domingo, 22 de outubro de 2023

De Space Oddity a The Arnold Corns - O Período de Gestação de Ziggy Stardust

O ano é 1969. Muito do que era feito em termos de rock estava baseado na cultura flower-power, que exatamente naquele ano, chegaria ao auge (e ao fim) com o Festival de Woodstock. Batendo de frente contra a guerra do Vietnã, pregando o amor livre e a paz, essa geração via no lema "faça amor, não faça guerra" uma espécie de revolução mundial para o que acontecia no lado oriental do planeta entre vietnamitas e americanos. Porém, um inglês com um defeito no olho, causado por uma briga na adolescência, enxergava muito além. David Bowie (Bowie sendo a marca da faca que deixará o defeito visual em seu olho) era apenas um jovem rapaz que acabara de lançar seu primeiro disco, ainda centrado na cultura beat de Jack Kerouac, e com uma sonoridade sesentista. Esse mesmo garoto começou a despertar seus ouvidos para as canções de Bob Dylan, e se deu conta de que a música, além de ser uma obra de arte, era também uma poderosa ferramenta de palavra.

David Bowie em 1970

Com a ajuda de Tony Visconti e Rick Wakeman, Bowie começou a montar seu segundo álbum, que foi lançado em 1969 com o nome de David Bowie (ou Space Oddity, ou Man of Words / Man of Music). Trazendo várias canções-manifesto ("Cygnet Comitee", "Memory of a Free Festival", "Letter to Hermione","Unwashed and Somewhat Slightly Dazed"), o maior destaque ficou para a faixa-título. "Space Oddity" é uma sátira batendo de frente contra a guerra espacial entre URSS e EUA. Ali, Bowie demonstra sua indignação contra a exploração do espaço, utilizando-se bilhões de dólares para algo que em sua maioria registrava em frustações e perdas de humanos, como  o acidente na plataforma russa em 24 de outubro de 1960, o trágico incẽndio da Apollo 1, que vitimou Virgil Iavn grissom, Edward Higgins White II e Roger Bruce Chaffee, o acidente com o cosmonauta Vladimir Komarov em abril de 1967 ou ainda, mais recentemente, em 2003, a explosão do Ônibus Espacial Columbia que matou todos seus tripulantes.

Edição japonesa (acima) e francesa (abaixo) de "Space Oddity"

A canção narra a história do comandante espacial Major Tom, que vai para o espaço em sua nave, buscando novidades para a Terra. Mantendo sempre contato com a base (Ground Control), Major Tom recebe a licença para vasculhar o espaço, e após algum defeito, acaba perdendo-se no espaço, deixando o recado para a esposa de que a amava muitito, mas sabia que não poderia mais voltar à terra. Com o mellotron de Rick Wakeman e o violão de Bowie, essa canção possui uma sonoridade que a levou ao topo das paradas britânicas, com o quinto lugar. Já os americanos entenderam a mensagem contra a guerra espacial, e não gostaram da faixa, que alcançou a modesta posição 124.

Uma versão anterior aparece no filme Love You Till Tuesday, onde o astronauta acaba perdendo-se no espaço para duas maravilhosas "estrelas" que ele encontra fora da nave, algo hilário e ao mesmo tempo demonstrando mais ironia em relação ao fato. Ironia maior foi quando essa canção, um manifesto contra a ida do homem para fora da Terra, virou a trilha para a chegada da Apollo 11 na lua dentro da rede de televisão BBC, em 11 de julho de 1969.

Edições holandesa (acima) e de Singapura (abaixo)

Ainda em 1969, Bowie conheceu Angela Barnett, que logo tornou-se sua esposa. O impacto de Angela na vida de Bowie foi imediato, principalmente do ponto de vista visual. Angela mudou o guarda-roupa de Bowie, fazendo-o usar vestimentas mais ousadas, que faziam do artista parecer um ser assexuado, andrógino, possivelmente de outro planeta. Ao mesmo tempo, Bowie sentia a necessidade de criar algo diferente, ter uma banda sua, para poder tocar o que estava em voga na época, o rock 'n' roll. Logo de cara, juntamente com a ajuda de Tony Visconti, e com John Cambridge (bateria) e Mick Ronson (guitarra elétrica), nascey o The Hype, mas Cambridge e Bowie não se acertaram. O batera foi substituído por Mick Woodmansey, e assim, esta banda o acompanha em The Man Who Sold The World (1970). 

Freddie Burretti e David Bowie

O álbum é pesado, lembrando até Led Zeppelin, e tem na épica "The Width of a Circle", com seus mais de 8 minutos de duração, um dos pontos fortes. Já no disco seguinte, Hunky Dory (1971), Bowie grava outro grande sucesso, "Life on Mars?", uma crítica à sociedade e um álbum mais suave perante o peso de The Man Who Sold The World. Neste disco, temos a estreia de Trevor Bolder no lugar de Tony Visconti, e levou então à criação da Spiders from Mars, banda que acompanha Bowie no mega sucesso do personagem Ziggy Stardust. 

Porém, durante a penumbra de The Man Who Sold The World, Bowie, buscando de qualquer forma atingir o sucesso, criou um projeto pouco conhecido, o The Arnold Corns, ao lado de Freddi "Rudi Valentino" Burretti, outro nome importante na mudança do visual de Bowie, responsável por criar diversas das roupas de Bowie ao longo de sua carreira. Ele era um amigo de Angela, trabalhando para um alfaita grego na época na cultuada King's Road, de Londres, e o trio se encontrou no clube El Sombrero, em Kensington, no final dos anos 70, dando ideia a este novo projeto. Na banda, o Camaleão era o guitarrista, enquanto Burretti seria o responsável pelos vocais. Como banda de apoio, estavam Mark Carr-Pritchard (guitarras), Peter 'Polak' DeSomogyi (baixo) e Tim 'St Laurent' Broadbent (bateria), os quais faziam parte do grupo Rungk.

Foto promocional da The Arnold Corns

O nome veio inspirado em uma das músicas favoritas de Bowie, "Arnold Layne", do Pink Floyd. Em uma entrevista promocional para a revista adulta Curious, com Bowie e Burretti na capa, o Camaleão declarou: "Rudi será o primeiro homem a aparecer na capa da Vogue ... ele será o novo Mick Jagger". Um jeito bastante atrevido e audacioso de promover a dupla Bowie/Burretti, ainda mais para um cidadão especializado em moda que nunca havia (e nunca fez) cantado. O projeto seguiu como uma forma de Bowie buscar um sucesso perseguido há tempos, e os ensaios começaram no final de 1970. No dia 10 de março de 1971, registram faixas criadas tanto por Bowie quanto por Burretti, as quais foram "Lady Stardust", "Right on Mother" e "Moonage Daydream", gravadas no Radio Luxembourg Studios.

Capa da Circus (acima) e entrevista de Bowie (abaixo)
falando sobre o projeto The Arnold Corns

Logo na sequência, em 4 de junho de 1971, mais um registro, dessa vez com "Man in the Middle" e "Looking for a Friend". Um terceiro registro foi feito em abril de 1971, gravando "Moonage Daydream" e "Hang on to Yourself", as quais saíram no primeiro single sob a alcunha Arnold Corns, lançado em 7 de maio daquele ano, e que foi um grande fracasso, tendo na formação Bowie, Buretti, Carr-Prichard, Trevor Bolder (baixo) e Mick Woody Woodmansey (bateria). Pouco depois entrou Mick Ronson, registrando as faixas "Looking for a Friend" e "Man in the Middle", as quais foram planejadas como segundo single do Arnold Corns, mas que ficou arquivada por 13 anos devido às mudanças de pensamento de Bowie que acabaram levando a Ziggy Stardust (as canções saíram somente em 1985, através de um single de lançamento apenas na Europa. Existem ainda outros registros feitos ao longo de 1971, nunca lançados oficialmente, mas que circulam em bootlegs mundo à fora creditados ao grupo, os quais são "How Lucky You Are", "Shadow Man" e "Rupert The Riley". 

Raro compacto do grupo

Para quem conhece o mínimo da história de Ziggy, já percebe que é na The Arnold Corns que encontra-se a genesis de Ziggy Stardust. Afinal, “Lady Stardust”, “Hang On To Yourself” e “Moonage Daydream” se tornaram alguns dos grandes sucessos de The Rise and Fall of Ziggy Stardust and the Spiders from Mars, um dos maiores discos do Camaleão, lançado em 6 de junho de 1972. As versões aqui registradas são bastante embrionárias, com “Moonage Daydream” sendo a mais próxima do que ficou conhecido do grande público, tendo maior destaque ao piano e pequenas mudanças na letra, enquanto “Hang On To Yourself” está bastante acústica perante sua versão final.  De forma geral, já mostra o caminho que levou Bowie ao estrelato junto a este novo personagem, e que certamente, sem a The Arnold Corns, talvez não houvesse um desenvolvimento tão relevante. E vale lembrar que Burretti (ou Valentino) não colocou sua voz em momento algum, sendo apenas um figurante para Bowie achar que enganaria alguém.

