Editado por André Kaminski
Tema escolhido por Mairon Machado
Com Daniel Benedetti, Davi Pascale, Fernando Bueno e Ronaldo Rodrigues
Os anos 2000 providenciaram o retorno, mesmo que por vezes apenas em um show, de grandes nomes do rock dos anos 60 e 70. Foram inúmeros grupos que trouxeram para uma geração do século XXI, ao vivo, aquele clímax que construíram quando eram bam-bam-bans na cena musical do auge de suas carreiras. Minha intenção aqui é discutir o retorno de cinco desses grupos, e pensar se realmente, o retorno aos palcos dos mesmos valeria a pena para uma série de shows e novos lançamentos, ou se esses retornos confirmavam que a nostalgia dos velhos bons tempos onde esses nomes eram tigrões, mas que a idade os fez se posicionar como tchuchucas, confirmavam que os nomes em questão não tinham motivos de seguir na ativa. Vamos as opiniões dos consultores para esses retornos de gigantes.
Led Zeppelin – Celebration Day [2007]
Mairon: O Led já havia feito alguns retornos depois da morte de John Bonham, mas foi somente o show no Ahmet Ertegun Tribute Concert em 10 de dezembro de 2007 que foi lançado para os fãs. Jimmy Page, Robert Plant e John Paul Jones, junto de Jason Bonham (filho de John), se uniram na O2 Arena de Londres lotada (os ingressos esgotaram rapidamente), e emocionaram aos presentes. Como grande fã de Led que sou, eu tinha grandes expectativas dessa apresentação, as quais foram frustradas. O repertório é excelente, cobrindo quase todos os discos da banda (apenas In Through The Outdoor ficou de fora) e em muitas faixas a coisa dá um tesão bom, como “No Quarter”, “Ramble On”, “Misty Mountain Hop”, “For Your Life”, “Trampled Underfoot” e a sempre demolidora “Kashmir”,onde Bonham dá um show a parte. Mas ouvir a diminuída de tom em faixas como “Good Times Bad Times”, “In My Time of Dying”, “Rock and Roll” ou “The Song Remains The Same” (coragem tentarem tocar essa) torna a coisa um pouco arrastada, tirando a energia que sempre foi o forte dos caras. Page está totalmente fora de forma nos solos, principalmente “Since I’ve Been Loving You”, bastante decepcionante. “Dazed and Confused” chega a ser constrangedora. Plant é outro que há muito tempo não tem a mesma voz, o que fica provado em “Black Dog”, “Nobody’s Fault But Mine” e “Whole Lotta Love”, onde ele também apresenta estar perdidaço na letra. Até “Stairway To Heaven”, que apesar de continuar linda, mostra o desgaste da voz de Plant. Aliás, o solo de Page neste clássico eu prefiro não comentar … Por outro lado, Jones e Bonham estão perfeitos, em uma performance digna de suas histórias, e que sustenta bastante Celebration Day para fazê-lo passar por média. Led é Led e sempre será Led, é empolgante ouvir o disco de uma maneira nostálgica, mas entendo perfeitamente por que a banda não se reúne mais para tours. Celebration Day para mim serve como um comprovante para os fãs pararem de encher o saco dos caras em seguir tocando juntos.
André: Eu já ouvi gente dizendo há muitos anos que este show de retorno foi fraco e decepcionante. Sei lá, apenas inacreditável ouvir isso. Não acho que eu precise dizer do quanto, ao menos, a lendária banda junto ao filho do lendário falecido baterista é incrível mesmo após tantas décadas afastados. Mesmo que eles estivessem enferrujados ainda são melhores do que muitas bandas contemporâneas que nunca pararam. Pelo menos ficou um registro do que poderia ter sido a banda com o passar dos anos.
Daniel: Eu gosto deste disco. É claro que é possível de se questionar alguma mudança no repertório como a falta que sinto de “Heartbreaker” ou “Communication Breakdown”, mas o desfile de canções clássicas, em sequência, já são fiéis amostras do poderio do repertório do Led Zeppelin. Sem mais nada a provar, vejo este disco como um digno pertencente à discografia da banda, por mais que a ausência de John Bonham sempre seja sentida.
