festival em Veneza).

No dia 02 de fevereiro, voltam a participar do programa de Ed Sullivan, seguido de mais participações na TV, dessa vez nos programas Beat Club e Dick Cavett Show. No dia 03 de fevereiro, é lançado o single "Shotgun", tendo no lado B a faixa "Good Good Lovin'". O melhor estava por vir. Enquanto a banda participava das apresentações na TV, começa a ser mixado o novo álbum do grupo, que foi lançado no dia 05 de fevereiro.
O maravilhoso Near the Beginning

Totalmente produzido pelo grupo, Near the Beginning é uma paulada tão grande quanto Renaissance. Nele está um dos melhores arranjos musicais da história do grupo, além de ser o único oficial da fase entre 67 e 70 trazendo algum material ao vivo, com o lado B todo dedicado à uma gravação no Shrine Auditorium de Los Angeles, com uma única canção: os poderosos 24 minutos de "Break Song".

O álbum começa com a cover de "Shotgun" (original de Jr. Walker & The All Stars), na qual Martell despeja sua fúria no wah-wah, acompanhado pelas pancadas de Appice e o embalo de Bogert e Stein. A técnica de Martell é muito mais avançada que nos primeiros álbuns, e o Vanilla Fudge está mais hardeiro do que nunca. As vozes cantam o refrão que entoa o nome da canção, deixando Stein cantar a letra da mesma. O refrão é repetido, levando ao rápido solo de wah-wah e órgão, que não aparece com tanta ênfase, voltando então para o refrão. Após, uma sessão intrincada acompanha o solo de Bogert, concluído com a barulheira infernal da bateria. Mais vocalizações e Stein aparece com um breve tema que nos remete a "Boureé" (Johann Sebastian Bach), trazendo um fantástico arranjo vocal que carrega o solo de wah-wah e nos encaminha para o final, com um vigoroso solo de Appice, no estilo chupinhado indecentemente por John Bonham meses depois em "Moby Dick". 

A psicodelia volta à cena em "Some Velvet Morning", a qual começa com o dedilhado nervoso do órgão entre barulhos percussivos. Acordes de órgão, baixo e guitarra são marcados por batidas na caixa, para órgão e guitarra largarem o peso fazendo o tema principal, destacando o baixo carregado de distorção e claro, Appice destruindo na bateria. Stein então passa a cantar a canção, acompanhado apenas pelo dedilhado da guitarra e por intervenções sutis do órgão. A voz começa muito sussurrada, e pouco a pouco aumenta seu volume, junto com a entrada de batidas nos pratos e vocalizações. 

As vocalizações cantam a segunda parte da letra, com mais um fantástico arranjo vocal, voltando para o riff inicial, com o baixo estourando as caixas de som, e Stein segue a letra, acompanhado pelas vocalizações, e com o andamento sempre leve da mesma. Agora, as vozes e Stein dividem a letra de forma democrática, retornando então para o riff principal, mais uma repetição do refrão, tendo um espetáculo a parte das vocalizações, e encerrando com barulhos estranhíssimos, que fazem a bizarra introdução de “Where is Happiness”, na qual o órgão aparece com destaque, acompanhado pela imponente levada da bateria e do baixo. 

O órgão então comanda o riff da canção, enquanto baixo e bateria fazem a marcação intrincada que acompanha as vocalizações, responsáveis por cantar essa pérola Fudgeana. Stein canta melodicamente, assim como as vocalizações, e o destaque fica para a melodia de guitarra que é feita ao fundo da parte vocal. Após algumas estrofes, começa a agitada sessão instrumental, na qual Martell solta seus dedos em um solo veloz na escala oriental, apesar da sempre marcante ausência de técnica. Após a pauleira, o solo ganha tons melódicos, voltando para a sequência da letra, para em um crescendo fervoroso, onde a guitarra duela com bateria, baixo e órgão, e depois faz as rasgadas e emocionantes notas finais que concluem esse maravilhoso lado A do vinil. 

Vanilla Fudge ao vivo
O lado B é todo dedicado para “Break Song”, que surge com as violentas batidas da bateria e o baixão de Bogert carregado de distorção. Órgão e guitarra comandam um riff desse petardo instrumental que coloca a casa abaixo. É peso, distorção e violência para tudo que é lado de onde vem som. 

Após a introdução, começa a sequência de solos, primeiro com a guitarra de Martell em um blues totalmente embriagante, levada pelo wah-wah no mesmo jeitão de nomes como Jeff Beck e Jimmy Page. As marcações de baixo, órgão e bateria são tão violentas quanto o início da canção, e o solo se modifica de um blues para uma insana hardeira psicodélica, com Martell finalmente mostrando sua técnica, escondida nas canções em estúdio. Um solo rasgado, sujo, arrebatador e delirante, com notas rasgadíssimas e muita potência. 

O riff inicial é repetido, sempre com a sujeira e peso marcantes da canção, e Stein apresenta Martell. Appice então puxa o ritmo para o fantástico solo de Bogert. Utilizando somente os dedos (e não palheta) como os bons baixistas devem fazer, Bogert demonstra o por que de ser um cara ouvido e idolatrado por nomes como Jeff Beck. Seu solo, apesar de não ser veloz, é alternado entre escalas intrincadas, arpejos, dedilhados e trêmolos arrepiantes. Claro que a base construída por Appice ajuda a dar mais gás para o solo, mas o talento de Bogert é inegável. Escalas abafadas, arpejos, variações entre notas agudas e notas graves fazem parte de um solo que quebra a cabeça em sua segunda parte, quando Bogert pisa no pedal de distorção e arranca uivos do instrumento, fazendo bends longos (não dá para entender como as cordas não arrebentam aqui), e claro, despejando sujeira através de batidas rápidas nas cordas, deslizando os dedos sobre as mesmas e criando efeitos assustadores. 


Stein apresenta Bogert, que agradece e puxa o ritmo para uma marcação, enquanto Stein delira no órgão. Começa então o solo do tecladista, também acompanhado por Appice, mas em um ritmo mais veloz que o solo de baixo. O órgão é detonado por Stein com acordes velozes, puxadas nas notas como Jon Lord consagrou posteriormente, e escalas variadas. Stein brinca com os efeitos do hammond, e então começa a entoar a letra improvisada de um blues triste, acompanhado por baixo, guitarra e o órgão. Mais um solo de órgão, dessa vez com a levada bluesística, e Bogert apresenta Stein, encerrando o blues com um riff pesadíssimo de baixo, guitarra e órgão, do qual surge o acompanhamento furioso de Appice, destruindo a bateria para voltar ao riff inicial. 

O volume dos demais instrumentos vai diminuindo, deixando apenas o baterista para executar seu solo. Aos que não conhecem o brilhantismo de Carmine Appice, e ainda dizem que seu irmão Vinnie Appice (Black Sabbath, Dio, ...) é melhor que ele, esse solo apaga qualquer imagem negativa. O cara é um animal. Pai de bateristas como John Bonham e Ian Paice, Appice detona os dois bumbos, soca os tons ao mesmo tempo que manda ver nos pratos. Suas viradas são insanas, incompreensíveis e dificílimas de serem reproduzidas. Quando o homem inventa de socar os pratos ao mesmo tempo que agride os bumbos, sai de perto. Depois, começa a sessão rítmica na caixa, com rufadas alternando entre o centro do instrumento e as bordas, tal qual manda o figurino dos bateristas formados no jazz. Appice cria uma espécie de swing, e enlouquecidamente, rufa entre tons, bumbo e caixa. Um monstro no instrumento, com diversos braços e pernas, e que é pouco conhecido aqui no Brasil. 