Coletânea Glam dos anos 80 com canção do grupo

Quem quiser conferir essas versões, elas apareceram posteriormente no relançamento da Rykodisc/EMI de 1990 de The Man Who Sold the World (inclusive aqui no Brasil, com "Moonage Daydream" e "Hang On To Yourself"), no relançamento de 30 anos de The Rise And Fall Of Ziggy Stardust And The Spiders From Mars (2002), no box de 12 CDs [Five Years 1969 - 1973] (em ambos os discos as mesmas canções) e na coletânea The Great Glam Rock Explosion ("Moonage Daydream"), de 1984. O relançamento de The Man Who Sold the World também resgata as raras "Lighting Frightening" e "Holy Holy", com indicação de ambas terem sido registradas nesse período com a mesma formação de "Moonage Daydream" e "Hang On To Yourself".

“Estamos rindo por que achamos que
enganamos alguém”

Rudi veio a falecer em 11 de maio de 2001, tendo sido responsável por produzir algumas das grandes vestimentas de Bowie nos anos 70 (como o lindo terno azul do clipe de "Life on Mars?" e a vestimenta de Ziggy e os Spiders na famosa apresentação no Top of the Pops de 1972). A The Arnold Corns ainda teve mais um breve capítulo com lançamento, em agosto de 1972, do single "Hang Onto Yourself" / "Man on the Middle", mas apenas como uma forma de manter as lenhas de curiosidade perante Ziggy Stardust ainda em brasas quentes. 

segunda-feira, 18 de setembro de 2023

Derek And The Dominos - The Layla Sessions [1990]


Layla and Another Assorted Love Songs foi lançado em 1970. Um dos melhores álbuns da carreira de Eric Clapton, o disco ganha este status muito por conta da participação fundamental da guitarra de Duane Allman, que está como convidado da banda que Eric Clapton (guitarra, vocais) criou após o Blind Faith (ao lado de Steve Winwood, Ginger Baker e Rick Grech), a qual registrou o excelente álbum homônimo de 1969, e uma breve passagem pela banda de Delaney & Boney, com quem registrou Delaney & Boney & Friends On Tour, também de 1969.

Foi da passagem com a trupe de Delaney & Boney que Clapton teve um contato mais próximo com  Carl Radle (baixo, percussão), Jim Gordon (bateria, percussão, piano) e Bobby Whitlock (órgão, piano, teclados, violões), músicos que também estão presentes em On Tour, e que acabaram saindo do primeiro para migrar, na primavera de 1970 (outono aqui no Brasil), no novo e ambicioso projeto de Clapton. Batizado de Derek & The Dominos, nele Clapton iria imortalizar para a eternidade sua dor e culpa por amar a mulher de seu melhor amigo.  Apesar da choradeira nas letras por conta da (então) esposa de George Harrison, Pattie Boyd, o que se ouve nos sulcos do vinil duplo é uma música de muita força e sentimento.


Ao longo de 14 faixas, Clapton cria obras primas como "Tell The Truth", "Keep On Growing", "Have You Ever Loved A Woman", e principalmente, a fenomenal versão de "Little Wing" (original de Jimi Hendrix) e um de seus maiores riffs, o de "Layla", canção na qual ele externaliza toda sua dor por Pattie. O disco, ele pela Consultoria do Rock como um dos dez melhores discos de 1970, e considerado por muitos ao redor do mundo como um dos melhores discos de todos os tempos, teve muitos narizes sendo torcidos quando de seu lançamento, mas hoje são poucos os que não reconhecem a qualidade musical registrada ali. Tanto que em 2000, ele foi induzido ao Grammy Hall of Fame, a revista Rolling Stone elegeu ele número 117 de uma lista de 500 discos de todos os tempos em 2003 (reposicionada para a posição 226 em 2020), e eleito o 287 melhor disco de todos os tempos em uma eleição feita pelo Colin Larkin's All Time Top 1000 Albums no ano 2000. Ainda em em 2003, a VH1 nomeou Layla and Other Assorted Love Songs o octagésimo nono melhos disco de todos os tempos.

20 anos depois, o álbum recebeu uma nova mixagem, que foi lançada há exatos 33 anos, no dia 18 de setembro de 1990, através do box The Layla Sessions. A caixa de três CDs traz no CD 1, batizado Layla And Other Assorted Love Songs (Remixed Version), como o nome já diz, Layla ... na íntegra e com uma nova mixagem, mostrando todas as qualidades que já haviam sido apresentadas nos sulcos dos vinis de 1970. Aos mais atentos, irão perceber que as guitarras estão mais claras, principalmente nos solos, assim como os vocais também parecem ganhar mais força aqui. Porém, o principal atrativo do box não é o CD 1, mas sim, os adicionais dois CDs de improvisos, os quais foram registrados pouco antes da gravação de Layla ..., nos dias 26 e 27 de agosto, bem como 2 de setembro de 1970 (lembrando que o disco original foi lançado em 9 de novembro de 1970), totalizando mais de duas horas e meia de extras para os fãs.


O CD 2, batizado The Jams, começa com os improvisos "Jam I", "Jam II" e "Jam III", os quais trazem o quarteto original do Derek and the Dominos, em improvisações bastante distintas. Enquanto a primeira é um boogie comandado pela repetição do baixo na qual Whitlock e Clapton estão em alta inspiração, solando por 20 minutos, o segundo é uma faixa mais rock 'n' roll, já com cara de canção pronta, faltando apenas melodia, e que faz sacudir o esqueleto por bons 12 minutos. Já "Jam III" é outra faixa praticamente pronta, com um solo magistral de Clapton, e com um belíssimo trabalho por Whitlock, em um improviso de 13 minutos. Claro, para quem não curte jams, pode ser maçante ficar ouvindo os improvisos em cima de uma única base, mas para quem aprecia as criações de canções emblemáticas desde sua embriogênese, é uma pedida e tanto, ainda mais pelas duas últimas jams.

Afinal, nos treze minutos de "Jam IV", temos a fusão do Derek and the Dominos com a The Allman Brothers Band. A Allman Brothers adorava um improviso, e a liberdade que ganha para fazer isso com God Clapton é fantástica. Um blues animado, inspirado na clássica "Killing Floor" de Howlin' Wolf, contando com Dickey Betts e Duane Allman nas guitarras, além de Clapton, Whitlock no órgão, Butch Trucks na bateria, Berry Oakley no baixo e um atrasado Greg Allman ao piano, já que o mesmo chegou na casa onde estavam feitos os ensaios quase no fim daquela jam. Em um embalo que parece ter saído dos palcos do Fillmore East, é muito bom ouvir claramente o estilo inconfundível de cada guitarrista em seu solo, com Duane, particularmente, sendo o que mais brilha dos três. Por fim, "Jam V", apresenta a versão quinteto do Derek and the Dominos, e ao longo de 18 minutos, Duane brilha no slide sobre um embalo suave da cozinha Dominiana, e claro, Clapton fazendo das suas em uma base muito gostosa e relaxante, inspirada no country rock americano. Ambos os improvisos foram registrados na noite de 27 de agosto de 1970. 


Já o terceiro CD, intitulado Alternate Masters, Jams And Outtakes, conforme o nome sugere traz versões alternativas para algumas canções do disco original, além de mais improvisos e outtakes. Aqui estão versões alternativas para "Have You Ever Loved a Woman" e "It's Too Late", outtakes para "Mean Old World" em dueto Clapton/Duane e com a banda completa, assim como uma versão de ensaio para a mesma também como quinteto, e improvisos que levam a construção de "Tell The Truth". O grande destaque para mim é a dupla Clapton/Duane emocionando os ouvintes nos dois inebriantes minutos de "(When Things Go Wrong) It Hurts Me Too".


