Sou  um grande admirador da música dos anos 70, e também de diferentes  bandas que se tornaram conhecidas por algum som que, no fim das contas,  não é o estilo verdadeiro ou inicial das mesmas. Este é o caso do  Scorpions, que a maioria conhece como a banda que gravou "Still Loving  You" e "Rock You Like a Hurricane", mas poucos ouviram os álbuns "In  Trance" e "Lonesome Crow". Enfim, neste espaço quero dar atenção a esses  grupos que possuem excelentes materiais (em minha opinião, claro,  afinal têm gente que gosta de pagode), mas que, de uma forma ou de  outra, são idolatradas por algo mais popular.
A  banda alemã Scorpions teve suas origens na metade da década de 60, mais  precisamente em 1965. Não vou entrar nos detalhes da história do grupo,  pois quero falar mais sobre seus discos, mas, enfim, os irmãos Schenker  (Rudolph e Michael) conheceram Klaus Meine e junto com mais dois amigos  montaram o Scorpions. No início os caras eram muito influenciados pelos  ingleses Yardbirds, The Who, Spooky Tooth e Pretty Things. 
Somente  em 1972 conseguiram um contrato com uma gravadora e lançaram "Lonesome  Crow". Um fato interessante desse álbum é que durante a turnê de  divulgação a banda abriu os shows do UFO. Como o guitarrista do UFO  estava doente, Michael foi convidado a substituir o mesmo e, no fim das  contas, saiu do Scorpions e foi virar líder de outra grande banda dos 70  que também pretendo falar aqui. Bom, voltando ao álbum, "Lonesome Crow"  mostra um Scorpions bem setentista. Mutas guitarras à la Hendrix e até  um certo clima de psicodelia. Os destaques na minha opinião ficam para  "I'm Going Mad" e a belíssima "Lonesome Crow", onde Michael, ainda  garoto, mostra porque viria a ser considerado o mestre da Flying V nos anos seguintes.
Com  a saída de Michael Schenker a banda passou a procurar um novo  guitarrista. Não demorou muito e o próprio Michael indicou o amigo Uli  Jon Roth. Uli já tinha feito algum sucesso com um grupo chamado Dawn  Road e era muito amigo dos Schenker. Logo de cara ele trouxe uma  inovação ao Scorpions. Uli também cantava, portanto o grupo tinha agora,  além de um excelente guitarrista, dois grandes cantores que dividiam os  vocais em algumas faixas, bem ao estilo do Purple na fase  Coverdale-Hughes.

O  primeiro álbum de Uli com o Scorpions saiu em 1974 e é uma pedrada.  "Fly to the Rainbow" contém hinos do início ao fim. O disco abre com o  solo clássico de "Speedy's Coming", já mostrando a nova sonoridade de  Uli, usando e abusando de bends  e arpejos, os quais marcariam futuramente sua carreira. O lado A segue  com "They Need a Million", "Drifting Sun" e "Fly People Fly", apenas  amaciando o terreno para o lado B (bons tempos do vinil, onde você tinha  esa vantagem). 
Virando  o disco e colocando a agulha no segundo lado do disco (ou o CD na faixa  5) mais um solo marcante de Uli dá início a "This is My Song". Os  vocais rasgados de Klaus e a competentíssima cozinha de Francis Buchholz  e Jürgen Rosenthal, bem como o acompanhamento de Rudolph, dão sequência  ao belíssimo solo de Uli. Com dedilhados suaves e muitos bends,  a letra narra uma pequena história de um rockeiro apaixonado por sua  namorada mas que não consegue se livrar da vontade de tocar guitarra. Um  CLÁSSICO!  
O  disco segue com a balada "Far Away", que não uma balada como "Still  Loving You", mas sim uma introdução para a grande música do álbum, "Fly  To The Rainbow". Essa sim, um dos ícones da geração Roth (posteriormente  gravada pelo Therion em "A'arab Zaraq - Lucid Dreaming"). O início  acústico mostra que Uli também era um grande violonista, criando um  clima meio acampamento. A seguir vemos o quanto a banda estava  afiada. Uma pequena sequência de estrofes é cantada por Klaus, seguida  pelo riff principal da canção. Com o fim das estrofes, a música  novamente muda de clima, agora adquirindo uma tonalidade mais viajante,  onde Uli mostra mais uma de suas habilidades, o uso da alavanca. Uli Jon  Roth canta pequenas estrofes e emenda um solo inesquecível, onde a  alavanca se sobressai de uma forma incrível, somente superada pela  versão ao vivo do "Tokyo Tapes". Para mim essa é a melhor canção do  Scorpions em todos os tempos, principalmente por que as sequências das  estrofes são lindas e muito bem elaboradas.

No  ano seguinte o grupo deu sequência com "In Trance". Só a capa do disco  já vale o investimento (uma bela loira transando com a guitarra), mas ao  colocar a agulha vemos que o álbum tem muito mais. "Dark Lady" mostra  um Scorpions ainda mais afiado, agora com o baterista Rudy Lenners. Uli  detona do início ao fim, muito bem acompanhado de Rudolph. Na sequência,  a clássica"In Trance" (que apareceria no "Live Bites" anos mais tarde)  com o seu refrão característico. Essa foi uma das primeiras canções a  antecipar o som que tornaria o Scorpions mais conhecido dos anos 80. A  sequência do disco não é tão boa quanto a de "Fly to the Rainbow", mesmo  assim temos destaque para os vocais de Uli em composições como "Robot  Man" e também para o belo trabalho de Rudolph em "Sun in My Hand".

