domingo, 29 de setembro de 2019

Livro: Rita Lee - Uma Autobiografia [2017]


Em janeiro de 2017, através da Globo Livros, chegou às lojas o alaranjado livro Rita Lee - Uma Autobiografia, trazendo a história da Rainha do Rock nacional, Rita Lee Jones, narrada pela própria. Para os fãs da cantora que fez sucesso ao lado de Mutantes, Tutti Frutti e principalmente, do marido Roberto de Carvalho, Rita conta sua vida como uma vovó sentada diante dos netos comendo bolinho de chuva e tomando chá, e apresentando muitas fotos pessoais (algumas ilustrando essa matéria).

A facilidade na escrita de Rita torna a leitura fácil e rápida. Através de diversos mini-capítulos, e tentando seguir uma ordem cronológica, a autora narra desde sua infância cheia de peripécias ao lado das irmãs no casarão da Vila Mariana em São Paulo, sob os olhares severos e rígidos do "General" papai Charles, até o presente momento, quando decidiu aposentar-se de vez do brilho dos holofotes e viver a vida ao Deus dará. Isso sem jogar muita merda no ventilador, inclusive do seu próprio. O tom depreciativo em termos de diversos nomes citados ao longo do texto, e da própria família de Rita (a qual ela chama de Família Buscapé) pode ser até engraçado de início, mas não convém para um livro de tão importante relevância, já que estamos tratando do maior nome feminino do rock nacional.


Com o pai Charles e o filhote de jaguatirica Guna

Mas voltando as merdas na vida de Rita, uma delas é o fato de ter "perdido a virgindade" com um técnico da máquina de costura Singer que foi consertar a máquina de sua mãe e enfiou uma chave de fenda em sua vagina, isso quando ainda era criança. Nessa mesma época, a menina Rita ficou tão nervosa em sua primeira apresentação em público, tocando piano, que acabou se urinando em pleno palco. Outros grandes problemas surgem ao longo do livro, como a sua conturbada relação com o álcool, que a levou a ser internada por diversas vezes em clínicas de reabilitação. Ainda, Rita trata sem rodeios do acidente que esfacelou o seu maxilar e quase a impediu de cantar em meados dos anos 1990, justamente por conta da bebida, e de várias de suas operações (mastectomia, hemorroida, cordas vocais, retirada da vesícula) e da suspeita de Mal de Parkinson. Ou seja, toca na própria ferida sem medo de sentir dor.

Em termos de carreira musical, Rita apresenta primeiramente sua fase junto aos Mutantes, com a fusão das Teenage Singers (grupo vocal que contava com Rita entre os membros) com os Wooden Faces (que contava com o que Rita chama de triumvirato dos mano: Sergio Dias na guitarra, Arnaldo Baptista no baixo e Cesar Baptista na bateria) no grupo O'Seis. As participações nos programas de Ronnie Von, Quadrado e Redondo, Divino Maravilhoso, Astros do Disco, bem como os festivais da época, e até a peça de teatro O Planeta dos Mutantes, estão presentes sem muitos detalhes, assim como comentários muito breves sobre os cinco discos que Rita lançou junto ao grupo.


Rita no final dos anos 60

De interessante, ficam a seção de fotos para a capa de A Divina Comédia ... Ou Ando Meio Desligado, realizadas na cada dos Baptista, e que segundo a autora, por terem sidos pegos nus na cama da mãe Baptista, foi o estopim para que a mãe de Rita obrigasse o casamento entre ela e um dos irmãos, mesmo ela namorando um flautista chinês chamado Thomas O. Lee, a passagem do grupo pela Europa, com Rita afirmando ter ficado constrangida com o lançamento de Technicolor (álbum intencionalmente gravado para lançar o grupo no Velho Continente, em 1970, mas que só viu a luz do dia nos anos 2000), os dias na Cantareira, período em que gravaram Jardim Elétrico, e claro, o desbunde com o fim do grupo, quando repentinamente, segundo Rita, durante um ensaio, Arnaldo falou: "A gente resolveu que a partir de agora você está fora dos Mutantes porque nós resolvemos seguir na linha progressiva-virtuose e você não tem calibre como instrumentista" ... "Uma escarrada na cara seria menos humilhante". Será? Vale citar que nesse ponto do texto, Rita já se vangloreia do seu álbum de estreia, Build Up, na qual o maior destaque, "José", foi uma música que ozmano detestaram, e que ela tinha muito orgulho.

No limbo entre Mutantes e Tutti-frutti, Rita traz uma viagem lisérgica para a Inglaterra, o dia em que conversou com Jimmy Page na Bahia, o jantar ao lado de Eric Clapton, quando convidou uma "amiga mala" que literalmente acabou com a noite, a formação da Cilibrinas do Éden, ao lado de Lúcia Turnbull, e como ela roubou as cobras de Alice Cooper (Mouchie e Angel) durante a turnê do americano pelo Brasil em 1973, isso com a ajuda do roadie (e novo affair) de Rita, Andy Mills.


No paraíso, com o marido e filhos

Da família ao lado do marido Roberto de Carvalho, há as histórias de seu início de relacionamento, o medo de Roberto não querer assumir ser o pai do primogênito Beto Lee, o nascimento dos três filhos, um aborto por conta de uma gestação extra-uterina, que a artista se condena até hoje, os sucessos dos discos lançados no final dos anos 70, início do 80, quando a rotina disco-show torna-se tão exaustiva que Rita, frustrada com lançamentos pouco inspirados, acaba decidindo parar com as turnês, e curtir muitas férias em lugares paradisíacos.

Também aparecem comentários sobre o programa Radioamador, que Rita apresentou na Rádio 89 FM, o programa TVLeeZão da MTV, e o sucesso da turnê Bossa 'n' Roll, que Rita fez ao lado de Alex, já que Roberto estava morando nos EUA na época da turnê (início dos anos 90). Também é comovente o relato da viciada Rita sobre seus conturbados problemas com o álcool, que quase acabaram com a família e a levou por diversas vezes à clínicas de reabilitação, além de uma queda feia que fraturou o maxilar e deixou Rita sem falar por alguns meses.


Uma das várias participações do "Ghost Writer"

Para trazer dados importantes que a autora esqueceu, o livro usa de um "ghost writer", o fantasminha Phantom (na realidade Guilherme Samora, um dos maiores colecionadores da vida de Rita no país), e que entrega diversas informações importantes ao leitor. Dentre elas, destacam-se: a primeira gravação das Teenage Singers, no raríssimo álbum autointitulado de Prini Lorez (1964); a estreia dos Mutantes no programa de Ronnie Von em 15 de outubro de 1966; O sucesso de Fruto Proibido (1975), que Rita diz que foi apenas um "disquinho bacana"; o inesquecível show de Ribeirão Preto, pós-prisão, quando os fãs subiram ao palco e arrancaram pedaços da roupa dela, enquanto ela seguia cantando, mesmo grávida; ...

