terça-feira, 20 de outubro de 2015

Review Exclusivo: Los Hermanos (Porto Alegre, 17 de outubro de 2015)



Três anos. Esse é o tempo que os fãs ficaram longe do grupo carioca Los Hermanos, que voltou à ativa para uma rápida turnê caça-níqueis, a qual está sendo divulgada como "o último encontro da banda", e que passou por Porto Alegre no último sábado, dia 17 de outubro.

Para celebrar esse reencontro, o quarteto Marcelo Camelo (voz, guitarra, baixo, percussão), Rodrigo Amarante (voz, guitarra, baixo, percussão), Rodrigo Barba (bateria) e Bruno Medina (teclados), acompanhados de Gabriel Bubu (baixo, guitarra) e do essencial naipe de metais construído por Bubu (trompete), Mauro Zacharias (trombone) e Marcelo Costa (flugelhorn, clarinete, trompete, saxofone), foram escalados para inaugurar o Anfiteatro Beira-Rio, um Anfiteatro construído na parte de traz de uma das goleiras do estádio do Sport Club Internacional. Em princípio, essa seria uma escolha errada, já que ao lado o Internacional oferece o gigantesco estágio Gigantinho, um local fechado e abrigado de chuva, só que durante o show, ficou provado que a escolha foi muito boa, não só por ser ao livre, mas também por que a acústica ficou muito melhor do que a acústica do Gigantinho.

O palco do Los Hermanos, com o trio de metais, Marcelo Camelo, Rodrigo Barba, Rodrigo Amarante e Gabriel Bubu (Bruno Medina no telão)


Aliás, por Ventura, tudo funcionou perfeitamente dentro e fora do Estádio. O estacionamento não teve nenhum empecilho de entrada ou saída, assim como os portões de acesso não mostraram nenhum congestionamento na saída, mostrando que realmente um estádio de Copa do Mundo tem seus méritos.

Outra atração a parte foi os mais de 15 mil fãs que estiveram presentes. A maioria em uma faixa etária dos 20 aos 40 anos, já havia visto o Los Hermanos outras vezes, e não se importaram em pagar o salgado preço do ingresso para conferir uma das bandas mais amadas e odiadas dos últimos anos no rock nacional, e que mesmo estando há 10 anos sem lançar um material novo, ainda conquista cada vez mais fãs (era possível ver muita gente que devia ter pelo menos uns cinco anos quando 4, o último disco oficial do grupo, foi lançado em 2005).


Camelo e Amarante (acima); Destaque para Amarante (abaixo)

Esses fãs são diferente do que estamos acostumados a ver em outros shows, já que não ficam filmando o show o tempo inteiro - no máximo, registram algumas fotos em seus celulares -, não gritam "Ah, eu sou gaúcho!" ou "Toca Raul" o tempo todo, e tão pouco fazem insinuações pró ou contra os principais times do Rio Grande do Sul, coisas que infelizmente são tradicionais nos shows realizados em Porto Alegre. Não, você não vê isso no show do Los Hermanos. O que você vê são pessoas que sabem o que querem ouvir, que cantam junto todas as canções, e que independente do tempo ou da distância que estão do seu ídolo, jamais deixarão surgir o Bloco do Eu Sozinho.

E esses mesmos fãs não tiveram do que reclamar. Os cariocas entregaram-se para um espetáculo marcante, que aqueceu a fria noite de sábado e deixou aquela sensação de "Por que não continuam na ativa". Mesmo que muitos critiquem o estilo e as letras do grupo, é impressionante como a banda muda de estilo como quem troca de cuecas, seja quando Camelo e Amarante alternam-se nos vocais principais, seja apenas seguindo com apenas um deles, cantando músicas tão distintas como a violenta "Azedume" abrindo espaço para a suave "Pois É" (no caso de Camelo), ou então da tristeza e profundidade de "Sentimental" para o embalo jazzístico de "Primeiro Andar" (no caso de Amarante).

O palco em "De Onde Vem a Calma"

Logo no início da apresentação, que começou com um atraso de uns vinte minutos, dava para se ver que a saudade que os fãs carregavam das últimas duas apresentações da banda em 2012 não ia ser tão simples de ser sanada. Afinal, as cinco primeira canções da noite ("O Vencedor", "Retrato pra Iaiá", "Além do que Se Vê", "Todo Carnaval Tem Seu Fim" e "O Vento"), fizeram o chão do Beira-Rio tremer, e muitos perderam a voz logo de cara. Para amenizar, o grupo encaixou três canções menos conhecidas, que fizeram com que alguns preservassem a voz, mas outros, cantassem com mais vibração as faixas "Cadê Teu Suín-?", "Do Sétimo Andar" e "Samba a Dois".

Nesse meio tempo, foi possível contemplar com mais calma o conjunto de telas que formaram o imenso telão, o qual circundava todo o palco, e que ora apresentava imagens dos músicos, ora iluminava-se com cores ou detalhes especiais para cada canção, dando ainda mais interação entre palco e plateia, além daquela que já estava sendo causada através da fala e dos ouvidos.


Detalhes do palco


A partir de então, o grupo soltou a mão, com interpretações inspiradíssimas que abrangeram os quatro álbuns do grupo, deixando a plateia cada vez mais enlouquecida e aplaudindo insanamente ao final de cada canção. Amarante é um show a parte. Suas dancinhas engraçadas no palco, o seu carisma, regados por long necks, vinho e um "cigarro", o fazem com certeza ser o Hermano mais adorado pelos fãs. Além disso, ele é de uma simpatia enorme, agradecendo e brincando com a plateia e com os colegas de banda todo o tempo.

No contraponto, Camelo é bastante comedido, mas ao mesmo tempo, de uma humildade que pouco se vê entre os artistas do rock. Rodrigo Barba é o que mais impressiona. Como o baterista evoluiu desde que o grupo surgiu lá em 1999 com "Anna Julia", de Los Hermanos. Está tocando muito, com viradas e rufadas não comuns anteriormente, e inclusive, chegando a fazer um longo solo - ovacionadíssimo - durante "Deixa o Verão". Bruno Medina é o John Paul Jones da banda, já que apesar de não aparecer como os demais, faz o seu papel com muita precisão, e tornando-se fundamental em faixas como "Sentimental", que colocou o Beira-Rio em prantos sob a linda imagem dos celulares ligados, iluminando as arquibancadas e o gramado do local.

Show de luzes em "Sentimental"


Aliás, "Sentimental" deve ter sido a canção mais aguardada e cantada durante a primeira parte do show. Para todos os lados, era um mar de gente cantando e chorando, e a comoção atingiu o palco, pois percebia-se claramente que os cariocas também estavam a base de uma carregada dose de emoção. Por outro lado, foi incrível e surpreendente a reação dos fãs quando "Tenha Dó" e "Descoberta", as duas primeiras canções do primeiro álbum da banda, foram apresentadas na sequência. Para quem acha que o grupo sobrevivia apenas de "Anna Julia" naquela época, ficou claro que ela é apenas mais uma canção que os fãs gostam, já que essas duas pauladas foram cantadas aos berros pela plateia.

Ficar passando por cada uma das músicas não seria conveniente, mas não posso deixar de citar o Bis apresentado pela banda. Depois de mais de uma hora e quarenta minutos de apresentação, o grupo deixou o palco sob aplausos ensandecidos, e o pedido de mais gritando tão alto quanto podiam os fãs. Surpreendendo novamente, o Los Hermanos voltou com a quase desconhecida "Adeus Você", para então emendar novamente com a sequência original de Los Hermanos, agora com "Anna Julia", "Quem Sabe" e "Pierrot", respectivamente terceira, quarta e quinta faixa do álbum de estreia da banda, e que também encerraram os shows de 2012.

Amarante, prestes a pular na plateia, mas impedido por um roadie


"Anna Julia" é um clássico inquestionável, que mesmo que você não goste, tem que admitir um pouco de respeito principalmente por ter sido regravada por George Harrison, mas afirmo novamente que ela foi apenas mais uma, já que "Quem Sabe" fez todo mundo enlouquecer. O naipe de metais sacudia a mente dos fãs, enquanto Amarante caminhou na frente dos fãs, acredito eu que pronto para executar um mosh, mas que por pedidos de um roadie apavorado, acabou não realizando. E quando Barba puxou o ritmo de "Pierrot", foi a deixa para o estádio vir a baixo. A pancada frevo-metal fez o pessoal que mora do outro lado da cidade sentir a casa tremer aos gritos de "Chora" que eram exalados em virtude da tristeza do personagem principal da história. Que loucura! Um festival de arrepios e cordas vocais sendo estraçalhadas sem piedade, mas com muita alegria e prazer.

A partir dali, não havia mais o que ser feito. Apesar de muitas canções terem ficado de fora, é impossível não ficar satisfeito com duas horas e quinze minutos de apresentação, com pelo menos cinquenta por centro de cada um dos álbuns sendo apresentados, e com uma alegria que, tomara Deus e os egos do quarteto, não demore mais três anos para voltar aos palcos. Inesquecível (mais uma vez)

Encerramento


Set List

1. O Vencedor
2. Retrato pra Iaiá
3. Além do que Se Vê
4. Todo carnaval tem seu fim
5. O Vento
6. Cadê Teu Suín-?
7. Do Sétimo Andar
8. Samba a Dois
9. Condicional
10. Azedume
11. Pois É
12. Morena
13. Um Par
14. O Velho e o Moço
15. A Outra
16. Paquetá
17. Sentimental
18. Primeiro Andar
19. Tenha Dó
20. Descoberta
21. Deixa o Verão
22. De onde Vem a Calma
23. Conversa de Botas Batidas
24. Último Romance
25. A Flor

Bis

26. Adeus Você
27. Anna Júlia
28. Quem Sabe
29. Pierrot

quarta-feira, 14 de outubro de 2015

David Bowie - David Bowie - David Bowie in Bertold Brecht's Ball [1982]



Eugen Berthold Friedrich Brecht nasceu em 10 de fevereiro de 1898, na cidade de Augsburg, Alemanha, e foi um dos principais dramaturgos e poetas do período nazista. Com apenas dezesseis anos, Brecht teve contato com a Primeira Guerra Mundial, vendo muito de seus amigos alistarem-se no exército alemão para combater em armas contra os inimigos.

Brecht na época que escreveu Baal
Em 1918, ele escreveu sua primeira grande peça, Baal, encenada pela vez primeira em 1923, dando início a uma série de publicações que influenciaram diretamente no teatro contemporâneo, principalmente por empregar nas suas obras o cenário Marxista adotado por ele como filosofia, o que posteriormente fez com que o mundo o conhece-se como o pai do chamado Teatro Épico.

A peça Baal é tida por muitos como uma joia na carreira de Brecht. Ainda sem defender os pensamentos de Karl Marx, ou de conter elementos do Teatro Épico, nela temos a história de um jovem cantor e poeta - Baal - galanteador, folgado e bebedor, que se envolve com várias mulheres, engravidando uma prostituta, a qual acaba abandonada por Baal grávida na estrada, quando este decide ir embora para o Sul da Alemanha, junto com um amigo chamado Eckart, que depois é assassinado pelo próprio Baal por divergências com mulheres e bebidas. Baal passa a ser um foragido da polícia, que o persegue pelos campos alemães. Escondido em uma fazenda de cortadores de árvore, e muito doente, Baal acaba falecendo de pneumonia, totalmente solitário.

O texto é escrito em uma aguçada prosa que inclui quatro canções e um hino introdutório ao coral, além de melodias compostas pelo próprio Brecht, mas para muitos é uma obra do segundo escalão na literatura Brechtiana.

Bowie as Baal


David Robert Jones nasceu em 08 de janeiro de 1947, tornando-se mundialmente conhecido como David Bowie. No início da década de 70, Bowie fez misérias como Ziggy Stardust, lançado no excepcional e fundamental The Rise and Fall of Ziggy Stardust and The Spiders from Mars (1972), e quatro anos mais tarde, mergulhando nas drogas e fazendo tanto sucesso quanto com Ziggy através de um novo personagem, The Thin White Duck, eternizado no também excepcional e fundamental Station to Station (1976).

Para fugir das drogas, Bowie isolou-se na Alemanha Ocidental em 1977, lançado por lá uma trilogia que julgo ser os melhores álbuns de sua carreira: Low, "Heroes" (ambos de 1977) e Lodger (1979), além do ao vivo Stage (1978). Foi lá que ele teve contato com a obra de Brecht, e se encantou pelo artista.


A versão 12" (esquerda) e 7" (direita) da trilha sonora de Baal

A fascinação por Brecht foi tamanha que, ao retornar para o Reino Unido, fez com que Bowie conseguisse um contrato com a BBC para filmar sua versão para Baal. A peça foi ao ar na TV em 13 de fevereiro de 1982, tendo sido filmada em setembro de 1981, e traz Bowie no papel principal, como um tocador de banjo e sendo um grandioso fanfarrão, em uma interpretação cênica digna de sua desconhecida carreira no cinema (a saber, existem pelo menos dois filmes com interpretações célebres de Bowie, O Homem que Caiu na Terra e Furyo, em Nome da Honra, que devem ser vistos pelos fãs do artista, além de participações marcantes em Labyrinth, Basquiat, O Grande Truque e A Última Tentação de Cristo, só para citar alguns), apesar da trama em si ser um pouco cansativa e dos colegas de cena de Bowie não serem nenhum artista de renome, ou fazer uma interpretação soberana (alguns nomes que aparecem na obra, e que por ventura você possa conhecer: Robert Austin, Russell Wootton, Julian Wadham, Juliet Hammond-Hill, Jonathan Kent, Tracey Childs, entre outros), bem como a fotografia ser bem precária para uma peça da BBC - um exemplo é quando os soldados estão procurando Baal supostamente caminhando em uma região com névoa, onde percebe-se nitidamente que os soldados repetem a caminhada com o mesmo fundo de névoa por algumas vezes.

Como uma espécie de complemento ao lançamento na TV, o próprio David Bowie decidiu lançar um EP com as canções do álbum. Assim nasceu o cobiçado caça-níqueis David Bowie in Berthold Brecht's Baal. Produzido pelo amigo Tony Visconti, nele Bowie construiu novos arranjos para canções e passagens que aparecem originalmente no vídeo que foi ao ar na BBC, com letras traduzidas do alemão para o inglês por Ralph Manheim e John Willett, e contaram - no programa - com arranjos de Dominic Muldowney. São apenas cinco canções, bastante teatrais e diferente de tudo o que Bowie gravou antes ou veio a gravar depois, tornando-se uma joia especial em sua discografia.


Encarte (acima) e detalhes da versão 7" (abaixo)


"Baal's Hymn" é a fusão de todas as vinhetas que aparecem no vídeo, narrando a vida de Baal, mas ganhando um imponente arranjo orquestral, já que as vinhetas originalmente apenas tinham Bowie acompanhado de seu banjo, declamando as frases que agora compõem esse tocante hino. "Remembering Marie A" trata sobre as conquistas de Baal, em um tema sútil, com Bowie acompanhado ao piano e uma tímida orquestra, em uma peça originalmente composta por Brecht em uma viagem de trem para Berlin, e que havia sido batizada "Sentimental Song n° 1004").

O lado B tem "Ballad of the Adventures", uma épica peça na qual Bowie lamenta a morte de sua mãe, sobre um profundo e sinistro arranjo orquestral, sendo uma homenagem de Brecht a própria mãe, que faleceu enquanto ele escrevia Baal. "The Drowned Girl" trata sobre o suicídio de uma das conquistas de Baal, com Bowie cantando quase que em sussurros, tendo uma agonizante companhia orquestral que entoa a peça "Das Berliner Requiem", de Kurt Weill, uma das músicas favoritas de Brecht. Por fim, "The Dirty Song" é uma das poucas canções que estão idênticas ao que aparece na BBC, que é o momento onde Baal humilha Sophie, uma das várias mulheres que se apaixona por ele.

