Imagine   uma banda que toque um hard rock dos mais pesados e densos que você já   ouviu. Junte a isso um trabalho instrumental que beira o progressivo e   também pequenas doses de psicodelia, tudo liderado por um baixista   britânico que adorava cantar as letras junto da canção ao mesmo tempo   que tocava seu baixo cavalgante enquanto a canção era executada nos   palcos, e que batizou o nome dessa banda de Iron Maiden.
Sim,  eu  não estou maluco!! Muito antes do baixista Steve Harris aportar na   Inglaterra com o seu Iron Maiden, Barry Skeels (baixo, vocais) fundava   uma das mais obscuras e talentosas bandas do hard britânico.
A  donzela de ferro de Skeels começou a surgir em 1964 em Baseildon,   Essex, onde ele agregou-se a Alan Hooker (bateria), Steve Drewett  (vocais,  harmônica) e Chris Rose (guitarras), formando o grupo Bum.  Shows em  pequenos lugares e muito ensaio, além do surgimento de álbuns  como  Rubber Soul (Beatles), Aftermath (Rolling Stones), Over Under Sideways  Down (Yardbirds) e Animal Tracks (The  Animals) levaram o grupo a sofrer  modificações nas estruturas, com a  adição de Tom Loates (guitarra) e  Stan Gillem substituindo Hooker nas  baquetas. Vários shows se  seguiram, mas nada "acontecia" para o Bum,  até que em 1968, Rose e  Loates saem do grupo.
Graham Esgrove  assumiu as guitarras por pouco  tempo, sendo rapidamente substituído por  Trevor Thoms. Com Paul Reynolds  comandando o bumbo, o Bum muda de  nome, passando a se chamar Iron  Maiden. O som inicial (totalmente beat e  rockabilly) muda  para algo próximo a psicodelia de Jefferson Airplane,  Country Joe &  The Fish e até mesmo Grateful Dead. A forte  inspiração nas bandas  flower-power americanas torna-se ainda mais  evidentes nas apresentações  do grupo, onde longas viagens lisérgicas  comandam as canções do grupo,  com improvisos que podiam durar até meia  hora de duração.
Isso   fez com que o nome Iron Maiden passasse a ser reconhecido pelo pessoal   ligado a música, levando-os a abrir shows de gente como The Who,   Fleetwood Mac, David Bowie e Jethro Tull, esses três últimos   ainda no início de carreira. Com a sequência de boas apresentações,   conseguem uma grana, e vão pela primeira vez aos estúdios, onde  registram a  raríssima bolachinha com "Ballad of Martha Kent / God of  Darkness", de  forma totalmente independente.
Ao  final de 1968,  Reynolds é substituído por Steve Chapman, e no início  de 1969, assinam  um contrato de risco  com a gravadora Gemini Records,  filial da President Records. De cara,  gravam outro compacto raríssimo,  com as faixas "Falling / Ned Kelly",  que trazem um Iron Maiden ainda  mais pesado do que o visto no seu  compacto de estreia, com as guitarras  de Thoms em um nível de  distorção altíssimo, bem como o belo trabalho  da cozinha Skeels/Chapman.  Caso a bolachinha vendesse bem, o grupo  permaneceria na Gemini durante  três anos.
Porém, o disquinho não vingou, e restou ao Iron Maiden sair em uma longa excursão pela Grã-Bretanha, que levou o quarteto até a Austrália. Na volta da Austrália, Reynolds volta para o lugar de Chapman, e então, ainda com o contrato com a Gemini em vigor, gravam mais dois compactos: "Liar / Ritual" e "CC Ryder / Plague", além de voltar a excursionar com o Who.
Porém, o disquinho não vingou, e restou ao Iron Maiden sair em uma longa excursão pela Grã-Bretanha, que levou o quarteto até a Austrália. Na volta da Austrália, Reynolds volta para o lugar de Chapman, e então, ainda com o contrato com a Gemini em vigor, gravam mais dois compactos: "Liar / Ritual" e "CC Ryder / Plague", além de voltar a excursionar com o Who.
A  ótima receptividade das  plateias, apesar da baixa venda dos compactos,  fez com que a Gemini  permitisse que a gravação de um LP fosse  realizada.  Porém, durante as gravações, em 1972, Skeels saiu do grupo   misteriosamente alegando problemas particulares, e com ele levou as  cópias das masters que a Iron Maiden havia produzido.
Conta a lenda que estas masters ficaram nas mãos dos produtores da Gemini, mas que os mesmos, indignados com a atitude de Skeels, acabaram dando um sumiço nas mesmas ... De fato, a gravadora perdeu as masters, mas nunca se soube se foi de propósito ou não. Outra lenda é que uma tiragem limitada deste álbum chegou a ser lançada na Alemanha, mas nem o próprio Skeels sabe confirmar se isso é verdade.
