Por Diogo Bizotto
Com Alissön Caetano Neves, André Kaminski, Bernardo Brum, Christiano Almeida, Davi Pascale, Fernando Bueno, Flavio Pontes, João Renato Alves, Leonardo Castro, Mairon Machado e Ulisses Macedo
Participação especial de Amanda Cipullo, criadora e editora do site Casos de Rock n'Roll
Calhou justamente de, em uma das edições com o maior número de participantes (13), nosso primeiro colocado contar com a menor pontuação para um disco posicionado no topo de nossas listas. Mas não foi apenas isso: nada menos que sete álbuns ficaram empatados no décimo lugar, obrigando que uma enquete entre os participantes definisse qual deles ocuparia essa posição. Talvez isso reflita o fato de cada vez mais estarmos nos aproximando da atualidade, e o tempo para que os bons discos lançados nesse período amadureçam e passem a ser vistos como clássicos ainda seja insuficiente. Ou quem sabe a quantidade de grandes álbuns seja realmente menor. E o leitor, o que pensa a respeito disso? Deixe seu recado nos comentários e não esqueça de conferir a lista individual de cada participante. Afinal de contas, em um universo tão disperso como o apresentado nesta edição, é bom frisar que nosso top 10 é apenas um recorte daquilo de bom (ou ruim? nem um nem outro?) que viu a luz em 2002. Jamais esquecendo de citar que o critério para a elaboração de cada edição segue o sistema de pontuação do campeonato mundial de Fórmula 1.
Porcupine Tree - In Absentia (61 pontos)
Alissön: Sou mais fã do que Steven Wilson fez fora do Porcupine Tree, mas o que deixou registrado em alguns de seus discos mais célebres é de uma qualidade e sensos técnico e melódico impressionantes. O grande mérito de In Absentia é abraçar os universos da música progressiva com elementos de metal e pop sem sacrificar nenhum dos lados, sempre mantendo uma harmonia de estilos muito agradável de se ouvir. Se apontado como um dos discos mais importantes do rock progressivo, não seria nenhum exagero.
Amanda: Sem dúvida alguma este é o melhor álbum da lista. É inquestionável. Conheci o Porcupine Tree (e, consequentemente, Steven Wilson) por intermédio de um amigo. Na ocasião, ele me disse: "Ouça, mas ouça aos poucos, pode ser um som difícil de assimilar". No entanto, logo na primeira já percebi que não tinha mais volta, estava totalmente rendida ao som. A versatilidade e genialidade presentes em todos os trabalhos de Steven Wilson são realmente intrigantes! Afinal, como pode sair tanta coisa de uma só cabeça? Produtor, multi-instrumentista, compositor… O cara é tipo o Batman do prog metal. Faz tudo incrivelmente bem. A sequência inicial de "Blackest Eyes", "Trains" e "Lips of Ashes" causa um misto de sensações tão loucas que é até difícil descrever. É tudo difícil de descrever, tem que ouvir. Ouvir e reouvir. Recentemente, inclusive, ele (Wilsão, para os íntimos) esteve no Brasil. Senti muito por não ter ido ao show. Sorte de quem pode vê-lo e, sobretudo, ouvi-lo ao vivo.
André: A banda sempre ficou ali, no limiar entre o rock e o metal progressivo. Apesar de gostar do que já ouvi deles, sendo Deadwings (2005) um disco ótimo, nunca havia ouvido este In Absentia. Mas é aquilo que eu esperava da banda: técnica apurada, belas melodias, grande riqueza instrumental, teclados que dão um sabor diferente e o chamado “feeling” que muitos costumeiramente dizem que falta nas bandas prog atuais. Eles conseguem a façanha de mudar os instrumentos de maneira sempre suave, nunca abrupta, e de repente você nem se toca que a guitarra sumiu e deu lugar ao violão, que depois se foca em uma atmosfera de teclado, aí então vem o piano, de repente volta a guitarra... tudo na mesma canção. Definitivamente adorei este álbum e minha consideração pelo Porcupine Tree cresceu mais um tanto.
Bernardo: O suspiro criativo do rock progressivo, com doses certas de psicodelia e peso.
Christiano: Primeiro lugar mais que merecido. Considerado por muitos o melhor disco do Porcupine Tree, In Absentia é um ótimo exemplo de que é possível alinhar sofisticação musical e arranjos elaborados a um som acessível. As longas viagens experimentais, características dos primeiros discos da banda, foram deixadas de lado, cedendo espaço para uma mistura pouco provável de influências progressivas, indie rock e algumas guitarras distorcidas. Aliás, este último elemento foi incorporado ao som do Porcupine Tree devido à proximidade entre Steven Wilson, líder do grupo, e os suecos do Opeth, que haviam chamado Wilson para produzir Blackwater Park (2001). É um disco que soa moderno, inovador e recheado de belas composições, com ótimas melodias. Coisa rara de se ver por aí.
Davi: A faixa de abertura dá uma impressão errada ao ouvinte. “Blackest Eyes” começa com um riff pesadaço e logo se transforma em uma canção pop à la Goo Goo Dolls. Uma mistura bem interessante, mas que não é a tônica do disco, nem de longe. In Absentia é um álbum bonito, mas bem calmo. Traz bastante influência de psicodelia, muitas referências de Pink Floyd. Um exemplo da influência floydiana seria “Lips of Ashes”: ainda que o trabalho vocal dela me remeta bastante a Crosby, Stills, Nash & Young, a guitarra bebe na fonte de David Gilmour. Há também a influência de artistas pop como Coldplay, perceptível nas faixas dominadas por piano e voz, como “Collapse the Light Into Earth”. Foi bacana retornar a este disco, fazia tempo que não o ouvia, mas não o elegeria como o álbum do ano.
Diogo: Restam poucas dúvidas de que o Porcupine Tree é uma das presenças mais surpreendentes no topo de quaisquer edições desta série. Surpreendente, mas não injusta. In Absentia é um disco muito bom, que coloca o rock progressivo em 2002 sem olhar para o retrovisor, apenas para frente, flertando com a música pop sem soar popularesco. Bem arranjado, o álbum foge dos excessos de alguns grupos prog formados na década de 1990, evitando faixas muito longas. Inclusive, a mais longa de todas, "Gravity Eyelids", não é nada cansativa, configurando-se um dos destaques de In Absentia. Já vi o grupo sendo vendido como prog metal, mas, pelo menos neste álbum, senti que esse rótulo é apenas uma parte do espectro musical abrangido pelo quarteto. Mesmo as canções mais pesadas, como a excelente "Blackest Eyes", "Wedding Nails" e "The Creator Has a Mastertape", não chegam a passar tão perto daquilo praticado por algumas formações conhecidas do gênero (ainda bem).
Fernando: Por esta eu não esperava. Não tinha ideia que meus amigos aqui do site gostavam de Porcupine Tree a ponto de elegerem um disco deles em primeiro nesta nossa série. Ainda mais o meu preferido do grupo. “Blackest Eyes” é um bom exemplo de como o progressivo pode ser atual e não precisa revisitar eternamente os anos 1970. Afinal, junto da melodia característica do prog há o peso das guitarras em seu início e também um refrão que gruda na cabeça. O álbum todo pode ser resumido dessa maneira também. Fico contente por lembrarem deste álbum. Por fim, não poderia deixar de falar sobre a imagem marcante da capa, que sempre nos deixa incomodados de alguma forma.
Flavio: O Porcupine Tree traz em In Absentia uma boa mistura de rock progressivo/psicodélico com metal progressivo, elementos que também são encontrados, com diferença de proporções, no disco do Dream Theater lançado no mesmo ano. A primeira faixa, "Blackest Eyes", é a minha predileta, mostrando que a banda incorporou o estilo prog metal, misturando com o estilo new psicodélico. A partir dela são três canções mais lentas e leves que mostram influências do rock progressivo (King Crimson, Pink Floyd, Genesis, Marillion) e pitadas de rock alternativo/psicodélico (Radiohead). A quinta, "Gravity Eyelids", fica bem legal quando ganha um pesinho lá pelo quarto minuto, misturado com o início alternativo psicodélico. Outra coisa que me chamou a atenção é a qualidade da gravação, com a cozinha muito bem equalizada (particularmente o som da caixa da bateria é muito bom). "Wedding Nails" é outra faixa forte, com dois minutos mais acelerados, até a mistura com sons dissonantes (acredito que da guitarra de Wilson) e diminuição total do ritmo até seu retorno à primeira parte aproximadamente nos quatro minutos. Há que se destacar o vocal bem harmonioso (várias vozes) em boa parte do disco, que me lembraram o Transatlantic e o Pink Floyd (de Dark Side of the Moon). O disco segue mantendo o estilo com bom nível até o final, com destaque para a lindíssima e melancólica "Heartattack in a Layby" e, apesar de preferir com razoável distância o disco do Dream Theater do mesmo ano, posso considerar In Absentia uma ótima escolha para esta lista.
João Renato: O disco que representou a grande mudança na carreira do Porco Espinho Tri. Steven Wilson buscou as influências certas e apostou tudo, se dando muito bem. Para quem gosta é muito bom.
Leonardo: Improvavél, mas muito eficiente e interessante, a fusão entre o rock progressivo e o alternativo, com pitadas eletrônicas e climas soturnos. Não conhecia a carreira da banda e fui surpreendido positivamente. Melodias marcantes e agradáveis, com peso na medida certa. Ótima surpresa da lista.
Mairon: Confesso que ouvi o disco com alguma má vontade, e não me agradou muito. Depois, ouvi com mais calma e também não consegui me prender. Com exceção da bela "Lips of Ashes", do trecho central em "Gravity Eyelids", a apreensiva introdução de ".3" e alguns trechos da instrumental "Wedding Nails", o resto achei muito simplezinho, chegando a dar sono. Mesmo que a propaganda da banda ser um dos expoentes do prog metal tenha atiçado minha vontade de ouvir uma segunda vez, não consegui entender por que a primeira posição. Entre os dez mais, ok, já que esse ano foi realmente complicado, mas em primeiro, nem os parentes do Porcupine Tree estão acreditando, quanto mais o grupo. Para quem gosta da banda, vão ouvir Beardfish, são mais criativos e muito melhores do que o grupo do Steven Wilson.
Ulisses: Óbvio que estamos diante de uma banda com competência técnica e certo bom gosto na criação de melodias, sejam elas pesadas ("Blackest Eyes", "Wedding Nails") ou atmosféricas e melancólicas ("Trains", ".3"), gerando alguns ótimos momentos. A progressão de "Gravity Eyelids", por exemplo, é fantástica, demonstrando que o grupo consegue transitar entre o pesado e o etéreo com facilidade, mas também com certa irregularidade, pois a maioria das composições não empolgam. É um registro interessante, mas primeiro lugar me pareceu exagerado.
Audioslave - Audioslave (54 pontos)
Alissön: Um time de astros nem sempre resulta em vitórias. Na música é a mesma coisa. Tá, Chris Cornell nunca foi um vocalista que pudesse ser chamado de bom, mas canta com competência e seu trabalho no Soundgarden é clássico. O mesmo não pode ser dito dos ¾ do Rage Against the Machine que compõem o Audioslave. Tom Morello é um guitarrista único e, em todo trabalho que fez junto ao RATM, sua guitarra é o atrativo principal. Por sua vez, a cozinha com Brad Wilk e Tim Commerford é uma das mais eficientes e concisas a surgirem nos últimos tempos. O que me leva a pensar: o que diabos deu na cabeça desses sujeitos para resolverem gravar músicas tão insossas? Rockzinho sem vergonha e sem pegada, um monte de baboseiras melosas para tocar a rodo nas FMs. Em resumo: um disco sem profundidade que, não raro, chega as vias de se tornar broxante.