Um pouco mais do encarte da versão 7"

O disco saiu em dois formatos, o primeiro em uma versão de 12", capa simples, e o segundo em uma luxuosa - e mais cobiçada - versão 7", com capa quádrupla trazendo a narração da história e detalhes sobre a gravação tanto das músicas quanto do programa.

Uma peça rara, não tão essencial, mas que pelo seu valor histórico, e também para os que a desconhecem, vale a pena a aquisição, principalmente para os fãs fervorosos e fieis de Bowie, que inclusive fizeram com que a bolachinha chega-se na posição vinte e nove das paradas britânicas, mostrando todo o poder de Midas de David Bowie.

Compre, não é furada

Track list

Baal's Hymn
Remembering Marie A
Ballad of the Adventures
The Drowned Girl
The Dirty Song

terça-feira, 6 de outubro de 2015

Quando as Cifras que Importam Não São as Musicais



E passou-se mais um Rock in Rio, o terceiro dessa década no Brasil, o sexto na história de 30 anos do evento - isso sem contar as edições internacionais.

Dessa feita, o evento que durou sete dias entre 18 e 27 de setembro, com uma pausa entre os dias 21 e 23, trouxe muitos nomes de peso do cenário mundial, a maioria consagrado, e não deu para os fãs reclamarem que não rolou rock 'n' roll. Pelo contrário, dos sete dias do evento, em cinco tínhamos pelo menos um GIGANTE do rock como atração principal no Palco Mundo.

FÃ COM ROUPA INUSITADA SALTA DIANTE DE UM DOS BRINQUEDOS DO ROCK IN RIO


Mas, será que um evento desses, com as dimensões infinitas que circulam pelos arredores da Cidade do Rock, tem como seu objetivo principal a música? Esses GIGANTES são representativos da cena musical atual?

Acompanhei o Rock in Rio via televisão - infelizmente, o fato de o evento ser realizado em pleno setembro impede que eu possa ir na cidade maravilhosa conferir os shows - e depois de ouvir quase todas as bandas que se apresentaram no Palco Sunset e no Palco Mundo, cheguei em algumas conclusões que gostaria de repartir com vocês.

Primeiro: sempre acompanhei o Rock in Rio pela TV. Nunca pude ir, mas o que passava no canal aberto era visto por meus olhos aguçadíssimos - e ouvidos mais ainda - desde a edição de 1991. A transmissão desse ano pude ver por canal fechado, e parabéns para a Multishow, que foi impecável. Som bom, imagem boa e nenhuma interferência nas transmissões dos shows. Muito bom.

ELENCO DO MULTISHOW QUE ACOMPANHOU O ROCK IN RIO: DEDÉ TEICHER, DIDI WAGNER, LUISA MICHELETTI, GUILHERME GUEDES, BETO LEE, RODRIGO PINTO, BRUNO DE LUCA, DANI MONTEIRO, LAURA VICENTE E MARI CABRAL.

Segundo: o festival tinha que voltar a ser em janeiro. Além de ser possível acompanhar os shows em casa até mais tarde (ou poder ver os shows de tarde do palco Sunset), possibilita que mais pessoas que estão em férias possa ir ao Rio. Isso talvez permitiria que o ingresso fosse mais barato, ou trazer shows maiores. Mas aí é que vem a questão: será que é isso mesmo o que os organizadores pensam?

Afinal, se analisarmos os grandes artistas que vieram para essa edição, poucas lançaram álbum esse ano. System of a Down, Elton John, Mastodon, Queens of the Stone Age, Metallica, Slipknot e Mötley Crüe são os exemplos principais, mesmo com o Slipknot tendo lançado um álbum ano passado. Apenas Faith No More, A-ha e Rod Stewart, trouxeram algo de novo para seus fãs, e fizeram shows muito distintos.

Rod Stewart

Rod Stewart (20/09) concentrou sua apresentação em clássicos que colocaram o asilo para dançar, mas que no geral foi bem monótona e sem sal, principalmente por saber que o cara já liderou a voz do Faces e do Jeff Beck Group, mas isso era esperado. Antes dele, passou o Rei Elton John, com um show extremamente burocrático, recheado de clássicos executados em marcha lenta, e que já tinha feito o pessoal do asilo dar uma sacolejada no esqueleto.



Para mim o show do Elton foi melhor do que Rod Stewart, mas a apresentação em si não foi das mais empolgantes, e foi ali que me deu o estalo na mente de "estou aqui mais pelo $ do que pelo show em si". Ainda no domingo do dia 20, Seal e Paralamas do Sucesso abriram o mundo relembrando o seu passado - Seal até tentou trazer algo novo, mas ninguém conhecia - e nada conseguiu superar o que aconteceu de tarde.

Elton John


Sim, os shows da tarde no Palco Sunset foram muito mais animados no dia 20 do que o Palco Mundo. Alice Caymmi só não fez chover. A mulher tem um vozeirão rasgado de arrepiar, e ainda vai dar o que falar. Magic! e John Legend foram gratas surpresas para acompanhar o fim de tarde. Não conhecia eles e gostei do que vi, tanto que estou buscando mais informações.

Pepeu Gomes, Baby do Brasil e Pedro Baby Gomes


A união de Baby e Pepeu foi simplesmente de chorar. Acompanhados do filho Pedro Gomes, o ex-casal Novos Baianos simplesmente colocou o Rio de Janeiro em um córrego de lágrimas de saudades. Pepeu é um monstro na guitarra, e Baby ainda é uma das melhores vozes de nosso país. A lamentar apenas o excesso de dedicações religiosas feito entre as músicas, mas nesse caso, via-se claramente a felicidade por estar diante de uma plateia enorme tocando aquilo que gosta, até por que há algum tempo Baby não colocava no seu repertório canções do Novos Baianos e/ou de sua carreira solo. Foi outro show revival, mas com muito mais feeling do que os grandiosos do Palco Mundo.

Paul Waaktaar-Savoy e Morten Harket


Uma semana depois, o A-ha foi a Ovelha Negra do dia 27. Entre Katy Perry, AlunaGeorge e Cidade Negra (primeira banda de reggae a apresentar-se na história do Palco Mundo), o A-ha, debaixo de muita chuva, mesclou canções de seu mais recente álbum, Cast in Steel, com versões modificadas de grandes sucessos de sua carreira, e arregaçou. Apesar da voz de Morten Harket falhar por diversas vezes, foi emocionante ouvir "Hunting High and Low", "Take on Me", "Crying in the Rain", "Stay on These Roads", "Cry Wolf" entre outros grandes sons que consagrou os noruegues na década de 80. Dos shows da tarde do dia 27 só assisti a Suricato, banda que injustamente perdeu a primeira edição do SuperStar da Rede Bobo para os malfadados almofadinhas da Malta, e que no Rock in Rio, fez um show competente, mostrando que eles são os verdadeiros candidatos a permanecerem como banda de sucesso daqui há alguns anos.


Me recusei a assistir qualquer show do sábado, dia 26, mas não tenho nenhum preconceito em fazerem uma noite dedicada para o pop, tendo Rihanna como headliner, já que isso aconteceu em todas as edições anteriores, com destaques para artistas como Dee-Lite, Nina Hagen, Britney Spears, Shakira, Beyoncé, entre outros.

Mike Patton com o mosh que deu errado

No dia 25, a grande atração era o Slipknot. Horas antes, o Faith No More começou seu show com tudo, tascando uma versão foderosíssima para "Motherfucker", mostrando a audácia esperada para uma banda como o FNM em começar um show com uma música de seu álbum mais recente, e prometendo ser o melhor grupo a passar pelo Palco Mundo naquele dia. Porém, Mike Patton inventou mais uma das suas, e em um momento tipicamente "vou cometer uma loucura", fez um mosh totalmente errado, se espatifou no chão e a partir dali, o show decaiu bastante. Patton ficou praticamente estático - depois soube-se que ele machucou gravemente as costelas - e a animação que começou lá em cima foi diminuindo na pouco mais de uma hora de apresentação que sinceramente, não deixou saudades.

Corey Taylor


O Slipknot fez um show para mim extremamente chato. As canções são tudo parecidas, e o excesso de pirotecnia encobre uma música que não me trouxe nenhuma emoção. O show de 2011 foi muito bom principalmente pela surpresa que causou naqueles que viam o Slipknot pela primeira vez, mas dessa feita, não houveram surpresas. Claro que os músicos são muito bons (principalmente os guitarristas Mick Thomsons e Jim Root, assim como o novato baterista Jay Weinberg), mas foi difícil ficar diante da TV durante as duas cansativas horas de apresentação da banda.

Antes dos dois, o Mastodon acabou roubando a cena no palco mundo, com uma apresentação pegada e cujo destaque foi para a extrema competência vocal dos músicos, já que todos se saem muito bem diante dos microfones não só como backing vocals, mas também como lead vocals. Além disso, o som dos caras é muito bom. Os novatos, nem tão novatos assim, já que estão há quinze anos na estrada, mandaram ver, e entendo quando eles não querem ser chamados de Heavy Metal, até por que as canções são muito mais rock do que heavy, e foi um show divertidíssimo de se assistir na sexta-feira à noite, mas que não chegou perto da maior apresentação do Rock in Rio, a qual ocorreu no Palco Sunset às 20 horas, e que fácil fácil podia ter colocado o Mastodon lá.

Steve Vai, "comendo" as cordas de sua guitarra


Essa apresentação foi do lendário guitarrista Steve Vai, acompanhado pela Orquestra de Câmara de Florianópolis. O homem que já esteve ao lado de Frank Zappa conduziu a orquestra ao mesmo tempo que conduzia suas guitarras com uma habilidade exclusiva. Por vezes, era impressionante as caras do maestro verdadeiro da orquestra, perdido e alucinado com as barbaridades que Vai cometia em seu instrumento. Ele detonou, só isso. Puxando as cordas da guitarra com a boca, abusando de escalas, bends, vibratos, hammers e todas as técnicas de guitarra com altíssima sapiência, em uma hora de apresentação o homem fez por merecer todas as críticas positivas que o colocam como um dos maiores guitarristas de todos os tempos. A Orquestra foi uma ótima acompanhante para o músico, que encerrou sua apresentação com a lindíssima "For the God of Love", e fez um dos momentos mais incríveis que já vi um guitarrista fazer, quando com a língua, conseguiu "entrar" na frequência de um vibrato, alterando-a com a passagem da língua pela corda de forma arrepiante. Não tinha como não ficar de olhos vidrados com aquilo, foi demais! Até por isso acho que o que veio depois não teve tanto impacto em mim, pois o orgasmo musical que Vai propiciou na noite do dia 25 era imbatível.

Naquele mesmo dia ainda rolaram Nightwish - não consegui aturar -, De la Tierra, esse no palco mundo e com um show bem agitado, os portugueses do Moonspell, com a participação de Derick Green do Sepultura, e o clássicos do terror, o único do dia que não consegui ver.

Serj "Ouro Preto" Tankian


Para o dia 24, a expectativa ficava por conta do System of a Down. Apesar de estarem afastados dos estúdios há dez anos, o grupo fez um dos principais shows de 2011, e óbvio que a nostalgia imperava na apresentação da banda, a qual foi muito boa. Porém, apesar dos inúmeros clássicos e de uma pancadaria bem dosada e boa de se ouvir, ficou uma sensação de "Quando vai vir algo novo? Qual será a novidade?". Isso aconteceu com outro headliner, o Metallica, mas comento mais adiante sobre o quarteto. Sobre o System of a Down, foi um bom show, valeu a pena ficar acordado até as duas da madrugada de sexta-feira para vê-los, mas tomara que apresentem algo novo em breve.

Johny Depp e Joe Perry


A noite do dia 24 na verdade teve como o melhor momento a apresentação do Hollywood Vampires. Liderados por Alice Cooper, tendo a cozinha do Guns Duff McKagan (baixo) e Matt Sorum (bateria) e contando com Joe Perry (Aerosmith) e Johnny Depp nas guitarras, o grupo fez um showzão para realmente animar a festa, Depois da passagem nada a ver do CPM-22, os Vampiros trouxeram ao Palco Mundo clássicos do rock 'n' roll, reconhecíveis até por uma marmota bêbada, e não teve como não cantarolar junto da TV. Apesar de focarem muito no fato de Depp estar na banda, isso foi o de menos. O ator toca bem seu instrumento, faz bases e solos com simplicidade e foi muito simpático, sendo apenas mais um desse poderoso time, que ao que parece, irá lançar um material em breve. Foi um belo show, tanto para compensar os fracos do CPM-22 (não gostei mesmo) quanto o chatérrimo Queens of Stone Age, banda que não consegui aturar e troquei de canal pouco depois da menina mostrar os seios e ser apalpada para todo mundo ver na Multishow - atitude lamentável que se repetiu também pouco antes do show do Slipknot. Engraçado que em 2001, o pessoal do QOSA ficou peladão no palco, mas dessa vez ficaram bem comportadinhos nos seus cantos.

Na tarde do dia 24 só consegui conferir o Halestorm, com um show pancada que podia fácil fácil ter ocupado o lugar do CPM-22. Os demais - Lamb of God, Project 46 e Deftones - infelizmente não consegui assistir por terem ocorrido durante o horário de trabalho.

Thiago Bianchi e Michael Kiske


Voltando para a primeira semana, o festival começava com tudo. Afinal, dois nomes consagrados do evento estariam no dia 18 e no dia 19 como headliners - Queen e Metallica respectivamente. O dia 19 abriu com o Noturnall, acompanhado por Michael Kiske, em um show que teve altos e baixos. A participação da mãe do vocalista Thiago Bianchi em "Women in Chains" não foi das melhores, e podia ter passado longe do Rio de Janeiro, mas quando Kiske entrou no palco, daí o Rock in Rio explodiu em vibração. O show do Angra também foi muito bom, ainda mais com as participações de Doro Pesch (como a velhinha continua linda) e de Dee Snider, que mostrou como se faz e levantou a galera. Acredito que quem estava assistindo essa apresentação no Palco Sunset deve ter ficado encantado com o que saía das caixas de som. Ministry e Korn, com seus experimentalismos exacerbados, acabaram fazendo eu mudar de canal, mas voltei a tempo de conferir a surpreendente apresentação do Royal Blood, uma banda que achava que ia fazer fiasco, mas fez um belo show, mesmo com a fria recepção do público no local. O Gojira havia passado no palco mundo, mas este não assisti.

Palco do Mötley Crüe


Antes do Metallica, o lendário Mötley Crüe fez sua despedida do Rock in Rio com um show competente, mas muito fraco. Vince Neil, com seu formato de queijo, nunca foi um grande vocalista, e apesar de trazer muito carisma, não contagiou. Por outro lado Mick Mars esganiçou. O cara está tocando como nunca, e tomara que ele mantenha uma carreira solo pós-fim do Mötley, pois será uma pena perder de ver esse homem em ação. Outro que está mandando ver é Tommy Lee, segurando as pontas na bateria como poucos. Uma pena que não trouxeram o famoso palco com a Montanha Russa, e apesar dos pesares, foi um bom show, marcado mais pelo saudosismo e pelo velho e bom rock 'n' roll, meio que no arrasto, mas capaz de fazer balançar o pescoço.

James Hetfield (Kirk Hammett ao fundo)


Quando o Metallica subiu ao palco, ficava a esperança de que eles mudassem o repertório que está rolando há cinco anos praticamente. Só que não, o Metallica não trouxe nada de novo. Foi o mesmo e velho show que já vimos em diversos DVDs e passagens da banda pelo país. Sinceramente, o Metallica podia esperar mais para vir ao Brasil, e mesmo com a avalanche de clássicos apresentados no Palco Mundo, não deu para empolgar. Para piorar, o som caiu por duas vezes durante "Ride the Lightning" - seria consequência de haver um torcedor portando a bandeira do Grêmio Football Portoalegrense em cima do palco? - estragando o solo de Kirk Hammett, mas que por outro lado, foi depois disso que o grupo resolveu tocar um pouco mais. Prometeram voltar em 2017, mas honestamente, bem que podiam trazer o Slayer no lugar deles.