Algumas pessoas recebem subcapítulos especiais, no caso Hebe Camargo, que ajudou a promover a carreira solo de Rita, Elis Regina, que tirou Rita da cadeia, onde ela ficou presa, grávida, por porte de maconha, algo que ela confessa ter sido uma grande injustiça, Ney Matogrosso, o cupido entre ela e seu marido, Roberto de Carvalho, João Gilberto, que convidou Rita para uma participação especial da Globo, e gravou a canção "Brazil com S", e Thomaz Green Morton, o Homem do Rá, que praticamente destruiu (segundo Rita) com a apresentação dela e do marido na apresentação do Rock in Rio de 1985. Até Yoko Ono é citada, sendo esta responsável por vetar canções/versões que Rita iria registrar no álbum Aqui, Ali Em Qualquer Lugar.

Mas nem tudo é uma maravilha no livro. Para começar, em diversos momentos Rita se perde divagando na sua relação com seus animais de estimação (cachorros, cobras, tartarugas, gatos e até onça), festas particulares e presenças de ilustres, como Bill e Hillary Clinton, e não traz detalhes das gravações de seus discos, seja com os Mutantes, seja com o Tutti Frutti. Sobre as gravações de seus principais clássicos com Roberto, Rita fala que "eram momentos de pura criação após grandes noitadas de sexo", e apenas isso. Parece que só uma boa trepada é o suficiente para criar um clássico.


Imagens do livro

O pior é quando fica extremamente chato de estar se lendo o livro e do nada, uma citação menosprezando Arnaldo aparecer. Parece amor retraído, ou então, necessidade de aparecer. Rita realmente coloca toda sua mágoa com o ex-mutante em diversos momentos, dentre eles, quando insinua que ele apenas está fingindo sequelas da famosa queda do terceiro andar do hospital psiquiátrico lá em 1982. Para quem não sabe, Arnaldo foi internado em um hospício e de lá, jogou-se na tentativa de escapar, ficando em coma durante um bom tempo e tendo sequelas gravíssimas até hoje.

Segundo Rita, Arnaldo resolveu jogar-se no dia do aniversário dela, de uma clínica meia-boca para "esquisitinhos" depois de ter queimado o piano da mãe. Rita foi avisada por uma fã de "Loki" que ele estava internado como um indigente. Graças a ela e Roberto, transferiram ele para o Hospital Samaritano, aos cuidados da fã (Lucinha, atual esposa de Arnaldo), que usava "cabelo vermelho e franjinha no melhor estilo Rita Lee". Tempos depois, ela ligou para Arnaldo fingindo ser uma secretária de Kurt Cobain, e ele falou fluentemente e sem gaguejar em inglês. É de um tremendo mal caratismo expor isso de tal forma, e principalmente, afirmar isso. Ainda, relata que durante seu casamento, "Arnaldo comia todas, enquanto eu dava umas voltas com Danny (cachorro de Rita) e fingia não saber nada". Muita mágoa e insinuações criminosas para pouco proveito de leitura ...


No quarto bordel da Rua Pelotas

Antes, ela já destrói a família Baptista. Liberal para sua época, "todos sofriam de renite, respiravam pela boca, babavam muito e cuspiam quando falavam". "Serginho, o caçula gordinho, nunca leu um livro na vida, raramente escovava os dentes, ..., o Sancho Pança do mano mais velho". Sobre Arnaldo, "das vezes que tentamos transar, foi broxante, eu sentia nojinho das babadas dele, que confessou que comigo era bem menos emocionante do que com uma boneca inflável". Se essas informações são verdadeiras, qual a necessidade dessas informações ao leitor? Sejamos honestos ... Ainda, Rita também relata que durante a turnê de Bossa 'n' Roll, tentou fazer um show de reunião com ozmano, mas que acabou não vingando justamente no momento que Arnaldo viu Sergio no palco, ficando revoltado e dizendo que não tocaria com alguém que usa Fender e não Gibson, na velha rivalidade transistorizados x valvulados. "Loki saiu indignado junto da fã-esposa-clone-da-rita-lee e eu, a bruxa que condenou os mutas ao ostracismo, fiquei lá, posando de paisagem".

Primeiro, Mutantes no ostracismo?? Segundo, para que insistir em chamar Lucinha de "clone de Rita Lee"??? É muita pretensão, exibicionismo, ou amor enrustido através de ciúmes mesmo? E digo ciúmes por que quando ela mesma se chama de A Lôka, com essa grafia, já no final do livro, não tem como não sentir uma pontinha grande de saudades do ex-marido ...


Pelada na praia

Para completar, e por que não, dar uma de advogado de defesa, esse parágrafo entrega o que eu tento dizer. Ao falar sobre a mudança que o trio Mutante passa do primeiro para o segundo disco: "Não que ozmano (n. r. Sergio e Arnaldo) fossem desimportantes dentro dos Mutas, muitíssimo pelo contrário, a virtuosidade de Sergio era fato inegável, apenas sua técnica instrumental se mostrava inversamente proporcional ao talento como compositor. De nós, era o que cantava melhor, apesar da mania de imitar Paul McCartney, o que eu considerava vergonhoso. Arnaldo tinhas ótimas ideias, tocava piano e baixo legal, em matéria de ousadia estava anos-luz à frente. Quanto a mim, não tocava nem cantava porra nenhuma". Ou seja, é muita auto-depreciação sem necessidade.

Todos sabemos como os Mutantes foram importantes para o mundo da música, tanto que recentemente, um canal russo elegeu o grupo como o segundo grupo brasileiro mais importante de todos os tempos, atrás apenas do Sepultura, e como nomes como David Byrne e Kurt Cobain, entre outros, babam pelo som dos caras. Então, esse tipo de declaração é no mínimo sem sentido, para não dizer outra coisa. Na obra definitiva sobre sua vida e carreira, que ficará para a eternidade e gerações pesquisarem quem foi Rita Lee, é triste ler tanto ódio e rancor.


A bebê Rita ao lado dos pais e irmãs


A analogia da turma do Bolinha e do Mágico de Oz com os colegas de MPB da época é tão ridícula e pedante quanto a citação que Rita faz para Chico Buarque (no baile, Rita avacalha também com Elis, Aninha, Edu Lobo, Geraldo Vandré e Sérgio Ricardo, além do grupo MPB-4). Outra que sofre nas mãos de rita é a "governanta-empresaria" Mônica Lisboa, que apesar de não ter o nome citado no livro, aparece por diversas vezes, sendo acusada de responsável por acabar com a carreira do Tutti-Frutti, e de usar do nome Rita. Durante as gravações de Entradas & Bandeiras, a mixagem foi totalmente realizada por Luis Carlini, que deixou o álbum "um festival de guitarras atropelando voz, vocais, teclados, baixo ... virou um disco do moço". Com isso, Rita se considera a mocinha ingênua de uma novela colombiana, ludibriada pelo cartel de Medellin (composto por Luis e da Governanta).

Por fim, têm informações muito complicadas de se acreditar. Primeiro, no capítulo Nojinho, ela afirma ter nojo das coisas, que não gosta de dar selinho e coisa e tal. É estranho no mínimo essa informação, já que no dia do lançamento deste livro, Rita distribuiu selinhos aos montes, e no próprio livro ela se auto-elege a criadora do selinho da Hebe ... Mas a pior delas é a pior delas é a de uma Bad Trip ao lado de um amigo (Baratão), no Rio de Janeiro, quando os dois pegaram meio quilo de cocaína e ficaram cheirando durante três dias sem parar. Qualquer um que acompanha programas de investigação criminal ou polícia sabe que meio quilo de cocaína é MUUUUUUUUUITA cocaína, e que se cada um tivesse consumido 250 gr de cocaína em três dias, com certeza não teriam durado para contar a história. É ler e fingir acreditar ...


