domingo, 5 de junho de 2011

Moby Grape: parte 1



Um dos grupos mais ousados, polêmicos e inovadores do rock americano, mas que poucas pessoas tem contato com sua história, é o californiano Moby Grape. Fundado em 1966, quando a efervescente cena psicodélica de San Francisco começava a surgir, o Moby Grape tinha destaques que nenhum de seus conterrâneos possuiam. Para começar, os cinco membros do grupo (Jerry Miller nas guitarras, Peter Lewis nas guitarras, Alex Skip Spence nas guitarras e piano, Don Stevenson na bateria e Bob Mosley no baixo) participavam compondo e cantando as suas canções. Ainda, talvez tenha sido o único grupo a não ter um estilo definido, sendo suas canções representativas para gêneros como folk, blues, country, jazz, música clássica e claro, a forte cena psicodélica do chamado verão do amor.

Eleita por muitos como a melhor banda da cena musical da San Francisco dos anos 60, a história do Moby Grape é repleta de situações inusitadas, decisões tomadas sem o mínimo de convicção, fatos que aconteceram somente com o grupo, além de um "Crazy Diamond" ídolo eterno na história do rock do mesmo nível que Syd Barret foi para o Pink Floyd, no caso aqui, o guitarrista Alex Skip Spence.

Então, vamos mergulhar na carreira deste que para mim é o melhor grupo não só de San Francisco, mas que os Estados Unidos revelou ao mundo, passando pelos nove discos oficiais em estúdio e pelas diversas sequências de fatos que marcaram e destruíram com a carreira de uma das bandas mais inovadoras do mundo do rock.

O primeiro álbum do Jefferson Airplane, com Skip Spence na bateria

A origem do Moby Grape está em setembro de 1965, quando o baterista Jerry Peloquin saía do famosíssimo grupo Jefferson Airplane. No seu lugar, um jovem guitarrista de talentos diversos assumia a posição atrás dos bumbos. Esse guitarrista era Alex Skip Spence. Ao lado de Marty Balin (voz, guitarra), Signe Toly Anderson (voz, percussão), Jorma Kaukonen (guitarra), Paul Kantner (guitarra, voz) e Jack Casady  (baixo), Skip registrou o essencial disco de estreia do Jefferson Airplane, batizado de Takes Off (1966), e que se tornou um marco para os primeiros passos da chamada Cena de San Francisco.

Esse álbum foi produzido por Matthew Katz, um visionário e falcatruento empresário que acabou sendo demitido do Jefferson Airplane por problemas contratuais, bem como Spence, que saiu do grupo por não querer ser o baterista, mas sim o guitarrista. Sem banda, Katz incentivou Spence a montar sua própria banda, nos moldes do Jefferson Airplane, tendo diversos escritores e um excelente trabalho vocal, onde obviamente, o empresário seria o próprio Katz.


Spence, Mosley, Miller, Stevenson e Lewis

Assim, os nomes do guitarrista Peter Lewis e do baixista Bob Mosley aparecem para se juntar ao grupo de Spence. Lewis veio de uma família ligada ao cenário artístico, tendo origens na região de Nova Iorqe. Sendo filho da atriz Loretta Young e do escritor Tom Lewis, e tendo como irmão o também escritor Cristopher Lewis, além de primos e primas que trabalharam no meio artístico, e também meio-irmão de Judy Lewis, filha de Loretta com Clark Gable, a carreira de Lewis começou no grupo de surf rock The Cornells no ano de 1962, onde o grupo estourou nos Estados Unidos com a canção de jazz "Caravan".

Já Mosley viveu em San Diego durante a adolescência, e tinha como experiência apenas apresentações em pequenas bandas de blues da região da Califórnia, com destaque para o grupo The Misfits. Junto ao trio, entraram os ex-membros do grupo The Frantics, Jerry Miller (guitarra) e Don Stevenson (bateria). Miller começou a tocar guitarra ainda nos anos 50, no grupo The Elegants. Em 1959, ele foi o guitarrista solo da versão original da canção "I Fought the Law", gravada pelo grupo The Bobby Fuller Four. Aos desavisados, essa é a mesma canção que o grupo The Clash gravaria anos depois. Vivendo em Seattle, Miller começou a ensinar guitarra para dois futuros mestres do instrumento: Larry Coryell e Jimi Hendrix, sendo que com Coryell, Miller chegou a fazer uma série de shows pelo norte dos Estados Unidos. Miller também chegou a tocar com Hendrix em um famoso clube de Des Moines, o Spanish Castle, sendo que a famosa canção "Spanish Castle Magic" é uma homenagem de Hendrix para Miller.

O início de carreira do grupo
Miller e Stevenson mudaram-se para San Francisco após um encontro com o guitarrista Jerry Garcia, que os incentivou a tocar naquela região com os The Frantics. Logo com a chegada dos Frantics, Mosley assumiu o baixo do grupo, e, com Spence, deu origem ao novo nome, que nasceu através de uma brincadeira onde Moby Grape era a resposta para "O que é grande e púrpuro e vive no oceano?".

Tendo um trio de guitarristas, o Moby Grape começou a se destacar com uma sonoridade bem diferente das chamadas Bandas de San Francisco, fazendo um rock mais pesado, violento e ao mesmo tempo, bluesístico e repleto de detalhes que as demais bandas da região, afundadas em LSD, não conseguiam transmitir em suas canções.

Entre setembro e dezembro de 1966, fazem 38 shows pela Califórnia, tocando no The Ark, em Sausalito (08 de setembro, 07, 10, 11, 12, 13, 14, 15, 16, 18, 19, 20, 21, 22, 23 de outubro, 04 de novembro); California Hall, em San Francisco (18 de outubro e 04 de novembro); Avalon Ballroom, San Francisco (11 e 12 de novembro, 23, 24, 30 e 31 de dezembro); Gorman Gay's 90, San Francisco (12 de novembro);  Fillmore Auditorium, San Francisco (25, 26 e 27 de novembro, 02, 03 e 04 de dezembro); The Matrix, San Francisco (06, 07, 08, 13, 14 e 15 de dezembro) e Santa Venetia armory, San Rafael (23 de dezembro).

