
Por Mairon Machado
Final   da década de 60. A lisergia e o psicodelismo da geração flower-power   chegava no seu auge e começava sua auto-destruição, agregando a cultura   da liberdade sexual com o "faça amor, não faça guerra" diversas fontes  de pensamentos que divergiam das origens remotas de uma geração que  pregava a paz acima de tudo.
Entre  os expoentes musicais  dessa geração, vários acabaram sobrevivendo para  as gerações posteriores  justamente após a morte dos mesmos, o que  ocorreu quase que  paralelamente à morte do flower-power, e que podem  ser principalmente  grifados nos nomes de Jimi Hendrix, Janis Joplin,  Big Mama Cass e Jim  Morrison.
 Outros tantos mudaram a sonoridade  e temática das  canções, como  Santana, The Who, Animals, ...., e  muitos, mas muitos mesmos, morreram  junto  com os 3 Js (apesar dos  integrantes ainda permanecerem vivos em sua  maioria) e viraram  obscuridades que somente nas últimas décadas passaram  a receber o valor  que lhes deve ser atribuído. Entre eles, está o  excepcional grupo It's  A Beautiful Day.
Tudo começou com um grupo chamado Orkustra, formado em 1965, e que fazia vários ensaios em um galpão sujo de San Francisco, sem ter membros fixos. Com o passar do tempo, algumas pessoas passaram a participar frequentemente das insanas reuniões da Orkustra, encaminhando para a montagem de uma banda. Entre elas estavam o violinista, flautista e cantor David LaFlamme, que tocara na Orquestra Sinfônca de Utah, e sua esposa, Linda LaFlamme, também de formação clássica e que tocava órgão e piano, além de Jaime Leopold e Bobby Bobosol, que anos depois faria parte da família Manson.
Entre   65 e 67 a Orkustra fez diversas apresentações, tocando inclusive nas   principais casas de shows  de San Franciso: a Avalon Ballroom e a  Matrix, além de participar de  programas da TV CBS como um dos expoentes  da sonoridade californiana e  também de um filme especial sobre San  Francisco feito por Dick Clarke.
Ainda   tocando com a Orkustra, David passa a fazer parte do grupo de Dan  Hicks  (que tocava no The Charlatans), chamado Hot Licks, junto com  Leopold. O  Hot Licks passa a fazer sucesso abrindo para os Charlatans,  recebendo  críticas positivas da imprensa, e chamando a atenção de  vários  interessados em empresariar a banda. Enquanto isso, a Orkustra  começava a  naufragar, principalmente pela falta de uma gerência causada  pela saída  de Linda, principal responsável por agendar as datas da  Orkustra, e que  voltara para a música clássica.
É  ai que surge a figura do  empresário Matthew Katz. Katz, que havia  trabalhado nos embriões do  Jefferson Airplane, Indian Puddin' and Pipe,  Tripsichord Music Box e  Moby Grape, sendo  inclusive responsável pelos  nomes um tanto quanto diferentes dos  grupos, era um produtor  falcatrua, que havia prometido mundos e fundos  para os grupos por onde  passou, mas na hora H, ficava com a grana e nada  acontecia, e  infelizmente para os membros que formariam o It's A  Beautiful Day, nome  também criado por Katz, isso não era de conhecimento  dos mesmos.
O  primeiro contato entre os LaFlamme e Katz ocorreu  exatamente no verão  de 1967, logo após o estouro da Moby Grape, com os  LaFlamme explicando a  situação para o produtor, dizendo que Linda não  podia mais trabalhar  como manager por ter que se dedicar a sua  carreira clássica, mas que queriam continuar na ativa.
Katz   concorda em produzir a Orkustra, mas com o passar dos dias, vê-se que  as  intenções de Katz vão além da Orkustra, estando interessado em algo   mais chamativo. Pregando o talento vocal de David, ele ressalta que a   banda deve mudar o rumo, compondo mais e empregando  muito o trabalho  vocal, algo como o The Mamas & The Papas já fazia  na época.