Amanda: Audioslave sempre me pareceu uma banda ok, e nada mais além disso. Apenas ok. Sim, nós sabemos que os integrantes que formavam o grupo são bons músicos, mas, de um modo geral, o resumo do trabalho não me agrada tanto. E quando digo que não me agrada tanto, refiro-me ao fato de os álbuns seguintes ao disco de estreia parecerem um pouco apagados perto do primeiro. Ainda assim, tem algo que sempre vai me encantar na voz de Chris Cornell, e esse encanto se eleva em músicas como "Cochise", que abre o álbum, e "I Am the Highway". É um bom disco! Uma pena que os outros não tenham sido tanto, pelo menos não para os meus ouvidos.
André: O Audioslave é muito, mas muito melhor que Soundgarden e Rage Against the Machine. Embora a banda não faça parte de meu catálogo pessoal, principalmente pela minha birra com os vocais de Chris Cornell (parecida com a que tenho com Eddie Vedder, do Pearl Jam) e essa timbragem da caixa de bateria de Brad Wilk, dou lá os meus créditos às boas sacadas de guitarra de Morello em “Bring ‘Em Back Alive” e o bom trabalho de baixo na famosa “Like a Stone”.
Bernardo: Alguns bons hits (a balada "Like a Stone", as frenéticas "Cochise" e "Show Me How to Live"), mas nada realmente digno de nota. Pra quem recusava o grunge do Soundgarden e o rap-funk-metal do Rage Against the Machine, certamente deve ter sido uma experiência mais palatável.
Christiano: Quando anunciaram o Audioslave como um “supergrupo”, muita gente criou uma grande expectativa. Afinal de contas, era o Rage Against the Machine com Chris Cornell nos vocais. Uma união inusitada, mas que cruzaria dois nomes de peso. O resultado que obtiveram neste primeiro disco foi razoável, com destaque para o sempre ótimo Chris Cornell. No final das contas, temos algumas boas canções, como “Gasoline”, “Like a Stone” e “I Am the Highway”. No entanto, o disco como um todo é um pouco cansativo, soando até mesmo repetitivo em alguns momentos. Felizmente, Chris Cornell voltou a investir em sua carreira solo, lançando ótimos discos.
Davi: Um dos melhores lançamentos da década de 2000. A junção do Rage Against the Machine com Chris Cornell não tinha como ser melhor. Álbum explosivo, empolgante, com diversas faixas memoráveis. Ainda me lembro do impacto que tive quando assisti pela primeira vez ao clipe de “Cochise” na MTV. Fazia muito tempo que um artista não me empolgava daquela forma. As guitarras contagiantes e criativas de Tom Morello, com o vocal rasgado e potente de Chris Cornell, soavam simplesmente mágicas. Infelizmente, o grupo durou pouco e os álbuns posteriores não mantiveram o nível. O debut, contudo, continua emocionando anos depois. Faixas de destaque: “Cochise”, “Show Me How to Live”, “Set It Off”, “Gasoline” e “I Am the Highway”.
Diogo: Na época não dei muita bola, mas o tempo encarregou-se de mostrar que Audioslave é um belo álbum. Comparado com o que estava sendo lançado em termos de mainstream roqueiro, o quarteto se saiu muito bem, não soando como a previsível fusão entre Rage Against the Machine e Soundgarden que alguns citavam, mas como algo que apontava para os anos 1970 com uma sonoridade mais atual. Chris Cornell não chegou a surpreender com sua performance, assim como Tom Morello soa um pouco mais contido em relação aos tempos de RATM, só que a espinha dorsal do grupo, Brad Wilk e Tim Commerford, soa muitíssimo coesa, conduzindo um tracklist seguro que destaca hit singles que mereceram o sucesso, caso de "Cochise", "Like a Stone", "I Am the Highway" e, muito especialmente, "Show Me How to Live", um musicão com o senso de espaço e a dinâmica merecida em se tratando de algo que se inspira nos anos 1970 mas contou com a tecnologia disponível em 2002. Aliás: li críticas a respeito da produção de Rick Rubin, mas, considerando coisas feitas por ele posteriormente, como Death Magnetic (Metallica, 2008) e 13 (Black Sabbath, 2013), o nível de seu trabalho até que está satisfatório. Fora os hits, há outras canções empolgantes, como "Gasoline", "What You Are" e "Getaway Car".
Fernando: O Audioslave me pareceu uma ótima ideia quando surgiu, afinal, o instrumental do Rage Against the Machine sempre me agradou, diferentemente da voz e interpretação de Zack de la Rocha. Com Chris Cornell esse problema foi solucionado. Pena que o grupo não recebeu a atenção necessária para que eles seguissem em frente. Pode ser também que faltou um pouco de inspiração ao grupo, principalmente em Revelation (2006). Hoje, depois de quase 15 anos (caramba!!! Tudo isso já!!!) eles poderiam ser um banda pra encher estádios, ou um headliner de festivais.
Flavio: O disco de estreia da banda não decepciona. A mistura dos ex-membros do Rage Against the Machine com Chris Cornell é explosiva. O entrosamento de Cornell com os outros é tão notável, que parece que a banda já existia há muito e lançava algo como o seu quarto ou quinto álbum. O disco traz inúmeros hits de hard rock com pitadas de rap rock/funk metal (tipicos do RATM) em uma bolacha muito coesa. Não há pontos fracos em um excelente disco, só destaques, como "Cochise", "Show Me How to Live", "Gasoline", "What You Are", "Like a Stone"... Ótimo álbum premiado com justiça nesta lista.
João Renato: Demorei um tempo para assimilar. Hoje gosto, apesar de não apreciar exatamente tudo que foi feito aqui. De qualquer modo, o vigor das composições acaba vencendo.
Leonardo: A soma do instrumental do Rage Against the Machine com o vocal do Soundgarden acabou gerando um disco muito melhor que os últimos das respectivas bandas de seus integrantes. Que Chris Cornell é um grande vocalista todo mundo sabia, mas os últimos discos do Soundgarden haviam sido chatos de doer. E o guitarrista Tom Morello investe mais em riffs e melodias marcantes do que nos andamentos quase percussivos de sua banda anterior. Rock moderno e de alta qualidade.
Mairon: Estreia do supergrupo de Chris Cornell com Tom Morello e os demais membros do Rage Against the Machine. É impossível não ouvir o álbum e lembrar do RATM, principalmente em faixas como "Set It Off", "Show Me How to Live", "Exploder" e "Light My Way". O diferencial é que Cornell é um vocalista de boca cheia, e solta a voz muito mais do que o insosso Zack de La Rocha, como na balada jazzy "Getaway Car". Não é meu estilo, mas a proposta é boa, além de "Like a Stone" ter agitado muita festa do início dos anos 2000, tornando-se um clássico da época.
Ulisses: O instrumental do Rage Against the Machine une forças com a voz potente de Chris Cornell, resultando em uma combinação de hard rock com alternativo que deu muito certo. Abusando das jogadas de luz e sombra, o quarteto entrega um som pesado e moderno em ótimas composições como "Cochise", "Gasoline" e "Set It Off", agradando os viúvos do RATM ao trazer a cozinha entrosada de Commerford e Wilk e os solos revolucionários de Morello. No lado mais tranquilo do registro, destacam-se "Like a Stone" e "Getaway Car". O disco demora um pouco mais do que deveria (dava pra cortar umas três ou quatro faixas para deixá-lo mais redondo), mas merece o lugar entre os dez mais, tendo sido bastante cogitado na minha lista também.
Shaman - Ritual (52 pontos)
Alissön: É uma repartição com menos grife do Angra. Se gosta do produto original, vá sem medo.
Amanda: Não me lembro quando foi a primeira vez que ouvi Ritual, mas me lembro que a sensação foi a mesma de agora: puta merda! O tempo passa e algumas coisas não mudam: minha adoração por este álbum é uma delas. No entanto, na hora de elaborar minha lista, havia me esquecido totalmente dele! Que pecado! Introdução impecável com "Ancient Winds", que já mostra que o que virá depois será de altíssima qualidade. Instrumental de arrepiar os cabelinhos da nunca. Puta disco!
André: Recentemente, em minha discografia comentada do Elvenking, comentei o fato de que as primeiras bandas que ouvimos sempre ficam lá guardadas na memória, em um lugar especial, independente se continuamos gostando ou não do estilo que elas tocavam. E o Shaman também está lá com Ritual. De longe, este é o melhor disco lançado com Andre Matos como vocalista. Ele nunca mais repetiria uma performance tão cheia de emoção e vontade quanto por aqui. E eu não sei o que deu nos caras, mas o conjunto de canções presentes neste trabalho é todo brilhante, sem nenhuma exceção. Escutei “For Tomorrow” à exaustão. “Fairy Tale” virou até música de novela da Globo. Discaço!
Bernardo: Conheci o Shaman quando "Fairy Tale" tocou na novela "O Beijo do Vampiro", em que o Kayky Brito era filho de um vampiro interpretado pelo Tarcísio Meira. O Tony Tornado também fazia um vampiro chamado "Godzilla". Parece ruim? Garanto que é melhor do que ouvir Shaman.
Christiano: Após a implosão do Angra, os três músicos remanescentes resolveram montar um outro projeto. Mantiveram as influências de música brasileira mesclada ao power metal, um caminho que já vinha sendo trilhado desde o ótimo Holy Land (1996). Andre Matos resolveu cantar de forma mais “rasgada”, contribuindo para a presença de uma sonoridade um pouco mais agressiva do que a praticada anteriormente no Angra. No entanto, a riqueza musical e a criatividade que marcaram a fase Holy Land ficaram perdidas em algum lugar do passado. Com exceção de bons momentos como “For Tomorrow” e “Time Will Come”, alguns dos destaques positivos, Ritual é um bom disco, mas não traz grandes novidades.
Davi: Contando com três músicos recém-saídos do Angra, o Shaman foi uma banda que já nasceu grande. Obviamente, há vários elementos do Angra nele, até porque são as mesmas cabeças. Continua a influência do power, da música clássica. Uma diferença é que os arranjos estão, em sua maioria, mais diretos. Tanto nas músicas com pegada mais tradicional, como “Here I Am”, quanto nas melódicas. “Pride”, por exemplo, remete diretamente ao Helloween. Outra diferença é o vocal mais rasgado de Andre Matos em todo o disco, apostando menos em falsetes. Faixas de destaque: “Here I Am”, “Distant Thunder”, “For Tomorrow”, “Fairy Tale” e “Pride”.
