sexta-feira, 8 de abril de 2011

Notícias Fictícias que Gostaríamos que Fossem Reais: Asia faz valer ingresso em mais de cinco horas de apresentação


 
Por Mairon Machado (Publicado originalmente no blog Consultoria do Rock)


Notícias Fictícias que Gostaríamos que Fossem Reais é uma sessão da Consultoria do Rock onde apresentamos notícias fictícias, mas que poderiam se tornar reais em algum momento de nossas estadas aqui na Terra. A intenção não é gerar polêmicas ou controvérsias sobre determinados fatos, mas apenas incitar a discussão sobre o que ocorreria se o mesmo fato chegasse a acontecer.

O grupo Asia voltou à ativa em 2011 para uma série de shows em comemoração aos 30 anos de carreira do grupo. Na atual turnê, intitulada "Official Reunion", que passará pelo mês de maio aqui no Brasil, exatamente no dia 22 no HSBC Brasil, em São Paulo, estão os membros que fundaram o grupo no longíquo ano de 1981: Steve Howe (guitarras), Geoff Downes (teclados), John Wetton (baixo, vocais) e Carl Palmer (bateria).

O grupo esteve fazendo shows pelos Estados Unidos, mas, na última terça-feira, um show surpresa foi anunciado para o pomposo Royal Albert Hall de Londres a ser realizado em 7 de abril, um dia antes de Steve Howe completar 64 anos de vida, como uma forma de homenagear esse que é um dos principais músicos da Inglaterra.

Fãs diante do Royal Albert Hall na manhã do show


Diversos fãs, eu entre eles, formaram uma gigantesca fila em frente ao teatro, inclusive com ônibus de excursão trazendo pessoas apenas para conseguir os poucos ingressos disponibilizados. Logo na compra, os fãs se depararam com duas surpresas: o show, marcado para as 20 horas, contaria com convidados especiais. A segunda: a data no ingresso mostrava o dia 8 de abril e não 7. Os próximos dias foram de expectativa para este que vos escreve e para os que conseguiram pegar um ingresso. A ensolarada manhã de ontem (7 de abril) já dava sinais de que o dia seria repleto de bons momentos.

Howe, o homenageado da noite


Depois de uma tarde sensacional e com temperatura amena (algo raro em Londres nessa época do ano), fui para o teatro, que já estava decorado. Às 18 horas, as portas se abriram, e não demorou muito para que todos os lugares fossem ocupados. Faltando cinco minutos para as 20 horas, "Presto", terceiro movimento de "L'Estate", uma das quatro peças que compõem a suíte "As Quatro Estações", de Vivaldi, começou a ser ouvida no teatro, enquanto uma gigantesca cortina com o logotipo do grupo descia em frente às belas cortinas vermelhas que fechavam o palco.

Carl Palmer durante seu solo


Quando a cortina com o logotipo caiu, encerrou-se "Presto" e uma gigantesca ovação foi ouvida. As cortinas vermelhas se abriram e mostraram Downes à direita do palco, Wetton ao centro, Howe na esquerda e Palmer ao fundo, com um kit não tão grandioso quanto o de antigamente. Para delírio geral, Downes puxou o riff de "Karn Evil 9 - First Impression", e assim, nada mais nada menos que Greg Lake subiu ao palco, gordíssimo, sem nenhum instrumento, apenas com sua voz para cantar a pérola do álbum Brain Salad Surgery, lançado em 1973 pelo grupo Emerson, Lake & Palmer. 

Greg Lake e seu solo de harmônica

Downes fez mágica para conseguir recriar os solos de Emerson, tendo a ajuda de Howe, que fez diversas partes da canção na sua guitarra. As três "impressões" de "Karn Evil 9" foram tocadas na íntegra, inclusive com o solo de Palmer (o primeiro de dois que ele fez na noite) sendo feito durante a metade da primeira impressão.

Ingresso
O público não acreditava. Lake e Wetton se abraçaram sorridentes, e após o "Boa noite Londres, estamos aqui hoje para dar uma festa especial para Howe, e principalmente para vocês!", Lake pegou uma gaita de boca e fez um curto solo, seguido por mais uma grande surpresa, a sensacional "Pictures of a City", lançada pelo King Crimson no segundo álbum da banda, In the Wake of Poseidon (1970). Confesso que quase infartei. Meu coração parecia sair da boca, e o Royal Albert Hall vibrava com as perfeitas notas de Howe e Downes recriando os grandes e geniais momentos de outro clássico do rock progressivo, com um show à parte de Palmer.

Depois de quase cinquenta minutos só com essas duas canções, Lake, que substituiu Wetton no próprio Asia durante a turnê de 1983, e que pode ser conferido no sensacional VHS Asia in Asia, deu espaço para o quarteto original começar a desfilar seus clássicos, e assim, Wetton agradeceu ao público e iniciou "Wildest Dreams", do primeiro álbum do grupo, lançado em 1982. Seguiram-se ainda "Eye to Eye", "Don't Cry" e "Midnight Sun", com o teatro em pé cantando todos esses clássicos pertecentes aos dois primeiros álbuns do grupo. Às 21:25, o grupo deu um breve tchau, anunciando uma pausa de 15 minutos. 

Wetton e Downes interpretando "Don't Cry"


A cortina vermelha novamente fechou o palco. Todos ainda estavam se recuperando da primeira parte do show quando "Excerpts from Firebird Suite" foi ouvida nas caixas de som. O silêncio tomou conta do lugar, junto com a expectativa do que mais o Asia poderia aprontar. Quando as cortinas se abriram, dois conjuntos de bateria estavam montados, sendo um repleto de peças eletrônicas.

