Tem dias que os deuses conspiram a seu favor, e cara, como é bom quando isso acontece. A noite do dia 06 de junho de 2017 posso dizer que foi uma dessas que os deuses olharam para baixo e disseram: “Hoje o Mairon vai receber algumas alegrias”.
Nessa noite, o guitarrista americano Steve Vai pisava novamente em solo gaúcho depois de muito tempo, trazendo a turnê que comemora os 25 anos do aclamado álbum Passion and Warfare, um dos melhores discos de guitarra já lançados na história, e por que não, um dos melhores álbuns da década de 90. Dias antes, fui contactado pela produtora Abstratti de que meu pedido de cadastro para assistir ao show havia sido aceito, e sendo assim, lá fui eu pegar os mais de 600 km (só de ida) entre São Borja e Porto Alegre, para ver aquele que considero o melhor daquele famoso trio de virtuoses (Vai, Satriani e Malmsteen), e que teve a honra de respirar o ar de Frank Zappa no início dos anos 80.
Abaixo de uma neblina chata e molhadora, cheguei em Porto Alegre na manhã do dia 06, e depois de um merecido descanso, dirigi-me ao Anfiteatro Araújo Vianna, o famoso local de shows na Redenção, onde Vai iria apresentar-se. Super bem recebido e tratado pelo pessoal da Abstratti, fiquei sabendo na hora que não havia local definido para o pessoal da imprensa. Então veio a primeira alegria. Olhando a bela coleção de guitarras que estava no palco, sentei-me em uma poltrona da primeira fila, a qual não estava ocupada. Ocupei então a poltrona bem diante do local onde Vai estaria minutos depois, e iria ver o show de uma visão privilegiada.
Exatamente às 20:00 horas, a banda de Erick Endres entrou ao palco. O guitarrista, filho de Fredi Chernobyl (guitarrista da banda Comunidade Nin-Jitsu), mostrou muito talento, virtuose e presença de palco impactante. Com seus longos cabelos lisos, o garoto apresentou suas músicas com uma banda muito competente. Empunhando uma Flying V, Erick arregaçou na ótima “Mahavishnu”, uma faixa cujas inspirações no grande grupo de John McLaughlin ficaram tão evidentes que eu nem precisava do set list para saber que o nome dela era algo nessa linha, e mandou muito bem na ótima “Margot”. Foi um bom show, com pouco mais de meia hora, e serviu para aquecer o público que ainda chegava ao local, e tomara, em breve, a banda do Erick consiga lançar um CD e alçar voos maiores. O set list e a palheta que Erick tocou boa parte das canções (palheta essa da banda Crashdïet) foram me dadas pelo próprio Erick, sendo esta mais uma surpresa.
Retirado o equipamento da Erick Band, é hora do grupo de Vai assumir o controle. Expectativa total. O show de Vai sempre tem momentos marcantes, como a mordida nas cordas, os sopros que fazem a guitarra mudar de tom, a lambida clássica nas cordas, muita alavancada, efeitos mil, etc etc, mas sempre rolam surpresas, e na noite do dia 06, com certeza houveram várias.
O grupo de Vai é de alto nível. Jeremy Colson (baterista), Dave Weiner (guitarrista e tecladista) e Philip Bynoe (baixista) formam um conjunto afiado, sendo que Dave é um baita guitarrista, tanto que Vai fez questão de elogiá-lo. Os caras sabem o que fazer com muita perfeição, e mandaram bem demais. Quando Vai entrou no palco, depois de um vídeo do filme Crossroads surgir na tela, com a roupa toda iluminada, assim como sua guitarra, e mandando ver naquele magistral duelo imortalizado na telinha, o Araújo começou a vir abaixo.
Não irei descrever todo o show, até por que são muitos detalhes, mas cara, ver ele mordendo as cordas em “Whispering a Prayer”, dar a famosa lambida na corda durante a magistral “For the Love of God”, com aquele clipaço que rolava na MTV, mostrando Steve Vai nas montanhas de neve, a guitarra com as marcações com notas musicais … O cara fazendo o impossível na guitarra, ali, poucos metros na frente do meu nariz, não tem palavras para descrever isso daí. Não tem como entender o que Vai faz. É incrível como as cordas aguentam tantas alavancadas, tantos bends, tantos vibratos, enfim. O dedilhado malucão de “Ballerina 12/24”, os hilários clipes de “Greasy Kid’s Stuff” e “Alien Water Kiss” rodando ao fundo dessas enquanto eram executadas, e a oportunidade de ouvir ao vivo todo o Passion and Warfare na íntegra, algo que só está sendo feito nessa turnê, não tem preço. Muito divertido, muito embasbacante, muito marcante.
São solos e mais solos, sempre com um sorriso na boca, uma alegria por estar tocando, e com ainda mais surpresas. Como a turnê é de comemoração, convidados “apareceram” para fazer alguns duelos com Vai. Brian May, Joe Satriani, John Petrucci e até Frank Zappa surgiram no telão para mostrar que Vai além de um baita e carismático músico, também é um cara simples e muito simpático. Os duelos com Satriani e Petrucci foram recheado de muita virtuose, e ver Zappa no telão mandando ver em “Stevie’s Spanking” foi de ir às lágrimas (se bem que já tinha gastado algumas em “Whispering a Prayer” e “For the Love of God”). Durante o duelo com Satriani, o outro guitarrista apareceu com várias máscaras e roupas, algumas muito hilárias.
No bis, Stevie ainda veio diante da plateia, cumprimentar os fãs. Eu, que já havia conseguido receber uma palheta do próprio guitarrista, consegui apertar sua mão, e ver que ele é muito genuíno em sua felicidade de tocar para uma plateia que o respeita e o admira. Houve tempo até para um parabéns a você, puxado por Weiner, e que emocionou Vai, o qual foi devidamente ovacionado e recebeu uma chuva de papel picado e spray gelatinoso por parte dos membros da banda (Vai estava completando 57 anos na noite do dia 06).
Para fechar a noite com chave de ouro, depois de quase duas horas e meia de apresentação, o guitarrista ainda concedeu alguns minutos para autógrafos. Consegui o meu e, mesmo não tendo conseguido registrar uma foto com ele, aquela noite já estava fechada com chave de ouro. Mas ainda não. No final, consegui uma carona com Antônio, um leitor aqui da Consultoria, que me deixou no hotel e parabenizou-nos por nosso trabalho, um baita motivo de orgulho e alegria, pois ser reconhecido pelo trabalho da Consultoria é mais uma grande satisfação.
Obrigado ao pessoal da Abstratti por essa noite inesquecível, e que o até breve de Vai não demore tanto quanto os mais de quinze anos de sua última passagem por terras gaúchas. Ah, e fica o recado para os deuses: quando quiserem conspirar de novo como foi nesse dia 06, agradeço pacas!!
* O set list não foi fornecido, mas focou-se em toda a interpretação de Passion and Warfare, na íntegra, e mais diversas canções, que infelizmente não consegui tomar nota de todas. Lamento. Quem quiser colaborar, é só adicionar o mesmo nos comentários
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