quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

Led Zeppelin - Parte III


O acidente de Plant em agosto de 1975 gerou graves transtornos para o Led Zeppelin. O cancelamento das turnês europeias, asiáticas e americana foi apenas o primeiro problema. Apesar de Plant ter sido liberado dias depois do hospital, ele ficou impossibilitado de andar durante seis meses, sendo que não havia garantias de total recuperação do vocalista. 

Porém, em setembro, apenas um mês depois, o vocalista estava animado para começar as atividades, passando a compor ao lado de Page. Para isso, a dupla mudou-se para Malibu. Esse período nos Estados Unidos acabou sendo retratado nas letras do sétimo disco do grupo. Assim, partem para o Musicland Studios, na Alemanha, onde em apenas 18 dias, concluíram o processo de gravação e mixagem. 

Presence, crueza que foi eleita por Page o melhor disco do Led
No dia de março de 1976, Presence foi lançado. Esse foi o álbum mais interessante de toda a história do Led, pois nele, a crueza está transbordando em cada segundo do vinil. Não há teclados, violões, orquestrações ou muitos overdubs. É como se o álbum tivesse sido gravado ao vivo no estúdio, apenas com voz, guitarra, baixo e bateria. Apesar de Plant ter gravado todos os vocais em cima de uma cadeira de rodas, ele faz uma performance impecável. 

O álbum abre com uma canção que é forte concorrente a melhor de todas, chamada “Achilles Last Stand”. Com mais de dez minutos de duração, esse grande épico narra sobre a necessidade da banda viver trocando de cidades, principalmente devido aos altos impostos do governo inglês. O dedilhado das guitarras sobrepostas abre a canção, trazendo Bonham, Jones e o riff  principal. Jones mostra ao mundo o poder de um baixo cavalgante, e Plant passa a cantar, com Page fazendo intervenções aleatórias em cima dos mesmos acordes. O riff principal é repetido, com Bonham fazendo pequenos rolos, e a letra continua, sempre com o martelante baixo de Jones e as intervenções de Page.

Repentinamente, um riff marcado de baixo e guitarra mudam a canção, trazendo uma linda melodia das guitarras sobrepostas, que leva ao riff principal novamente, para Plant continuar a letra da canção. Um pequeno tema de guitarra, e mais uma estrofe da letra, levam ao tema marcado de baixo e guitarra, entre vocalizações de Plant, chegando no arrepiante solo de Page, elaborado sobre a linda melodia das guitarras sobrepostas, o a companhamento do baixo e também um tema marcado entre baixo, guitarra e bateria. A melodia exalada pelas cordas da Les Paul de Page é um dos ápices de sua carreira, duelando com o solo de "Since I've Been Loving You" e "Stairway to Heaven".

Chegamos na metade da canção, que retorna ao riff inicial, com o baixo cavalgante de Jones e as viradas de Bonham destacando-se ainda mais entre a letra de Plant. Page cria um novo riff, desta vez, utilizando-se de três gutiarras diferentes, e Plant canta a letra sobre esse novo riff, enquanto Jones e Bonham mantém a sequência "cavalgante", até Plant soltar vocalizações sobre a linda melodia da guitarra, com Bonham e Jones fazendo a marcação entre o dedilhado da gutiarra e as vocalizações de Plant.

Bateria, guitarra e baixo fazem o tema marcado, trazendo mais um tema de guitarras sobrepostas, com Page usando o slide, voltando então ao riff principal, carregado de peso, onde guitarra e vocalizações duelam, como nos tempos iniciais do Led. Essa parte da canção é intercalada por mais uma participação do lindo tema da guitarra, com Plant fazendo muitas vocalizações, chegando ao solo final de Page, onde, sobre o tema marcado de guitarra, baixo e bateria, ele sobrepõe guitarras que agonizam entre uma caixa de som e outra, para concluir essa pérola zeppeliana com o riff principal e muitas vocalizações de Plant que somente por essa canção de mais de dez minutos, já valeriam o LP, encerrando então com o dedilhado inicial.