No lançamento de seu livro


Enfim, o livro é tranquilo de ler, principalmente para quem quer uma linguagem "jovem", mas a ausência de informações pertinentes com uma carreira musical tão ampla, a quantidade de comentários azedos e pouco acrescentadores de conteúdos, e principalmente, o excesso de informações pessoais totalmente inúteis, tornam Uma Autobiografia aqueles casos que você lê uma vez e nunca mais pega novamente. E vamos agora reler o (também) criticado A Divina Comédia dos Mutantes, que para Rita, o autor apenas deveria ter ficado Calado (Carlos Calado é o autor do livro).

quinta-feira, 19 de setembro de 2019

Ecstatic Vision - For The Masses [2019]



O grupo norte-americano Ecstatic Vision, formado por Doug Sabolik (guitarra, órgão, vocais),  Michael Field Connor (baixo), Kevin Nickles (saxofone, flauta, guitarra) e Ricky Kulp (bateria), lançará amanhã, dia 20, seu terceiro álbum, For The Masses. Depois de Sonic Praise ter conquistado a América em 2015, e Raw Rock Fury ter chocado a mesma América com experimentações em 2017, o grupo ano passado mostrou de onde havia tirado suas inspirações, com o ótimo EP de covers Under The Influence.

Neste EP, temos duas homenagens para o Hawkwind, com “Born To Go” e “Master Of The Universe”, o peso do MC5 em “Come Together”, e um tributo ao Zam Rock, através dos grupos Chrissy Zebby Tembo & The Ngozi Family, com a faixa “Troublemaker”, e “The Bad Will Die”, sonzeira do grupo Keith Mlevhu. É exatamente uma continuação dessas influências, porém construídas através de ideias próprias, que temos na audição do ótimo For The Masses.



O som industrial, com barulhos de sirenes, sintetizadores e percussões, toma conta na vinheta de abertura "Sage Wisdom", que nos prepara psicologicamente para as insanidades musicais que virão ao longo de pouco mais de meia hora de música. "Shut Up And Drive" começa com o baixo carregado de distorção puxando o riff junto de efeitos, para explodir na guitarra e bateria, em um ritmo que dá vontade de sair pulando pela casa. A mistura de riffs pesados, efeitos sonoros e os vocais carregados de efeitos lembra de imediato Hawkwind da fase Warrior On The Edge of Time, o que já alavanca muitos pontos para os americanos. O riff fica repetindo-se durante toda a canção (sete minutos e quatorze segundos), enquanto os vocais são alternados com solos de guitarra regados de muito ácido. Lisergia pura!

Mais efeitos de sintetizadores aparecem em "Yuppie Sacrifice", a mais longa do álbum, com quase 9 minutos de duração. É uma doida e embalada faixa, com uma bateria poderosa que comanda o ritmo tribal e a voz de Doug carregada de efeitos. Destaque para o surpreendente solo de saxofone, e a acidez de uma guitarra carregada no wah-wah. "Like a Freak" coloca a casa para baixo. Um riff potente de baixo e guitarra, pancadaria na bateria e um vocal fulminante, numa espécie de punk rock misturado com heavy metal na melhor linha do MC5, que literalmente, deixa o ouvinte enlouquecido.



A faixa-título parece ter brotado de algum álbum esquecido do Gong. Uma maluquice sem tamanho, onde uma bateria dilacerante estraçalha os nossos ouvidos, enquanto vozes, sintetizadores, saxofone à la Coltrane e outros instrumentos de difícil identificação tentam sobreviver a massa sonora que está saindo das caixas de som. Um free jazz rock insanamente sensacional!! A sombria "Magic Touch" nos remete novamente às viagens do Hawkwind. Sintetizadores caprichosamente assustadores, e vocalizações idem, preparam o ambiente para um baixo com distorção ao extremo, e percussões africanas, arrebentarem as caixas de som. De forma inesperada, e oposta ao caos sonoro da percussão e baixo, uma flauta sola ao fundo da parede sonora criada pelo Ecstatic Vision, como uma segunda faixa imersa sob a primeira. Genial! A entrada dos vocais carregados de efeitos apenas servem para apimentar ainda mais a insanidade musical dos americanos, e a faixa encerra-se com um riff sabbhático da guitarra.

For The Masses tem na sua conclusão "Grasping The Void", outra faixa magnífica, onde a mistura dos instrumentos de sopro (flauta e saxofone) e a distorção do baixo e da guitarra, além de uma bateria com um ritmo pulsante, são sensacionais. Vocais carregados de efeitos, hipnotização sonora fácil, enfim, um encerramento que resume toda essa bela obra de 2019.

Não é um disco fácil de se ouvir, e que você irá reproduzir por diversas vezes ao dia, mas com certeza, no momento certo, For the Masses pega de tal jeito que fica impossível não abrir um sorriso com esse retorno ao lisérgico início dos anos 70 sem ter usado qualquer alucinógeno. Grata surpresa!




Track list

1. Sage Wisdom
2. Shut Up And Drive
3. Yuppie Sacrifice
4. Like a Freak
5. For The Masses
6. The Magic Touch
7. Grasping The Void

quarta-feira, 11 de setembro de 2019

Discos Que Parece Que Só Eu Gosto: The London Symphony Orchestra Featuring Ian Anderson - A Classic Case (The London Symphony Orchestra Plays The Music Of Jethro Tull Featuring Ian Anderson)[1985]





Ao mesmo tempo que o rock 'n' roll se consolidava nos anos 60, e tornava-se uma potência nos anos 70, discos com orquestra e rock se tornaram lançamentos tradicionais. A fusão dos dois rendeu pérolas como Days Of Future Passed (The Moody Blues e London Symphony Orchestra, de 1967), Concerto For Group and Orchestra (Deep Purple e The Royal Philharmonic Orchestra, de 1969), Ekseption 00.04 (Ekseption e The Royal Philharmonic Orchestra, de 1971), Live - In Concert With The Edmonton Symphony Orchestra (Procol Harum e a orquestra citada no título, 1972) ou Journey To The Centre of the Earth (Rick Wakeman e a London Symphony Orchestra, de 1974), entre outros,. Uma única orquestra registrando rock 'n' roll em arranjos clássicos, era algo que poderia levar a música clássica para o jovem público dos anos setenta, e por que não, fazer com que alguns jurássicos apaixonados pelas obras de Bach, Beethoven, Chopin e cia., deixassem de torcer o nariz para a música dos cabeludos.

Como podemos ver, tanto as orquestras do Royal Philharmonic quanto a do London Symphony têm participação importante nesse mundo sinfônico + rock, e foram ambas que resolveram incrementar suas discografias, fazendo com que na segunda metade dos anos 70, uma espécie de lançamento se tornasse figura carimbada quase que constantemente. Tratava-se de gravações de músicas clássicas do estilo por uma orquestra. As primeiras gravações desse tipo foram as de Tommy (London Symphony Orchestra, de 1972) e Tubular Bells (The Royal Philharmonic Orchestra, de 1975).

