quinta-feira, 20 de março de 2014

Maravilhas do Mundo Prog: Mike Oldfield - Hergest Ridge [1974]



Depois do incrível e inesperado sucesso de Tubular Bells, a mídia voltou seus olhos e ouvidos para as invenções do jovem Mike Oldfield. A imagem do músico britânico foi exaustivamente divulgada em tudo que é revista, programa de TV e álbum de figurinhas (esse último, um exagero obviamente), deixando o mesmo cansado e irritado com a exposição de sua figura.

Para tentar livrar-se do assédio que estava sofrendo, Mike decidiu mudar-se para o interior da Inglaterra, vivendo nos limites do país com o País de Gales, na colina de Hergest Ridge, em Kington, Herefordshire. O local é conhecido por ser o ponto mais alto da Inglaterra, com aproximadamente 430 metros, e é um dos locais mais belos daquele país.

Mike Oldfield, na sala de mixagem da Virgin

Foi nesse retiro, cercado apenas pela natureza, que Mike continuou suas experimentações musicais, aprofundando seu conhecimento nos mais diversos instrumentos, e criando mais uma obra essencial dentro do rock progressivo. Segundo o próprio Mike Oldfield, "Hergest Ridge é um lamento para os ambientes calmos", e durante suas duas partes, somos levados por amenos e intensos instantes de música.

Gravado durante a primavera inglesa de 1974, o segundo álbum de Mike Oldfield chegou às lojas em agosto daquele ano, levando o nome da colina-refúgio do guitarrista, baixista, percussionista e diversos outros instrumentos que o britânico toca, alcançando  a primeira posição em vendas no Reino Unido em 14 de setembro daquele ano, aonde permaneceu por três semanas, seguido por Tubullar Bells na segunda colocação, sendo que em 05 de outubro de 1974 Hergest Ridge foi ultrapassado por Tubular Bells, mostrando que os fãs estavam famintos pelas experimentações do músico.

David Bedford e Mike Oldfield

Trazendo a participação de Chilli Charles (caixa), Terry Olffield (instrumentos de sopro), Lindsay Cooper (oboé), June Whiting (oboé), Ted Hobart (trompete), William Murray (chimbal), Sally Oldfield (vocais), Clodagh Simonds (vocais), o coral London Sinfonietta Voices e um quarteto de cordas, ambos conduzidos por David Bedford, e lembrando que Oldfield toca: violão, baixo, guitarras, órgaos Farfisa, Gemini, e Lowrey, glockenspiel, gongo, mandolin, nutcracker, sleigh bells, tímpano e sinos tubulares.o álbum demonstra uma maior inclinação para o lado orquestral, quando comparado com Tubular Bells, mas possui diversos momentos que nos remetem ao primeiro álbum de Oldfield.

A suíte começa com um longo acorde de teclado, e tímidas notas nos sinos tubulares apresentam o tema central, muito lento, feito por instrumentos de sopro, lembrando temas galeses que nos acostumamos a ver em filmes relacionados aquele país. Esse tema repete-se por diversas vezes, com alterações nas notas e/ou sequência das mesmas. O mandolin passa a acompanhar os instrumentos de sopro, repetindo o tema central e trazendo outros instrumentos, como piano e violões, que encorpam a canção por alguns instantes.

Mike Oldfield

A partir de então, o mandolin fica repetindo o tema central, acompanhado por um órgão que repete suas notas como um eco, e pelo andar suave das cordas ao fundo, enquanto os sinos tubulares saltitam alegres entre os dois. Uma guitarra repleta de efeitos encerra o tema do mandolin, e abre espaço para o trompete.

Agora, ele é que repete o tema central, com o acompanhamento ao fundo cada vez mais forte, e ganhando beleza com uma leve guitarra que sola alucinada entre as notas do trompete. A canção ganha corpo, evoluindo maravilhosamente com a entrada de outros instrumentos (violão, guitarra, órgão, ...).

Repentinamente, a guitarra surge em camadas (como já havia ocorrido em "Tubular Bells"), e torna a canção mais fúnebre, levando para o breve solo de órgão, acompanhado por um dedilhado estranho da guitarra. Guitarra e órgão fazem mais um tema, muito breve, e entramos em um novo momento na suíte.

Oldfield exibe-se ao violão clássico, com um dedilhado muito belo, e o oboé abrilhanta seu solo, remetendo-nos ao tema central mas com muitas variações. A presença do coral nesse trecho de "Hergest Ridge", bem como a sobreposição dos oboés, é belíssima, digna de ser comparada aos gigantes da música clássica como Beethoven e Mozart.

Oldfield tocando baixo

As guitarras sobrepostas voltam a preencher a canção, com notas arrastadas e carregadas de efeito, para dividir espaço ao mesmo tempo com os oboés e o coral, ora com os oboés em destaque, ora com as guitarras em destaque, mas em ambos os casos, é impossível não perceber o lindo dedilhado de violão clássico que continua ocorrendo ao fundo. É essa junção de instrumentos que torna a suíte tão linda.