E um dia antes, a abertura do evento com a tão aguardada apresentação de Queen + Adam Lambert. Foi um dia de ansiedade geral. Por ser na sexta-feira, não consegui ver nenhuma das apresentações do Sunset e do Palco Mundo antes do Queen, já que só cheguei em casa do trabalho às onze horas. Ainda bem, pois não tive que ver os seios da Martinália no topless em homenagem à Cassia Eller.

Adam Lambert e Brian May


Brincadeiras a parte, assim que cheguei em casa, me preparei para conferir o show dos headliners da noite. Foi um baita show? Sim, claro que foi, só que parecia muito mais um Queen on Broadway do que um show normal do Queen. Nem vou comparar Adam Lambert a Freddie Mercury. O garoto - nem tão garoto assim - é um bom vocalista, mas não tem como aceitá-lo como vocalista de uma banda do Queen. Ele não pode assumir os vocais da banda de jeito nenhum, ainda mais com um estilo que imita, mas não consegue ser, Freddie Mercury. George Michael foi George Michael quando esteve naquela posição, assim como Paul Rodgers foi Paul Rodgers, e Adam Lambert não consegue ser Adam Lambert. Talvez o peso de ser um menino perto dos vovôs Brian May e Roger Taylor afete isso, mas o problema não é só Lambert. May está totalmente fora de forma. O solo de "Brighton Rock" foi vergonhoso, e mesmo na bela "Love of My Life" (com Mercury dando as caras no telão) May não conseguiu reproduzir o acompanhamento sem dar uma engasgada. Taylor sempre foi um ótimo baterista, e não pecou no show, até surpreendendo quando assumiu os vocais de "A Kind of Magic". As surpresas ficaram por "The Show Must Go On" e "Stone Cold Crazy", e acredito que quem esteve lá deve ter adorado o show, mas para mim ficou a sensação de que "estamos aqui por que estão nos pagando bem". E isso aconteceu com outros amigos que assistiram os shows da banda em São Paulo e Porto Alegre, onde os preços dos ingressos eram quase do mesmo valor (ou até maior) do que o pago para ir no Rock in Rio.

E aí está, será que realmente é a música o que está no pensamento da maioria dos artistas "veteranos"? Ao ver o show do Queen + Adam Lambert e do Metallica, que não trouxeram nada de novo, confesso que me decepcionei bastante com a atitude deles. E não foi só no Rock in Rio. O valor de R$ 380,00 para assistir somente o Queen + Adam Lambert em Porto Alegre foi tão pornográfico quanto os lançamentos da Bruna Surfistinha. Em um local onde cabem pelo menos 10 mil pessoas, chutando por baixo, imagine a renda que os promotores não tiveram? Mas imagine também quanto a trupe de Brian May cobrou para essa apresentação? É muito dinheiro rolando.

The Allman Brothers Band, detonando no final da década de 60


Foi-se o tempo em que um Yes ou um Genesis ousavam em apresentar na íntegra um álbum duplo recém lançado, sem nada de velho, apenas canções novas, ou de um Pink Floyd, que levava para o palco canções que só iriam ser lançadas anos depois, ou um Led Zeppelin, Allman Brothers, Grateful Dead, que pegavam uma canção clássica e a transformavam em uma viajante sessão sonora. Esses momentos não existem mais no rock de hoje, e é uma pena. Ao ver uma banda como o Metallica ficar oito anos sem lançar material inédito, e continuar cinco anos com o mesmo set list de apresentações, é como ver filme da Sessão da Tarde: é bom, mas já se sabe o que vai acontecer. E o pior é que não fica só no Metallica. O próprio System of a Down, uma banda que confesso não sou fã e não acompanho muito, também está nessa barca.

O novo Kiss, com as máscaras antigas


Saltando para fora do Rock in Rio, é mais vexatório ainda ver que o próprio Yes continua na ativa mesmo com a morte de seu líder, Chris Squire, tendo apenas Steve Howe e Alan White como membros clássicos, mas não originais. Esses estão excursionando com material antigo, e prometem lançar material novo, o qual, se for do mesmo nível de Heaven and Earth (2014), é melhor não lançar. Claro que várias bandas já seguiram sem seu líder, mas no caso do Yes, é uma lástima que isso esteja acontecendo. Outra banda que também só vive pelas cifras monetárias é o Kiss. Não que o grupo nunca tenha vivido para isso, mas ter Tommy Thayer e Eric Singer emulando as máscaras de Ace Frehley e Peter Criss é uma afronta bizarra e debochada com os fãs antigos, que vivenciaram as duas primeiras fases do grupo e que, acredito fielmente, não se importariam em ver o atual quarteto sem as máscaras, pois as músicas apresentadas estão acima do espetáculo circense, mas falsificado, que acabou virando o show do Kiss nessa última década. Claro que assistir Gene cuspindo fogo, a guitarra do Spaceman atirando e tudo o mais é sempre bem-vindo, só que é duro saber que aquele Spaceman não é o original (o Kiss não é um 007 para ficar trocando de pessoas, está mais para um Chaves, Indiana Jones, Kevin McCallister, Marty McFly …).

Legião Urbana?


Aqui por terras brasilis, há pouco tempo Davo Villa-Lobos e Marcelo Bonfá confirmaram a volta do Legião Urbana com André Frateschi como vocalista. Acredito que os fãs do grupo - os verdadeiros - devem ter soltado um sonoro "Put@ que Pariu!" ao ler essa notícia. Como vão substituir um ícone como Renato Russo nos palcos? É da mesma proporção que colocar o Adam Lambert no lugar de Freddie Mercury. Desconheço a carreira de André, mas duvido que ele tenha o carisma que Renato tinha. E pior que muita gente vai pagar para ver essa turnê, e isso, óbvio, vai dar um $ para os músicos, e novamente me pergunto: "Será que é a música que vem em primeiro lugar".

Posso estar errado, mas vejo que cada vez mais as bandas estão nessa por dinheiro, e não pela música em si. E os fãs gostam disso. Em épocas onde as possibilidades de buscar por novidades com o avanço da internet são tão fluentes, permitindo que sejam conhecidos grupos e artistas obscuros, parece que esses Indiana Jones da música são uma parcela pequena perante a esmagadora quantidade de fãs que lotam os shows dos artistas citados. E isso que estou falando apenas dos artistas que passaram pelo Rock in Rio. Quantos outros vem navegando no mar calmo de "fazer shows com velhos sucessos sem lançamento de algo original" pelo mundo?

Ingresso do festival
Ao mesmo tempo, leituras durante e pós-Rock in Rio deixaram-me ainda mais intrigado com esses fãs e com os organizadores do evento. Afinal, o preço em torno de R$ 350,00 (trezentos e cinquenta reais) para cada noite do festival é nada convidativo, mas todos os dias a Cidade do Rock estava lotada, com mais de 80 mil pessoas, e pelas imagens e entrevistas dadas na TV, uma ampla maioria formada por adultos de classe média-alta, que figuram em protestos contra o atual governo federal seja nas ruas, seja em redes sociais. Então, onde está a crise para eles?. Mas isso é o de menos, o ser humano tem total liberdade de gastar seus tostões naquilo que lhe convém e de reclamar idem.

Só que além dos ingressos exorbitantes, o consumo de bebidas e comidas também atingia níveis altos de valores. Para se ter uma ideia, um saco de pipocas custava R$ 10,00. Um copo de refrigerante era R$ 7,00, enquanto um copo de sucou ou R$ 10,00. Ainda existia uma variedade incrível para um festival de rock, com lojas especializadas em pizzas, batatas e até yakissoba e sushi (!), tudo com preços girando entre R$ 10,00 e R$ 25,00. Alimentação a parte, o pessoal tinha também opções de diversão em Roda Gigante, Tirolesa, Montanha Russa, XTreme eram algumas opções de diversão (pombas, como vai se divertir em um evento de música se não for ouvindo música?), e pior que teve gente brigando para usar os brinquedos. Resumindo, só para adentrar a Cidade do Rock em uma noite de evento, fazer dois lanches, considerando que o cidadão ia ficar lá das 14 horas até as 02 da manhã, no mínimo R$ 500,00 reais seria gasto por dia, e para ver atrações que não são mais nada além de um DVD ao vivo.

Mas além disso, lojinhas e lojinhas de patrocinadores distribuindo lembrancinhas, aumentaram a sensação de que Comércio é Comércio Mesmo, e pela TV, era possível ver pessoas constantemente passeando em todas as apresentações. Não a maioria do público, mas sempre tinha gente caminhando e perdida em TODAS as apresentações que eu vi, assim como uns malucos cruzavam na tirolesa diante do palco. Depois reclamam que Geovanna Tominaga foi lá para ver o Nirvana ...

A lama de 85, colhida em 2015
Pior ainda, alguns souvenirs eram tão inusitados quantos os valores cobrados por eles. Tirando uma camiseta com a inscrição de todos os participantes de todos os Rock in Rio (custando R$ 35,00), e uma mini-Cidade do Rock no valor de R$ 70,00, os produtores conseguiram a façanha de inventar um souvenir tão babaca quanto suas vontades de ganhar dinheiro: A Lama de 85. Pelamordedeus. Os caras recolheram a lama da Cidade do Rock em 2015, trinta anos depois, jogaram dentro de placas de acrílico, e vendiam como se aquilo fosse de 1985 por modestos R$ 185,00. E pior, quatorze pessoas compraram isso (pra quê?). Daí repito, onde está a crise? Onde está o bom senso com o dinheiro ganho suado? Ou essa gente aí tem dinheiro sobrando e um pouco de lama da Cidade do Rock em casa vai ser legal para plantar as samambaias?

Enfim, para um evento tão grandioso, fica que o que menos contou foi a música, ou melhor, o sentimento que a música traz. Não vi um Bruce Springsteen tocando durante duas horas, suadão e faceiro, indo pro meio da plateia, ou um Slayer homenageando seu fundador com uma emoção quase raivosa de ter que fazer aquilo, ou um Neil Young estourando as caixas de som. Vi shows basicamente burocráticos e mornos, e no Palco Sunset, ou nos de menor porte, a presença de que "vale a pena eu estar aqui, pois a emoção é maior do que a cifra que entrará na minha conta bancária". Muitas das bandas do Palco Sunset fizeram os melhores shows do dia, mas por outro lado, o publico também não é nada receptivo com novidades. Que adianta trazer um Ghost se ele não consegue animar a plateia? Acho que o Mastodon sofreu do mesmo problema que o Ghost em 2013.

Imagina se em uma noite do Rock in Rio tivéssemos, na ordem, El Efecto - que duvido que tocasse num festival como esse - Blue Pills, The Winery Dogs e, fechando o palco mundo, o Slayer? Que espetáculo de novidades musicais nao teríamos? Mas será que é isso que o público quer?

Valores altos para pagar os cachês de artistas consagrados, cuja maioria já pisou no palco do Rock in Rio, e hoje estão afundados em um passado glorioso, não são dignos de um festival como esse. Atitudes de montar bandas usando nome de gigante, mas com outros artistas no lugar, soa-me tão charlatanista quando as criações do New-Steppenwolf ou do New-Deep Purple no final da década de 70, ou seja, bandas covers de si mesmo, com um ou dois artistas originais, e sem nada de novo a acrescentar. 

Entendo que muita gente gosta disso, mas na minha visão, e talvez eu deva estar totalmente errado, isso não me serve mais. E mais, com uma sociedade tão desnivelada financeiramente como a nossa sociedade brasileira, a arte por si só não chegou a ser consumida, mas sim um mero Jardim de Infâncias com trilha sonora e alimentação cara para a diversão de pessoas com um pouco mais de poder aquisitivo. Claro que nem todo mundo que estava lá era assim (tenho vários amigos que juntaram grande o ano inteiro para poder chegar perto de Brian May), mas fica aqui o meu desabafo. Joguem as pedras ...

sábado, 26 de setembro de 2015

Melhores de Todos os Tempos: 1994

Dream Theater em 1994: John Petrucci, John Myung, Kevin Moore, Mike Portnoy e James LaBrie




Por Diogo Bizotto (publicado originalmente no site Consultoria do Rock)


Com Alissön Caetano Neves, André Kaminski, Bernardo Brum, Bruno Marise, Davi Pascale, Eudes Baima, Fernando Bueno, Leonardo Castro, Mairon Machado e Ulisses Macedo

Participação especial de Flavio Pontes, redator do site Minuto HM

Entre trocas de vocalistas, álbuns ecléticos e heavy metal oitentista feito nos anos 1990, quem ocupou a posição mais alta nesta edição foi o Dream Theater, amado por uns e odiado por outros. Duvida? Leia os comentários a respeito de Awake e comprove. Lembrando que a elaboração de nosso top 10, baseado nas listas individuais localizadas no final da publicação, segue o sistema de pontuação do Campeonato Mundial de Fórmula 1. Ficamos no aguardo de seus comentários, seja positivos ou negativos.
01 Awake

Dream Theater - Awake (92 pontos)


Alissön: Não é birra com o Dream Theater, só acho que a exuberância técnica e demonstrações individuais de virtuosismo instrumental (algo que chamo de punhetação, tal qual Iggy Pop) não significam absolutamente nada para mim além de notas jogadas ao vento.


André: Sempre que um disco me traz memórias, sejam boas ou ruins, costumo tê-lo em alta conta. E este é o exemplo perfeito. Já começa com “6:00”, que me lembra meus tempos de universitário. Estávamos estudando James Joyce e a professora pediu para pesquisarmos sobre a influência literária dele em várias canções diferentes. Vi Dream Theater entre as opções, porém, alguém a pegou antes de mim e tive que me contentar com “Rejoyce” do Jefferson Airplane. Mas é justamente essa a canção que mais me marcou no álbum, visto que li “Os Mortos”, do autor, e aí fui descobrir, graças a este trabalho, que Kevin Moore havia escrito a canção, relacionando a prisão de Gabriel (personagem do livro) naquela situação descrita no livro com a sua própria no Dream Theater. No mais, é um disco interessantíssimo porque é o último trabalho do tecladista na banda e estes nunca mais lançariam um álbum tal como este. Há a pesada “The Mirror”, cujo riff de guitarra foi chupinhado por Bento Hinoto, no Mamonas Assassinas, e “Space-Dye Vest”, incluída no disco por Portnoy apenas para agradar o insatisfeito tecladista. Foi o primeiro disco da banda que ouvi em uma época em que eu estava descobrindo o heavy metal junto a um amigo, quando estávamos ali entre os 15 e 18 anos.


Bernardo: Ainda que este seja o terceiro disco, foi o tal "batismo de fogo" do Dream Theater. Apesar de, no geral, não me chamar a atenção, destaco "Caught in a Web" e "Space-Dye Vest".



Bruno: Chato, insípido, insosso, prepotente, cansativo, maçante, irritante, sonolento.


Davi: Discaço! O CD já abre com o genial Mike Portnoy debulhando em “6:00” e logo de cara temos a resposta do que se trata o disco. Continuam explorando sua cultuada técnica, trazem um pouco mais de peso do que o anterior (o antológico Images and Words, de 1992), mas não deixam a musicalidade morrer. Canções como “The Mirror”, “Lie”, “Innocence Faded” e “Caught in a Web” são consideradas clássicos do grupo. Álbum praticamente perfeito!