Porém, outras belas canções estão em Presence, como é o caso da sequência de "Achilles Last Stand", com o bluesão cru de "For Your Life", cuja introdução traz o tema marcado de baixo e guitarra, acompanhados suavemente pela bateria. Baixo e guitarra carregam a canção, fazendo sempre o mesmo tema, enquanto Plant solta a voz, em um blues singelo e dançante, destacando o uso do slide por Page.

A letra segue após um pequeno trecho instrumental, com Page e Jones executando com perfeição sempre as mesmas notas, levando então ao segundo tema da canção, onde inicialmente, baixo e guitarra fazem as mesmas notas marcadas, diferentes do riff inicial, e depois, ainda tocando as mesmas notas, criam uma escala regressiva, com Plant fazendo algumas vocalizações. A canção então ganha um certo swing, e Plant continua a letra. Page agora usa a alavanca para fazer alguns efeitos, retornando então ao tema regressivo, chegando ao solo de Page, carregado de bends e arpejos e feito sobre a levada swingada da terceira parte da canção. Plant canta as últimas estrofes da letra, concluindo com o nome da canção sendo entoado por duas vezes.

O lado A encerra-se com a curta "Royal Orleans", que conta os dias do grupo no Royal Hotel, em New Orleans, durante a turnê de Houses of the Holy. Esta é outra canção com destaque para o tema marcado feito por baixo e guitarra, porém bem mais swingada do que sua antecessora. Destaque principal par ao ritmo das guitarras sobrepostas de Page e claro, para a participação precisa de Jones e Bonham, acompanhando com muita ginga as vocalizações de Plant. O solo de Page, carregado de efeitos, dá indícios do que estava por aparecer no som do Led nos anos futuros. Uma sessão percussiva surge no meio da canção, retomando ao início swingado para concluir uma boa faixa, mas que comparada à pedrada de "Achilles Last Stand", ou a leveza de "For Your Life", serve realmente como complemento de um lado A magistral;

Capa interna de Presence
O lado B abre com o bluezão-psicodélico de "Nobody's Fault but Mine", onde logo na introdução, Page utiliza de efeitos na guitarra para criar o riff inicial, feito ao lado das vocalizações de Plant. Jones e Bonham surgem após cinco repetições desse tema inicial, apresentando o dançante blues, cantado por Plant com muito tesão e fúria. Após a primeira estrofe, um breve momento a capela de Plant, cantando o nome da canção. A sequência é repetida, voltando então ao riff inicial da guitarra, dessa vez com intervenções marcadas de baixo e guitarra, que levam para o belo solo de harmônica feito por Plant, algo que não ouvíamos há algum tempo nos álbuns do Led.

A letra é retomada, sempre com os momentos para Plant brilhar sozinho, e mais duas estrofes são cantadas, levando ao solo de Page, onde ele usa bastante seus arpejos tradicionais. Voltamos então para o riff inicial, contando com as intervenções de baixo e bateria, para encerrar com os gritos de Plant entoando o nome de mais um grande som registrado em Presence.


"Candy Store Rock" vêm na sequência, com o riff quebrado de Page, usando bastante da slide, em um boogie extremamente dançante, carregado pelo baixo poderoso de Jones, dividindo o riff ao lado da guitarra, e por uma incansável bateria. Plant canta como se a canção fosse um rockabilly anos 50, e é inevitável não citar a fundamental participação do baixo nessa canção. Page executa seu breve solo, usando bastante do slide, enquanto Plant abusa de vocalizações e gemidos no tema central da canção. O ritmo inicial é retomado, com Plant cantando mais duas estrofes, voltando para as vocalizações sobre um ritmo mais dançante, encerrando a canção com as viradas de Bonham, acompanhando a repetição do riff inicial sob as vocalizações de Plant.


A terceira faixa do Lado B é "Hots on for Nowhere", um boogie simples, onde novamente baixo e guitarra dividem o riff principal, dessa vez com um ritmo marcado pela presença de Bonham, que transmite para as peças da bateria a melodia que Page e Jones constróem, em seus instrumentos. A interpretação vocal de Plant remete à momentos de Houses of the Holy, e aqui, percebemos que Page está se privando de solar, executando apenas pequenos trechos onde aparece mais, abusando da alavanca, mas por outro lado, dá um espetáculo a parte com a sobreposição de guitarras, e principalmente, destacando o riff final da canção, em um complicado dedilhado.