De  cara, apresenta um achado: a suculenta e deliciosa  cantora Pattie  Santos. Com apenas 18 anos e trabalhando como balconista  em um  super-mercado, muitos alegam que Pattie entrou na banda por ser  linda,  com Katz prometendo tudo o que podia para ter uma chance com a  garota,  inclusive o sucesso musical. Essa história não passa de mito,  já que  Pattie além de extremamente gata, era dotada de uma poderosa voz,  muito  similar a de Grace Slick (vocalista do Jefferson Airplane), que as   vezes levava a imprensa injustamente a comparações entre elas, o qual  foi desenvolvido em anos cantando como voz principal em uma capela de  San Francisco.
Pattie  já  fazia parte do que Katz batizara de It's A Beautiful Day, um  agregado  de músicos que nunca existiu de fato, e então, convidou os  LaFlamme a  fazerem parte deste grupo, levando os membros da  Orkustra para lá, o  que não ocorre de imediato, com David  recusando a mudar o nome de sua   banda.
Porém Katz continua a  insistir na mudança de Norte dos  LaFlamme, e finalmente David atende  aos pedidos do produtor, começando  então, no mês de agosto de 1967, uma  das melhores bandas do psicodelismo  de San Francisco, com David,  Linda, Pattie e os demais membros da  Orkustra ensaiando sob o nome de  It's A Beautiful Day.
 Uma  das primeiras fotos da It's A Beautiful Day. Da esquerda para direita:  David LaFlamme, Pattie Santos, Mitchell Holman, Val Fuentes, Hal Wagenet  e Linda LaFlamme
Uma  das primeiras fotos da It's A Beautiful Day. Da esquerda para direita:  David LaFlamme, Pattie Santos, Mitchell Holman, Val Fuentes, Hal Wagenet  e Linda LaFlammeDavid acaba não gostando do fato do It's A Beautiful Day divulgado por Katz ser apenas Pattie, mas enfim, os ensaios continuam no outono de 67, e logo David percebe que o baterista que o acompanhara na Orkustra já não serve mais para o projeto, saindo a caça de um novo músico. Eis que surgem dois garotos de 18 anos que ensaiavam em um caminhão que continha todo o aparato dos dois: Mitchell Holman (baixo) e Val Fuentes (bateria). Logo após serem apresentados aos LaFlamme, Val e Mitchell tem seu caminhão roubado, sendo então "adotados" pelos LaFlamme para conseguir novamente dinheiro para comprar seus equipamentos, o que facilmente levou-os a entrar no It's A Beautiful Day, assim como o guitarrista Hal Wagenet, que já era conhecido por tocar em outras bandas de San Francisco.
David  passa a trabalhar  como diretor musical, compondo, escrevendo e  planejando as canções quase  que por instinto, determinando inclusive  aonde cada integrante deveria  entrar com a participação vocal.
Enquanto  isso, Katz fica  ausente, sem se intrometer nem na organização de shows  ou na produção de  algo para gravadoras, o que frustava bastante ao  casal LaFlamme, pois  tinham colocado toda a esperança nas mãos do  famoso manager.  Na verdade,  Katz pensava em adotar o mesmo sistema feito junto ao Moby  Grape e ao Jefferson  Airplane: tentar organizar o máximo possível de  shows para então,  assinar um contrato com uma gravadora, gravar um  disco e cair fora com a  grana.
Em  novembro, com a pressão de David, Katz consegue uma  verba para a  gravação da primeira  bolachinha do It's A Beautiful Day, tendo de um  lado a canção  "Bulgaria", composta ainda nos tempos de Orkustra, e do  outro "Acquarian  Dream", canção que nunca foi lançada oficialmente. O  single foi gravado  como uma edição especial para as rádios, tendo no  registro o número  SFS7, e obviamente, hoje é uma raridade sem preço  tanto no mercado  tradicional como no mercado negro da música.
Em dezembro, Katz organiza uma série de shows do It's A Beautiful Day na distante Seattle, onde ele em particular consegue um bom dinheiro. Assim, os primeiros shows são realizados no clube Encore Ballroom, que era controlado por Katz, o que não era de conhecimento do grupo, onde durante todo o gelado mês de dezembro de 1967 tocam durante 5 semanas todas as sextas e sábados, fazendo sempre dois shows por noite, tendo como cachê míseros 20 dólares para cada integrante tocar durante todo o tempo agendado.