A essencial estreia do Moby Grape, com Stevenson causando polêmica com seu dedo médio

Não demorou para o grupo se destacar e, com a ajuda de seu empresário, assinar um contrato com a gravadora Columbia Records, no dia 07 de fevereiro de 67, que foi responsável pelo primeiro vinil do grupo. Então, com todos os membros compondo e cantando, Moby Grape se torna a estreia perfeita para um grupo como o que o batizou, começando com um clássico, "Hey Grandma", um boogie onde a guitarra traz os vocais do grupo, sempre com intervenções de solos de guitarra.  Miller assume o vocal principal, em um empolgante boogie com destaque para a levada do baixo. Um curto solo leva ao encerramento da letra com Miller e Stevenson entoando o nome da canção.

Sessão de fotos do primeiro LP
Outro clássico vem na sequência, com "Mr. Blues", onde o riff da guitarra apresenta os vocais roucos de Mosley, em uma canção típica do rock californiano, com um belo arranjo vocal e tendo como principal destaque as stonianas intervenções da guitarra. "Fall on You" abre com baixo, guitarra e bateria fazendo o pesado acompanhamento para as vocalizações liberarem a voz de Lewis, criando um ótimo rock, onde o trabalho vocal é fantástico, além da guitarra de Miller deixando sua marca.

Depois, violões e pandeiro fazem a introdução para as vocalizações da linda "8:05", novamente contando com um belíssimo trabalho vocal, fazendo dessa balada country uma das mais belas composições de Moby Grape, levada por baixo, bateria, o dedilhado do violão e as pequenas mas bonitas intervenções da steel guitar.

"Come in the Morning" retorna aos rocks californianos do verão do amor, similar a diversas canções da Big Brother and the Holding Company com Janis Joplin nos vocais, principalmente "Flower in the Sun" e "Down on Me", e que é cantada por  Mosley, destacando novamente outro grande arranjo vocal.

Single de "Omaha"
Então, o maior clássico do grupo aparece em "Omaha",  com Spence empregando seu psicodelismo logo na introdução, onde o duelo das guitarras e batidas nos pratos trazem o riff de baixo e guitarra, para então um ácido punk californiano estourar nas caixas de som, com vocalizações cantando a letra sobre um acompanhamento rápido de baixo, bateria e dos solos individuais das guitarras de Miller e Lewis. O lado A encerra-se com a vinheta "Naked, If I Want To", cantada por Miller e possuindo apenas a guitarra dedilhada e um leve andamento percussivo, encerrando-se com um curto solo de baixo.


O lado B abre com "Someday", onde acordes da guitarra introduzem os vocais de  Stevenson, em mais uma bonita canção, tendo um andamento suave de baixo e bateria. O jazzístico solo de Miller é o ponto de maior destaque, além da mudança de andamento na parte central, a qual é cantada por Miller.

Poster inserido no álbum
"Ain't No Use" é um country rápido comandado pelo ritmo dos violões, baixo e bateria, tendo a dupla Miller e Stevenson nos vocais, os quais criam novamente outra excepcional harmonia vocal. Se "Omaha" é a canção mais conhecida, o principal riff do Moby Grape está em "Sitting by the Window", cantada pela doce voz de Lewis. Um clássico repleto de dedilhados de guitarra, onde o incansável riff inicial repete-se durante quase toda a canção, com exceção do refrão, onde as vocalizações estão presentes, e do simples mas belo solo de Miller. Clássico dos clássicos da carreira do grupo.

Bateria, baixo e guitarras comandam a abertura de "Changes", outro espetacular rock cantado por Stevenson, destacando mais uma vez as vocalizações e o solo de Miller, além do psicodélico encerramento feito por baixo e bateria. "Lazy Me" possui um ótimo riff , seguido dos vocais chorados de Mosley, em uma canção rápida, trabalhada pelas guitarra e com Stevenson levando muito bem a bateria, em uma andamento simples e forte ao mesmo tempo.

Vocalizações típicamente Beach Boys abrem "Indifference", onde guitarra, baixo e bateria são seguidos por solos de guitarra. As vocalizações cantam o refrão, sempre com intervenções da guitarra, e assim, Spence e Mosley dividem as estrofes vocais, voltando ao refrão. As estrofes vocais repetem-se e depois de mais uma vez o refrão aparecer, a canção muda o ritmo, tornando-se mais agitada, para Miller solar e deixando Mosley fazendo algumas notas no baixo. Miller tenta reproduzir o riff inicial, e depois de diversas tentativas, a canção e o LP encerram-se com notas frustradas da guitarra.


Moby Grape foi eleito pela revista Rolling Stone como um dos melhores álbuns de todos os tempos, ocupando a posição número 121, a frente de outros clássicos californianos como Surrealistic Pillow (Jefferson Airplane) e Cheap Thrills (Big Brother & the Holding Company). O famoso crítico Robert Christgau o listou como um dos 40 álbuns essencias do ano de 1967. "Omaha" foi listada na posição número 95 dos melhores sons de guitarra de todos os tempos. A versão original de Moby Grape vinha acompanhada de um pôster gigantesco com a mesma foto da capa. Aliás, a capa original acabou sendo proibida, já que nela, Stevenson aparece com o dedo médio erguido em posição ofensiva, sendo este dedo banido nas capas posteriores, em um grotesco corte.