A sequência final é feita com os bumbos e pratos sendo desgastados pelas mãos e pés do baterista. O ritmo veloz dos pés auxiliam Appice a socar os pratos com uma fúria dantesca, e finalmente, ele puxa o ritmo do riff inicial, para, logo após ser apresentado por Stein, Martell e Bogert surgirem arregaçando a canção com notas agudíssimas, encerrando com o barulho exorbitante de órgão, guitarra, baixo distorcido e claro, a bateria de Appice derretendo a mente dos ouvintes. 


Near the Beginning surgiu no mesmo ano de lançamentos épicos como Tommy (The Who), Volunteers (Jefferson Airplane) e Led Zeppelin (Led Zeppelin), e não perde nada para esses álbuns. A mistura de peso e esquizofrenia do Vanilla Fudge foi captada no auge de sua essência. Em 1969, o Fudge era uma das poucas bandas que ainda conseguia sobreviver e chamar a atenção com a magia da psicodleia, muito por causa das estranhas e pesadas harmonias que o grupo encaixava com perfeição. O álbum alcançou a décima sexta posição nos Estados Unidos, e na versão de relançamento, ganhou mais três bônus: "Good Good Lovin'" (edit version), "Shotgun" (single version) e "People".


No dia 07 de fevereiro, começou mais uma turnê pelos Estados Unidos, tendo como bandas de abertura Jethro Tull e Led Zeppelin. A turnê estendeu-se por março, e em abril, no dia 29, foi lançado o single de "Some Velvet Morning", com o Vanilla embarcando para sua segunda turnê pela Europa.


Mas o período de três anos juntos, tendo apenas duas semanas de férias entre eles, fez com que o cansaço e a rotina do quarteto cria-se brigas fúteis, e as indiferenças comuns para um relacionamento longo. Durante a turnê pela Itália, o quarteto decidiu que voltariam para os Estados Unidos, e lá, iriam definir o futuro da banda.


Na volta a América, são a atração principal no Chicago Kinetic Playground (06 e 07 de junho), tocando também ao lado de Joe Cocker e Buddy Miles durante o Newport '69 Festival, em San Bernadino. Finalmente, entre 27 e 29 de junho, participam do Denver Pops Festival,  e em julho lançam mais um single, "Need Love", apresentando o que viria no quinto álbum, produzido por Adrian Barber.


A maratona de shows não parava, e novamente, ao lado do Led Zeppelin, apresentam-se em Seattle durante o Seattle Pop Festival (25 a 27 de julho). É nesse festival que ocorre o famoso evento do Mud-shark, famoso através da canção de Frank Zappa. O verão de 69 começou com a gravação de comerciais para a Coca-Cola, ao lado de Jeff Beck (já que Martell estava doente). Esse comercial, junto ao fato de Bogert e Appice sentirem-se escondidos sobre as sombras de Stein e Martell, exigindo cada vez mais espaço para seus solos, levou a cozinha do Fudge a pensar na hipótese de criarem um power trio junto com Beck. Era o começo do fim do Fudge.


O Vanilla Fudge foi a atração principal da terceira noite do Palm Beach Festival, na Flórida, tendo como aberturas Johnny Winter e Janis Joplin. O show da Janis Joplin deu brecha para o Fudge aproveitar e fazer uma longa jam session com os membros do grupo que acompanhava a vocalista na época, o Full Tilt Boogie Band, com Appice e Stein dividindo o palco, tocando bateria e guitarra (respectivamente) no show da Janis Joplin. Já Martell e Bogert acessoraram a banda de Johnny Winter no órgão e no baixo, e o Fudge saiu do festival como sendo o grande nome do mesmo.


As harmonias estranhas e sinistras do Vanilla Fudge chamavam a atenção, assim como as performances, cada vez mais incendiárias. Só que os conflitos internos não sustentavam mais os pilares que apoiavam o quarteto, o que acabou refletindo na gravação do quinto álbum.

O derradeiro disco dos anos 60
Lançado no dia 25 de setembro de 1969, Rock & Roll teve produção de Adrian Barber. O álbum abre com o órgão e a marcação de bateria de “Need Love”, seguidos por baixo e guitarra imitando a melodia do órgão. O riff quebrado de bateria e guitarra surge entre vocalizações agudas, e Stein então solta sua voz, com raiva, gritando que “precisa de amor”. A cozinha formada por baixo, órgão e guitarra fazem uma barulheira do cão, e no fantástico solo de piano e guitarra já percebemos que o Vanilla veio com muito gás para esse álbum. Stein continua a letra, levando para mais um solo de órgão e guitarra, explodindo em um maravilhoso trecho onde ambos duelam por espaço entre baixo e bateria. A canção diminui o ritmo, e enquanto Appice faz diversas viradas, guitarra e órgão brigam pela atenção do ouvinte, com solos rasgados e sobrepostos, encerrando essa pérola com um magistral sequência de bends e acordes do órgão entre as violentas batidas de Appice. 

A introdução de “Lord in the Country” ameniza a pancadaria de “Need Love”, nos brindando com uma bonita faixa gospel, na qual vocalizações cantam “I felt the Lord” enquanto Stein canta a letra da canção. O arranjo simples privilegia a guitarra dedilhada de Martell, apesar da presença tímida do órgão. 

Stein então faz algumas vocalizações, acompanhado pelos demais colegas, enquanto Appice comanda uma espécie de boogie junto de Bogert e Stein, e Martell faz solos rasgados ao fundo, voltando ao refrão gospel cantado pelas vocalizações e por Stein, soltando a voz, para encerrar a canção com a repetição do início lento da mesma. 

“I Can’t Make it Alone” segue o ritmo ameno de sua antecessora, tendo o hamond de Stein parecedo estar em uma missa. O tecladista canta rasgando suas cordas vocais, com uma interessante participação de vocalizações durante o refrão e repetindo as últimas palavras de frases cantada s por Stein. O refrão é repetido, nos levando ao breve trecho percussivo, do qual a guitarra surge solando estridente, enquanto vocalizações cantam o nome da canção. 

Batidas nos pratos e viradas de bateria apresentam os acordes de órgão e guitarra da agitada “Street Walkin’ Woman”, cantada por Bogert e lembrando muito o estilo de cantar de Jack Bruce (Cream). Não tão pesada quanto “Need Love”, nem tão amena quanto as outras duas canções do lado A, essa canção passaria despercebida, se não fosse o ótimo refrão, no qual vocalizações e o órgão fazem a melodia que entoa seu nome, enquanto Martell sola sobre essa melodia, e fica inegável a evolução musical do guitarrista. 

A partir do solo, voltamos ao ritmo inicial, hardiano, mas diferente do que esperamos de um álbum do Vanilla Fudge, até pela baixa audição do órgão, sempre em alto volume nos álbuns anteriores. Vocalizações e a guitarra entoam uma nova melodia, que ganha velocidade para mais um solo de Martell, com Appice mandando ver no cowbell, e claro, as inigualáveis escalas de Bogert. Este segundo solo virá uma magistral sequência de duelos entre piano elétrico e guitarra, com um show a parte de Martell, empregando muitos bends e velocidade nas suas notas, encerrando o lado A com uma interessante alternância de caixas de um arpejo executado pela guitarra. 


Uma das últimas fotos do Fudge, em 1970
Metais abrem o lado B, com a triste “Church Bells of St. Martins”, trazendo o violão e a voz de Stein, além do cravo e de vocalizações que o Queen faria bastante nos seus álbuns iniciais. As vocalizações ganham corpo, trazendo a percussão que acompanha marcialmente o bonito dedilhado do violão e o grande arranjo vocal que intercala as frases cantadas por Stein. Mais vocalizações isoladas, batidas no tímpano e acordes do piano, deixam a bateria rufando, e então, chegamos ao trabalhado refrão, com metais e vocalizações fazendo alternâncias entre um tema simples da guitarra. Vozes se sobrepõem entre batidas dos sinos de uma igreja, fazendo o encerramento dessa canção um tanto quanto descartável. 