Isso   deixou os LaFlamme furiosos, afinal,  novamente Katz sumia e deixava  eles com as mãos abanando, sem dinheiro,  passando fome e apenas com a  promessa de que uma apresentação em San  Francisco ocorreria em breve.   Na volta a San Francisco, em janeiro de  1968, passam a tocar em  pequenos clubes da cidade sem o conhecimento de  Katz, o que graduamente  passou a fazer com que o nome It's A Beautiful  Day se tornasse  conhecido pela região, principalmente pelas insanas sequências  instrumentais onde David, Linda e Hal viajavam em longos solos.
Enquanto  isso, Moby Grape, Quicksilver  Messenger Service e Jefferson  Airplane  estavam virando monstros, com seus discos estourando por toda a costa  oeste dos EUA. Dessa forma, abandonam de vez o  fanfarrão produtor, que  passa a correr atrás do sexteto tentando  processá-los pelo uso do nome  It's A Beautiful Day, o que deu muita dor  de cabeça para David.
Após  abrir para Big Brother & The  Holding Company e Grateful Dead,  surge então o grande momento para o  grupo. A partir do empresário Bill  Graham (dono das famosas casas  Fillmore), são convidado a abrir o show  de despedida do Cream no Oakland  Coliseum, em 4 de outubro de 1968,  substituindo ao Traffic, que estava  com Steve Winwood doente para a  ocasião. A sensacional apresentação do  grupo e o apoio de Graham deram  um contrato com a Columbia Records,  permitindo a gravação do primeiro  álbum, ao mesmo tempo em que uma longa  batalha judicial corria entre  Katz e os LaFlamme por causa do nome It's  A Beautiful Day.
Apesar de todos os problemas, em 1969 sai o álbum It's A Beautiful Day, que ao lado de Moby Grape, Cheap Thrills (Big Brother & The Holding Company), Surrealistic Pillow (Jefferson Airplane) e Electric Music for the Mind and the Body (Country Joe & The Fish) forma o quinteto essencial do flower-power californiano.
O  disco abre com a clássica "White Bird", composta  ainda nos dificeis  tempos em Seattle, quando o grupo passou o rigoroso  inverno de 1967  praticamente a pão e água. A triste canção começa com os  teclados de  Linda e o violino de David fazendo o tema inicial, trazendo  os vocais  de David e Pattie acompanhados por um leve andamento de baixo,  bateria,  além dos acordes de violão e do órgão, seguido pelo refrão e o  lindo  solo de violino, com Hal e Linda viajando nos acordes de seus   instrumentos e Hal fazendo um lindo solo de violão acompanhado pelo   baixo, percussão e órgão, onde as intervenções do violino de David é de   levar as lágrimas, voltando a letra e seu andamento triste até o   encerramento dessa ótima faixa de abertura.
"Hot  Summer Day" vem a  seguir, com o órgão de Linda fazendo o assustador  tema inicial, caindo  em uma espetacular balada latina comandado pelo  baixo de Mitchell e pela  harmonica de Bruce  Steinberg, com David e  Pattie dividindo os vocais, tendo destaque total  para o trabalho do  casal LaFlamme, com David solando ao violino, além  das viajantes notas  da guitarra de Hal. O crescendo final é de arrepiar,  onde novamente  Linda manda ver em belas notas do órgão.
A   fantástica "Wasted Union Blues" surge com a ácida guitarra de Hal,   típica do flower-power, e o piano carregado de Linda, com David viajando   com a letra da canção, que vai ganhando ritmo como que um trem em   andamento, ao mesmo tempo que Pattie passa a acompanhar os vocais de   David. Quando pega embalo, é impossível ficar parado, ainda mais com o   agitado solo de violino feito por David, com Linda comandando o ritmo   das viradas de bateria e também das ácidas notas de Hal. Alucinante e   fora do normal são boas definições para outro grande som.
