20  de setembro é uma data muito importante para mim. Conhecida no Rio  Grande do Sul como o "Dia do Gaúcho", ela simboliza o inicio da  Revolução Farroupilha, lá em 1835, marcando o dia em que a guerra entre  farroupilhas e o império começara, dando origem a chamada República  Sul-Riograndense e durando dez anos.
Exatamente  nesse ano, passei meu primeiro 20 de setembro longe dos meus pagos,  mais precisamente na cidade luz francesa, e para meu deleite, fui  convidado por um grande amigo chamado Wilson a assistir um dos ícones do  metal mundial, Ozzy Osbourne, durante a Scream Tour 2010,  deixando a data de 20 de setembro ainda mais importante para este que vos  escreve. O show ocorreu no bonito Palais de Omnisports de Bercy. Como  comparação, o lugar parece o Ginásio Gigantinho de Porto Alegre, porém  um pouco menor.
Antes  do Ozzy, Danko Jones e Korn eram os responsáveis por aquecer a galera  a partir das 19 horas. Isso foi o suficiente para eu e o Wilson  concluirmos que tinhamos um certo tempo até ver a lenda viva do Ozzy, e  então, pegamos o trem da Cité University por volta das 18:30,  devidamente fardados com as tradicionais camisas rivais de Inter e  Grêmio, uma homenagem ao 20 de setembro, e com um bom whisky Black &  White nas mãos.
Chegamos  em Bercy pouco depois do show da Danko Jones, mas isso não importava.  Queriamos ver o Ozzy. Alguns brasileiros, uma fila muito rápida e  entramos no Palais, que surpreendentemente estava com pouca gente.  Garantimos um bom lugar, quase na frente do palco, e tendo como fundo  uma enorme lona com o nome da próxima banda a tocar, Korn.
Quando  o Korn entrou no palco, os franceses pareceram não estar muito à  vontade com o som da banda. Eu honestamente não conhecia nada do grupo, e  achei a mistura de Faith No More com algo mais pesado um pouco  estranha, totalmente fora do que curto, mas não era nada, eu estava lá  para ver Ozzy. Algumas músicas e até que a galera começou a agitar.
De  repente, olho para a esquerda e Zinedine Zidane surge ao meu lado,  agitando muito e cantando as músicas. Se vocês duvidam, olhem a foto  abaixo. Fiquei uns bons minutos pensando se pedia uma foto ou não, mas  como ele agitou pacas, não quis atrapalhar. Enfim, foi o primeiro grande  momento do show, e mesmo que o cidadão seja um sósia, o que acho bem  difícil pois era muito igual ao Zidane, já tem mais uma história para  contar.
O  Korn saiu do palco sem deixar saudade, pelo menos para mim, assim como o  Zidane subiu para os camarotes, e ai começou uma rápida sessão da troca  de palco, preparando tudo para o grande nome da noite. Diferente do que  no Brasil, vários homens surgiram de tudo que é lado, e em poucos  minutos, o pano do Korn deu lugar para um lindo fundo que Ozzy vem  usando na turnê, com detalhes em alto-relevo que lembram o mar dependendo  da luz projetada.
Olhei  ao redor do Ginásio e vi que não estava lotado, ao mesmo tempo que me  peguei pensando em como eu tinha chegado até ali. Ver Ozzy ao vivo é  algo que sempre pensei desde criança, mas ver ele na Europa, nunca  passou pela minha cabeça.
Enquanto  eu viajava, uma voz já conhecida começava a gritar um cântico conhecido  dos cantos de futebol, e então as luzes se apagam e Ozzy surge no  centro do palco. Interessantemente, Ozzy se apresenta e firma um pacto  com a gurizada, dizendo que "dará tudo o que puder para os fãs desde que os fãs dêem tudo que possam".
Pacto  firmado, eu alucinando e o show começa com "Bark at the Moon". Quando  eu me preparava para ser empurrado, levar cotovelada, chutar canelas, me  senti sozinho, com todo mundo parado, balançando a cabeça e fazendo  alguns air guitars. Ai entendi que o público francês não agita, e sim  curte o som. Enfim, fiz a minha parte e cantei junto toda a letra, até  chegar na nova "Let Me Hear You Scream", que ficou muito boa, onde Ozzy  começou a interminável sequência de baldes de água na gurizada e também  os tiros de espuma com a metralhadora.