O mesmo não podemos dizer de “The Windmills of Your Mind”, mais umaatriste faixa cantada por Stein, começando com o órgão e a bateria acompanhando a voz embriagada de emoção do tecladista, nesta que talvez é sua melhor interpretação vocal no Vanilla Fudge. O órgão surge mais imponente aqui, e a partir da segunda estrofe, baixo e bateria fazem o complexo e depressivo acompanhamento, enquanto a guitarra executa um lindo tema, e Stein continua chorando ao microfone, arrancando lágrimas através de uma linda canção, com uma das letras mais belas que já li, destacando frases como “” “” “”. 

Na terceira estrofe, temos um ritmo mais definido, e é impressionante como Stein consegue soltar sua garganta, além da melodia envolvente do órgão, a guitarra destorcida e o baixo fazendo a cama para as batidas aleatórias de Appice, sugando o ouvinte para um mundo depressivo, triste, mas muito bonito, e assim, Stein recebe seu momento a capella, tendo a companhia de vocalizações, para encerrar esta que é a melhor canção de Rock & Roll. 

A tarefa de concluir esse album mediano fica por conta de mais uma balada “If You Gotta Make a Fool of Somebody”, a qual surge com o órgão, bateria e baixo, trazendo o riff da guitarra e muita percussão, e posteriormente, por muitos bends da guitarra. O andamento lento destaca a voz de Stein, cantando em um estilo gospel e diferente da faixa anterior, assim como o bonito arranjo vocal que entoa o nome da canção. Bogert canta a segunda estrofe, e a entrada da percussão dá ritmo para a mesma. Então, Bogert e Stein passa a travar um duelo de quem grita mais, e assim, o órgão dedilha suavemente as notas iniciais, trazendo guitarra, baixo e percussão para repetir o riff principal. 

Mais notas rasgadas e a balada continua, tendo Appice e suas viradas, além das vocalizações cantando o nome da canção aparecendo em primeiro plano. Stein continua a cantar, e chegamos na reta final, com o solo de Martell invadindo a privacidade do órgão e da cozinha baixo e bateria, aumentando o ritmo e concluindo com as viradas de Appice ao fundo das vocalizações cantando fortemente o nome da canção, intercaladas pelas notas rasgadas de Martell. 


O último single do Vanilla Fudge foi lançado no dia 03 de fevereiro de 1970, trazendo "Lord in the Country". No dia 14 de março, o Vanilla Fudge fez sua última apresentação no Phil Basile's Action House, e em seguida foi anunciado seu fim. Bogert e Appice partiram para fundar o Cactus, junto com Jim McCarty (guitarra) e Rusty Day (vocais, harmônica), e depois, criarem com Jeff Beck o trio Beck Bogert Appice, que durou apenas dois anos. Stein tentou manter o Fudge na ativa, trazendo o baixista Sal D'Nofrio e o baterista Jimmy Galluzi, mas essa formação durou pouco tempo, e ele seguiu carreira como músico de estúdio, participando de discos solo de diversos artistas, com destaque para Tommy Bolin e Alice Cooper, e Martell seguiu como músico de estúdio, sem ter gravado álbuns de grande relevância.


A volta em 1984. Puramente AOR
Em 1982, a gravadora ATCO lançou a coletânea Best of Vanilla Fudge, que acabou vendendo muito bem. Isso trouxe o nome do grupo à tona novamente, e assim, em 1984 ocorre a primeira reunião do quarteto desde o final em 1970, tendo na formação Appice, Bogert, Stein e o guitarrista Ron Mancuso. A expectativa em torno do que iria sair de Mistery foi maior do que o resultado final, que desagradou em muito aos fãs originais, e também a imprensa. O resultado pode ser decepcionante, mas visto com outros olhos, é fácil entender por que poucos gostam deste disco. 


Na verdade, nele não há nenhum indício da barulheira e peso da década de 60, mas uma revitalização e adaptação ao som oitentista, tendo como referência o "na moda" AOR. O resultado é um disco carregado de sintetizadores, sem nenhuma participação do famoso órgão hammond, levadas e solos de guitarra de tirar o fôlego, belos arranjos vocais ou viradas de baixo e bateria para colocar a casa abaixo. 


Mas é um AOR da melhor qualidade. "Jealousy" (com participação especial de Jeff Beck, escondido sob o pseudônimo J. Toad), "Walk on By" e "The Stranger" são as melhores faixas, mas pode ser dado destaque para os perfeitos arranjos AORianos de "Golden Age Dreams", "Under Suspicion" (esta carregada de eletrônicos), "Don't Stop Me Now" e "Hot Blood". Difícil mesmo é entender como a pior canção do disco acabou dando nome ao mesmo, e aturar "It Gets Stronger" ou "My World is Empty" é pedir para chorar e muito. 


O grupo separou-se novamente, reunindo-se em 1987 e 1988 para comemorar os 40 anos da Atlantic Records, tendo Appice, Stein, Bogert e Paul Hanson (guitarra) nos shows de 1987 e o mesmo trio adicionado de Lanny Cordola no show da Atlantic Records, até cada um seguir seu caminho de vez. Em 1991, sai The Best of Vanilla Fudge - Live, que apresenta canções gravadas durante a turnê de reunião que ocorreu em 1990, contando com Appice, Derek St. Holmes (guitarra, vocais), Tom Croucier (baixo, vocais) e Martin Gerschwitz (teclados, vocais), e em 1993, mais uma coletânea, Psychedelic Sundae, lançada pela Rhino Records.


O retorno em 2001
Depois de mais uma tentativa frustrada de retorno do grupo em 1990, chegou os anos 2000, e com ele, outra reunião, dessa vez com Martell, Appice e Bogert, além do tecladista Bill Pascali. Uma pequena temporada de shows e o quarteto decide lançar um novo álbum, resgatando velhos clássicos Fudgeanos para os jovens, além de criar arranjos para canções que na época eram as principais nas rádios do planeta, através de The Return, lançado em 2001.


Concentrando-se nas revisões para suas próprias canções, oito das onze faixas são pertencentes a essa classificação. Algumas delas ficaram quase iguais as versões originais (“You Keepin’ Hangin On”, “People Get Ready”, “Take Me for a Little While”, “Need Love” e “She’s Not There”) sendo a bateria o vilão do arranjo. Já “Shotgun” e “Good Good Lovin’” ficaram muito piores do que as versões originais, não merecendo o atentado aqui cometido. Por fim, a versão de “Season of the Witch” acaba sendo uma maravilhosa busca por alguma diferença entre a versão original e a nova versão, revelada no final dessa assustadora e fantástica canção, que aqui, admito sem medo de errar, acaba ficando bem melhor que o que ouvimos em Renaissance


Das covers novas, duas surpreendem, as quais são "Ain't That Peculiar" (original de Marvin Gaye) e "Tearin' Up My Heart" (original do N' Sync). Sim, uma canção dos almofadinhas americanos conseguiu ficar bem legal com o Vanilla Fudge, e a homenagem surpresa não para por aí, já que os também almofadinhas Backstreet Boys foram homenageados com uma versão para "I Want it That Way", essa sim, apesar de pesada, não fazendo jus ao grandioso nome do Vanilla Fudge. Um bom álbum, apesar de algumas derrapadas, e que recebeu três relançamentos distintos. 


Return (2002) trouxe uma versão suingada de “Do Ya Think I’m Sexy”, de Rod Stewart, cantada por Appice e com a participação especial do próprio Stewart fazendo vocalizações, em adição as demais. Já Return (2003) possui as mesmas canções da versão de 2002, acrescidas de uma versão psicodélica para "Tearing Up My Heart". O último lançamento foi Then and Now (2004), que retirou do track list "Ain't That Peculiar", substituindo-a por uma interessante revisão de "Eleanor Rigby". 