O  lado A  encerra com a bela "Girl With No Eyes", onde o cravo de Linda  faz a  introdução para a bela e triste letra ser  cantada por David,  enquanto guitarra e cravo fazem notas e acordes ao  fundo. Pattie  participa em algumas frases, assim como o violino de  David, chegando ao  emocionante refrão, onde violino, guitarra e órgão  executam as mesmas  notas sob a linda melodia vocal feita por Pattie e  David. Linda faz um  pequeno solo no cravo e a letra é retomada, com a  repetição novamente  do refrão, encerrando com violino, guitarra e órgão  fazendo algumas  notas.
 Capa interna de It's A Beautiful Day
Capa interna de It's A Beautiful DayOutro  clássico surge abrindo o lado B, a  imortal "Bombay Calling", já com os  acordes iniciais e o violino  trazendo o famoso riff da canção ao lado  do piano elétrico. Esse riff se  tornou famoso justamente pelo fato do  tecladista do Deep Purple Jon  Lord ter chupado na cara dura o mesmo  para ser o riff da clássica "Child  In Time", registrada no álbum In Rock  (1970). As lindas notas orientais  do violino são seguidas pela  repetição das mesmas pelo órgão de Linda,  com o violino entrando ao  fundo e  tomando conta das caixas de som, para então Hal surgir com um  vigoroso e  efusivo solo de guitarra, onde a cadência de baixo, bateria e  órgão dão  o pique para as viradas insanas do violino junto a guitarra.
Baixo   e bateria ganham ritmos cavalgantes, com os LaFlammes travando um  duelo  de violino e órgão junto as vocalizações de David e Pattie, até  Linda  ficar solando no órgão, voltando então a guitarra e o violino  para mais  uma sequência de acordes, que levam a repetição do tema  oriental  inicial, encerrando a canção com um longo acorde de órgão que  leva a  faixa seguinte, a paulada "Bulgaria".
Um  gongo abre os trabalhos  de uma viajante canção, onde o violino faz um  solo bem intimista, com  percussão, órgão e a guitarra criando um  ambiente sombrio e assustador.  Os vocais de David surgem, mantendo uma  linha oriental na melodia que  fica ainda mais apavorante com o  surgimento dos vocais de Pattie.  Devagar, a canção  vai ganhando corpo,  com Linda delirando no órgão em longas notas.
O   piano é o responsável pelo ritmo, e assim, vemos a cara de "Bulgaria",   que similarmente a "Wasted Union Blues", vai crescendo com a adição da   viajante guitarra de Hal e do baixo de Mitchell, até chegarmos ao eixo   central da canção, com violino e vocalizações sendo o destaque  principal  entre os longos acordes de Linda que levam ao fantástico  encerramento  da faixa.
O LP  encerra com a longa e viajante "Time Is", onde  piano, baixo, violino e  bateria comandam uma embalada sessão  instrumental de abertura,  lembrando as músicas tradicionais russas, que  trás a tona um fantástico  solo de Linda acompanhado pela esquizofrênica  guitarra de Hal. David  começa a cantar sobre o rápido andamento, com  Linda solando entre cada  estrofe cantada pelo marido. O órgão e a  guitarra insanamente viajam ao  fundo enquanto David grita "Time, Time,  Time",  e então temos uma longa  sequência percussiva onde Linda faz um solo  magistral no órgão.  Admiradores de Jon Lord, ouçam e constatem por que o  It's A Beautiful  Day era fonte de inspiração para o Purple.
Barulhos  percussivos  de guitarra e baixo são adicionados a notas de violino,  órgão e a  percussão de Pattie e Val, levando a delirantes minutos de um  free-jazz  muito doido, onde Val fica sozinho solando na bateria,  rufando na caixa  enquanto alterna batida nos tons e rolos entre bumbo e  caixa.
A  voz de David trás  a letra novamente entre a barulheira percussiva, e aos  poucos, baixo,  piano e guitarra seguem a sequência inicial da canção,  uma paulada de  tirar o fôlego de qualquer principiante no psicodelismo,  fechando com  chave de ouro um dos melhores álbuns do estilo.