A The Royal Philharmonic preferiu seguir com regravações para um único artista, e assim foram lançados Performs The Best Known Works Of Rick Wakeman (1978), Plays The Beatles - 20th Anniversary Concert (1982), Plays The Queen Collection (1982), ABBAPHONIC - ABBA's Greatest Hits (1983), Objects Of Fantasy - The Music Of Pink Floyd (1989), enquanto eventualmente trabalhou com Frank Zappa (200 Motels, de 1971), David Bedford (Star's End, de 1974), Ramases (Glass Top Coffin, de 1975), Renaissance (A Song For All Seasons, de 1978), além de seguir sua co-irmã, lançando em 1982 Hooked On Rock Classics, com regravações de Beatles, Stones, Derek and the Dominos, Survivor e outros (1982).


Alguns dos álbuns de clássicos do rock interpretados pela Royal Philharmonic Orchestra

Digo seguir a co-irmã por que foi a London Symphony quem resolveu primeiro ampliar sua homenagem ao rock, isso em 1977, quando gravou Classic Rock, coletânea dupla (no Brasil saiu em duas partes) que apresenta sucessos como "Bohemian Rhapsody" (Queen), "Life on Mars" (David Bowie), "Paint it Black" (Rolling Stones), "Whole Lotta Love" (Led Zeppelin), "God Only Knows" (Beach Boys) e mais 13 grandes clássicos de baluartes do rock, de Beatles a Ike & Tina Turner. Esse álbum inova ao re-aaranjar as canções do rock em um estilo bastante clássico, com metais e cordas simulando as guitarras, vocais e teclados, além da presença da bateria, único instrumento mais próximo ao rock.

Em 1979 veio Classic Rock Rhapsody In Black, outra coletânea de sucessos do rock 'n' roll, e a partir dos anos 80, a London Symphony trouxe Classic Rock - Rock Classics (1981), Classic Rock Rock Symphonies (1983), Rock Classic 5 - Themes And Visions (1983), The Power Of Classic Rock (1985), Classic Rock Countdown (1987) e Classic Rock - The Living Years (1989), que além de buscar clássicos do rock na década de 60 e 70, também atualizava peças do rock dos anos 80 em arranjos sinfônicos. A London Symphony, diferentemente da Royal Philharmonic, especializava-se em registra obras de diversos artistas, mas em 1985, resolveu apostar novamente no formato de um álbum exclusivo de um artista, e o homenageado da feita foi o Jethro Tull.


Alguns dos lançamentos da série Classic Rock, com a London Symphony Orchestra

Acompanhada pelo líder flautista, vocalista, violonista, batedor de escanteio, falta, pênalti e também goleiro e técnico do Jethro Tull Ian Anderson, além de participações especiais do guitarrista Martin Barre, do baixista Dave Pegg e do tecladista Peter Vitesse, ou seja, a formação do Jethro Tull que gravou o controverso Under Wraps (1984), e que precisava fazer alguma coisa para poder "arrumar o filme" que havia sido queimado bastante, a London Symphony Orchestra entrou nos estúdios com a intenção de lançar um álbum de Natal em 1985, e assim nasceu A Classic Case (The London Symphony Orchestra Plays The Music Of Jethro Tull Featuring Ian Anderson). Os arranjos ficaram a cargo de David "Dee" Palmer, que acompanhou o Jethro Tull durante boa parte da década de70, ora fazendo arranjos orquestrais ora sendo tecladista.

Porém, parece que o tiro acabou saindo pela culatra. O disco em si acabou sendo tão renegado quanto Under Wraps, e quase todos os fãs de Jethro Tull que eu conheço acabam desprezando seu lançamento. Nosso próprio colega, André Kaminski, ao fazer a Discografia Comentada dos britânicos, se quer mencionou UMA LINHA para A Classic Case. Desconheço as razões para o André ter feito isso, e tão pouco o julgo mal, mas isso só atesta que A Classic Case é um álbum esquecido na vasta discografia de Anderson e cia.


Contra-capa da versão internacional

Porém, eu realmente não entendo isso. Esse foi um dos primeiros discos ligados ao Tull que conheci (Aqualung, Thick as a Brick, The Broadsword and The Beast e Benefit vieram todos juntos à esse, através de um amigo do Micael que é apaixonado pela banda), e foi um caso de amor a primeira ouvida. A união de orquestra com a flauta furiosa de Anderson me causou um impacto muito forte, o suficiente para que A Classic Case se tornasse meu disco favorito da banda por muitos anos (até ouvir A Passion Play), e principalmente, ter sido minha primeira aquisição dos caras. Além disso, o repertório escolhido a dedo mistura canções de todas as fases do Tull, sendo então uma bela entrada ao mundo musical dos britânicos.

A super clássica "Locomotive Breath" surge com o poder das cordas entoando o riff inicial do piano. Os metais emulam os vocais, e o grande destaque é a flauta de Ian Anderson, que repete as linhas vocais e o magistral solo desse petardo de Aqualung (1971) em sua totalidade. O dedilhado de violão mais famoso da história dos britânico introduz "Thick As A Brick". As cordas fazem a parte vocal, e ao longo de pouco mais de quatro minutos, temos aqui apenas três partes do clássico álbum homônimo de 1972, contando novamente com a presença importante da flauta de Anderson, mas sem impactar tanto quanto a original.


Lado A

"Elegy" é uma das mais belas faixas registradas em A Classic Case. A combinação entre orquestra e a flauta causa emoções fortíssimas até em uma estátua. Um registro perfeito, que supera inclusive o original, lançado em Stormwatch (1979), assim como "Boureé", um espetáculo orquestral que impressiona pela sua imposição sonora logo de início, até baixo e flauta trazerem o consagrado riff de Bach. Na sequência, o que ouvimos em Stand Up (1969) está também registrado aqui, com Anderson mandando ver no solo de flauta, e a orquestra fazendo intervenções pontuais. Fechando o Lado A, a surpreendente "Fly By Night". Gravada por Anderson no seu álbum solo Walk Into Light (1983), aqui ela mantém o mesmo arranjo oitentista registrado originalmente, mas ganhou um clima de trilha sonora de filme de ficção científica através da orquestra, o que elevou em muitos pontos sua criação e inserção no álbum.

Outro super-clássico, "Aqualung", abre o lado B com a orquestra assumindo todos os postos. Um dos principais sucessos da banda, aqui é tratada com toda a honra e grandiosidade que merece, sem tirar uma nota do lugar. "Too Old To Rock 'n' Roll To Young To Die" é outra que a orquestra encaixou super bem. A guitarra da introdução está presente, as cordas emulam os vocais de Anderson, o saxofone. Tudo encaixadinho e agradável aos que apreciam a obra. O Medley com "Teacher", "Bungle In The Jungle", "Rainbow Blues" e "Locomotive Breath" possui a participação de Anderson na flauta, e os metais fazendo uma participação dançante e boa para aumentar o som durante a audição.


