Há 40 anos, nascia uma das maiores obras que a música já pariu. Não é apenas um disco, um conjunto de canções ou mera expressão artística. É um tratado de excelência e criação, durando exatos trinta e oito minutos, batizado de Close to the Edge.
Os pais desse genial álbum foram os britânicos do Yes, cuja formação na época trazia Jon Anderson (voz, guitarras, percussão), Steve Howe (guitarras, voz), Chris Squire (baixo, voz), Rick Wakeman (teclados) e Bill Bruford (bateria), constituindo esta que é forte candidata a melhor formação de uma banda em todos os tempos, sendo o LP o quinto na carreira do grupo.
A união da inteligência e criatividade desses senhores, na época jovens na faixa dos vinte e poucos anos (Anderson era o mais velho, com 27 anos, depois Howe com 25, Squire com 24, Bruford e Wakeman ambos com 23), junto odo produtor Eddie Offord, foi algo como um Big-Bang, um evento que ocorre raramente, e que claro, propicia como resultados fatores inigualáveis.
São apenas três canções, começando pela longa suíte da faixa-título. Era a primeira vez que o Yes ultrapassava os quinze minutos de duração de uma canção, e não é qualquer canção. Dividida em quatro partes, ela surge com os pássaros, barulho de água, percussões e o riff quebrado da guitarra de Howe e Wakeman, enquanto Bruford e Squire mandam ver ao fundo. Tentar narrar cada minuto dessa longa introdução, conhecida como "The Solid Time of Change", é bobagem. Basta prestar atenção no trabalho de Bruford, com suas marcações que só sua cabeça entende, ou então nas velozes notas de Wakeman, as mudanças de acordes feitas por Howe e o peso do Rickenbacker de Squire, que os arrepios irão lhe surgir naturalmente.
Contra-capa do aniversariante |
São apenas três canções, começando pela longa suíte da faixa-título. Era a primeira vez que o Yes ultrapassava os quinze minutos de duração de uma canção, e não é qualquer canção. Dividida em quatro partes, ela surge com os pássaros, barulho de água, percussões e o riff quebrado da guitarra de Howe e Wakeman, enquanto Bruford e Squire mandam ver ao fundo. Tentar narrar cada minuto dessa longa introdução, conhecida como "The Solid Time of Change", é bobagem. Basta prestar atenção no trabalho de Bruford, com suas marcações que só sua cabeça entende, ou então nas velozes notas de Wakeman, as mudanças de acordes feitas por Howe e o peso do Rickenbacker de Squire, que os arrepios irão lhe surgir naturalmente.
A introdução cria um ambiente tenso, nervoso, preparando o terrento para a entrada dos vocais que narram a história de um homem perdido em seus pensamentos. Chegamos na segunda parte, "The Total Mass Retain", que é um pouco mais lenta, começando com uma bonita melodia da guitarra, e assim, Anderson, Howe e Squire passam a cantar juntos, destacando a Danelectro Sitar de Howe e o incrível acompanhamento de Bruford. O que ele faz na bateria especificamente em "Close to the Edge" é impossível de ser reproduzido com a mesma qualidade. Cada batida invertida, tempo engolido ou marcação no prato é de uma perfeição cirúrgica, e só poderia ter saído da mente gloriosa de Bruford.
"The Total Mass Retain" continua, com um andamento alegre, narrando as histórias do personagem central, e gravando nos anais da música as célebres frases: "Down on the end, round by the corner, close to the edge, just by a river, seasosn will pass yu by, I get up, I get Down".
Na segunda parte, o destaque vai para a marcação do baixo com a bateria, e a alegria dá espaço para um clima de maior tensão. O personagem confronta-se com seus pensamentos e com suas dúvidas, e entramos na linda terceira parte da canção, "I Get Up, I Get Down", uma maravilhosa e encantadora junção de teclados, percussão, sitar e vozes sobrepostas de Howe e Squire, com Anderson cantando sobre elas, fazendo um belo coral, além de sons ambiente. Lindo é pouco! O personagem finalmente encontra a razão pela sua ansiedade, por suas angústias, em um clima totalmente zen, inspirador do chamado New Age que viria futuramente em diversos grupos, como Enigma, Enya, Jean Michel Jarre e outros.
Depois da explosão final, com um espetáculo a parte do órgão de igreja tocado por Wakeman em seus longos acordes, entramos na última parte, "Seasons of Man", a qual começa justamente com um longo e incrível solo de Wakeman, encerrando com uma magistral união das principais frases da canção, e o personagem encontrando-se finalmente em seu mundo.
Essa canção foi construída baseada no livro Siddharta, de Herman Hesse, e é uma amostra perfeita de como o Yes sabia dividir a canção para os cinco membros da banda aparecerem tanto individualmente como em conjunto.
