Publicado originalmente no blog Consultoria do Rock
Em abril de 1972, o Gentle Giant ainda era um principiante no rock progressivo. Os britânicos haviam lançado dois álbuns (Gentle Giant, de 1970, e Acquiring the Taste, de 1971), só que não tinham a força suficiente para aparecer como um grande ao lado de nomes como Yes, Pink Floyd e Genesis.
Apesar da incrível técnica de seus músicos, e da inquestionável qualidade musical gerada nos dois LPs de estreia, o então sexteto Gentle Giant, formado pelos irmão Shulman (Ray - baixo, violino, trompete, violões, flauta, voz; Derek - vocais, baixo, percussão, violões, flauta; e Philip - saxofones, vocais, flauta) mais Kerry Minnear (teclados, percussão, xilofone, vibrafone, flauta, vocais), Gary Green (guitarra, violões, voz) e novato Malcolm Mortimore (bateria, percussão), que substituiu Martin Smith nas baquetas, eram vistos mais pela arrogância e prepotência de serem diferentes dos outros grupos de rock do que pela competência que os tornavam tão diferentes.
Como vocês podem ver, a principal característica do grupo era a versatilidade, já que todos tocavam vários instrumentos (e muito bem, diga-se de passagem). Outro fato relevante para a carreira do Gigante Gentil ser diferente era o de fazer músicas extremamente complexas (como seus colegas proggers) mas sem serem longas. A maioria das canções do grupo beira os seis minutos, e você jamais irá encontrar uma suíte ocupando um lado inteiro de um vinil.
Mas ser diferente não significava dinheiro nos bolsos, e de alguma forma, era necessário que um passo grande (para não dizer gigante) tivesse que ser dado e colocasse o sexteto no lugar que lhe estava destinado. Foi assim que nasceu a ideia de criar um dos mais interessantes álbuns conceituais do rock progressivo, Three Friends, o qual está completando 40 anos de seu lançamento hoje, 14 de abril.
A história do álbum narra os dias de três amigos que passam a infância muito unidos, mas que por diferentes situações e fatos, acabam tendo suas vidas separadas, com cada um deles seguindo um caminho bem distinto um do outro, atribuídos ao destino, habilidade e a oportunidade. Musicalmente, a complexidade do Gentle Giant acaba não sendo tão testada, e o disco soa como uma espécie de Fragile (lançado pelo Yes em 1971) do Gentle Giant, pois cada música destaca um solo individual de um integrante do grupo, o que torna as canções de Three Friends mais atraentes.
Além da necessidade, a imensa turnê abrindo para o Jethro Tull no início de 1972, bem quando a trupe de Ian Anderson estava completando a obra-prima Thick as a Brick, serviu para influenciar ainda mais o Gigante a dar uma guinada rumo a terrenos mais acessíveis, em solos mais firmes onde ele pudesse caminhar soberano. Essa influência gerou um álbum muito criativo, com estilos diferentes caracterizando as vidas dos três personagens principais da história.
O LP abre com “Prologue”, tendo a longa rufada de Mortimore, trazendo o tema marcado da guitarra, enquanto piano e baixo fazem a base cadenciada que é acompanhada pela sutil levada da bateria. Minnear passa a fazer o tema da guitarra no sintetizador, junto com a guitarra, durante a segunda estrofe, e a terceira estrofe tem o tema feito com moog, guitarra e sintetizador. Essa parte da canção é realmente uma abertura, contando como os amigos se conhecem na escola e como irão ser separados por causa dos fatores citados acima.
Apesar da incrível técnica de seus músicos, e da inquestionável qualidade musical gerada nos dois LPs de estreia, o então sexteto Gentle Giant, formado pelos irmão Shulman (Ray - baixo, violino, trompete, violões, flauta, voz; Derek - vocais, baixo, percussão, violões, flauta; e Philip - saxofones, vocais, flauta) mais Kerry Minnear (teclados, percussão, xilofone, vibrafone, flauta, vocais), Gary Green (guitarra, violões, voz) e novato Malcolm Mortimore (bateria, percussão), que substituiu Martin Smith nas baquetas, eram vistos mais pela arrogância e prepotência de serem diferentes dos outros grupos de rock do que pela competência que os tornavam tão diferentes.