O box também traz um livreto de 16 páginas, com uma bela capa em alto-relevo e contando um pouco da história do surgimento do grupo, das gravações do álbum, e do processo de remasterização para esse lançamento, além de uma pasta com 12 réplicas das páginas de registros de faixas no estúdio. Como curiosidades adicionais, no texto fica claro a mudança que Duane deu para o direcionamento do disco, tornando-o muito mais do que um simples dramalhão sentimental por amar a mulher de um amigo, principalmente no processo de animar Clapton a se soltar nos solos. Também é curiosa a primeira vez que Clapton e Duane se conheceram, um fã do trabalho do outro, e como ambos ficaram extremamente tímidos ao serem apresentados pelo amigo em comum, o produtor Tom Dowd. Altamente recomendado!!


Track list

CD 1 - Layla And Other Assorted Love Songs (Remixed Version)
1-1 I Looked Away 
1-2 Bell Bottom Blues
1-3 Keep On Growing
1-4 Nobody Knows You When You’re Down And Out
1-5 I Am Yours
1-6 Anyday
1-7 Key To The Highway
1-8 Tell The Truth
1-9 Why Does Love Got To Be So Sad
1-10 Have You Ever Loved A Woman
1-11 Little Wing
1-12 It’s Too Late
1-13 Layla
1-14 Thorn Tree In The Garden

CD 2 - The Jams
2-1 Jam I 
2-2 Jam II
2-3 Jam III
2-4 Jam IV
2-5 Jam V

CD 3 - Alternate Masters, Jams And Outtakes
3-1 Have You Ever Loved A Woman (Alternate Master #1)
3-2 Have You Ever Loved A Woman (Alternate Master #2)
3-3 Tell The Truth (Jam #1)
3-4 Tell The Truth (Jam #2)
3-5 Mean Old World (Rehearsal)
3-6 Mean Old World (Band Version, Master Take)
3-7 Mean Old World (Duet Version, Master Take)
3-8 (When Things Go Wrong) It Hurts Me Too (Jam)
3-9 Tender Love (Incomplete Master)
3-10 It’s Too Late (Alternate Master)

quarta-feira, 23 de agosto de 2023

Ouve Isso Aqui: Mulheres de Aço no Comando

Tema escolhido por Líbia Brígido

Com Anderson Godinho, Daniel Benedetti, Davi Pascale, Fernando Bueno, Mairon Machado e Marcello Zappelini

A sorteada da vez foi nossa querida youtuber Líbia Brigido que resolveu colocar um ótimo tema recomendando 5 discos com mulheres como vocalistas que fogem das mais conhecidas como o Girlschool ou a Doro. Gostou das escolhas dela? Tem as suas próprias sugestões? Poste lá nos comentários!

Leather – Shock Waves [1989]


Líbia: O que falar da rainha Leather Leone? Temos aqui uma das maiores percussoras do estilo, foi uma das melhores vozes que tive oportunidade de assistir ao vivo em 2019. Um dia vou tatuar isso no meu pulso. Inclusive pude adquirir o “Shock Waves(1989)” no dia do show. A voz dessa mulher é raiva pura já na faixa de abertura “All Your Neon”, não tem conversa. “The Battlefiel of life” é total marcante, outra das favoritas é a faixa título “Shock Waves”. Mas eu indicaria de primeira a “Something in this life”, um prato cheio para quem curte a banda americana Omen, um heavy metal bem americano. “It’s Still in Your Eyes” considero aquelas baladas de preenchimento, não faria falta, mas não tira o brilho desse que foi o primeiro álbum solo da Leather Leone, que também foi produzido por David T. Chastain. Aqui ela entrega uma de suas melhores performances, pois é um álbum bastante variado, assim ela explora muito seu alcance vocal, e sempre muito alinhado com as influências de Dio que fazem parte de toda a carreira. Muitos podem dizer que é um álbum subestimado e etc, mas após muitos anos ainda é comentado aqui e ali,e tenho certeza que continuará cativando muitas gerações. Esse merece muito a audição de todos.

Anderson: Não conhecia a carreira solo da Leather Leone, a vocalista é uma das jóias que o metal nos traz.  Aqui ela manda um Heavy Metal de primeira, bem clássico. Não possui invencionice, é objetiva e funciona bem. O álbum é fluído e passa rápido. Destaco ‘It’s Still in Your Eyes’, ‘In a Dream’ e ‘Catastrophic Heaven’, que para mim é a melhor. É um material de 1989 com uma produção apenas ok, ouvi também o remasterizado, mas não há mudança substancial. Ainda, poderia expor algumas coisas que não chegam a atrapalhar a experiência, mas que para os mais exigentes pode incomodar, como algumas músicas que soam inconclusas, ou seja, terminam de uma forma tosca. Sabe quando o som vai sumindo? É algo comum e normal, mas aqui acontece mais do que deveria. Enfim, no geral é agradável de se ouvir.

André: Eu conheço a Leather Leone e este disco. É daqueles metalzões tradicionais raiz e sem frescuras, com riffs muito bons e aqueles tradicionais agudos característicos dos anos 80. Também lembra os próprios trabalhos dela no Chastain. Fazia uns anos que não pegava este álbum para ouvir e continua fazendo bem aos meus ouvidos.

Daniel: Heavy Metal tradicional bem tocado, bem gravado, e muito pesado. Não conhecia e me surpreendeu positivamente. À exceção da balada “It’s still in your eyes”, meio “Scorpiana”, o restante das canções são pesadas, ora mais cadenciadas, ora mais aceleradas. Os vocais da Leather Leone são um ponto alto. Um bom álbum.

Davi: Esse é o primeiro trabalho solo de Leather Leone, vocalista muito conhecida por seu trabalho ao lado do Chastain. A banda de apoio conta com o baixista David Harbour e com o baterista John Luke Herbert, que mais tarde viriam a tocar com o mestre King Diamond. Os grandes destaques do disco, contudo, ficam com os vocais potentes de Leone (embora ainda ache que ela poderia ter nos poupado daquela tentativa de agudo em “In a Dream”) e o excelente trabalho de guitarra de Michael Harris. O disco aponta em um heavy metal tradicional, que é uma sonoridade que gosto bastante, mas acho que faltam canções realmente marcantes. Esperava mais… 

Fernando: Adoro os primeiros discos do Chastain, mas eu nem sabia que a Leather tinha um disco só ainda em 1989. Porém quando se ouve o disco e dá uma olhada na ficha técnica percebe que praticamente é outro trabalho do próprio Chastain, o próprio David T. Chastain aparece lá como produtor, compositor e letrista. No geral é um disco bem legal, honesto e válido. Nuca tinha me interessado pelas coisas dela fora do Chastain e vi que outras bandas existem. Tenho que ouvir.

Mairon: Este é um clássico do Heavy Metal. Bandaça liderada pelos vocais poderosos de Leather Leone, e com uma linha que lembra muito Judas Priest do início dos anos 80, a Leather fez história com este disco muito bem trabalhado e construído para admiradores de um Metal raiz. Aqui temos pancadas como “All Your Neon”, “Catastrophic Heaven” e “Something In This Life”, e como toda banda de Metal do final dos 80, início dos 90, uma baladaça, “It’s Still In Your Eyes”. Porém, curto as canções mais complexas, onde se encaixam o ritmo intrincado de “In A  Dream” (que agudo!!!), a potência da faixa-título, a complexidade de “No Place Called Home” e o baixão na introdução de “Diamonds Are For Real”. Um grande disco para se ouvir, com destaque principal também ao trabalho da guitarra de Michael Harris em “The Battlefield of Life”, faixa onde Leather rasga sua voz rouca nesta que considero a melhor faixa do disco. 

Marcello: Quando recebi a lista de álbuns da seção, até comentei que não conhecia nenhum dos artistas. Mas ao pegar o álbum para ouvi me dei conta de que era a Leather Leone, que já tinha ouvido por causa do seu trabalho com o guitarrista David T. Chastain, mas não sabia que ela tinha uma carreira solo – como, aliás, nem lembrava mais do cara. Neste álbum (produzido pelo chefe Chastain, que toca teclados e compôs várias músicas do disco) ela mostra todo o potencial de sua voz, além de ter escrito parte das músicas. Leather canta muito e o guitarrista Michael Harris, que a acompanha no álbum, não deixa sentir saudade de Chastain. A dupla de abertura, “All Your Neon” e “The Battlefield of Life”, é pesada e bem construída, dando o tom do álbum. A faixa-título, que vem a seguir, é um dos destaques do disco, com Leather explorando mais o vocal – algo que fica mais nítido na introdução de “In a Dream”. Aliás, a gravação, na minha opinião, ficou um pouco abafada, tirando um pouco do potencial das músicas; não chega a comprometer, mas podia ter ficado melhor. Minha favorita é “Diamonds Are for Real”, outra música com vocal muito bem trabalhado e um bom arranjo no instrumental. Bom disco, e muito bom ouvir a Leather novamente – mesmo que seja num álbum de 35 anos atrás. Melhor ainda, saber que ela continua na ativa e lançou um novo disco, We Are the Chosen, em 2023.