Diogo: Comparações podem ser injustas e induzir a erros, mas neste caso não consigo resistir: o Shaman fez em Ritual um trabalho muito superior ao que o Angra fez em Rebirth (2001). Por mais que o subestilo predominante no tracklist ainda seja o power metal/metal melódico, Andre, Ricardo, Luis e Hugo tiveram muito mais personalidade e criaram um trabalho único em meio à repetição excessiva em que o gênero se encontrava. Sem olhar demais para o passado, os músicos parecem ter se focado em produzir canções suficientemente distintas daquilo que haviam feito com o Angra e com muita coesão, primando por arranjos bem acabados e aparando arestas e firulas desnecessárias. Mesmo "Pride", herdeira direta de bandas como Helloween e Blind Guardian, soa mais como uma desforra divertida do que como uma repetição pura e simples de ideias. Não deem ouvidos para quem vem com esse papo de influências "world music" e "étnicas", isso é conversa pra boi dormir e não engana nego que já é calejado: trata-se de um disco de heavy metal e pronto, nada além disso, transitando entre alguns subestilos. Mesmo "For Tomorrow", que conta com instrumentos de sopro tipicamente andinos, logo assume sua cara. O melhor: é um dos destaques mais positivos, e isso por ser uma composição muito bem resolvida, não por causa deste ou daquele elemento. Além dela, destacam-se especialmente "Here I Am", "Distant Thunder" e "Time Will Come", todas faixas memoráveis. Pena que essa crescente criativa do Shaman não durou muito. Talvez eu devesse tê-lo citado...
Fernando: Não deu certo com o Viper, vamos tentar nessa outra banda, o Angra! Opa!! Não deu certo no Angra, vamos tentar de novo nesse outro grupo, o Shaman! E a partir daí sabemos que não deu de novo. Andre Matos parece Glenn Hughes, que não conseguia desenvolver uma carreira com um grupo. Claro que isso não impediu nenhum dos dois de terem carreiras próprias muito bem sucedidas; mas, diferente de vários músicos que sempre vamos lembrar como o "sei lá o quê de tal banda", eles sempre serão o ex-, ex-, ex-, ex-. Ahhh... Ritual é um ótimo disco. Algumas arestas da sonoridade do Angra foram cortadas, até porque não é toda banda que tem Kiko e Rafael como guitarristas, e Hugo Mariutti, apesar de ser muito bom, não pode ser comparado a nenhum deles.
Flavio: Mantendo o estilo dos primeiros discos do Angra, Andre Matos e seus dissidentes fizeram com o Shaman, em Ritual, um disco bem calcado no estilo power metal, claramente influenciado pelo Helloween. Já disse aqui que o grande diferencial do Helloween, além de ser precursor do estilo, é o vocal de Michael Kiske, algo que eu nunca mais encontrei nas bandas que o sucederam. Não há como negar que Andre é um grande vocalista e se situa bem no estilo, mas não vou tecer maiores comparações. O disco traz um ritmo bem acelerado em sua maior parte e os músicos são excelentes. Falta porém o ar de novidade, visto no primeiro disco do Angra, lá em 1993. Um álbum com boas canções, como "Distant Thunder", "For Tomorrow", "Time Will Come", mas pela falta de um que de frescor, não é grande diferencial e não faz sentido como destaque numa lista de melhores de 2002.
João Renato: Boas músicas, bons músicos, tudo muito bem feito. Porém, depois de um tempo me cansou. Ainda tenho boas referências, mas não escuto mais. Na inevitável comparação, prefiro Rebirth.
Leonardo: Acredito que outros discos poderiam estar ocupando este lugar, mas é inegável que o álbum de estreia do Shaman tem suas qualidades. Resgatando um pouco da sonoridade dos dois primeiros discos do Angra, a nova banda de Andre Matos, Luis Mariutti e Ricardo Confessori lançou um álbum interessante, com algumas músicas excelentes, como a pesada "Distant Thunder", mas ainda longe de ser um clássico do estilo.
Mairon: Álbum de estreia de mais um dos inúmeros projetos de Andre Matos, que para mim é uma sequência natural dos trabalhos que ele fez com o Angra, principalmente em Holy Land, mas aqui com um pouco mais de progressivo, como a participação sempre marcante de Marcus Viana (Sagrado Coração da Terra) no violino de "Time Will Come", com a presença marcante de Andre no piano, que, aliás, mostra que evoluiu muito nesse instrumento desde os tempos de Viper. Vários são os momentos que me chamaram atenção, seja as cordas de "Distant Thunder", o veloz solo de teclado por Derek Sherinian em "Over Your Head", a velocidade de "Pride" ou as flautas andinas de "For Tomorrow" (que saudades do grupo Los Atipak), mas o grande momento do disco fica por conta de "Fairy Tale". Só o coral em sua introdução já arrepia horrores, e depois, bom, depois é segurar as lágrimas com essa faixa belíssima que casa com propriedade cordas, coral, peso e uma interpretação fantástica de Andre. Aliás, em todo Ritual o Shaman dá uma aula de como misturar vários elementos musicais com o heavy metal, bem diferente do que bombas atrozes como o tal do Nightwish e outros que já pintaram por aqui. O único pecado é a faixa-título, muito gritada e pop para o contexto geral do álbum. De qualquer forma, é Andre Matos provando que quase tudo que meteu a mão virou pérola, e uma pena que muita gente menospreza seus trabalhos aqui no Brasil. Belo disco, parabéns aos consultores que o colocaram aqui.
Ulisses: Um dos discos mais importantes da minha vida, tendo praticamente me apresentado ao metal nacional. Eu ouvia tanto este CD quanto o DVD RituAlive (2003) quase todos os dias, a ponto de que até hoje ambos estão perfeitamente cravados na minha memória, nota por nota – e frame por frame, no caso do show. O Shaman surgiu da saída de Andre Matos, Ricardo Confessori e Luis Mariutti do Angra (que ressurgiu das cinzas com Rebirth, no ano anterior), sendo que o irmão deste último, Hugo Mariutti, ficou com o posto de único guitarrista. A surpresa é que o quarteto apresenta um som não tão power metal quanto o esperado, fincando raízes também no folk, prog e heavy tradicional, além de trazer uma atmosfera mística que perpassa o álbum todo. "Ancient Winds" é uma daquelas introduções de álbum que justificam sua existência, preparando terreno para a porradaria de "Here I Am", praticamente um "querida, cheguei!" da guitarra cortante de Hugo. "Distant Thunder" e "Time Will Come" (com um solo fenomenal) são faixas sombrias com momentos de teclado e ótima interpretação de Andre. No meio delas, o hino "For Tomorrow" traz violão e flauta, além de uma progressão muito bem construída. "Over Your Head" brinca com mudanças de andamento e grandes momentos dos convidados Derek Sherinian (teclados), George Mouzaiek (percussão) e Marcus Viana (violino), sendo seguida pelo hit "Fairy Tale", a épica semibalada que conta com cantos gregorianos, piano e mais violinos, tendo figurado até em novela da Globo na época. A subestimada "Blind Spell" ficou mais empolgante em RituAlive, mas aqui também não faz nada feio, destacando as batidas sensacionais de Confessori e do tecladista convidado Fábio Ribeiro, além de ser uma puta faixa boa pra cantar junto. A mágica e cadenciada faixa-título faz jus ao nome, e o disco finaliza com o petardo "Pride", com Hugo e o produtor Sascha Paeth duelando nas guitarras e Andre e Tobias Sammet dividindo os vocais, fechando o CD de forma tão pesada quanto "Here I Am" o iniciou. Álbum impecável! Alô, consultores, quero ver Reason em 2005!
Rush - Vapor Trails (48 pontos)
Alissön: Mesmo apresentando ideias novas, como uso de compassos mais incomuns, principalmente pela bateria do mestre Neil Peart, o disco não engata e se torna apenas um trabalho dispensável. Some ao fato de o disco ser mais longo que o necessário (20 minutos a menos fariam um bem tremendo ao registro) e temos aí a fórmula de um trabalho cansativo e que passa batido após sua experiência.
Amanda: Já me meti em muita discussão de bar, com direito a fãs sacudindo discos na minha cara, por causa de Rush. Não posso dizer que desgosto, mas não iria a um show, por exemplo. Ok, vocês venceram! Eu me rendo ao Rush, só por hoje.
André: A banda quase acabou, dez entre dez leitores aqui sabem o que aconteceu com Peart e meus colegas irão comentar sobre esse fato, prevejo. Logo, posso dizer que, apesar de tudo, o Rush voltou bem. Já tive lá minhas bocas torcidas quanto a este álbum, mas o tempo como sempre se encarregou de mudar a minha opinião. É um disco bem pé no chão para os padrões rusheanos, com cara de hard rock mesmo e por isso aproveito-me bem de faixas como “Sweet Miracle” e “Nocturne”.
Bernardo: Não me impressionou muito não. Parece que entrou mais por ser "um disco do Rush" do que por méritos próprios.
Christiano: O Rush é uma de minhas bandas preferidas de todos os tempos. Gosto de todas as fases, inclusive dos discos mais atuais. Mas Vapor Trails não é o melhor momento dos canadenses. Não sei por qual motivo, resolveram dar uma “sujada” no som. O resultado final não é ruim, mas parece meio forçado e sem inspiração. Recentemente, saiu uma edição remixada deste álbum, com o objetivo de melhorar a sujeira do som. Por mais que eu seja fã, não ouso fechar os olhos (ouvidos) e dizer que a marca vale mais que o produto.
Davi: Bom trabalho do trio canadense. No álbum de volta do Rush, os músicos resgataram a vibe hard rock de Counterparts (1993). É obvio que a veia progressiva permanece. Pô, é Rush! Houve uma mudança considerável, contudo, que foi o fato dos músicos terem limado o teclado das gravações. Com isso, as músicas ganharam mais peso. Fato perceptível já na faixa de abertura, a (boa) “One Little Victory”. As letras também são mais pessoais; obviamente os problemas sofridos por Peart à época – morte de sua esposa e de sua filha – são abordados. Os arranjos não são tão longos e com tantas passagens conforme ocorria nos tempos de Caress of Steel (1975) ou 2112 (1976), mas a qualidade das composições é alta. Uma queixa minha é a falta de solos de guitarra. Minhas preferidas: “Ceiling Unlimited”, “The Stars Look Down”, “Nocturne” e a já citada “One Little Victory”.
Diogo: Minha primeira reação ao constatar a entrada de Vapor Trails por aqui foi: "Putz, justo um dos discos mais fracos do Rush!". Fazia muito tempo que não o ouvia com atenção, e isso não é à toa: sua mixagem o tornou cansativo, injustificadamente sujo e pobre em dinâmicas. Há de se ter ouvido mais atento para tentar captar suas qualidades, e foi isso que fiz para escrever este comentário. Ainda bem que foi assim, pois pude redescobri-lo de uma forma que nunca havia feito antes. Obviamente algumas canções já eram bastante do meu agrado, especialmente a patada "One Little Victory" e "Ceiling Unlimited", com Geddy Lee descendo a mão no seu Fender Jazz sem o mínimo dó. Outras, entretanto, desabrocharam só agora. "Secret Touch", "Earthshine", "Sweet Miracle" e "Nocturne" fizeram cócegas em uma parte adormecida do cérebro, que havia registrado suas melodias mas não lembrava mais delas. Claro, a mixagem do álbum continua sendo uma porcaria e ouvi-lo com frequência é uma tarefa à qual não pretendo me submeter, mas é interessante constatar cada vez mais o quanto esse é um elemento que pode colocar boas ideias a perder. Ah, óbvio destaque para a competência instrumental do trio, que nunca cansa de supreender, mesmo em meio às adversidades. Alex Lifeson deve ter arrebentando muitas cordas gravando Vapor Trails.