Conta a lenda que estas masters ficaram nas mãos dos produtores da Gemini, mas que os mesmos, indignados com a atitude de Skeels, acabaram dando um sumiço nas mesmas ... De fato, a gravadora perdeu as masters, mas nunca se soube se foi de propósito ou não. Outra lenda é que uma tiragem limitada deste álbum chegou a ser lançada na Alemanha, mas nem o próprio Skeels sabe confirmar se isso é verdade.
Após  o fim da Iron  Maiden, Thoms foi parar ao lado de Lemmy Killmister em  uma das várias  formações do Hawkind. Skeels montou uma nova banda,  chamada Zior, ao  lado de Keith Bonsor (voz, teclados, baixo, flauta),  Peter Brewer  (bateria, piano e harmonica) e John Truba (guitarra,  vocals), com  quem gravou dois discos: o espetacular  Zior (1971) e Every Inch A Man (1972), além de gravar a paulada First  Monument (1972) com o grupo Monument, que nada mais é do que os membros  da Zior com  outro nome.    Skeels  acabou criando um grupo de luzes para palcos, chegando a  trabalhar com  Buddy Guy, e também foi management do Venom. Após isso,  virou  empresário do grupo Skyclad, e trabalhou como produtor de diversos   grupos como Black Sabbath, Manowar, Trouble, Ramones, Bon Jovi e Yngwie   Malmsteen.
Os  demais membros da Iron Maiden  ficaram largados na imensa escuridão que  abriga diversos artistas do  rock que infelizmente nunca alcançaram seu  lugar ao sol.
Na   década de 90, finalmente o baixista fundador da Iron Maiden liberou o   material que havia sido gravado para o primeiro álbum do grupo. Junto a   este material, acrescentou as canções dos compactos que foram lançados   no final da década de 60, e assim surgiu um dos grandes petardos do  hard  obscuro mundial, Maiden Voyage.
Lançada em 1998 pela gravadora Hi-note  Music, Maiden Voyage  é uma coletânea que trás todo o talento da donzela de  ferro, com  canções longas e bem elaboradas, desenvolvidas a partir dos  embriões  originais que foram registrados nas bolachinhas iniciais do  grupo, e  que ficou batizado como "Archetypal Doom Metal", ou trocando em  miúdos, como "Primórdios do Doom Metal".
O  CD começa com as  músicas do compacto inicial do grupo com a Gemini  Records, contando com  Chapman na bateria. "Falling" inicia com um tema  clássico na guitarra  seguido pelas vocalizações de Skeels e Drewett que  entoam uma frase com o  nome da canção. O baixo galopante de Skeels  comanda uma ótima faixa,  com muito peso e total destaque para as  vocalizações. No solo de Thoms,  baixo e bateria travam uma batalha ao  fundo, tentando conquistar o  espaço da guitarra como as grandes bandas  do hard faziam. O som da  guitarra é um pouco cru, com uma leve  distorção, lembrando o som das  guitarras dos anos 50, o que não tira o  charme de um bom solo. A letra é  retomada, encerrando com a repetição  do tema inicial.
"Ned Kelly" vem a seguir, com Thoms solando na  guitarra, enquanto  Drewett canta com um acompanhamento simples do  grupo, misturando  momentos mais calmos com outros um pouco mais  agitados, onde Thoms fica  solando sobre a levada da Iron Maiden.
A  seguir, as quatro canções dos dois últimos compactos surgem, porém   muito mais trabalhadas, que seriam as versões do LP, e tendo Reynolds na   bateria. A longa "Liar" surge com o riffzão de baixo e guitarra. O som   abafado mostra que é uma versão bem inicial, praticamente gravada ao   vivo, mas de um baita som, com os vocais de Drewett sendo lançados  enquanto o riff de  baixo e guitarra se repete. Essa canção curiosamente  lembra a fase  inicial do UFO (sem Michael Schenker), e que  posteriormente iria  influenciar o Iron Maiden mais famoso.
Após  algumas frases, a doideira pega, com Thoms começando a solar sobre a   batalha de Skeels e Reynolds. A crueza dos sons do baixo e da guitarra   são o principal destaque. Skeels passa a solar acompanhado apenas pelo   cymbal de Reynolds e leves batidas na caixa. Com o uso de acordes e   dedilhados rápidos, Skeels mostra-se um precursor na arte de solar no   baixo, com uma agilidade muito boa.
A guitarra manhosa de Thoms  re-aparece solando com um wah-wah, em um  clima viajante, onde os  efeitos da guitarra criam um espaço virtual que  leva o ouvinte para uma  viagem de ida ao paraíso, encontrado no lindo  solo de Thoms com um  dedilhado de chorar, sem ninguém para o acompanhar.
Skeels faz  uma marcação em apenas duas notas, e Thoms segue seu belo  solo com o  wah-wah, trazendo o ouvinte na viagem de volta para a Terra  em um clima  muito soturno. A bateria aos poucos vai se agregando a dupla  de  cordas, e a canção vai pegando ritmo. Thoms larga o wah-wah, e  começa a  estraçalhar a guitarra, com solos rasgados e longas notas. Aos   adoradores do space rock, é a faixa perfeita (junto com Flying do  citado  UFO), principalmente pela levada final da sessão instrumental,  onde o  baixo galopante acompanha o solo de Thoms e as viradas inseguras  mas  importantes de Reynolds.