Vandroya – One [2013]


Líbia: Nesses últimos tempos andei pesquisando para conhecer mais bandas do metal brasileiro, dessa forma encontrei Vandroya por conta da participação da vocalista Daísa Munhoz no metal opera do Soulspell. Fiquei impressionada com o trabalho do Vandroya, que recentemente passou por mudanças e lançou três singles no ano de 2022, ambas são bônus do relançamento do álbum que aqui comentaremos. Esse álbum de estreia lançado em 2013 é um prato cheio para quem curte aquele Power Metal com pitadas clássicas, dá pra sentir também forte influências das lendárias bandas dos anos 70 por conta dos teclados, o que constrói uma identidade única pois há muita versatilidade. Prende o ouvinte já nas faixas introdutórias “All becomes one” e “The last free land”. Posso falar um monte de besteiras e observações que talvez nem sejam condizentes, mas de fato é um excelente trabalho de power metal progressivo, daqueles que não se torna cansativo por conta de repetições, e o trabalho vocal da Daísa é impressionante e cativante. Se eu fosse indicar uma música para qualquer pessoa que quisesse conhecer seria “Change the Tide”, a banda entrega tudo.

Anderson: A brasileira Vandroya eu conheci durante a pandemia em um daqueles vários ‘festivais’ de youtube em que as bandas mandavam material gravado. Entretanto, esse álbum, que é o debut da banda, especificamente não conhecia, ouvi algumas coisas mais atuais, como o último lançado e outras perdidas aqui e ali. Dessa lista é o que mais recomendo, pois, chama a atenção já que possui músicos muito bons e uma vocalista (Daísa Munhoz) que se destaca muito com drives e variações de tonalidade promovidas com alguma dramaticidade. Além disso, a produção do álbum é de ótima qualidade. O material é bom do início ao fim e, como de praxe, destaco as três que mais representaram bem o álbum: ‘The Last Free Land’ que abre o disco, após uma breve introdução, com rapidez e boa criatividade dos instrumentistas, a título de exemplo a música possui um solo de teclado muito interessante. O segundo destaque é ‘Within Shadows’, uma das mais legais que nos oferece elementos de música brasileira, além de ser um metal rápido com algumas quebras bem interessantes, muito boa. Por fim, a balada ‘Why Should we say goodbye?’, nada extraordinário, mas a vocalista Daísa Munhoz faz um trabalho extremamente competente, bem melódica, vale a pena. Metal melódico brasileiro bem representado.

André: Sempre ouvi falar muito do Vandroya mas nunca tirei um tempo para ouvir um álbum inteiro deles. Mas como gosto deste estilo power/prog à la Angra, então já esperava algo bacana, o que se comprovou ao ouvir One. Um disco bem técnico e com o vocal muito variado por parte de Daísa Munhoz, sendo esta um destaque do disco. É ótimo de ouvir, mas por exemplo, quando botei “Child of Time” para ouvir, sei lá, já estava aguardando o Edu Falaschi cantando algo aqui, de tão parecido com o Angra que esta música é. Não sei como seguiram no disco posterior deles, é ok seguir esta sonoridade que não tem erro, mas espero que tenham buscado se diferenciar mais porque este disco é basicamente o Angra com vocal feminino com um pouco de Dream Theater (última faixa). Ainda assim, gostei bastante do que ouvi.

Daniel: Curti este álbum, pois eu gosto de Power Metal. Gostei muito da voz da vocalista Daísa Munhoz, ela canta muito bem e sua voz – o destaque do disco – se casa perfeitamente com a proposta musical. O instrumental é bem competente e por vezes me lembrou o Angra o que é, evidentemente, um elogio.

Davi: Gosto bastante dessa banda, que conta com os vocais da linda Daisa Munhoz, certamente uma das melhores vozes do Brasil. Para quem não conhece o grupo, a banda mescla power metal com progressivo. Os músicos são todos de alto calibre e a influência de Angra e Dream Theater come solta. As duas primeiras faixas – “The Last Free Land” e “No Oblivion For Eternity” – comprovam isso. Outros momentos de destaque ficam por conta de “When Heaven Decides to Call”, “Solar Night”, além de “Change The Tide”, que conta com um interessante dueto com Leandro Caçoilo (Viper). Excelente lembrança! Melhor disco dessa lista.

Fernando: Muito se fala do death metal brasileiros e o número de bandas que surgem, mas alguém tem que explicar a profusão de bandas de power metal que surgem/surgiram por aqui também. Não conhecia esse disco e só tinha ouvido o nome da Daisa Munhoz por conta do Soulspell. Em “Why Should We Say Goodbye?” sua voz começa bastante suave e com o arranjo de fundo até estranhei pois me pareceu uma música de cantora pop. È quando entram as guitarras que as coisas ficam “normais”. Bom disco no geral.

Mairon: A introdução deste disco já me assustou logo de cara pela pomposidade, mas quando começaram as guitarras de “The Last Free Land”, daí tudo mudou. Não conhecia a banda, e os caras são brazucas, liderados por Daisa Munhoz. Power Metal de alta qualidade, com canções muito bem construídas e que não ficam somente no óbvio, vide a emulação de Evanescence em “Why Should We Say Goodbye?”, o bom uso de peso com teclados em “This World Of Yours” ou o emprego de elementos percussivos na espetacular “Within Shadows”. Além disso, uma ótima vocalista, e dois grandes guitarristas (Marco Lambert e Rodolfo Pagotto), com destaque para o excelente trabalho de “No Oblivion For Eternity”, baita música, e a fabulosa “Anthem (For The Sun)”, que faixa massa pacas. Apesar de que poderia ser um pouquinho mais curto, é com certeza o melhor disco desta audição, valeu Libia!

Marcello: Essa eu realmente não conhecia – até porque não sou ligado no rock brasileiro. Primeiro de dois discos da banda, “One” é um álbum de músicas bem elaboradas, instrumental impecável e vocais de alto nível – como convém a quem se aventura pelo power metal. A vocalista Daísa Munhoz é o destaque absoluto, com uma voz excelente e de grande alcance, capaz de fazer malabarismo sem soar chata ou pretensiosa. No todo, trata-se de um disco muito bom, e para mim os grandes destaques são “No Oblivion for Eternity”, com bastante variação de ritmos e um belo trabalho dos guitarristas Marco Lambert e Rodolfo Pagotto, a balada “Why Should We Say Goodbye”, com Daísa dando um show à parte, “When Heaven Decides to Call”, melhor momento do baterista Otávio Nuñez em todo o disco e, por fim, “Solar Night”, em que a banda diminuiu a velocidade sem sacrificar o peso em outra música muito bem feita. O álbum foi uma grata surpresa, e provavelmente o meu favorito dos que foram apresentados aqui.


Crystal Viper – Legends [2010]

Líbia: A multi-instrumentista polonesa Marta Gabriel é uma das maiores vocalistas de Heavy Metal dos últimos anos. Ela fundou o Crystal Viper em 2003, que hoje já está consolidada no cenário atual. E como estamos falando de mulheres no metal, não posso deixar de citar o “Metal Queens” tributo lançado em 2021 que ela fez as cantoras e artistas femininas dos anos 80, acho incrível ela cantando “Reencarnación” da banda espanhola Santa. Bem, falando de “Legends”, esse álbum que foi lançado em 2010, fala em antigas lendas e histórias polonesas, e posso dizer que já é um do meus discos de cabeceira, e com certeza é um daqueles álbuns que nos trás esperanças quanto ao metal na modernidade. Tenho um carinho especial por esse lançamento pois foi o primeiro que ouvi e tive na coleção, mas sei que a banda passava por uma travessia após lançamentos matadores, então a comparação e expectativas dos fãs eram pesadas e este lançamento soou fraco para muitos. Mas como primeira audição achei excelente, as melodias são viciantes e cativantes, e tem muito do metal clássico aqui. A única parte que acho meio peixe fora d’água é a balada “Sydonia Bork”, o álbum vem em uma velocidade e empolgação, quando chega na balada até o porta-retratos da sala fica cabisbaixo. Mas chegando na “Goddless of Death” o sol até brilha novamente e a minha dog até começa a abanar o rabo, nem preciso comentar mas já comentando, a voz da Marta Gabriel está excelência pura como sempre. Legends é um ótimo Heavy/Power Metal que merece a sua audição.