Diogo: Se existe um disco do Dream Theater que merece dar as caras nesta série é Awake. A primeira posição é um tanto exagerada, mas mesmo assim não tiro os méritos de Mike Portnoy e cia., pois conseguiram criar um álbum aliando peso em profusão, técnica bem aplicada, variedade e, principalmente, boas composições. Ao contrário de outros discos da banda ricos em canções entediantes, que não conseguem cativar, Awake tem uma caçamba cheia delas, a começar por "6:00" e sua marcante introdução de bateria, além de "Caught in a Web" e da balada "Innocence Faded", formando uma memorável trinca inicial. A produção de John Purdell e Duane Baron deixou o disco mais encorpado que seu antecessor, Images and Words, privilegiando o lado mais pesado do quinteto, que infelizmente perderia o tecladista Kevin Moore após a gravação do disco, responsável pela depressiva "Space-Dye Vest", que encerra o tracklist em um tom completamente diferente e pessoal, mas muito belo. A verdade é que, apesar de eu ter várias críticas à banda, rendo-me à qualidade de Awake, pois nenhuma faixa me desagrada. Destaco ainda a instrumental "Erotomania" e a dupla – praticamente emendada – "The Mirror" e "Lie", enfatizando ainda mais o lado puramente heavy metal do grupo, incluindo até uma pegada mais thrash.


Eudes: Discos conceituais e técnica extrema foram meus fetiches na adolescência. Mas nos anos 1990, e com mais de 30 anos, essas coisas não me impressionavam mais, salvo se realmente estivessem a serviço da criatividade. Não é o caso aqui, nesta coleção de 11 faixas de indubitável competência executória, mas tão maçante quanto a leitura de um processo judicial. De bom, a certeza de que o sempre bem vindo teen spirit dos consultores não morreu!


Fernando: Este álbum divide a preferência dos fãs com Images and Words, que é o meu preferido. Nessa época, o Dream Theater fazia músicas memoráveis. Praticamente todas tinham pelo menos uma passagem que nos fazia querer ouvir todas elas. Pode ser que “The Mirror” seja a mais famosa deste disco, mas não posso deixar de citar a lindeza que é a suíte “A Mind Beside Itself”, muito mais conhecida pelas três faixas que a compõem ("Erotomania", "Voices" e "The Silent Man"). Diferentemente do que acontece normalmente, as três partes da música são divididas no CD, fazendo com que muitos não saibam que, na verdade, é uma coisa só. A sequência inicial de “6:00” nos ensinou sobre os tempos quebrados e que praticamente todas as musicas que gostávamos era em quatro por quatro. Por isso a estranheza que causavam aquelas batidas de bateria que pareciam fora de ritmo.


Flavio: Awake, o vencedor desta pesquisa e também meu vencedor, é, de longe, o melhor disco de 1994. Acredito que nele está o equilíbrio entre o progressivo e o heavy metal – do virtuosismo/singeleza do progressivo ao "punch" do heavy metal. Lembro perfeitamente que quando conheci a banda, em 1995, dei de cara com Awake. Na época, copiei para uma fita cassete, ouvi algumas vezes e não entendi nada, mas vi que havia algo de diferente, desafiador, promissor e, principalmente, genial. O Dream Theater traz em Awake o seu ápice. As composições são ousadas o suficiente, sem serem enfadonhas, sem excesso de firulas musicais. A banda está em ótima forma, com participações definitivas de Petrucci, Myung e Portnoy e grandes performances vocais de Labrie. Não há faixa fraca no disco; talvez entenda que a balada "The Silent Man" (que compõe com "Erotomania" e "Voices" a trinca da suíte chamada "A Mind Beside Itself") é a pitada mais normal do disco, sem deixar de ser muito bonita. No mais, é petardo atrás de petardo, desde as menos preferidas "6:00", "Caught in a Web" e "Erotomania" às mais preferidas "Innocence Faded", "Voices", "The Mirror", "Lie" e "Scarred", à suavidade de "Lifting Shadows Off a Dream", e a magistral composição de despedida do tecladista que até hoje prefiro na banda, Kevin Moore, a lindíssima "Space-Dye Vest". Awake traz as minhas musicas preferidas da banda até hoje e o considero o ponto alto e definitivo consagrador, como uma referência no estilo, sendo por muito tempo minha banda preferida de rock e talvez o último grande grupo que conheci. Enfim um clássico da banda, uma obra-prima.


Leonardo: Gosto mais do disco anterior, mas Awake não deixa de ser um belo trabalho do Dream Theater, talvez o ultimo que eu consigo ouvir do inicio ao fim, sem pular nenhuma faixa. Mais pesado e menos progressivo que a maioria dos álbuns da banda, Awake apresenta canções memoráveis, sem deixar de apresentar o virtuosismo que a banda sempre teve. Recomendado.


Mairon: Lembro que, quando escrevi o Podcast sobre essa banda, ouvi toda sua discografia, e Awake foi daqueles álbuns que não consegui gostar. A voz irritante de James LaBrie e a pomposidade egocêntrica das canções não me conquistaram daquela vez, e ouvindo novamente para a piada à la Zorra Total que foi esta lista, achei a coisa pior ainda. Prometo que não vou comentar sobre nenhum disco que deveria estar nesta lista, pois acredito que os colegas consultores perderam a noção da realidade há algum tempo – inclusive nem sei mais por que continuo participando disso – mas ressalto que a predominância metálica é cada vez mais vergonhosa, mesmo com a inclusão de Chico Science e Jeff Buckley, assim como um disco tendenciosamente entrando na lista final (alguém aqui sinceramente acha que um álbum solo de Ritchie Kotzen deve estar entre os dez mais de um ano como 1994?). Quase dormi...


Ulisses: Lembro que, quando conheci o Dream Theater, Awake logo se tornou meu disco favorito, mas eu só ouvia as três primeiras canções, em loop. Demorou algum tempo até que eu me acostumasse ao prog metal das canções seguintes e, por fim, da banda inteira. De fato, "6:00", "Caught in a Web" e "Innocence Faded" formam uma das melhores tríades de abertura que já ouvi, apresentando um clima mais obscuro que o de Images and Words, mas mantendo os elementos progressivos e a técnica, fundamentais desde a concepção da banda. Apesar do notável peso de canções como "The Mirror" e "Lie", as baladas do disco estão entre as melhores já criada pelo grupo: a acústica "The Silent Man" e "Space-Dye Vest", composta inteiramente pelo tecladista Kevin Moore, que encerra o disco com uma ambientação tristemente emotiva, mas não menos magistral.




Mötley Crüe - Mötley Crüe (58 pontos)


Alissön: Deixa eu ver se entendi direito: vocês pegam no pé do Nirvana e similares, mas elegem o disco pseudogrunge ruim do Mötley Crüe? Ok, "Misunderstood" é legal e tudo mais, mas ainda assim não faz o menor sentido. Me expliquem isso, por favor...


André: Pelo jeito é o ano de estreia dos novos vocalistas em bandas famosas, visto que John Corabi entrou no lugar de Vince Neil por aqui. Diferentemente dos fãs do Helloween, que receberam Andi Deris um pouco melhor na época (embora as kiskezetes fossem muito escandalosas naqueles tempos), o fato é que Corabi penou muito em seus poucos anos de Crüe, se encaixando no rótulo de “injustiçado”. Não acho que este disco seja excelente e nem que merecesse estar na lista, mas o vocalista é o que menos tem culpa do resultado e da queda comercial que a banda teve após o sucesso de Dr. Feelgood (1989). Este trabalho tem altos e baixos, sendo “Smoke the Sky” e “Droppin’ Like Flies” dois pontos que considero fortes e “Power to the Music” e “Til Death Do Us Part” dois que considero fracos. É interessante que a banda quis pegar carona no grunge noventista e até fez um trabalho razoável se comparado com muitas outras que tentaram o mesmo naquele período. Porém, por mais que tenham adotado a aparência de uma banda suja do thrash, o Mötley Crüe é e sempre será a banda dos cabelos cheios, biquinhos sensuais e calças de oncinha.


Bernardo: Álbum surpreendente, ainda que no disco seguinte o esquema de sempre tenha voltado. Mais pesado, sujo e cadenciado, o único disco com o vocalista John Corabi deve ter sido o último suspiro criativo da banda. Destaque para a abertura, "Power to the Music".


Bruno: Disco mais pesado e cru, feito para agradar o público que se ligava no rock de Seattle, com a bateria de Tommy Lee à frente e os vocais secos de John Corabi. Um álbum interessante, mas bastante cansativo no geral.


Davi: Puta disco e, infelizmente, extremamente subestimado. Realmente, o Mötley Crüe foi para outro caminho e isso deve ter assustado seus fãs na época. John Corabi é um excelente cantor, mas ia para outro lado. Cantava com uma voz mais rasgada. O Mötley perdeu um pouco aquele lado festeiro, alegre, que seus fãs tanto curtem. Contudo, o nível do disco é alto. Pesado, com canções bem trabalhadas e marcantes. Tommy Lee estava arrebentando na bateria e Corabi demonstrava ser um cantor de enorme personalidade. “Power to the Music” ainda é um dos meus sons favoritos do Mötley.


Diogo: Apesar de estar associada ao pop metal e ter feito jus a isso (com competência), o Mötley Crüe, em sua origem, é uma banda que soube soar agressiva e excitante à sua maneira, como comprovam os ótimos Too Fast for Love (1981) e Shout at the Devil (1983), unindo glam rock, heavy metal e punk rock a uma atitude única. Desprovidos de Vince Neil, os remanescentes Nikki Sixx, Tommy Lee e Mick Mars convocaram John Corabi e se adaptaram aos anos 1990 renovando aquela agressividade dos primórdios da carreira, de quem ainda parecia querer provar algo, e soltou um álbum praticamente tão excitante quanto os citados. Para ajudar a dar vida a grandes canções como "Uncle Jack", "Hooligan's Holiday" e a pesadíssima "Smoke the Sky", o quarteto contou com o auxílio do produtor Bob Rock, que fez um trabalho estupendo. Destaque especial para o som de bateria, que concorre com aquele extraído pelo Metallica em seu disco autointitulado (1991) como o melhor que já ouvi, ao menos em se tratando de bandas de rock. Ouvir Tommy Lee marretando a caixa na introdução de "Power to the Music", que abre o álbum, é ter a certeza de que o baterista não está de brincadeira, soando como uma patrola desgovernada. Toda a banda merece ser exaltada, mas é nítido quão feliz, ao menos musicalmente, foi a união com Corabi, um vocalista muitíssimo superior a Vince. Pena que o sucesso comercial foi insatisfatório, sentenciando a saída de Corabi, mas hoje em dia é normal ver este álbum tido em alta conta não apenas entre os fãs do grupo, mas entre pessoas que sequer gostam do Mötley Crüe "normal".


Eudes: A banda tinha de fazer um disco para vender. Afinal, a Elektra tinha pago 25 milhas de doletas pelo passe dos atletas. E tocar um hard pop e cativante, para fazer a caminhoneirada e hordas de adolescentes baterem o pé e a cabeça enquanto enchem a cara já era a especialidade da banda. Coisas como "Power to the Music" e "Hammered" fazem o serviço e, vamos combinar, é uma das coisas mais eficazes em festas de roqueiros. Vou nem reclamar.


Fernando: Em 1994, eu havia acabado de descobrir o Mötley Crüe. Conheci um cara lá em Itapetininga (SP) que tinha todos os discos até então. Em duas semanas fui à casa dele e gravei em fita cassete todos esses álbuns. Quando soube que eles estavam lançando um disco novo com um novo vocalista, não me preocupei, já que várias bandas estavam trocando de membros nessa época, em especial Iron Maiden e Judas Priest. Mötley Crüe é hoje em dia muito exaltado, até por muitos que nem gostam tanto da banda. Curto o álbum e acho que John Corabi fez um bom trabalho. Nunca o ouvi cantando as músicas antigas e acredito que a grande maioria das pessoas também não ouviu. Isso talvez explique a baixa rejeição que o disco tenha com essas pessoas. Afinal, um disco de estúdio é uma coisa, os shows com músicas antigas que ficaram eternizadas na voz de outro vocalista é outra.


Flavio: Aqui temos um disco surpreendente para o grupo. Se a saída do vocalista Vince Neil em 1992 havia sido uma surpresa, a entrada de John Corabi trouxe de forma inquestionável um novo som para a banda. Simplesmente chamado Mötley Crüe, como em um renascimento musical, o álbum traz um estilo longe do hard/glam/poser metal característico da banda até então. Flertando com o movimento Grunge, em alta na época, as composições de Corabi e Nikki Sixx são bem fortes e pesadas, sem deixar de serem criativas e usar elementos enriquecedores, como o uso de slides, violões e afinações baixas. O novo vocalista não decepciona, cantando muito bem em todo o disco. Posso destacar a faixa de abertura, "Power to the Music", além de "Hooligan's Holiday", "Droppin' Like Flies" e até a balada de trabalho, "Misunderstood". Se você é fã da do estilo da fase clássica da banda, esqueça este disco, se você não se importa com o estilo e procura um bom disco de rock, Mötley Crüe é altamente recomendável.


Leonardo: Um dos discos mais injustiçados da história do rock. Após demitir o vocalista Vince Neil, o Mötley Crüe recrutou John Corabi para a banda e gravou um disco totalmente diferente do que havia feito até então. Denso, pesado e muito mais “sério” do que seus trabalhos anteriores, o autointitulado álbum de 1994 ainda nos presenteava com riffs espetaculares, os vocais graves do novo cantor, a bateria sólida de Tommy Lee e uma das melhores produções já ouvidas em um disco de hard rock. Entretanto, mesmo com tantos predicados, o álbum foi um fracasso total. Os fãs antigos se decepcionaram com a nova sonoridade da banda, e a garotada estava mais interessada na simplicidade do Nirvana do que em conferir o disco “daquela banda colorida dos anos 1980”. Felizmente, o álbum foi sendo redescoberto ao longo do tempo, e hoje é visto como um dos melhores trabalhos da banda.


Mairon: Outra surpresa nesta lista. Tantos discos bons do Mötley Crüe ficaram de fora, e jamais imaginaria que a estreia de John Corabi iria figurar dentre os dez de 1994. O Mötley ficou mais pesado, perdeu a purpurina e virou uma bela banda, talvez não tão boa quanto nos tempos de Vince Neil, mas capaz de arrancar um bom sorriso com "Hammered, "Poison Apples" e "Welcome to the Numb". Até o embalo acústico de "Loveshine" e da baladinha "Driftaway" surpreende, fazendo nos perguntar se essa é a mesma banda que gravou Dr. Feelgood ou Too Fast for Love (1981). Não é não. É uma banda mais madura, com um ótimo vocalista, e que soube lidar muito bem com a pressão da perda de uma imagem marcante como a que foi a quantidade de maquiagem dos anos 1980. Claro, a presença ilustre de Glenn Hughes (o maior injustiçado desta lista) na lindinha "Misunderstood" dá um ar nostálgico diferencial para um disco do Crüe, com a adição de cordas, bandolim e efeitos de sintetizadores, além de uma guinada de 180º no seu andamento, que a tornam fácil a melhor música do disco. Não entrou por pouco na minha lista, mas fico feliz de ver esse álbum entre os dez mais. Dentre os que estão aqui, para mim é top 3 fácil, atrás apenas de Jeff Buckley.


Ulisses: Apesar de não acompanhar a banda, sei que o Mötley Crüe é da turma dos farofeiros, mas a coisa está um pouco diferente neste disco. Som recheado, com boa base de rock e metal tradicional – "Droppin' Like Flies" é um ótimo exemplo dessa sonoridade. Faixas como "Misunderstood", "Poison Apples" e "Welcome to the Numb" são boas mesmo, não dá pra negar, justificando a presença do álbum aqui na série.




Megadeth - Youthanasia (54 pontos)


Alissön: O Megadeth já não provoca em mim a mesma comoção de anos antes, quando ainda estava desvendando os meandros extremos da música. Ouvir Youthanasia hoje em dia me traz boas recordações, como os belos riffs de "Train of Consequences" e o ritmo hipnótico de "Reckoning Day", músicas que compensavam a queda de qualidade da segunda parte do disco, da qual não me lembro de nada.