Contra-capa de Presence


O LP encerra-se com um dos mais lindos blues já gravados na hstória do rock. Um épico de nove minutos chamado de "Tea for One", narrando os dias de sofrimento de Plant. É impossível para qualquer ser humano não se ajoelhar depois de ouvir essa canção. O início, com um riff pesado de baixo e guitarra, e um tema estranho das guitarras sobrepostas, deságua em um blues extremamente lento, com magistrais linhas de guitarra criadas por Page. Logo na entrada, um solo que nos remete aos melhores momentos de "Since I've Been Loving You", trazendo então a voz triste de Plant, naquela que é considerada a sua melhor performance em estúdio.

A dose emocional exalada pelas cordas vocais de Plant representa com fidelidade os difíceis momentos que o vocalista estava passando naquele período de gravação de Presence, e o blues vai se desenvolvendo sobre o leve e emocionante andamento de Bonham, marcando o tempo no bumbo, pratos e caixa, com Jones sendo uma figura a parte para as intervenções das guitarras de Page, e com Plant chorando ao microfone frases como "How come twenty-four hours" e "A minute seems like a lifetime".

A explosão de emoção começa no detonador momento onde baixo, bateria e baixo dividem o espaço em um furioso ataque aos seus instrumentos, levando ao solo de Page, feito sobre a cadência leve do blues. Page descarrega todo o seu sentimento em arpejos, notas longas, e claro, melodias belíssimas, mostrando por que Page é um dos principais guitarristas da história.

Plant volta a cantar a letra, chorando ainda mais ao microfone, e a canção parece ganhar um certo peso, levando ao final da canção, onde as guitarras sobrepostas com as vocalizações de Plant, tendo o acompanhamento de Jones e Bonham, apresentando mais um breve solo de Page. fecham com chave de diamante o último grande álbum da carreira do Led Zeppelin, e que para este que vos escreve, é superado apenas por seu antecessor, o magistral Physical Graffiti.

Encarte frontal (acima) e traseiro (abaixo) de Presence
Um único single foi lançado, contando com "Candy Store Rock" e "Royal Orleans", e que não fez muito sucesso. Presence tornou-se o álbum que menos vendeu na carreira do Led. Mesmo assim, ele chegou na oitava posição na Suécia e Nova Zelândia, sétima na Espanha, quinta na França, quarta na Noruega e Austrália, segunda no Japão e primeira no Reino Unido e Estados Unidos, sendo que no Reino Unido, conquistou platina (300 mil cópias vendidas) e nos Estados Unidos, platina tripla (três milhões de cópias vendidas).


“Achilles Last Stand” tocou tanto nas rádios que os ouvintes passaram a ligar, reclamando principalmente da longa duração da mesma. De forma geral, o LP captou tão bem os problemas do grupo na época de sua gravação, que ainda hoje ele é considerado por Page o melhor disco do grupo.


Depois de Presence, os problemas com drogas de Page começaram a aumentar cada vez mais. Em uma tentativa de fugir delas, Page se concentrou no lançamento (finalmente) do tal filme sobre a turnê de Houses of the Holy


The Song Remains the Same, o álbum que demorou três anos
para ser lançado

Depois de algum tempo envolvendo mixagem, ajuste de imagens e edição, no dia 28 de setembro de 1976, chegou às lojas a trilha sonora do aguardado filme promocional de Houses of the Holy, o qual foi lançado nos cinemas no dia 20 de outubro de 1976, sob o pseudônimo de The Song Remains the Same (no Brasil, Rock é Rock Mesmo).

O filme possui um enredo de gosto duvidoso, envolvendo o assassinato de uma gangue mafiosa logo no início do filme, e depois, a união dos quatro membros do Led Zeppelin para voltar aos palcos (já que pelo filme, os quatro estavam separados). Com a união, o grupo volta aos palcos, e assim, apresenta-se em Nova Iorque, sendo recepcionados por limusines e muitos fãs. Durante o desenrolar do filme, diversas cenas de bastidores são mostradas, além de cenas fantasiosas sobre os "personagens" John Bonham (um corredor de carros de drag racing), Jimmy Page (uma espécie de mago que se torna no heremita da capa interna de Led Zeppelin), John Paul Jones (um cavaleiro andante) e Robert Plant (outro cavaleiro, agora responsável por resgatar uma linda donzela).