Nesse meio tempo, foram lançados os ao vivo The Return – Live in Germany Part 1 (2003), The Real Deal – Vanilla Fudge Live (2003) e Rocks the Universe – Live in Germany Part 2 (2003), outros interessantes acréscimos na discografia do Fudge.

A bela homenagem ao Led Zeppelin
Stein voltou ao grupo em 2006, e com o quarteto original, pintou a ideia de homenagear um dos grupo que teve pequena mas importante influência do Vanilla Fudge, o Led Zeppelin, já que John Bonham fazia suas viradas totalmente saídas das viradas de Appice. O Vanilla Fudge até que tentou seguir o arranjo original, mas apenas em seis das doze canções selecionadas ouvimos igualdade, sendo os outros 50% bem diferente e excepcional. "Immigrant Song" está nas que manteve um formato similar ao original, destacando o baixo cavalgante de Bogert, apesar dos sintetizadores, assim como "Trampled Under Foot", "Dazed and Confused", "Fool in the Rain", "Rock and Roll" e "All My Love", onde a principal diferença fica no timbre vocal de Stein e Bogert em comparação à Plant. 


"Ramble On", "Black Mountain Side", "Babe I'm Gonna Leave You", "Dancin' Days", "Moby Dick" e "Your Time is Gonna Come" receberam uma revitalizada que em pouco lembram as versões originais. "Black Mountain Side" e "Your Time is Gonna Come" são as que mais chama a atenção, tendo um bonito arranjo com órgão e violão, e o arranjo com piano elétrico e guitarra para "Babe I'm Gonna Leave You" ficou muito bom, dando mais peso e dramaticidade para essa pérola do álbum de estreia do Zeppelin. 


E o que dizer de "Moby Dick"? Appice transformou o solo de Bonham, falecido em setembro de 1980, colocando velocidade e principalmente, demonstrando a técnica e pegada que influenciou o homenageado. O álbum contou com a participação especial de Vince Wasilewski nos vocais de duas faixas: "Ramble On" e "Immigrant Song", e é o último disco oficial do grupo até o presente momento.

O quarteto em 2008

Em 2007 foi lançado o ao vivo Good Good Rockin' - Live at Rockpalast. Em 2008, mais dois álbuns ao vivo chegaram às lojas: Orchestral Fudge e When Two Worlds Collide. Na década atual, o grande lançamento foi a caixa Bof of Fudge (2010), trazendo quatro CDs que abrangem a primeira fase do Vanilla Fudge, sendo dois CDs somente com versões ao vivo nunca lançadas anteriormente.

O grupo permanece na ativa, fazendo shows revivals ao lado do Yardbirds, e tendo na formação Appice, Stein, Martell e o baixista Pete Bremy. Uma ótima forma de trazer para os jovens a fonte da inspiração de algumas das principais bandas da década de 70.

domingo, 13 de maio de 2012

Vanilla Fudge - Parte I



Um dos grandes nomes do rock americano no final da década de 60, início dos 70, capaz de duelar frente a frente com grupos como Led Zeppelin e Deep Purple, é também um dos menos conhecidos aqui no Brasil. O Vanilla Fudge, entre 1967 e 1973, lançou uma belíssima série de discos. Idas e vindas nas décadas posteriores fizeram com que a grande fama do grupo, alcançada principalmente por dois álbuns (Vanilla Fudge, de 1967, e Rock'n'Roll, de 1970), fazendo do quarteto formado por Mark Stein (teclados, vocais), Vince Martell (guitarras, vocais), Tim Bogert (baixo, vocais) e Carmine Appice (bateria, vocais) o principal expoente da fusão entre psicodelia e rock pesado, caísse vertiginosamente, tornando a banda uma referência do passado, apesar de bons discos lançados pós-década de 70.

A história do grupo começa em 1965, quando um grupo batizado de Rick Martin & The Showmen começou a fazer sucesso na região de Long Island (Nova Iorque). Faziam parte do Rick Martin & The Showmen Stein no órgão e Bogert, e o estilo do som era o rock básico influenciado por Beatles e Stones. Stein tocava piano desde os quatro anos de idade, e já havia passado por diversas bandas na adolescência, tocando principalmente guitarra e acordeão. Já Bogert teve pouca experiência musical, até entrar como membro acompanhante do Rick Martin & The Showmen, onde consolidou-se como um guitarrista muito fraco, virando posteriormente baixista.

Beatles era a principal influência, mas, no dia que Bogert e Stein assistiram a um show do The Rascals (um grupo local aonde o órgão era responsável por comandar as canções), a dupla decidiu que tocar canções da invasão britânica não era o que eles queriam, pelo menos não daquela forma.

Assim, os dois resolveram seguir carreira em um novo grupo, aonde poderiam explorar seus dotes musicais e também ampliar o conhecimento de outras vertentes sonoras. Para isso, chamaram o guitarrista Vince Martell e o ex-colega de Rick Martin & The Showmen, Joey Brennan, que completou o time na função de baterista. Martell havia feito seu nome na Flórida, sendo o guitarrista principal de um obscuro grupo chamado Ricky T & The Satans Three, o qual era famoso por tocar em clubes noturnos e bares especializados em camarões na região de Key West, em Miami.

O novo grupo foi fundado ainda no final de 1965, sob nome de batismo The Pigeons. O início foi difícil, com muitos ensaios na casa da família Bogert, fazendo um som próximo ao rhythm & blues, e poucos shows. As canções giravam em adaptações para clássicos de Righteous Brothers, Doc Pomus e Wilson Pickett, tendo também a influência que começava a vir da Califórnia. Porém, a única forma do quarteto ganhar dinheiro era acompanhar vocalistas femininas em boates, fazendo de dois a três shows por noite, seis noites por semana.

No início de 1966, o Pigeons era a banda mais solicitada na região leste dos Estados Unidos, desde Nova Iorque até a Flórida. Tocando em diversos bares e festivais, o quarteto construiu uma forte reputação, carregando com eles nomes hoje extremamente cobiçados entre colecionadores, como Vagrants (futuro Mountain), Good Rats, Hassles e Sparrow (futuro Steppenwolf).


Disco com material do pré-Vanilla Fudge
O sucesso levou o quarteto aos estúdios, e no verão de 1966, já estavam gravando suas primeiras oito faixas em um velho gravador de duas pistas, faixas essa que se tornaram o cobiçado LP While the Whole World Was Eating Vanilla Fudge (1971), sendo o grupo responsável pelo lançamento do mesmo batizado de Mark Stein & The Pigeons.

Um dia, durante uma apresentação do Vagrants (que contava com Leslie West nas guitarras), a explosão sonora e as longas improvisações novamente mudaram a mentalidade de Bogert e Stein. O Vagrants era consolidado por re-interpretar clássicos de outros grupos, de uma maneira bem diferente do que o próprio Pigeons fazia, adicionando peso e virtuosismo à simplicidade de nomes como Beatles, Stones, Duke Ellington e Bob Dylan. O som do Pigeons precisava mudar, principalmente por que o Vagrants estava com mais fãs (groupies) e fazia o chamado "som do futuro".

Ensaios, readaptações e muito estudo mudaram a vida do Pigeons, até que um dia, o Vagrants, programado para fechar a noite no Action House em Long Island, não pôde cumprir a data. Para o seu lugar, The Pigeons foi escalado. A oportunidade mais importante havia aparecido para o quarteto. Tocar diante de um grande público no lugar de uma grande banda, era tudo o que eles pediam. O show começou com uma pesada readaptação para uma canção que havia acabado de ser lançada por Bob Dylan, a hoje fenomenal "Like a Rolling Stone". Bastou para nascer uma nova potência musical.