André: Vou ser bem sincero: esqueci completamente do Megadeth desse ano. Eu o colocaria ali pela quarta posição na minha lista, o que faria sua posição subir mais um pouco. Sorte que meus amigos consultores lembraram dele. Esquecer clássicos como “Reckoning Day”, “Train of Consequences”, “A Tout Le Monde” e “I Thought I Knew It All” fizeram eu me sentir mal. Neste disco a banda praticamente abandona quase tudo daquele thrash metal mais ríspido de antes para investir em um estilo mais tradicional e melódico. O grupo refina seu som, que passa a soar até mais classudo, algo que ninguém esperaria de uma banda que tenha Dave Mustaine como líder. Os riffs são grudentos e a cozinha de baixo e bateria de Ellefson e Menza é uma das melhores de todo o heavy metal (no mínimo, eram a melhor dupla nessa primeira metade dos anos 1990).


Bernardo: Um caminho natural a ser seguido depois de Countdown to Extinction (1992). "A Tout Le Monde" é incrível em sua força cadenciada.


Bruno: Me soa como um Countdown to Extinction Pt. 2 sem a mesma pegada. Um tanto longo e cansativo. Presença exagerada na lista.


Davi: Excelente álbum do Megadeth. Assim como seus rivais do Metallica, o grupo de Dave Mustaine estava sendo visto como uma grande banda de metal, e não mais como uma grande banda de thrash metal. A balada “A Tout Le Monde” era uma prova de que queriam adentrar as rádios, que queriam ser mainstream. O álbum, contudo, conta com alguns petardos como “Reckoning Day”, “Elysian Fields” e até mesmo “Train of Consequences”. A banda estava indo para um caminho mais elaborado, buscando diversas referências e isso os fez crescer como músicos.


Diogo: Youthanasia é daqueles que não entraram por bem pouco em minha lista pessoal, então obviamente julgo sua presença aqui digníssima. Se sua segunda metade fosse tão boa quanto a primeira, certamente teria galgado alguns degraus, pois a sequência de faixas iniciais faz bonito mesmo frente a Rust in Peace (1990) e Countdown to Extinction. Ou vai dizer que a avassaladora "Reckoning Day", "Train of Consequences", "Addicted to Chaos" e a marcante balada "A Tout Le Monde" não são belas canções? Apesar de alguns lapsos mais próximos do thrash metal, a vasta maioria do material apresentado em Youthanasia trabalha em uma área mais convencional, se é que posso assim chamar, mostrando que Dave Mustaine e seus asseclas tinham o domínio das duas linguagens e sabiam construir ótimas composições exercendo esse equilíbrio, algo que funcionaria pelo menos até o disco seguinte, Cryptic Writings (1997), apesar de não tão bem quanto no lançamento de 1994. Ah, e vale frisar: podem criticar o vocal de Mustaine o quanto quiserem, mas sua evolução e a capacidade de trabalhar bem dentro de suas limitações é outro elemento essencial que faz de Youthanasia um bom álbum.


Eudes: Nunca havia ouvido este disco, até agora. Incrível como a obra da banda é indistinguível. Não dá pra dizer que não gostei, mas, com pouco dinheiro, em 1994, não estaria nas minhas compras do mês.


Fernando: Depois de dois ótimos discos, era natural que a banda desse uma caída. Mas apesar de Youthanasia ser inferior as dois antecessores, ainda é um excelente álbum. Estranhei um pouco a produção na época. Parecia-me um pouco mais sujo que os outros discos, especialmente se comparado a Countdown to Extinction. Varios destaques e faixas que podem entrar em um setlist de show até hoje, principalmente as quatro primeiras. “Victory” é bastante divertida, com sua letra fazendo referências à várias músicas do passado do quarteto. Apesar do Megadeth ter apenas dez anos na época, já o considerávamos um grupo experiente, com seus seis álbuns até então.


Flavio: O sexto disco do Megadeth traz basicamente uma manutenção de estilo em relação ao anterior – o excelente Countdown to Extinction. Youthanasia, porém é um pouco menos pesado/rápido e mais calcado no heavy metal tradicional, com também excelentes composições. A banda, que foi mantida em seus integrantes desde Rust in Peace (1990), estando em seu auge, traz o fenomenal guitarrista Marty Friedman, um destaque no disco. Podemos também destacar várias faixas, como a de abertura, "Reckoning Day", "Train of Consequences", "Addicted to Chaos" e "Bloody of Heroes". O single "A Tout Le Monde" também é uma ótima musica. Pelo seu sucesso, foi até regravada em dueto com a vocalista Cristina Scabbia, em 2007. Apesar de gostar mais do anterior, Youthanasia é um ótimo álbum, que recomendo para todos os adeptos do estilo ou aos que desejam ouvir um disco coeso, com ótimas passagens e riffs inspirados.


Leonardo: Em Youthanasia, o Megadeth manteve o estilo adotado em Countdown to Extinction, mas ainda mais polido e menos agressivo. Apesar de ter algumas excelentes composições, como a balada "A Tout Le Monde" e "Reckoning Day", o disco não mantém o alto nível em todas as faixas, e algumas canções passam despercebidas. Mas os solos de Marty Friedman continuavam impecáveis, e o final com a estupenda "Victory" é sensacional.


Mairon: Dos poucos discos que gosto desta lista, entre os que eu conhecia, claro (70%). Seguindo a linha de Countdown to Extinction, Mustaine e cia. trouxeram um álbum forte, com músicas mais hard do que thrash. Exemplo claro para mim é "Train of Consequences", que poderia fácil estar em algum disco do Skid Row, por exemplo. Outras faixas acessíveis são "Elysian Fields", "I Thought I Knew It All" e "Family Tree", que me lembram um pouco do Metallica do Black Album (1991), não sei por quê. Os melhores momentos vão para o peso de "Black Curtains" e "Reckoning Day", a introdução de "The Killing Road", o ritmo acelerado de "Victory" e a superclássica "A Tour le Monde". Mas também temos algo um pouco inferior em "Addicted to Chaos" e "Blood of Heroes", apesar de não serem faixas nem sequer perto de serem chamadas de ruins. A própria faixa-título figura no limbo de canções que não empolgam, mas também não são desprezíveis. Enfim, não entrou na minha lista final, mesmo tendo figurado por algumas vezes, e, portanto sua presença aqui não é nenhum absurdo. Só me surpreende que o Megadeth tenha tantos fãs entre os consultores.


Ulisses: Composições cativantes, riffs memoráveis, melodias facilmente assimiláveis e a sempre presente técnica da mais aclamada formação do Megadeth – Mustaine, Menza, Ellefson e Friedman – compõem o sexto disco de estúdio de um dos gigantes do thrash metal mundial, sucessor do super bem recebido Countdown to Extinction. Aqui, o quarteto se distancia ainda mais da sonoridade pesada e intrincada de álbuns consagrados, como Peace Sells... But Who's Buying? (1986) e Rust in Peace (1990), decepcionando vários fãs e ganhando muitos outros. A primeira metade do disco é absurdamente boa, com os empolgantes hits "Reckoning Day" e "Train of Consequences" apresentando um Megadeth cadenciado, direto, com riffs e refrãos memoráveis e radiofônicos. "Addicted to Chaos" é mais arrastada, enquanto a balada "A Tout le Monde" foi o maior sucesso de Youthanasia, com seu famoso refrão cantado em francês e tema polêmico – o clipe foi banido da MTV. Outros destaques incluem "The Killing Road", "Family Tree" e o encerramento com "Victory", cuja letra é composta de títulos de canções e álbuns da banda.




Chico Science & Nação Zumbi - Da Lama ao Caos (46 pontos)


Alissön: Imagino o quanto deve ter sido refrescante ouvir Da Lama ao Caos no ano de seu lançamento. Uma mistura maluca de rimos nordestinos, maracatu e rock turbinadíssimo: não existia absolutamente NADA parecido com aquilo até a data, e em lugar nenhum do MUNDO. Felizmente, essa maluquice genial não se limita aos arranjos. O disco é um verdadeiro retrato surrealista da vida do cidadão morador das periferias dos Estados do Nordeste, jogando de forma ácida na cara do cidadão da classe média o que realmente era a vida dos guetos das cidades. Não o mencionei pelo motivo de: esqueci (sim, esqueci mesmo, minha memória nunca foi muito boa). Clássico, e com força.


André: Nunca gostei de música regional nordestina. Nas referências psicodélicas, sou mais ligado à Tropicália, tal como o Mutantes. Também nunca fui chegado ao samba rock e não gosto mesmo das influências hip hop. Mas eu seria injusto em malhar o disco, porque eu respeito esse tipo de sonoridade. Normalmente a percussão é o que mais se destaca e esse é o caso aqui. A banda também traz boas mensagens sociais nas letras e um cuidado muito grande em referenciar diversas influências brasileiras com o rock. O meu gosto europeizado demais me impede de ligar o som no talo e apreciar, porém, esse disco foi muito importante e influente na música brasileira e Chico Science faz falta em nosso atual mainstream brasileiro.


Bernardo: Chico reinventou a música brasileira, unindo todas as tribos debaixo do mesmo teto, deixando esse papo de "gênero" para lá e mostrando o poder do sincretismo na música: Da Lama ao Caos botou o Recife (PE) de volta no mapa musical dos anos 1990, misturando rock, rap, psicodelia, eletrônica e música regional e popular para falar sobre a realidade à sua volta, em clássicos dos anos 1990 como "Banditismo por Uma Questão de Classe", "Samba Makossa", "Computadores Fazem Arte" e a faixa-título.


Bruno: Não é todo mundo que tem paciência para a mistureba que Francisco de Assis França e sua trupe fizeram no meio dos anos 1990. Apesar de a razoável produção de Liminha não conseguir capturar toda a potência sonora da banda, a força das músicas compensa. Hoje pode não parecer, mas a união de guitarras pesadas, percussão, grooves funkeados, ragga, reggae e hip hop foi uma grande novidade, e deu uma vida para a cena musical de Recife.


Davi: Poucos nomes me chamaram atenção na cena brasileira mainstream dos anos 1990. Chico Science foi um deles. O garoto de Recife demonstrava uma enorme criatividade ao misturar elementos regionais com MPB e rock, sem soar caricato. Da Lama ao Caos foi um disco que os ouvintes de FM demoraram para captar, mas diversos artistas elogiaram logo de cara. Até mesmo dentro do heavy metal. Lembro de Max Cavalera comentando do disco, em especial a faixa-título. As letras de Chico, com as guitarras de Lucio Maia e o trabalho de percussão da Nação demonstravam que a música brasileira poderia ir muito além do rock engraçadinho que predominava nas rádios graças à explosão dos divertidos Raimundos e Mamonas Assassinas (dois dos poucos nomes daquela época que fizeram um trabalho irreverente sem ser bobo). Infelizmente, a morte prematura de Chico interrompeu a revolução e não demoraria muito para o movimento manguebeat ir ladeira abaixo. Faixas de destaque: “A Cidade”, “A Praieira”, “Da Lama ao Caos”, “Rios, Pontes e Overdrives” e “Samba Makossa”.


Diogo: Não chega a ser digno de todo aquele furor propagado pela imprensa especializada nem por aqueles que repetem seus mantras tal qual papagaios, sem o mínimo questionamento, mas é um bom disco em meio ao cenário noventista brasileiro, certamente marcante e feliz em seu amálgama de guitarras rock com ritmos locais. Podem ter certeza: mais feliz e criativo do que a união de rock com outros gêneros locais que já ouvi por aí, inclusive ao que alguns grupos gaúchos fazem por aqui em minhas bandas. Bateria e percussão poderiam oferecer um pouco mais de variedade, mas considerando que o maior propulsor de boas músicas como "Rios, Pontes & Overdrives", "A Cidade", "A Praieira" e a faixa-título são as linhas vocais de Chico Science, posso dizer que os responsáveis por esses instrumentos estão servindo à música. É uma pena, porém, que algo até interessante e bem engendrado como Da Lama ao Caos tenha sido essencial para dar origem a uma infinidade de grupos chulezentos que infestam festinhas universitárias.


Eudes: Claro que a onda manguebeat foi muito exagerada pela mídia da época, e, a rigor, quando olhamos de longe, nem se tratava de uma onda, mas de um momento de chegada aos meios de um certo número de artistas que se encontravam represados. Mas daí veio talvez o último sopro de criatividade maciça no rock brasileiro, cujos cumes foram a Nação Zumbi e o Mundo Livre S/A. Da Lama ao Caos, tido e havido como um manifesto de um movimento fechado (até Chico Science acreditava nisso) é mais simples: uma coleção de faixas inspiradas, no qual o rock não é mais do que um dos vários componentes da paisagem sonora em que esses meninos cresceram, compiladas de forma inventiva e por músicos extremamente competentes. É enérgico, é suingado, é frevo e maracatu e tem neurônios. Só o Ariano Suassuna não gostou, mas também não chegou a odiar. A banda, mesmo com a morte do líder, continua aí fazendo discaços. E ainda tem gente perdendo tempo com prog de terceira em plenos anos 1990.


Fernando: Nunca fui fã dessa onde manguebeat. Muito disso se deve pela aura pseudointelectualóide de DCE que amava esse tipo de som.


Flavio: Embora o uso de rótulos acabe trazendo um pouco de simplicidade à análise, em certos casos a associação traz mais benefícios do que o contrário. Neste caso, o disco tido como precursor do estilo/movimento manguebeat – o lançamento de estreia de Chico Science e Nação Zumbi, Da Lama ao Caos – é cultuado pelos adeptos do estilo e está bem definido no seu conteúdo musical. Em um estilo em que há muita manutenção monolítica principalmente de ritmo, com a percussão mantendo por muito tempo a mesma batida, as letras são repetidas e há melodia em um tom característico, onde a ênfase também fica bem destacada. Com este panorama, o som criado pode trazer uma sensação de um frenesi-zumbi-monolítico, o que para alguns é de agradável combinação. Em compensação, para outros esse mantra parece quase interminável, e musicas que têm quatro minutos parecem ter 40. No meu caso, me enquadro entre aqueles que torcem para que o disco acabe rapidamente. Resta então destacar o caráter musical inovador e alguns trechos de guitarra – alguns solos lembraram a fase psicodélica norte-americana do fim dos anos 1960. Valeu pela pesquisa no estilo, que espero não reencontrar mais.


Leonardo: Original, marcante e inusitado. A mistura de rock, ritmos regionais e batidas eletrônicas era algo inimaginável na época, mas extremamente eficiente. Tanto que o disco explodiu, e fez de Chico Science no novo “queridinho” da critica musical brasileira na época. Não é o tipo de música que eu curto, mas foi, e continua sendo, extremamente influente no Brasil.


Mairon: Talvez a maior surpresa desta lista, o disco que inaugurou o manguebeat tornou-se um clássico logo de seu lançamento. A mistura de rock, maracatu, psicodelia e música africana trouxe uma novidade marcante para uma geração pós-BRock. Não gosto do disco, tenho ojeriza à clássica "A Praieira" (que música bem chata) e a nova audição não me fez gostar de nada. Reconheço sua importância, apesar de achar que talvez só em uma lista de melhores brazucas da década de 1990 ele poderia entrar. Chato pacas!


Ulisses: Já vi inúmeras menções a Chico Science & Nação Zumbi, mas nunca corri atrás. Uma tremenda bola fora! Da Lama ao Caos é um disco fantástico, unindo ritmos nordestinos como o maracatu a rock alternativo, jungle, punk e mais uma meia dúzia de estilos que eu não saberia definir. As letras sociopolíticas são carregadas por uma sonoridade pesada, dançante e contagiante do começo ao fim, com espaço para a apaixonada "Risoflora" e a experimental "Coco Dub (Afrociberdelia)". E fica o meu agradecimento pela oportunidade de participar da série "Melhores de Todos os Tempos", que vem expandindo bastante meu conhecimento musical, porque se dependesse da minha eterna letargia...