Fernando: Todo mundo gosta de Vapor Trails aqui no Brasil, afinal, foi com a turnê deste disco que eles vieram pela primeira vez para cá. Isso acabou fazendo com que todo mundo tivesse um carinho por ele. O álbum marca o início da atual fase (ou, podemos dizer, desta última fase) do Rush. Até Test for Echo (1996) temos a sonoridade dos anos 1980, com muitos teclados e até um certo exagero de produção. A partir de Vapor Trails eles simplificaram o som, para os padrões do Rush, é claro. A guitarra voltou a ser protagonista e eles apostaram mais nos riffs. De uma certa forma eles atualizaram o som que faziam nos primeiros discos, quando eles foram muito comparados com o Led Zeppelin.
Flavio: O retorno do Rush e em grande estilo. Após o afastamento de Neil Peart do mundo da música, devido aos seus lamentáveis problemas pessoais, a banda retornou depois de seis longos anos, com um disco à sua altura. Abandonando de vez o uso dos sintetizadores, em tônica mais do que exagerada nos anos 1980/90, Vapor Trails traz um disco de rock puro, com ótimas canções, como a incendiária faixa de abertura "One Little Victory" – e como é bom ouvir Geddy Lee (em grande destaque) tocando e privilegiando seu melhor instrumento (o baixo) e a avassaladora bateria de Neil Peart. "Ghost Rider", que traz na letra de Neil a longa viagem motociclista de seu “retorno à vida”, é outro destaque. A bolacha continua mantendo o peso em "Peaceable Kingdom" (mais um ótimo trabalho de baixo), o excelente single "Secret Touch" (que porrada!) e "Earthshine". Um senão é a já tão comentada mixagem original que compromete a dinâmica do som. Desta forma, recomendo a versão remixada lançada em 2013. Um grande representante da banda, e coerentemente classificado com um dos melhores discos do ano.
João Renato: Valor inestimável para os fãs brasileiros, já que foi na turnê deste álbum que os canadenses passaram por aqui pela primeira vez. Boas músicas, produção nem tanto, mas compensa pela disposição do trio – especialmente após quase terem acabado, devido aos problemas de Neil Peart.
Leonardo: Belo disco do trio canandense. Aprecio a carreira da banda, apesar de não ser um ávido seguidor, e este Vapor Trails providencia uma audição bastante agradável. Não é revolucionário ou extremamente marcante, mas também não decepciona.
Mairon: Depois de muito tempo parado (cinco anos aproximadamente), por conta das tragédias familiares que envolveram Neil Peart, poucos apostavam no retorno da banda. Ao ouvirmos Vapor Trails, de cara somos carregados com uma descarga de raiva, fúria e, por que não, indignação de Peart por ter perdido em menos de dois anos filha e esposa, através da pancadaria da introdução de "One Little Victory", uma das melhores canções feitas pelo Rush desde 1982. Na medida em que o álbum vai passando, ouvimos um novo Rush, mas isso nunca foi novidade, já que os canadenses sempre souberam se renovar, apresentando peso em "Peaceable Kingdom", "Nocturne" e na ótima "Earthshine", rock simples mas com riffs trabalhados em "How It Is", empregando violões alegres nessa que julgo ser a canção mais fraca do disco, e também em "Ceiling Unlimited", e belos trabalhos melódicos na faixa-título e "Ghost Rider", além dos pegados solos de Lifeson em "The Stars Look Down" e "Out of the Cradle". Destaque ainda para a alucinante "Secret Touch", com um pequeno show de Lee no baixo, e para a quarta parte de "Fear", "Freeze", que nos remete aos álbuns do grupo lançados nos anos 1980. Ver a banda pela primeira vez ao vivo, diante dos meus olhos, naquele distante novembro de 2002, com o pálco pegando fogo dentro do estádio Olímpico exatamente quando o dragão de "One Little Victory" surgia no palco, que aliás, era o primeiro palco interativo que o grupo criava, é um dos grandes momentos que tenho em minha mente no que se refere à shows. Um belo disco, no mínimo top 3 desta famigerada lista.
Ulisses: Um disco com boas composições, porém marcado por uma mixagem esquisita, suja, que acaba por fatigar o ouvinte. Tanto é que há três anos os caras lançaram uma versão remixada do disco, que soa bem melhor no geral. Mas, independente do original ou do remix, Vapor Trails continua com a pegada do Rush de Counterparts pra frente: bastante direto e rock 'n' roll (embora ainda intrincado), sem teclados, sintetizadores e nem grandes solos de guitarra. A abertura com "One Little Victory" e "Ceiling Unlimited" já faz qualquer um investir atenção no CD, encontrando semelhantes em "Secret Touch" e "Nocturne". "Peaceable Kingdom" é outra composição de destaque por causa da dominância do baixo. Lifeson abre mão de grandes solos e explora sua versatilidade com riffs, ritmos e fraseados, mostrando bastante serviço em "Ghost Rider", "Sweet Miracle" e na já citada "Nocturne".
Nightwish - Century Child (38 pontos)
Alissön: Tão estéril quanto uma sala de cirurgia. Existem bandas que dosaram melhor o lado sinfônico com o peso do metal, e com resultados mais autênticos que isto. É só procurar que vocês encontram.
Amanda: Lá pelos idos de meus 12 anos, gostava consideravelmente de Nightwish. Depois disso, ouvi muito pouco. Atualmente, quase nada. Ainda assim, considero Century Child um dos álbuns que devem ser destacados na carreira da banda. Tem muita coisa boa. Gosto da voz da Tarja; na verdade, em algum momento devo até ter dito que preferia ela a Floor Jansen. Talvez eu fosse jovem e estivesse louca, porque ouvindo agora, de novo, penso que mais do que 30 minutos desses arroubos líricos é um pouco cansativo.
André: Complicado falar da minha banda favorita sem soar um chato fanático. Mas vou tentar: dentre todos, é o álbum mais “gótico” do Nightwish, com Tuomas exalando seus problemas pessoais em uma época que a banda estava em frangalhos internamente. A saída do baixista Sami Vänskä e a entrada do lendário Marco Hietala transformou completamente o grupo, com Tuomas podendo fazer tranquilamente o uso de seus vocais mais rasgados sem precisar de convidados para tal. Além de mais um compositor para dar suporte a suas canções, visto que até esse momento, apenas o guitarrista Emppu contribuía com algumas poucas composições. Tarja deixa de lado o lírico e passa a cantar de forma limpa, com alguns poucos momentos que rememoram o antigo Nightwish, como na versão de “The Phantom of the Opera”, do britânico Andrew Lloyd Webber. É também o primeiro álbum contando com uma orquestra de verdade dando apoio, que continuaria em todos os que vieram na sequência. No mais, tem só faixas lindas como “Bless the Child”, “End of All Hope”, “Dead to the World”, “Ever Dream” e “Beauty of the Beast”, todas muito bem quistas e recebidas pelos fãs.
Bernardo: Vocês vão colocar todos os discos do Nightwish nas listas de melhores do ano? Se for o caso, minhas sugestões: coloquem também Nickelback, Creed, CPM 22 e mudem o nome da série para "Melhores da Disk MTV 2000".
Christiano: Conheci o Nightwish na época de lançamento de Oceanborn (1998). Era um som bem diferente das coisas que eu já havia escutado. Os vocais meio operísticos em uma banda de metal soavam como uma mistura interessante. Lançaram Wishmaster (2000) e a sonoridade foi ficando cada vez mais pasteurizada, com teclados de sons plastificados, baterias com timbres totalmente artificiais e esbanjando os manjados pedais duplos. A vocalista Tarja chega a ser irritante com seus exageros dramáticos. É o que temos nesse Century Child, talvez o pior álbum da lista. A banda acabou se tornando a grande paixão de adolescentes “gotiquinhas”, que usavam o dinheiro de suas mesadas para comprar vestidos pretos e papel crepom para colorir os cabelos. Afinal de contas, bandas como Nightwish e Evanescence eram o que melhor representava a adolescência de crianças que cresceram tendo Sandy & Junior como referência musical.
Davi: Depois de terem vindo com dois grandes álbuns, Oceanborn e Wishmaster, se viram em uma encruzilhada. A banda havia crescido. Precisavam vir com um disco que não fechasse as portas para eles, mas que também não renegasse seu passado. A resposta está aqui. Vários elementos do passado se cruzam com algumas novidades. Tarja Turunen está cantando de uma maneira mais melódica, mais contida. O vocal de Marco Hietala casou bem com a proposta e abriu as portas para novas aventuras. Os arranjos orquestrais continuaram, assim com os solos inspirados. A real é que a fase Tarja é mágica. Além de gata, a mulher canta muito. E o repertório é excelente. Sempre achei que a versão de “Phantom of the Opera” funcionava melhor ao vivo do que em estúdio, mas o CD traz várias pérolas como “Bless the Child”, “End of All Hope” e “Slaying the Dreamer”. Discaço!
Diogo: Apesar da controvérsia gerada entre alguns integrantes do site com a entrada de Oceanborn e Wishmaster na série, não me arrependo nem um pouco de tê-los citado. Não apenas são bons discos, como também tiveram significância em seu tempo, mesmo que em um segmento limitado. Em se tratando de Century Child, não posso dizer o mesmo: confiram lá embaixo, não estou entre os que ajudaram a colocar este álbum entre os dez melhores classificados. A princípio, a diferença entre ele e seus antecessores não é tão perceptível, em especial estilisticamente. Avaliando mais minuciosamente, contudo, surgem elementos que me desagradaram quando o ouvi lá em 2002 e seguem me desagradando hoje. Primeiro: a entrada do baixista Marco Hietala, cujos vocais aparecem como forte destaque negativo. Segundo: Tarja Turunen está mais contida, menos lírica (ouçam as estrofes de "End of All Hope"). Terceiro: a guitarra de Emppu Vuorinen tem menos destaque criativo e na mixagem, dando espaço para teclados e orquestrações, algo que se intensificaria ainda mais. Não à toa, uma das melhorzinhas é "Slaying the Dreamer", coescrita por Emppu e com mais ênfase para seu instrumento. Quarto e mais importante: as composições não chegam nem perto da qualidade de faixas como "Elvenpath", "Sacrament of Wilderness", "She Is My Sin" e "The Kinslayer", presentes em álbuns anteriores. Isto é, o culpado maior ainda é Tuomas Holopainen, responsável principal pelo direcionamento do grupo. Once (2004) e toda sua ambição até faria bonito considerando os parâmetros musicais mais baixos de Century Child e seria um estouro comercial, mas, para mim, a mágica já estava quebrada.
Fernando: Depois de Wishmaster, o Nightwish passou de promessa para realidade. Angariou um número enorme de fãs e, com Century Child, eles consolidaram esse crescimento. Músicas como “Bless the Child”, “Dead to the World”, “Beauty of the Beast” e a fantástica versão para “The Phantom of the Opera” mantiveram o alto nível do álbum anterior.