Gentle Giant ao vivo em 1971 |
Mas ser diferente não significava dinheiro nos bolsos, e de alguma forma, era necessário que um passo grande (para não dizer gigante) tivesse que ser dado e colocasse o sexteto no lugar que lhe estava destinado. Foi assim que nasceu a ideia de criar um dos mais interessantes álbuns conceituais do rock progressivo, Three Friends, o qual está completando 40 anos de seu lançamento hoje, 14 de abril.
A história do álbum narra os dias de três amigos que passam a infância muito unidos, mas que por diferentes situações e fatos, acabam tendo suas vidas separadas, com cada um deles seguindo um caminho bem distinto um do outro, atribuídos ao destino, habilidade e a oportunidade. Musicalmente, a complexidade do Gentle Giant acaba não sendo tão testada, e o disco soa como uma espécie de Fragile (lançado pelo Yes em 1971) do Gentle Giant, pois cada música destaca um solo individual de um integrante do grupo, o que torna as canções de Three Friends mais atraentes.
Além da necessidade, a imensa turnê abrindo para o Jethro Tull no início de 1972, bem quando a trupe de Ian Anderson estava completando a obra-prima Thick as a Brick, serviu para influenciar ainda mais o Gigante a dar uma guinada rumo a terrenos mais acessíveis, em solos mais firmes onde ele pudesse caminhar soberano. Essa influência gerou um álbum muito criativo, com estilos diferentes caracterizando as vidas dos três personagens principais da história.
A capa-dupla americana de Three Friends |
Uma curta sessão de temas marcados entre guitarra e teclados dá espaço para os vocais sussurrados de Derek, acompanhado apenas pela marcação da bateria, intervenções dos vocais de Philip e do órgão. Variações sobre o tema principal aparecem, e Derek continua a letra, novamente acompanhado pela bateria e por vocalizações, com o violão reproduzindo a melodia vocal.
Ao final da letra, baixo e órgão fazem um estranho duelo, onde a guitarra surge com mais um tema marcado, enquanto a bateria permanece como um relógio. A canção cresce, com Minnear adicionando teclados, e com Gary dando ritmo junto ao baixo, para então, sintetizador e órgão fazerem um tema maluco, voltando então ao tema principal, feito por moog e guitarra (primeira estrofe), moog guitarra e sintetizador (demais estrofes), repetindo-se até o final da canção.
Na sequência, xilofone e guitarra fazem o tema de abertura de “Schoold Days”, que retrata justamente os dias de escola dos três amigos, com a sirene tocando no início das aulas, as risadas e corridas pelos corredores, e principalmente, saudando os dias felizes da infância. Essa é a "canção solo" de Minnear, que é sem dúvidas o centro das atenções da mesma.
Vozes sobrepostas do tecladista, pulando de um canal para outro, formam as primeiras frases da letra. Minnear também é responsável por criar mais um tema intrincado nos sintetizadores, entoando a letra como um poema, tendo ao fundo apenas batidas suaves nos pratos. O tema introdutório de guitarra e xilofone é repetido, e Kerry volta a saltar de um canal para o outro com sílabas que formam as palavras da letra da canção. O tema intrincado retorna, com a melodia vocal acompanhada pelo piano elétrico, e com uma energética sessão de baixo, de onde explodem as violentas batidas nos pratos que acompanham os sinistros acordes de mellotron e piano.