Melvins - Stoner Witch (43 pontos)


Alissön: Alguma coisa eu tinha que emplacar aqui, hahahaha. Os mais próximos a mim sabem que os Melvins estão entre minhas bandas favoritas de sempre, e Stoner Witch ainda é seu auge. Houdini (1993) foi um verdadeiro assombro: um dos melhores sons de bateria já registrados na história da música pesada, além da sonoridade arrastada e do clima pesado, um verdadeiro arquétipo do sludge. O que Stoner Witch fez foi soar mais ambicioso, colocando mais tempero setentista e intensificando a pegada dos riffs, saindo do campo das músicas arrastadas e indo em direção a maiores variações. O resultado: um verdadeiro disco de stoner rock, que soube ao mesmo tempo olhar para o que já havia sido feito e caminhar em direção a novas possibilidades. Vários aqui vão discordar (e é para isso que servem listas, então está tudo ok), mas é um dos álbuns mais importantes dos anos 1990, e o melhor que 1994 forneceu à música.


André: Tá aí uma banda com a cara dos anos 1990 que eu gosto bastante. Sabem usar a sujeira do sludge misturada a uma boa técnica do stoner e fazer uma sonoridade diferenciada. Algumas músicas mais secas e diretas, como “Skweetis” e “Sweet Willy Rollbar”, entre outras maiores e mais técnicas, como “Revolve” e “At the Stake”, são muito boas. É aquele tipo de andamento que nunca se sabe se vai mudar ou permanecer durante toda a canção. A única falha mesmo é “Lividity” que não havia necessidade. Mesmo alguns vocais com efeito por parte de Buzz Osborne não me incomodam, pois ele não exagera neles, e por não usá-los de muleta para esconder alguma falha de alcance vocal. Dêem uma chance aos caras que vale a pena.


Bernardo: O sludge do Melvins é um fenômeno bem noventista mesmo: pesado e sombrio como um heavy metal, rápido feito um hardcore, esquisito feito todo rock alternativo praticado à época. Nada me marcou especialmente aqui, mas a aura mais que singular da banda é algo que não dá para desprezar.


Bruno: Ainda mais polido e focado em "canções" do que o clássico Houdini. O trio pioneiro do sludge une seus riffs monolíticos e afinação dropada a melodias e refrãos cativantes.


Davi: Gosto do Melvins. Tenho alguns álbuns deles. Trabalho sombrio, pesado, bem alternativo. Bem tocado, produção crua, boas composições. Bom disco! O problema de Buzz Osborne não é tocando, é dando entrevistas. Só fala merda, mas musicalmente sempre foi competente.


Diogo: Acho que nunca havia ouvido uma música do Melvins, apesar de saber da existência do grupo há muitos anos. Felizmente, a realidade superou a expectativa, que não era das melhores, pois a sonoridade praticada pelo grupo, apesar de não ser exatamente tão do meu agrado, foge daquilo que tenho como sludge, stoner ou o que valha, não soando como uma cópia barata e genérica de formações do passado. O vocal agressivo e quase grunhido de Buzz Osbourne me agradou, assim como boa parte de seus riffs de guitarra, como o que abre a boa "Sweet Willy Rollbar". Em meio a uma massa sonora grave e densa, o trio arruma espaço para inserir boas melodias, como em "Revolve" e "Queen". A segunda metade do disco é mais atmosférica e, a princípio, menos interessante, mas não é ruim. Digno de top 10? Não, mas não chega a ser uma má adição.


Eudes: Não entrou na minha lista, mas foi ótima escolha dos colegas. Melvins está na origem do renascimento do rock 'n' roll depois da década perdida, embora tenha sido parido no meio da noite dos anos 1980. O disco perde um pouco da espontaneidade, mas mantém a fidelidade à ideia de que volume, peso, melodia e ritmo seguem sendo o segredo de polichinelo de como fazer rock 'n' roll.


Fernando: Eu juro que tento ouvir essas coisas aí, mas não dá.


Flavio: Esse disco do Melvins parece estar no limite entre trabalho sério ou não, às vezes parecendo ser feito de sobras de ensaios. O vocal é por muitas vezes quase gutural e monótono, aliás, como o instrumental, que beira o lado desarmônico. Nas participações especiais, temos um guia espiritual e um integrante responsável por coisas como sons de apontador de lápis. De pontos positivos pode se perceber um bom trabalho da bateria, em algumas vezes trazendo um pouco de criatividade para a falta de harmonia das músicas. O álbum é recheado de ruídos esquisitos e desconexos, enfim, um disco para esquecer.


Leonardo: Só conhecia a banda de nome até ver o álbum nesta lista, e me surpreendi positivamente com sua audição. A mistura de metal, punk e rock alternativo do conjunto é extremamente eficiente, e funciona muito bem no disco. O trabalho de bateria é o que mais se destaca, mas o álbum é todo muito bom.


Mairon: Não consegui gostar de nada deste álbum, que não conhecia, mas tinha alguma esperança. Aguentar "Lividity" foi mais chato do que assistir Faustão. Esse estilo musical sludge não consegue me atrair, e, infelizmente, apenas lamento que esteja ocupando o lugar de outros tantos belos álbuns de 1994.


Ulisses: Disco esquisitão, misturando doom, stoner e sludge à cena grunge, com pitadas de psicodelia. Tem um ou outro bom momento, mas dormi na maior parte do tempo.




Bruce Dickinson - Balls to Picasso (39 pontos)


Alissön: Tem "Tears of the Dragon", que é clássica. De resto, o disco varia muito, entre boas faixas ("Laughing in the Hiding Bush") e outras que se estendem além da conta e não dizem absolutamente nada ("Cyclops"). Será justo quando Accident of Birth (1997) ou The Chemical Wedding (1998) aparecerem por aqui. Antes disso, é forçação de barra.


André: Gosto do disco, apesar de achar sua inclusão entre os melhores de 1994 um pouco exagerada. Com o vocalista se afastando da banda que o projetou – que todos sabem qual é –, temos um álbum de um sujeito conhecido buscando uma nova identidade e novos desafios em termos musicais. Ele se sai bem neste segundo trabalho, focando muito mais em um hard rock pesado e moderno do que naquele heavy metal clássico que sua banda anterior vinha fazendo. Embora “Sacred Cowboys” destoe do restante do tracklist, duas faixas se destacam: a abertura, com “Cyclops”, e o encerramento, com “Tears of the Dragon”, que viria a se tornar um clássico na carreira solo do Mr. Air Raid Siren. É sólido e competente, mas creio que ocupa o espaço de outros trabalhos mais interessantes.


Bernardo: Não é nenhum Accident of Birth ou The Chemical Wedding, mas é bom. Apesar da veia hard rock ainda ser acentuada, "Tears of the Dragon" já acena um retorno ao heavy metal.


Bruno: Interessante, mas não o suficiente pra figurar entre os melhores do ano.


Davi: Grande álbum da voz do Iron Maiden. Superior ao (bom) Tattooed Millionaire (1990). Bruce demonstrava que sua saída da Donzela daria dor de cabeça para seus ex-companheiros. E deu. Sua carreira solo deu um pau violento nos trabalhos que fizeram ao lado do líder do Wolfsbane. Balls to Picasso mantinha a pegada hard rock de seu primeiro trabalho solo, porém mais moderna. Bruce continuava arregaçando nos trabalhos vocais. O CD é bem consistente e repleto de faixas marcantes, como “Cyclops”, “Hell No”, “Laughing in the Hiding Bush” e “1.000 Points of Light”, além da belíssima (e manjadíssima) balada “Tears of the Dragon”. Belo disco!


Diogo: Balls to Picasso é um disco interessante, que mostra um vocalista que certamente andava insatisfeito com os rumos que o Iron Maiden estava tomando. Basta uma ouvida breve para perceber que bem pouco de seu ex-grupo dá as caras no tracklist. Por um lado isso é positivo, mas pelo outro acaba revelando um cantor ainda um pouco perdido, atirando em diversas direções, como revelam canções díspares como "Cyclops" (musicão que surpreendeu aquele guri que, até antes de ouvir o disco todo, só conhecia "Tears of a Dragon" e "Laughing in the Hiding Bush"), a tresloucada "Sacred Cowboys" e "Shoot All the Clowns", com um refrão de pegada pop. Algumas faixas apresentam alguma proximidade com o que Bruce fez em Tattooed Millionaire, mais hard rock, como "Hell No", "1000 Points of Light" e "Fire", mas não chegam a fazer sombra para as boas músicas de seu primeiro disco solo. A anteriormente mencionada "Laughing in the Hiding Bush" é muito boa, assim como "Tears of the Dragon", mas, no geral, nunca engoli tão bem essa fase da carreira de Dickinson – não vou nem comentar sobre o estranhíssimo Skunkworks (1996) –, que entraria nos eixos com os ótimos Accident of Birth e The Chemical Wedding.


Eudes: Disco de rock tradicionalíssimo, longe dos arranjos marciais repetitivos da banda de origem do vocalista e fiel ao espírito beberrão do rock 'n' roll.Portanto, se trata de um álbum em que as propensões metal se mesclam a bons e animados momentos hard rock. Nada de extraordinário, mas uma coleção de rockões pesados e sem perder o rebolado, naquela altura do campeonato, já estava de bom tamanho.


Fernando: Depois de sua saída do Iron Maiden, era natural esperar que ele fizesse algo bastante diferente do que vinha fazendo na antiga banda. O conteúdo de Balls to Picasso é uma progressão natural do material que ele apresentou em Tattooed Millionaire. Lembro que a revista Rock Brigade bateu na tecla de que ele havia saído da banda e lançado um disco antes do Iron Maiden para criar um clima de competição. Chateia um pouco este disco ser conhecido hoje por uma maioria apenas por conta de “Tears of the Dragon”, uma excelente música, mas não a única. Minha preferida, por exemplo, é “Cyclops”, com seu ótimo riff.


Flavio: Um dos indicados por mim, Balls to Picasso traz a dupla Dickinson/Roy Z, que se juntaria com Adrian Smith para os dois álbuns solos seguintes do vocalista. Balls to Picasso já traz alguns elementos dos discos que o sucederam, como o uso de afinação mais grave, trazendo um estilo mais pesado à bolacha. O guitarrista Roy Z está inspirado e, como tem um estilo mais moderno, acaba por vezes levando o disco se a se afastar do heavy metal tradicional da NWOBHM, sem perder a qualidade. O uso de elementos percussivos e até eletrônicos mostra que Dickinson não estava com receio de misturar pitadas mais modernas ao seu estilo consagrado. Posso destacar as duas primeiras músicas e a linda balada "Tears of The Dragon", e relacionar como medianas a balada "Change of Heart", assim como destaque negativo o semi-rap em "Shoot All the Clowns". Em geral, porém, o disco é bem agradável de ouvir como um todo.


Leonardo: Totalmente diferente do que o vocalista apresentava no Iron Maiden, Balls to Picasso é mais melódico e atmosférico do que tudo que o vocalista havia feito antes, inclusive em seu álbum solo anterior. E o disco é excelente, com as ótimas "Shoot All the Clowns", "Hell No" e o hit "Tears of the Dragon".


Mairon: Este era previsível, ainda mais por saber que muitos aqui babam ovo para o vocalista. Acho o disco bem irregular. Os momentos eletrônicos de "Cyclops" me soam cansativos e sem inspiração. Por outro lado, é louvável que não tenhamos nada de Iron Maiden a não ser a voz de Dickinson, se bem que "Tears of the Dragon" é uma prima pobre de "Wasting Love". O estilo meio rap no vocal da pesada "Sacred Cowboys" é a única relevância que posso destacar de um disco muito fraco.


Ulisses: Disco que todo mundo conhece devido ao hit "Tears of the Dragon", também traz como destaques a abertura "Cyclops", "Gods of War" e a ótima balada "Change of Heart". Mas ainda o acho bem irregular. Não é muito do meu agrado.




Running Wild - Black Hand Inn (35 pontos) *


Alissön: Death or Glory (1989) é bem bacana, tem “Highlander Glory (The Eternal Fight)”, que é uma baita música instrumental, mas fora isso eu nunca dei muita atenção para o Running Wild e as piras de Rolf Kasparek em histórias de pirata. Este ainda tem o agravante de ter uma gravação seca e muito chapada. Desculpa, mas não é minha praia.


André: Outra banda que eu não esperava ver por aqui são os piratas do Running Wild. E ótimo que tenha sido com este disco, um dos meus favoritos deles. Nessa época, tocavam ainda aquele power metal veloz (beneficiado pela entrada do famoso baterista Jörg Michael) com as temáticas náuticas pelas quais a banda se popularizou. Não gosto da fase black metal deles e por isso a mudança só os beneficiou. O disco não tem tanta melodia quanto há, por exemplo, em Blazon Stone (1991), que é meu favorito deles, mas para quem gosta de power metal e seus discos mais clichezentos, como eu, este é um prato cheio.


Bernardo: Mais do mesmo. Achei bem na média, o que me fez estranhar a presença dele nesta lista.


Bruno: Gosto do Running Wild, mas depois da fase clássica do final dos anos 1980, nada que eles fizeram me interessa.


Davi: Conheço alguma coisa do Running Wild, mas nunca me aprofundei na sua obra como deveria. Este disco mesmo ainda não havia escutado. Bacaninha. Bem tocado, bons riffs, bons solos, bateria destruidora. Não sei se colocaria em uma lista de dez mais, mas é um bom álbum. Procurarei ouvir mais alguma coisa deles.


Diogo: Mesmo gostando muito do Running Wild, foi uma surpresa ver a turma de Rolf Kasparek por aqui, ainda mais com um álbum que não julgava estar em tão alta conta entre alguns colegas. Por um lado, acho uma pena que isso não tenha ocorrido anteriormente, com o linda e toscamente raçudo Gates to Purgatory (1984) ou com o grandioso Death or Glory (1989), que julgo serem as obras máximas do grupo alemão. Pelo outro, a banda é sim merecedora de citação, pois, apesar de eu ter um certo probleminha com a produção e a mixagem do disco, que deixaram os bumbos secos e estouradíssimos, Black Hand Inn é recheado de riffs e, principalmente, melodias de qualidade, construindo refrãos marcantes como os de "Soulless", "Mr Deadhead" e da faixa-título. Além disso, ao ouvir músicas como "The Privateer", "The Phantom of Black Hand Hill" e "Powder & Iron", todas as minhas restrições àquele power metal com dois bumbos à velocidade da luz martelando incessantemente se dissipam em instantes, pois, acima de tudo, as canções são muito cativantes, um verdadeiro convite a cantar junto. Aliás, está aí um show que ainda gostaria muito de ver, mesmo sabendo que há tempos a banda resume-se a Rolf mais três músicos contratados.


Eudes: Bem tocado, bem gravado, bem chato. Tatibitate tocado com técnica. Curti não.


Fernando: O Running Wild quase nunca erra a mão, e Black Hand Inn é um dos álbuns em que eles mais acertaram. Depois da mudança de temática de suas letras, é impressionante o quanto eles conseguem se manter em um tema que, em teoria, é limitado. Ultimamente, tenho buscado seus discos com frequência e gostei muito deste grande álbum ter entrado nesta lista.


Flavio: Não conhecia a banda. Ao conferir seu oitavo álbum, o conceitual Black Hand Inn, identifico um heavy (power) metal bem característico, com uma levada bem acelerada, uso intensivo dos dois bumbos na bateria e de guitarras dobradas. O vocal de Rolf Kasparek, muito rouco, rasgado, não me agrada, e isso, juntamente com a manutenção monótona exagerada do estilo, acaba cansando depois de alguns minutos de audição. Talvez uma das músicas que fuja um pouco disso, "Fight the Fire of Hate", em uma batida mais moderada, um pouco mais harmoniosa, mas que traz um coro meio enfadonho no refrão, acaba também não sendo grande destaque. Não o considero um álbum com atributos para estar na lista de dez melhores de 1994, sendo recomendado apenas para fãs extremados do estilo.