Flavio: Pela terceira vez seguida vou encarando o Nightwish na lista e novamente não há surpresas. Bem focado no estilo symphonic metal, recheado de coros operísticos, que vão cansando à medida que o disco vai passando. De novo tenho que registrar que os músicos são ótimos, tanto com a cozinha sólida e as inserções em solos e melodias de guitarra em duplicidade com teclado que preenchem as músicas, dando o clima desejado pela banda, com muita eficiência. Dessa vez há a presença do vocal masculino do novo integrante, o baixista, que suponho veio para criar uma espécie de contraste ao vocal agudo e fortemente operístico de Tarja. Gostei de um andamento marcado na música "Slaying the Dreamer, mas a seguir um vocal misturado entre o quase gutural (Marco) e o característico de Tarja (e coro) me trouxe de novo ao desapontamento. E ao ouvir "The Phantom of the Opera" em uma versão correta (deve ser uma das prediletas dos fãs), atesto novamente que não é o que eu espero de um grupo de rock. Enfim, não vou me alongar e apontar que não sintonizo com a banda e não há nada a mais de destacar de meu agrado, mesmo com a entrada de um novo vocalista de apoio (sic!). Será que em 2004 terei nova presença da banda, com o tal Once?
João Renato: Fugiu um pouco do metal lá-lá-lá praticado até então. Apesar de muitos fãs o considerarem o patinho feio da fase com Narjara Turetta nos vocais, gosto da maioria das músicas. Talvez, justamente pelo que faz os outros desgostarem.
Leonardo: A partir deste disco, o Nightwish passou a ter uma sonoridade bem interessante. Ainda que continuasse pesado em alguns momentos, foi dada mais ênfase à parte sinfônica da banda. Funciona em alguns momentos, mas soa exagerado em outros. No geral é um bom disco, mas o grupo acertaria a mão mesmo no álbum seguinte.
Mairon: Não me atrevo a chegar perto. Prefiro economizar minhas palavras de baixo calão para algo melhor que isso, já que desconheço uma palavra de qualidade tão negativa para expressar minha opinião sobre este "álbum".
Ulisses: Seguindo na onda do sucesso de Oceanborn e Wishmaster, Century Child é mais um disco sólido dos finlandeses sinfônicos, contado com a entrada do baixista Marco Hietela, que demonstra ter sido uma boa escolha devido aos seus ótimos vocais, como em "Dead to the World" e na versão impecável da banda para "The Phantom of the Opera", a obra-prima do disco. Além da melodia sempre presente em faixas como "Ever Dream" e "Feel for You" ou da pesada "Slaying the Dreamer", Century Child também traz a épica "Beauty of the Beast".
Dream Theater - Six Degrees of Inner Turbulence (37 pontos)
Alissön: A música não dá agrados suficientes que façam o ouvinte se manter atento durante uma hora e meia de um rock progressivo prepotente e que se leva mais a sério do que deveria. Soma-se o fato de que, conceitualmente, o disco passar longe de ser chamativo.
Amanda: Estou ouvindo este álbum desde 2002 e ainda não terminei… Piada velha. Será que ainda funciona? Ok, vamos ao que interessa: músicos brilhantes, eruditos, descaralhantes… No Dream Theater é tudo tão impecável que dá até agonia! Dá sono, na verdade (e que venham os fãs me alvejando em praça pública). Six Degrees of Inner Turbulence, para mim, é mais do mesmo: uma banda com músicos extremamente competentes, fazendo uma música que não me dá tesão. Não tem jeito, não desce. Não dá pra gozar, saca? "Mas você tem que ser imparcial, você tem que analisar a qualidade…" , dirão alguns. No entanto, meus ouvidos respondem: "Sim, os moços são ótimos, mas podiam ser um pouquinho menos repetitivos, não?".
André: Nunca consigo manter uma opinião definitiva quanto a este registro. Já tive momentos que eu amei este álbum, outros em que achava fraco, outros em que o achei pouco inspirado e outros em que o considerei um bom disco. Inclusive tenho este CD. Porém, no momento, digo que é um registro mediano. Gosto muito de toda a saga da cachaça nos álbuns seguintes, iniciada por “The Glass Prison”, minha favorita aqui. Porém, acho que a banda decai muito quando chega nas oito partes da suíte “Six Degrees of Inner Turbulence”, sendo “About to Crash” a única muito boa, até por ter uma pegada mais leve que as demais. Longe de ser unanimidade, este álbum divide muito os fãs.
Bernardo: Chato. Não serve nem pra trilha sonora de mesa de "Mago: A Ascensão".
Christiano: Gosto muito do Dream Theater. Metropolis Pt. 2: Scenes from a Memory (1999) foi o auge da banda após a saída do tecladista Kevin Moore, e um de seus melhores discos. Mas este Six Degrees of Inner Turbulence representa o momento em que começaram a perder o rumo. Tentaram acrescentar elementos de bandas mais pesadas, como Pantera e Metallica, investiram em músicas cada vez maiores (o disco é duplo), mas acabaram soando bastante genéricos. Parece que queriam inovar apenas por inovar, atualizando o som, mas perderam a capacidade de compor boas músicas. É um disco ruim? Claro que não. Mas não merecia estar entre os melhores desse ano.
Davi: Amo Dream Theater, mas nunca consegui gostar muito deste disco. Obviamente, a qualidade de gravação é impecável e o nível técnico dos músicos é de cair de joelhos. Cinco monstros! Mas acho as composições deste álbum bem chatinhas. Primeira bola fora na discografia dos caras...
Diogo: Não dá pra negar: o Dream Theater tem uma grande quantidade de fãs e eles são bem fiéis! Ver Images and Words (1992), Awake (1994) e Metropolis Pt. 2: Scenes From a Memory por aqui não foi nem um pouco surpreendente. Por mais que eu tenha algumas ressalvas, trata-se de bons discos, com algumas composições muito boas e bem trabalhadas, especialmente em se tratando de Awake, grande clássico do grupo para mim. Só que Six Degrees of Inner Turbulence simboliza justamente o momento em que o caldo entornou, o bolo abatumou e o quinteto começou a se perder em meio à própria ambição. A banda tenta ser musicalmente grandiloquente, mas acaba soando cada vez mais enfadonha. Sim, há boas passagens aqui e acolá, especialmente em "The Glass Prison" e nos segmentos da faixa-título intitulados "The Test that Stumped Them All" e "Solitary Shell", mas bah, aguentar a soma de todo o tracklist é um exercício de paciência cada vez mais difícil de fazer. Não estou criticando o álbum por conter denso conteúdo intelectual, longe disso, trata-se de algo que deve ser valorizado. O problema é que o Dream Theater normalmente transmite esse conteúdo de maneira um tanto enfadonha. A banda até ensaiaria uma recuperação no bom Train of Thought (2003), mais direto, pesado e agressivo, mas perderia de vez minha atenção com Octavarium (2005).
Fernando: Aqui é que o caldo entornou! O Dream Theater sempre se utilizou de suas qualidades técnicas para fazer músicas longas, cheias de passagens instrumentais intrincadas etc. Porém, foi com a boa receptividade da faixa-título, com seus mais de 40 minutos, que eles se acharam confortáveis para bater no mesmo tipo de tecla em todos os seus álbuns subsequentes. A megalomania aflorou. “The Glass Prison” é uma das melhores músicas do grupo. Acredito que este foi o último disco em que podemos falar que todas as faixas são legais e marcantes, diferentemente dos seguintes, dos quais podemos tirar apenas uma ou outra.
Flavio: Escolhido como o melhor da minha lista, este disco não é perfeito, mas assim mesmo está longe e muito longe de todo o resto apresentado aqui. Começando pelo disco 1, sim, este é perfeito, não há nada para acrescentar aqui, nem diminuir. "The Glass Prison" é uma porrada na orelha, excelente maneira de começar um álbum, em pensar que o início com o baixo de Myung vai ser complementado com maestria, e que peso da guitarra de Petrucci! Vou escrevendo aqui enquanto ouço a faixa e quando vejo já estamos no final de 13 minutos e qualquer coisa. Como é impressionante quando percebo que 13 minutos agradáveis passam em um segundo... Vamos às outras pérolas: "Blind Faith" (talvez a menos maravilhosa do disco 1) é uma ótima musica, com um refrão “pegajoso”, na melhor característica da palavra. A banda toda está em grande sintonia, e que solo de Petrucci! A seguir vem "Misunderstood", uma das lentas do álbum, trazendo melancolia e elementos alternativos com extremo bom gosto. Posso destacar o vocal dobrado (com Portnoy), a entrada da caixa da bateria, da guitarra pesada (é um feedback distorcido, antes da primeira nota, coisa de gênio) e, por fim, o solo gravado invertido com abundância de efeitos, sensacional. "The Great Debate", no início me lembra Pink Floyd, Queensrÿche e o próprio Dream Theater (de Awake), com as narrativas iniciais até entrar a banda com seu estilo mais definido, novamente totalmente coesa, com passagens à la Rush. Enfim, excelente faixa. Para fechar o disco "Disappear" mostra novamente como a influência melancólica de Radiohead pode ser bem utilizada em uma belíssima faixa e letra maravilhosa em homenagem ao pai de Petrucci, que havia morrido recentemente. Depois de tudo isso ainda tem o disco 2. Precisava, talvez nem precisasse... Bom, ele não é bem no estilo que me faz gostar da banda, uma música com 40 e tantos minutos, dividida em oito partes, em que algumas apresentam excesso de eloquências orquestrais aqui e ali (talvez influência maior de Rudess), mas tem ainda ótimos momentos. Então temos as chatas "Overture" e "Goodnight Kiss", as medianas "About to Crash", "Solitary Shell" (Yes puro), a boa porrada de "War Inside My Head" e o refrão belíssimo de "Losing Time", entre outras. O álbum traz praticamente dois DTs, o primeiro mais aproximado de Awake, que eu adoro e admiro, e o segundo mais na direção do que a banda faz atualmente e anda cada vez mais me afastando dela...
João Renato: Tenho dificuldade para assimilar os clássicos do Dream Theater, imagina os “qualquer”, tipo este aqui.
Leonardo: Como já citei em outras matérias desta série, apesar de não ser um grande apreciador do metal progressivo, alguns discos do Dream Theater são realmente impressionantes, principalmente a dobradinha Images and Words e Awake. Contudo, este Six Degrees of Inner Turbulence não pertence a esse seleto grupo. Duplo, com apenas seis faixas, o álbum é formado por canções cansativas, e é até difícil chegar ao fim da audição do segundo disco. Os músicos são espetaculares, há solos por todos os lados, mas não empolga...
Mairon: Depois do grupo ter se superado em Metropolis Pt. 2, eles tentaram um álbum ainda mais ousado. Do ponto de vista instrumental, tudo praticamente perfeito. John Petrucci está um animal nas seis cordas, seja na guitarra ou no violão (a inspiração nítida em Alex Lifeson na linda introdução de "Misunderstood" é um dos grandes momentos do disco), Jordan Rudess detona com fantásticos solos nos teclados ("Blind Faith") e até Portnoy está tocando muito bem, como na ótima introdução de "The Great Debate", e revela-se um ótimo letrista, ao começar a contar sua luta contra o álcool na ótima "The Glass Prison", cuja introdução parece nos levar para um dos melhores discos do grupo. Porém, quando entra James LaBrie, acaba tudo. A partir deste álbum ficou cada vez mais insuportável aguentar a voz dele, sendo que tive que pular a chatíssima "Disappear". Não sei como o grupo o levou para ser o vocalista com tanto talento na volta. A pomposidade dos 40 e poucos minutos da faixa-título mostra como a megalomania tomou conta dos pensamentos do quinteto, apesar de bons momentos surgirem em "Overture", com elementos que lembram uma suíte orquestral, a velocidade e intrincação de "The Test that Stumped Them All", estragada pelas batidas desconexas de Portnoy, ou na descarada chupação (para uns homenagem) de "And You And I", do Yes, em "Solitary Shell". É um disco regular, até concordo com a entrada dele perto de mediocridades que apareceram por aqui, mas não é nem de perto um top 5 da banda.