Vozes sobrepostas do tecladista, pulando de um canal para outro, formam as primeiras frases da letra. Minnear também é responsável por criar mais um tema intrincado nos sintetizadores, entoando a letra como um poema, tendo ao fundo apenas batidas suaves nos pratos. O tema introdutório de guitarra e xilofone é repetido, e Kerry volta a saltar de um canal para o outro com sílabas que formam as palavras da letra da canção. O tema intrincado retorna, com a melodia vocal acompanhada pelo piano elétrico, e com uma energética sessão de baixo, de onde explodem as violentas batidas nos pratos que acompanham os sinistros acordes de mellotron e piano.
O piano passa a dedilhar, tendo intervenções do mellotron, e aos poucos, a bateria surge, com marcações nos pratos, para Philip assumir o microfone, com longas palavras, enquanto Minnear demole o piano. Vozes de crianças acompanham as sobreposições de vozes de Shulman, enquanto mellotron e piano formam a densa camada sonora ao fundo.
A bateria então dita o leve ritmo da canção, enquanto o piano acompanha os vocais chorosos de Minnear, em um bonito crescendo, voltando então para as vocalizações infantis sob a sobreposição de vozes, encerrando essa sessão da canção com vozes de crianças brincando em um parque, entre as marcações vocais, que levam ao fantástico solo de xilofone, na qual, sobre uma maravilhosa sessão jazzística de baixo, piano e bateria, Minnear detona, mostrando toda sua técnica, encerrando a canção com a repetição do refrão, e a voz do tecladista saltando nas caixas de som.
O lado A encerra-se com “Working All Day”, a canção que conta a história de um dos amigos pós-infância, revelando ao ouvinte que o cidadão em questão agora é um peão que trabalha construindo estradas. Essa é a "canção solo" de Philip Shulman. A introdução é feita pela guitarra, como que em uma fita enrolada, trazendo os vocais fortes e característicos de Derek, acompanhados por órgão, violão e sopros que repetem a melodia vocal.
Saxofone, órgão e bateria fazem o tema da ponte central, e Derek continua a letra da canção, voltando para mais uma ponte instrumental, onde o saxofone destaca-se. Outro belo momento jazzístico é apresentado, com uma intrincada sessão de baixo e guitarra, e com o saxofone, órgão e guitarra executando um pequeno duelo que é o acompanhamento do bonito solo de órgão da canção. Este solo possui um fabuloso crescendo, que torna a canção mais agitada, com destaque para a companhia do baixo, e então, cordas abafadas surgem do nada, encerrando o trecho instrumental. Derek completa a letra de “Working all Day”, entoando o nome da canção, encerrando com a repetição da ponte instrumental do saxofone, e com várias notas do órgão, baixo e guitarra.
Saxofone, órgão e bateria fazem o tema da ponte central, e Derek continua a letra da canção, voltando para mais uma ponte instrumental, onde o saxofone destaca-se. Outro belo momento jazzístico é apresentado, com uma intrincada sessão de baixo e guitarra, e com o saxofone, órgão e guitarra executando um pequeno duelo que é o acompanhamento do bonito solo de órgão da canção. Este solo possui um fabuloso crescendo, que torna a canção mais agitada, com destaque para a companhia do baixo, e então, cordas abafadas surgem do nada, encerrando o trecho instrumental. Derek completa a letra de “Working all Day”, entoando o nome da canção, encerrando com a repetição da ponte instrumental do saxofone, e com várias notas do órgão, baixo e guitarra.
“Peel the Paint” abre o lado B, contando a história do segundo amigo, o qual virou um autônomo artista especializado em pinturas e quadros, tendo de cara a voz sussurrada de Derek acompanhada por notas abafadas de órgão, baixo e guitarra. Nessa canção, o espaço é aberto para Ray mostrar seus dotes ao violino, mas o grande solo da mesma é feito pela guitarra. Uma pequena ponte instrumental surge, sendo o violino o centro das atenções, e a letra continua sendo sussurrada por Derek. A ponte instrumental, tendo o violino fazendo o tema central, é repetida, e assim, as notas abafadas acabam essa parte da canção.