Anderson: Em uma lista com tal tema, não poderia faltar o Crystal Viper da ótima, polonesa, Marta Gabriel, baita escolha. Considero essa banda uma das essenciais do metal, considerando os últimos 20 anos. O Legends é a afirmação da banda, terceiro álbum de estúdio que veio no ano seguinte ao bom Metal Nation. As influências da NWOBHM e do início do Power Metal são bem claras, e, elementos de Iron Maiden, mesmo Saxon ou Helloween estão presentes em todo álbum. Não vejo como apenas uma banda ordinária, mas o fato é que sem a Marta Gabriel gastando talento a banda teria dificuldade em ter algum destaque. Dentre as músicas do Legends, a primeira que me chamou mais a atenção foi ‘Blood of the Heroes’, bem dinâmica, rápida, cavalgada e muito divertida acredito que é a mais completa do álbum. Na sequência, temos a bela ‘Sydonia Bork’ que é um ótimo exemplo da força que Marta possui, pois, a moça leva a música sozinha por mais de três minutos, apenas com um piano/teclado de fundo. Música muito bonita, ainda mais depois que entram os outros instrumentos, com destaque para o solo de Andy Wave. Ainda, não poderia deixar de fora a tradicional ‘Night of The Sin’, música que é figura carimbada nos shows da banda. É uma das mais rápidas do disco e com um refrão bem objetivo, ótima, justamente, para o apelo popular. Por fim, seria leviano não comentar sobre outras três músicas que dão o algo a mais para esse álbum: ‘Godness of Death’ com destaque total para Marta, e ainda, as duas últimas, ‘A Man of Stone’ em que visualizo Kai Hansen cantando, muito Helloween/Gamma Ray! Já ‘Black Leviathan’ fecha os trabalhos de forma excepcional, traz alguns elementos mais sombrios no começo, como um dedilhado no melhor estilo Iron Maiden, para ganhar uma pegada mais épica depois. É um material muito bem produzido, muito bom de ouvir, é um disco que se completa e não deixa o ritmo cair, daqueles que fica melhor ouvir do começo ao fim ao invés de buscar apenas uma música ou outra.

André: Conheço também o Crystal Viper e já ouvi quatro de seus oito discos, sendo este um dos que não havia ouvido. O power metal deles é da linha europeia, assim como a banda também é, e lembra mais o som de bandas como o Grave Digger e o Running Wild. Um bom disco, ouço tranquilo, e a faixa que mais gostei foi a última “Black Leviathan”.  

Daniel: Outro Power Metal? Bom, então acabei comparando com a Vandroya. Descobri que esta banda é polonesa, mas eu gostei bem mais da Vandroya mesmo. Os vocais são ok, os refrãos têm uma “vibe” Blind Guardian, com uso de coros, mas o instrumental é mais unidimensional. Legal, mas não pretendo voltar.

Davi: A cantora Marta Gabriel é uma menina bonita, porém com um trabalho vocal não mais do que correto. A banda é competente no que faz, mas falta personalidade. A sonoridade deles aqui é um power metal tipicamente alemão com altas influências de Helloween, Gamma Ray (as músicas mais rápidas soam quase como plágio),  e Running Wild. Mais uma vez, o trabalho de guitarra acaba tomando a frente do disco em diversos momentos. Dentre as composições, as mais interessantes acredito que sejam “Night Of The Sin” e “A Man of Stone”. E aaah… A introdução de “Black Leviathan” irá agradar aos maidenmaníacos. Achei razoável.

Fernando: Sempre vi o Crystal Viper por aí, mas lembro de ter desanimado em conhecer a banda depois que vi que eles tinham muitos discos já. Interessante que na terra do metal extremo de Behemoth e Vader, e do progressivo de Riverside e Collage o power metal também consegue se destacar. Pelo menos nesse disco o power metal aqui é mais tradicional, mais na linha do Hammerfall do que do Angra como foi é o Vandroya. Marta Gabriel canta de uma maneira mais parecidas com seus pares masculinos nesse estilo de banda e sua voz fica ótima. Porém mantenho fiel às convicções. Melhor nem chegar perto mais.

Mairon: Banda polonesa liderada por Marta Gabriel, que me lembrou muito Helloween. Outra que não conhecia, e destas três, foi a que achei mais fraquinha. Apesar da qualidade técnica dos músicos, achei a banda pouco criativa e muito “Helloweeniana”. É um disco legal de ouvir, tem boas canções, mas honestamente, se for para ouvir um cover de luxo dos alemães, prefiro ouvir eles mesmos. E quando não é Helloween, é um Iron Maiden escandaloso chamado “Black Leviathan”. Tanto que a que mais curti foi a balada “Sydonia Bork”, levada pelo piano e pela voz de Marta. 

Marcello: Banda polonesa liderada pela vocalista (e única integrante de todas as formações) Marta Gabriel, que depois deste disco tocaria guitarra e atualmente baixo. O terceiro álbum do Crystal Viper teve suas letras baseadas em lendas medievais da Polônia (o que me fez buscar as letras – interessantes, mas nada de especial) e começa com uma pequena introdução declamada por uma voz masculina (surpreendeu-me, aliás), e ganha corpo na segunda música, “The Ghost Ship”. Marta Gabriel é uma boa cantora, com uma voz mais crua, talvez sem tanta técnica quanto outras vocalistas nesta seção, mas com muita garra e entusiasmo, como ao final de “Blood of the Heroes”, e se destaca muito na balada “Sydonia Bork” – da qual gostei bastante, aliás. O disco segue bastante interessante, com músicas bem arranjadas, bom instrumental e bons vocais, tornando-se até difícil apresentar outras músicas de destaque, pois o nível se mantém uniforme. Então, vou chamar a atenção para “Secret of the Black Water”, com seu baixo à Geezer Butler.

Miasthenia – Antípodas [2017]

Líbia: As músicas geralmente devem acompanhar nossos momentos, tem dias que estou mais pra Miasthenia. É mais uma banda que conheci a pouco tempo e ficou marcada na minha memória musical pela sua qualidade. A banda surgiu em 1994 com a iniciativa da Susane Hécate (vocalista, tecladista e letrista) com a ideia de fazer um black metal com letras em português com história e mitologia pré-colombiana, as guerras de conquista da América no século XVI e a resistência ameríndia. É uma banda que vem resistindo a muitas adversidades mas sempre entregando materiais de excelência, as letras são uma verdadeira aula de história de um nível absurdo, somos convidados a participar de uma imersão a cultura dos nossos povos nativos tão rica e pouco falada que nos faz sentir orgulho dessa banda. E isso podemos ouvir principalmente na faixa  “Coniupuyaras” que além de ter uma sonoridade espetacular conta a história de resistência das nossas guerreiras amazonas legitimas. O Antípodas lançado em 2017 já nasceu clássico, esse álbum ainda foi gravado como um “power trio” em uma das suas melhores produções, tem melodia e agressividade na medida certa. Até quem não é fã do estilo vai simpatizar e levar a audição do álbum adiante.

Anderson: Grata surpresa, pois, apesar de ser uma banda não tão nova, particularmente, não os conhecia! Os candangos da Miasthenia praticam um Black Metal um tanto melódico e abordam temáticas culturais da América. Aliás, não tem como não falar das ótimas letras, o que me levou a pesquisar um pouco mais da banda, e, grata surpresa em saber que a origem de tais histórias tem como referência uma doutora em história. Sim, a vocalista da banda, Hecáte, é doutora e professora no assunto. Cantam preferencialmente em português, mas performando no estilo Black Metal. Curto demais bandas que abordam temas não tradicionais, ainda mais quando nos diz respeito de alguma forma. Por outro lado, não sou muito fã de Black Metal e por isso não tenho referências do gênero para citar além do Cradle of Filth, todavia, outra banda que veio em minha cabeça ao longo da escuta foi o Moonspell. Destaco as melodias conduzidas hora por fortes passagens de teclado, hora pela bateria mais direta e rápida. Gostei muito da ‘Novus Orbis Profanum’ que cria uma atmosfera épica, e, também, de Coniupuyaras muito pesada e bem rápida. Nessa mesma perspectiva temos a ótima Araka’e. Fiquei bem grato por conhecer essa banda, com certeza vou ouvir os demais materiais deles.

André: Este estilo de black metal com teclado fazendo aquele som meio sinfônico nunca foi muito a minha praia, mas olha, vou recomendar sim para quem gosta do gênero. Falando de folclore indígena sul-americano, a banda tem letras muito boas e uma sonoridade que pode-se dizer que é só sua, algo meio raro nos dias de hoje. Como eu disse, não é do meu gosto, mas se você curte black metal sinfônico com estas temáticas pagãs, vá sem medo nesse disco que irá curtir. Aliás, só para os curiosos: miasthenia é o nome de uma doença rara. Sei porque o Mequinho, o mais forte enxadrista brasileiro, foi diagnosticado com ela.