Ulisses: Putz, o pessoal aqui que não curte Dream Theater deve ter arrancado as orelhas ao ter de ouvir este colosso de mais de uma hora e meia de duração. Mas não sei como que é um ser humano não gostaria da quebradeira que é a abertura "The Glass Prison", ou de Petrucci e Rudess revezando em "Blind Faith", ou ainda das reflexões do eu-lírico na ótima "Misunderstood". "The Great Debate" é a mais fraca do primeiro CD, e precisava de uma encurtada; por outro lado, os teclados da balada "Disappear" preparam terreno para o segundo CD, uma única composição de 42 minutos divida em oito partes, que é boa do começo ao fim e lida com a temática das doenças mentais; dela, destaco "Goodnight Kiss".
Queens of the Stone Age - Songs for the Deaf (37 pontos)
Alissön: Rock musculoso, encorpado e vigoroso como só a dupla Josh Homme e Dave Grohl sabem fazer. Por conseguir manter a qualidade de ótimos trechos pop com o peso do stoner e a agressividade do hard rock, Songs for the Deaf acaba se tornando um registro único. Apenas ouçam “No One Knows” e comprovem.
Amanda: Não consigo gostar. Já tentei, juro que tentei, mas não consigo. Tentei odiar também, mas não é pra tanto. O Queens of the Stone Age está em um limbo musical para mim. Não fede. Não cheira. Não sinto nada.
André: Aqui sem chances. Tremia quando chegou a vez de ouvir este disco. São bem originais, concordo. Mas como disse a própria banda, as canções aqui são para os surdos e eu não sou um deles.
Bernardo: Legítimo rock pesado dos anos 2000 e um dos melhores discos da década. Setentista, oitentista e noventista na medida certa, cruzando chapação, peso e sujeira com uma acessibilidade pop que muitas bandas stoners mais viscerais não conseguiram reproduzir. "No One Knows", "First It Giveth" e "Go With the Flow" são clássicos recentes do rock, mas o auge da piração talvez sejam "God Is in the Radio" e e "A Song for the Deaf". Obra-prima.
Christiano: Esse disco só não entrou na minha lista porque eu quis colocar algumas coisas que considero mais adequadas para o meu gosto pessoal. No entanto, não tem como negar que é um grande álbum. Há muito tempo não dava a devida atenção para o QOTSA. Acho que sempre esperei um som mais na linha do Kyuss. Confesso que fiquei surpreso ao escutar novamente este Songs for the Deaf, um disco em sintonia com o seu tempo, com uma sonoridade bastante característica e original. Músicas como “No One Knows”, “The Sky Is Fallin” e “Hanging Tree” já valem o disco, que é recheado de ótimas composições. Além de ser um disco muito bom, conta ainda com a presença do talentoso Mark Lanegan (Screaming Trees, Mad Season, Soulsavers) como vocalista e compositor em algumas faixas. Achei muito merecida a presença na lista.
Davi: O terceiro álbum do Queens of the Stone Age é bem variado. Traz melodias pop, a sujeira do alternativo, o som mais viajadão, tudo misturado na dose certa. Dave Grohl se destaca com um trabalho de bateria extremamente criativo. Josh Homme não possui uma extensão vocal absurda, mas sabe fazer uso da voz que tem. O trabalho de guitarra também é bem cativante. Ótimo disco! Faixas de destaque: “First It Giveth”, “Go With the Flow”, “Do It Again”, “No One Knows” e “Gods in the Radio”.
Diogo: Vá lá, não simpatizo muito com a banda nem com os rótulos a ela colados, mas o disco é bom sim. É bem mais criativo do que quase tudo aquilo denominado como stoner que eu ouvi, assim como a pecha de "alternativo" citada por muitos não significa aquele clássico porre que te deixa com gosto de cabo de guarda-chuva na boca. Em meio a uma época em que bandas como The Strokes, The Hives, The Vines e The Libertines tinham destaque no mainstream, o QOTSA representava algo bem mais "real". A estética do grupo não é lá muito do meu agrado, incluindo as timbragens e toda a aura vintage, mas seu tom semiconceitual funciona, transportando o ouvinte em uma jornada pelo deserto do Sul da Califórnia com várias canções envolventes, que vão bem além do bom hit "No One Knows". "First It Giveth" é provavelmente a melhor delas. Alguns momentos, porém, são bem pouco memoráveis.
Fernando: Quando a banda surgiu eu não entendi o hype sobre ela. Ouvi o som e não curti muito. A apresentação no Rock in Rio 3 acabou me afastando de vez. Depois que Josh Homme juntou-se a Dave Grohl e John Paul Jones no Them Crooked Vultures eu me interessei novamente, mas logo me afastei de novo. Ou seja, ouvi e não gostei.
Flavio: Nunca fui fã do tal rock alternativo e suas vertentes, mas aqui a banda supostamente traz influências diversas, assim foi me dito. Bom, ao ouvir o aclamado Songs for the Deaf, entendo que não vai me fazer diferença investir na carreira da banda. A não ser que ela apareça por aqui novamente, não, definitivamente, não vou continuar a tentar apreciar. O disco traz um rock básico, com alguns pontos de mistura, como na tentativa de emulação progressiva temática de uma rádio na entrada de várias músicas. Tá, não dá para dizer que o álbum é insuportável, não é realmente, mas não agrega muito a quem espera algo novo e significativo. Uns tecladinhos retrô aqui e ali, overdrive no baixo, efeitos fuzz nas guitarras e um vocal comum, enfim, uma série de efeitos vintage na tentativa de emular um pseudo anos 1970 em plenos anos 2000. Gostei um pouquinho do clima em "God Is in the Radio" (nada de mais), de momentos da faixa-título (a “alternativa” mais pesadinha), com as dobras de guitarra, e achei bem chatas as consagradas "No One Knows" e "Go With the Flow" (tecladinho perturbador). E o que falar do horrível vibrato na entrada da “alegrinha” "Another Love Song"? Um disco bom para quem se contenta com pouco...
João Renato: Gosto da maneira como foi construído, com interlúdios bem interessantes. A presença de Dave Grohl também ajudou a chamar atenção. Apesar de o QOTSA não ser exatamente o que as pessoas consideram acessível, este é o disco que melhor se encaixa nessa característica.
Leonardo: Ouvi o disco quando saiu, e achei insuportável. Ouvi-o mais uma vez para esta matéria, e soou pior...
Mairon: O disco que levou Dave Grohl para o QOTSA . A banda fez sucesso por aqui com o show do Rock in Rio 2001, quando o baixista Nick Olivieri ficou peladão no palco Mundo. Confesso que esperava outra coisa do disco, e não estou dizendo que ele seja ruim. A banda traz punk pesado com vocais distorcidos na faixa-título, "You Think I Ain't Worth a Dollar, But I Feel Like a Millionaire", "Another Love Song" e "Hangin' Tree", que não sei por que me lembraram um pouco MC5; e rock tipo Strokes em "No One Knows" e "Go With the Flow", que tocaram bastante nas rádios. Achei interessante a proposta de variações em "God Is in the Radio", "A Song for the Deaf" e "First It Giveth", e não tive como resistir aos violões e cordas em "Mosquito Song". Admito que gostei do álbum, do qual só conhecia as que tocaram na rádio. Não sei se é uma boa escolha para os dez melhores, mas foi interessante ouvir este disco.
Ulisses: Riffs hipnoticamente fodas inseridos em composições insossas e cansativas, misturando rock, alternativo, stoner e pop de uma maneira que funciona em poucos momentos. As melhorzinhas são "First It Giveth", "A Song for the Dead", "Go With the Flow" e "Another Love Song". A performance de Dave Grohl, sempre ótimo, merece uma conferida. Já tentei várias vezes gostar do QOTSA, mas não dá...
Immortal - Sons of Northern Darkness (36 pontos)
Alissön: De Pure Holocaust (1993) até Sons of Northern Darkness, é tudo o que de mais influente foi registrado em se tratando de black metal. Tudo bem que o Immortal é a banda dos memes, mas seus registros apavoram. Este em específico apresenta um som mais compacto e uma produção maravilhosa. Riffs inspiradíssimos e certos trejeitos de thrash metal tornam esta uma peça única na carreira do Immortal e um disco essencial do estilo.
Amanda: "Um delicioso passeio ao inferno, segurando na mão dos nossos próprios demônios", é isso que penso quando escuto Sons of Northern Darkness. E eu gosto bastante disso. Destaque para "Tyrants", puta som!
André: Black metal. E quase tudo o que não curto no estilo. Deixo para os caras que gostam comentarem aqui. O quase, porém, fica por conta dos solos de guitarra de Abbath. Todos muito bons.
Bernardo: Sinistro e esquecível como grande parte das bandas de black metal.
Christiano: Não é o tipo de som que me agrada, mas eu escutei. Tentei entender o motivo de ter entrado nesta lista. É bem produzido. As músicas são rápidas e bem executadas. E aí? E aí nada. Fica por isso mesmo. É aquele black/death metal com blast beats na velocidade da luz, mas estranhamente sem peso e genérico. Um disco que parece ter sido feito no esquema de linha de produção: tudo bem encaixado, mas sem nenhum diferencial. Talvez o grande destaque seja o vocalista/guitarrista Abbath, que se tornou um personagem cômico por conta das fotos e vídeos em que aparece montado de “black metal texugo”.
Davi: Em vários momentos deste disco tive a impressão de ter ouvido o barulho de uma britadeira. Não era, era o baterista. Também tive a impressão de ouvir um garoto querendo vomitar e não conseguindo. Não era, era o maluco cantando. Meu Deus, que troço chato! Nem a mãe deles os aguenta.
Diogo: Sons of Northern Darkness é, disparado, o melhor disco presente nesta lista. Leitores, não deem bola para meus colegas que não têm o mínimo interesse em compreender o metal extremo e suas nuances e prestem atenção no que tenho para lhes dizer: não é preciso treinar muito os ouvidos para perceber que o black metal, longe do que muitos pensam, tem sim dimensionalidade e não é apenas cartilhesco. Da mesma maneira que Immortal, Darkthrone, Mayhem, Emperor, Satyricon e Burzum são donos de sonoridades distintas (isso para ficar apenas nos noruegueses), os próprios discos do Immortal têm personalidades distintas. Battles in the North (1995), por exemplo, difere muito deste Sons of Northern Darkness, uma obra bem mais variada e eclética, adicionando muito thrash metal em seu tracklist, assim como heavy metal mais tradicional e uma atmosfera épica que remete à fase viking do Bathory. O resultado é um álbum que alterna com harmonia e coesão riffs cadenciados, blast beats, bases cortantes, melodia, rispidez e aquela sonoridade gélida aperfeiçoada ao lado do produtor Peter Tägtgren, que construiu, desde o estupendo At the Heart of Winter (1999), uma parceria que elevou o Immortal à posição de melhor formação do estilo em sua época. Aliás, difícil é decidir qual dois dois é o melhor, se Winter ou Darkness. Todas as faixas merecem destaque, mas se quiser ter uma ideia mais apurada daquilo que tentei definir, ouça primeiramente "Tyrants", "One By One", "In My Kingdom Cold" e a absurda "Beyond the North Waves". Ah, as poses de Abbath são cômicas e a internet está lotada de referências gozadinhas ao grupo? Amigo, confira no restante desta edição os discos da turma que se leva a sério: vai por mim, nenhum chega aos pés.