Miller, Mosley, Spence, Stevenson e Lewis


O grupo fez muitos shows no ano de 1967. Entre janeiro e junho, tocaram somente no estado da Califórnia, sendo os shows de janeiro no Santa Venetia Armory, San Rafael (13) e Avalon Ballroom, San Francisco (13, 14 e 29, esse sendo uma insana apresentação no Mantra-Rock Dance, um evento musical realizado que contou com Grateful Dead, Allen Ginsberg e Big Brother & the Holding Company.); fevereiro no Fillmore Auditorium, San Francisco (12 e 26); The Ark, Sausalito (14, 17, 18 e 19), Sausalito Auditorium, Sasalito (18) e Avalon Ballroom, San Francisco (24 e 25); março no Winterland Ballroom, San Francisco (03, 24, 25 e 31), Avalon Ballroom (05) e Fillmore Auditorium, San Francisco (26); abril no Winterland Ballroom (01), Filmore Auditorium, San Francisco (02, 12), Kezar Stadium, San Francisco (15) e Freeborn Hall, San Francisco (22); maio no Winterland Ballroom, San Francisco (19 e 20); e finalmente junho, com shows no Avalon Ballroom (06) e Marin County (07).


Depois, o grupo fez suas primeiras apresentações em Nova Iorque, com shows nos dias 08, 09 e 10 de junho no Scene Club East,  em Monterey, durante o Monterey Pop Festival, em 17 de junho, e Cleveland, Ohio, no dia24 de junho. Voltam para a Califórnia no dia 01 de julho, tocando no Earl Warren Showgrounds, San Francisco, seguindo direto para Nevada, com dois shows no Centennial Coliseum, Reno (14 e 15 de julho) e mais um show em Nova Iorque no dia 17 de julho, agora no The Scene, encerrando o mês com um show no Civic Auditorium, San Francisco (22), Convention Hall, Philadelphia (23), Public Auditorium, Cleveland (24), uma participação no programa de Robin Seymour, seguido da apresentação no Upper Deck Club, Detroit (27) e Roostertail Club, também em Detroit (28), uma apresentação em Toronto, o dia 28, e finalmente a Catholich Church Hall de Milwalkee, no dia 29.

Moby Grape em ação



Como no lançamento do álbum, os números de vendas eram muito altos, a Columbia Records acabou cometendo uma arrogância tremenda, que manchou a carreira do grupo com a imprensa taxando-os de presunçosos e prepotentes. Nada mais nada menos do que 10 das 13 canções do álbum foram lançadas em cinco singles: "Fall on You"/"Changes"; "Sitting By the Window"/"Indifference" (2:46 edit); "8:05"/"Mr. Blues"; "Omaha"/"Someday" e "Hey Grandma"/Come in the Morning". O pior é que apenas o single de "Omaha" conseguiu algum sucesso de vendas, chegando na famigerada octagésima oitava posição. Em 09 de outubro de 2007, a Sundazed Records relançou este álbum em uma versão em CD contendo diversos bônus, e no geral, o álbum alcançou a vigésima quarta posição na Billboard.

Porém, esse não foi o único erro para a promoção e mais manchas na carreira do grupo.  Na festa de lançamento do LP, no Avalon Ballroom, dez mil orquídeas roxas foram atiradas do teto do teatro quando o grupo chegou no local, fazendo com que muitas pessoas que chegaram na festa depois dos membros, acabam-se resbalando nas pétalas e machucando-se seriamente, com o grupo e a Columbia tendo que arcar com os prejuízos hospitalares. E o esbanjamento não parava por aí. Centenas de garrafas de vinho com rótulos escrito "Moby Grape" foram confeccionadas especialemten para a festa. Porém, ninguém provou o tal vinho, já que o responsável pela abertura dos mesmos esqueceu o saca-rolhas em casa.

Para piorar, Miller, Lewis e Spence foram presos durante a festa por posse de maconha e abuso de menores, já que eles foram pegos em um quarto com garotas menores de idade. Toda essa sequência de abalos poderia destruir com a carreira do grupo, mas eles não se entregavam facilmente, e após Miller, Lewis e Spence saírem da prisão, partem para a maior empreitada da sua vida até o momento: encerrar uma das noites do Monterey Pop Festival. Aos que conhecem o bootleg do show, é possível identificar nele toda a potência sonora que o grupo era ao vivo, com os duelos de Miller e Spence levantando a plateia. Infelizmente, o vídeo da apresentação do grupo permaneceu na obscuridade durante muitos anos, tudo por que o empresário Matthews Katz exigiu uma pequena quantia de um milhão de dólares pelos direitos de imagens do grupo. Outra blasfêmia e arrogância que ajudou ainda mais a tornar o grupo desconhecido, já que tendo participado do filme, certamente hoje muito mais pessoas conheceriam as canções do grupo.

Apresentação no Monterey Pop Festival

A história de Monterey é ainda mais estranha, por que após saber da exigência de Katz, os responsáveis pelo evento decidiram mudar a hora do show do grupo, que estava marcada inicialmente para após a apresentação de Otis Redding na noite de sábado, mas acabou sendo a primeira apresentação do primeiro dia (sexta-feira), quando praticamente ninguém estava no local. Somente em 2007 o longa metragem com a apresentação do grupo foi finalmente visto pela plateia, na festa de comemoração aos 40 anos do festival.

O sucesso dos shows do grupo acabou garantindo a sobrevivência da banda. depois de toda a sequência de fiascos, o grupo voltou para mais uma série de shows que começou em agosto de 67 no Fillmore Auditorium, San Francisco (08, 09 e 10), Avalon Ballroom (10, 11, 12 e 13), Earl Warren Showgrounds, Santa Barbara (19) e Whisky-A-Go-Go  (21, 22 e 23). Em setembro, participam do programa Steve Paul Scene no dia 04, seguido de shows no Continental Ballrom, Santa Clara (15, 16), Action House, Long Island (22) e Village Theatre, Nova Iorque (23). Em novembro, é a vez do Concord Coliseum, Concord (03 e 04), Village Theater, Nova Iorque (11, 23 e 24), Cafe Au-Go-Go, Nova Iorque (17, 18 e 19) e Terrace Ballroom, Salt Lake City (25), encerrando o ano com as apresentações de dezembro no 2nd Fret of Trauma, Philadelphia (05, 06 e 07), Grande Ballroom, Detroit (09), Shrine Auditorium, Los Angeles (15 e 16) e Whisky-A-Go-Go, Los Angeles (18, 19, 20, 21 e 22).