Leonardo: Se nos Estados Unidos o heavy metal clássico estava em baixa, na Europa algumas bandas surgidas nos anos 1980 estavam em suas melhores fases. Grupos como Rage, Grave Digger e Blind Guardian uniam a classe do heavy metal clássico com a energia do thrash metal, e cada uma com seu estilo próprio iam lançando os melhores álbuns de suas carreiras. E foi nesse contexto que Black Hand Inn foi lançado. Depois de uma sequência de discos muito bons, a banda chegou ao seu auge neste álbum, no qual sua fusão de speed metal e climas épicos com temática pirata atingiu um nível de excelência inacreditável. Todas as faixas funcionam extremamente bem, mas é impossível não citar a excepcional faixa título, as empolgantes "Soulless" e "The Privateer" e a longa e maravilhosa "Genesis (The Making and Fall of Man)".


Mairon: Como já estamos acostumados à vastidão de discos metálicos nas listas, ouvi este sem pretensões, e foi mais um álbum que desconhecia. Bom instrumental, principalmente do guitarrista Thilo Hermann, que praticamente dá o som da banda. Se fosse destacar uma única canção, ficaria muito difícil, então chamo a atenção para a trinca inicial – "The Curse", "Black Hand Inn" e "Mr. Deadhead" – sonzeiras que fizeram eu parar o meu trabalho para prestar atenção – além dos longos quinze minutos de "Genesis (The Making and the Fall of Man)", disparado a melhor canção do disco. No mais, um hard rock tradicional, com muita qualidade instrumental. O vocal também me soou agradável. Não para os dez mais de 1994, mas, mesmo assim, um terceiro lugar nesta lista ridícula que foi parida pelos colegas.


Ulisses: Metal germânico de qualidade, com temática bucaneira, ótimos riffs e ritmo galopante. O registro é bem consistente (alguns dirão repetitivo), mas possui seus destaques: "Soulless", "Freewind Rider", "Dragonmen" e a épica "Genesis (The Making and the Fall of Man)" são muito boas; em suma, é um disco bom e honesto de puro speed metal – prova de que nem todo produto pirata é ruim.




Richie Kotzen - Mother Head's Family Reunion (35 pontos) *


Alissön: Disco simpático de hard rock com certa influência de funk nos vocais e nas linhas de baixo. Vibe de pub acompanhado de um chopp com os amigos em uma sexta-feira à noite, depois do esporro que tomou do chefe no serviço.


André: Kotzen nunca foi lá um guitarrista que me arrancasse muitos suspiros como a certos senhores que escrevem para nosso site, mas ele me traz bons momentos. Desses discos de guitarristas, sempre tive uma preferência maior por Joe Satriani. Ouvi dizer que este álbum é o melhor de Kotzen, que já teve seus momentos em bandas famosas como Poison e Mr. Big. O disco é bem hard rock, com uma pegada recheada de ritmos negros tais como blues, soul e funk. Kotzen manda muito bem nos vocais. As canções também são cheias de backings femininos. Gostei muito de “Reach Out I’ll Be There”e os solos de guitarra cheios de feeling desse sujeito. Mesmo quando dá suas fritadas, não fica só punhetando técnica. Caralho, que disco surpreendente, gostei muito de ouvi-lo do início ao fim.


Bernardo: Não tive muita paciência nem vontade para persistir até o final, mas gostei do cover de "Reach Out, I'll Be There", de um dos grandes grupos vocais da Motown.


Bruno: Blues rock bacaninha, mas bem genérico. Não gosto do Richie Kotzen e acho que haviam coisas do gênero muito mais legais sendo feitas.


Davi: Excelente guitarrista, excelente compositor, excelente showman. Descobri o trabalho de Kotzen quando ele integrou o grupo Poison. Fez apenas um disco com os caras, o excelente Native Tongue (1993), mas lembro que foi depois que assisti o VHS Seven Days Live (1993) que reparei o quão talentoso ele era. Me questionava se estava na banda certa. Gosto do Poison, mas eles faziam um glam rock festeiro e a pegada de Kotzen trazia bastante influência de blues, era um músico que gostava de bastante improviso. Não achava que ali era o lugar ideal para isso. Mother Head's foi o primeiro trabalho que fez após sua saída do grupo de Bret Michaels. Aqui, deixava nítida todas as suas influências: rock, blues, funk, fusion e soul. Todos esses gêneros cruzavam de certa forma dentro de suas composições. O repertório é forte, consistente e cheio de canções emblemáticas, como “Socialite”, “Mother Head's Family Reunion” e “Testify”, além de uma belíssima versão de “Reach Out I'll Be There", dos Four Tops. Discaço!


Diogo: Não é segredo para ninguém meu apreço enorme pela música feita por Richie Kotzen em qualquer projeto no qual tenha participado, com especial ênfase para sua magnífica carreira solo, que demonstra o talento gigantesco de um guitarrista e vocalista que, ora fazendo todo o trabalho sozinho, ora focando mais nas seis cordas, passeia por quase todo o panteão da música norte-americana popularizada no século XX. Dito isso, creio que Mother Head's Family Reunion seja justamente o melhor álbum para apresentar a um novato a capacidade de Richie em amalgamar a seu hard rock o melhor que a negritude de seu país produziu, tudo na mais perfeita harmonia. Blues, funk, jazz, gospel, soul... e digo mais! Subgêneros entre esses gêneros, pois tanto o soul da Motown quanto o da Filadélfia se fazem presentes em Mother Head's Family Reunion. Quem prefere uma sonoridade mais "pegada" tem em "Socialite", "Natural Thing", "Testify", "Cover Me" e na faixa-título pratos cheios e saborosos. Os fanáticos por baladas recheadas de paixão e interpretadas por uma voz que sabe dosar a intensidade das emoções têm em "Where Did Our Love Go", "Soul to Soul" e "A Love Divine" amostras de uma arte que Richie já dominava como poucos, mas na qual ainda se aperfeiçoaria mais. Mais? Sim, pois Mother Head's Family Reunion pode ser a porta de entrada ideal, mas suas melhores obras ainda estavam por vir, talvez mais pessoais e herméticas, mas cada vez mais geniais.


Eudes: Rock espontâneo, músicos claramente se divertindo, canções inventivas e enérgicas. Porra, como passei 20 anos sem conhecer isto! Um alívio para o rock marcial e militarizado do tipo thrash e death metal, e um bom motivo par fazer um churrasco e convidar os amigos. Ponto para os consultores!


Fernando: É difícil para muita gente acreditar que o trabalho de um cara que foi guitarrista do Poison é de alta qualidade. Ele também esteve com o Mr. Big em uma fase que muitos adoram, mesmo assim isso não impressiona quem apenas analisa esse curto currículo. Mas o cara é bom mesmo em sua carreira solo, que é impressionantemente bem mais prolífica do que a que ele teve nessas bandas. São cerca de 20 álbuns e nem mesmo aqueles ouvintes que romperam o preconceito descrito acima consegue conhecer tudo. Nunca havia me atentado a este álbum e gostei de cara. Vai ser um daqueles discos que vou ouvir com frequência pelos próximos dias. Em tempo... meu álbum preferido dele é What Is… (1998).


Flavio: Um disco que passou despercebido na minha lista. Ao ouvir Richie Kotzen neste álbum, percebe-se um excelente trabalho que mistura rock clássico, hard rock, soul e funk (não o carioca), A banda é excelente e o baterista está soberbo no disco todo. Posso destacar a música de abertura, a rápida "Testify", as baladas "Where Did Our Love Go", "Soul to Soul" e ótima regravação de "Reach Out I'll Be There". Um álbum merecedor de estar entre os dez mais e uma grata surpresa.


Leonardo: Belíssimo disco do guitarrista norte-americano. Após sair do Poison, Kotzen reuniu músicos do gabarito do baterista Atma Anur e do baixista John Pierce e gravou ele mesmo as guitarras e diversos outros instrumentos em um disco que fundia hard rock, soul e até pitadas de funk e jazz. O resultado foi excepcional, com uma clima da Motown setentista irresistível.


Mairon: Este é o primeiro disco de Richie Kotzen depois de participar do Poison. Apesar de não curtir muito a voz do guitarrista, deu para se embalar no suíngue de "Socialite", "Cover Me" e "Reach Out I'll Be There", coverzaço que ficou um pouco abaixo da versão original dos Four Tops por conta do excesso de virtuosismo no solo de Kotzen. Entretanto, não suportei as baladas whitesnakeanas "Soul to Soul" e "Where Did Our Love Go". David Coverdale fazia material de mais qualidade sem soar tão choroso e "meigo", para não dizer outra coisa. Aliás, em termos de balada, "A Woman & a Man" é tão açucarada que as caixas de som ficaram com diabetes... Não dá para negar a técnica do cara, só que, no geral, achei o disco mediano e sem nenhum valor adicional para estar entre os dez mais, a não ser o fato do autor do disco ser o queridinho do dono dessas listas de melhores. Assim é fácil entrar entre os dez...


Ulisses: Desconheço a carreira solo do Kotzen. Antes de ouvir Mother Head's, meu único contato com ele até então havia sido através do excelente debut do The Winery Dogs (2013), no qual ele se mostra dono de uma ótima voz e de uma técnica de guitarra soberba, aguentando tranquilamente a peleja com um mestre do baixo (Billy Sheehan) e outro da bateria (Mike Portnoy). Em Mother Head's Family Reunion, acompanhado de mais uma ótima cozinha, ele me impressionou mais uma vez: uma mistura enérgica de hard rock, blues e funk. O cara tem um gingado monstro, evidenciado em petardos como a abertura, "Socialite", "A Love Divine" e o cover do Four Tops, "Reach Out I'll Be There". Discaço!




Jeff Buckley - Grace (33 pontos)


Alissön: Daqueles discos “deprê” que adoramos ouvir em dias nublados e em momentos melancólicos. Brincadeiras à parte, é um belíssimo registro. Sentimental, profundo, mas que não apela para baladas acústicas, violão solitário ou arranjos simples para encantar as audiências. Tem rock alternativo, blues, influências de folk e muito coração partido em um disco rico tanto sonoramente quanto poeticamente. E o cover de “Hallelujah”, do mestre Leonard Cohen, é apenas a cereja no bolo. Seria bacana poder ter visto a carreira desse sujeito alçando voos mais altos, mas...


André: Nunca havia ouvido nada de Jeff Buckey. Já tinha ouvido falar, conhecia sua morte trágica, mas nunca havia ouvido uma única canção dele. Ou se ouvi, não lembro. Porém, ao botar o álbum para tocar, fiquei com uma sensação de nada. Há algumas influências de ritmos negros, principalmente nos vocais, uma musicalidade honesta, mas que não me tocou, não me impressionou e não me transmitiu nenhum tipo de reação. Músicas vagarosas, vocais que variam do tristonho, com momentos românticos, com momentos em que solta uns agudos, mas... nada de nada. Para um cara que foi elogiado por tantos figurões grandes do rock, eu realmente esperava muito mais.


Bernardo: O único álbum de uma das figuras mais únicas dos anos 1990. O filho de Tim Buckley, uma das figuras mais singulares da música dos anos 1970, fez um dos discos mais marcantes de sua geração, se equilibrando entre rock e folk, peso e delicadeza, com o seu talento vocal e ecletismo provando ser uma combinação arrebatadora, seja em seu material autoral, em canções como "Last Goodbye" e "So Real", seja em suas regravações – caso de "Lilac Wine", famosa na voz de Nina Simone, e "Hallelujah", de Leonard Cohen, tornando com seus falsetes a música do canadense ainda mais intensa. Uma obra-prima da geração X, uma pena que o autor não tenha vivido para colher os louros do reconhecimento.


Bruno: Até gosto, mas não acho tão absurdo como tantos pregam. Talvez a morte trágica e precoce tenha alavancado o legado do cara para um patamar maior do que merece. Mas polêmicas à parte, as canções são boas e a execução competente.


Davi: Não é somente no Brasil que neguinho tem costume de sair comprando disco logo após o artista morrer subitamente. Jeff Buckley é um desses exemplos. Quando foi lançado, o álbum passou meio batido, embora tenha recebido elogios da critica. Depois da sua morte, em 1997, o único disco feito pelo filho de Tim Buckley passou a ser cultuado. Embora ache o culto em torno do CD um pouco exagerado, o disco realmente é bom. Jeff conseguia transmitir uma enorme emoção tanto na guitarra quanto na parte vocal, mas as viagens dele me cansam um pouco. Faixas de destaque: “Mojo Pin”, “Last Goodbye” e a versão de “Hallellujah” (Leonard Cohen).


Diogo: Caso todas as canções de Grace fossem tão boas quanto sua faixa-título, este disco deveria ocupar a posição mais alta desta lista. A excelência dos arranjos, a sensibilidade da interpretação de Jeff, cada detalhe é embasbacante. Ok, o álbum todo não mantém o nível tão elevado, mas várias outras músicas são ótimas, justificando com sobras a presença de Grace por aqui. Os covers para "Lilac Wine" e "Hallelujah" são dois ótimos exemplos da falta que seu talento faz, ceifado por uma morte carregada de simbolismo, afogado em um canal do rio Mississipi, cujas margens, que serpenteiam grande parte do território norte-americano, foram berço de estilos musicais que Jeff tão bem soube aplicar na construção de sua sonoridade, carregada de folk, soul, blues e rock. Chegou a fazer parte de minha lista e não entrou por pouco, mas sua presença aqui é digníssima e me deixou bastante contente.


Eudes: Há pecados dos quais não se pode redimir. O melhor disco de rock dos últimos 25 anos não mereceu o pódio na opinião dos consultores! Vergonha! Ainda mais quando o primeirão é o chatérrimo Dream Theater. É de perder a fé na humanidade! Antes deste álbum solitário na discografia (o resto que foi editado são compilações de sobras e faixas ao vivo), Buckley já tinha gente como Jimmy Page a seus pés. E não é pra menos, o disco ecoa tudo que de significativo se tinha produzido no rock desde os anos 1960, sem ser nunca uma mera emulação dessas sonoridades clássicas. Ao colocar o álbum para rodar, é inevitável aquela sensação entre a familiaridade e um profundo estranhamento. E nem precisa ouvi-lo todo. Já em "Mojo Pin", faixa de abertura, seu espírito será levado em menos de seis minutos por uma viagem por todas as paisagens da história do rock. "Lilic Wine" captura aquele espírito entre o hard e o soft, intensidade e silêncio que só gente como George Harrison era capaz, e o clima geral do LP obedece a máxima pageana de reafirmar a personalidade sem se repetir jamais. Nem a dispensável cover de "Hallelujah" reduz a genialidade da obra. Jeff morreu inusitadamente, tragado por uma onda enquanto tomava banho em um rio (onde já se viu?) e nos privou do que seria sua música caso estivesse entre nós, mas talvez tenha sido o preço a pagar por deixar o ainda indecifrável Grace.


Fernando: Como nunca havia ouvido nada de Jeff Buckley, pesquisei sobre ele e de cara vi que ele gravou apenas dois discos e morreu antes de completar o segundo. Ainda não consegui ouvir tudo, mas já deu pra perceber que o material é de alta qualidade.


Flavio: Normalmente tenho muita dificuldade para entender os discos tidos como rock alternativo e suas vertentes. Não consigo captar a genialidade envolvida em canções que entendo como normais, com uma pitada de instrumentos diferentes ou efeitos esquisitos. Grace é um cultuado álbum desse estilo que não me chama a atenção, senão por alguns detalhes que não me farão colocá-lo entre meus preferidos. Este disco ganhou um pouco mais de atenção porque é o único do artista, que morreu tragicamente três anos mais tarde, antes de lançar seu segundo álbum. Vamos então aos detalhes positivos: o disco é muito bem gravado e o vocal de Jeff é bem afinado, com um ótimo e agradável timbre. Além disso, percebe-se que Jeff canta de forma muito suave principalmente nas baladas, como "Lilac Wine" e "Lover, You Should've Come Over", que foram as que gostei mais. Em compensação, o tom mais alternativo, como em "So Real" e "Dream Brother", não me conquistam. Um disco mediano apenas, sem brilho suficiente para estar em uma lista de dez mais do ano.