Na parte musical, o filme é excelente, mostrando o grupo entrosado e fazendo aquilo que mais gostava, que era tocar ao vivo. Vários são os momentos de destaque, mas dois são os que chamam mais a atenção: "Since I've Been Loving You", com um show de efeitos de duplicação de imagens, e "Moby Dick", onde o longo solo de Bonham foi filmado com muitos detalhes.

 
Imagens do encarte que acompanha a versão original do LP
No vinil que é trilha sonora do filme, muitas canções acabaram ficando de fora, sendo que algumas inclusive foram podadas, ficando mais curtas que a versão original do filme (como é o caso de "Dazed and Confused"), e outras tiveram a ordem alterada (como é o caso de "No Quarter". Mesmo assim, é um fabuloso e essencial registro para qualquer admirador da banda. Além disso, a versão original do LP duplo contava com um luxuoso encarte, trazendo imagens do filme.

Concentrando-se nas canções do filme original, são apresentadas na sequência: "Bron-Yr-Aur" (versão de estúdio, enquanto o filme mostra a chegada dos quatros integrantes do grupo à Nova Iorque). "Rock and Roll",  "Black Dog", "Since I've Been Loving You", "No Quarter" (John Paul Jones sequence), "The Song Remains the Same", "The Rain Song" (Robert Plant sequence), "Dazed and Confused" (Jimmy Page sequence), "Stairway to Heaven", "Moby Dick" (John Bonham sequence), "Heartbreaker" e "Whole Lotta Love". No vinil, foram excluídas "Bron-Yr-Aur", "Black Dog", "Since I've Been Loving You" e "Heartbreaker", mas incluindo "Celebration Day".
Contra-capa de The Song Remains the Same
O álbum foi oitavo no Canadá, sexto na Nova Zelândia e Japão, segundo nos Estados Unidos e primeiro no Reino Unido. Em premiações, recebeu ouro na Argentina (20 mil cópias vendidas), França (100 mil cópias vendidas) e Alemanha (250 mil cópias vendidas), platina no Reino Unido (300 mil cópias vendidas) e platina quádrupla nos Estados Unidos (4 milhões de cópias vendidas).



Já o filme foi lançado em Nova Iorque e em Londres com o cinema tendo um sistema quadrifônico, e com a presença de Page, Plant, Jones e Bonham. No primeiro ano, arrecadou mais de 10 milhões de dólares em todo o planeta, mesmo tendo recebido críticas pesadas da imprensa especializada, principalmente pela produção amadora e pelas cenas fantasiosas de cada integrante, sendo que no Reino Unido, não conseguiu emplacar.



Em 1999, The Song Remains the Same ganhou o formato de DVD, e em 2007, através da produção de Page, recebeu uma edição especial em DVD, apresentando todas as canções que estiveram presentes no set list original do Madison Square Garden, ou seja, acrescentando "Over the Hills and Far Away", "Celebration Day", "Misty Mountain Hop" e "The Ocean", além de uma entrevista com Plant e Grant para a BBC.

Para completar, uma caixa em edição para colecionador, trazendo uma camisa com a capa do álbum, cartazes com os shows de Nova Iorque e muitas fotos, também chegou ao mercado naquele ano.
Parte interna do LP
Em dezembro de 1976, começam os ensaios para a turnê americana, prevista para iniciar em abril de 1977, com 51 shows marcados para serem realizados em 30 cidades diferentes, e com um público esperado de 1.3 milhões pessoas. Ao mesmo tempo da expectativa sobre a turnê, que era a décima primeira do grupo nos Estados Unidos, e que iria levar o grupo a ultrapassar a marca de 500 shows em sua carreira, as drogas apareciam com cada vez mais frequência entre o quarteto. 

Apesar de não transparecer nos palcos, onde os shows eram como de costume, sempre com muita energia e com mais de três horas de duração, era visível que Page não estava na melhor forma, como comprovam diversos bootlegs da época. Outro que não estava nada bem era Bonham, que seguidamente começou a aprontar, sendo o ápice a destruição da suíte do Ambassador East Hotel, o que custou a bagatela de 5100 dólares. 