Daniel: Este disco possui uma sonoridade que eu não escuto, assim sendo, nem posso avaliar se é bom ou não.

Davi: A sonoridade deles é pesada, agressiva (no bom sentindo da expressão), mas esse é um som que, definitivamente, não me atrai. Para quem curte black metal, que não é o meu caso, deve ser um bom disco. O álbum é bem feito, bem tocado, o teclado e os backings mais líricos criam um contraste legal e o trabalho de guitarra é bem criativo, mas não é um som que curto. Por sua conta e risco.

Fernando: Antes de ouvir vi que a banda é uma banda nacional de black metal oriunda de Brasília. Vocês conhecem um lugar melhor para capirotagem do que Brasília? Pessoal da Noruega tem calafrios de andar por lá. Por questões óbvias demorei alguns minutinhos para perceber que tudo é cantado em português – sugiro acompanhar as letras enqaunto ouve. Mas o tema aqui no final das contas é mais ligado as atrocidades que aconteceram em solo brasileiro, principalmente em relação aos povos originários, do que qualquer anjo caído. Lembrei daquela banda de um nativo americano que também é do mesmo estilo, o BlackBraid. Susane Hécate faz eventualmente uma variação entre a voz característica do black metal com passagens limpas. No geral achei bastante interessante o som. Vou aproveitar que estou lendo os livros sobre o Black Metal e vou voltar a ouvir.

Mairon: Conheci o Miasthenia através do álbum Sinfonia Ritual. Um projeto ambicioso para o grupo brasiliense, e que apesar de não ter me agradado em sua totalidade, mostrava bons dotes para apreciadores do estilo Death/Black /Extreme Pagan Metal que a banda criou. Antípodas é um álbum mais diferente, carregado pelos teclados da líder da banda, Susane Hécate, com participações importantes da guitarra e da bateria. Eu acho interessante a ideia da banda, de misturar elementos indígenas com o heavy metal, mas é algo que não consigo mais ouvir são vozes guturais que não dá de se entender nada do que está sendo dito e bateria com pedal duplo sendo tocado na velocidade da luz. Um bom exemplo disso é “Coniupuyaras”, faixa com ótimo trabalho instrumental das guitarras e dos teclados, e com trechos onde o vocal não é gutural que são muito legais, mas a entrada do gutural estraga qualquer vontade de ouvir a história das guerreiras amazonas, ou então a bonita introdução de “Bestiários Humanos”, que quando entra o gutural novamente causa um efeito repulsivo. Quem aprecia o estilo, vai na fé, mas não é mais para mim.

Marcello: Outra banda brasileira – mais uma para a minha lista de ex-desconhecidas – ligada a um estilo que eu conheço pouco: Pagan Metal. Liderada pela vocalista e tecladista Susane Hecate, uma doutora em História (!), este disco de 2017 deve ser objeto de paixão para quem gosta do estilo, mas não é para mim. As letras são muito interessantes, devo admitir, os músicos são bons e Susane é impressionante, mas confesso que não consegui ouvir de novo o disco. Assim, não consigo destacar nenhuma música, mas admito que a faixa-título poderia cair no meu gosto com uma voz diferente e a introdução de “Bestiários Humanos” é bonita. Mas não adianta, não engulo os vocais urrados típicos do metal mais extremo, então…

Sign of the Jackal – Breaking the Spell [2018]


Líbia: Se alguém falasse “álbum lançado em 1987”, eu acreditaria. Mas Breaking the Spell foi lançado em 2018 por essa banda italiana fundada em 2008. Outro dia apresentei essa banda para a minha sobrinha que está começando a ouvir Judas Priest, Ozzy Osbourne, Metallica, The Beatles… (imagina meu orgulho), ela adorou e se identificou pelo fato de ser atual e por ser uma mulher nos vocais. Não tem nem como dizer “não é da minha época” ou “é muito antigo”, na real isso atrai um novo público para essa pegada mais clássica, e ao pesquisar melhor, serão levados sem muita pressão, às principais referencias do heavy metal. O álbum passa rápido como a sua velocidade, são ótimos 32 minutos bem fluídos. “Class of 1999”, “Mark of the beast” e “Heavy Rocker” já matam qualquer desconfiança se o álbum é bom e divertido de ouvir. É isso, se você é fã de um bom metal clássico ouça Breaking the Spell sem medo.

Anderson: Mais uma banda de Heavy Metal clássico, com alguma coisa de um Hard Rock oitentista, aos meus ouvidos. É um disco bem competente e animado, faz jus à proposta de promover um retorno aos dias de glória do hard and heavy. Se você curte Judas Priest, Accept, Ozzy, alguma coisa dos primórdios do Power Metal a boa ‘Night Curse’ vai lhe agradar. Já se preferir alguns elementos do Hard Rock dos EUA então “Heavy Rocker” não decepciona. Até quando procuramos a tônica que guia o álbum temos algumas dessas influências, pois, são as guitarras e a vocalista Laura Cooler que carregam o piano. Claro, é preciso dizer, que a cozinha está sempre ali no suporte sem decepcionar. É um álbum curto e grosso. Direto ao ponto. Boa pedida.

André: Eu gosto muito deste estilo de metal tradicional, mas o que me incomodou aqui ao ouvir este disco foi que as composições e a produção muito querendo emular os anos 80 não me pegaram. Mesmo querendo imitar aquela produção, dava de ter caprichado melhor. Quanto as composições, o problema é que mesmo também querendo emular aquela sonoridade speed, acabou que me pareceu apenas um primo mais pobre do Judas Priest. Também como Vandroya, a banda tenta emular muito uma outra, neste caso o Judas, o que acaba novamente deixando a banda sem uma cara própria exceto ser o Priest com uma moça cantando. Diferente dos brasileiros da banda da Daísa, que tem ótimas composições, aqui eu vejo muito potencial ser desperdiçado.

Daniel: Comecei a ouvir e pensei que fosse um álbum do início dos anos 80s, quiçá de uma “banda perdida” da NWOBHM, mas vi se tratar de uma banda italiana e o álbum é da década passada. É uma espécie de emulação do som oitentista da NWOBHM, incluindo todos os clichês. Não me pegou.

Davi: A sonoridade dessa banda é bem anos 80, com riffs ganchudos e levadas de bateria diretas. Muito provavelmente, alguém aí cresceu ouvindo Warlock (banda da metal queen, Doro Pesch). Sério!!! São vários momentos que nos remetem ao grupo. A linha vocal de “Class of 1999”, por exemplo, tem trechos que remetem diretamente à “I Rule The Ruins”. “Mark Of The Beast” é, basicamente, “Earthshaker Rock” com outra letra. Tem gente que não gosta dessas cópias descaradas. Quando bem feito, eu não tenho muito problema com isso, acho divertido, acho bonito de se ver. O problema que vejo aqui são os vocais exagerados da Laura Coller. Sério, ela não precisava gritar o disco inteiro. Com um bom produtor, essa banda cresceria bastante. Faixa preferida: “Mark Of The Beast”.  

Fernando: Sign of the Jackal é o título de um álbum do Damien Thorne que eu gosto muito e já até resenhei aqui para a Consultoria do Rock. Assim, o nome da banda já me chamou a atenção e me trouxe esperanças de que a linha da banda tive inspirações da mesma fonte que o nome. Aí vendo os títulos das músicas a certeza de que seria isso mesmo cresceu e na hora de ouvir foi só se deliciar. O speed metal dos italianos é excelente e totalmente oitentista, do jeito que a gente gosta. Laura Coller arrebenta! 

Mairon: Não conhecia estes italianos, liderados pela excelente vocalista Laura “Demons Queen” Coller. O fato de começar relembrando “Tubular Bells” (Mike Oldfield), com alusão obviamente ao filme O Exorcista, em “Regan”, já me fez levantar as orelhas. A banda é uma poderosa metaleira como configura o estilo, e o que surpreende é que são de 2018, mas com uma sonoridade muito anos 80. Há faixas mais rockers, vide a instrumental ” Terror at the Metropol”, “Class of 1999” e “Hard Rocker”, que seguem a linha heavy de refrão grudento, solos de guitarra velozes e embalos para sacudir o pescoço, além de muitos gritos esganiçados por parte de Demons. Por outro lado, curti muito ouvir as canções mais power metal, vide “Headbangers”, “Beyond The Door, “”Mark of the Beast” e a ótima “Night Curse”, que me lembraram os bons tempos de Viper. de Andre Mattos Faixa preferida é “Nightmare”, com bons solos de guitarra. Bela indicação!