A  capa de It's A Beautiful Day  foi feita por George Hunter e pintada por  Kent Holliseter, baseada em  uma revista que circulou pelos Estados  Unidos por volta de 1900, e foi  eleita a  vigésima quarta capa mais bonita de todos os tempos pela  revista  Rolling Stone.
Do  LP, o single de "White Bird", tendo "Wasted  Union Blues" no lado B,  alcançou a posição # 118 na parada da Billboard,  e os vocais de David e  Pattie passaram a ser reconhecidos em todo os  EUA, com o It's A  Beautiful Day finalmente prestes a conquistar seu  lugar ao sol.
Porém,  os LaFlamme acabaram separando-se, com  Linda abandonando o grupo. Para  seu lugar, foi contratado Fred Webb, mas  a ausência de Linda podia ser  sentida nos estúdios. Mesmo fazendo shows  nos Fillmores, o It's A  Beautiful Day passava por uma crise interna, e a  saída foi agregar ao  grupo a participação do Deus da psicodelia e dos  filantrópicos  alucinógenos Jerry Garcia, fundador e líder do Grateful  Dead.
 O primeiro LP sem Linda LaFlamme
O primeiro LP sem Linda LaFlammeJerry  foi para os estúdios junto com o It's A Beautiful Day  sendo quase uma  espécie de padrinho dos mesmos, e assim, em 1970,  lançam o segundo  álbum, Marrying Maiden,  voltado mais para a música  country, sem tanta psicodelia, mas que já  abre com uma vingaça para o  plágio do Deep Purple (que a essas alturas  estourava com "Child In  Time"), com a faixa "Don and Dewey" chupando  claramente o riff da canção  "Wring That Neck" do Purple, registrada no  álbum do Deep Purple Book Of Taliesyn  (1968).
Bateria,  órgão, baixo e guitarra puxam o ritmo, trazendo  o violino que executa o  riff principal de "Wring That Neck". A seguir, o  que temos é uma  espetacular versão "beautifulniana"  para o clássico do  Purple, com David, Fred e Hal solando sobre o  andamento jazzístico  criado por Blackmore e cia., nesta que é disparada  a melhor faixa do  álbum, contando ainda com um interessante solo de  harmônica feito por  Mitchell, e que pode ser definida com a famosa  frase "olho por olho,  dente por dente".
"The Dolphins" muda o clima totalmente, com o  piano elétrico apresentando o tema  inicial, seguido por uma country-waltz  feita por guitarra, baixo,  violão e bateria.  David canta suavemente,  tendo o acompanhamento de Pattie e Fred no  refrão, e no solo principal,  destaque para o piano de Fred e para o  violino de David.
A  sessentista "Essence of Now" lembra The Mamas  & The Papas com as  vocalizações de Pattie e David. O início de  baixo e bateria seguido por  piano e os vocais distorcidos de David são  responsáveis por essa  sonoridade bem especial, em uma boa faixa, que  antecede a instrumental  "Hoedown".
Após uma contagem  rápida, o  violino de David manda ver em um country típico das fazendas  texanas,  solando de forma rápida e dançante, passando então para um  solo de banjo  feito por Jerry Garcia, que também é responsável pelo  hilário solo de  pedal steel guitar que  vem na sequência. Mitchell sola na harmônica e  então David retoma a  ponta dos solos encerrando a festa com um pequeno  duelo com o banjo.
O  Lado A encerra com a interessante "Soapstone  Mountain", onde o pesado  riff de  guitarra apresenta uma suave canção, na linha de "Essence of  Now", com  um refrão grudento e com Hal tocando de forma sublime.  Destaque para o  solo de órgão feito por Fred, que tem ao fundo um dos  melhores  andamentos feitos por Val e Mitchell, e também para a guitarra  lisérgica  de Hal que finalmente dá as caras no solo que leva ao  encerramento da  canção.