Davi: Ainda me lembro das conversas nas rodas de amigos durante minha juventude: “Por que os Beatles não voltam à ativa e colocam o Julian no lugar do John?”. “Se o The Who excursiona, de tempos em tempos, com outros bateristas, por que o Led Zeppelin não faz o mesmo”? As opiniões, claro, eram divididas. Havia quem defendesse, havia quem achasse uma heresia. No caso do Led, havia até a justificativa de “você viu o terror que foi o show do Live Aid“? Contudo, de tempos em tempos, a pergunta voltava à tona. Décadas se passaram, mas finalmente, teríamos a resposta de como um desses lendários grupos soaria em uma reunião, ainda que de maneira bem breve. E, graças à Deus, o resultado, dessa vez, foi muito bom. Sim, John Bonham é inimitável e é bem superior ao seu filho. Contudo, o garoto não fez feio. Segurou bem a bronca, conseguiu manter o espírito, digamos assim. (Inclusive, prefiro a performance dele aqui, do que a que realizou ao lado da Jason Bonham Band, no álbum In The Name Of My Father). Outra coisa que me deixava com a pulga atrás da orelha era o trabalho vocal de Robert Plant. Será que ele ainda daria conta do repertório do Led? Assisti ele e o Jimmy Page no Hollywood Rock e gostei bastante do resultado, mas já havia se passado uma década. E, sim, Plant mandou muito bem, obrigado. Claro, ele adaptou para sua nova realidade, cantou conforme sua idade permitia. Cantou mais na manha, fez algumas linhas vocais mais para baixo, recorreu ao falsete em alguns momentos, mas o resultado final ficou muito bom. O show é excelente. Pesado, muito bem tocado e com um repertório impecável, onde voltaram a tocar inclusive, “Stairway to Heaven”, depois de terem negado por décadas. É uma pena a reunião não ter ido adiante.
Fernando: De todos os da lista, acredito que esse tenha sido fruto do acontecimento mais esperado pela comunidade rocker por anos, por todas as circunstâncias e a importância que a banda tem na história. Também é o que teve maior caráter de celebração, homenagem, como o próprio nome do lançamento deixa claro. Até por tudo isso a execução acaba sendo apenas um detalhe que pouco importa. Acredito que fizeram o certo em fazer alguns shows apenas, lançar esse material e não retomarem as atividades. Fizeram uma aparição e se mantiveram como lendas sem desgastar essa imagem.
Ronaldo: Há muita dignidade do Led Zeppelin em ter se preservado de tantas ofertas para voltar aos palcos, sem seu baterista original. A inadequação de Robert Plant para o estilo vocal de sua juventude fica claro na opção da banda por ter baixado os tons das músicas, contudo, a adaptação soa honesta dentro de suas limitações. O disco já ganha pontos por incluir como abertura músicas fantásticas que praticamente não fizeram parte do repertório ao vivo da banda nos anos 60/70 – “Good Times Bad Times” e “Ramble On”; outro ponto positivo é Jimmy Page com sua Les Paul sem se render ao som dos guitarristas modernosos. Suas seções psicodélicas em “Dazed and Confused” e “Whole Lotta Love” são totalmente respeitáveis. De ponto negativo, triste reconhecer que os engenheiros de som atuais não sabem dosar o som do baixo e da bateria ao vivo, deixando o primeiro enterrado e sem agudos e o segundo entupido de graves embolados. O próprio John Paul Jones soa um tanto básico demais no baixo, não saindo nenhuma linha além do tradicional (e mesmo que saísse, seu esforço não apareceria no disco). Já nos teclados, sua elegância e técnica estão devidamente registradas. O repertório da banda dá uma passeada bem representativa por toda sua discografia (com exceção de In Through the Outdoor). “Whole Lotta Love”, “No Quarter” e “Misty Mountain Hop” tocadas nos tons original e com a banda afiada, são destaques.