Guitarra e saxofone comandam um novo tema, pesado e barulhento, que é exatamente a melodia vocal para o refrão de “Peel the Paint”, cantado à plenos pulmões por Derek. Outra intrincada ponte surge, com guitarra, saxofone e órgão misturando-se entre o acompanhamento de baixo e bateria, formando uma insana sequência de notas, que leva então para o hardiano e sujo solo de guitarra, onde Green simplesmente destrói.
Com um efusivo acompanhamento da bateria (único instrumento presente nesse momento da canção além da guitarra), Green desfila notas rasgadas e melodiosas, além de utilizar de um reverb para acompanhar a segunda metade de seu solo (algo como o que Brian May, guitarrista do Queen, costumava fazer em seu solo, “Brighton Rock”). O solo de Green ganha velocidade, e leva ao final da faixa, com mais uma estrofe cantada por Derek sobre o acompanhamento marcado da guitarra e do saxofone, encerrando com longas notas essa maravilhosa canção.
“Mister Class and Quality” surge com os temas marcados de órgão e guitarra, além do acompanhamento percussivo, o principal instrumento da mesma, descrevendo a vida do terceiro amigo, um poderoso empresário dono de condomínios, casas e apartamentos. Guitarra, órgão, baixo e violino então entoam o riff central que acompanha os melodiosos vocais de Derek e Philip.
Então, mais um estranho tema marcado entre baixo, guitarra e órgão surge, voltando para o riff inicial e a sequência da letra, agora com a companhia do violino. O estranho tema é repetido, levando para o solo de guitarra, cheio de efeitos e com um belo crescendo do órgão, que emoldura o riff principal. Uma engraçada vinheta da flauta e alguns temas marcados levam para o solo de moog, seguido por mais um solo de guitarra, e assim, a mistura de sons envolvendo o solo de guitarra e o tema principal de “Mister Class and Quality” leva ao final da letra da mesma, o qual ocorre com o estranho marcado, chegando então na faixa-título.
Então, mais um estranho tema marcado entre baixo, guitarra e órgão surge, voltando para o riff inicial e a sequência da letra, agora com a companhia do violino. O estranho tema é repetido, levando para o solo de guitarra, cheio de efeitos e com um belo crescendo do órgão, que emoldura o riff principal. Uma engraçada vinheta da flauta e alguns temas marcados levam para o solo de moog, seguido por mais um solo de guitarra, e assim, a mistura de sons envolvendo o solo de guitarra e o tema principal de “Mister Class and Quality” leva ao final da letra da mesma, o qual ocorre com o estranho marcado, chegando então na faixa-título.
“Three Friends” aparece pomposa, com o mellotron acompanhando o coral de vozes que conta o fim da história dos três amigos, vivendo no futuro uma doce e triste recordação do passado, e concluindo que apesar dos pesares, cada um venceu na vida, por caminhos muito distintos. As batidas marcadas de guitarra, baixo e bateria sevem de suporte para os belos acordes de órgão e mellotron, enquanto as vozes entoam a curta letra da canção, encerrando esse importante álbum do rock progressivo com uma longa sessão instrumental, onde os teclados, com seus longos acordes, se sobressaem entre o intrincado acompanhamento de guitarra, baixo e bateria.
A ideia de lançar um álbum conceitual acabou dando certo, levando Three Friends a ser o primeiro disco do Gentle Giant a figurar nas paradas americanas e inglesas (apesar de ter alcançado a modesta posição de número 197). Pouco antes do lançamento do LP, em março de 1972, o baterista Malcolm Mortimore sofreu um grave acidente com sua moto, que o levou a sair do grupo, sendo substituído pelo excelente John Weathers.