Sinos tubulares e guitarras modificam novamente a canção, que agora torna-se agitada, com o xilofone fazendo seu solo acompanhado por baixo, guitarra e teclados, lembrando bastante o trecho das apresentações dos instrumentos em "Tubular Bells", principalmente pelo andamento das notas de baixo, e sobre esse andamento, Oldfield sola sua guitarra em notas longas, sem nenhum virtuosismo, colocando apenas seu sentimento para fora, em uma melodia agradável. 

O solo de guitarras sobrepostas continua, acompanhado agora apenas por longos acordes de órgão, e então o coral aparece com suas vocalizações, e com a guitarra e o violão divertindo-se sobre o tema vocal do coral, a primeira parte da suíte é encerrada ao som de sinos tubulares e do tema central feito novamente pelos instrumentos de sopro, deixando a expectativa para o que virá no lado B. 

Contra-capa original de Hergest Ridge

A segunda parte de "Hergest Ridge" surge com um dedilhado de violão e longos acordes de sintetizadores, deixando guitarras e instrumentos de sopro criarem um novo tema, que irá governar essa sessão por alguns instantes, sendo esse tema apresentado por guitarra, xilofone e teclados. A guitarra pula soberba dessa repetição de temas, com muitos arpejos que percorrem todo o braço, trazendo baixo, violão e instrumentos de sopro.

O violão sola sobre o andamento de violões, baixo e instrumentos de sopro, assim como o coral também permite-se fazer um solo vocal em quatro estrofes, cantando as seguintes palavras que lembram o italiano, mas não tem significao a princípio: 

Selo do LP, n° V2013
"Borla, Di ena, Labato, Oncota, Dolmonya, Oh gusto, Mekara, Ah resta mena (2x)

Borla, Di ena, Labato, Oncota, Dolmonya, Oh gusto, Mekara, Oh gosto mega

Borla, Di ena, Labato, Oncota, Dolmonya, Oh gusto, Mekara"

enquanto as guitarras e violão continuam a solar ao fundo.

Guitarras, mandolin e teclados encerram o solo vocal, e o andamento leve mantém-se, com o violão sendo o centro das atenções. O tema central da primeira parte reaparece timidamente, feito por sintetizadores, e é seguido pela sobreposição de guitarras, que faz o mesmo tema de forma sombria e tensa, acompanhado pelas notas fortes de baixo e por longos acordes de sintetizador. 

É o sintetizador que dita o ritmo do solo de flauta, e uma grande explosão nos leva para o veloz trecho, com guitarras dobradas, teclados e baixo repetindo o mesmo tema por diversas vezes, em um ritmo alucinado, que é dividido em duass partes: a primeira mais cadenciada, lembrando o tema central do Lado A, e a segunda é mais longa, na qual Oldfield sola com sua guitarra, e que parece ter sido chupinhada por diversas bandas de synth pop nos anos 80, faltando apenas batidas bate-estaca ao fundo.

O trecho é concluído, deixando o violão dedilhar e nos levar ao encerramento de "Hergest Ridge", acompanhado por cordas, repetindo o tema central ao lado de guitarras, órgão, flautas e a repetição das vocalizações em italiano, para longos acordes de sintetizador e violões fazerem as notas de despedida de mais uma Maravilhosa obra de Oldfield.

Relançamento de 2010, no formato DELUXE

Em 2010 o álbum foi relançado pela Mercury Records (originalmente, Hergest Ridge foi lançado pela Virgin, com número de catálogo V2013, ou seja, o décimo terceiro disco do selo), trazendo uma nova mixagem para a versão original do vinil. O álbum também saiu no formato DELUXE, trazendo como bônus "In Dulci Jubilo (For Maureen)" e "Spanish Tune". 

A principal diferença em ambas as edições, além da mixagem de 2010, é a nova capa, que consta com uma imagem de uma fotografia aérea sobre a região de Hergest Ridge, ao invés do tradicional cachorrinho da capa original. Uma limitadíssima versão Box Set, com apenas duzentas e cincoenta cópias, também foi produzido, e vendida apenas pelo site oficial do músico. Nesta caixa, estão a versão DELUXE, um LP e a capa autografada do álbum.

Box em tiragem limitada

Oldfield continuou sua carreira, lançado o ótimo Ommadawn (com a participação dos africanos do Jabula) em 1975 e o maravilhoso Incantations, álbum duplo de 1978, que talvez seja o seu trabalho mais audacioso. Ambos são verdadeiras Maravilhas Prog, mas serão tratados futuramente por aqui. Exposed (1979) é o álbum duplo ao vivo que encerrou a primeira e mais criativa fase da carreira do britânico, com álbuns apenas com uma única canção, repletas de novidades e sonoridades.

O músico continua perambulando pelos palcos da Europa e América, lançando álbuns regularmente - o mais recente é Man on the Rocks, que saiu no último 03 de março, sendo o vigésimo quinto álbum do artista - e ainda encantando com os clássicos de um passado Maravilhoso.

Mike Oldfield em 2013, sempre sob a sombra de Tubular Bells

Track list

1. Hergest Ridge - Part I
2. Hergest Ridge - Part II

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