1976  foi o ano de lançamento de "Virgin Killer". Com a famosa capa da menina  nua amarrada, no Brasil esse disco foi lançado com uma capa contendo  apenas o corpo de uma mulher tatuado com um escorpião. Todo o disco é  constituído por pérolas. Apesar de soar bem mais comercial (o que faria  com que dois anos depois Uli deixasse a banda), o trabalho tem ótimas  composições.

Começando com "Pictured Life" e "Catch or Train", duas  pauladas do início ao fim. Na sequência, "In Your Park" e "Backstage  Queen" servem como uma preparação para a faixa-título. "Hell Cat" mostra  um Uli totamente influenciado por Hendrix, tanto nos vocais quanto nas  guitarras.  O mesmo ocorre em "Polar Nights", outra onde Uli abusa dos  arpejos. Enfim, um grande álbum que merece ser ouvido com toda atenção.

Em  1977 sai aquele que seria o último álbum de estúdio do Scorpions com  Uli Jon Roth. "Taken by Force" mostra que Rudolph e Klaus estavam em  atrito com Uli (apesar da saída de Roth ter sido totalmente amigável). A  capa desse álbum, com uma imagem de um cemitério, também gerou  problemas, fazendo com que no Brasil o disco fosse lançado com uma capa  preta com as fotos dos integrantes, que na verdade era a contracapa  original. 
O  disco começa com a pop "Steamrock Fever", que não diz muito a que veio.  Porém a faixa seguinte, "We'll Burn the Sky", é uma das mais belas  canções já escritas por Rudolph Schenker. A música começa com um leve  dedilhado ao estilo de "Still Loving You", com Uli fazendo algumas  intervenções. Klaus entra com os vocais e a música muda de clima,  adquirindo um ritmo mais agitado e com um refrão marcante. O fim é  apoteótico, com Uli fazendo um longo solo e Klaus cantando muito.  Simplesmente de chorar. 
Na  sequência "I've Got to be Free" e "The Riot of Your Time" abrem espaço  para "The Sails of Charon". Nesta canção Uli extrapola o limite do uso  de arpejos. Com a escala egípcia (muito usada depois por Dave Murray no  Iron Maiden), Uli destrói em uma das introduções mais difícies de ser  copiadas por um guitarrista que esteja aprendendo a solar (diferente de  canções como "Starway to Heaven" e "Smoke on the Water"), o que a torna  ainda mais bela. "Your Light" e "He's A Woman - She's A Man" levam à  balada "Born to Touch Your Feelings", a qual já é bem um Scorpions anos  80, mas mesmo assim bem bonita.

Com  Uli decidindo seguir carreira solo, a banda partiu para uma pequena  turnê de despedida, registrando alguns shows no Japão que gerariam o  duplo ao vivo "Tokyo Tapes". O álbum é muito bem gravado e trás várias  músicas de excelente qualidade, como "We'll Burn the Sky", "In Trance" e  "In the Search of Piece of Mind", mas o destaque maior realmente vai  para "Fly to the Rainbow". O que Uli faz com o uso de alavanca ali só  Hendrix pode explicar.
Infelizmente  o Scorpions partiu para outra, lançando trabalhos como "Lovedrive" e  "Blackout", que são cultuadíssimos pela mídia em geral, mas que destoam  em muito daquilo que a banda fez com Uli Roth.
No ano passado o  grupo fez alguns shows com a participação de Uli Jon Roth, onde ficou  claro que o atual guitarrista, Mathias Jabs, não estava muito à vontade  com a presença do mago Uli ao seu lado.
 



 
 

Estava aqui ouvindo um Whitesnake para preparar a discografia comentada, mas tive que colocar "Fly to the Rainbow" para entrar no clima. Gosto muito de Scorpions e também tenho a fase com Uli Jon Roth como minha favorita. Aceito sem problemas que pessoas digam que sua fase favorita dos Scorpions é após a entrada de Matthias Jabs, afinal, discos como "Lovedrive", "Blackout" e "Love at First Sting" são bons e possuem muitos méritos, mas prefiro ouvir aquele alemão que soava como um Hendrix "vitaminado". "In Trance" é meu álbum favorito da banda e canções como "Longing For Fire", "Life's Like a River" e "Evening Wind" são canções subestimadíssimas, acredito que pelos próprios membros da banda.
ResponderExcluirCom certeza Diogo. Eu tenho um bootleg triplo da fase Uli, com shows de 1974 a 1977. Se tiveres interess, te passo
ResponderExcluirabração
Eu estou interessado nesses shows!
ResponderExcluirAcho que com a saída do Uli não era mais scorpions, as composições do Klaus eram demais também, mas tudo mudou depois de Tokyo Tapes! Bem, não que todos tivessem que se separar, ou coisa assim, mas o nome da banda deveria ser outro. Assim selaria um período musical extraordinário e autêntico. Quanto ao som da década de 80, com Blackout, Now, entre outras que rolasse com outro nome, outra banda ainda que mantendo a maioria dos músicos. Digo isso porque scorpions mudou demais e isso é estranho. Já entre 72/78 é algo inexplicável, Fly to the Rainbow, o álbum é como se fosse uma só música, para mim, o melhor da banda, um dos melhores da história do rock!
Uli Jon Roth e Tony Iommi são meus guitarristas preferidos, o Scorpions dos anos 70 é algo mágico, visceral e único, minha banda preferida daquela década.
ResponderExcluirValeu pelo comentário Renan. E o que vc acha do Michael Schenker? Abraços
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