Triumph – Live at Sweden Rock Festival [2008]
Mairon: Depois de muitas brigas e discussões, eis que o mundo foi surpreendido pelo retorno do Triumph de Rik Emmett, Gil Moore e Mike Levine. Lembro da expectativa deste retorno, a possibilidade de uma turnê mundial, um novo disco, mas a guerra de egos foi maior que a grande capacidade dos canadenses criarem obras primas, o que por si só já indica o que foi este registro. Aliás, ele que foi minha inspiração para esse Ouve Isso Aqui. Quando o ouvi pela primeira vez, foi com um mixto de alegria e frustação. Alegria por que o disco começa muito bem, com Gil mandando ver em “When The Lights Go Down”, pesada, como nos bons tempos do Triumph. Tu vê o repertório e é perfeito, não há o que tirar, ainda mais para um show em um festival. Mas basta os primeiros acordes de “Lay It On The Line” para o nariz começar a ser torcido. Alguns tons abaixo e principalmente, um Rik que não tem mais a mesma voz dos anos 70 não conseguindo alcançar agudos de outrora, e tão pouco agudos atuais. É muito triste ouvir a voz de Rik falhando por diversas vezes, principalmente em “Never Surrender” ou “Magic Power”. Algo só mais lamentável que ter presenciado Ian Gillan não conseguindo cantar “Child In Time”, ou Geddy Lee fracassar ao longo de todo o show do Rush no Rio em 2010. Instrumentalmente, Live at Sweden Rock Festival é impecável, e claro, Rik ainda é um baita guitarrista. Ouçam o que ele faz na própria “Lay It On The Line”, “Blinding Light Show / Moonchild” e “Rock ‘n’ Roll Machine” por exemplo. Gil ainda é um baterista vigoroso e capaz de cantar muito bem, como atestam “Allied Forces” e “Rocky Mountay Way”, e Mike possui uma capacidade ímpar de aturar o ego de gigante dos dois colegas tocando com uma sobriedade e precisão raras. Mas honestamente, por mais que o instrumental seja perfeito, eu só iria curtir ver esse show se as vozes do Rik fossem substituídas por um vocalista que ainda consiga cantar aqueles agudos tão fascinantes. A reunião naufragou rapidamente, o disco ficou para a história como o último registro do Triumph, e infelizmente, um registro não digno da grandeza dessa banda fantástica!
André: Conheço menos do Triumph do que eu deveria. Então tirando algumas poucas músicas, assisti ao show quase que como ouvindo uma banda antiga desconhecida. Achei uma performance bacana e segura de uma banda de hard rock setentista. Acho que no caso da musicalidade deles, os anos prejudicam um pouco a questão de desempenho (principalmente em relação as faixas mais velozes), mas para uma banda veterana e experiente, foi um disco muito agradável. Deu mais aquele incentivo a ir atrás de mais discos deles.
Daniel: Sempre penso no Triumph como um grupo “criminosamente” subestimado. Basta ouvir o repertório presente neste álbum, com canções cativantes e com execuções bem fiéis aos originais presentes nos discos. Nunca havia ouvido e certamente vou voltar a este álbum.
Davi: Depois de aproximadamente 15 anos afastados do palco, o Triumph voltava à ativa. E aí? Será que funcionaria? Será que os músicos ainda dariam liga? E, sim, embora não tivessem tido muito cuidado com o visual (algo que fica claro para quem já assistiu ao DVD dessa apresentação), musicalmente a banda ainda tinha lenha para queimar. O show não tinha grandes novidades. Mike Levine, Rik Emmett e Gil Moore subiram ao palco, acompanhado de Dave Dunlop e relembraram os números mais marcantes de seu período auge. O repertório focava o período de 1977 a 1982. Ou seja, de Rock & Roll Machine à Never Surrender. Na minha opinião, o melhor momento deles. Rik e Gil estavam com a voz em dia e a banda estava até que redondinha. Claro, não dá para comparar essa performance com a de Stages, nem a do US Festival, mas é um show bem agradável de assistir.
Fernando: Esse foi o que mais curti reouvir. Curto muito o Triumph, sempre achei ótima esse balanço que eles fazem com o hard rock e o progressivo, seus músicos são ótimos, grandes vozes, mesmos dando para perceber o óbvio declínio do que eram nos anos 80, mas nada que interfira muito na qualidade da execução. Achei ótima a versão de “Rocky Mountain Way” de Joe Walsh. Não costumo ouvir muitos discos ao vivo, porém esse vai acabar voltando ao som daqui uns dias.
Ronaldo: Não sou um grande conhecedor do repertório do trio canadense Triumph. Mas a primeira levada de bateria do disco já transporta o ouvinte para a década de 1980 e se essa é a intenção do ouvinte, a diversão está garantida. Tudo é tocado com muito gás, bem cantado e executado. “Magic Power” tem aquele vocal agudo característico do rock de arena dos anos 80 e há ótimos momentos em todo o disco, que inclui uma boa versão de “Rocky Mountain Way” de Joe Walsh.