 A segunda formação do It's A Beautiful Day
A segunda formação do It's A Beautiful DayO  lado B abre com a canção "Waiting For The Sun", uma  rápida viajem  lisérgica com vozes e um french-horn criando uma viajante  sonoridade  que leva para a melosa "Let A Woman Flow", um jazz suave,  quase  bossa-nova, com um acompanhamento feito por piano, baixo e  bateria,  além de intervenções do órgão e do violão sob os vocais de  David. A  bonita sequência instrumental onde piano e violino dividem as  mesmas  notas é o ponto principal desta canção, abrindo espaço paraa a   sequencia da letra que é cantada em espanhol (!), com o violão   executando batidas flamencas, retornando  então ao ritmo inicial e a  letra em inglês, encerrando com um rápido  solo de violino.
"It Comes Right Down To You" é um jazz antigo  comandado por guitarra e bateria, com Jerry novamente participando no  pedal steel guitar  e banjo, além de um clarinete tocado por Richard  Olsen, seguida por  "Good Lovin'", onde um ótimo solo de harmônica  introduz para David  surgir com a letra, destacando mais um refrão  grudento cantado por  David e Pattie, resgatando os ácidos acordes do  primeiro álbum do  grupo.
A linda "Galileo",  com barulhos de vento  e um dedilhado da guitarra seguidos por flautas,  apresenta um poema  declamado por Hal,  ganhando mais peso com a entrada  de uma espécie de  "Bolero" de Ravel feito pela bateria, baixo e  guitarra, para metais e  violinos ficarem solando, retornando então ao  encerramento do poema e da  canção com um belo tema na guitarra.
O  LP fecha com "Do You  Remember The Sun", onde o dedilhado de "Galileo"   dá origem as tristes vozes de Pattie e David, acompanhados por violão,   baixo e bateria, tendo o sintetizador em viajantes intervenções,  levando  a um refrão forte e marcante.
 Capa alternativa do segundo álbum
Capa alternativa do segundo álbumA capa de Marrying Maiden, assim  como It's A Beautiful Day, é muito bonita. Tendo o nome de A Joint Venture,  a pintura foi construída por James William Redo III e Roberto   Perez-Dias, e só fica relegada a segundo plano justamente pelo fato da   capa do LP de estreia ser muito bela. Existe uma segunda capa que também   é tão bonita quanto a original, mas que não é muito conhecida dos fãs   da banda.
Mais dois  compactos foram lançados: "Soapstone  Mountain" / "Good Lovin'" e "The  Dolphins" / "Do You Remember The Sun",  que não alcançaram nenhum número  respeitável.
 Apresentação em Bath
Apresentação em BathApesar da baixa venda de Marrying Maiden, o It's A Beautiful Day  continuava sendo requisitado para os festivais. Em 27 de junho de 1970 o  grupo participou do The Bath Festival, ao lado de gigantes como Led  Zeppelin, Pink Floyd, Santana e Frank Zappa.

O Woodstock holandês
 A fantástica caixa trazendo os últimos dias do Fillmore
A fantástica caixa trazendo os últimos dias do Fillmore
 O meio bom, meio médio disco do camelo
O meio bom, meio médio disco do camelo
 O ótimo e delirante ao vivo
O ótimo e delirante ao vivo
 O último álbum, já sem David LaFlamme
O último álbum, já sem David LaFlamme
 A última formação do grupo
A última formação do grupo
Também no  final de junho, ao lado do Floyd, Santana, Canned Heat, T. Rex, Family entre outros, o grupo participou do festival Stamping Ground -  Holland Pop Festival,  conhecido como Woodstock holandês, com uma apresentação delirante para  mais de 350  mil pessoas em Rotterdam. Parte dessa apresentação pode ser  conferida no DVD oficial do  espetáculo, onde o grupo comparece com  duas canções: "Open Up Your Heart", onde o filme mostra imagens do  pessoal já na ressaca do festival, e a arrepiante e assustadora  performance para "Wasted Union Blues", onde um temporal sem dimensões  começa a cair no local do evento exatamente quando David começa seu  solo. Debaixo de muito vento, raios, trovões e chuva pacas, o It's A  Beautiful Day levanta a galera com um solo fantástico, enquanto as faces  de David e Pattie (que inclusive ganha belos closes de suas pernas) são  iluminadas pelos raios que estouram por toda a parte. Absurdamente  insano!