Lado B

Para fechar o álbum, uma versão praticamente idêntica para "Living In The Past", com o baixão, flauta e tudo mais, e "Warchild", uma faixa soberana, com uma orquestração que modificou totalmente o arranjo original, tornando-a muito mais próxima a grandes trilhas sonoras do que a pérola progressiva do álbum homônimo de 1974, e que encerra com chave de ouro esse rico trabalho clássico,

Depois, vieram We Know What We Like: The Music Of Genesis (1987), e só nos anos 90 a London Symphony resolveu investir alto nesse tipo de lançamento, com cinco discos em 1994 - Symphonic Music Of The Rolling Stones, Plays The Music Of The BeatlesPlays The Music Of Abba - Symphonic RockFortress: The London Symphony Orchestra Performs The Music Of StingOrchestra On The Rock - Queen - The Long Goodbye - dois em 1995 - Symphonic Music Of Procol Harum e Plays The Music Of The Eagles, além do disco Symphonic Music of Yes, outro projeto com arranjos de David Palmer, ao lado de Bill Bruford, Steve Howe e Jon Anderson. A partir dos anos 2000, pararam os lançamentos desse tipo, até por que a nova geração musical já havia praticamente abandonado o estilo clássico, mas A Classic Case ficou para a história, tanto pelo seu ousado - na época - estilo de adaptação de canções progressivas com arranjos clássicos como por ser um dos álbuns ligados ao Jethro Tull menos comentados em toda sua história, seja para bem ou para o mal. Concordam?
Contra-capa da versão americana e britânica


Track list

1. Locomotive Breath
2. Thick As A Brick
3. Elegy
4. Boureé
5. Fly By Night
6. Aqualung
7. Too Old To Rock 'n' Roll, Too Young To Die
8. Medley (Bungle in the Jungle / Rainbow Blues / Locomotive Breath)
9. Living in the Past
10. Warchild

quinta-feira, 22 de agosto de 2019

Ouve Isso Aqui: Bandas Satíricas



Por André Kaminski

Tema escolhido por André Kaminski

Com Davi Pascale, Fernando Bueno e Mairon Machado

Letras ridículas, tiração de sarro, temáticas bobagentas… esse é o tema desta edição. Na época em que fui sorteado para escolher o assunto, eu estava justamente ouvindo o Massacration e me veio aí a ideia de comentarmos sobre bandas que escolhem o lado do humor como temática de suas letras. Seja tirando sarro do estilo que escolheram para tocar, ou mesmo de outros gêneros musicais, as bandas satíricas podem não se esmerar muito em suas produções ou em sua técnica, mas com certeza divertem e divertiram muito os seus fãs. Conhece mais delas? Recomende mais algumas nos comentários!



Mamonas Assassinas – Mamonas Assassinas [1995]

André: Passam-se os anos e não tem jeito, seu único disco de estúdio continua me divertindo com suas paródias, tiradas bem feitas e bom humor. “Vira Vira”, “Jumento Celestino”, “Lá vem o Alemão” e tantas outras canções das quais a inspiração eram os estilos brasileiros em alta nos anos 90 misturadas a um rock pesado e divertido. Fico imaginando o que eles iriam tirar sarro se estivessem vivos. Certeza que ali pelo fim dos anos 90 seria o samba do É o Tchan, as boybands e aquelas bandas frescurentas de britpop, nos anos 2000 seria o emo e as cantoras pop, e na década atual o sertanejo universitário, os rappers e as cantoras de axé. Isso é claro se a banda não rompesse antes devido ao sucesso subir a cabeça. Uma pena mesmo, fica só na imaginação.

Davi: Muito bacana essa lembrança. Não apenas vivi a explosão do fenômeno, como curti bastante na época. Tive, inclusive, a felicidade de assisti-los ao vivo. Esse disco é bem inteligente e muito bem feito. Os rapazes satirizavam diversos estilos de música: pagode, sertanejo, música brega… Tudo costurado com a base do rock n roll e o vocal sempre irônico do Dinho. Um dos motivos da formula ter funcionado tão bem é que eles eram genuinamente engraçados. Nas entrevistas com os músicos, ria-se tanto quanto na audição do disco. As letras, politicamente incorretas ao extremo, eram muito bem sacadas. O medo que eu tinha é que, como eles caíram nas graças da criançada, que acabassem ficando infantilizados. Infelizmente, nunca saberemos o que iria acontecer no segundo trabalho, mas as boas lembranças ficam… Momentos de destaque: “Chopis Centis”, “Mundo Animal”, “Robocop Gay” e “Bois Don´t Cry”.

Fernando: Os Mamonas Assassinas foram um fenômeno. Eles conseguiam unir crianças, adolescentes adultos que gostavam de todos os estilos musicais possíveis. Suas misturebas musicais passavam desapercebidas pois o que todo mundo queria ouvir mesmo eram as piadas e sacadas geniais, apesar de politicamente incorretas. Aliás, fico me perguntado como seria se uma banda assim surgisse hoje em dia. Acredito que a patrulha não deixaria ser a sensação que foi na época. Também penso como seria se não tivessem tido aquele fim horrível. Um segundo disco poderia manter as coisas em alta, mas não sei se conseguiriam fazer sucesso por muito mais do que isso pois um dos trunfos que tinham era o fator novidade.

Mairon: O que eu precisava comentar sobre esse MAGNÍFICO disco já foi dito aqui e aqui. Não tenho nada o que tirar nem pôr.


Lordi – Get Heavy [2002]

André: A primeira vez que ouvi esta banda e este disco, logo após a sua vitória na Eurovision de 2006, foi paixão logo de cara. Divertidos, engraçados, com clipes toscos e fantasias ainda mais e fazendo um hard rock pesado com influências de Kiss e Gwar e refrãos grudentos, é basicamente tudo o que mais gosto em um hard rock. Tirando sarro de filmes de terror, do rock e de monstros, o Lordi me cativa com a sua sonoridade moderna mas com um quê de datado dos anos 80.

Davi: E finalmente parei para ouvir um álbum do tão falado Lordi. O grupo sempre foi muito comparado ao Kiss, mas nunca vi muita semelhança. O visual deles me lembra mais o Gwar do qualquer outro grupo. E a sonoridade deles é bem mais moderna utilizando-se de bastante teclados, samplers… A audição foi satisfatória, mas por todo o auê em torno deles, esperava um impacto maior. Os músicos são bons, o disco é bem gravadinho, as músicas são construídas de maneira correta, mas o vocal principal não me agradou tanto e senti falta de uma faixa realmente forte. Aquela que te cativasse e te fizesse ouvir de novo e de novo e de novo… Os backings são muito bacanas e remetem à cena hard dos anos 80, mas me fica a impressão de algo faltando… “Would You Love a Monsterman” e “Monster, Monster” são as minhas favoritas.

Fernando: O som do Lordi é tão bem feito que difícil até notar que é uma banda engraçadinha, pois para isso precisaríamos ter um inglês mais apurado e muita gente não presta atenção nas letras. Nas letras e visual é uma mistura de Kiss, Rod Zombie e Alice Cooper e pode animar qualquer festa sem problemas. Entretanto o disco cai bastante na sua segunda metade. Não ouvi o resto dos discos para saber se seguem o mesmo padrão.