Fernando: Tenho os dois discos solos dos componentes do Immortal, os bons March of the Norse (2011), do Demonaz, e o autointitulado do Abbath (2016). Gosto de At the Heart of Winter, mas não curti tanto Sons of Nothern Darkness quanto os citados. Creio que com mais algumas audições ele possa crescer aos meus ouvidos.
Flavio: Cinquenta minutos permeados de uma britadeira na bateria e um vocal insuportável em 100% das inserções apagam as tentativas de entender um instrumental que parece ser de bom nível; preciso falar mais? Me desculpem, o melhor disparado foi o alívio quando os tais minutos terminam...
João Renato: Um passo adiante em comparação a Damned in Black (2000) em termos de sonoridade. Um passo atrás em termos de qualidade. Ainda bom, mas prefiro a pegada do anterior.
Leonardo: O melhor disco da carreira dos noruegueses. Mantendo a rispidez e a aura negra de seus primeiros discos, mas adicionando um pouco mais de melodia e influências do thrash metal ao sem som, o grupo lançou um dos melhores discos de black metal deste milênio. Não tem nem como destacar alguma faixa; excelente do início ao fim.
Mairon: Vocal cuspido, instrumental meia-boca e uma das preferências pessoais do organizador da série. Sugiro impeachment de metade dos consultores que ajudaram o Diogo a eleger esta porcaria e tiraram um dos melhores discos de David Bowie pós-anos 1980.
Ulisses: Cada vez que a Consultoria me obriga a ouvir um disco de black metal, o universo joga um cara ou coroa e decide se eu vou gostar dele ou não. Neste caso, o resultado foi negativo. As faixas trazem o template básico do estilo e variam entre o cadenciado e o veloz, mas não empolgam, salvo em alguns breves momentos, como a segunda metade de "One By One". Só não faz dormir porque o zumbido da guitarra não deixa.
Rage - Unity (33 pontos)
Alissön: Quando um disco é padrão demais, dizer algo sobre o mesmo é uma tarefa muito penosa. Não me senti atraído momento algum pelo que tocava. Por se tratar de um trio, os discos do Rage acabam ganhando um vigor interessante, como se houvesse mais autenticidade e espontaneidade no que estão executando, ao contrário se fossem seis caras entupindo o registro com trilhas de guitarras e teclados desnecessários. Ainda assim, mesmo levemente interessante, não engatou o suficiente para me deixar interessado.
Amanda: Não tentaram reinventar a roda, e acho que nem queriam isso. Unity é bacaninha. Longe de ser genial, mas fazem o trabalho direitinho. No entanto, certamente eu colocaria 1919 Eternal, do Black Label Society, no lugar dele.
André: Surpreendente entrada do Rage na lista. O disco anterior, Welcome to the Other Side (2001), teve a melhor formação do Rage – com Wagner, Smolski e Terrana – que durou até Speak of the Dead (2006), de longe o melhor álbum deles. Apesar do power metal como base, o Rage sempre soou mais pesado e focado nas guitarras, sempre ficando no limiar que de vez em quando ultrapassava até chegar no heavy tradicional e no thrash. E eu aqui me divertindo com “All I Want”, “Seven Deadly Sins” e “Unity” (essa última, por sinal, com um quê de metal progressivo). Ainda acho que vocês todos aí deveriam dar uma chance à banda.
Bernardo: Não se deixe enganar: a capa pode parecer de um jogo ruim dos anos 1990, mas é de um disco ruim dos anos 2000.
Christiano: Isso é sério? Vocês colocaram isso como um dos melhores discos do ano? Difícil alguma coisa ser tão genérica e meia boca. Um amontoado de músicas construídas sobre os clichês mais ordinários do power metal. Não tem nada memorável aqui. Eu tentei escutar o álbum inteiro, mas me faltou paciência. Bumbos duplos por todos os lados, músicas “retas” e cansativas. Entendo que gosto é uma coisa muito subjetiva, mas colocar um disco entre os melhores do ano...
Davi: Trabalho bem legal do Rage. Não conheço todos os seus discos, mas entre todos que escutei, os que mais gosto são XIII (1998) e este. Pesado e melódico. Trabalho de bateria destruidor (salve Mike Terrana), excelentes riffs de guitarra, bom trabalho vocal. O disco até tem alguns fillers, mas tem bastante música foda, como “All I Want”, “Seven Deadly Sins”, “Living My Dream” e “Set this World On Fire”. Bacana.
Diogo: Eu até considero o Rage uma banda que merece ser melhor explorada por mim, mas a começar por seus discos mais antigos, pois este Unity não bateu muito bem. As músicas são extremamente bem tocadas e algumas até chegam a empolgar, como a faixa-título e "All I Want", só que eu sinto que falta raça, sangue no olho. Sei que se trata de conceitos abstratos, mas são justamente coisas assim que me fazem gostar muito mais, por exemplo, do Running Wild do que daquilo que já ouvi do Rage, comparando dois contemporâneos alemães de estilos um tanto semelhantes. Mike Terrana é um baterista absurdo, Victor Smolski esmerilha na guitarra e Peavy Wagner conduz o baixo com muita segurança, mas o power metal do grupo me soa muito limpo e sem muitos momentos marcantes, com algumas exceções que não compensam. Além disso, o vocal de Peavy também não é muito do meu agrado, tanto no timbre quanto nas melodias. Inclusive, consigo imaginar Rolf Kasparek (Running Wild) colocando vocais em algumas das canções e tornando-as bem mais interessantes com seu jeito menos técnico, porém bem mais divertido.
Fernando: O Rage é uma daquelas bandas que você sabe que são legais, mas a carreira deles é tão grande que acaba dando uma certa preguiça de ouvir. Gosto bastante dos discos que tenho deles, mas nunca havia ouvido Unity e por isso nem cheguei a considerá-lo para a minha lista. Por coincidência, comprei o álbum e o recebi praticamente no mesmo dia em que recebi o resultado da nossa votação. Pelo pouco que o ouvi, já senti que tem potencial para ser um daqueles que ficará dias sem sair do aparelho de som.
Flavio: Um disco que esteve muito perto de aparecer na minha lista. O Rage faz um trabalho excelente, principalmente na parte instrumental. Todos os três músicos são exímios nos seus respectivos instrumentos. Ccomo grande destaque da bolacha posso elencar disparado a faixa-título instrumental, a última. O que não me traz diferencial é a melodia vocal. Vou deixar claro que o timbre do vocalista baixista Peter Wagner está no limite para o agradável, mas por várias vezes parece que o instrumental está em um nível bem acima das composições vocais. Como exemplo posso citar o refrão comercial da primeira faixa, destoando do restante da música. Um disco interessante no qual posso destacar (além da performance instrumental da faixa-título) a porrada de "Living My Dreams" (apesar de um tecladinho chato no refrão).
João Renato: A afirmação do line-up mais técnico do Rage, que passava a ser uma banda multinacional. Músicas marcantes e execução acima de qualquer suspeita. O que só melhoraria no passo seguinte.
Leonardo: Muito se fala sobre a “morte” do heavy metal nos anos 1990/2000. Mas esquecem como a cena europeia, principalmente a alemã, estava efervescendo na época. Com uma carreira já estabelecida, o Rage passou por uma drástica mudança de formação em 2001, com a adição dos virtuosos Mike Terrana (bateria) e Victor Smolski (guitarra). Com essa formação, o grupo lançou o ótimo Welcome to the Other Side no mesmo ano, e em 2002 o ainda melhor Unity. Deixando de lado os experimentos sinfônicos, o grupo apostou em um heavy metal que beirava o thrash, mas repleto de riffs, solos e refrãos marcantes.
Mairon: O Rage tem ótimos discos e outros nem tanto. Unity, o 15º, para mim é mediano, e não consegui sequer cogitá-lo para entrar na minha lista. Gosto da banda, principalmente da guitarra de Victor Smolski e da bateria endiabrada de Mike Terrana, mas acho que o grupo não conseguiu fazer no álbum algo tão poderoso no vocal quanto é instrumentalmente, como em "Insanity" e "Living My Dream", em que o refrão chega a ser vergonhoso. Uma banda com a experiência que tinha podia ter feito algo muito mais interessante. Se for para destacar alguma faixa, chamo a atenção para o coral em "Dies Iræ" e a beleza instrumental da faixa-título. Para mim, demoraria quatro anos até o Rage fazer um álbum digno de top 10, ou melhor, digno de top 3 (no mínimo), mas se você quer conhecer algo anterior, pegue XIII ou Lingua Mortis (1996), esses também muito bons. Agora, fica o desabafo: "É vexatória a predominância metálica nessas listas!!!".
Ulisses: Power metal germânico com aquele vocal rasgado e pegada um pouco thrash, sempre veloz e animada. Mas que não escapa de ficar por isso mesmo. A proficiência do trio em seus instrumentos dá vida a alguns momentos empolgantes e intrincados, mas as composições, no geral, não fascinam, figurando o tipo de disco que eu denomino "tô raso, tô fundo": chamativo e bem tocado, mas que não desperta maior afeição. Ainda assim, destaco a performance do guitarrista Victor Smolski, que sabe como exibir seu alcance técnico sem ficar enrolando demais. Do tracklist, "Dies Iræ" é de longe a melhor, trazendo um coral operístico que funcionou muito bem; se o disco fosse todo no estilo dessa faixa, com certeza teria gostado.
Spock's Beard - Snow (25 pontos) *
Alissön: Tenho muito amor à vida e, portanto, sempre tento administrar bem meu tempo. Por isso, não passei de 30 minutos de audição. Progressivo estéril com estruturas AOR mais estéreis ainda. É disco pra fã die hard de progressivo em toda sua exuberância e chatice, e esse não é meu caso.
Amanda: A verdade é que não sou muito fã de prog e nem conhecia este álbum, mas gostei bastante. Mais do que eu imaginava que poderia gostar, diga-se de passagem.
André: Assim como o Porcupine Tree, também gostei do que já ouvi do Spock’s Beard, embora ainda me faltem muitos discos deles. Já havia ouvido Snow há muito tempo e foi ótimo reouvir este trabalho para a série. É um daqueles rocks progressivos com um jeitão mais acessível e uma bem vinda veia pop que deixa a audição bem agradável no decorrer das canções. “Devil’s Got My Throat”, por exemplo, tem lindos solos de hammond, coisa que era bem mais comum nas bandas setentistas. Só é um tanto bizarro o conceito dele, tratando da história de um albino com o poder de ler mentes. Porém, essa nova audição só me deu a certeza que meu voto de desempate a favor dele foi a melhor coisa que fiz.
Bernardo: Mais prog. Cês não cansam não? VAI OUVIR UNS PAGODÃO JOVEM.
Christiano: Uma banda interessante, mas que pecou pelo excesso neste disco. Um álbum duplo que poderia ter sido reduzido a um simples, evitando repetições desnecessárias. Confesso que não simpatizo com os vocais de Neal Morse. Por isso, prefiro os discos posteriores a Snow, com o ótimo Nick D'Virgilio acumulando as funções de vocalista e baterista. Claro que temos bons momentos, como “Stranger in a Stranger Land” e “Wind at My Back”, entre outras. Mas isso aqui é uma lista dos melhores do ano, o que não é o caso deste Snow.