A turnê americana durou de abril até julho, esgotando a bilheteria em diversas cidades. Em Chicago, foram quatro noites sold out, enquanto Nova Iorque e Los Angeles celebraram seis noites seguidas de Led Zeppelin. Apesar dos problemas pessoais de Page, ao lado de seus companheiros o guitarrista transformava-se, e as apresentações eram sucesso tanto entre os fãs quanto entre os críticos. 

Rara imagem do início de carreira do Led

Uma breve pausa em julho, onde cada um foi para um canto na Inglaterra, e em agosto já estavam de volta aos Estados Unidos, para mais uma série de shows. Porém, próximo ao final da turnê, quando o grupo estava em New Orleans, Plant recebeu a triste notícia que seu filho Karac havia falecido, devido à uma infecção respiratória. Era a terceira tragédia que alcançava os membros do Led Zeppelin (a primeira, o dedo quebrado de Page, e a segunda, o acidente de Plant), e a segunda ligada diretamente à Plant. 

A solução foi encerrar prematuramente a turnê de Presence, com Plant entrando novamente em reclusão. Page aproveitou e mudou-se para a Guatemala, onde começou um tratamento intensivo para curar-se do vício em heroína. Já Bonham ficou ao lado de Plant, e Jones voltou-se para sua família, como habitualmente estava acostumado a fazer. 

Depois de mais de um ano em exílio forçado, no início de dezembro de 1978 voltam a se reunir. Plant, ainda abatido, trouxe algumas ideias. Page, apesar de estar parcialmente curado, não estava em sua melhor forma com a guitarra. Desta forma, coube a John Paul Jones virar o compositor principal do Led Zeppelin para o próximo álbum. Não que Plant e Page não tenham participado, mas o que Jones fez com as canções que surgiram nesse período é notável. 
Poster do Knebworth Festival de 1979

Ao mesmo tempo que compunham o novo álbum, recebem o convite para fechar o festival de Knebworth. Depois de quase quatro anos, o Led Zeppelin a voltava a tocar em sua terra natal, em um evento mais que especial. Oficialmente (apesar de controversos), os promotores divulgaram que mais de 500 mil pessoas estiveram nas duas noites de apresentação do grupo, ao lado de outros nomes como New Barbarians (grupo de Ron Wood, Keith Richards e Stanley Clarke), Todd Rudgren & Utopia, entre outros. 

Depois de três horas e meia de apresentações, realizadas nos dias 04 e 11 de agosto, ficava claro e óbvio que o quarteto estava voltando com tudo, e que Page, mesmo fora de forma, ainda era capaz de cativar sua plateia. O festival de Knebworth foi o último grande momento ao vivo do quarteto britânico. Apesar de não ser tão impactante quanto os shows em Earls Court, esses shows estão entre os essenciais a serem assistidos por um fã do grupo, principalmente pelas apresentações ao vivo de canções como “Achilles Last Stand”, “Kashmir”, “In the Evening”, “Nobody’s Fault But Mine”, “Ten Years Gone” (com a guitarra de três braços e tudo mais), entre outros. 

Led ao vivo em Knebworth
Apesar de não conseguir tocar como antes, Page ainda era o chefão, e dizia o que queria de cada membro, principalmente Bonham (como pode ser conferido no bootleg Outtakes, de 2001). Inovações, batidas viradas, inclusão de ritmos diferentes, entre outros aspectos relevantes, foram aparecendo através de diversas canções que Jones magistralmente aperfeiçoava, adicionando teclados, sintetizadores e eletrônicos, com o Led Zeppelin preparando-se para os anos 80. 

O derradeiro disco de estúdio do Led Zeppelin

Dessas canções, nasceu In Through the Out Door, o qual foi lançado uma semana depois dos shows em Knebworth, no dia 15 de agosto de 1979. Os efeitos na guitarra , mellotron e bateria abrem "In the Evening", um épico zeppeliano que dava indícios do novo caminho que o grupo estava por seguir, e já puxando o carro dos anos 80. Plant canta o nome da canção, trazendo o riff do teclado e da guitarra (com muita alavanca) e o acompanhamento marcado de baixo e bateria. A voz de Plant está com muitos efeitos, e com um timbre diferente do que ouvimos em Presence, e algo que podemos perceber é que não temos a grande quantidade de guitarras sobrepostas que haviam nos dois álbuns antecessores, o que pode ser concluído por causa dos problemas com heroína de Page.