Mutantes – Barbican Theatre [2006]
Mairon: Outro retorno surpreendente. Creio que nem o mais esperançoso fã dos Mutantes (e eu me incluo entre eles) acreditava que um dia Arnaldo Baptista e Sergio Dias iam voltar a dividir o mesmo palco, ainda mais com Dinho Leme na bateria. Ok, Serginho fez uma jogada de mestre, pegou os (exímios) músicos que o acompanhavam em carreira solo, trouxe a voz de Zélia Duncan para substituir Rita, e assim foi para Londres em 2006 fazer um show sensacional. O repertório é perfeito, calcado essencialmente na fase Rita, e se aproveitando dos arranjos de Tecnicolor, o álbum que era para ter sido lançado na Europa, acabou não saindo nos anos 70, mas chegou ao mundo no início do século atual. Deste, ouvimos “Le Premier Bonheur du Jour”, “El Justiciero”, com uma linda introdução do violão de Sergio, “I’m Sorry Baby (Desculpe Baby)”, “I Feel A Little Spaced Out (Ando Meio Desligado) e “A Minha Menina”, todas ótimas, como manda o figurino Mutante. Somos surpreendidos com inesperadas apresentações para “Ave Gengis Khan”, “Cantor De Mambo”, com a engraçada apresentação de Serginho, e Arnaldo mandando ver nos vocais, “Ave Lucifer” e “A Hora e a Vez Do Cabelo Nascer (Cabeludo Patriota)”. É arrepiante ouvir a entrada com “Don Quixote” e “Caminhante Noturno”, parece que somos jogados aos anos 60. E claro, quando Arnaldo canta “Dia 36”, lágrimas correm pelo recinto. Tive a oportunidade de ver essa turnê em 2007, acho que foi o show que mais chorei em minha vida, e pena que o retorno durou pouco, mas o suficiente para fazer um grande registro, e uma grande turnê. Em tempo, Zelia não decepciona em nenhum momento, principalmente em “Baby” e “Fuga N° 2”, e Serginho ainda era (e é) o mais talentoso guitarrista que o Brasil já pariu! Grande disco!
André: Por mais que se elogie o esforço dos irmãos Dias de se aguentarem e voltarem a tocar juntos, não tem como desconsiderar o clima ruim dos bastidores desse retorno que viria logo depois a culminar na saída de Arnaldo no meio da turnê. Aliás, é triste ver ele ali sentado no teclado meio deslocado do restante, mesmo ocupando o centro do palco. OK, tem a questão da saúde e mesmo seus vocais não estarem lá em grande forma, mas porra, é o Arnaldo Baptista. Sinceramente, não consigo ver esse show e escutar estas gravações sem aquela sensação de incômodo. Aliás, não condeno o Sergio por essa tentativa. Apenas que foi a constatação definitiva que ele tem que levar a banda sozinho mesmo.
Daniel: Outro álbum que eu curti a audição. Sérgio Dias e Arnaldo Baptista capricharam na escolha do repertório e, mesmo que algumas execuções fujam dos originais, o resultado final me agradou. Gostei da presença do coral e se Zélia Duncan não é a Rita Lee, não chega a fazer feio. É outro álbum da lista que voltarei a ouvir em breve.
Davi: Assim como a do Led Zeppelin, essa foi uma reunião que me surpreendeu positivamente. Quando anunciaram que estariam fazendo esses shows, não botei muita fé. Ao contrário de muitos dos meus amigos, sempre preferi a fase tropicalista à fase progressiva, portanto, a figura da Rita Lee, era uma figura importante, para mim. E embora goste do trabalho da Zélia Duncan, me questionava se seria a cantora adequada para o projeto. Quando adquiri o CD e o DVD, lembro que fiquei bem impressionado. A banda estava com uma qualidade técnica muito alta e Zélia soube se adaptar ao projeto. Sua voz casou bem às canções. Eu, particularmente, sempre fui muito fã do Sérgio Dias. Para mim, trata-se de um dos melhores guitarristas do nosso país. E sua performance aqui é irretocável. Já Arnaldo, não tem como deixar de notar que estava bem debilitado. Principalmente, na parte vocal. Independente disso, a performance, como um todo, é excelente. Trata-se de um trabalho muito bem desenvolvido, com um ótimo repertório, que vale a pena você ter em sua prateleira. Trabalho que considero superior ao Mutantes Ao Vivo (1976), inclusive.