Davi: Este álbum entrou na prorrogação. Tivemos vários empates nesta posição e precisamos votar em um deles. Fui um dos que votaram no álbum do Spock's Beard. Não é meu favorito dos rapazes, mas, sem dúvida, é um bom disco. Trabalho conceitual, muito bem feito, que marca o fim da colaboração de Neal Morse com o conjunto. A banda sempre foi progressiva, mas nunca colocou a técnica acima da melodia na hora da criação. Inclusive, em vários momentos, como na balada “Open Wide the Flood Gates”, soam pop. Já “Long Time Suffering” deixa escancarada a influência de Yes, enquanto músicas como “4th of July” trazem um ar beatle (reparem na construção dos backing vocals). O álbum é duplo e, sinceramente, acho que o nível cai um pouco no segundo disco. De todo modo, entre os álbuns progressivos que aparecem nesta lista, este é o meu preferido.
Diogo: Ao contrário do Porcupine Tree, o Spock's Beard tem os olhos bem fixos no passado. Isso não é necessariamente ruim, mas é fato que nenhuma banda prog surgida nos anos 1990 e encaixada nessa definição me cativou tanto quanto os bons grupos do gênero formados entre o final da década de 1960 e o início da seguinte. Quem chegou mais perto disso foi o Anekdoten, com Vemod (1993). Foi tentador, inclusive, escrever meu comentário sem ter ouvido Snow na íntegra, tão cansativa estava sendo sua longa audição. Sei que se trata de um tipo de obra que merece mais escutadas para que seja devidamente absorvida, mas desta vez isso não foi possível. Foi justamente quando a banda soou mais pop rock que experimentei algum prazer em ouvi-la, por isso elenco "Open Wide the Flood Gates" e Looking for Answers" como destaques. Mérito também para o tecladista Ryo Okumoto, que executa ótimos solos que honram as influências do grupo e tornam algumas músicas mais interessantes.
Fernando: Já escrevi sobre este disco aqui para a Consultoria do Rock. Portanto já fiz todos os elogios que este grande álbum merece. Ele só acabou entrando por critérios de desempate. Mesmo que os outros que estavam disputando esta posição com ele sejam álbuns interessantes, nenhum deles se compara a este aqui. Foi através dele que descobri que o rock progressivo estava vivo na atualidade (conheci a banda e o disco na época de seu lançamento) e não era um privilégio dos dinossauros setentistas.
Flavio: Contando ainda com as composições de Neal Morse (que saiu logo em seguida ao lançamento), Snow mantém o estilo consagrado da banda, que era baseado fortemente em seu líder (Neal) à epoca. Com músicos muito competentes, o disco é bem agradável de ouvir, muito bem tocado, porém peca em não ter um grande destaque de composição. Sinto um pouco da falta de mistura com elementos mais pesados, mas isso é plenamente justificável, pois o estilo desejado aqui é realmente estar ligado ao rock progressivo dos anos 1970, com leves pitadas mais modernas, compatíveis com os anos 2000. Há alguns momentos que me agradam um pouco menos, principalmente em partes mais acústicas e lentas e também nas mistura vocais exageradas (não acho que Neal tem um timbre tão agradável assim), notada, por exemplo em "Devil's Got My Throat" e "Carrie". Em compensação, há momentos bem legais, como no início do disco 2, em "Second Overture", com uso de efeitos no baixo (wah wah, talvez) em boa convenção com a bateria. Enfim, o Spock's Beard faz em Snow um firme trabalho de rock progressivo, sem grandes destaques e portanto distante de uma lista de melhores do ano.
João Renato: Apesar de entender que era necessário ser assim, discos com tamanha duração me entediam facilmente. Bons momentos, porém, cansa.
Leonardo: Disco conceitual duplo de rock progressivo. Tem tudo para ser chato. E é. Confesso que há algumas canções com apelo e melodias pop que são interessantes, mas se perdem no meio de tanto material medíocre...
Mairon: Disco longo e cansativo, com alguns bons momentos, como as presenças do saxofone em "Overture", uma ótima faixa de abertura, aliás, algumas passagens de teclados aqui e acolá ("Devil's Got My Throat", "All Is Vanity" e principalmente a emulação de Keith Emerson em "Ladies and Gentlemen, Mister Ryo Okumoto on the Keyboards"), mas o brabo é que não consigo gostar dos vocais sussurrados do Neal Morse. Quase duas horas de audição então torna o álbum ainda mais maçante. Não consegui captar o "conceito" do disco, e lendo o belo texto escrito pelo Bueno tive ainda mais a sensação de como ele é estranho, confuso e mal construído (é um Tommy beeem piorado e com um fim no mínimo esquisito). Bueno que, aliás, deve ter sido o único responsável por esta atrocidade ter tirado David Bowie dos dez mais, já que eles ficaram empatados com indicações únicas. Sugiro uma CPI para analisar a compra de votos por parte do rondoniense Bueno, e sugiro também que você passe longe desta chatice sem tamanho.
Ulisses: Snow é um tanto mediano. Mas isso se dá por sua extensão, pois é um álbum duplo, em que joias musicais acabam sendo afogadas por composições sem vida ("fillers"), com pretensões de um pop sinfônico genérico. Faixas como "Long Time Suffering", "Welcome to NYC", "Devil's Got My Throat" e "All Is Vanity" (a melhor) seriam os melhores momentos de um CD único. Mas, do jeito que está, é chato e cansativo.
* Snow (Spock's Beard) ficou empatado com Yanqui U.X.O. (Godspeed You! Black Emperor), 1919 Eternal (Black Label Society), The Rising (Bruce Springsteen), Natural Born Chaos (Soilwork), Damage Done (Dark Tranquility) e Heathen (David Bowie), todos com 25 pontos. Como não foi possível aplicar nenhum critério de desempate, a decisão a respeito do décimo colocado foi tomada através de uma enquete na qual participaram todos os colaboradores da série.
Listas individuais
Alissön Caetano Neves
- Godspeed You! Black Emperor – Yanqui U.X.O.
- Isis – Oceanic
- Arcturus – The Sham Mirrors
- Agalloch – The Mantle
- Racionais MC’s – Nada Como Um Dia Após o Outro Dia
- Boris – Heavy Rocks
- Mastodon – Remission
- DJ Shadow – The Private Press
- Reverend Bizarre – In the Rectory of the Bizarre Reverend
- Tom Waits – Alice
Amanda Cipullo
- Black Label Society – 1919 Eternal
- Porcupine Tree – In Absentia
- Santana – Shaman
- Bad Religion – The Process of Belief
- Opeth – Deliverance
- Dave Matthews Band – Busted Stuff
- Bon Jovi – Bounce
- Nightwish – Century Child
- Disturbed – Believe
- Fear Factory – Concrete
André Kaminski
- Shaman – Ritual
- Nightwish – Century Child
- Star One – Space Metal
- Barry Goldberg – Stoned Again
- The Black Keys – The Big Come Up
- Uzva – Niittoaika
- Pagan’s Mind – Celestial Entrance
- Thyrfing – Vansinnesvisor
- Paatos – Timeloss
- Skyclad – No Daylights Nor Heeltaps
Bernardo Brum
- Queens of the Stone Age – Songs for the Deaf
- Tom Waits – Blood Money
- Tom Waits – Alice
- Racionais MC’s – Nada Como Um Dia Após o Outro Dia
- The Flaming Lips – Yoshimi Battles the Pink Robots
- Beck – Sea Change
- Eminem – The Eminem Show
- Red Hot Chili Peppers – By the Way
- Interpol – Turn On the Bright Lights
- Broken Social Scene – You Forgot It in People
Christiano Almeida
- Porcupine Tree – In Absentia
- The Coral – The Coral
- Karmakanic – Entering the Spectra
- Pearl Jam – Riot Act
- Coldplay – A Rush of Blood to the Head
- Opeth – Deliverance
- Interpol – Turn On the Bright Lights
- System of a Down – Steal This Album!
- Threshold – Critical Mass
- Paatos – Timeloss
Davi Pascale
- Audioslave – Audioslave
- Christina Aguilera – Stripped
- Capital Inicial – Rosas e Vinho Tinto
- Queens of the Stone Age – Songs for the Deaf
- The Donnas – Spend the Night
- Nightwish – Century Child
- Coldplay – A Rush of Blood to the Head
- Norah Jones – Come Away With Me
- George Harrison – Brainwashed
- Oasis – Heathen Chemistry
Diogo Bizotto
- Bruce Springsteen – The Rising
- Immortal – Sons of Northern Darkness
- Bon Jovi – Bounce
- Harem Scarem – Weight of the World
- Audioslave – Audioslave
- System of a Down – Steal This Album!
- Dokken – Long Way Home
- Richie Kotzen – Slow
- Krux – Krux
- Nile – In Their Darkened Shrines
Fernando Bueno
- Spock’s Beard – Snow
- Porcupine Tree – In Absentia
- Rush – Vapor Trails
- Tobias Sammet's Avantasia – The Metal Opera Pt. II
- Dream Theater – Six Degrees of Inner Turbulence
- Virgo – Virgo
- Pain of Salvation – Remedy Lane
- Audioslave – Audioslave
- Coldplay – A Rush of Blood to the Head
- Spiritual Beggars – On Fire
Flavio Pontes
- Dream Theater – Six Degrees of Inner Turbulence
- Rush – Vapor Trails
- Audioslave – Audioslave
- Symphony X – The Odissey
- Norah Jones – Come Away With Me
- Santana – Shaman
- W.A.S.P. – Dying for the World
- Jerry Cantrell – Degradation Trip
- Lacuna Coil – Comalies
- Fozzy – Happenstance
João Renato Alves
- Soilwork – Natural Born Chaos
- Rage – Unity
- Dream Evil – Dragonslayer
- Lordi – Get Heavy
- Sammy Hagar – Not 4 Sale
- Star One – Space Metal
- Halford – Crucible
- Sentenced – The Cold White Light
- Harem Scarem – Weight of the World
- The Hellacopters – By the Grace of God
Leonardo Castro
- Dark Tranquility – Damage Done
- Immortal – Sons of Northern Darkness
- Rage – Unity
- Sentenced – The Cold White Light
- Warlord – Rising Out of the Ashes
- Thyrfing – Vansinnesvisor
- Primordial – Storm Before Calm
- Blaze – Tenth Dimension
- Shaman – Ritual
- Dream Evil – Dragonslayer
Mairon Machado
- David Bowie – Heathen
- Hughes Turner Project – HTP
- Rush – Vapor Trails
- Octophera – Bons Amigos
- Acid Mothers Temple & The Melting Paraiso U.F.O. – Univers Zen ou de Zéro à Zéro
- Dave Matthews Band – Busted Stuff
- UFO – Sharks
- Jorma Kaukonen – Blue Country Heart
- Red Hot Chili Peppers – By the Way
- The Flaming Lips – Yoshimi Battles the Pink Robots
Ulisses Macedo
- Shaman – Ritual
- Tuatha de Danann – The Delirium Has Just Began…
- Blaze – Tenth Dimension
- Otep – Sevas Tra
- Disturbed – Believe
- Nightwish – Century Child
- Jeremy Soule – Neverwinter Nights (Trilha Sonora Original)
- Symphony X – The Odissey
- Dream Theater – Six Degrees of Inner Turbulence
- Sirenia – At Sixes and Sevens
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