Após  a sequência de shows, o grupo sofreu  uma nova reformulação, com Tom  Fowler (ex-Frank Zappa) e Bill Gregory  substituindo Mitchell e Hal  respectivamente. A estreia de ambos ocorre  em 1971, no programa de  rádio KSAN. Em julho, o grupo faz seus últimos  shows no Fillmore West,  deixando registrado no filme Fillmore e na caixa  Fillmore: The Last Days uma magistral  versão de quase 10 minutos para "White Bird".
 O meio bom, meio médio disco do camelo
O meio bom, meio médio disco do cameloEntram  em estúdios com a sensação de que o grupo estava perto do fim, e então  gravam o derradeiro Choice Quality Stuff / Anytime.  Lançado em 1971, o  álbum que também é conhecido como "o disco do  camelo" foi dividido em duas partes, e que caracterizam duas sonoridades  bem distintas. O lado A, intitulado Choice Quality Stuff,  é pesado e bem trabalhado, abrindo com "Creed of Love", onde o riff da  guitarra e do baixo, seguido pelo violino, trás os vocais de David com  as vocalizações de Pattie, em um ótimo hard que tem um dos grandes  refrões da carreira do grupo, além de um ótimo duelo entre Bill e David.
"Bye  Bye Baby" é um agitado blues que trás ao disco o que o It's A Beautiful  day gostava muito de fazer em suas apresentações. A letra dessa canção é  cantada por Pattie e David, e mais uma vez o solo de Bill é o destaque,  dividindo espaço com o piano e com o violino cheio de efeitos de David.
A  instrumental "The Grand Camel Suite" mantém o bom nível, com a guitarra  e o violino fazendo o riff principal, levando a cadência do violino e  do órgão com uma cozinha bem southern rock, para então termos os solos de David, Bill e também participações de vocalizações e violão.
"No  World For Glad" tem uma bonita introdução ao piano, para então surgir o  violino e a voz de David cantando a primeira estrofe da letra. Pattie  faz a segunda estrofe e ambos cantam o hardiano refrão, onde Bill manda  ver em mais um bom solo. David toca flauta nessa canção, e a sequência  da letra se dá agora com a inversão na ordem das estrofes de Pattie e  David.
O funk psicodélico de  "Lady Love" vem a seguir, com ótima participação do baixo e do órgão,  lembrando muito canções da Experience de Jimi Hendrix principalmente  pelo ritmo e pelo baixo de Tom durante o solo de Bill.
Falando  em ritmo, os percussionistas Jose Chepito Areas e Coke Escovedo e mais o  tecladista Gregg Rolie, ambos do grupo Santana, participam da faixa  "Words", uma paulada que não poderia deixar de lembrar as canções do  Santana, com os vocais sensuais de Pattie que chamam bastante a atenção  do ouvinte logo na primeira estrofe. David canta a segunda parte e  entramos no fantástico solo de Gregg, seguida pela sequência percussiva  puramente santana, levando a conclusão da faixa e ao encerramento do  lado Choice ...
O lado Anytime  já é bem mais calmo, abrindo com "Place Of Dreams", com a guitarra  dedilhando entre notas de violino para trazer os demais instrumentos e  os vocais de David, em uma canção bem sessentista.
A  instrumental "Oranges & Apples", com seu órgão, violino e o  trompete de Bill Atwood, lembra canções latinas em seu tema principal,  com destaque apenas para o solo de órgão, seguida por "Anytime", onde  Atwood participa novamente tocando os metais que fazem o tema principal.  David canta outra leve e dançante canção, que tem o ponto alto no solo  de saxofone feito por Atwood.
"Bitter  Wine" trás de novo o pessoal do Santana, e o embalo é retomado em uma  faixa que é cantada por Pattie e David juntos, encerrando o álbum com a  ótima "Misery Loves Company", onde o estrondoso início da guitarra de  Bill apresenta os vocais de David com as vocalizações de Pattie ao  fundo. Bill é o destaque, solando como nunca, e a letra é retomada com  um pique excelente, levantando a moral do álbum e do ouvinte.