Fernando: Vamos lá … (deixa eu me preparar para as pedradas). Eu não tenho interesse nos Mutantes. Já ouvi bastante, até para tentar me habituar e por insistência encontrar o motivo de tanta admiração que muitos dos meus amigos vêem na banda. Eu não sei o que exatamente me incomoda, mas creio que a mistura de MPB e toda aura bicho grilo que a banda passa seja o motivo. Entretanto acho demais que lá fora o interesse por eles também tenha sido grande e achei uma pena não terem seguido mesmo com a grande aceitação que essa reunião teve na época.
Ronaldo: Ajudou o fato desse disco ao vivo dos Mutantes ser apoiado por um conjunto de músicos jovens e bem talentosos apoiando os veteranos irmãos Batista. Penso que se a coisa dependesse apenas deles em seus respectivos instrumentos e vozes, o resultado ficaria bem prejudicado. Além disso, a banda não economizou nos playbacks e efeitos externos; temos aqui o registro de um espetáculo bem planejado e executado. Sergio Dias, nos momentos em que os holofotes lhe estão voltados, não decepciona e mostra sua envergadura técnica. Já Arnaldo Baptista, por sua condição de saúde, tem mais papel de figuração (tanto é que depois de algum pouco tempo, a banda prosseguiu sem ele apresentando o mesmíssimo show). Algumas adaptações dos efeitos psicodélicos dos discos da época para o palco ficaram muito interessantes e é louvável o esforço da banda nesse sentido. Como crítica, apenas a velocidade excessiva em algumas músicas e as adaptações para o inglês, que ficaram bem esquisitas. A nata do repertório tropicalista dos Mutantes está toda contida no disco, que é um trabalho agradável de se ouvir no geral.
Cream – Royal Albert Hall London May 2-3-5-6 2005 [2005]
Mairon: Grande retorno aos palcos de Ginger Baker, Eric Clapton e Jack Bruce, para mim é o melhor retorno destes cinco aqui apresentados, muito por conta de que o trio está em ótima fase. Uma curta série de apenas quatro shows em maio de 2005, no Royal Albert Hall de Londres, foram compilados nesse excelente álbum. Repertório é fantástico, e é incrível como os anos passam, mas ainda assim, Bruce parece querer engolir Clapton, enquanto Baker quer engolir os dois, e Clapton, vendo que está sendo engolido pelos colegas, tenta herculeamente se desgarrar dos dentes afiados dos mesmos. De cara, “I’m So Glad” já mostra uma bela jam, o que vai sendo ampliado em “Born Under A Bad Sign”, “N.S.U.”, “Sweet Wine” e essencialmente, a clássica “Sunshine of Your Love”. Como não viajar em “Sleepy Time Time”, “Politician, “Spoonful” e “White Room”? Bruce é para mim o centro das atenções, cantando como nunca (ou como sempre) em “Deserted Cities Of The Heart”, “Pressed Rat & Warthog”, mandando ver na harmônica de “Rollin’ And Tumblin’ “, e arrancando lágrimas de estátuas e almas na arrepiante “We’re Going Wrong”, que música linda, PQP!!!!!. As faixas onde Clapton canta são as mais fraquinhas, com exceção de “Stormy Monday”, que só a introdução já faz o c* cair da bund@ com mais naturalidade que uma manga madura caindo da mangueira. Potências sonoras para lembrar como o Cream foi uma banda incrível e revolucionária em sua época. Posteriormente ainda houveram shows nos EUA, mas este foi o último registro oficial do grupo, e que registro!
André: Esse show demonstra bem o que ocorre quando o coração dos caras não está ali naquela reunião. Eric e Jack não harmonizam direito as vozes, a bateria de Baker soa sem vida e o próprio Bruce não parecia estar nada bem neste dia, embora seu esforço seja visível. Como era de se esperar, a reunião foi para uns poucos shows e Baker e Bruce quebraram o pau novamente. Para ajudar, não sou lá grande fã de nenhum dos três. Embora tenham grandes músicas, sem um pouco que seja de consideração aos colegas com quem você toca, dificilmente essas reuniões funcionam. Caso desta aqui.