A primeira estrofe é levada pelo riff principal, chegando na segunda estrofe, mais dançante. Ambas são repetidas por duas vezes, sem repetir a letra, até o riff principal acompanhar o solo de Page, aqui sim, com muitos overdubs. A canção muda, tornando-se uma linda balada, onde Page muda o efeito da guitarra de seu solo, ao mesmo tempo que camadas de órgão e um leve dedilhado fazem a cama para a participação do baixo e da bateria quase inaudível, voltando então para o riff inicial, apresentando mais três estrofes e concluindo a letra da canção com muitas vocalizações feitas por Plant, duelando com as notas da guitarra de Page.


Page não participa na criação da segunda canção do álbum, "South Bound Saurez", a qual começa com o piano de Jones, trazendo a bateria, baixo e guitarra, seguido pelos vocais de Plant, em um rock simples, com espírito rockabilly, e bem dançante, fugindo bastante das experimentações feitas em "In The Evening". As estrofes são repetidas, com Plant cantando em um timbre não usual, levando ao solo de Page, rasgado e sem muitas inovações. A letra é retomada, seguindo o ritmo original da canção, com destaque para o martelante acompanhamento do piano, encerrando com as vocalizações de Plant sendo acompanhadas pelo leve ritmo da canção.


Single japonês de "Fool in the Rain"
A terceira faixa é "Fool in the Rain", uma canção levada pelo riff  latino feito por piano, baixo e guitarra, tendo a cadência simples de Bonham, e que foi inspirado pela Copa do Mundo da Argentina, de 1978. A letra conta  a história de um homem que marca um encontro com uma mulher numa esquina, porém ela não aparece. No fim, ele descobre que estava na esquina errada, o que o torna o tolo na chuva. Plant volta a cantar com seu timbre mais conhecido, enquanto o riff grudento vai empregnando-se em seu cérebro, destacando as passagens de piano feitas por Jones. A canção vai ganhando corpo, com Page adicionando mandolim. No trecho central, uma espécie de "samba" feito por piano, percussão e apitos, acompanham os gemidos e vocalizações de Plant, voltando então para o riff inicial, o qual acompanha o breve solo carregado de efeitos feito por Page. Plant volta a cantar,  concluindo a canção com os mandolins ganhando destaque e muitas vocalizações.


O lado A encerra-se com "Hot Dog", um country-rockabilly que começa com o rápido riff de Page, trazendo o ritmo da canção, acompanhando o dançante solo de piano feito por Jones. A levada de Bonham, com o baixo e a guitarra fazendo a melodia da base, tornam o solo de piano mais atraente. Plant canta a la Elvis Presley, dividindo os vocais com sua voz mais aguda no refrão. Page faz seu solo, sem muita inspiração e com certos engasgos, mostrando realmente não estar na melhor forma, e então voltamos para o refrão, concluindo a letra com mais uma estrofe e a repetição do riff inicial.
Sleeve frontal (acima) e traseiro (centro) de In Through the Out Door.
Abaixo, as versões coloridas dos mesmos.

O Lado B abre com mais um épico, e que também está entre as minhas canções preferidas do Led. Trata-se de "Carouselambra", onde em mais de 10 minutos, John Paul Jones mostra o talento de compositor que ficava escondido atrás de Plant e Page. Dividida em três partes, ela abre com o riff marcado do sintetizador trazendo guitarra, baixo e bateria, para Jones criar as martelantes notas do riff principal, as quais vão alternando de tom junto para cada estrofe cantada por Plant, usando o timbre mais usual.


O peso dessa primeira parte é surpreendente, ainda mais pela presença marcante do sintetizador, e o responsável por esse peso é o baixo de Jones, cavalgando forte e acompanhando o ritmo de Page e Bonham. Aliás, Page é um mero espectador nessa primeira parte da canção, limitando-se apenas à alguns acordes. Uma ponte rápida, onde Jones delira nos sintetizadores, dá sequência à letra, e não tem como novamente não perceber o baixo cavalgando e entremediando as linhas do sintetizador com uma elegância soberana.