No encerramento, a canção muda totalmente, com as vocalizações cantando a  letra em uma tentativa de 'heavy metal'  que não chega a funcionar de  tal forma, levado a um solo de bateria  enquanto vocalizações duelam com  escalas jazzísticas de guitarra,  trazendo o riff inicial e a retomada da  letra, concluindo essa grande e  ótima faixa da Iron.
"Ritual" surge com a guitarra dedilhada  acompanhada pelo tema de baixo.  Drewett canta com a voz cheia de  emoção, e a canção desenrola-se  suavemente, quase que como um balada,  com a bateria fazendo pequenas  marcações enquanto guitarra e baixo  fazem a base, até chegarmos na  sessão instrumental, onde Thoms solta os  dedos com um dançante e forte  solo de guitarra. A levada de Skeels e  Reynolds é fabulosa, mesmo com  toda a simplicidade da dupla, e as  ácidas notas de Thoms chapam de cara.
Os vocais de Skeels e  Drewett vão para o que podemos entender como que  sendo o refrão,  levando a mais um ótimo solo de Thoms, com notas  resgadas e muita  acidez, com variações hendrixianas tendo ao fundo o  baixo galopante de  Skeels, encerrando a canção com a repetição da letra.
"CC Ryder"  vem a seguir, fugindo totalmente da sonoridade das canções  anteriores,  com uma mixagem um pouco melhor e onde o baixão de Skeels  puxa um boogie  onde guitarra e harmônica abrem os trabalhos para algo na  linha Canned  Heat, com outro belo trabalho de guitarras feito por Thoms e  com um  interessante solo de harmônica feito por Drewett.
A série dos  dois últimos compactos encerra-se com a espetacular  "Plague", onde o  lindo dedilhado da guitarra no início trás novamente  uma mixagem  precária, mas que compensa pela alta dose emocional. Após a  introdução,  a canção vai ganhando ritmo, com guitarra e baixo aumentando  a  velocidade dos acordes, enquanto Drewett rasga a voz, chegando ao  solo  de Thoms, que mantém sua característica na alternância de notas   rápidas, muitos bends e vibratos.
Frases  curtas aparecem no meio do solo, que segue com muita acidez e  peso.  Reynolds transforma-se em um polvo, batendo em caixa, bumbo,  pratos e  cymbal com muitas variações, e Thoms continua seu solo repleto  de  feeling e acordes alucinógenos feitos pelo efeito do wah-wah e de uma   distorção muito estranha, que apesar da pouca criatividade, ganha na   emoção.
A coletânea encerra-se com as duas canções da primeira  bolachinha do  grupo, e que o CD erroneamente faz menção a gravação como  sendo do grupo  Bum, o que não parece ser o certo, já que Skeels e cia.  haviam adotado o  nome de Iron Maiden na época dessa gravação. O épico  início de "Ballad  of Martha Kent", onde harmônicos e acordes puxam  uma  balada dançante  que lembra a fase inicial dos Rolling Stones, abre uma  faixa muito  psicodélica, com acordes de guitarras muito estranhos e  com uma fraca  participação da bateria.
"God of Darkness" é a  faixa final, em uma linha bem Yardbirds, com  destaque para a guitarra  de Thoms e o ótimo trabalho vocal de Drewett,  além claro do baixão de  Skeels e assola as caixas de som durante o solo  de Thoms.
De  modo geral, uma banda simples, bem garageira, mas que teria muito  para  dar se tivesse a sorte de ter um produtor competente e também uma   gravadora que se entregasse para o material da banda. Perto de outras   osbcuridades do hard, a Iron Maiden não faz feio, e é uma boa banda para   ser ouvida ao acompanhamento de kibes e cervejas.
Hoje, Skeels continua seu trabalho de produtor dentro da agência Offbeat  Management,  além de participar da banda de blues Black River Band e ter  feito  trabalhos com o grupo Ambience UK. Da Black River Band, Skeels  formou  ao lado de Rufus Firefly, Bill McFly, Paul Highfly e Paul Hoverfly, o  grupo Road Runners, adotando o nome de  Barry Flyby e estando em turnê  atualmente.
E se você acha que Skeels tem algum tipo de inveja ou  mágoa do Iron Maiden  conhecido, fica a frase que o próprio Skeels  falou em uma entrevista  dada ao colega Thiago Sarkis há algum tempo: "Eu  fiquei irritado no começo, porque pensei que fosse algum membro do Iron  Maiden que eu havia fundado e que levara o nome consigo. Todavia, não  foi isso que aconteceu. Era outra banda e eles já estavam com tudo  encaminhado para se transformar em um supergrupo. Nós por outro lado,  tínhamos encerrado atividades há muito tempo. Portanto, isto nunca me  incomodou".
 









 
 

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