Mairon: Sonzinho bacana que me lembrou muito as bandas de hard dos anos 90. Foi inacreditável quando eu percebi que era um álbum de 2002, e finlandesa ainda por cima.Mas sim, a banda é da década de 90. É um hard bem tocado, que dá para animar festas, com vocais bem trabalhados, instrumental ok, nada demais, e nada de menos. Não conseguia destacar uma música em especial, mas posso dizer que na maior parte do tempo, eu jurava que estava ouvindo algo do Ugly Kid Joe. Porém, o “recheio do disco” não me agradou (“Icon Of Dominance”, “Not the Nicest Guy”, “Hellbender Turbulence”) por culpa de uns teclados tinhosos, que não fizeram sentido nenhum para mim. Porém, quando “Biomechanic Man” começou a tocar, um sorriso se abriu automaticamente em meu rosto. QUE SONZEIRA!!! Uma das melhores músicas que conheci esse ano!! Não virei fã da banda, até por que não é um estilo que aprecio muito, mas não foi de forma alguma uma incomodação ouvir isso aqui, e obrigado André por me apresentar “Biomechanic Man”.


Massacration – Gates of Metal Fried Chicken of Death [2005]

André: Como filhote tardio da MTV brasileira que sou, adorava assistir Hermes e Renato, Total Massacration e tudo mais. Meu amigo comprou o disco logo que ele foi lançado e rimos muito ao som de “Metal is the Law”, “Evil Papagali” e “Metal Glu-Glu” com a participação mais do que especial do meu ídolo de infância, Sergio Mallandro. Sem contar a homenagem ao “The God Master” Costinha. O som é pouco trabalhado e até mesmo simplório, mas o bom humor e essas letras são demais. Bruno Sutter e o inesquecível Fausto Fanti (R.I.P.), agradeço demais por esta pérola da música brasileira.

Davi: Lembro quando o álbum foi lançado, muitos headbangers ficaram putos e muitos músicos ficaram incomodados com a brincadeira dos humoristas do Hermes e Renato. Já era esperado. Os caras conseguiram se infiltrar no circuito, sendo convidado para participarem de diversas publicações voltadas ao segmento, começaram a abrir shows de artistas internacionais (assisti eles 2 vezes: na edição do Live n Louder que trouxe o David Lee Roth ao Brasil e na primeira apresentação realizada pelo Twisted Sister por aqui). Mais do que isso, os caras foram direto na ferida. Pegaram todos os clichês do gênero. Desde o visual com cabelos compridos e roupa de couro até o discurso do metal acima de tudo e de todos. E o pior que o produto final era muito bom. Bem tocado, bem gravado e bem cantado (ops, gritado). Há realmente algumas letras que poderiam ser mais elaboradas (sim, entendi que são piadas), mas há algumas tiradas que são geniais como a introdução do cara narrando uma receita com voz demoníaca, o “ai, ai, ai, em cima, embaixo, puxa e vai”, “a passagem é 1 real”, mas nada supera o refrão de “louro quer biscoito”. É um disco que ainda me diverte…

Fernando: O que eu acho de mais legal do Massacration é que a sátira que faziam/fazem pega na veia dos estereótipos do metal, mas com uma visão de quem é do meio e não de alguém de fora. Alguns dos elementos podem até passar desapercebidos para quem não ouve metal. Q questão do Deus Metal é uma delas. Já tive que explicar o motivo disso para amigos não iniciados. Por tudo isso muita gente torce o nariz pois sabemos que os fãs de metal muitas vezes não gostam que mexam em seu estilo sagrado. Várias bandas são fonte de inspiração ali, mas é inegável que o Manowar foi mais explorado. Mas como falei na crítica sobre o Mamonas Assassinas, acho que o fator novidade já não é mais o mesmo e isso diminuiu bastante a curiosidade que tinha sobre eles.

Mairon: Lembro que quando o Massacration surgiu, dava na cara para ver que a banda era uma piada. E óbvio, ao colocar Gates of Metal Fried Chicken of Death para rodar, de cara já ouvimos a “receita de bolo” de forma demoníaca sendo entoada, e as risadas começam de cara. O riff do “ai, ai ai ai, em cima embaixo puxa e vai” marcou muitas festas roqueiras país a fora. “Metal Glu-Glu” é sensacional!!! “Metal Dental Destruction” é uma das piadas mais criativas já feitas no mundo do Metal. “Feel the Fire… From Barbecue” é uma sonzeira desgraçadamente matadora. Diversão garantida do início ao fim, muito bem tocada e muito bem cantada (Detonator para mim tem uma baita voz, e joguem as pedras). Quem acompanhou a MTV nos anos 2000 viveu uma fase única do canal. Além do programa do Hermes e Renato, era impossível não se deleitar de risos com Rock Gol, Fudêncio e o Top Top MTV. Era uma maravilha!! Acho que nunca tinha ouvido esse disco em sua integridade, e foi com muitas risadas e apreço que curti o segundo melhor álbum dessas recomendações. “Loiroooooooooo, loiro quer biscoitooooooooooooooooooooooooo!!!!!”


Dethklok – The Dethalbum [2007]

André: Tirando uma com o death metal, o Dethklok surgiu baseado em um desenho que passava no Cartoon Network chamado Metalocalypse. O desenho fez uma espécie de “sucesso cult” e isso fez com que Brendon Small (criador do desenho e o líder vocal aqui) compusesse canções parodiando os clichês do heavy e do death metal. Gene Hoglan do Dark Angel maceta a bateria aqui em canções como “Murmaider” (que inspirou esta animação incrível do Batmetal) e “The Lost Vikings” (tirando uma com o viking metal). O desenho acabou e com isso a banda também se foi. Mas surpreendentemente, Brendon Small retornou com a banda para um show ainda este ano no Adult Swim Festival que será em novembro. Na torcida para que ele volte a compor nesse projeto e lance um disco novo.

Davi: Esse eu não conhecia. Pelo que entendi, o álbum foi criado como trilha de uma série televisiva. A banda foi criada por conta do programa. Ou seja, em outras palavras, trata-se de um Monkees do mal. A sonoridade deles é mais puxada pro death metal melódico. Brendon Small, conhecido no mundo das animações, é o responsável pela execução de guitarra, baixo, voz e teclado. Continuo não curtindo muito esse tipo de vocal, gutural ao extremo, mas achei o trabalho dele razoável, dentro do gênero. Para quem não é um cantor profissional, está ok. O trabalho de guitarra é bem elaborado e conta com bons riffs. Para gravar a bateria, Brendon recrutou o experiente Gene Hoglan, logo, não preciso dizer que está bem tocada. Esse cara é monstro… Em resumo: o disco é bem feito, mas achei a audição cansativa. Não me cativou…

Fernando: Não conhecia, mas só de ter Gene Hoglan na bateria já me fez querer ouvir com mais atenção. A banda na verdade é uma dupla com Brendon Small fazendo todo o resto. Porém perdi o interesse rapidinho. Algumas ideias legais aqui e ali, mas no geral dificilmente voltarei a ouvir.

Mairon: Os caras resolveram fazer sátira com Death Metal, e o resultado, é essa coisa aqui. Instrumentalmente, um trabalho impecável, com belas linhas de guitarra e uma bateria monstruosa. O problema é o vocal. Que coisa chata esse gutural irritante, que parece que o cara está com a garganta totalmente irritada. Tortuoso ouvir 50 minutos dos vocais. Quando ficava só instrumental, joinha, mas cada vez que entrava o vocal, tinha vontade de torcer o pescoço do André. Enfim, espero nunca mais ouvir algo similar a isso.