Daniel: De todos os álbuns da lista, este é o que eu mais ouvi – e aquele de qual mais gosto. As versões aqui apresentadas, por vezes estendidas, agradam-me muito. Bom, em resumo, um desfile de clássicos que fazem jus ao mito em torno da banda.
Davi: Quando foi anunciada essa reunião, lembro que fiquei bem empolgado. O Cream é uma banda que faz parte da minha formação musical e o Eric Clapton sempre tive como um ídolo. No entanto, quando o álbum foi lançado, lembro que fiquei bem decepcionado com o resultado final. Sim, Eric Clapton estava tocando como nunca e entregando um ótimo trabalho vocal. Jack Bruce estava bem no baixo, mas parava por aí. Infelizmente, a voz de Jack Bruce não era mais a mesma e o vigor dos músicos também não. Ainda que o repertório fosse excelente, e recheado de clássicos, as músicas soavam sem punch, sem vida. Toda aquela energia que tinham no passado, foi por água abaixo. (O Ginger Baker parecia que estava tocando bateria usando um par de cotonetes). É um trabalho que vale como item de coleção, apenas. É um show que valeu pela curiosidade.
Fernando: Foi curioso quando ouvi esse álbum pela primeira vez. Eu estava exatamente em uma fase de descobrir o Cream. Estava ouvindo muita coisa que eles tinham feito lá na época deles e quando surgiu essa reunião e o disco saiu foi como se para mim eles nunca tivessem se separado. Então, para mim, não teve o fator de grande espera e expectativa pela volta. Foi como se uma banda atual que eu gosto muito lançasse um álbum ao vivo. E é um grande álbum, repertório certeiro e execução sem críticas.
Ronaldo: Nem gosto de ouvir muito esse disco, porque minha decepção foi grande com esse material. Não julgo os caras por quererem voltar após tantos anos após o término da banda. Contudo, é nítido perceber que o trio perdeu o “timing” de fazer esse esforço. Tudo soa muito sem energia, cansado e desgastado, o que é particularmente frustrante para um repertório que em sua época soava tão fresco (e até hoje soa assim para meus ouvidos). A cozinha do Cream era uma explosão, química pura, e nesse disco soa como uma fagulha fraquejante. Eric Clapton, mesmo mais contido, ainda soa muito bem, mas o mesmo não se podia dizer dos já falecidos Ginger Baker e Jack Bruce.
Genesis – Live Over Europe 2007 [2007]
Mairon: A Turn It On Again: The Tour marcou o retorno do time trio do Genesis (Phil Collins, Tony Banks e Mike Rutherford) junto de Daryl Stuermer e Chester Thompson, aos palcos. A ideia era trazer o quinteto com Peter Gabriel e Steve Hackett, mas acabou sendo a formação da fase pop do grupo que perambulou pela América do Norte e pela Europa, onde foi registrado Live Over Europe 2007, e o DVD When in Rome. Assisti o DVD inúmeras vezes, então, ouvir Live Over Europe 2007 certamente remonta as imagens daquele show. O track list lembra bastante a sequência The Way We Walk, curiosamente os últimos ao vivos da banda antes desse, recolocando novamente o fã nas apresentações da banda na turnê de We Can’t Dance, mesclando os grandes sucessos dos anos 80 com alguns clássicos dos anos 70. Todos estão em excelente forma, e claro, os momentos das Longs são as que mais me chamam a atenção, com especial atenção para a trinca “In the Cage”/”The Cinema Show”/”Duke’s Travels”, a sensacional “Domino” e as duas partes de “Home by the Sea/Second Home by the Sea”. Gosto muito dos clássicos da fase pop, “No Son Of Mine”, “Turn It On Again”, “Land of Confusion” e “Mama”, e fiquei muito surpreso com a inserção de faixas mais obscuras, como a linda “Ripples” e a sensacional “Los Endos”, com a introdução “Conversations with 2 Stools” onde Collins e Thompson dão um show a parte solando apenas em duas banquetas. Incrível! Claro que as baladas melosas teriam que aparecer, foram grandes sucessos, mas confesso que não é o que mais admiro no grupo. Disco muito bom, para uma audição muito boa, que funciona como uma boa coletânea dos aos vivos da fase trio. Um detalhe, Live Over Europe 2007 acaba perdendo, em relação a When In Rome, toda a espontaneidade e diversão de ver Phil Collins falando em italiano durante as canções, assim como assistir o duelo nas banquetas é algo marcante. Mas isso é um mero detalhe. Pena que a banda não seguiu adiante com esse projeto. Teria sido muito bem vindo por aqui.