Em Nova Iorque, voltam aos estúdios para gravar o segundo álbum. Ainda com os egos nas alturas, o Moby Grape investe pesado, contratando um regente que organizou e produziu arranjos de metais e cordas para o LP, envolvendo uma pequena orquestra. As gravações do novo LP começaram ainda em novembro de 67, dedicando posteriormente os dois primeiros meses de 1968 em um estúdio de Nova Iorque, onde a maioria das canções foi gravada, já sem Katz como empresário, o que incitou uma longa batalha judicial pelo nome Moby Grape entre os músicos e empresário.

Mesmo gravando material, o grupo não parava, e no mês de janeiro, fez apresentações no Psychedelic Supermarket, Boston (05), Augusta, Minessota (06), Mike Douglas Show (10), San Rafael, Califórnia (12) e Island Park, Nova Iorque (26). Em fevereiro, tocam em Nova Iorque (Anderson Theater, 10 e 11), Gym SUNY Stonybrook (14) e Tempo Dance City (17), indo para Illinois nos dias 23 e 24, onde tocam no Cheetah de Chicago, encerrando a temporada inicial de shows em março, quando retornam para a Califórnia para apresentações no Legion Hall, Merced (15), Fillmore Auditorium, San Francisco (21) e Winterland Ballroom (22 e 23).

Wow, o mais ousado disco da carreira do grupo


Em 03 de abril de 1968, Wow chegava as lojas. Massacrado pela crítica, adorado pelos fãs, o LP começa com "The Place and the Time", onde a guitarra de Miller faz a introdução, trazendo uma waltz-ballad cantada por Miler e Stevenson, com trompete e cordas arranjadas por Joey Scott presentes na sessão central, destacando também buzinas e outros elementos percussivos que aparecem no final da canção.

Na sequência, mais um grande clássico do grupo, "Murder in My Heart for the Judge", onde o riffzão de guitarra apresenta as vocalizações cantando o refrão, deixando Stevenson cantar a letra de um bom rock californiano, sempre destacando os riffs da guitarra. O refrão é repetido mais uma vez, levando ao solo de Miller, que aumenta o ritmo da canção para encerrá-la com muito pique.

"Bitter Wind" apresenta um bonito tema na flauta, seguido por violão, baixo e percussão, os quais acompanham os vocais de Mosley junto das vocalizações. Temos uma psicodélica balada, destacando o refrão, onde Mosley solta sua voz rouca. Gritos, barulhos de percussão e metais estão presentes na viajante sessão que leva ao encerramento da canção apenas com a flauta fazendo o tema da introdução. Essa canção e tida por muitos fãs como a melhor do grupo.

"Can't Be So Bad" apresenta outro ótimo riff, em um blues rápido, cantado por Miller e com um ótimo acompanhamento do arranjo de metais feito por David Rubinson e Joey Scott , onde o destaque vai para os belos solos de Miller e também de saxofone. Então, uma faixa com a voz de Arthur Godffrey, famoso radialista americano, anuncia que a próxima canção foi registrada em 78 rpm, e que devemos mudar a rotação do toca-discos para 78 rpm.

Aos que não tem essa possibilidade no seu aparelho, irão perder uma linda homenagem feita para o jazzista Gene Autry em "Just Like Gene Autry: A Foxtrot", a qual faz um sampler  repleto de efeitos em cima de uma canção da orsquestra de Lou Waxman. Antes da canção, a mesma voz que pede para você mudar a rotação do toca-discos anuncia as celestias melodias da orquestra de Lou Waxman, e entre barulhos de bar, surgem banjo, violão e a voz distorcida de Skip, cantando um delicioso jazz do início do século passado,  que com os efeitos criam todo o nostálgico clima da canção, com direito a um solo de saxofone e provocativas desafinadas de Skip ao final da canção, que encerra o Lado A com um sentimento nostálgico no ar e com a canção sendo autenticamente um jazz das décadas iniciais do século passado. Pérola que somente o vinil pode fornecer.

Moby Grape em intervalo de gravação de Wow

O lado B abre com "He", tendo as orquestrações de David Rubinson e Joey Scott, em mais uma linda balada psicodélica, com os vocais de Lewis sendo acompanhados pelas linhas orquestrais, guitarra, baixo e bateria, além de intervenções vocais feitas por Miller, onde o lindo arranjo orquestral faz a base para um emocionante solo de violino.

"Motorcycle Irene" começa com um carro sendo ligado, trazendo acordes de violão e com o resto do Moby Grape acompanhando os vocais de Spence, fazendo um rock que alterna momentos mais simples com outros agitados, onde o nome da canção é entoado, encerrando-a com o carro da introdução se espatifando em um acidente.

"Three-four", com as orquestrações de Joey Scott, começa com piano elétrico fazendo uma linda introdução para então uma balada gospel ser cantada por Mosley, com Miller mostrando suas habilidades no slide guitar e com destaque para as lindas passagens orquestrais que encerram a canção.

Depois, é a vez da engraçada "Funky-Tunk" surgir nas caixas de som, com violões, baixo e percussão apresentando um country rock que narra a história entre um homem (cujas vozes são feitas por Mosley e Miller) e uma mulher (representada pela voz de Spence). Os solo de guitarras, tipicamente country são daqueles saídos de uma trilha de faroeste, e o deboche na voz de Spence é hilariante.