A ponte de sintetizadores é repetida, sendo que então, uma melodia criada no mellotron aparece pela primeira vez. Temos novamente a ponte de sintetizadores, e o mellotron dando as caras, indicando que a canção irá para sua segunda parte.

Um breve rolo feito por Bonham e entramos na segunda parte de "Carouselambra", através do riff da guitarra que lembra muito o riff de "Tudo Foi Feito Pelo Sol" (Mutantes). Entramos no momento calmo da canção, onde finalmente Page aparece com mais destaque, e com Plant colocando efeitos em sua voz. Uma balada levada pelo riff simples da guitarra, e o andamento suave de baixo e bateria, acompanham a letra e as vocalizações de Plant, voltando para o riff "mutantesiano". O riff simples da guitarra retorna à letra, e somos mais uma vez levados para a ponte do riff similar ao Mutantes. A segunda parte encerra-se com Plant chorando ao microfone, acompanhado pelo riff simples de Page, e por sintetizadores que vão crescendo.

Esse crescendo explode na terceira parte de "Carouselambra", onde entre muitos eletrônicos, a voz duplicada de Plant conclui a letra dessa magistral faixa, quase progressiva, e que antecedeu em alguns anos as diversas canções eletrônicas dos anos 80, seja balada, seja rock, seja qualquer estilo, abrindo a porta do Led Zeppelin finalmente para um novo mundo. Os efeitos estão presentes no baixo, na guitarra, na bateria, e "Carouselambra" encerra-se com muitas vocalizações e melodias marcadas de bateria, baixo, piano e muitos sintetizadores.

Depois, é a vez da linda "All My Love" aparecer. Uma das canções mais conhecidas da carreira do Led, lado-a-lado com "Stairway to Heaven", ela foi composta por Plant em homenagem ao seu filho. O sintetizador apresenta o riff inicial, acompanhado por baixo e bateria. Page surge marcando o tempo na guitarra, manhosamente, e Plant canta com muita paixão transbordando de suas cordas vocais, eternizando na mente de milhões de pessoas um refrão simples, mas belíssimo, que diz apenas o nome da canção. A sequência da letra continua, voltando ao refrão, para um tema marcado entre sintetizador, baixo, bateria e guitarra, nos apresentar O MOMENTO da canção, que é o belo solo de moog feito por Jones, sendo este capaz de arrancar lágrimas facilmente. O lindo arranjo do mellotron, acompanhando as notas do violão, voltam ao tema marcado, para Plant concluir a letra, despejando emoção através de muitas vocalizações que incitam o nome desse grande clássico.

O álbum encerra-se com "I'm Gonna Crawl", outra canção mais suave, que começa com a bonita introdução dos sintetizadores de Jones, sozinho, apresentando uma balada com temperos sessentistas, onde Plant canta novamente com muitos efeitos em sua voz, narrando a história de amor entre uma garota fantástica e um cara extremamente apaixonado por ela. O grande destaque vai para o refrão, onde Plant entrega-se a canção com a frase "every little bit of my love", levando para o solo de Page, sendo esse o melhor momento do guitarrista em In Through the Out Door.  A canção volta ao seu ritmo inicial, com Plant gritando muito, e entoando o nome da canção cada vez mais forte, apresentando um longo grito  e vocalizações, que levam ao final da canção com um simples acorde de sintetizador.


Um único single foi lançado, contendo "Fool in the Rain" e "Hot Dog", sendo que o mesmo atingiu a vigésima primeira posição na Billboard. O álbum ficou em sétimo lugar na França, quinto na Espanha, terceiro na Austrália, segundo no Japão, e primeiro no Reino Unido, Estados Unidos, Canadá e Nova Zelândia. Em termos de prêmios, recebeu ouro na Argentina (30 mil cópias vendidas), platina no Reino Unido (300 mil cópias vendidas), platina dupla na Austrália (140 mil cópias vendidas) e platina hexa nos Estados Unidos (6 milhões de cópias vendidas).