Bill Bruford, sorridente após a apresentação


Era 21:45 quando Howe, Downes, Wetton e Palmer subiram ao palco acompanhados de Bill Bruford. "Close to the Edge" foi tocada na íntegra, com perfeição, nos mínimos detalhes, a lamentar somente a ausência da voz cristalina de Jon Anderson. Mas Wetton cumpriu bem seu papel, e logo após "Close to the Edge", com meu rosto coberto de lágrimas, na sequência, sem intervalos, Bruford comandou o início de "Larks' Tongues in Aspic Part I", fazendo o papel que Jamie Muir fazia nos aúreos tempos de King Crimson.

Mais uma grande surpresa, e o teatro dessa vez estava de boca aberta com o que via. As passagens de violino feitas originalmente por David Cross eram executadas pelos teclados de Downes, e Howe, sentado em seu banco, imitava Robert Fripp com perfeição. O grupo emendou "Larks' Tongues in Aspic Part II", e, em delírio, o público nem ouviu o começo de "In the Dead of Night", clássico do primeiro álbum do UK, com um show à parte de Bruford. 

Em êxtase, a plateia vibrou com mais uma hora de apresentação, mas ainda tinha mais. Wetton, Bruford e Palmer fizeram um riff que colocou o teatro abaixo, começando "Ritual", a quarta parte de Tales from Topographic Oceans (1973), o mais ousado projeto do Yes. Em mais de meia hora interpretaram essa maravilha com tudo que se tem direito e muito mais, inclusive com um sensacional duelo entre Palmer e Bruford, alternando momentos jazzísticos, rufadas, acompanhamentos funk e todos os efeitos de luz e fumaça que o Yes apresentava nos shows da turnê desse disco, em 1973.

Patrick Moraz, outro convidado feliz


Ali eu acho que morri. Não podia estar vendo aquilo. Era uma paulada atrás da outra, e o Asia finalmente justificando o nome de seus integrantes, fazendo jus com interpretações perfeitas para o que se tem de melhor no rock progressivo, além de estar vendo um duelo entre os dois maiores bateristas de rock progressivo que já pisaram na Terra. Mais uma pausa e a cortina se fechou com Bruford sendo ovacionado e eu banhado em lágrimas.

Às 23:12, Bruford voltou, como um mestre de cerimônias. Depois de contar uma rápida história de como conheceu Howe, chamou ao palco mais um convidado: Patrick Moraz. O tecladista que passou pelo Yes entre 74 e 76, também com alguns quilos a mais, sentou-se no banquinho de Downes, onde puxou os acordes de "Blue Brains", tocando com Bruford essa rara canção registrada no primeiro álbum do projeto Moraz - Bruford, intitulado Music for Piano & Drums (1983), que pareceu não ser conhecida pelo público. 

Momento acústico de Steve Howe


Moraz continuou no piano, comandando os acordes de "Beginnings" ao lado de Howe, interpretando essa belíssima faixa do primeiro álbum solo de Steve Howe. Também relembraram "To Be Over", do único álbum que Moraz gravou com o Yes, Relayer (1974). Howe permanceu sozinho no palco para seu show solo ao violão, onde arrancou lágrimas de todos com "Mood for a Day" (do álbum Fragile - 1971), "The Clap" (de Yes Album - 1971), "Masquerade" (de Union - 1991), "Ram"  (de Beginnings, 1975) e "Surface Tension" (de The Steve Howe Album - 1979), antes de encerrar sua apresentação com partes de "The Ancient" (do álbum Tales from Topographic Oceans).

Asia durante a terceira parte do show


Meia-noite e John Wetton convidou a todos para cantar parabéns em homenagem a um emocionado Howe. Ninguém queria ir embora, então Downes comandou "Video Killed the Radio Star", clássico da carreira de sua ex-banda, o The Buggles, repleto de sintetizadores e efeitos computadorizados, e reviveu a turnê de Drama (1980), interpretando "White Car" com toda a parafernália eletrônica utilizada em 1980. O Asia retornou com mais clássicos de sua carreira, começando com "The Heat Goes On", onde Palmer fez seu segundo solo, "Cutting It Fine", "Time Again" e "Only Time Will Tell", encerrando o show com "My Own Time (I'll do What I Want)", com a plateia dançando e cantando cada canção do início ao fim.

Steve Howe puxando o riff de "Roundabout"


Era quase uma da manhã e ninguém queria sair do teatro, aplaudindo e vibrando por mais uma canção. Então Howe entrou com um mandolim, puxando e comandando sozinho o riff de "Roundabout", com Lake e Wetton dividindo os vocais de mais um clássico do Yes, além de Bruford novamente estar na bateria eletrônica. O clima de festa, alegria e emoção brotava das paredes  do lugar. Moraz se juntou ao grupo para fazer a última surpresa, "Red", outra do King Crimson, que fechou ilustremente mais de cinco horas de uma apresentação sensacional, fazendo valer cada centavo do ingresso.


Cansado mas feliz, o quarteto agradeceu ao público e aos convidados, que entregaram flores para Howe, além de um vinil de ouro com a forma de seu rosto. Em delírio, acabei indo a pé para casa, vagando pelas ruas de Londres e pensando: "será que isso é apenas ilusão da minha cabeça?", já que tinha acabado de ver um dos mais incríveis shows já feitos pelo Asia, que dificilmente se repetirá da maneira como foi.

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