"Rose Colored Eyes" retoma as viajantes baladas do Moby Grape, levada pelo baixo de Mosley e recheada de psicodelismo, os quais estão presentes nos arranjos vocais, no efeito das guitarras e no andamento do baixo e percussão, os quais são acompanhados por um complicado dedilhado do violão.

Um dos melhores blues já gravados na história da música vem a seguir, com "Miller's Blues", uma poderosa pérola que já coloca a casa abaixo logo na introdução, com o solo de guitarra e metais. Miller passa a cantar acompanhado apenas por piano (tocado por Spence), metais, baixo, bateria e os incríveis acordes de blues feitos por sua guitarra. Miller canta muito nessa canção, bem como está tocando demais a guitarra, e o arranjo de metais de Joey Scott dá mais ganho para "Miller's Blues".

Após duas estrofes vocais, o improviso é liberado, e Miller solta seus dedos para um longo solo, acompanhado primeiramente apenas por piano, baixo e bateria. Os metais surgem para Lewis começar a solar, entrando em um crescendo desconcertante, os metais vão sendo adicionados para Lewis e Miller duelarem na guitarra, com um belo tema dos metais. Voltamos então para a sequência da letra, com o piano agora sendo o instrumento de maior destaque em relação aos demais instrumentos, e encerrando com mais um rápido solo de Miller. Demais!

Wow encerra com uma re-criação elétrica para "Naked, If I Want To", contendo muitas distorções nas guitarras e também uma pequena alteração na letra.

Por razões desconhecidas, e especial para colecionadores, algumas versões de Wow foi relançada sem o nome do grupo no selo do vinil. Wow atingiu a vigésima posição na Billboard, e mesmo com as críticas negativas da imprensa, que torceu o nariz para as orquestrações e experiências sonoras, a maioria dos fãs veneram o disco, sendo que eu particularmente considero um dos melhores do grupo, a frente de seu álbum de estreia.

A sessão de improvisos que virou o primeiro disco bônus da história
Ao mesmo tempo que Wow foi lançado, o fã que adquiri-se o LP ganhava como brinde um LP bônus do Moby Grape (mais uma extravagância). Esse LP foi batizado de Grape Jam, e é uma pérola da discografia do grupo. Sem a participação de Lewis, que havia saído do grupo por motivos que já iremos entender, os demais integrantes aproveitaram os intervalos de gravação de Wow, e fizeram sessões de improvisação durante os meses de janeiro e fevereiro de 1968 que acabaram virando as cinco canções registradas nesse LP bônus.

Criticado por ser um álbum repleto de improvisações e muito descontraído, na verdade a visão que tem que se ter de Grape Jam é outra. Como é um álbum especial, recebido de presente pelos fãs, o álbum deve ser visto como seu nome é, uma doce geleia musical. E é isso que está contido nos sulcos do LP. Como o encarte do LP anuncia, "a música deste álbum apenas aconteceu durante diversas horas de intervalo de gravação de um álbum real, de forma relaxada e despretensiosa, gravados em apenas uma única tomada onde estão o improviso e o sentimento de cada participante de forma livre e inconsciente".

Miller, Stevenson, Spence e Mosley encontraram a dupla de pianistas Mike Bloomfield e Al Kooper em Nova Iorque, e ambos toparam participar de uma jam session. Cada jam gravada individualmente pelos membros do Moby Grape com Bloomfield e Kooper viraram uma canção de Grape Jam.

Se o Moby Grape já havia caprichado no blues de "Miller's Blues", eles se superaram ainda mais em "Never", canção que abre o LP com a guitarra de Miller solando e tendo o acompanhamento de baixo, guitarra e bateria. Mosley canta emotivamente essa canção, cuja parte inicial da letra, bem como diversos elementos melódicos e o próprio arranjo bluesístico, posteriormente foi transformada em uma das principais canções do Led Zeppelin, "Since I've Been Loving You", colocando até uma estátua para chorar. Os solos de Spence e Miller, acompanhados da maravilhosa interpretação vocal de Mosley, carregam doses de dramaticidade e sentimento que irão fazer você passar a encarar o blues como um dos estilos mais poderosos na música (se é que você já não o encara assim).

"Boysenberry Jam", como o nome diz, é uma improvisação feita por Spence no piano, Miller na guitarra, Stevenson na bateria e Mosley no baixo. Em seis minutos de uma levada funk, Miller solta seus dedos com muitas escalas de blues e bends rasgados, sendo uma boa sequência para "Never".

O lado A encerra-se com outro maravilhoso improviso, "Black Currant Jam", que conta com a mesma formação de "Boysenberry Jam", apenas substituindo Spence por Al Kooper, que faz o tema inicial ao lado da guitarra de Miller, e a partir de então, um blues embalado é construído por baixo e bateria, levando ao magnífico solo de Kooper, com acordes batidos e pesados. O ritmo diminui, e Kooper passa a solar com notas mais esparsas, aumentando o ritmo através dos acordes iniciais da canção, que termina com o piano fazendo o último solo.

O lado B abre com "Marmalade", tendo a participação de Mike Bloomfield no piano, que já começa fazendo o maravilhoso solo da introdução de um triste blues, acompanhado por Miller, Stevenson e Mosley. O solo desenvolve-se para Miller ser o centro das atenções, com longos sustains e notas velozes, enquanto Bloomfield dá show no piano. 

Bloomfield começa seu segundo solo, agora com notas mais rápidas e com uma técnica fantástica na mão direita, levando ao segundo solo de Miller, que não é tão veloz quanto o primeiro. Podemos sentir a euforia e descontração nos estúdios, tendo direito a uma pausa dos membros do Moby Grape para Bloomfield solar sozinho.