A partir de então, Stein, Bogert, Martell e Brennan se especializaram em readaptar canções desconhecidas do público em geral, e tocar em pubs cada vez maiores. Porém, apesar de arrecadar mais e mais fãs, o Pigeons começou a gerar dor de cabeça para os empresários, já que o público que ia aos bares para beber e flertar, agora parava para acompanhar o som do grupo. Por isso, foram despedidos de vários locais, sendo ainda mais aclamados pelos fãs, que disputavam no tapa a oportunidade de ver o quarteto.

Entusiasmados, compuseram mais e mais recriações, destacando "You Keep Me Hangin' On" (Supremes). Mas os arranjos complexos acabaram fazendo com que Brennan abandona-se o projeto, indo parar no The Younger Brothers Band. Para o seu lugar, foi chamado um jovem baterista pelo qual Bogert havia ficado impressionado ao ver uma apresentação do mesmo em um clube de Nova Iorque. Seu nome: Carmine Appice.

Appice teve uma formação diferente de seus colegas de The Pigeons, voltada para o jazz. Durante a adolescência, Appice acompanhou diversas bandas do estilo, mas após ouvir Buddy Rich, desenvolveu uma técnica diferente dos demais bateristas jazzistícos, com uma pancada seca na caixa, que virou sua marca registrada.

O sorvete que deu origem ao nome
de uma das maiores bandas da história
O Pigeons continuou tocando em bares dos Estados Unidos, sendo empresariados por Phil Basile, um membro da família Lucchese (uma das cinco principais famílias da máfia italiana em Nova Iorque). Basile foi o responsável por agendar uma noite no Action House, onde o produtor George "Shadow" Morton foi convidado à assistir a banda. Morton havia trabalhado com o Shangri-las, sendo o responsável pela gravação da clássica "Remember", que atingiu a quinta posição nos Estados Unidos em 1964. A visita de Morton poderia ser o primeiro passo para o The Pigeons assinar um contrato com uma gravadora.

E foi isso que aconteceu. Quando Morton chegou no Action House e ouviu o The Pigeons interpretando sua versão para "You Keep Me Hangin' On", imediatamente o produtor gostou, e passou a prestar atenção naquela nova promessa do rock nacional americano. Após o show, ofereceu o contrato de gravação de uma demo com "Holland Dozier Holland", o que foi feito em apenas uma tomada. Com a demo nas mãos, Morton passou a distribuí-la em radios e gravadores, até que a Atlantic Records assinou o primeiro contrato do The Pigeons, tornando-os subsidiários do selo ATCO.

No dia 02 de junho de 1967, chegava às lojas a primeira bolachinha do grupo, trazendo "You Keep Me Hangin' On" no lado A e "Take Me for a Little While" no lado B, sendo o grupo rebatizado como Vanilla Fudge, nome adotado em abril do mesmo ano por sugestão da vocalista do grupo Unspoken Word, a qual era apaixonada por um sorvete recém lançado chamado Drumstick, cujo sabor preferido era o com recheio de baunilha.


A essencial estreia do Fudge

O compacto vendeu muito mais do que o esperado, e logo em seguida veio o convite para a gravação do primeiro álbum. Batizado apenas com o nome da banda, o álbum de estreia é uma verdadeira aula de lisergia, peso e sentimento, responsável pela formação de nomes como Ritchie Blackmore, Jon Lord, Ian Gillan, Mick Box, Ken Hensley, John Bonham, Brian May, entre outros. Constituído apenas de covers (com exceção de três vinhetas de 30 segundos), Vannila Fudge é daqueles discos indisénsáveis em qualquer coleção de rock que se preze.

Lançado em agosto de 1967, um mês após The Piper at the Gates of Dawn (Pink Floyd) e três meses após Sgt. Pepper's Lonely Hearts Club Band, o disco começa com a voz de Stein introduzindo o LP, trazendo órgão, bateria e baixo. A estridente guitarra dedilha os acordes da versão fenomenal para “Ticket to Ride”, em um estilo psicodélico. O arranjo vocal é um dos principais destaques dessa versão para o clássico do Beatles, assim como a participação insana de baixo e órgão. Em nada temos o rock simples feito pelos Fab Four, e esse é apenas um pequeno aperitivo do talento que o Vanilla Fudge tinha em criar novas composições em cima de uma canção já conhecida.

O centro de “Ticket to Ride” é levado pelo órgão e pelo ritmo contagiante de baixo, bateria e guitarra, além dos vocais muito bem trabalhados pelo quarteto, voltando à repetição da letra e do refrão. Entramos no simples mas dançante solo de guitarra, com notas parecendo sair de algum disco de rock italiano, e assim, o Vanilla Fudge volta a parte central, encerrando a letra com os gritos alucinados de Stein, e a famosa frase “My baby don’t care” entoada com efeitos entre os gritos rasgados de Stein e a marcação poderosa nos pratos de Appice. 

Outra grande versão vem na sequência, agora para a balada “People Get Ready”, do grupo The Impressions, a qual começa com um bonito dedilhado da guitarra, trazendo baixo, órgão e bateria. O órgão faz um tímido tema, seguido pelo baixo, e pela guitarra, com Appice socando a bateria como pode. Após vários acordes marcados de guitarra, órgão, bateria e baixo, vocalizações surgem, deixando o órgão viajar pelo recinto. 

Mais vocalizações enaltecem o trabalho musical do Vanilla Fudge, agora cantando o nome da canção. Appice canta acompanhado apenas pelo órgão, com leves introduções de vocalizações, levando ao bonito tema do órgão. Appice volta a cantar, da mesma forma que a parte inicial da canção, acompanhado apenas pelo órgão, que faz seu segundo solo. A terceira estrofe traz a voz de Appice acompanhada pelas vocalizações nos dois primeiros versos, levando novamente a repetição do tema do órgão. 

É o órgão que muda a canção, com um longo acorde que apresenta a bateria, o baixo e a guitarra, entre vocalizações fantásticas, entre as quais Appice solta sua voz. A balada intimista agora ganha um charme encantador, que encerra com mais vocalizações e as fortes batidas da bateria. 

Órgão e guitarra introduzem “She’s Not There”, enquanto Bogert e Appice deliram em seus instrumentos. O órgão executa o tema principal, trazendo os vocais de Martell, em uma agitada canção com destaque para a participação de Appice, mandando ver nas viradas da bateria, além da ótima performance vocal no refrão desse grande clássico da carreira de Rod Argent. O solo de órgão é tipicamente psicodélico, começando de forma agitada e depois, resgatando a melodia vocal da canção. O órgão fica sozinho, com marcações de bateria acompanhado os vocais, que entoam a letra de forma chorada, voltando então para o refrão, com mais gritos rasgados de Stein, que dá show no órgão, deixando espaço para o curto solo de Martell, novamente sem nenhum virtuosismo, seguido por uma rápida sessão percussiva que retorna ao psicodelismo da introdução de “She’s Not There”, com a repetição do refrão feito por vocalizações chorosas e fortes que encerram outra boa canção. 

O órgão também introduz “Bang Bang”, acompanhado pelas marcações fortes de Appice. O longo tema inicial do órgão, com o pomposo acompanhamento da bateria, explode no tema oriental da guitarra de Martell, e após Appice brincar na bateria, fazendo efeitos percussivos, começa uma canção psicodélica, com os vocais baixos de Stein acompanhados por órgão e a marcação da bateria. 

Uma furiosa sessão instrumental entre guitarra e órgão dá espaço para os vocais de Martell e Stein cantarem a letra da canção em outro grandioso arranjo vocal, acompanhado apenas pelo dedilhado do violão. O nome da canção é entoado agonizantemente, e então, ambos cantam juntos, com temas marcados entre guitarra e órgão permeando as frases da dupla. O trecho final é de arrancar lágrimas, com o dedilhado do violão levando ao duelo final da guitarra e do órgão, para encerrar o lado A com uma frase dita por um dos membros do grupo, anunciado que "os próximos segundos serão sons de frequências altas" ("The following is a series of high-frequency tones..."), e é isso o que ouvimos por alguns segundos. 