Um aspecto que chamou muito a atenção de In Through the Out Door foi em relação à sua capa. Destinana para a sempre participante Hipgnosis, a capa do álbum é mais uma capa que está entre as principais da história da música. Porém, sua história é tão interessante quanto a versão final. A ideia era revolucionária. A príncípio, várias imagens iriam ser unidas, formando uma imagem inédita. Mas a Hipgnosis não ficava satisfeita com o resultado final, o que atrasava cada vez mais o lançamento do LP.

Insatisfeito com a demora, Page e Grant deram uma boa regada nos produtores, e disseram algo mais ou menos assim: "Vocês estão loucos? Podem colocar um disco do Led Zeppelin dentro de um saco de supermercado, dizendo LED ZEPPELIN, que vai vender igual". Indignados com a pressão da dupla, os responsáveis da Hipgnosis concluiram a capa, e acabaram colocando-a em um saco de supermercado e apenas com um carimbo dizendo LED ZEPPELIN, só para ver o que que ia acontecer. Resultado, o disco vendeu horrores, tal qual Grant e Page haviam previsto.

As seis distintas capas de In Through the Out Door


Dentro do tal saco de supermercado (para os que não sabem, antigamente os sacos de supermercados eram feitos com papel pardo, o mesmo dos envelopes que utilizam-se hoje para enviar documentos importantes), o fã iria deparar-se com uma surpresa: uma sequência de fotos diferentes tiradas dentro de um bar.

Cada capa apresentava duas distintas imagens, sendo que no total, três capas foram lançadas (seis imagens diferentes). As imagens são as visões das pessoas dentro do bar, sendo que cada pessoa vê as outras pessoas, e isso indica qual visão estamos vendo. Assim, temos: a visão de uma mulher escorada na parede, observando um homem vestido de terno branco e chapéu, sentado de frente ao garçom do bar, mais um pianista, uma mulher rindo e outra escorada em uma jukebox;  a visão de um homem com maleta, observando as mesmas pessoas da mulher escorada na parede (com exceção da mulher escorada em uma jukebox); a visão do garçom, vendo o homem de terno branco e a mulher na jukebox; a visão da mulher rindo, observando o garçom, o homem de terno branco, a mulher escorada na parede e o homem com a mala; a visão do pianista, vendo as mesmas pessoas que a mulher rindo está vendo, mais as pernas da mulher rindo; e finalmente, a visão da mulher escorada na jukebox, vendo apenas a mulher escorada na parede, o home de terno e o garçom.

Além disso, o encarte de In Through the Out Door foi feito em um material especial, feito em preto e branco, eque se molhado com água, tornava-se colorido. O pacote recebeu o Grammy Award de melhor capa de álbum no ano seguinte.
Robert Plant, John Bonham, John Paul Jones e Jimmy  Page:
A maior banda de rock da história

O grupo entrou em mais uma sessão de descanso, reunindo-se esporadicamente durante o ano de 1980. Em setembro daquele ano, é agendada mais uma turnê pelos Estados Unidos, e novas canções começaram a ser compostas em diversos ensaios na casa de Page. Mas, em um desses ensaios, no dia 25 de setembro, a tragédia final ocorreu. Bonham exagerou na quantidade de bebida (alguns sugerem mais de 40 doses hi-fi, uma bebida alcoólica que mistura vodca com suco de laranja), e acabou morrendo sufocado pelo próprio vômito, vítima de uma overdose causada pela bebida. 

A visão aterradora da morte de Bonham foi demais para Plant, que novamente, exilou-se do mundo. Afinal, Bonham não era apenas um colega de banda, mas também um grande amigo. A decisão tomada por Plant levou rapidamente ao pronunciamento do Led Zeppelin. No comunicado emitido pelo selo Swan Song, as palavras: 

“A perda de nosso querido amigo e o profundo respeito que temos pela sua família, junto com um senso de harmonia indivisível sentida por nós e nosso empresário, nos levou a decidir que não podemos continuar como estamos”. 

Era o fim trágico da maior banda de rock da história. 

Na próxima e última parte, iremos ver como John Paul Jones, Robert Plant e Jimmy Page continuaram suas vidas pós a morte de Bonham, destacando as principais reuniões do trio com o passar dos anos.

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