André: Mesmo eu também não sendo grande fã do Genesis, aqui eu tenho que tirar o chapéu para os caras. Apresentação incrível e divina, com Collins ainda cantando muito e a banda afiadíssima. Tony Banks eterno mestre dos teclados. Mesmo dando pouco valor ao prog do começo da carreira, acho que um fã da banda (principalmente da fase Collins) deve considerar muito em ouvir esta bela apresentação.
Daniel: O Genesis é bem provavelmente a minha banda favorita dentro do Progressivo, mas curto apenas a “fase Peter Gabriel”. Nunca havia escutado este álbum e ao pesquisar sobre o que se tratava vi que era uma reunião do conjunto, mas sem Peter Gabriel e Steve Hackett. Aí, de antemão, já não me empolguei muito para a tarefa. Resultado final: larguei na metade – não é pra mim.
Davi: O público do Genesis sempre foi dividido. Há quem prefira a fase prog de Peter Gabriel, há quem prefira a fase mais pop e radiofônica, com Phil Collins no microfone. Descobri o Genesis durante essa fase mais comercial. O primeiro álbum que ouvi deles foi o LP auto-intitulado, que tem “Mama” e “That´s All”. Vivi bastante essa fase. Portanto, nunca tive problemas com esses discos. Mais do que isso, realmente curto o trabalho que fizeram nesse período. E já que o cantor, nessa apresentação, era o Phil Collins, era justamente essa a fase que mais queria ouvir. Aqui, a banda deu uma mesclada no material trazendo músicas dos dois períodos, numa tentativa de querer agradar aos dois públicos. Tentativa frustrada. Acabou agradando mais o publico da segunda fase. Até porque não há nenhum momento de grandes ‘viagens’ por aqui. O resultado final é bom. O Genesis sempre teve uma qualidade técnica muito alta (mesmo no período mais pop) e Phil Collins ainda estava cantando muito bem. Sim, cantando de maneira mais suave, descendo um pouco o tom em alguns momentos, mas nada que prejudicasse ou frustrasse. Ainda que eu prefira os dois volumes do The Way We Walk, não tem como descer o cacete. É um trabalho muito bem feito. A única coisa é que, na mixagem, eu teria deixado o som do público com um pouco mais de evidência, mas isso é chatice minha, é claro.
Fernando: Tenho um sentimento dividido por esse disco. De um lado, seria um sonho poder assistir à esse show, ver esses caras que eu admiro tanto. Já vi em vídeo e fico me imaginado lá no local. Seria incrível!!! Porém, para um disco ao vivo de uma grande banda é ruim quando ela foca praticamente em apenas uma fase de sua história. Eu gosto de ouvir os discos dos anos 80, não sou fã purista que abandonou a banda por conta de uma mudança de direcionamento. Porém, gosto tanto dos discos progressivos que é uma pena que tenham abandonado aquele repertório. Aliás, nessa época o Genesis perdeu a chance de ter sido a única grande banda de prog dos anos 70 a se reunir com sua formação clássica. Eles eram os únicos a poder fazer isso e agora, com as limitações físicas de Phil Collins, isso já não é mais possível.
Ronaldo: O apuro técnico do Genesis manteve-se intacto mesmo durante suas incursões na música pop a partir do fim dos anos 70. Não é diferente neste registro de 2007; há muito que se admirar em termos técnicos de música. A audição é agradável e a qualidade de gravação é formidável. Os poréns residem no repertório, no qual os fãs do Genesis progressivo quebram a cara, já que o lado pop tem maior destaque (o disco é uma coletânea de diferentes shows na Europa) e, mesmo as músicas do repertório prog adquirem uma roupagem mais polida, particularmente pelos teclados e pela bateria mais econômica. Engraçado que se nas bases e na sonoridade a banda economiza, há um desperdício de notas no icônico solo de guitarra de “Firth of Fifth”, que soa sem alma quando comparado ao original. Se por um lado, é compreensível que a banda valorize mais o repertório com o qual passou a lotar estádios e tocava em FMs ao redor do mundo, por outro lado é duro perceber que o Genesis chegou onde chegou rodando a estrada de um outro estilo e isso não pode ser apagado de sua história.
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