Após esse solo, o grupo volta, e Bloomfield começa o terceiro solo, com acordes mais pesados e um andamento mais pegado, tendo intervenções da guitarra de Miller, que passa a solar com um longo sustain levando ao trecho final da canção, feito por sobreposições de solos de piano e guitarra.

"The Lake" encerra esse álbum de improvisos com o órgão elétrico de Spence e vozes sussuradas apresentando o poema de Michael Hayworth, um fã do grupo, a qual é cantado por Mosley, em uma viajanta canção com muitos efeitos sonoros, destacando a cítara (tocada por Miller) e a distorção nos vocais.

Grape Jam acabou sendo o primeiro álbum de música de improviso lançado por uma banda de rock, bem como o primeiro disco-bônus de longa duração. Até hoje, é inspiração para os grupos re-lançarem seus materiais bônus nos CDs ou DVDs originais. Uma das principais gravações que beberam na fonte da genial ideia do Moby Grape está no LP All the Thing Must Pass, de George Harrison, sendo que o próprio assumiu, quando do lançamendo de seu vinil, que o Moby Grape tinha dado um passo à frente em relação ao contato com os fãs, dando um disco de presente para os mesmos apresentando como o grupo era por de trás da pressão dos estúdios. Vale lembrar que a dupla Wow/Grape Jam era vendida pelo preço de um LP simples.

Wow foi re-lançado em 2007, junto com Grape Jam, e apresentando mais nove bônus: seis para Wow e três para Grape Jam.

Como gravar a desintegração de um cérebro? Oar é a resposta
Após o lançamento de Wow, as coisas novamente voltaram a complicar. Spence, influenciado pelas drogas, começou a apresentar distúrbios emocionais que acabaram tornando-o seriamente desequilibrado. Segundo o baterista Stevenson, Spence teve um colapso psicológico que o levou à loucura, brigando com todos e se auto-demitindo do Moby Grape, indo gravar seu primeiro álbum solo, o incrível Oar (uma espécie de Madcap Laughs de Skip Spence), definido por diversos especialistas como "o melhor exemplo para se gravar a desintegração de um cérebro".

O período das gravações de Wow foi muito estressante. O produtor do grupo, David Rubinson, exigiu que o grupo fizesse as gravações na cidade aonde ele estava morando, ou seja, Nova Iorque. Assim, os cinco membros tiveram que ir sem suas famílias para a Grande Maçã, onde ficaram meses hospedados em quartos de hóteis sem praticamente nenhuma privacidade. As brigas eram constantes, e antes de Skip sair, Lewis foi o primeiro a debandar, voltando para a Califórnia.

Durante a saída de Lewis (exatamente o período que o grupo gravou as sessões de improviso de Grape Jam), o grupo se apresentou no Fillmore East, onde Skip conheceu algumas pessoas que lhe apresentaram ácidos poderosos. Spence tomou os ácidos e pirou no quarto de hotel. Se intitulando o anti-cristo, e então, tentou derrubar a porta do quarto do hotel com um machado, alegando que tinha que matar Stevenson para poder libertá-lo do mal que estava o consumindo.

A loucura não parou por aí. Spence conseguiu fugir do hotel e foi até o prédio da CBS, onde subiu até o quinquagésimo segundo andar na tentativa de cometer um suicídio depois de fazer misérias no local. Prontamente, Spence foi preso, e mesmo com as alegações de defesa, acabou indo parar na prisão Tombs, onde ele compôs Oar, gravado em Nashville após sair da prisão e decretando o fim de sua carreira como músico, já que durante seis meses, Spence foi tratado a base de injeções de torazina (remédio anti-psicótico) que simplesmente demoliram com o resto de cérebro que ele ainda tinha.

Uma das últimas fotos com Spence

Além de todos os problemas com Spence e Lewis (que voltou para a banda após o lançamento de Wow), a Columbia Records também estava furiosa com os membros do grupo. Os excessos de drogas, escândalos e a fraca venda de álbuns diminuiram calamitosamente as verbas da Columbia. A gravadora Elektra surgiu com uma possibilidade, mas o quarteto decidiu seguir seu contrato com a Columbia, fazendo modificações no seu estilo de vida e também de compor.

Sem seu principal líder e mentor, o Moby Grape teve que se reconstruir (similarmente ao que acontecia ao mesmo tempo com o Pink Floyd). Decidiram por não substituir Spence e seguir como quarteto, e assim, partiram para uma série de shows, começando ainda em abril pela Califórnia, no Winterland Ballroom, San Francisco (03), Carousel Ballroom, San Francisco (12 e 13) e Santa rosa Fairgrounds, Santa Rosa (26). Em maio, a agenda foi lotada, com shows na Califórnia, apresentando-se no Filmore Auditorium (02, 04), Merchandise Mart Old State Fairgrounds (03), Kaleidoscope de Los Angeles (17 e 18); Nova Iorque, no Generation Club (04, 07, 08, 09, 10, 11 e 12) e no Fillmore East (31); e ainda apresentações no Texas, Vulcan Gas Company (24) e Catacombs Club (25 e 26).

Os shows não paravam, e em junho era a vez de Nova Iorque (Fillmore East, 01 - Wollman Skating Rink, 29), Massachussets (Commodore Ballroom, 25), além de três shows em Nova Iorque e Missouri que acabaram sendo cancelados. Em julho, retornam para a Califórnia, com shows no The sanctuary, South Lake Tahoe (05) e no Fillmore West (23, 24 e 25). Agosto é composto por apresentações em Seattle (Eagles, 02 e 03) e Los Angeles (Kaleidoscope, 23, 24 e 25). Setembro contou com apenas dois shows na Califórnia, com apresentações no The Bank, Torrance (06 e 07).