Contra-capa de Vanilla Fudge, com os membros adotando um visual Beatle
Entramos no Lado B com o ritmo marcial de “llusions of My Childhood – Part One”, e depois de uma contagem, começar a mais famosa canção do Vanilla Fudge, que é a versão para “You Keep Me Hangin On”. Na introdução, a guitarra oriental de Martell é acompanhada pelo órgão e pelos delírios instrumentais de baixo e bateria. Stein arranca uivos do órgão em uma estonteante marcha feita por baixo e bateria, pemanecendo então sozinho por alguns segundos. 

A bateria quebra a monotonia, puxando o ritmo de “You Keep Me Hangin' On” como uma locomotiva. Appice solta o braço acompanhando as mudanças de acordes feitas por guitarra e órgão, trazendo os vocais de Stein, contando também com mais uma maravilhosa participação vocal entoando o nome da canção. O ritmo dançante e psicodélico em nada lembra a versão original, gravada pelo Supremes;

Stein repete a letra, e aqui, podemos perceber um pouco da influência que o Vanilla Fudge deixou para grupos como Deep Purple e Uriah Heep, já que o estilo de cantar do tecladista lembra muito o de Ian Gillan quando entrou no Purple, e o de Byron no Heep. Mais uma vez a letra é repetida, com um espetacular arranjo vocal, levando às notas marcadas entre baixo, bateria, órgão e guitarra, das quais o órgão fica sozinho, repetindo a melodia vocal, e essa pérola encerra-se com as marcações da bateria, baixo e guitarra acompanhado o órgão em uma sensacional pegada feita pelo Fudge. 

“Illusions of My Childhood – Part Two” é um rápido tema do órgão acompanhado pela bateria, que introduz a rock ballad “Take Me for a Little While”, outra cantada chorosamente por Martell, cujo destaque vai novamente para o arranjo vocal e para a participação percussiva de Appice, além do interessante cadenciamento elaborado pelo baixo de Bogert. “Illusions of My Childhood – Part Three” é mais uma vinheta do órgão, fazendo um tema comum entre vozes psicodélicas e um acompanhamento valseado, chegando na versão de oito minutos para “Eleanor Rigby”. 

Esta começa com o tema marcado entre guitarra, órgão e bateria, enquanto Bogert vai construindo suas escalas no baixo. Batidas na caixa aos poucos dão espaço para acordes do órgão. Appice atinge uma velocidade absurda nas batidas, enquanto os acordes mudam hipnotizantemente, e de uma barulheira infernal, brotar a bateria, órgão, baixo e guitarra. 

Vocalizações cantam o trecho central de mais um clássico do Beatles, para Martell cantar a letra da canção acompanhado apenas pelo órgão, baixo e bateria. O arranjo vocal se destaca novamente, fazendo intervenções nas frases de Stein, que canta o trecho do “All the lonely people ...”, e é impossível detectar algo de Liverpool nessa canção, tamanha a viagem de uma balada fantasmagórica. No refrão, a explosão vocal com o órgão e a bateria arrancam lágrimas, e ouvir Martell sussurando “People” congela a alma de qualquer ser vivo no planeta. 

Martell segue a letra da canção, com a parte do “All the lonely people ...” sendo cantada por vozes sobrepostas, entrando em um crescendo muito bonito, carregado pelo órgão, baixo e bateria, além das vozes sobrepostas, que se tornam mais um instrumento de um petardo musical, capaz de concluir Vanilla Fudge de forma soberana, e que foi apropriadamente inserido na última faixa do LP justamente por isto. Vocalizações a capela encerram “Eleanor Rigby”, encerrando o LP e deixando a expectativa se a psicodelia desse álbum iria continuar posteriormente.

Logo após o lançamento de Vanilla Fudge (que chegou rapidamente na sexta posição), o grupo partiu para uma turnê pelos Estados Unidos, começando no dia 02 de setembro em uma apresentação no Village Theater de Nova Iorque, abrindo para o Mitch Ryder. Depois, vão para São Francisco, abrindo para o Blue Cheer nas noites de 21 e 23 de setembro, em apresentações realizadas no Fillmore West.

O primeiro compacto com canções originais do Vanilla Fudge
Uma semana depois, viram a atração principal em três shows no Avalon Ballroom (San Francisco), nos quais o Charles Lloyd Quintet foi o responsável por fazer a abertura. Esses shows foram realizados entre 29 de setembro e 01 de outubro de 1967. No dia 03 de novembro, estreiam como headliners em Nova Iorque, tendo como banda de abertura o Yardbirds. Era o início de uma grande amizade entre Carmine Appice e Jimmy Page, que iria gerar frutos promissores no Led Zeppelin.

O ano de 1968 começou com o Vanilla Fudge de volta para San Francisco, com três shows no Fillmore West nos dias 04, 05 e 06 de junho, tendo como headliner o Steve Miller Band. Uma semana depois, aparecem na TV interpretando "You Keep Me Hangin' On" no programa de Ed Sullivan, no dia 12 de janeiro. No dia 18, lançam o primeiro single com canções próprias, dessa vez trazendo "Where is My Mind" no lado A e tendo "The Look of Love" no lado B.

Ao mesmo tempo, começam a gravar o segundo LP e preparam um vídeo promocional para divulgar o nome da banda na europa. Esse vídeo acabou gerando problemas entre o produtor Shadow Morton e os membros do Vanilla, que acabaram interferindo no mesmo. No final, nasceu o mais controverso, complexo e difícil disco do grupo. Nele, não existe nenhuma canção completa (com exceção da faixa de abertura e da faixa de encerramento).
Psicodélico e estranho, este é The Beat Goes On
O álbum começa com “Sketch” surge com os imponentes acordes do órgão, como em uma missa dentro de uma igreja. As camadas de órgão dão espaço para um bonito solo de piano no canal esquerdo. A estridente guitarra de Martell sola no canal direito, enquanto no canal esquerdo o piano dedilha notas velozes, que em nada tem a ver com o que a guitarra está fazendo. O dedilhado do piano aumenta sua velocidade, sempre no canal esquerdo, enquanto o tema de "The Beat Goes On" (original de Sonny & Cher) é feito nas teclas graves do órgão. 

A voz de um homem falando em um rádio, seguida pelo assustador “Phase One”, anuncia o nome da segunda e pirada faixa do LP, na qual um longo acorde de órgão e batidas percussivas duelando com o baixo acompanham as viajantes escalas orientais da guitarra. Um tema marcado entre baixo, bateria, órgão e guitarra levam para o rápido duelo entre órgão, baixo e guitarra, e então, o cravo surge em um estilo medieval, interpretando a segunda parte de "Phase One", intitulada "Eighteenth Century: Variations on a Theme by Mozart: "Divertimento No. 13 In F Major"


Depois da curta introdução do cravo, voltamos ao tema de “The Beat Goes On”. Vozes cantam acompanhadas por dedilhados de violão, começando a terceira parte de "Phase One", a qual é batizada "Nineteenth Century: Old Black Joe", e vozes a capella cantam um pequeno trecho de "Old Black Joe", de Stephen Foster. Temos um country rock inimaginável nos álbuns anteriores, aonde baixo e guitarra fazem as notas que acompanham os vocais e as batidas secas de Appice na percussão, sendo este um resgate para "Don't Fence in Me" (Cole Porter).

O tema principal é repetido, e assim, começa a quarta e última parte de "Phase One", chamada "Twentieth Century", primeiro com "12th Street Rag". Saímos da era medieval para mergulhar em um solo de piano cheio de efeitos tanto nas batidas da bateria quanto no próprio piano e o baixo, e mais uma vez, o tema central de “The Beat Goes On” aparece. Na sequência, o órgão resgata um clássico de Green Miller, “In the Mood”, voltando então ao tema principal de “The Beat Goes One”. 