Squire e Howe (acima); Anderson, Bruford e Wakeman (abaixo) |
O Lado B abre com "And You And I", uma das mais lindas canções compostas pela dupla Anderson / Howe. Um tratado sobre relacionamento sexual entre um homem e sua mulher, já teve sua letra tratada por nós do Consultoria do Rock, e também é dividida em quatro partes, começando com a espetacular sequência de vinte e uma variações em cima dos mesmos acordes (D, G e A) de violão de "Cord of Life".
A canção ganha ritmo, e os teclados (assim como o slide guitar) nos apresentam "Eclipse", uma majestosa e imponente sessão, no qual o mellotron de Wakeman é soberano, e com Howe dando show no pedal de volume durante seu solo.
A sequência dos acordes de violão do início surge novamente em "The Preacher The Teacher", que retorna ao ritmo de "Cord of Life", porém mais animada, e com uma maior participação da percussão, além de Squire dando as caras em um rápido solo de baixo, e com um complicado dedilhado de Howe, bem como um bonito solo de moog. Destaque também para o sensacional arranjo vocal nessa parte da canção.
Finalmente, "And You And I" apresenta a pomposidade de Wakeman, Howe, Squire e Bruford, produzindo um clima catastrófico para a canção, arrepiante, ao mesmo tempo que encantador, concluindo apenas com o moog, violão e a voz de Anderson entoando as famosas frases de "Apocalypse", as quais dizem.
Capa interna, encarte e LP de Close to the Edge |
Esse fantástico álbum é concluído com "Siberian Khatru", trazendo a nervosa introdução feita pela guitarra de Howe, explodindo então no riff central dos teclados, com o baixo cavalgante de Squire, a pegada de Bruford e a intrincada sequência de notas da guitarra.
O trio vocal passa a cantar junto, em um ritmo dançante, ao mesmo tempo que muito complicado. Arranjo vocal perfeito, sequência de notas, e "Siberian Khatru" desenolve-se e cresce naturalmente, e então, repentinamente, Howe surge solando na Danelectro Sitar, duelando com o cravo de Wakeman, enquanto Squire delira no baixo. Howe pula para a slide guitar, e Bruford cria uma marcação marcial linda, para Howe então soltar os dedos na guitarra, com mais marcações perfeitas de baixo, bateria e teclados.
Os vocais voltam após a repetição do riff inicial, e então, após uma sessão quase a capella de Anderson, a canção ganha tensão, em um crescendo fabuloso das vozes sobre as batidas marciais de Bruford, com o mellotron dando show, partindo então para um longo solo de guitarra, dando direito ainda a mais uma incrível sequência de marcações, agora com bateria e voz duelando, encerrando um disco fenomenal em um ritmo veloz, parecido com o que o Genesis faria dois anos depois no encerramento do álbum The Lamb Lies Down on Broadway, com a canção "It".
Close to the Edge marcou o início de uma nova era no Yes. A partir daqui, o grupo finalmente ganhava o status de principal banda do rock progressivo britânico, vendendo mais que gigantes como Rolling Stones e Led Zeppelin, e influenciando toda uma geração de músicos e grupos. Em vendas, foi terceiro nos Estados Unidos e quarto no Reino Unido, sendo superado apenas pelo álbum seguinte, Tales from Topographic Oceans, o qual alcançou o primeiro lugar no Reino Unido.
Howe e Anderson viraram o centro das atenções, criando e compondo como nunca, além de todos (menos Bruford) adotarem uma cultura oriental, voltada para a natureza, e assumidamente vegetariana.
Essa nova cultura desagradou Bruford, que saiu do grupo durante a turnê de Close to the Edge, ingressando no King Crimson e sendo substituído por Alan White. Curiosamente, esse é o único álbum do Yes que tem todas as suas canções registradas em um álbum ao vivo, no caso o álbum Yessongs (1973), no qual as três canções aparecem, com "Siberian Khatru" abrindo o LP, "And You And I" encerrando o lado B e "Close to the Edge" ocupando o Lado E do vinil triplo.
Representação artística do Yes na sua fase vegetariana: Wakeman, Bruford, Anderson, Howe e Squire |
A cultura oriental permaneceu por mais alguns anos, gerando o essencial e polêmico Tales from Topographic Oceans, que completará 40 anos em 2013. Mas isso é papo para outra Datas Especiais.
Track list
1. Close to the Edge
a. The Solid Time of Change
b. The Total Mass Retain
c. I Get Up, I Get Down
d. Seasons of Man
2. And You And I
a. Cord of Life
b. Eclipse
c. The Preacher The Teacher
d. Apocalypse
3. Siberian Khatru
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