Essa formação lançou o mágico Octopus, outro grande disco que completa 40 anos esse ano, mais especificamente no dia primeiro de dezembro. O grupo voltaria a trabalhar com discos conceituais posteriormente, com destaque para os discos In a Glass House (1973), The Power and the Glory (1974), Interview (1976) e Civilian (1980), todos esses lançados como quinteto, já que da formação que gravou Octopus, Philip acabou saindo por problemas internos com os seus irmãos, após uma fracassada turnê abrindo para o Black Sabbath.
Como detalhe adicional, Three Friends saiu com uma capa diferente nos Estados Unidos e no Canadá, trazendo o nome do grupo estampado sobre a testa do simpático gigante que ilustra a capa do álbum de estreia do grupo. Vale lembrar que a capa original apresenta na frente os amigos reunidos conversando, todos com a mesma cor, enquanto a contra-capa apresenta-os separados, um de costas para os outros, e pintados de cores diferentes.
A versão em CD também chama a atenção por um erro grotesco, que foi marcar a duração de "Three Friends" erroneamente como tendo cinco minutos e cincoenta e um segundos, fazendo com que a parte final de "Mister Class and Quality?" virasse o início da faixa-título, o que não é.
Three Friends completa 40 anos mas ainda soa moderno. Não é a toa que ele foi eleito pela revista Classic Rock, em 2009, como um dos 30 melhores discos conceituais da história do rock, na vigésima sétima posição. A capacidade criativa do Gentle Giant ainda tinha muito para ser explorado, mas nada do que conhecemos hoje, que acabou fazendo com que os britânicos tornassem-se mundialmente reconhecidos e aclamados, teria acontecido sem o lançamento de Three Friends, e por isso, essa homenagem é feita para mais um grande disco da história do rock.
Track list:
01. Prologue
02. School Days
03. Working All Day
04. Peel the Paint
05. Mister Class and Quality
06. Three Friends
Formação que gravou Three Friends: Kerry Minnear, Malcolm Mortimore, Derek Shulman, Ray Shulman, Philip Shulman e Gary Green |
Essa formação lançou o mágico Octopus, outro grande disco que completa 40 anos esse ano, mais especificamente no dia primeiro de dezembro. O grupo voltaria a trabalhar com discos conceituais posteriormente, com destaque para os discos In a Glass House (1973), The Power and the Glory (1974), Interview (1976) e Civilian (1980), todos esses lançados como quinteto, já que da formação que gravou Octopus, Philip acabou saindo por problemas internos com os seus irmãos, após uma fracassada turnê abrindo para o Black Sabbath.
Como detalhe adicional, Three Friends saiu com uma capa diferente nos Estados Unidos e no Canadá, trazendo o nome do grupo estampado sobre a testa do simpático gigante que ilustra a capa do álbum de estreia do grupo. Vale lembrar que a capa original apresenta na frente os amigos reunidos conversando, todos com a mesma cor, enquanto a contra-capa apresenta-os separados, um de costas para os outros, e pintados de cores diferentes.
Capa da versão lançada na América do Norte |
A versão em CD também chama a atenção por um erro grotesco, que foi marcar a duração de "Three Friends" erroneamente como tendo cinco minutos e cincoenta e um segundos, fazendo com que a parte final de "Mister Class and Quality?" virasse o início da faixa-título, o que não é.
Three Friends completa 40 anos mas ainda soa moderno. Não é a toa que ele foi eleito pela revista Classic Rock, em 2009, como um dos 30 melhores discos conceituais da história do rock, na vigésima sétima posição. A capacidade criativa do Gentle Giant ainda tinha muito para ser explorado, mas nada do que conhecemos hoje, que acabou fazendo com que os britânicos tornassem-se mundialmente reconhecidos e aclamados, teria acontecido sem o lançamento de Three Friends, e por isso, essa homenagem é feita para mais um grande disco da história do rock.
Track list:
01. Prologue
02. School Days
03. Working All Day
04. Peel the Paint
05. Mister Class and Quality
06. Three Friends
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