“Hound Dog” (Elvis Presley) surge para deleite do ouvinte, chegando a era do rock anos 50, e mais uma vez, o tema principal de “The Beat Goes On” aparece, dando lugar para uma magistral sequência em homenagem ao Beatles, com um medley de “I Wanna Hold Your Hand”, “I’m Feel Fine”, “Day Tripper”, “She Loves You” e “Hello Goodbye”. 

A mesma voz grave anuncia “Phase Two”, e o tema de “The Beat Goes On” aparece transformado, mais agudo, seguido por um novo tema de órgão, guitarra e baixo. A marcação da bateria nos indica que agora o Vanilla Fudge está em ação, começando primeiro com uma paulada sensacional para o refrão de "The Beat Goes On", passando por temas marcados, e  resgatando duas peças clássicas, começando pelo triste dedilhado do órgão em “Moonlight Serenade” (Beethoven). O crescendo da canção é de chorar, com órgão, guitarra, baixo e bateria sendo os causadores das lágrimas que brotam pela alta dose de sentimento carregada nesses instrumentos nessa magistral canção. 

O piano nos apresenta “Fur Elise”, voltando então ao tema de “Moonlight Serenade”, uma dramaticidade enorme, alimentada pelas vocalizações magistrais que surgem ao fundo do piano. Muito lindo. O tema de “Fur Elise” surge mais veloz, primeiro no piano e depois no órgão, com bateria, baixo e guitarra fazendo as marcações, para então o cravo solar a canção em um ritmo valseado, encerrando esse trecho com escalas velozes de órgão, bateria, guitarra e baixo. 

A bossa-nova aparece como estilo principal, em um solo estranho feito por guitarra, baixo e órgão, para um longo acorde do órgão criar uma versão samba de "The Beat Goes On", na qual guitarra e órgão são os principais destaques, encerrando o lado A. 


Mark Stein, Carmine Appice, Tim Bogert e Vince Martell

O lado B abre com “Phase Three”, e novamente, a voz do homem por detrás do rádio nos apresenta o tema de “The Beat Goes On”, seguido por mais uma sonora radiofônica, repetindo frases enquanto o cravo repete o tema de “The Beat Goes On”. Essa faixa apresenta apenas vozes de personagens famosos, como Neville Chamberlain, Winston Churchill, Franklin Delano Roosevelt, Harry S. Truman, John F. Kennedy, entre outros, sempre com o tema de "The Beat Goes On" sendo entoado vez ou outra, ora por sinos tubulares, ora pelo violão, ora pelo órgão, ora por um dançante jazz.

A voz então anuncia “Phase Four”, voltando para a pseudo-bossa-nova, destacando a guitarra de Martell. Sinos tubulares e cítara repetem o tema principal, e entramos em um mundo oriental, chamado de "Merchant", no qual a cítara é acompanhada por batidas percussivas, quebradas pelas tristes notas do órgão. Bogert começa a declamar o lindo poema da canção, com um crescendo muito parecido ao de “A Saucerful of Secrets” (Pink Floyd), tendo ao fundo o dedilhado da guitarra, baixo, as mudanças de acordes do órgão e leves batidas marciais na caixa, que criam um bonito tema instrumental. O xilofone se mescla com a percussão e a cítara, enquanto o órgão faz suas mudanças de acordes. 

Mais vozes apresentam uma entrevista com Martell, enquanto uma valsa executada pelo grupo é feita ao fundo, voltando aos delírios orientais da cítara e da percussão, e agora a valsa ganha velocidade, com o bonito tema instrumental sendo executado pelo órgão, Mais uma vez, a cítara surge com a percussão. Uma voz sussurrada declama a letra de "The Beat Goes On" no melhor estilo Jim Morrison, enquanto o órgão repete o bonito tema de “Merchant”, e por alguns segundos, o silêncio predomina, voltando para uma maluca sessão com cítara, percussão e xilofone, que nos apresenta “The Beat Goes On”, na qual seu tema surge executado pelo órgão, enquanto baixo e bateria fazem a marcação junto da guitarra. Vocalizações cantam o nome do álbum na melodia do órgão, virando uma agitada faixa levada pelo embalo do baixo e do órgão, e com uma marcação pegada de bateria e guitarra, concluindo o LP com mais um trecho da entrevista com o Vanilla Fudge.


Novatos mas inovadores: Stein, Appice, Martell e Bogert, os avós do Heavy Metal


A versão em CD trouxe dois bônus: uma versão para "You Can't do That" (Beatles) e "Come By Day, Come By Night". Além disso, o single de "The Beat Goes On" auxiliou o LP a vender bem mais do que esperado para um disco de improvisos, chegando na décima sétima posição nas paradas americanas. 


Apesar disso, a imprensa caiu de pau, dizendo que era ultrajante fazer uma versão rock & roll para uma peça clássica de Beethoven. O grupo viu sua popularidade cair em Nova Iorque, mas pessoas como Frank Zappa encontraram a genialidade escondida nesse grande disco, e chamou o grupo para excursionar com ele.


No dia 30 de março de 1968, começou a turnê entre Frank Zappa e Vanilla Fudge, sendo o último o headliner. Zappa confessaria anos depois que este foi um dos momentos mais importantes de sua vida. Zappa e Fudge iriam excursionar novamente em 1969, e dessa segunda turnê, nasceu a famosa história contada na clássica "The Mud Shark" (do álbum Fillmore East June 71, de Frank Zappa).


No dia 02 de junho, "You Keep Me Hangin' On" foi relançado em compacto, trazendo "Come By Day, Come By Night" no lado B. A bolachinha vendeu tanto que Fudge e Morton trataram de fazer as pazes, e voltaram aos estúdios para gravar o terceiro álbum. No mesmo mês, chegou às lojas aquele que é considerado pela maioria dos fãs como o melhor disco do grupo.



Renaissance, colocando a casa em ordem

Renaissance é este álbum, e ele começa com uma batida seca no prato, seguida pelo tema do baixo, reproduzido pela guitarra e introduzindo “The Sky Cried – When I Was a Boy”. O órgão passa a fazer o tema junto com a guitarra, criando um clima soturno, que ganha corpo com as batidas furiosas da bateria, deixando o órgão sozinho, puxando os acordes que comandam a canção. Bateria, baixo e guitarra acompanham o órgão, repetindo o tema do órgão e trazendo os vocais de Stein em uma canção pesadíssima, capaz de colocar muito headbanger de joelhos. Stein canta o nome da primeira canção, trazendo barulhos de chuva e trovões. O peso pega, com órgão e guitarra duelando em uma barulheira infernal, sendo os guias da loucura de bateria e baixo. 

Mais barulhos de trovões e chuva nos levam para o solo de Martell, aonde a guitarra soa estridente, mas com uma técnica um pouco melhor do que o disco de estreia, e repentinamente, vozes assustadoras cortam a canção, para Martell então continuar seu esganiçante e barulhento solo, aonde as escalas de Bogert chamam a atenção. 

Um longo acorde de órgão e sinos tubulares nos brinda com “When I Was a Boy”, pesadíssima, com um show do órgão e do vocal de Stein. Com o coração na ponta da boca, ele rasga sua voz, e esse petardo inicial de Renaissance demonstra que o Vanilla Fudge havia evoluído e muito desde seu álbum de estreia, tendendo bastante para experimentações sinistras e muito pesadas. 

“Thoughts” surge com as vocalizações e marcações de bateria que o Uriah Heep tanto ousou fazer na década de 70, diminuindo o ritmo da paulada inicial, em uma canção mais suave, com Martell e Stein dividindo os vocais de mais uma bela canção, destacando novamente os arranjos do órgão e da participação cada vez mais essencial da guitarra. As vocalizações surgem novamente, levando para a segunda parte da canção, cantada primeiro por Stein e depois por Bogert, encerrando com uma encantadora mudança de acordes do órgão. 