Austrian Death Machine – Total Brutal [2008]

André: Eu gosto de thrash metal. E eu gosto dos filmes do Arnold Schwarzeneger. Os dois juntos me divertiram demais. Várias músicas aqui contém frases icônicas do ex-Governator, além das referências aos filmes com sua participação. Tim Lambesis fez uma homenagem engraçada demais ao lendário ator e as vinhetas com Chad Ackerman imitando Arnold ficaram muito hilárias. Some isso a um thrash pesado e curta não só esse, mas os outros dois discos que foram lançados nos anos subsequentes.

Davi: Outro projeto que não conhecia. Esse eu já achei mais bacana. Capitaneado pelo Tim Lambesis (As I Lay Dying), aponta para uma sonoridade mais thrash. Disco pesadaço, trabalho vocal bacana. Agressivo, mas inteligível. Esse tipo de vocal, já curto. O álbum, na realidade, é uma homenagem ao ator Arnold Schwarzenegger. As letras são todas inspiradas em filmes do ator como O Último Grande Herói, Exterminador do Futuro, Um Tira No Jardim da Infância, etc. Essa é a razão do desenho dele estampar a capa do álbum e também de terem contratado Chad Ackerman para uma imitação do ator, utilizada como vinheta entre as faixas. A imitação é a pior do mundo, não engana nem uma criança de 3 anos. Comentários como “você acha que tudo soa o mesmo? É claro que soa o mesmo porque é tudo brutal” também são ridículas e dispensáveis, mas as músicas são muito boas. Agora, não sei se é do arquivo que peguei, mas tem várias faixas onde o volume cai um pouco no meio da música e depois volta. É assim mesmo? De todo modo, é um álbum divertido.

Fernando: Outro que não conhecia. Gostei demais da capa que casou perfeitamente com o som remetendo ao thrash oitentista. Nunca gostei do chamado crossover thrash e aqui temos bastante influência. Também temos umas pitadas aqui e acolá de new metal, que também não me agrada, mas no todo gostei mais do que o Dethklok.

Mairon: Sempre tento analisar as audições de bandas satíricas de duas formas: desprezando o conteúdo lírico; prestando atenção no instrumental. O Austrian Death Machine musicalmente é impecável. O cérebro do projeto é Tim Lambesis, malucaço que toca todos os instrumentos do disco, com exceção dos solos de guitarra e alguns outros poucos instrumentos, já que o disco é repleto de convidados. E cara, ele toca tudo MUITO BEM. O disco soa ótimo nos ouvidos, um thrash metal na linha Anthrax. É paulada atrás de paulada, com destaque para arranjos interessantes (“Here Is Subzero, Now Plain Zero” e “I Am a Cybernetic Organism, Living Tissue Over (Metal) Endoskeleton”) e quebra-pescoços formidáveis (“It’s Not a Tumor”, “Rubber Baby Buggy Bumpers” e “Who Is Your Daddy, And What Does He Do?”). A ideia de usar o Arnold Schwarzenegger como influência pode tranquilamente ser abstraída ao longo da audição. E em termos de dar risada, o encerramento com “Not So Hidden Track” é simplesmente hilário!!! Os momentos em que há “a voz de Arnold” aparecendo são passáveis, e não comprometem à música, apenas trazendo essa satirização estabelecida pelo projeto. Gostei do que ouvi, mas não irei colocar nas prateleiras.

terça-feira, 20 de agosto de 2019

Livros: Novos Baianos (A História Do Grupo Que Mudou a MPB) [2014]


Luiz Galvão é um dos mais renomados poetas, diretores e letristas de nosso país. Ao lado de Moraes Moreira, Paulinho Boca de Cantor e Baby Consuelo (hoje do Brasil), fundou no início dos anos 70 o grupo Novos Baianos, que simplesmente redefiniu a Música Popular Brasileira ao unir samba, rock, frevo e diversos outros estilos em um som único. Isso gerou clássicos atemporais, tais como "Preta Pretinha", "Mistério Do Planeta", "Tinindo, Trincando", "Quando Você Chegar", "Swing de Campo Grande", entre outras grandes obras regravadas de outros artistas, como "Brasil Pandeiro" (Assis Valente), "Na Cadência do Samba" (Ataulfo Alves e Paulo Gesta), "Brasileirinho" (Pereira Costa e Waldir Azevedo) e "O Samba Da Minha Terra" (Dorival Caymmi), só para citar alguns.

A história de essas e outras grandes canções do grupo, bem como da vida particular de Luiz Galvão, e claro, curiosidades advindas dos baianos, é registrada no livro Novos Baianos (A História do Grupo Que Mudou A MPB), lançado em 2014 pela editora Lazuli. O contexto central é uma ampliação de Anos 70 Novos Baianos, lançado pela editora 34 em 1997, com mais histórias e também uma atualização (e imagens) sobre a banda pós tal livro, já que ainda em 1997, o Novos Baianos fez uma reunião que acabou resultando no ótimo disco ao vivo Infinito Circular (1998).


Para quem é fã do grupo por conta dos seus principais álbuns (no caso, o clássico e insuperável Acabou Chorare - 1972, e Novos Baianos F. C. - 1973), irá se deliciar com o autor das letras contando a origem e a inspiração para a criação de sua obra. Galvão narra com detalhes o que significam, por exemplo, a abelha abelhinha de "Acabou Chorare", por que enquanto corria a barca eu ia lhe chamar em "Preta, Pretinha", as travessuras do moleque brincando de velho, me chamando de Pedro em "Quando Você Chegar", entre outras histórias de canções menos memoráveis, tais como "De Vera" (primeira parceria com Moraes), “Dona Nita e Dona Helena”, “Só Se Não For Brasileiro Nessa Hora”, "Ferro Na Boneca" ou "Escorrega Sebosa".

O primeiro show da banda, no Teatro Vila Velha em setembro de 1969, participação defendendo "De Vera" no Festival da Record do mesmo ano (onde nasce o nome Novos Baianos), os complicados dias vivendo em São Paulo, a influência do chorinho nas composições do grupo, bem como a criação dos primeiros Trio Elétricos na Bahia, são alguns dos grandes êxitos que Galvão traz para o leitor. Até mesmo os filhos dos novos baianos são apresentados como nomes representantes da MPB.


O livro não segue uma ordem cronológica, mas de fácil leitura, nos surpreende ao longo de suas 300 páginas com histórias pessoais de Galvão, que envolvem desde os problemas com drogas e diversos relacionamentos com muitas mulheres, até ancorar no porto milagroso da esposa Janete, os conflitos políticos e sociais com a ditadura, e as peladas clássicas na Vargem Grande, onde o grupo se instalou em regime comunitário, jogando muito futebol e perdendo muito dinheiro. Vale ressaltar que mesmo assumindo que consumia maconha como uma atividade rotineira, o autor revela que abandonou as drogas há muito tempo, e que quando percebeu o mal que as mesmas fazem, arrependeu-se de ter usado as mesmas. Acho interessante que ele fala abertamente sobre isso, sem problemas.