Leonardo: Não conhecia o trabalho do guitarrista, e fiquei impressionado com este disco. Arranjos fortes, vocais emotivos e um ótimo trabalho de guitarra, com riffs e texturas agradabilíssimas.


Mairon: Agradável surpresa este disco. Canções amenas e gostosas de ouvir, com os vocais doces de Buckley e uma boa banda de acompanhamento, das quais gostei da faixa que abre o disco, "Mojo Pin", a insanidade psicodélica de "So Real", o romantismo de "Lover, You Should've Come Over", além de destacar com alegria os arranjos de "Grace". Ouvi um pouco de U2 em "Last Goodbye" e "Eternal Life" (ou seria um pouco de Jeff Buckley nas músicas do U2 pós-Pop?), e put@ merd@, que coisa linda essa versão de "Hallelujah". Uma pena que este tenha sido o único lançamento desse cantor norte-americano. Imagina o que ele não poderia fazer com mais experiência em sua carreira. Baita voz. Não conhecia e não incluiria ele na minha lista de melhores depois dessa audição, mas valeu a experiência. Tomara que esteja entre o top 3.


Ulisses: Que vozeirão, hein? O CD inteiro é banhado não só nessa voz incrível, mas também em ótimas composições; desde baladas suaves e melancólicas ("Corpus Christi Carol") até alt rocks como "Eternal Life". Na verdade, este é um álbum em que preferi as partes lentas ao invés das pesadas. A própria "Eternal Life" soa meio deslocada, sendo desnecessária sua presença ao lado, por exemplo, dos excelentes covers de "Hallelujah" e "Lilac Wine". Os momentos intensos de "Dream Brother" soam bem melhores, também. Ótimo disco.




Helloween - Master of the Rings (30 pontos)


Alissön: Power metal, vocês já sabem o que acho do estilo. Este não foge a regra.


André: Surpresa ver este disco aqui, ainda por cima sabendo que entrou sem voto meu, que adoro a banda. Não imaginava que gostavam tanto dele. Agora minhas esperanças que The Time of the Oath (1996) e Better than Raw (1998), que são discos que considero até melhores do que este, entrem em seus respectivos anos (duvido mesmo que meu favorito, Keeper of the Seven Keys: the Legacy entre em 2005...). Estreia de Andi Deris, vocalista que gosto muito, o Helloween optou por fazer um disco mais volta às raízes após o fracasso comercial de Chameleon, de 1993 (meu favorito da fase Kiske). Gosto de “Why?” e seu hard rock contagiante, mais “The Game Is On” e seu metal com chiptunes e a balada “In The Middle of a Heartbeat”, sendo esta uma das melhores da banda. Talvez o disco que estreou a grande fase na qual o power metal entraria pelos próximos cinco anos.


Bernardo: Primeiro disco que escutei do Helloween. É um começo promissor para Deris, mas pouco empolgante, apesar dos grandes refrãos de "Perfect Gentleman" e "Why?" e da balada "In the Middle of a Heartbeat". Quem diria que, apesar dos lamentos constantes dos fãs mais tradicionais, Deris iria se firmar tanto e ser o vocalista mais duradouro do Helloween.


Bruno: Não, obrigado.


Davi: Depois do polêmico Chameleon, os alemães do Helloween voltaram ao topo com Master of the Rings. Álbum extremamente sólido que marcava a estreia do (ótimo) Andi Deris nos vocais. A banda dava uma renovada em seu som. Canções como “Sole Survivor” e “Perfect Gentleman” traziam uma sonoridade heavy metal, porém menos power do que seus fãs estavam acostumados. O álbum também flertava com o hard rock em diversos momentos, como na ótima “Why”. Mudança de vocalista é algo sempre polêmico, mas aqui fez bem para o Helloween. Depois de dois álbuns não mais do que ok, o grupo renasceu e entregou um de seus melhores trabalhos.


Diogo: Master of the Rings representa sucesso em algo que muitas vezes não dá certo: a substituição de um vocalista marcante e muito talentoso por outro de menor gabarito. Andi Deris pode não ter a capacidade de Michael Kiske, mas encaixou-se perfeitamente na proposta do grupo desde o início. Aponto dois motivos principais: 1. A banda vinha de dois álbuns que deixaram seus fãs um tanto desorientados, enquanto Master of the Rings, apesar de flertes bem evidentes com o hard rock, retomava em boa parte a sonoridade desenvolvida pelo grupo na segunda metade dos anos 1980, algo evidenciado nas ótimas "Sole Survivor" e "Where the Rain Grows", destaques maiores deste registro. 2. Andi Deris, mais que um vocalista apto para o posto, é carismático, logo assumindo posição de liderança, além de ser um bom compositor e não ter tentado emular Kiske em momento algum. Mais um detalhe importantíssimo: Ingo Schwichtenberg era um ótimo baterista, certamente um dos grandes em se tratando de power metal, mas seu substituto, Uli Kusch, fez um serviço ainda melhor, mais técnico e dinâmico, performance que seria superior em álbuns posteriores com o grupo.


Eudes: Bom disco metal de sonoridade padrão, mas que dá pra bater o pé e tomar umas geladas naquelas noites de sexta-feira em que a gente não tem pra onde ir. Não é pouco. "Mr. Ego", em sete minutos de clichês hard-metal e teclados cafonas, é uma coisa muito divertida e já vale os reais gastos no CD e, quem sabe, até a inclusão do disco nesta lista.


Fernando: Até hoje eu não consigo me lembrar por que não havia ouvido Master of the Rings até ter saído The Time of the Oath. Acho que, com a saída de Michael Kiske, acabei virando as costas para a banda. Quando fui ouvir, acabei achando que ele tinha uma ligação com a obra de J.R.R. Tolkien, o que não era verdade. “Sole Survivor” é uma das melhores músicas da banda.


Flavio: Após dois lançamentos – Pink Bubbles Go Ape (1991) e Chameleon – que haviam fugido do estilo tradicional da banda e afugentado os fãs, o Helloween, após dispensar o vocalista Michael Kiske (ou ele se demitir) voltou ao estilo consagrado em Master of the Rings. Dessa forma, o instrumental se aproxima dos clássicos Keeper of the Seven Keys I (1987) e II (1988), principalmente em "Where the Rain Grows", "The Game Is On" e "Still We Go". Para os fãs do estilo (assim como eu), era um passo para se comemorar, porém falta algo: falta Kiske. Apesar de Andi Deris se esforçar e cantar razoavelmente bem no estúdio (ao vivo há falhas notórias), a comparação é inevitável. Talvez eu seja um fã maior de Kiske do que o próprio Helloween, então a perda foi muito grande. O que aconteceu? Perdi o interesse pela banda desde então. Como classificar Master of the Rings? Um disco empalidecido pelo fantasma da fase clássica anterior, que agrada aos fãs da banda que não sentem tanto a falta de Kiske e que, de forma alguma, se justifica nesta lista de melhores de 1994.


Leonardo: O renascimento do Helloween. Depois de um disco decepcionante e da saída do vocalista Michael Kiske, parecia que só um milagre poderia salvar a carreira da banda. E ele veio. Com a entrada do vocalista e compositor Andi Deris e do baterista Uli Kusch, a banda praticamente ressurgiu das cinzas com um disco fortíssimo. O timbre e o estilo do novo cantor eram bem diferentes de seu antecessor, mas caíram como uma luva nas novas músicas do grupo, que fundiam o metal clássico da banda à malicia do hard rock. Muitos grupos seguiriam os passos do Helloween, mas pouquíssimos com a mesma classe.


Mairon: A estreia de Andi Deris foi aguardada pelos fãs do Helloween. Depois de dois discos fracos – Chameleon e Pink Bubbles go Ape –, a esperança era que os alemães se renovassem e fizessem algo do tamanho da grandiosidade dos ótimos Keeper of the Seven Keys (I e II). O álbum começa muito bem, com as velozes "Where the Rain Grows" e "Sole Survivor", mas peca no hard farofa "Why?". Daí o disco caí no desespero de quem esperava algo pelo menos parecido com "I'm Alive" ou "Eagle Fly Free". "Perfect Gentleman" e "Mr. Ego (Take Me Down)" são vaidosas passagens pelas piores visões do metal melódico, com tecladinhos insuportáveis, andamento arrastado, letra ridícula e refrãos tinhosos. "Take Me Home", com seu ritmo à la Van Halen, é uma luz nas sombras musicais perigosas que a cercam, assim como a boa "Still We Go", que encerra o álbum com velocidade e bons solos de guitarra. "Secret Alibi" é simplesmente uma das coisas mais insuportáveis que já ouvi advinda de uma banda consagrada como o Helloween – daqui nasceram bombas como Nightwish, só pode. A balada "In the Middle of the Heartbeat" é totalmente desnecessária (Bon Jovi consegue ser melhor que isso). Pior ainda é o que acontece em "The Game Is On", na qual os teclados oitentistas tomam conta. Terrível, simplesmente terrível. Um disco fraquinho, mas, como esses consultores aqui são todos acéfalos e metaleiros, entrou na lista. Só resta criticar, e lamentar que esse sujeito Andi Deris tenha sido o escolhido para substituir uma das maiores vozes do metal.


Ulisses: Após os controversos Pink Bubbles Go Ape e Chameleon, o Helloween ficou em uma situação complicada, fato que se agravou com a expulsão de Ingo Schwichtenberg e a saída de Michael Kiske. Mas eles conseguiram virar o jogo: com a chegada de Andi Deris no vocal e Uli Kusch na bateria, o Helloween lançou Master of the Rings, dando início a uma nova (e bem-sucedida) fase. Deris não traz as mesmas peripécias vocais de Kiske, mas seu estilo é perfeito para o som um pouco mais hard rock que o Helloween passou a adotar em sua chegada, como se ouve em "Why?". Mas gosto mesmo é das faixas mais pesadas, caso da dobradinha "Sole Survivor" e "Where the Rain Grows" e da finaleira "Still We Go".


* Black Hand Inn (Running Wild) ficou empatado com Mother Head's Family Reunion (Richie Kotzen), ambos com 35 pontos. Como não foi possível aplicar nenhum critério de desempate, a decisão sobre qual ocuparia a sétima posição foi tomada através de uma enquete na qual participaram todos os colaboradores da série.


Listas individuais


Alissön Caetano Neves 
Melvins – Stoner Witch
Pantera – Far Beyond Driven 
Grief – Come to Grief 
The Obsessed – The Church Within 
Prodigy – Music From the Jilted Generation 
Korn – Korn 
Buzzov-en – Sore 
Corrosion of Conformity – Deliverance 
Mayhem – De Mysteriis Dom Satanas 
Today Is the Day – Willpower 


André Kaminski 
Dream Theater – Awake
Melvins – Stoner Witch 
The Cranberries – No Need to Argue 
Memento Mori – Life, Death and Other Morbid Tales 
Running Wild – Black Hand Inn 
Dead Flowers – Altered State Circus 
The Enid – Tripping the Light Fantastic 
Headhunter – Rebirth 
Widowmaker – Stand By for the Pain 
Kyuss – Kyuss (Welcome to Sky Valley) 


Bernardo Brum 
Nick Cave and the Bad Seeds – Let Love In
Nas – Illmatic 
Nine Inch Nails – The Downward Spiral 
Portishead – Dummy 
Chico Science & Nação Zumbi – Da Lama ao Caos 
Jeff Buckley – Grace 
Manic Street Preachers – The Holy Bible 
The Notorious B.I.G. – Ready to Die 
Pavement – Crooked Rain, Crooked Rain 
Oasis – Definitely Maybe 


Bruno Marise 
Weezer – Weezer
Chico Science & Nação Zumbi – Da Lama ao Caos 
The Notorious B.I.G. – Ready to Die 
Acid String – When the Kite String Pops 
John Frusciante – Niandra Lades and Usually Just a T-Shirt 
Machine Head – Burn My Eyes 
Frank Black – Teenager of the Year 
Corrosion of Conformity – Deliverance 
Nick Cave and the Bad Seeds – Let Love In 
Pantera – Far Beyond Driven 


Davi Pascale 
Mötley Crüe – Mötley Crüe
Pearl Jam – Vitalogy 
The Rolling Stones – Voodoo Lounge 
The Black Crowes – Amorica 
Richie Kotzen – Mother Head’s Family Reunion 
Bruce Dickinson – Balls to Picasso 
Dream Theater – Awake 
Madonna – Bedtime Stories 
Soundgarden – Superunknown 
Megadeth – Youthanasia 


Diogo Bizotto 


1. Richie Kotzen – Mother Head’s Family Reunion
2. Mötley Crüe – Mötley Crüe 
3. Glenn Hughes – From Now On... 
4. Green Day – Dookie 
5. Queensrÿche – Promised Land 
6. Mayhem – De Mysteriis Dom Satanas 
7. Testament – Low 
8. Cannibal Corpse – The Bleeding 
9. BBM – Around the Next Dream 
10. Emperor – In the Nightside Eclipse 


Eudes Baima 

1. Jeff Buckley – Grace
2. Chico Science & Nação Zumbi – Da Lama ao Caos 
3. Sylvian/Fripp – Damage 
4. Soundgarden – Superunknown 
5. BBM – Around the Next Dream 
6. Mundo Livre S/A – Samba Esquema Noise 
7. Portishead – Dummy 
8. Ali Farka Touré with Ry Cooder – Talking Timbuktu 
9. Tom Petty – Wildflowers 
10. Tom Jobim – Antônio Brasileiro 


Fernando Bueno 

1. Bruce Dickinson - Tatooed Millionaire
2. Dream Theater – Awake 
3. Megadeth – Youthanasia 
4. Helloween – Master of the 5. Rings 
5. Nailbomb – Point Blank 
6. Pride & Glory – Pride & Glory 
7. Michael Sweet – Michael 9. Sweet 
8. Mercyful Fate – Time 
9. Gotthard – Dial Hard 
10. Pantera – Far Beyond Driven 


Flavio Pontes 

1. Dream Theater – Awake
2. Black Sabbath – Cross Purposes 
3. Queensrÿche – Promised Land 
4. Megadeth – Youthanasia 
5. Alice in Chains – Jar of Flies 
6. Soundgarden – Superunknown 
7. Bruce Dickinson – Balls to Picasso 
8. Marillion – Brave 
9. Yngwie Malmsteen – The Seventh Sign 
10. Pink Floyd – The Division Bell 


Leonardo Castro 

1. Running Wild – Black Hand Inn
2. Helloween – Master of the Rings 
3. Mötley Crüe – Mötley Crüe 
4. Amorphis – Tales from the Thousand Lakes 
5. Skyclad – Price of the Poverty Line 
6. Savatage – Handful of Rain 
7. Talisman – Humanimal 
8. The 3rd and the Mortal – Tears Laid on Earth 
9. Testament – Low 
10. Megadeth – Youthanasia 


Mairon Machado 

1. 1. Quaterna Requiem – Quasímodo
2. Slayer – Divine Intervention 
3. Glenn Hughes – From Now On... 
4. BBM – Around the Next Dream 
5. Pink Floyd – The Division Bell 
6. The Rolling Stones – Voodoo Lounge 
7. Madonna – Bedtime Stories 
8. R.E.M. – Monster 
9. Eric Clapton – From the Cradle 
10. Black Sabbath – Cross Purposes 


Ulisses Macedo 

1. Megadeth – Youthanasia
2. Dream Theater – Awake 
3. Pink Floyd – The Division Bell 
4. Riot – Nightbreaker 
5. Korn – Korn 
6. Soundgarden – Superunknown 
7. Pantera – Far Beyond Driven 
8.Black Sabbath – Cross Purposes 
9; Killing Joke – Pandemonium 
10. Kyuss – Kyuss (Welcome to Sky Valley)
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