Já em outubro, a agenda novamente estava cheia, tocando na Philadelphia (Electric Factory, 04 e 05), Massachussets (Psychedelic Supermarjet (06 e 07), Nova Iorque (Cafe Au Go-Go, 12, 13, 14, 15, 16 e 17; Scene Club, 20 e 21; Gym Suny, 22), Long Island (Action House, 18), no Philadelphia Pop Festival (19), onde Miller tocou muito esta noite, sendo este considerado pelos integrantes como talvez o melhor show da carreira do grupo, e encerrando com uma participação no programa de Jerry Lewis, em 29 de outubro. Novembro contou com shows no Rose Bowl (Pasadena, 09) e Commodore Ballroom, Lowell (30), e o ano encerrou com os shows de dezembro em Illinois (The New Place, Chicago, 06) e Nova Iorque (Fillmore East, 27 e 28).

Além disso, devido ao problema de Spence com as drogas, decidem se afastar das mesmas, mudando-se para o interior da Califórnia, em uma pequena cidade chamada Boulder Creek, onde, morando muito próximos uns dos outros, passam a ensaiar na varanda da casa de Stevenson. A proximidade das casas e também o contato entre os quatro acabo fazendo com que o clima de amizade surgisse com mais força, e então, passam a compor material para o novo álbum, que representa bastante o clima da época.
O primeiro disco sem Spence, onde aparecem as influências country com mais evidência
Parcialmente longe das drogas, '69 é um álbum que diverge bastante das canções dos dois primeiros álbuns (e do álbum-bônus) lançados anteriormente, onde o trabalho vocal, bem como os arranjos, estão mais próximos ao country do que das influências bluesísticas, e principalmente, da super-produção orquestral envolvida em Wow. Além disso, Lewis também começou a sofrer de problemas psíquicos, tomando doses pesadas de Librium (remédio responsável por controlar o sistema nervoso central) que influenciaram bastante na sua performance no disco.


Lançado em 30 de janeiro de 1969, '69 mostra o grupo com os pés mais no chão, começando com com o boogie de "Ooh Mama Ooh", cantado por todos os membros e tendo um refrão muito forte, onde o nome da canção é entoado e tendo Stevenson fazendo vocalizações muito estranhas. "Ain't That a Shame" já muda a sonoridade, com violões fazendo o dedilhado de um leve country cantado por Miller.

"I am Not Willing" é uma linda balada levada pelos acordes de piano, tendo baixo e bateria em um ritmo suave para acompanhar os vocais de Lewis, além da steel guitar de Miller, que faz um tímido solo com interessantes notas na escala de Blues, seguida pela balada country "It's a Beautiful Day Today", onde o dedilhado dos violões acompanham os vocais de Mosley, tendo também um belo arranjo vocal feito por Miller, Stevenson e Mosley.

O lado A encerra com "Hoochie", onde as guitarras de Lewis e Miller, junto com o baixo carregado de distorção, introduzem um dançante boogie, na linha dos grandes clássicos do Canned Heat, e que é cantado por Mosley.

O rock'n'roll puro de "Trucking Man" abre o lado B, sendo cantado por Mosley e tendo uma ótima levada do baixo. O country de "If You Can't Learn from My Mistakes" destaca-se pelos ótimos riffs de guitarra, e "Captain Nemo" volta aos bons rocks tendo as vocalizações do Moby Grape cantando a letra da canção, com o piano elétrico de Miller lembrando muito algumas linhas de canções do The Doors. "What's to Choose" é uma balada californiana cantada por Lewis, onde as guitarras trabalham muito bem, em um bom arranjo dos acordes jazzísticos.

O encerramento do LP é com duas excelentes canções. A primeira é "Going Nowhere", um pesado rock cantado por todos os membros, com baixo distorcido, bateria e vocalizações alucinantes que fazem o peso exato para as investidas das guitarras de Lewis e Miller.

Já "Seeing" é uma canção que mantém a linha de boas  e experimentais faixas compostas por Spence. Essa em particular acabou ficando de fora de Wow, mas foi resgatada em '69 para homenagear o guitarrista, sendo que é a sua guitarra dedilhada que apresenta os vocais de Mosley em um ritmo leve, o qual vai crescendo com a entrada da bateria e do baixo, e a canção transforma-se em um pesado rock. O trecho leve é repetido, seguido da pesada sessão, e então o lado psicodélico de Skip aparece durante o solo de Miller, onde barulhos e instrumentos desconhecidos podem ser ouvidos. O trecho lento mais uma vez é repetido, para as guitarras tomarem conta da canção, que fecha o LP com o órgão fazendo acordes muito breves.

'69 foi um fracasso comercial, assim como o LP solo de Spence, chegando apenas na posição 113 de vendas. Porém, sua sonoridade foi influência para grupos como Eagles, Poco e Dire Straits acertarem o norte de suas carreiras, já que algumas canções do LP são muito similares ao que essas bandas viriam fazer posteriormente. O fato é que novamente o Moby Grape estava à frente de seu tempo, cravando para sempre na história da música o primeiro disco de country-rock feito por um grupo californiano. Seu re-lançamento em 2007 apresentou mais sete canções bônus.

Satisfeitos com o resultado de '69, mesmo não tendo uma boa quantidade de vendas, decidem manter a fórmula, e em fevereiro de 69 voltam a trabalhar em mais composições, na expectativa de que Spence pudesse voltar. Ainda como quarteto, partem para uma série de shows na europa, antes de se apresentarem na Califórnia, tocando no The Ark, Sausalito, nos dias 17 e 18 de janeiro, e no Winterland Ballroom, San Francisco, nos dias 24 e 25 do mês).