Agrônomo de carteirinha, mas poeta de coração, Galvão acabou criando uma grande amizade com recém finado João Gilberto, que acabou apadrinhando ele e os amigos baianos no Rio de Janeiro, cidade onde os Novos Baianos fizeram fama, ainda mais com a introdução dos membros do grupo Os Leif’s, de onde surgiram Pepeu Gomes, Dadi e Jorginho (guitarrista, baixista e baterista respectivamente). Tudo isso também está apresentado com riqueza de detalhes e muito bom humor. Aliás, o relacionamento de Pepeu e Baby também entra na jogada, mas em nenhum momento trazendo babados ou polêmicas, sempre com muito respeito e zelo pelos colegas, assim como todas as citações aos demais membros da banda. Mesmo a saída de Moraes Moreira é tratada de forma ocasional, como algo natural perante o momento que o músico vivia em 1975.


Além das páginas com a história narrada por Galvão, temos também a presença da Discografia e todas as letras das canções registradas pelo Novos Baianos, duas entrevistas feitas pelo autor (uma com Capina e outra com Rogério Duarte), o Um Apêndice Que Resiste Á Cirurgia, com letras inéditas de Galvão e também imagens da carreira do grupo, bem como um texto do ex-presidente José Sarney, publicado na Folha de São Paulo de 25 de abril de 2003, enaltecendo as virtudes e importância do Novos Baianos para a cultura brasileira.

Por outro lado, o livro peca ao praticamente eximir-se de contar a história da banda pós-saída de Moraes, deixando uma sensação de que a banda acabou do nada, mas é um mero detalhe. Afinal, para um grupo tão importante quanto o Novos Baianos, é impossível dizer que sua história um dia irá acabar.

terça-feira, 6 de agosto de 2019

Maestrick - Espresso Della Vita • Solare [2018]



Como é bom quando recebemos um material de uma banda que já conhecemos, e melhor ainda quando esse material te surpreende positivamente. Há alguns anos, o Maestrick figurou nas nossas páginas através do EP The Trick Side Of Some Sons, na qual o trio paulista homenageia diversos baluartes do rock clássico, e que, como muito bem resenhado pelo Micael em tal oportunidade, tornava-se difícil de ouvir sem uma comparação a sério com os homenageados, com o Maestrick ficando muuuuuuuuuuuito aquém em todas as canções.

Pois eis que o tempo passa, e o grupo formado por Fabio Caldeira (vocais, piano, teclados), Renato "Montanha" Somera (baixo, vocais guturais), Heitor Matos (bateria, percussão), faz uma série de nove apresentações na Europa no ano passado, quando visitou Suíça, Itália, Polônia e República Tcheca, e lança Espresso Della Vita • Solare, que causou um alvoroço muito grande aqui e lá fora. Honestamente, consigo facilmente entender o alvoroço que muitos canais da imprensa especializada fizeram para o trio, já que o disco ocupou a primeira posição como Melhor Disco de 2018 nos sites O Subsolo e Gaveta de Bagunças, e a segunda posição de Melhor Disco de 2018 pela rádio Cangaço Rock e nos sites Road To Metal, Terreiro do Heavy Metal e Metal na Lata. Até a japonesa BURRN! avaliou o disco com a nota 86/100, a frente de gigantes como Anthrax e Spock's Beard.



Espresso Della Vita • Solare é a primeira parte de um disco duplo conceitual e traz uma observação da vida humana pela perspectiva de uma viagem de trem. Ele conta com a participação do guitarrista e produtor Adair Daufembach, além de uma série de convidados, destacando a Solare Choral (um coral formado por 3 sopranos, 5 altos, 5 tenores e 3 baixos), e a Solare Orchestra (4 violinos, 1 viola, 1 violoncelo, flauta e tímpano).

O álbum começa com a vinheta "Origami", uma espécie de "Overture" para a jornada musical que irá ser apresentada por pouco mais de uma hora e dez minutos, com destaque para a bateria de Matos. "I A. M. Living" traz o baixo de Somera em evidência, e a parte instrumental chama a atenção novamente pelo belo trabalho de bateria, além da guitarra fazer seu serviço com perfeição. Aqui há a participação do coral e da orquestra, mostrando ao ouvinte que os brasileiros vieram com grandiosidade. Boa faixa para apagar de vez qualquer má-vontade que possa ter ficado anteriormente.


"Rooster Race" começa com um lindo dedilhado de viola caipira feito por Caldeira, e até a participação de um berrante (Neemias Teixeira), em uma faixa veloz, que mistura heavy metal com elementos da música caipira, também muito boa de se ouvir. O piano e o ritmo dançante de "Daily View" mudam totalmente a sonoridade do álbum. Com vocalizações muito bem encaixadas e a suavidade sonora, parece que estamos ouvindo aquelas canções que o Queen usava para preencher seus discos no início da carreira, como "Seaside Randezvous", "Good Old-Fashioned Lover Boy", entre outras. A orquestra aparece com força em "Water Birds", que lembra bastante Sagrado Coração da Terra, divergindo apenas durante o belo solo de Daufembach.

"Keep Trying" é um som mais acessível, não tão pesado, lembrando bastante o grupo Apocalypse, e que traz criatividade ao citar, na letra, discos e canções do Rush. O coral introduz a suíte "The Seed". Dividida em doze partes, é uma faixa de quinze minutos, daquelas que você deve parar tudo que está fazendo para apreciar suas variações, e principalmente, o exímio trabalho de guitarra, baixo e bateria. Sensacional!! O baixo galopante de "Far West" mostra influências country junto ao peso metálico, em mais uma canção bastante criativa.


O lado acústico da Maestrick aparece na balada gospel "Across The River", mudando novamente o direcionamento musical do álbum e mostrando mais diversidade na música dos paulistas. "Penitência", única canção em português, traz um complicado repente feito por Moacir Laurentino e Sebastião da Silva, e em nada se assemelha ao que já tínhamos ouvido anteriormente nesse disco. Parece outra banda em outro mundo musical, misturando peso com o ritmo nordestino. Genial! Voltamos às lembranças do Apocalypse em "Hijos de La Tierra", trazendo parte da letra em espanhol e elementos latinos. O álbum encerra-se com a mini-suíte "Trainsition", uma faixa suave levada pelo riff do piano (martelando na cabeça por algumas horas) em uma longa e envolvente introdução, que nos apresenta mais uma canção bastante trabalhada, para fechar tranquilamente um álbum que nos dá muito o que pensar.

Primeiro, como é bom ver que o Maestrick é outra banda quando compõe suas próprias canções. Bom gosto e muita técnica são os destaques. O bom gosto, principalmente, aparece não só na qualidade das harmonias e composições, mas também no luxuoso encarte de mais de 20 páginas que acompanha o CD, lançado no formato DIGIPACK. O guitarrista Adair Daufembach bem que poderia manter-se fixo. Seu trabalho é impressionante, e eleva a qualidade do álbum em muitos pontos. Por fim, resta aguardar Espresso Della Vita: Lunare, e esperar que o trio continue com o bom gosto musical, investindo nas suas composições e desistindo de coverizar clássicos.


Track list

1.  Origami
2 I A. M. Living
3 Rooster Race
4 Daily View
5 Water Birds
6 Keep Trying
7 The Seed
8 Far West
9 Across The River
10 Penitência
11 Hijos De La Tierra
12 Trainsition



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