Marcello: Banda italiana liderada pela vocalista Laura Coller, aqui em seu segundo álbum (até onde pude verificar eles só têm dois discos mesmo), “Sign of the Jackall” é um pouco curtinho, com pouco mais de 32 minutos de duração e começa aludindo ao clássico “Tubular Bells” em uma faixa curtinha dedicada a Regan, a menina de “O Exorcista” (até hoje me pergunto que diabo deu naquela garota, parafraseando o cartunista Jaguar). “Night Curse”, a seguir, solta os demônios todos numa música rápida e violenta, e pela primeira vez se ouve a voz expressiva de Laura; em seguida, “Class of 1999”, música que lembra um pouco o metal clássico do final dos anos 80 e me agradou de cara – um dos destaques do álbum, para mim. “Heavy Rocker” tem uma introdução de guitarra que me fez pensar no Judas Priest, mas não é uma simples cópia, soando mais como uma homenagem. “Terror at the Metropol” é outro destaque, uma instrumental relativamente simples, mas contagiante, que prepara o caminho para mais uma paulada certeira, “Beyond the Door”. Mas o grand finale com “Headbangers” conseguiu ser ainda melhor, numa música rápida, forte, e com Laura usando a potência de sua voz sobre uma base pesadíssima. Enfim, um disco muito bom, que vou ouvir bem mais do que as três vezes que ouvi para poder escrever este comentário!

segunda-feira, 7 de agosto de 2023

Capas Legais: Caetano Veloso - Transa [1972]

Aproveitando o aniversário de Caetano Veloso na data de hoje, trazemos aqui a arte de seu principal álbum, Transa. O sexto disco do baiano de Santo Amaro foi lançado em 1972, em uma incrível arte gatefold criada por Álvaro Guimarães em parceria com Aldo Luiz, a qual ao ser conectada cada uma das quatro partes da capa, há a formação de um objeto piramidal, dando o nome da arte de Discobjeto. Parabéns Caetano por seus 81 anos de muitas canções marcantes para a música mundial, e aproveite para além de ver nosso vídeo, curtir, compartilhar, comentar e também inscrever-se em nosso canal.



quinta-feira, 3 de agosto de 2023

Rompendo O Lacre: Gal e Caetano Velloso - Domingo Fan Box [2022]

Hoje, rompo o lacre do Fan Box de Domingo, a estreia de Caetano Veloso (aqui ainda grifado como Velloso) e Gal Costa. O Fan Box acompanha uma tampa quadro, uma caderneta e mais o CD remasterizado.



segunda-feira, 24 de julho de 2023

A Breve e Importante História da James Gang [Parte 1]

Joe Walsh, Jim Fox, Dale Peters e Joe Walsh


Uma das grandes e injustiçadas bandas do hard rock setentista, assim podemos definir o James Gang. Afinal, além, de ter revelado ao mundo nomes como Tommy Bolin, Joe Walsh e Jim Fox, o grupo lançou no mínimo cinco obras-primas em sua curta temporada em ativa (pouco mais de sete anos). Em duas partes, vamos passear pelos nove álbuns de estúdio da banda, lançados entre 1969 e 1976, um período mágico, onde quase tudo que nascia na música era regado a altíssimas doses de criatividade, inspiração, técnicas arrojadas e belíssimas canções.

A ótima estreia do trio

Yer' Album, lançado em 1969, é a estreia do power trio Joe Walsh (guitarras, teclados, vocais, piano), Tom Kriss (baixo, flauta, vocais, vibrafone) e Jim Fox (bateria, vocais, teclados), e uma pequena amostra do que o grupo iria fazer nos anos seguintes. Descarte "Introduction" e as viagens de "Stone Rap", as duas vinhetas que abrem cada um dos lados do LP, e prendam-se no que Yer' Album oferece, canções que dividem-se em pauladas hard do mais alto calibre, faixas mais acessíveis e três fantásticos covers, das quais a esplêndida versão de nove minutos para "Lost Woman" é tão empolgante que até mesmo o pessoal dos Yardbirds (que gravou essa joinha em Roger the Engineer, de 1966) deve ter rendido-se aos solos de Walsh e cia, já que cada um ganhou seus minutos de fama para fazer o que bem entendesse, com Kriss despejando distorção no seu baixo. Aliás, é impressionante o que os garotos fazem em 1969, que além de gravar um álbum de cinquenta minutos, algo incomum para o final da década de 60, ainda mais para um grupo novo, faz o emprego certeiro do órgão hammond em "Fred" e "Take A Look Around", ambas com lindos solo de Walsh, ou na acústica e emotiva "Collage", a qual possui um lindo arranjo de cordas, presentes também na curta instrumental "Wrapcity in English". 

A clássica imagem do trio com as Harleys na neve: Jim Fox, Dale Peters e Joe Walsh

Os outros dois covers do álbum também merecem destaque, no caso a pesada versão de "Bluebird", originalmente gravada pelo Buffalo Springfield em Again (1967), e que foi totalmente transformada pela guitarra endiabrada de Walsh, e a mais que detonante "Stop!", para mim uma das melhores canções da banda, que foi originalmente gravada no fundamental álbum de Al Kooper e Mike Bloomfield, Super Session (1968), e que aqui recebeu uma adaptação de doze minutos com muitos improvisos, os quais caracterizam o James Gang que conquistou milhares de seguidores, com suingue e peso em doses certas, e que também brota no embalo a la "Sly Stone" de "Funk #48", e na vulgarmente Cream "I Don't Have the Time", bela parceria de Fox e Walsh. 

Os dois singles extraídos de Yer Album


Daqui saiu o single "I Don't Have The Time" / "Fred" que não fez sucesso nos países onde foi lançado (Alemanha, Holanda e Estados Unidos) e também "Funk No. 48" / "Collage", com cópias lançadas nos Estados Unidos, Itália e Reino Unido, e de relativas vendas. Há também um raro compacto francês, com "Take A Look Around" / "I Don't Have The Time". Este foi o primeiro e único álbum a contar com Tom Kriss, que deu lugar para Dale Peters, criando assim a formação mais clássica do trio.

O mega clássico Rides Again, já com Dale Peters

O segundo disco trio, Rides Again, chega às lojas em 1970, agora com Dale "Bugsley" Peters no baixo, é uma continuação dos trabalhos iniciados em Yer' Album, com uma variedade de estilos onde predomina embalo e inspiração. Começando pela sequência de "Funk #48", obviamente intitulada #Funk #49", com o mesmo embalo da faixa do disco anterior, mas com uma percussão muito mais envolvente, Rides Again é um show de musicalidade para agitar as noitadas com mulheres e farras, rivalizando com o que o Grand Funk Railroad fazia na mesma época. Temos influências country em "There I Go Again", com a participação do Pedal Steel Guitar de Rusty Young, na instrumental "Asshtonpark" e nas belíssimas "Thanks" e "Garden Gate", esta apenas com voz e violão, peso embaladíssimo em "Woman" e predomínio do piano e do Hammond de Walsh na trabalhada "Tend My Garden", trazendo um arranjo vocal digno dos grandes nomes da soul music. O grupo deixou o melhor para o encerramento de cada lado. No lado B, a introdução de "Ashes the Rain and I" nos prepara para uma canção que irá te deixar de queixo caído, seja pela interpretação de Walsh ou pelo emocionante arranjo de cordas de Jack Nitzsche, contrastando com os belíssimos dedilhados dos violões de Walsh e Peters. "Thanks" é uma linda faixa levada pelo violão.

Contra-capa do single italiano "Funk 49" / "Thanks"


Ao mesmo tempo, uma das melhores canções do grupo, "The Bomber", encerra o Lado A sendo dividida em duas partes, a pesadíssima "Closet Queen", com uma performance toda especial de Fox, e "Cast Your Fate To The Wind", onde Walsh brilha no slide guitar, fazendo uma viagem sonora que deve ter deixado Jimmy Page com um sorriso estampado na face, tamanha a semelhança do timbre da guitarra do loiro com a do guitarrista do Led Zeppelin. Um destaque adicional vai para a contra-capa do álbum, a qual mostra uma das mais famosas imagens do trio, andando de moto pela neve americana. Vale ressaltar que a versão original de "The Bomber" ainda conta com um trecho de "Bolero" de Ravel, a qual foi limada nas edições posteriores por que foi utilizada sem a autorização dos herdeiros do músico francês, tornando as edições iniciais bastante cobiçadas pelos colecionadores. O melhor dos três álbuns de estúdio que Joe Walsh gravou com a banda, e o disco que indico para quem quer conhecer os americanos.