A primeira apresentação no velho continente foi na Inglaterra, no dia 31 de janeiro, tocando no Middle Earth de Londres, que também recebeu o grupo no primeiro dia de fevereiro. Durante o segundo mês do ano, apresentam-se apenas na europa, tocando mais uma vez em Londres, agora no BBC Playhouse Theatre, para o programa Top Gear (04), Newcastle (06), Edinburgo, Escócia (08), Copenhague, Dinamarca (09), Paris, França (10), Mies Bouwman Dutch Television Show, Holanda (11), Amsterdam (12), Estocolmo (15) e Rotterdam (16). Voltam para os Estados Unidos, tocando em março pela Califórnia (Avalon Ballroom, 07, 08 e 09) e Minessota (The Hideout, Clawson, 14). Os shows no Avalon Ballroom que foram os últimos com Mosley no grupo, que cancelou a apresentação que seria feita no dia primeiro de abril no Palm Springs, Califórnia.

A saída de Mosley ocorreu principalmente por seu desagrado com os caminhos que o Moby Grape acabou tomando, incomodado também com as ações empresariais e da Columbia.  Cansado da batalha judicial que o grupo começou a travar com o ex-empresário Matthew Katz, Mosley foi parar na marinha, onde foi diagnosticado como portador de esquizofrenia. Com a saída de Mosley, e sem Spence, não havia mais por que o Moby Grape existir. Porém, o contrato com a Columbia exigia mais um disco de estúdio.

Depois de um mês de férias, o grupo voltou para cumprir seu contrato com a Columbia, que extremamente p ... da vida, concedeu apenas três dias para produção e gravação do mesmo. Então, entre 27 e 29 de maio de 69, Miller, Stevenson e Lewis gravam o quarto álbum do grupo (cinco se contarmos Grape Jam). Além do trio original do Moby Grape, o baixista Bob Moore foi convidado, sendo ele quem aparece de costas na contra-capa do Lp.

O último álbum pela Columbia

Seguindo a linha country de '69, Truly Fine Citizen foi lançado em 30 de julho de 1969, e se tornou mais um fracasso comercial, atingindo apenas a posição 157. Produzido por Bob Johnston (que trabalhou com ícones como Johnny Cash, Willie Nelson, Leonard Cohen e Bob Dylan), o álbum abre com "Changes, Circles Spinning" - a guitarra apresentando o riff de um country cantado por Lewis, com a slide guitar se fazendo presente e com uma levada suave do baixo de Moore, além de Miller fazendo um tímido solo.

"Looper" é um rock californiano cantado por Stevenson e Lewis, em um andamento típico das canções do Moby Grape, onde o baixo de Moore destaca-se, além do solo de Miller, encerrando a canção com um bonito dedilhado. A faixa-título apresenta um ritmo veloz para um ótimo rock cantado por  Stevenson e Miller, resgatando os bons arranjos vocais do grupo.

"Beautiful is Beautiful" é outro leve som, cantado por todos, e com uma leve pitada country destacando o trabalho de Miller e Lewis nas guitarras, e o lado A encerra-se com "Love Song", uma bela balada cantada por todos, tendo um leve acompanhamento de violão, baixo, bateria e guitarra.

Contra-capa de Truly Fine Citizen

O lado B abre com "Right Before My Eyes", outro country rock cantado por Lewis, tendo sempre a participação das intervenções de guitarra. Depois, "Open Up Your Heart" relembra as canções de Wow, cantada por todos e com a guitarra de Miller e Lewis se destacando através de acordes dançantes.

"Now I Know High" começa como uma balada, com piano, guitarra, baixo e bateria acompanhando os vocais de Lewis. Então, chegamos ao primeiro longo solo de Miller, onde a canção ganha ritmo, com Miller alternando acordes jazzísticos e notas velozes, voltando então para a leve cadência inicial. Lewis segue a letra, e após o término da mesma, Miller volta a solar, agora utilizando escalas jazzísticas e tendo o acompanhamento de Mosore e Stevenson. levando para o encerramento da canção com o leve andamento inicial.

"Treat Me Bad" retorna aos country rocks com Lewis e Miller dividindo os vocais, onde o ponto de maior destaque é a sessão instrumental do solo de Miller. Já "Tongue-Tied" tem piano, baixo, bateria e guitarra acompanhando os vocais de Miller, em uma canção composta por Miller em parceria com Spence, onde o piano de Spence é o principal destaque ao lado do solo de Miller, destacando também a participação de Stevenson

O LP encerra com "Love Song, part two", uma bossa nova com Miller solando em escalas jazzísticas e tendo o acompanhamento de Moore no baixo acústico, Stevenson na bateria e Lewis no violão.

Algumas canções de Truly Fine Citizen acabaram sendo creditadas ao produtor Tom Dell'Ara, já que o grupo estava em plena batalha judicial com o ex-empresário Matthew Katz. Essas canções são: "Truly Fine Citizen", "Beautiful is Beautiful", "Love Song" (ambas as partes), "Open Up Your Heart" e "Treat Me Bad".

Lewis vendeu sua casa e ficou um ano andando de cidade em cidade pelos Estados Unidos, apenas pedindo carona e vivendo com o pouco dinheiro que havia juntado. Miller e Stevenson formaram o grupo The Rhythm Dukes, ao lado de John Barrett (baixo) e John "Fuzzy" Oxendine (bateria). Eles chegaram a gravar um álbum, Flashback, esse com o tecladista Bill Champlin (futuro Sons of Champlin), que acabou substituindo Stevenson. Porém, Miller ainda tinha contrato com a Columbia, e Flashback só viu seu lançamento em 2005.

O Moby Grape encerrou as atividades após concluir o contrato com a Columbia, que exigia ainda uma série de shows, os quais foram cumpridos pelo The Rhythm Dukes, com apresentações em Ontario (25 de agosto), Monterey Fairgrounds (05 de setembro), Sherman Oaks Park (15 de novembro) e Old Fillmore (19 e 20 de dezembro).

Porém, em 1971, o produtor David Rubinson surgiu na vida de Lewis e Miller, resgatando o Moby Grape e também Skip Spence, como veremos na segunda parte dessa homenagem ao grupo.

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