A  engraçada capa com o camelo andando pelo deserto e se imaginando  dirigindo um carrão entre vários parceiros de corcovas, foi feita por  George Benett, e chegou a causar alguma polêmica nos EUA por apresentar  os testículos do mamífero. Somente um single foi lançado, com "Anytime" /  "Oranges and Apples" (1972), que também não fez nenhum sucesso.
 O ótimo e delirante ao vivo
O ótimo e delirante ao vivoApós  o lançamento de Choice ..., o grupo partiu para mais uma turnê, a qual  ficou registrada no fantástico At Carnegie Hall,  lançado em 1972,  contando com bombásticas interpretações para  clássicos como "Bombay  Calling", "Hot Summer Day" e "White Bird".
 O último álbum, já sem David LaFlamme
O último álbum, já sem David LaFlammeO  grupo continuou  excursionando por mais alguns meses, até que David  largou a banda por  problemas contratuais e foi seguir em carreira solo.  Patti, Val, Bill e  Fred tocaram o barco com Bud Cockrell (baixo) e  Greg Bloch (violino),  lançando o bom It's A Beautiful Day  ...  Today em  1973, que contém ótimas canções como "Creator" e "Ain't That  Lovin'  You", mas que não apresenta a mesma sonoridade dos álbuns  anteriores.  Em 1974, o anúncio oficial do It's A Beautiful Day era  feito.
 A última formação do grupo
A última formação do grupoEm  1976, David regravou "White Bird", alcançando a  posição # 89 nas  paradas da Billboard, a maior que uma canção do grupo  já obteve até  então. David seguiu em uma carreira solo sem muito  sucesso, fazendo  shows e sempre tocando canções do It's A Beautiful Day. Inclusive,  erroneamente existe em alguns sites um vídeo como sendo do It's A  Beautiful Day em uma apresentação em um festival em 1978, o que na  verdade não é fato. aquela é sim uma apresentação da banda de David, e  não do It's A Beautfiul Day. Os demais membros do grupo permaneceram  na  obscuridade durante algum tempo.
Em  14 de  dezembro de 1989, a linda Pattie Santos morre em um trágico  acidente de  carro. No enterro da vocalista, o re-encontro dos membros  fundadores (a  menos de Linda LaFlamme) faz surgir a ideia de re-ativar o  grupo, ainda  mais pela busca crescente de adolescentes atrás de mais  canções da banda  que inspirara uma das principais obras do Deep Purple,  já que Ian  Gillan havia declarado a importância do It's A Beautiful  Day para a  inspiração de Jon Lord.
Um  ano depois, Fred Webb falecia, e novamente o  contato entre Val e David  dava origem a uma volta do grupo. Então, o  It's a Beautiful Day  voltava a ativa em 1997, ora com o nome original ora como David LaFlamme  Band, apresentando David e Val  da formação original, mais a nova  esposa de David, curiosamente também  chamada Linda LaFlamme, Toby Gray  (baixo), Gary Thomas (teclados) Rob Espinosa (guitarras) e Michael  Prichard (percussão).

Cartaz de divulgação de show nos anos 2000
Em   2001, a violinista Vanessa-Mae registrou uma versão para "White Bird",  e  pasmem, a canção alcançou a posição # 66 nas paradas inglesas.  "White  Bird" tornou-se um símbolo do grupo e, ao lado de "White Rabbit"  (Jefferson Airplane), é uma das canções mais lembradas pela geração que  vivenciou o famoso verão do amor e seus dias decorrentes, sendo uma das  canções mais  regravadas por outros artistas na história do rock.

It's A Beautiful Day hoje 
  O It's A  Beautiful Day permanece na ativa, fazendo excursões de  divulgação dos  velhos clássicos do grupo, assim como tantas outras  bandas da época  fazem na década atual, porém sem compor material novo,  apenas resgatando  velhas canções dos  maravilhosos dias do grupo.
 




 
 

Saudações Mairon, blza? Parabéns pelo blog. Sabe onde posso encontrar torrent/site com a discografia completa do It's a Beautiful Day? Encontrei alguns discos mas faltam outros
ResponderExcluirOlá madrugador. Obrigado pelo comentário. Infelizmente não tenho como lhe ajudar. Abraços
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