Os acordes fantasmagóricos do moog de Stein anunciam “Paradise”, mais uma obra fantástica de Renaissance. Baixo e órgão fazem uma tímida marcação, com vocais imitando a melodia do baixo. Pouco a pouco, bateria e guitarra vão surgindo entre o crescendo das vocalizações e do órgão, e então, o nome da canção é entoado pelo conjunto vocal, apresentando-nos mais uma bonita balada no estilo característico de tocar do Vanilla Fudge, misturando peso e psicodelia como poucos. Destaques para as vozes e para as variações climáticas criadas pelo órgão. 

Um pequeno trecho com a participação de sinos tubulares acompanha as vozes celestiais do quarteto, mostrando que além de grandes músicos eram também grandes vocalistas, e sentimo-nos como realmente em um paraíso, ou dentro de uma igreja. As vozes explodem em uma pegada sequência de acordes da guitarra e do baixo, trazendo novamente a letra, cantada com o acompanhamento de acordes diminutos, e encerrando com uma tímida participação vocal. 

A sessão marcada da bateria, órgão, guitarra e baixo abre “That’s What Makes a Man”, com um poderoso arranjo vocal construído para uma balada intimista, onde as pancadas de Appice se opõem ao estilo delicado proposto pela canção. Durante o refrão, o peso pega através da guitarra de Martell. A sessão marcada da introdução é repetida, levando a sequência da letra com mais um espetáculo sonoro das vocalizações, carregadas de falsetes, encerrando, com a repetição do nome da canção por diversas vezes, o lado A desse fenomenal disco. 


Bogert, Martell, Appice e Stein


O lado B abre com o baixo introduzindo “The Spell That Comes After” (original de Essra Mohawk). Batidas no chimbal acompanham as batidas nas cordas de Bogert. Pouco a pouco o órgão vai surgindo, assim como vocalizações agudas e sinistras, envolvendo uma na outra através da mudança das caixas de som. Um sustain agonizante da guitarra, lembrando uma sirene, gera uma barulheira que estoura nas vocalizações, abrindo espaço para Martell cantar uma canção repleta de sessões quebradas e variações de andamento. Mais uma vez, os vocais são o principal destaque. Vozes agudas cantam o nome da canção, seguidas pelas velozes notas do baixo e das marcações na bateria, para retornar ao explosivo acompanhamento original dessa paulada sonora, a qual se encerra com a repetição do nome da mesma entre acordes sinistros do órgão. 

“Faceless People” surge com o órgão de Stein fazendo um longo acorde que acompanha o tema central da canção, feito primeiramente pelo órgão e depois por guitarra e baixo. A sessão é repetida, com baixo e guitarra criando um novo tema enquanto o órgão viaja com seus longos acordes. Este novo tema muda a cara da canção, como que em um ritmo medieval, alienadas por escandalosas viradas do órgão, enquanto Martell solta o braço nas cordas. 

Um solo rasgado e sem muita técnica nos leva à letra da canção, que mantém o estilo das anteriores, ou seja, Appice socando seu kit enquanto Bogert, Martell e Stein deliram cada um por si em seu instrumento, construindo uma maravilhosa cama sonora. Mais um solo de Martell  e voltamos para a continuação da letra. Aqui, chama a atenção o fato de as vocalizações surgirem apenas no final da canção, fazendo um pequeno tema, antes de órgão e guitarra executarem uma espécie de tema oriental . 

Por fim, a épica “Season of the Witch” (Donovan) chega para assustar os moleques metidos à metaleiros mundo a fora. Já na sinistra introdução, notas de baixo, barulhos de guitarra e alternâncias do piano elétrico são acompanhadas por um longo acorde de órgão. O piano elétrico executa um breve tema dedilhado, acompanhado pelo baixo, e na sequência, o órgão puxa o tema central, trazendo a voz comovente de Stein, enquanto ao fundo, a guitarra repete o tema do órgão, e Appice faz suas participações percussivas, chegando ao refrão, no qual as vocalizações cantam o nome da canção como que bruxas atravessando na frente de seu quarto. 

Vozes sussurradas levam ao segundo trecho da letra, tendo ainda ao fundo o tema executado por órgão e guitarra, voltando ao refrão. Agora, podemos entender o que as vozes sussurradas dizem (“Help Me”), e um poema começa a ser declamado (a letra de "We Never Learn", de Essra Mohawk), tendo ao fundo um delirante solo de órgão, até que baixo e bateria marcam um andamento mais pesado. A voz pedindo socorro aparece novamente, quase morrendo, e Stein repete o tema do órgão, continuando a letra da canção, repetindo o refrão com muitos gritos, que encerram essa assustadora canção destacando as linhas de baixo de Bogert e os gritos assustadores de um homem, falando “Please, God, mama I’m called”. 

O relançamento em CD trouxe três faixas bônus: a versão editada de “You Keep Me Hanging On” e as inéditas “Come By Day Come By Night”, uma balada sessentista que poderia facilmente ter entrado em Vanilla Fudge, e “People” uma interessante experiência flamenco-funk-psicodélica, aonde Martell é quem se destaca mais com seus solos permeando as vocalizações e palmas predominantes em toda a canção.


Vanilla Fudge

Apesar do ótimo disco, o Fudge ainda encontrava dificuldades em conquistar a costa oeste, na época dominada pelas bandas da região de San Francisco. Por outro lado, o grupo conquistou sua primeira turnê pela europa, além de ampliar o horizonte de shows também pelo Canadá, e desfilar pelos Estados Unidos abrindo para Jimi Hendrix Experience, com shows na primeira semana de setembro (dia primeiro no Red Rocks Park em Denver, dia 3 no Balboa Stadium de San Diego, no dia 4 no Memorial Coliseum, em Phoenix e no dia 5 no Swing Auditorium, em San Bernadino).


A série de shows com Hendrix aumentou, com a dupla passando por Seattle (06/09) e indo parar no Canadá  (Vancouver, no dia 07/09). A turnê regressou aos Estados Unidos, tocando em Portland (09/09), Oakland (13/09), San Francisco (14/09) e Sacramento (15/09). A grande série de shows com Hendrix fez sucesso, e levou-os novamente para a TV, aparecendo no programa Beat Club e no Wonderama TV, ambas as apresentações em 1968. Durante a turnê, a ATCO lançou o single de "Take Me for a Little While", em uma versão remix da versão lançada no álbum de estreia, que chegou na posição trinta e oito na parada da Billboard.


O sucesso da tour com Hendrix, e do compacto de "Take Me for a Little While", levou o Vanilla Fudge a ser a banda de abertura da turnê de despedida do Cream pelos Estados Unidos, durante o outono de 1968, e fazendo ainda um show extra tendo o Canned Heat como banda de abertura.


Mais um single foi lançado no dia 15 de novembro, dessa vez a versão editada de "Season of the Witch", e o ano de 1968 encerrava com The Beat Goes On e Renaissance vendendo bastante, e com o Vanilla Fudge excursionando sozinho, sendo a atração principal em quase todos os lugares que tocava, com exceção dos últimos shows do ano, nos quais o Jeff Beck Group foi contrarado para abrir para os nova iorquinos.


Porém, o Jeff Beck Group cancelou os shows, e para substituí-lo, nada mais nada menos que o Led Zeppelin foi chamado, sendo esta a primeira excursão do Led pela América, antes mesmo do primeiro LP do grupo ser lançado. O último show de 1968 foi feito no Fillmore West de San Francisco, na virada do ano de 1968 para 1969, contando com o Led Zeppelin, Richie Havens, Cold Blood e Youngbloods como bandas de abertura.


Na segunda e última parte, vamos ver como foram os últimos dias do Vanilla Fudge, e por oonde andaram os músicos do grupo a partir da década de 70, até a reunião no início dos anos 2000.
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