Singles promocionais:"Stop" americano (esquerda) e o com o Humble Pie no lado B (direita)


Os singles extraídos do segundo disco foram "Stop" / "Take A Look Around" (apenas EUA) e "Funk #49" / "Thanks" (Canadá, Estados Unidos, Espanha, Holanda, Reino Unido e Itália). Também é desta época um raro compacto para jukebox com a James Gang no lado A, interpretando"Funk N. 48" e o Humble Pie no lado B, com "The Sad Bag Of Shaky Jake".

O último álbum de estúdio com Joe Walsh

Com uma formação consolidada, nasce o terceiro álbum da banda, Thirds. Lançado em 1971, ele não apresenta tanto peso como seus antecessores, concentrando-se em canções com um trabalho mais importante nos vocais e no instrumental, donde "Things I Could Be", cantada por Fox, ou a lindíssima balada "It's All the Same" são bons exemplo da evolução musical que o trio obteve mantendo a formação, com a primeira destacando-se pelos arranjos vocais e a segunda enaltecendo os dotes de Walsh ao piano, além de um envolvente arranjo de metais. Outra faixa que mostra grandiosidade nos arranjos vocais é "White Man/Black Man", divino blues concebido por Peters, com a participação vocal do grupo The Sweet Inspirations, quarteto vocal feminino que também mostrou do que é capaz em álbuns como Blowin' Your Mind (Van Morrison, 1967) e Electric Ladyland (Jimi Hendrix, 1968), tornando essa facilmente a melhor faixa do disco, o qual, em comparação aos seus antecessores, é bem mais acessível, e por incrível que pareça, ainda mais diversificado. 

Single japonês de "Walk Away" (esquerda); Single alemão de "Midnight Man" (direita)



Temos country em "Dreamin' in the Country", com os vocais de Peters, jazz na instrumental "Yadig?", outro grande momento do LP, com o vibrafone de Peters sendo o centro das atenções, e a leve "Live My Life Again", canção para acender os isqueiros em arenas lotadas. Completa Thirds a melosa "Again", tendo arranjo de cordas por Walsh, e as pops "Walk Away" e "Midnight Man", essa última com as vocalizações de Bob Webb e com o vocal principal de Mary Sterpka ao lado de Walsh. No geral, são canções que não condizem com o que o grupo tinha de melhor, que era o peso e o suingue destacando um instrumental forte e com improvisos, e por esses motivos, posso dizer que esse é o mais fraco dos discos da fase Walsh, mesmo tendo sido o primeiro disco do trio a conquistar ouro nos Estados Unidos, levado pelo single de "Walk Away" / "Yadig?", que entrou nas cinquenta mais das paradas americanas, e que foi lançado também no Reino Unido, Alemanha, Itália, Dinamarca, Grécia, Canadá, Holanda, México, Noruega, Austrália, Nova Zelândia e Japão. No Japão, este single também saiu com uma versão tendo "Midnight Man" no Lado B. "Midnight Man" que teve seu single individual (com "White Man / Black Man" no lado B) lançado nos Estados Unidos, Alemanha, Itália, Holanda, Austrália, Nova Zelândia e Canadá).

O único álbum ao vido da James Gang

Nesse mesmo ano saiu o excelente James Gang Live in Concert, um dos grandes discos ao vivo da década de 70, registrando a passagem do grupo no célebre Carneggie Hall de Nova I0rque, onde o grupo detona uma poderosíssima versão de "Stop" - que baixão Peters estoura nas caixas de som -, arrepiam com a linda "Ashes, Tha Rain & I", ovacionada pelos presentes, mergulha nas profundezas de um bar sujo no interior dos EUA com o blues embriagante de "You're Gonna Need Me", a qual em um dia que você pegue despercebido, certamente irá achar que é o Cream quem está rolando na vitrola (o que Walsh toca aqui, pqp), e faz viajarmos em toneladas de LSD nos viajantes 19 minutos de "Lost Woman", estendida em dobro para deleite dos fãs de Yardbirds. 

O álbum, cujo CD completo traz mais dez canções, foi o que me apresentou a banda, e marcou a despedida de Joe Walsh, indo formar o Barnstorm ao lado de Joe Vitale (bateria) e Kenny Passarelli (baixo). Para seu lugar, Domenic Troiano é o contratado, e mais uma mudança surge na formação, agora não mais como um trio, mas como um quarteto, tendo como vocalista principal Roy Kenner.


A estreia da chamada Segunda Geração da James Gang

Os dois ex-membros do grupo canadense Bush fazem sua estreia no quarto disco dos americanos, Straigh Shooter, lançado em 1972 e marcando também o que os fãs chamam de segunda geração do James Gang. Apesar de uma nova formação, o som da banda não muda muito, continuando uma mescla de gêneros e tendo como principais diferenças a diminuição no peso e o aumento no swing. Para tal, Troiano mostra ser uma bela escolha para substituir Walsh, já que sua mão direita tem ainda mais malemolência do que o guitarrista loiro, e a voz de Kener parece ter saída de algum grande vocalista da Motown, tendo "I'll Tell You Why", "My Door Is Open" e "Kick Back Man" como atestados de que esse quarteto era afiadíssimo para o funk, mas por outro lado, também imponente para despejar toneladas de peso em distorções, com "Looking For My Lady" sendo o maior exemplo. 

Jim Fox, Dale Peters, Domenic Troiano e Roy Kenner


Troiano também mostra seus dotes vocais na romântica "Getting Old", levada pelo seu violão, pelo violino de Sheldon Kurland e pelo arranjo de cordas de Glen Spreen, e que tem uma irmã tão bela quanto, só que com os vocais de Kenner, batizada "Let Me Come Home". Outra balada, "Get Her Back Again", tem uma pontuação menor no compto geral do LP, que é fechado pelas influências southern na linha Lynyrd Skynyrd que abrilhantam "Hairy Hypochondriac" e as loucuras dançantes de "Madness". Alguns torcem o nariz, mas acho Straight Shooter uma ótima virada de página na carreira do James Gang, e coloco-o em um Top 5 dos melhores discos de estúdio que a banda lançou.

Singles japoneses extraídos de Straight Shooter


Dois singles saíram deste disco: "Madness" / "I'll Tell You Why", lançado apenas no Japão, e "Looking For My Lady" / "Hairy Hypochondriac", que saiu nos Estados Unidos, Japão e Canadá. Algumas cópias americanas saíram no formato promocional, com "Looking For My Lady" em ambos os lados.

O último disco antes da entrada de Tommy Bolin

Passin' Thru é lançado em 1972, e é o último disco da segunda fase do James Gang, que também foi o último com a gravadora ABC Records, sendo mais um álbum versátil. O lado A é o mais sacolejante, com canções tendo muito embalo, onde a mistura da mão sacolejante de Troiano com belos arranjos vocais e muito groove no baixo e na bateria de Peters e Fox se sobressaem na ótima "Up to Yourself", na qual você terá um panorama interessante do álbum, ou então o funk swingado da delirante "One Way Street" e de "Had Enough". O lado B já é mais calmo, tendo canções amenas como "Out of Control", o harpsichord de "William D. Smitty" Smith na baladaça "Things I Want to Say to You", a qual conta com um bonito arranjo de cordas por Craig Sapphin, que também estão presentes na acústica balada "Drifting Girl", com a participação de David Briggs ao piano. 

No mais, a mistura de estilos continua, com o ritmo southern de "Ain't Seen Nothing Yet", a leveza country de "Run Run Run", com a participação de Charlie McCoy na harmônica e Weldon Myrick  no pedal steel guitar, e o grande funk pop de "Everybody Needs a Hero", destacando o órgão de "Smitty" e um longo trecho instrumental onde o harpsichord duela com a guitarra, nessa que é a melhor canção do disco. 

O single francês de "Had Enough"


O único single foi "Had Enough" / "Kick Back Man", lançado nos Estados Unidos, Japão e França, Não é um dos melhores álbuns da banda, e dessa primeira fase, passa despercebido entre as grandiosidades que o cercam, no caso Straight Shooter e os dois próximos álbuns, que veremos daqui uns dias, quando um novo James Gang irá surgir, já que Troiano voltou para o Canadá, tornando-se membro do The Guess Who, sendo substituído por um jovem e talentoso guitarrista loiro, Tommy Bolin, como veremos numa futura parte 2.


Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...