A  partir de então, o tecladista Adam Wakeman (filho do velho) puxou o  riff mais bonito da carreira de Ozzy, começando "Mr Crowley". Lágrimas e  arrepios tomaram conta de mim. Ozzy continua cantando como nos anos  oitenta, e o seu jeito de andar que tanto o caracterizou, além dos dedos  em V, fascinam e cativam quem vê.
Depois  de surpreender com "I Don't Know" o show virou um espetáculo sem  precedentes, com Ozzy desfilando clássicos do Black Sabbath, começando  com uma matadora versão para "Fairies Wear Boots", inserindo "Suicide  Solution" (outra surpresa que liquidou com minha voz) e chegando em "War  Pigs", outra em que fui as lágrimas, com Ozzy relembrando Dio no solo  final, fazendo a melodia da guitarra com a voz.
A  ótima "Shot in the Dark" foi a deixa para Ozzy apresentar a banda.  Wakeman nos teclados, Blasko no baixo e Tommy Clufetos na bateria foram  apresentados um a um, até que Ozzy chegou no ótimo guitarrista Gus G,  que fez um solo sozinho de tirar o chapéu. Muito influenciado por Zakk  Wylde, inclusive utilizando o ventilador para levantar as melenas, o  guri toca muito, e tem um timbre de guitarra muito próximo ao de Tony  Iommi, que ficou evidente na canção a seguir, "Rat Salad".
Nessa  última, Tommy fez um longo solo, e então Ozzy surgiu novamente no palco  para cantar "Iron Man". Os franceses deliravam, mesmo não agitando  nada, dava pra sentir o quanto eles estavam curtindo, mostrando  civilidade e, principalmente, respeito aos demais presentes.
A  sequência com "Killer of Giants", "I Don't Want to Change the World" e  "Crazy Train" encerrou a primeira parte da apresentação, mas Ozzy não  deixou o palco. Ficou cantando o cântico de futebol com a galera e  perguntando se queríamos mais um som. Óbvio que sim, e então ele soltou  "Mama, I'm Coming Home", linda demais, e fechou o bloco do bis com  "Paranoid", onde cada nota foi tocada perfeitamente.
Finalmente  os franceses soltaram a voz, e Ozzy, visivelmente emocionado, se  ajoelhou no palco agradecendo aos fãs. Aos gritos de "Ozzy! Ozzy! Ozzy!",  mandou ver em "Flying High Again", emendando com uma matadora versão  para "Into the Void", onde Gus G soltou os dedos conforme Iommi. Juro  que fechei os olhos e vi uma Gibson SG preta no palco. O som era  perfeito, nítido, algo que jamais vi em nenhum show no Brasil,  excelência britânica na terra dos croissants.
Ozzy  encerrou o show e ficou mais alguns minutos no palco, cantando a música  de futebol e agradecendo a todos os que estavam na frente do palco com  apertos de mão e acenos. 
As  luzes acenderam e percebi que eu e Wilson já estavamos saindo de uma  noite fantástica, mas que ainda não havia terminado. Passando pela mesa  de som, um dos roadies viu a camisa do Inter e eu gritei "Brasil!".  Ele abriu um sorriso e me entregou um roteiro do show, que juntamente  com um bottom do Slayer que encontrei no chão, viraram minhas  recordações materiais de mais um grande show que assisti na minha vida. 
Valeu Wilson, e God save Ozzy!
Set list:
Bark at the Moon
Let Me Hear You Scream
Mr. Crowley
I Don't Know
Fairies Wear Boots
Suicide Solution
War Pigs
Shot in the Dark
Rat Salad
Iron Man
Killer of Giants
I Don't Want to Change the World
Crazy Train
Bis 1
Mama, I'm Coming Home
Paranoid
Bis 2
Flying High Again
Into the Void
 
 
 

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